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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 1 www.medresumos.com.br HEMODINÂMICA A circulação corpórea pode ser considerada como um sistema hidráulico real, ou seja, não-ideal, pois existem forças dissipadas como o atrito com as paredes dos vasos (endotélio), além do atrito entre as próprias laminas (camadas) do sangue em movimento. Logo, o sistema sanguíneo pode se enquadrar em estudos da hidrodinâmica – ramo da física que estuda os sistemas hidráulicos que apresentam líquido em movimento – a partir do momento que é comparado a um sistema fechado não-ideal movido pelo trabalho de uma bomba (coração), com fluido (sangue) em circulação. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DE FLUXO Fluxo, por uma definição hemodinâmica, representa o volume do fluido deslocado (sangue) em função do tempo. i. Fluxo = velocidade x Área Fluxo = (L x T -1 ) x L² ii. Fluxo = Volume = L 3 Tempo T (expressão dimensional de fluxo) Sendo: F Fluxo [cm³/s; m³/min] L Espaço [centímetro; metro] T Tempo [segundo; minuto] A Área seccional v Velocidade A expressão dimensional de fluxo significa que a grandeza física fluxo é derivada de duas grandezas fundamentais: espaço (elevado a 3ª potencia) e tempo (elevado a menos 1). Por exemplo, o débito cardíaco (volume de sangue que o coração bombeia pelo ventrículo esquerdo a cada minuto) é 5 l.min -1 (cm³=1ml). Na figura acima, tem-se um sistema condutor ideal, ou seja, sem atrito. Considera-se que o fluxo que passa por A1 (maior área seccional) deve passar em mesma quantidade por A2 (menor área seccional). Logo, tem-se que quanto menor a área de escoamento do líquido, maior será a velocidade desse escoamento para que o fluxo permaneça constante, bem como o contrário é verdadeiro, uma vez que o fluxo que passar por A1 é igual ao fluxo que passa por A2 (F1=F2). O princípio da continuidade de fluxo certamente pode ser aplicado ao sistema real que é a circulação sanguínea. Por exemplo, como ocorre no caso de uma estenose, em que a luz do vaso diminui e o fluxo nesse local se torna mais intenso. OBS: A verificação da pressão arterial na artéria braquial é proporcionada por uma estenose (compressão) produzida pelo manguito, aumentando a velocidade do fluxo (pois diminui a área), podendo ser auscultado pelo estetoscópio o fluxo turbulento (ver velocidade crítica do sangue mais adiante). OBS²: Se o sistema circulatório fosse considerado ideal, em um caso de estenose nas coronárias por placas ateromatosas (placas de gordura), o paciente não morreria de infarto do miocárdio, pois o fluxo continuaria constante com o aumento da velocidade ao passar pela luz reduzida dos vasos, não havendo, então, sofrimento do miocárdio. Porém, como a circulação é um sistema real, o fluxo perde velocidade e volume ao passar pelas áreas obstruídas dos vasos. OBS³: O sibilo é um som de “assobio” auscultado em caso de pacientes com asma. Isso ocorre devido o processo alérgico que ocorre na asma, em que a parede dos brônquios e a musculatura lisa das vias respiratórias se contraiam e a velocidade do ar (energia cinética) é dissipada na luz reduzida da via em forma de som, como ocorre no próprio ato de assobiar: diminui-se a área e aumenta-se a velocidade do ar. OBS 4 : Embolia, clinicamente, é a presença de um corpo estranho na circulação, podendo ser líquida, gasosa ou sólida (como um coágulo). Ex: HENEINE (2000): Calcular a velocidade de fluxo nas secções A1, A2 e A3 sabendo que as áreas seccionais são respectivamente 10, 20 e 100 cm²: Arlindo Ugulino Netto. BIOFÍSICA 2016 F1 = F2 v1 x A1 = v2 x A2 Ou seja: v x A = constante (k) Logo: Se A1/A2=1V2=V1 Se A1/A2>1V2>V1 Se A1/A2<1V2<V1 F = L 3 x T - 1 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 2 www.medresumos.com.br Na secção 1: v1 = F1/A1 v1 = 100 cm3.min-1/10cm2 v1 = 10 cm.min-1 Na secção 2: v2 = F2/A2 v2 = 100 cm3.min-1/20cm2 v2 = 5 cm.min-1 Na secção 3: v3 = F3/A3 v3 = 100 cm3.min-1/100cm2 v3 = 1 cm.min-1 FLUXO ESTACIONÁRIO Fluxo estacionário é definido como um fluxo constante, ou seja, o fluxo que entra numa determinada área seccional é igual ao que sai (figura acima). O fluxo sanguíneo deve ser considerado um fluxo aproximadamente estacionário, que se for quebrado, aumenta- se o risco de causar edemas (pulmonar ou na grande circulação). Como por exemplo, o fluxo de sangue na artéria aorta (menor e mais rápida passagem de sangue) deve ser igual ao fluxo de sangue que passa no somatório da área da luz de todos os capilares (área bem maior, mas com velocidade menor), em um valor de 5l/min. Ou seja, o fluxo sanguíneo, por ser um sistema real, deve se manter aproximadamente constante. A figura acima representa a área seccional total de diversos territórios da circulação. Perceba que a soma da área seccional total dos capilares é bem maior do que a área seccional da aorta por serem bem mais numerosos. Nas grandes artérias, onde a área seccional é menor, a velocidade deve ser maior. Quando o sangue chega aos capilares, de área total máxima, diminui a sua velocidade. Mesmo assim, o fluxo, em cada uma dessas regiões é de 5l/min. Capilares: ↑Área ↓Velocidade Aorta: ↑Velocidade ↓Área Fluxo Aórtico = Fluxo Capilar Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 3 www.medresumos.com.br Parâmetro Circulatório Tipo de Vaso Aorta Capilares Cava Diâmetro 2,0cm 8m 2,4cm Número 1 2 bilhões 2 Área (.r2) 3,0cm2 2.200cm2 4,5cm2 X X X Velocidade 28cm/s 0,04cm/s 19cm/s Fluxo (V x A) 84ml/s 88ml/s 86ml/s OBS 5 : O fluxo de sangue que entra no pulmão deve ser o mesmo que sai (também fluxo estacionário) para não gerar edemas. OBS 6 : Débito sistólico: volume de sangue que o coração bombeia a cada batimento. OBS 7 : Débito cardíaco: volume de sangue que é bombeado do coração a cada minuto. OBS 8 : Mecanismo de Frank Starling: em condições normais, o coração bombeará todo sangue que a ele chegar (figura ao lado esquerdo), sem que haja acúmulo de sangue nos vasos. Em outras palavras, o débito cardíaco deve ser igual ao retorno venoso (volume de sangue que volta ao coração através átrio direito). O coração é uma bomba que se adapta ao volume de sangue que for dado para ser bombeado, mantendo, em parte, o fluxo adequado. Isso acontece porque há um estiramento maior nas fibras do miocárdio devido ao maior volume do sangue, representando em uma maior energia potencial armazenada, proporcionando uma maior força elástica, dando conta a esse excesso de sangue. Ex: HENEINE (2000): Um paciente tem um desvio de 1% no regime estacionário da circulação pulmonar. Calcular o volume de sangue acumulado no pulmão durante 10 minutos, sabendo que o débito sistólico e a freqüência cardíaca são respectivamente 81ml/batimento e 90 batimentos/minuto. O desvio no regime estacionário é de 1%. Portanto, a cada batimento cardíaco, 1% de sangue é retido no pulmão. Portanto, o volume desviado a cada batimento vale: 1% de 81ml = 0,81ml.bat-1 Volume Acumulado = 0,81ml.bat-1 x 90 bat.min-1 x 10min = 720ml Obs: Isso mostra a importância do regime estacionário, uma vez que, com um desvio de apenas 1% de sangue, em 10 minutos, produziu, praticamente, 1 litro de sangue acumulado no pulmão (edema pulmonar). OBS 9 : Ao doar sangue, o doador deve ingerir líquidos para não haver quebras no regime estacionário. Edema na grande circulação: se houver quebra no regime estacionário na grande circulação, ocorrerá a formação de edemas, como no caso da gravidez (inchaço nos membros inferiores) em que há compressão de vasos durante o crescimento do útero, impedindo, assim, um eficaz retornovenoso; bem como no caso de grandes hemorragias. Edema Pulmonar (pequena circulação): Ao aumentar o volume de sangue que entra no pulmão, geralmente acontece a chamado estase (ou estagnação) fisiológica, o que significa que haverá excesso de sangue estagnado na luz de vasos pulmonares. Com isso, ocorre aumento da Pressão Hidrostática na luz desse vaso, acarretando no extravasamento do plasma para o meio intersticial do pulmão, que por sua vez passa para os alvéolos, fazendo com que o indivíduo se “afogue no seu próprio plasma”, podendo produzir óbito. Débito Sistólico = Vol. Bombeado Batimento Débito Cardíaco = Vol. Bombeado Minuto Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 4 www.medresumos.com.br ENERGIA MECÂNICA DA CIRCULAÇÃO No escoamento real, a velocidade de fluxo dentro do tubo é variável devido ao atrito entre as lâminas do fluído viscoso e entre o fluído e as paredes do tubo. A velocidade é máxima no centro e decresce segundo uma parábola até zero na adjacência do tubo. Pode-se concluir que o atrito “lentifica” o fluxo, e por ser um sistema real, o sangue deveria parar. Porém, o fluxo não para porque a energia mecânica do sangue é periodicamente renovada pelo coração. Ou seja, na medida que o sangue escoa, ele perde energia devido ao atrito, tendo sua energia renovada pelo coração de maneira que esse fluxo não pare. A energia mecânica é produzida pelo coração exato momento da sístole, em que o coração realiza trabalho* para esvaziar os ventrículos. O sangue que escoa nos vasos apresenta praticamente quatro tipos de energia: energia mecânica (Ec + Ep), energia dissipada e energia gravitacional. A energia cinética é a energia da velocidade, tendo sempre o mesmo sentido do fluxo. Quanto maior a velocidade do fluxo, maior será a energia cinética. A energia potencial é representada pela pressão. A energia dissipada do atrito tem sempre sentido contrário ao movimento. TRABALHO E ENERGIA MECÂNICA* Quando o coração contrai, ele realiza trabalho (F x d), passando energia mecânica para o sangue: Matéria (massa) m Espaço L Tempo T Velocidade (v) LxT -1 Aceleração (a) L x T -1 = L x T -2 T Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 5 www.medresumos.com.br i. Trabalho = Força x Deslocamento Trabalho = m . L . T -2 . L (expressão dimensional do trabalho) ii. Pressão = Força = m . L . T -2 Área L 2 (expressão dimensional da pressão) iii.P x ΔV = m . L -1 . T -2 . L 3 = m . L 2 . T -2 = Trabalho, ou seja, a pressão ventricular sobre o sangue, ao diminuir o volume da câmara ventricular, gera trabalho. ENERGIA POTENCIAL É a energia armazenada pelo sangue, que mantém o fluxo sanguíneo constante mesmo durante a diástole do coração, sendo representada pela pressão que o sangue exerce sobre as paredes dos vasos. A figura ao lado mostra a variação de pressão arterial em diferentes áreas da circulação. Energia potencial, do ponto de vista físico, é a energia armazenada por um corpo. Bem como ocorre com o sangue, que se o coração parasse (como na diástole), por causa dessa energia potencial (pressão), a circulação sistêmica ainda tem condições de continuar até ter sua energia dissipada por completo ou ser renovada pela contração sistólica. ENERGIA DISSIPATIVA DE ATRITO A pressão exercida pelo sangue cai gradativamente à medida que ele escoa devido à ação do atrito, como mostrada na figura acima. A figura ao lado demonstra um seguimento de vaso que obedece ao regime estacionário em que a pressão está caindo (P3<P2<P1) porque a energia mecânica do sangue está sendo consumida, ou dissipada, pelo atrito. À medida que o sangue encontra resistência, a pressão exercida sobre o vaso vai decaindo, sendo esse atrito que consome a energia mecânica. Se a circulação fosse como um sistema ideal (sem ação do atrito), bastava que o coração batesse (sístole) apenas uma vez e o sangue nunca deixaria de circular por entre os vasos. O coração renova a energia mecânica de um lado e o atrito a consome. ENERGIA CINÉTICA O seu vetor praticamente não diminui porque o componente que mais diminui é a energia potencial, explicando a queda de pressão que o sangue exerce nas diferentes regiões do corpo. EQUAÇÃO DE BERNOUILLI É a equação que descreve a energia total que um fluido qualquer apresenta quando ele escoa dentro de um condutor. Ou seja, tomando a hidrodinâmica como base, em um fluído ideal, não viscoso e incompressível, onde se despreza o atrito entre o fluído e as paredes do condutor, a energia total (ET) do fluído que escoa é dada pela soma da energia cinética do fluído (K); mais a energia posicional gravitacional (U); mais o trabalho realizado sobre o fluído (W). ET = K + U + W m x L2 x T-2 = ح P = m x L-1 x T-2 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 6 www.medresumos.com.br Como o sistema acima é ideal, a ET na secção P1 (plano mais elevado) é a mesma da secção P2. Admitindo que o trabalho realizado sobre o fluido é representado pela pressão, tem-se de modo geral: ET = dv 2 + d.g.h + P V 2 Energia Total Pressão Cinemática Energia Posicional Gravitacional Pressão Estática a) Admitindo-se que o fluído em escoamento é ideal e incompressível, pode-se ignorar a energia dissipada de atrito entre o fluído e as paredes do condutor. Neste caso, a energia total do fluído na secção A1 (ET1) deve ser ENERGIA CINÉTICA (K) – PRESSÃO CINEMÁTICA DO FLUIDO a) A energia cinética (K) do fluído, também chamada de pressão cinemática, que escoa na secção A1 dada por: Ec = K1 = m.v 2 1 m = massa do fluído 2 v1 = velocidade do fluído na secção A1 b) A energia cinética tomada por unidade de volume V1 que passa na secção é dada por: K1 = m.v 2 1 = m.v 2 1 x 1 V1 2 2 V1 V1 K1 = m.v 2 1 V1 2V1 c) Sabendo que a densidade (d) é a razão entre massa e volume (d=m/V), a energia cinética por unidade de volume V1 pode ser reescrita: K1 = d.v 2 1 V1 2 ENERGIA POSICIONAL GRAVITACIONAL DO FLUÍDO a) A energia posicional gravitacional (U) do fluído que escoa na secção A1 é dada por: Ep= U1 = m.g.h1 m= massa do fluído g= aceleração da gravidade h1= altura em relação ao nível de referência b) A energia posicional (U1) tomada por unidade de volume V1 que passa na secção A1 é dada por: U1 = m.g.h1. V1 V1 c) Sabendo que a razão entre massa e volume representa a densidade (d=m/V), a energia posicional por unidade de volume V1 vale: U1 = d.g.h1 V1 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 7 www.medresumos.com.br igual à energia total do fluído na secção A2 (ET2). Isto é, a energia total do fluído é conservada durante o escoamento (figura anterior, 20.1). Assim, pode-se dizer que: ET1 = ET2 K1+U1+W1 = K2+U2+W2 dv 2 1 + d.g.h1 + P1 = dv 2 2 + d.g.h2 + P2 2 2 b) Se o vaso condutor estiver totalmente na horizontal (no mesmo plano), a energia posicional gravitacional poderá ser desprezada, pois a altura do vaso em relação ao nível de referência não varia (h1=h2). Assim, temos: dv 2 1 + d.g.h1 + P1 = dv 2 2 + d.g.h2 + P2 2 2 A equação de Bernouilli fica resumida a: dv 2 1 + P1 = dv 2 2 + P2 2 2 Logo, pode-se admitir que: d . v² + P = constante. 2 Estenose: é uma diminuição na luz do vaso causada por algum corpo (como placas de ateromas) ou por compressão, podendo causar isquemia e necrose. Segundo o regime da continuidade, o fluido que escoa dentro de uma situação de estenose tem uma maior velocidade (se a área diminui a velocidadedo fluido deve aumentar, pois v x A = cte). Como a velocidade está aumentando, consequentemente a energia cinética do fluido também aumenta. Em contrapartida, segundo a equação de Bernouilli, a pressão deve diminui (d x v²/2 + P = cte). Isso significa que, quando o sangue passa por dentro de um seguimento estenosado, a pressão deve diminuir (↓A ↓P ↑v). Aneurisma: é uma dilatação da luz do vaso. Nesse caso, como a área de secção aumenta, a velocidade do fluxo diminui, mas para mantê-lo constante, a pressão aumenta (↑A ↑P ↓v). Com o aumento da pressão em um segmento acometido de aneurisma, a tendência desse segmento é aumentar ainda mais podendo romper-se. EFEITO VENTURI Considere o sistema ao lado em que escoa um fluído ideal, incompressível e não viscoso. Nota-se que há um estrangulamento da área seccional A2; portanto A1>A2. Pelo princípio da continuidade, a velocidade de fluxo v2 deve ser maior que a velocidade v1, uma vez que o fluxo é constante em todas as secções do condutor. Considerando o princípio de conservação da energia do fluído entre as secções A1 e A2 (figura ao lado), pode-se dizer que: ET1=ET2 dv 2 1 + P1 = dv 2 2 + P2 2 2 Como a velocidade na secção A2 é maior que na secção A1, a equação de Bernoulli prevê que a pressão na secção A2 deve diminuir, já que ET1=ET2 (conservação da energia total do fluído). Note-se que há tubos verticais ligados Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 8 www.medresumos.com.br às paredes do condutor; e que estes tubos registram a diferença de pressão “a” entre as secções A1 e A2. Esta variação de pressão do fluído, observada quando a área do condutor varia, é chamada de “Efeito Venturi”, ou seja, no estrangulamento de um condutor, a velocidade aumenta, porém a pressão diminui. Em caso de asma alérgica, a musculatura lisa dos brônquios contrai, diminuindo a luz do mesmo. Pelo princípio da continuidade do fluxo, a pressão nessa região diminui. Em casos severos, a pressão é tão baixa que o pulmão pode chegar a colabar (atelectasia), ou seja, colapso do pulmão devido a um “vácuo” gerado dentro do alvéolo. Outra maneira de prever o Efeito Venturi é a seguinte: considere o sistema da FIGURA 5A, onde existe um estrangulamento na luz do tubo: Reescrevendo a equação de Bernoulli, temos: dv 2 1 + P1 = dv 2 2 + P2 2 2 1 dv 2 1 + P1 = 1 dv 2 2 + P2 2 2 Assim, a diferença de pressão (P1P2) entre as duas áreas seccionais seria: P1 P2 = 1 dv 2 2 1 dv 2 1 2 2 P1 P2 = 1 d (v 2 2 v 2 1) 2 Observando a FIGURA 5A, nota-se que A1>A2. Pelo princípio da continuidade de fluxo, sabe-se que v2 > v1. Portanto, a diferença de velocidade (v 2 2 - v 2 1) deverá ser sempre positiva. Consequentemente, a diferença de pressão (P1P2) deverá ser positiva também. Para que a diferença de pressão (P1P2) seja positiva, obviamente é necessário que P1 seja maior que P2 (P1>P2). Portanto, a pressão P2 na área estrangulada diminui em relação à pressão P1 da área normal. Considere o sistema da FIGURA 5B, onde A2>A1. Pelo princípio da continuidade, v1 > v2. Portanto, a diferença de velocidade (v 2 2 v 2 1) deverá ser sempre negativa. Assim, a diferença de pressão (P1P2) também será negativa. Para que a diferença (P1P2) seja negativa, é necessário que P2 seja maior que P1 (P2>P1). Como resultado, a pressão P2 na área larga do tubo é maior que a pressão P1 na área normal. OBS 10 : O Efeito Venturi só é válido para tubos em que a área seccional varia, ou seja, a pressão só varia se a luz do tubo variar. OBS 11 : As leis da hidrodinâmica podem ser aplicadas à circulação sempre com alguns limites, como por exemplo, fisicamente, a pressão nos capilares (maior área total) deveria ser maior que a pressão aórtica (menor área). Isso não ocorre por causa do atrito, uma vez que o sangue perde energia mecânica até chegar aos capilares. Embora o aumento da área capilar não eleve a pressão como nas artérias, pelo menos há uma atenuação da queda dessa pressão, justamente por causa do efeito hidrodinâmico: quando maior a área, maior será a pressão. OBS 12 : O aumento de pressão não é considerado Efeito Venturi. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 9 www.medresumos.com.br TIPOS DE FLUXO O escoamento normal da circulação sanguínea ocorre de forma laminar, ou seja, divido em camadas que circulam de forma silenciosa. Como na bureta do exemplo ao lado, onde o corante, quando escoado lentamente, desce silenciosamente em camadas. Quando o sangue ultrapassa uma determinada velocidade crítica, o fluxo sanguíneo passa a ser turbulento e ruidoso (som chamado sopro), como o que ocorre na bureta ao lado com um fluxo maior. Geralmente ocorre em casos de fístulas (como a atrioventricular), em que a área diminui e a velocidade aumenta, fazendo com que o fluxo torna-se turbulento. OBS 13 : O fluxo pode estar normal e apresentar sopro em casos de exercícios físicos prolongados. VELOCIDADE CRÍTICA Vc Velocidade crítica de escoamento Re Constante adimensional de Reynolds (Re=2000) Viscosidade do fluido (sangue = 2,8 . 10-3 Pa.s) d Densidade do fluído r Raio do condutor VERIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Há duas maneiras de verificação da PA: direta (acoplando-se diretamente a uma artéria dissecada uma manômetro de mercúrio) e indireta (tradicional, através do manguito e do estetoscópio). Para essa medida, toma-se como referência os sons de Korotkoff e o relógio (servindo de manômetro de mercúrio). Inicia-se o procedimento inflando o manguito ao redor do braço com o intuito de exercer pressão sobre ele, comprimindo a artéria braquial. O resultado é a oclusão da própria artéria, chegando um ponto que a luz arterial é totalmente fechada, parando o fluxo. Após isso, abre-se a válvula da pera, fazendo com que a região da artéria que estava estrangulada permita a passagem de um primeiro jato de sangue, sendo esse fluxo turbilhonar, ou seja, ruidoso (primeiro som de Korotkoff), produzindo uma pressão aproximadamente igual à sistólica. Com a continuação da abertura da artéria, a velocidade vai diminuir, fazendo com que o fluxo volte a ser laminar e silencioso. Nesse ponto em que os sons desaparecem, marca-se a pressão diastólica. Em síntese, tem-se: Primeiro som (Pmáx): PRESSÃOmanguito ≈ PRESSÃOsistólica Segundo som (Pmin): PRESSÃOmanguito ≈ PRESSÃOdiastólica Ex: HENEINE (2000): Sabendo que a densidade do sangue é de 1,06.103 Kg/m3, calcular a velocidade crítica de escoamento do sangue que circula na aorta, cujo raio é de 1,25.10 -2 m. ( sangue = 2,8.10 -3 Pa.s): OBS: 1 Pa = 1 N.m - ² 1 N.m² = 1 Kg. m.s -2 .m - ² 1 Pa = 1 Kg. m -1 .s -2 Vc = Re x d x r Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 10 www.medresumos.com.br A pressão sistólica é a pressão máxima, cujo valor normal nas artérias é de 120mmHg e a pressão diastólica é a pressão mínima, período em que os ventrículos relaxam, cujo valor normal é de 80mmHg. Segundo critérios da organização mundial da saúde, quando a pressão sistólica é maior ou igual a 140mmHg e a diastólica estando maior ou igual a 90mmHg, seria já suspeita de hipertensão. À medida que o indivíduo envelhece, a pressão arterial tende a aumentar. Isso acontece devido ao processo de arteriosclerose, ou seja, a elasticidade das artérias é bem menor, e já não consegue distender mais como em um indivíduo jovem. Essa rigidez da parede das artérias contribui para que a complacência aórtica (distensão normal da aorta no momento da ejeção sistólica) diminua. Do ponto de vista físico, complacência é a variação de volume em função de uma variação de pressão: a aorta é complacente porque, quando se empoe uma determinada pressão, ela altera seu volume. O gráfico acima, além de mostraro aumento da pressão arterial com o decorrer dos anos, ele mostra a pressão arterial média que está muito mais próxima da pressão diastólica do que da sistólica. Isso ocorre pois o período de diástole é mais longo que o período de sístole. Por isso que têm-se uma preocupação muito maior com a pressão diastólica do que com a sistólica, por exemplo: é muito melhor ter uma pressão de 140/80 (hipertensão sistólica) do que 100/90 (hipertensão diastólica), uma vez que esta ultima é mais maléfica, pois a pressão diastólica contribui mais para pressão arterial média, ou seja, ela retrata melhor a situação da pressão arterial. LEI DE POISEUILLE Explica porque ocorre um grande aumento da condutância sanguínea quando o diâmetro do vaso aumenta, explicando também os fatores que regulam este fluxo: O fluxo é diretamente proporcional ao gradiente de pressão (ΔP), que representa a diferença entre a pressão na aorta (100mmHg) e na veia cava (≈0mmHg): ΔP = Pa – Pv = 100mmHg. O fluxo é diretamente proporcional a 4ª potencial do raio (r); O fluxo é inversamente proporcional ao comprimento do tubo (L) e a viscosidade do líquido (). No choque anafilático (alérgico), ocorre liberação de histamina pelos mastócitos, que age na musculatura lisa dos vasos, gerando uma vasodilatação arteriolar generalizada, o que provoca uma queda grave da pressão arterial. Isso ocorre porque se aumentar o volume do compartimento vascular (contendo 5 litros constantemente), a tendência da pressão é sempre diminuir (espaço maior para mesma quantidade de sangue), caindo o gradiente de pressão e diminuindo o fluxo, podendo causar um colapso circulatório. Se o raio do vaso cresce um número x, o fluxo aumenta muito mais, pois a proporção é exponencial (ver figura abaixo). No caso de hemorragias agudas, o organismo promove uma vasoconstrição para tecidos menos importantes (pele, músculos) e desvia a circulação do sangue para tecidos mais importantes (coração, cérebro e pulmão). Ex: HENEINE (2000): Determinar a variação percentual do raio e do fluxo em um vaso cujo raio varia de 1cm para 1,2 cm. Variação % do raio (r%): Admitindo-se que a única variação do sistema ocorra no raio, pode-se dizer que F=r4 . Seja rf o raio final; e ri o raio inicial. Complacência = ΔV ΔP F = x P x r4 8 x L x Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 11 www.medresumos.com.br F = rfinal 4 rinicial 4 F= (1,2)4 (1,0)4 = 2,1 1,0 = 1,1 F%= 1,1 (x100) = 110% *Note-se que um crescimento de apenas 20% no raio aumenta o fluxo em 110% CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA Como foi visto pela Lei de Poiseuilli, quanto maior for o comprimento do vaso, menor será o fluxo (ver figura ao lado direito). Isso ocorre pois o fluido encontrará mais resistência do atrito com o aumento do comprimento que ele deverá percorrer. Em condições fisiológicas normais, o comprimento dos vasos corpóreos não varia. Porém, há determinadas situações clínicas em que o comprimento do tubo varia e o fluxo também, como no caso da circulação extracorpórea. A circulação extracorpórea é induzida artificialmente em processos cirúrgicos (ver figuras abaixo), como em cirurgias cardíacas, em que não se pode trabalhar com o coração em funcionamento. Nesse caso, desvia-se o sangue das veias cavas através de um sistema artificial (sistema de tubos, pulmões artificiais e bomba extracorpórea) sendo ele devolvido a altura da aorta para circular pelo restante do corpo. Devido a isso, conclui-se que, nesses casos, há um aumento do comprimento do tubo por onde o sangue vai percorrer, diminuindo assim, o fluxo. Aí onde entra a importância da bomba extracorpórea, que servirá como compensador dessa queda no fluxo, fazendo-o aproximar-se do fluxo estacionário. VISCOSIDADE DO SANGUE () Representa o grau de fluidez que o sangue possui ( sangue = 2,8.10 -3 Pa.s), que em condições normais, realmente é um liquido viscoso. Quanto mais hemácias o sangue apresentar, mais viscoso ele é. Essa viscosidade do sangue é uma das causas que faz com que o sistema circulatório seja considerado um modelo real, justamente devido ao atrito das lâminas do sangue viscoso com o endotélio. Essa quantidade de hemácias é calculada pelo hematócrito (proporção entre hemácias/plasma): ↑Hemácia ↓Plasma: hemoconcentrado. ↓Hemácia ↑Plasma: hemodiluído. Porém, em determinadas patologias, essa viscosidade se altera, alterando também o fluxo. Policitemia: doença mieloproliferativa (pré-leucêmica) em que há excesso na produção de hemácias, fazendo aumentar a viscosidade do sangue e diminuindo o fluxo. Macroglobulinemias; Mieloma múltiplo: a quantidade de proteínas no plasma aumenta muito, aumentando também, a viscosidade do sangue. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 12 www.medresumos.com.br Anemia profunda: a falta de hemácias no sangue diminui a viscosidade do mesmo, aumentando o fluxo. Determinados pacientes com anemia profunda podem apresentar sopros nas grandes artérias, pois a viscosidade do sangue cai a tal ponto que a velocidade do fluxo aumenta, chegando a ultrapassar a sua velocidade crítica, tornando-se turbulento. Ex: HENEINE (2000): Um segmento da aorta medindo 10cm apresenta um gradiente de pressão de 2,5 Pa. Sabendo que o raio aórtico mede 1,25cm, calcular o fluxo no segmento (viscosidade do sangue = 2,8.10-3 Pa.s.): OBS: Em casos de febre, a viscosidade do sangue diminui. Enquanto em uma hipotermia, a viscosidade aumenta. VELOCIDADE DO FLUXO EM ESCOAMENTOS REAIS No escoamento real, a velocidade de fluxo dentro do tubo é variável devido ao atrito entre as lâminas do fluído viscoso e entre o fluído e as paredes do tubo. A velocidade é máxima no centro e decresce segundo uma parábola até zero na adjacência do tubo. i. Em escoamentos reais, a análise dimensional mostra que a velocidade média (v) representa a razão entre fluxo e área: v = Fluxo = F Área do tubo A ii. Mas o Fluxo (F) de Poiseuille vale: F= .P. r4 8. L. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOFÍSICA 13 www.medresumos.com.br iii. Então, a velocidade de fluxo em escoamentos reais pode ser escrita como: v = .P. r4 x 1 8. L. r2 Logo, a velocidade média será: RESISTÊNCIA DA TUBULAÇÃO AO FLUXO Entende-se como resistência “R” todos os fatores que impedem ou desfavorecem o fluxo em uma tubulação. A relação entre fluxo e resistência pode ser definida como: F = ΔP R Comparando-se esta definição com a lei de Poiseuille, pode-se dizer que: A resistência é diretamente proporcional à viscosidade do fluído e ao comprimento do tubo. A resistência é inversamente proporcional ao raio do condutor. RESISTÊNCIA DA PERIFÉRICA – LEI DE OHM O fluxo F é diretamente proporcional ao gradiente de pressão (P) e inversamente proporcional à resistência R. A resistência é medida em uma unidade incoerente, a UNIDADE R (Pressão/Fluxo). A resistência aumenta diretamente com a viscosidade do sangue, o comprimento do tubo e o grau de constrição dos vasos. Ex: HENEINE (2000): A pressão do sangue cai de aproximadamente 100mmHg nas artérias para 15mmHg nos capilares. Calcular a resistência sabendo que o fluxo arterial é de 85ml/s. Ex²: HENEINE (2000): Um portador de hipertensão apresenta uma pressão arterial média de 220 mmHg. Qual a resistência periférica do paciente se o débito cardíaco é de 5 litros/min. Ou seja, é necessário um trabalho 2,46 vezes maior que o normal para circular o mesmo volume de sangue. P = .P. r4 R 8. L. R= P. 8. L. .P. r4 F = P R= P = mmHg = 1 unidade R R F ml.s-1 v = r2 x P 8xLx R = 8. L. . r4
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