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Contratos - FGV

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DIREITO DOS CONTRATOS 
 
 
 
 
 
Produzido por 
Carlos Affonso Pereira de Souza, Rafael Viola, Carolina 
Sardenberg Sussekind, Cristiano Chaves de Melo, Gisela 
Sampaio da Cruz, Laura Fragomeni e Monique Geller 
Moszkowicz 
 
 
 
 
 
 
Graduação 2013.2 
FGV DIREITO RIO 
 
 
 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
2 
 
SUMÁRIO: 
 
 
 
 
 
Método de Avaliação .......................................... p. 03 
 
Programa da Disciplina .......................................... p. 07 
 
Roteiro das Aulas .......................................... p. 09 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
3 
MÉTODO DE AVALIAÇÃO 
 
A avaliação de desempenho do aluno na disciplina Direito dos Contratos será 
realizada através do somatório de três notas, correspondentes às seguintes atividades: (i) 
uma prova escrita a ser realizada no meio do semestre; (ii) uma prova escrita a ser realizada 
na última aula do curso; além de (iii) um trabalho em grupo escrito e apresentado em sala 
sobre contratos em espécie. 
À primeira prova escrita será conferida nota de 0 (zero) a 10 (dez). A segunda prova 
escrita, por sua, vez, valerá 07 (nove) pontos. Os demais 3 (três) pontos decorrem do 
trabalho. 
O aluno que obtiver nota inferior a 07 (sete) e superior ou igual a 04 (quatro) 
pontos, deverá fazer uma prova final. O aluno que obtiver nota inferior a 04 (quatro) pontos 
estará automaticamente reprovado na disciplina. 
Para os alunos que fizerem a Prova Final, a média de aprovação a ser alcançada é 06 
(seis) pontos, a qual será obtida conforme fórmula constante no Manual do Aluno / Manual 
do Professor. 
 
 
 
Direito dos Contratos 
4 
PROGRAMA DA DISCIPLINA: 
 
 
 
Aula 1: APRESENTAÇÃO DO CURSO 
 
Parte I: Princípios Fundamentais do Direito dos Contratos 
 
Aula 2: AUTONOMIA PRIVADA E FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
Aula 3: CONTORNOS DA BOA-FÉ OBJETIVA 
Aula 4: RELATIVIDADE E SUA FLEXIBILIZAÇÃO 
 
Parte II: Teoria Geral dos Contratos 
 
Aula 5: ANTES DO CONTRATO: RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL E CONTRATO PRELIMINAR 
Aula 6: FORMAÇÃO DO CONTRATO 
Aula 7: CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
Aula 8: INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 
Aula 9: VÍCIOS REDIBITÓRIOS E EVICÇÃO 
Aula 10: REVISÃO DOS CONTRATOS 
Aula 11: EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
Aula 12: ASPECTOS DA CONTRATAÇÃO ELETRÔNICA 
 
Parte III: Contratos em espécie 
 
Aula 13: COMPRA E VENDA 
Aula 14: COMPRA E VENDA (CLÁUSULAS ESPECIAIS) 
Aula 15: DOAÇÃO 
Aula 16: LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS 
Aula 17: EMPRÉSTIMO - COMODATO 
Aula 18: EMPRÉSTIMO – MÚTUO 
Aula 19: PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E EMPREITADA 
Aula 20: DEPÓSITO 
Aula 21: MANDATO 
Aula 22: FIANÇA 
Aula 23: SEGURO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
5 
ROTEIRO DAS AULAS: 
 
 
 Aula 1 
 
Título: APRESENTAÇÃO DO CURSO 
 
 
1. Caso Gerador: 
O caso gerador narrado abaixo ilustra a conexão necessária entre as duas primeiras 
disciplinas de Direito Civil lecionadas no curso de graduação (Introdução ao Direito Civil e 
Obrigações e Responsabilidade Civil). A lide em questão foi baseada em caso julgado pelo 
Superior Tribunal de Justiça. Com base nas lições apreendidas, e com a intuição natural do 
bom profissional jurídico para descobrir onde estão os pontos controvertidos de um caso 
concreto e, principalmente, para buscar a sua solução, leia a seguinte questão: 
Três famílias de baixa renda viviam juntas, há mais de dez anos, em uma casa de 
madeira construída em terreno de sua propriedade na sua periferia de Porto Alegre. Com 
a expansão dos limites da cidade, uma empresa construtora procurou as três famílias com 
interesse de construir no local um edifício de apartamentos. Em troca pela cessão do 
terreno, as famílias receberiam dois apartamentos do edifício a ser construído. O contrato 
foi devidamente celebrado entre as partes, formalizado em cartório, tendo ainda sido 
oferecida em garantia do cumprimento do acordo, por parte da construtora, o imóvel onde 
residia a família do proprietário da empresa. 
As três famílias passaram a residir, de forma precária, na casa de amigos e 
conhecidos. Os anos foram se passando e o edifício jamais foi construído. Após cinco anos 
de espera, as três famílias ingressaram em juízo pleiteando que o imóvel dado em garantia 
fosse levado a leilão para pagamento do valor relativo ao terreno, acrescido de eventuais 
atualizações e indenização por dano moral decorrente do inadimplemento da construtora. 
Nos autos do referido processo, o advogado da construtora alegou que o imóvel 
dado em garantia não poderia ser objeto de execução, pois estaria protegido pelo regime 
do “bem de família” (Lei n° 8.009/90). 
 
 
Direito dos Contratos 
6 
Com base no caso acima responda: 
(i) Quais princípios da teoria geral das obrigações e dos contratos estão envolvidos 
na questão? Existe algum conflito entre os mesmos? 
(ii) No caso narrado, como você decidiria o processo? Justifique a sua decisão com 
argumentos jurídicos e com base na legislação pertinente. 
O caso acima foi baseado na seguinte decisão do Superior Tribunal de Justiça: 
IMPENHORABILIDADE. BEM DE FAMÍLIA. BOA-FÉ. 
Três famílias de baixa renda viviam juntas em uma pequena casa de madeira construída em 
terreno de sua propriedade. Sucede que aceitaram permutá-lo por dois apartamentos a 
serem edificados por uma empresa construtora, que deu em garantia do negócio 
(formalizado em cartório) o imóvel em que morava a família do proprietário da firma, 
sabidamente protegido pela Lei n. 8.099/1990. Desalojados, esperaram em vão pela 
construção e, por onze anos, pelejaram em juízo, até que, às vésperas da praça, houve a 
alegação de o imóvel dado em garantia ser bem de família. Isso posto, a Turma não 
conheceu do especial, ao acompanhar o entendimento do Min. Relator de que, nessa 
peculiar hipótese, a impenhorabilidade do bem de família há que ser tratada com 
temperamentos, cedendo frente ao princípio da boa-fé. O Min. Relator anotou, também, não 
se cuidar aqui do hipossuficiente que, impensadamente, dá seu bem impenhorável em 
garantia de negócio (hipótese albergada pela jurisprudência), mas sim de parte que tinha 
consciência do que estava fazendo. O Min. Carlos Alberto Menezes Direito, por sua vez, 
aduziu, em apertada suma, que, diante desse específico cenário, é possível entrever a 
renúncia à impenhorabilidade, renegada pelos Tribunais, mas incidente ao caso pela 
peculiaridade da hipótese, e ao final, está-se, justamente, a proteger o bem de família 
daqueles que foram lesados. Resp 554.622/RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 
17/11/2005. 
 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
7 
Parte I: Princípios Fundamentais do Direito dos Contratos 
 
 Aula 2 
 
 
Título: AUTONOMIA PRIVADA E FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
 
Ementário de temas: Autonomia Privada e Função Social do Contrato 
 
Leitura obrigatória: MARTINS-COSTA, Judith. “Reflexões sobre o princípio da função 
social dos contratos”, in Revista Direito GV nº 01 (maio/2005); pp. 41/66. 
 
Leituras complementares: SALOMÃO FILHO, Calixto. “Função social do contrato: 
primeiras anotações”, in Revista de Direito Mercantil nº 132; pp. 07/24. BUENO DE GODOY, 
Cláudio Luiz. Função Social do Contrato. São Paulo: Saraiva, 2004; pp. 110/130. 
 
 
1. Roteiro de aula: 
Ao se iniciar o estudo da teoria e prática dos contratos, é fundamental ter-se em 
mente a transição pela qual atravessa esse específico e importante campo do Direito Civil. 
Tradicionalmente vinculada à soberania da vontade individual (autonomia da vontade), 
insculpida nos preceitosque tutelam a liberdade contratual, a disciplina dos contratos 
atualmente vê-se permeada por uma série de interesses que ultrapassam a vontade do 
particular, gerando um debate sobre os limites da intervenção de dispositivos de ordem 
pública na regulação das relações contratuais. 
Pode-se, em linhas gerais, dizer que os princípios tradicionais, que fundamentaram a 
construção clássica da teoria dos contratos são os seguintes: (i) autonomia privada (ou da 
vontade); (ii) força obrigatória; e (iii) relatividade. Esses princípios encontram hoje diversas 
áreas de flexibilização geradas pela ascensão de novos princípios contratuais, como (iv) a 
função social do contrato; (v) a boa-fé objetiva; e (vi) o equilibrio econômico-financeiro da 
relação contratual. 
Todos os seis princípios acima mencionados serão trabalhados nas aulas a seguir. 
Na presente aula será conferida atenção especial aos princípios da autonomia da vontade e 
da chamada função social do contrato. 
 
 
Direito dos Contratos 
8 
A autonomia privada pode ser entendida, segundo lição de Díez-Picaso e Gullón 
como “o poder de se auto-ditar a lei ou preceito, o poder de governar-se a si próprio.” 
Conforme complementam os mesmos autores: 
“Poder-se-ia também defini-la como um poder de governo da própria esfera 
jurídica, e como essa é formada por relações jurídicas, que são a causa da 
realização de interesses, a autonomia privada pode igualmente conceituar-
se como o poder da pessoa de desregulamentar e ordenar as relações 
jurídicas nas quais é, ou há de ser, parte.”1 
 O estudo da autonomia privada assume, na seara contratual, a forma da tutela da 
liberdade contratual. Nesse particular é importante não confundir “liberdade de contratar” 
com “liberdade contratual”. A primeira relaciona-se com o momento formativo da relação 
contratual, isto é, com o grau de liberdade envolvida na decisão sobre concluir ou não um 
contrato. Já a segunda diz respeito ao conteúdo do contrato. 
 Segundo Francesco Messineo, existem quatro significados para liberdade 
contratual: (i) o fato de que nenhuma parte pode impor unilateralmente à outra o conteúdo 
do contrato, e que esse deve ser o resultado de livre debate entre as partes; (ii) liberdade de 
negociação, no sentido de que o objeto do contrato é livre, salvo bens indisponíveis e 
exceções previstas no ordenamento; (iii) o poder de derrogar as normas dispositivas ou 
supletivas; e (iv) o fato de que, em algumas matérias, é admitida a auto-disciplina, ou seja, 
a regulação estabelecida pelas partes interessadas.
2
 
 Os alicerces sobre os quais se funda a liberdade de contratar podem ser encontrados 
nos princípios elaborados pela Escola do Direito Natural, responsável por conferir 
importância crescente à contratualidade, a partir do século XVI, sob a influência do 
conceito de autonomia da vontade desenvolvido pelo Humanismo. O primado da vontade 
individual é consolidado no século XVII, quando a própria existência da sociedade passa a 
ser fundamentada no contrato. Essa tendência é explicita por John Gilissen: 
 
1
 Luis Diéz-Picaso e Antonio Gullón. Sistema de derecho civil. Madrid: Editorial Tecnos, 
S.A., 1994, v. 1, p. 371. 
2
 Francesco Messineo. Il contratto in genere. Pádua: CEDAM, 1973, pp. 43 e 44. 
 
 
 
Direito dos Contratos 
9 
“A Idade Média não reconhecia o primado da vontade individual; esta não 
era respeitável senão nos limites da fé, da moral e do bem comum. Os 
interesses da comunidade familiar, religiosa ou econômica, ultrapassam os 
dos indivíduos que a compõem. (...) É à Escola Jusnaturalista que a 
autonomia da vontade deve a sua autoridade, o seu primado. Mas foi 
sobretudo o jurista holandês Hugo Grócio que desenvolveu a nova teoria: a 
vontade é soberana; o respeito da palavra dada é uma regra de direito 
natural; pacta sunt servanda é um princípio que deve ser aplicado não 
apenas entre os indivíduos, mas mesmo entre as nações”.3 
 Após a consagração dos ideais da Revolução Francesa e a abolição dos privilégios 
estamentais e corporativos, a promulgação do Código Napoleão em 1804 veio a positivar 
explicitamente o primado da autonomia da vontade, na máxima de que “o contrato faz lei 
entre as partes” (art. 1.134), a qual será traduzida na célebre frase de Fouillée: “quem diz 
contratual diz justo”. 
 A conseqüência imediata desse cenário é a crescente importância conferida pela 
doutrina contratualista do século XIX para a análise da manifestação da vontade e seus 
vícios. Com a primazia da autonomia da vontade, interpretar o contrato tornou-se um 
exercício de descobrimento das reais intenções das partes e das formas pelas quais elas 
foram verbalizadas. Trata-se de uma verdadeira “mística da vontade”. 
 As restrições à liberdade contratual começam a surgir com a mudança do cenário 
histórico, assegurando-se, inicialmente, maior igualdade de oportunidades no mercado, em 
termos da proibição de discriminação em razão de gênero, raça, etnia. Posteriormente, 
razões sociais passaram a determinar certas discriminações positivas, como o tratamento 
mais protetivo às partes contratualmente mais vulneráveis (tais como o consumidor, o 
idoso, o trabalhador). 
Portanto, razões de justiça e equidade vieram a determinar a intervenção do Estado 
sobre as relações contratuais, em um movimento que ficou conhecido como dirigismo 
contratual. Trata-se da inserção, no ordenamento jurídico, de uma série de normas cogentes, 
a delimitar os assuntos sobre os quais se pode contratar, em que limites se pode dispor de 
 
3
 John Gilissen. Introdução histórica ao direito. 2a ed. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 1995, pp. 738 e 739. 
 
 
 
Direito dos Contratos 
10 
determinados direitos, e que cláusulas serão consideradas intrinsecamente abusivas e, por 
conseguinte, nulas. 
 Segundo identifica Eros Roberto Grau: 
“A mudança de perspectiva sobre a compreensão da autonomia da vontade 
é, portanto, profunda: deixa-se de considerar o indivíduo como senhor 
absoluto da sua vontade, para compreendê-lo como sujeito autorizado pelo 
ordenamento a praticar determinados atos, nos exatos limites da 
autorização concedida.”4 
 O mesmo diagnóstico dessa fase de transição é realizado por Gustavo Tepedino ao 
afirmar que: 
“Com o Estado intervencionista delineado pela Constituição de 1988 
teremos, então, a presença do Poder Público interferindo nas relações 
contratuais, definindo limites, diminuindo os riscos do insucesso e 
protegendo camadas da população que, mercê daquela igualdade aparente 
e formal, ficavam à margem de todo o processo de desenvolvimento 
econômico, em situação de ostensiva desvantagem”.5 
 Todavia, a flexibilização da autonomia da vontade a preceitos contidos na legislação 
não representa uma completa anulação desse princípio nas relações contratuais. Muito ao 
reverso, a autonomia da vontade, e, mais especificamente, a liberdade contratual, 
permanecem como princípio, e sua derivação respectivamente, a reger os vínculos 
contratuais, agora atrelada à função social do contrato, consoante o disposto no art. 421: 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da 
função social do contrato. 
 Uma constatação de que a autonomia da vontade ainda desempenha papel de 
destaque na formação dos contratos pode ser encontrado no art. 425 do Código Civil, o qual 
determina que as partes poderão elaborar contratos atípicos, ou seja, contratos que não 
seguem os modelos de contrato tipificados na legislação: 
 
4
 Eros Roberto Grau. “Um novo paradigma dos contratos”. In RevistaTrimestral de Direito 
Civil. Rio de Janeiro: Padma, v. 5, jan/mar 2001, p. 78. 
5
 Gustavo Tepedino. Temas de Direito Civil. 2a edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 
204. 
 
 
Direito dos Contratos 
11 
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as 
normas gerais fixadas neste Código. 
A dinâmica existente entre autonomia da vontade e função social pode ser percebida 
em alguns exemplos retirados da prática dos contratos de locação. Nesse sentido, vale 
investigar os limites do direito de retomada do imóvel por parte do locador para uso 
próprio. A lei de locações (Lei nº 8245/91) prevê, no seu art. 52, §1º, que o locador, salvo 
se remunerar o locatário pelo fundo de comércio, não poderá exercer o mesmo ramo de 
atividade desempenhado então pelo locatário. É a redação do artigo: 
“Art. 52. O locador não estará obrigado a renovar o contrato se: (...) 
II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de 
fundo de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria 
do capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente. 
§1º - Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do 
mesmo ramo do locatário, salvo se a locação também envolvia o fundo de 
comércio, com as instalações e pertences”. 
Ao interpretar o referido artigo, Fábio Ulhoa Coelho afirma que, em tela, está-se 
diante de um conflito entre o direito de inerência ao ponto do locatário e o direito de 
propriedade do locador. Conforme expressa o autor: 
“Quando o direito de propriedade do locador entra em conflito com o 
direito de inerência a ponto do locatário, está em oposição uma simples 
oposição de interesses privados, individuais.”6 
 Complementa então o autor afirmando que a restrição ao direito de retomada, 
constante do art. 52 seria inconstitucional, pois imporia restrições ao direito de propriedade. 
 Essa é justamente a espécie de situação em que a ampla autonomia da vontade cede 
espaço para mandamentos constantes da lei, impondo a preservação de determinados 
interesses. Ao afirmar que o dispositivo que veda o restabelecimento do locador no negócio 
desenvolvido pelo locatário, o legislador não confronta o direito de propriedade, mas o 
funcionaliza. Nessa direção, o artigo tutela não apenas a função social da propriedade, mas 
 
6
 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de Direito Comercial, v. I. São Paulo, Saraiva, 4ªed., 2000; p. 
103. 
 
 
Direito dos Contratos 
12 
também a função social do contrato de locação, que se transforma em incentivo para que 
locatários desenvolvam cada vez melhores negócios, seguros de que não sofrerão a 
retomada do imóvel sob o argumento de uso próprio para que o locador venha a se 
aproveitar o trabalho realizado no ponto. 
Cláusulas de não restabelecimento, ou cláusulas de não concorrência, atualmente 
desempenham importante papel na configuração dos limites da autonomia da vontade nos 
contratos. A cláusula de não-concorrência pode ser decorrência natural da venda de um 
negócio, principalmente nos casos em que seja necessário assegurar ao comprador as 
condições necessárias para que este usufrua integralmente dos benefícios diretos e indiretos 
da aquisição. A referida cláusula, todavia, deve ser razoavelmente delimitada, no tempo, no 
espaço e no setor relevante. 
 O próprio código civil estabelece que, salvo estipulação em contrário, na aquisição 
de estabelecimentos empresariais o alienante não poderá concorrer com o comprador pelo 
prazo de cinco anos. Essa é a redação do art. 1147 do Código Civil: 
Art. 1147. Não havendo autorização expressa, o alienante do 
estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos 5 (cinco) 
anos subseqüentes á transferência.” 
 Ainda na dinâmica dos estabelecimentos empresariais, e mais especificamente nos 
shopping centers, as cláusulas de não concorrência assumem a feição de cláusulas de raio, 
sendo comum que no contrato de locação com a empresa que administra o shopping center 
conste uma cláusula que veda a abertura de estabelecimento idêntico ao que o lojista 
explora no shopping por uma certa distância especificada no contrato. 
2. Caso gerador: 
 A administradora do Shopping Iguatemi, localizado na cidade de Porto Alegre, tem 
figurado na imprensa por conta de um litígio instaurado com a cadeia de farmácias 
Panvel. Segundo consta das notícias veiculadas, ela teria ingressado com ação de despejo 
contra a empresa que explora a farmácia Panvel localiza no shopping por conta da 
 
 
Direito dos Contratos 
13 
abertura de uma outra farmácia Panvel no shopping Bourbon Country, construído 
posteriormente e praticamente vizinho do terreno onde se localiza o shopping Iguatemi. 
 Alega a administradora do Shopping Iguatemi que a abertura de uma farmácia 
Panvel no shopping vizinho representaria violação da cláusula de raio estabelecida no 
contrato de locação. Vale ressaltar que no shopping Bourbon Country também foram 
abertas lojas das redes O Boticário e McDonalds. 
 Se você fosse o juiz dessa ação judicial, como seria a sua decisão? Fundamente. 
 
 
 
Fonte: http://www.portoimagem.com 
Shopping Bourbon Country Iguatemi Shopping 
 
 
Direito dos Contratos 
14 
 Aula 3 
 
Título: CONTORNOS DA BOA-FÉ OBJETIVA 
 
Ementário de temas: As três funções da boa-fé objetiva – Os deveres anexos de conduta – 
Proibição do comportamento contraditório 
 
Leitura obrigatória: TEPEDINO, Gustavo e SCHREIBER, Anderson. “A Boa-Fé Objetiva no 
Código de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil”, in Gustavo Tepedino (org.) 
Obrigações: Estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005; 
pp. 29/44. 
 
Leituras complementares: NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2002; pp. 115/153. AZEVEDO, Antonio Junqueira de. “Insuficiências, deficiências 
e desatualização do Projeto de Código Civil na questão da boa-fé objetiva nos contratos”, in 
Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo: Saraiva, 2004; pp. 148/158. 
 
 
1. Roteiro de aula: 
 A boa-fé tradicionalmente figura como elemento dos estudos jurídicos quando se 
deve investigar se o indivíduo possui ou não ciência sobre uma determinada condição, 
como, por exemplo, se o individuo conhece, ou não, um vício que macula a sua posse 
sobre determinado terreno. Essa perspectiva da boa-fé convencionou-se denominar boa-
fé subjetiva. 
 Existe, todavia, uma outra forma de atuação da boa-fé no direito brasileiro, 
denominada boa-fé objetiva, a qual foge de qualquer ilação sobre um estado de espírito 
do agente para se fixar em uma análise voltada para critérios estritamente objetivos. 
As três funções da boa-fé objetiva 
 É comum delimitar-se três funções típicas desempenhadas pela boa-fé objetiva no 
direito brasileiro. Sendo assim, pode-se definir a função tríplice da boa-fé objetiva da 
seguinte forma: 
A boa-fé objetiva desempenha inicialmente um papel de critério para a interpretação 
da declaração da vontade nos negócios jurídicos. Essa função é prevista no art. 113 do novo 
Código Civil: 
 
 
Direito dos Contratos 
15 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e 
os usos do lugar de sua celebração. 
 Esse dispositivo ganha relevo ao indicar que a primeira função da boa-fé objetiva é 
dirigir a interpretação do juiz ou árbitro relativamente ao negócio celebrado, impedindo que 
o contrato seja interpretado de forma a atingir finalidade oposta àquela que se deveria 
licitamente esperar. 
 A boa-fé objetiva atua ainda como forma de valorar o abuso no exercício dos 
direitos subjetivos, conforme consta do art. 187do Código Civil: 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou 
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
E, por fim, a boa-fé objetiva é, ainda, norma de conduta imposta aos contratantes, 
segundo o disposto no art. 422 do Código Civil: 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do 
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
A função desempenhada pela boa-fé objetiva a partir do dispositivo no art. 422 é, 
sem dúvida, a sua atuação mais comentada pela doutrina e da qual mais se vale a 
jurisprudência dos tribunais nacionais. 
Os deveres anexos de conduta 
O motivo pelo qual a terceira função da boa-fé objetiva recebeu tamanho destaque 
deriva justamente do seu próprio conteúdo: impor às partes contratantes deveres objetivos 
de conduta, que não necessariamente precisam constar do instrumento contratual para que 
possam ser cobrados e cumpridos. Tratam-se dos chamados deveres secundários, ou 
anexos, aos quais todas as partes de um negócio devem manter estrita observância. 
 Essa caracterização da boa-fé objetiva como a disposição de deveres de conduta 
que as partes devem guardar difere frontalmente daquela concepção clássica de boa-fé 
subjetiva, ligada a um estado psicológico do agente. 
 
 
Direito dos Contratos 
16 
 Os deveres secundários impostos pelo art. 422 foram gradativamente sendo 
construídos pela doutrina e pela jurisprudência, podendo-se mesmo falar em quatro deveres 
básicos: (i) dever de informação e esclarecimento; (ii) dever de cooperação e lealdade; (iii) 
deveres de proteção e cuidado; (iv) dever de segredo ou sigilo. 
 Todavia, diversas derivações podem surgir desses quatro deveres básicos, como 
bem explicita Judith Martins-Costa, os deveres secundários podem abranger um vasto leque 
de condutas que deverão ser observadas pelas partes, como, por exemplo: 
“a) os deveres de cuidado, previdência e segurança, como o dever do 
depositário de não apenas guardar a coisa, mas também de bem 
acondicionar o objeto deixado em depósito; b) os deveres de aviso e 
esclarecimento, como o do advogado, de aconselhar o seu cliente acerca 
das melhores possibilidades de cada via judicial passível de escolha para a 
satisfação de seu desideratum, o do consultor financeiro de avisar a 
contraparte sobre os riscos que corre, ou o do médico, de esclarecer ao 
paciente sobre a relação custo/benefício do tratamento escolhido, ou dos 
efeitos colaterais do medicamento indicado, ou ainda, na fase pré-
contratual, o do sujeito que entra em negociações, de avisar o futuro 
contratante sobre os fatos que podem ter relevo na formação da declaração 
negocial; c) os deveres de informação, de exponencial relevância no âmbito 
das relações jurídicas de consumo, seja por expressa disposição legal 
(CDC, arts. 12, in fine, 14, 18, 20, 30 e 31, entre outros), seja em atenção ao 
mandamento da boa-fé objetiva; d) o dever de prestar contas, que incumbe 
aos gestores e mandatários, em sentido amplo; e) os deveres de 
colaboração e cooperação, como o de colaborar para o correto 
adimplemento da prestação principal, ao qual se liga, pela negativa, o de 
não dificultar o pagamento, por parte do devedor; f) os deveres de proteção 
e cuidado com a pessoa e o patrimônio da contraparte, como, v.g., o dever 
do proprietário de uma sala de espetáculos ou de um estabelecimento 
comercial de planejar arquitetonicamente o prédio, a fim de diminuir os 
riscos de acidentes; g) os deveres de omissão e de segredo, como o dever de 
guardar sigilo sobre atos ou fatos dos quais se teve conhecimento em razão 
do contrato ou de negociações preliminares.”7 
A imposição desses deveres se reveste de papel fundamental para a ordenação dos 
contratos na prática, uma vez que se busca, com a sua afirmação, proteger um bem que se 
encontra na própria essência da contratação: a confiança. Por esse motivo, o enquadramento 
 
7
 Judith Martins-Costa. A Boa-Fé no Direito Privado. São Paulo: RT, 1999, p. 439. 
 
 
Direito dos Contratos 
17 
legal da boa-fé objetiva sempre se mostrará atrelada à tutela da confiança, sobretudo no que 
diz respeito à aplicação desse princípio aos casos de responsabilidade pré-contratual. 
 Mas a redação do art. 422 não está afastada de qualquer espécie de crítica. Muito ao 
reverso, Antonio Junqueira de Azevedo afirma que a redação do art. 422 se mostra 
insuficiente, deficiente e desatualizada perante às exigências da prática contratual moderna. 
Segundo o autor, o artigo seria insuficiente em sua redação pois não deixa claro se os seus 
dispositivos constituem norma cogente ou meramente dispositiva, além de não mencionar 
as fases pré e pós-contratuais para fins de responsabilização. O artigo seria ainda deficiente 
por não prever de forma explícita quais são os chamados deveres anexos. E, por fim, o 
dispositivo seria desatualizado pois confere poderes desmesurados ao juiz para interferir 
nas relações contratuais, abrindo possibilidade para se incrementar a sobrecarga de 
processos que impede o regular funcionamento do Poder Judiciário, além de não serem os 
juizes tradicionalmente preparados para decidir casos nos quais figurem contratos de 
extrema especialidade técnica. Nesse sentido, menciona o autor, a época atual estaria 
passando do paradigma do juiz para o paradigma do árbitro.
8
 
A proibição de comportamento contraditório 
A proibição do comportamento contraditório representa uma das principais 
contribuições dos estudos sobre boa-fé objetiva para a prática contratual. O instituto possui 
especial aplicação na fase de negociações que antecede a formação do contrato, coibindo as 
partes de frustrar expectativas legitimamente criadas no pólo contrário das negociações. 
A expressão nemo potest venire contra factum proprium consolida a idéia de que a 
ninguém é permitido agir contra a sua própria conduta prévia. Trata-se da reprovação social 
à adoção de comportamentos contraditórios com efeitos perniciosos a terceiros. 
O fundamento do venire contra factum proprium, como visto, reside no princípio da 
boa-fé objetiva, especialmente na sua vertente voltada para a tutela da confiança. A 
 
8
 Antonio Junqueira de.Azevedo. “Insuficiências, deficiências e desatualização do Projeto 
de Código Civil na questão da boa-fé objetiva nos contratos”, in Estudos e Pareceres de 
Direito Privado. São Paulo: Saraiva, 2004; pp. 148/158 
 
 
Direito dos Contratos 
18 
ausência de regulamentação no direito positivo não impede a aplicação do instituto, o qual 
vem sendo amplamente utilizado para casos de responsabilidade pré-contratual. A doutrina, 
contudo, tem adotado entendimento no sentido de que a proibição de comportamento 
contraditório derivaria do preceito contido no art. 3
o
, I, da Constituição Federal, o qual 
consagra a solidariedade social.
9
 
Os pressupostos para aplicação do venire contra factum proprium, de acordo com 
Anderson Schreiber, são os seguintes: (i) um factum proprium,; (ii) a geração na outra parte 
de confiança legítima no sentido de manutenção da conduta inicialmente adotada; (iii) um 
comportamento contraditório violador desta confiança; e (iv) dano ou ameaça concreta de 
dano derivado da contradição.
10
 
A proibição de comportamento contraditório surge, portanto, em casos em que a 
conduta adotada por uma das partes gera legítimas expectativas na outra parte, as quais 
terminam por serem quebradas. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio 
Grande do Sul decidiu favoravelmente a agricultoresuma ação com base na quebra das 
expectativas geradas por uma empresa especializada na fabricação de extratos de tomates, 
uma vez que a empresa tinha por hábito entregar-lhes sempre as sementes para plantio, e 
comprar o resultado da posterior colheita. No ano em que a empresa entregou as sementes e 
não comprou a colheita, os agricultores alegaram ter sofrido prejuízos pela quebra de 
expectativas geradas pela empresa. Segundo consta do acórdão em questão: 
“Tanto basta para demonstrar que a ré, após incentivar os produtores a 
plantar safra de tomate – instando-os a realizar despesas e envidar esforços 
para plantio, ao mesmo tempo em que perdiam a oportunidade de fazer o 
cultivo de outro produto – simplesmente desistiu da industrialização do 
tomate, atendendo aos seus exclusivos interesses, no que agiu dentro do seu 
poder decisório. Deve, no entanto, indenizar aqueles que lealmente 
confiaram no seu procedimento anterior e sofreram o prejuízo.”11 
 
9
 Anderson Schreiber. A proibição de comportamento contraditório – Tutela da Confiança 
e Venire Contra Factum Proprium. Rio de Janeiro: Renovar, 2005; p. 101. 
10
 Anderson Schreiber. Ob. cit.; p. 124. 
11
 TJRS, Ap. 591028295; j. em 06/06/91. 
 
 
Direito dos Contratos 
19 
 A aplicação da vedação ao comportamento contraditório surge na complementação 
do voto vencedor, ao afirmar que, no caso, “confiaram eles lealmente na palavra dada, na 
repetição do que acontecera em anos anteriores.” 
2. Caso gerador: 
 
Caso nº1: 
 
No dia 23 de abril de 2004, Bruno e Elizabeth, um casal de namorados que residia no 
apartamento 303, do prédio de nº 45, na Avenida Vieira Souto, tiveram uma discussão 
acalorada. Não se sabe ao certo o motivo da discussão, mas o fato é que o casal foi 
encontrado morto, no dia seguinte, pelo porteiro do prédio. O caso ainda hoje é um mistério 
para as autoridades policiais. Todos os jornais de circulação na cidade divulgaram por 
alguns dias a notícia da tragédia e as suas eventuais repercussões. 
 
O fatídico apartamento 303 era alugado. O locador, Antônio Mathias, tomou o cuidado de 
reformar todo o apartamento depois da tragédia. “Foi uma medida mais espiritual do que 
estética” – chegou a declarar para os amigos. Depois de concluída a reforma, nada mais 
naquele apartamento lembrava a existência do casal. 
 
Mas Antônio estava resolvido a vender o imóvel. Passado algum tempo, conseguiu comprar 
um outro imóvel e para lá se mudou, colocando o apartamento 303 para ser vendido através 
dos classificados de um grande jornal. 
 
Dois dias depois, Francisco e Carolina, um casal de namorados, foi visitar o apartamento. 
Eles logo se encantaram com a vista e com as condições para a compra do imóvel. Depois 
de providenciada toda a documentação, foi devidamente lavrada a escritura de compra e 
venda do imóvel, que agora passava a ser de legítima propriedade de Francisco. 
 
Numa manhã de domingo, ao retornar de uma caminhada na praia, Carolina encontra no 
elevador com uma moradora do prédio. A senhora, sem muita cerimônia, ao perceber que 
Carolina nada sabia sobre a tragédia do 303, trata de prontamente relatar todo o evento à 
nova moradora. 
 
Atordoada com a notícia, a jovem corre para contar ao namorado sobre os eventos 
transcorridos em seu apartamento há menos de dois anos atrás. Francisco, indignado com a 
má-fé de Antônio, imediatamente contata o seu advogado. Na segunda-feira, após reunião 
com seu advogado, Francisco está certo de que o negócio será anulado através de decisão 
judicial e pretende ingressar com a medida na mesma semana. 
 
Com base no caso acima, responda: 
 
(i) Existe algum princípio da teoria das obrigações e dos contratos aplicável ao caso 
concreto? 
 
 
Direito dos Contratos 
20 
(ii) Se você fosse o juiz desse caso, como seria a sua decisão? A venda do 
apartamento 303 pode ser anulada com fundamento na tragédia ocorrida com 
Bruno e Elizabeth? Justifique. 
 
O presente caso foi baseado na decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro na 
Apelação Cível nº 6421/2004, rel. Des. Maldonado de Carvalho; j. em 31.04.2004. 
 
Caso nº 2: 
 
Jean-Michel adquiriu em abril de 2001 um carro Citröen Xsara, com todos os acessórios 
possíveis, fabricado no próprio ano. Nas semanas seguintes à aquisição de seu novo 
automóvel, Jean-Michel vivia por conta do carro: só conversava com os amigos sobre o 
carro, só lia revistas especializadas no assunto e até mesmo criou uma comunidade no orkut 
para congregar felizes proprietários do automóvel. 
 
Todavia, o entusiasmo de Jean-Michel não foi duradouro. Passados três meses da compra 
do veículo, a montadora lançou no mercado uma nova linha estilizada de automóveis 
Citröen Xsara. O carro de Jean-Michel, que ontem mesmo era o automóvel do ano daquela 
marca, agora era simplesmente mais um modelo anterior, ainda que do mesmo ano de 2001. 
 
Revoltado com a conduta do funcionário da concessionária Citröen na qual o veículo foi 
adquirido, que não revelou ao mesmo que uma nova versão estilizada do carro seria lançada 
naquele mesmo ano, ele ingressou com ação judicial pleiteando, dentre outras coisas, a 
anulação do contrato celebrado com a concessionária pela configuração de defeito no 
negócio jurídico. 
 
A ação judicial movida por Jean-Michel deve ser julgada procedente? 
 
O caso acima é uma adaptação do Agravo de Instrumento 693303/DF, julgado pelo 
Superior Tribunal de Justiça. 
 
3. Questões de concurso: 
20º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase 
3. Estabeleça a distinção entre boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva, dando exemplos de 
situações caracterizadoras de cada uma dessas modalidades de boa-fé. 
21º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase 
3. Um náufrago, perdido em alto-mar, em uma balsa, em situação desesperadora, a 
quase míngua de víveres e água, contrata o seu resgate com um comandante de navio de 
 
 
Direito dos Contratos 
21 
transporte de combustível que passava providencialmente no local nessa ocasião, sob a 
promessa de transferir-lhe a propriedade de vultoso apartamento, metade de seu 
patrimônio. O comandante assim o faz, mesmo sabendo da proibição peremptória de 
estranhos a bordo por parte da companhia proprietária do navio, que terá que pagar 
pesada multa contratual pessoal pelo descumprimento de tal regra e do fato que o 
resgate, efetuado em condições arriscadas, atrasará a viagem em pelo menos um dia, 
acarretando diversos prejuízos a seu encargo. 
Chegando são e salvo ao porto, o náufrago posteriormente recusa-se a cumprir o 
pactuado no resgate, sob o argumento de que o contrato efetuado em tais condições não 
é válido e que conseqüentemente também não é devida ao comandante do navio 
qualquer indenização pelos gastos incorridos com o resgate. Estabeleça se o 
comandante do navio terá êxito judicial em uma eventual ação contra o náufrago 
objetivando o cumprimento do contrato e o ressarcimento dos gastos efetuados. 
6 - João e Pedro celebram a compra e venda de um fundo de comércio por R$ 
300.000,00 (trezentos mil reais) descrevendo condicionalmente no instrumento 
contratual que a aquisição teve por motivo determinante a perspectiva de boa e 
numerosa freguesia, garantida e apontada pelo vendedor Pedro no próprio contrato. 
 
Decorridos seis meses, não se caracteriza tal perspectiva. João intenta agora anular o 
negócio. Estabeleça qual o fundamento de tal pretensão e discorra sobre se terá êxito 
judicial ou não a pretensão de João. 
128º Exame da Ordem – OAB/SP – 1ª fase 
23. Sobre a boa-fé objetiva, é INCORRETO afirmar: 
(a) implica o dever de conduta probo e íntegro entre as partes contratantes.(b) significa a ignorância de vício que macula o negócio jurídico. 
(c) implica a observância de deveres anexos ao contrato, tais como informação e 
segurança. 
(d) aplica-se aos contratos do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor. 
 
 
Direito dos Contratos 
22 
 
Gabarito: 23 (b). 
 
 
 
Direito dos Contratos 
23 
 Aula 4 
 
Título: RELATIVIDADE E SUA FLEXIBILIZAÇÃO 
 
Ementário de temas: Flexibilização do princípio da relatividade 
 
Leitura obrigatória: NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato. Rio de Janeiro: Renovar, 
2002; pp. 229/259. 
 
Leituras complementares: AZEVEDO, Antonio Junqueira de. “Os princípios do atual 
direito contratual e a desregulamentação do mercado. Direito de exclusividade nas relações 
contratuais de fornecimento. Função social do contrato e responsabilidade aquiliana do 
terceiro que contribui para o inadimplemento contratual”, in Estudos e Pareceres de Direito 
Privado. São Paulo: Saraiva, 2004; pp. 137/147. CORREIA, A. Ferrer. “Da responsabilidade 
do terceiro que coopera com o devedor na violação de um pacto de preferência”, in Estudo 
de Direito Civil, Comercial e Criminal. Coimbra: Almedina, 1985; pp. 33/52. 
 
 
1. Atividade em sala: 
O contrato é um fenômeno social, econômico e jurídico. Sendo assim, imaginar que 
a celebração de um contrato apenas interessa às partes contratantes, seria desconsiderar os 
verdadeiros impactos que um contrato pode ter na própria sociedade. Terceiros não apenas 
afetam o cumprimento de um contrato, como também podem ser afetados pelos termos que 
regem uma relação contratual. 
Dessa forma, surgem duas situações bem distintas: (i) o credor que vê a prestação 
do contrato ser inadimplida por conta da atuação de um terceiro, estranho ao pactuado na 
relação contratual; e (ii) um terceiro que passa a sofrer algum prejuizo em sua situação 
jurídica por conta de um inadimplemento em contrato do qual o mesmo não faz parte. 
A extensão desse transbordamento dos efeitos de uma relação contratual para atingir 
pessoas não previamente constantes da avença é o objeto de discussão da presente aula. A 
partir da leitura da reportagem abaixo, buscar-se-á compreender nessa aula a conturbada 
relação entre os contratos e os terceiros. 
 
 
Direito dos Contratos 
24 
 
 Tendo em vista que a agência África não fazia parte do contrato entre o cantor Zeca 
Pagodinho e a cervejaria Schincariol, poderia a referida agência ser acionada 
judicialmente? Qual seria o fundamento dessa ação? E como enquadrar juridicamente o 
comportamento do cantor? 
A proposta da aula é dividir os alunos em dois grupos, um defendendo a posição da agência 
Fischer América, e outro defendendo a posição da agência de publicidade África. O caso da 
troca de anunciantes pelo cantor Zeca Pagodinho é interessante para que os alunos 
compreendam uma série de derivações não apenas do princípio da relatividade (“o contrato 
apenas tem efeito entre as partes contratantes”), como também do princípio da boa-fé 
objetiva. 
 
 
 
Direito dos Contratos 
25 
No que tange à possibilidade de se ingressar com ação contra a agência África, que não 
fazia parte do contrato entre o cantor e a cervejaria Schincariol, veja-se a decisão do TJSP: 
 
Na decisão conjunta dos Agravos de Instrumento 346.328.4/5 e 346.344.4/8, em 31 de 
março de 2004, Relatada pelo Desembargador Roberto Mortari, a 7ª Câmara de Direito 
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a decisão que proibira a Brahma de 
veicular qualquer campanha publicitária estrelada por Zeca Pagodinho enquanto 
vigorasse a cláusula de exclusividade que este havia assumido perante a Schincariol: 
"ainda que a AMBEV não tenha sido signatária do contrato entre Zeca Pagodinho e 
Schincariol, sua conduta, ao deixar de observar o pacto de exclusividade nele contido, é 
potencialmente apta a gerar dano indenizável, o que, se de um lado deverá ser alvo de 
regular contraditório na ação principal a ser proposta, lhe confere, ao menos por ora, 
status para figurar no pólo passivo da demanda". 
 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
26 
 
Parte II: Teoria Geral dos Contratos 
 
 
 Aula 5 
 
Título: ANTES DO CONTRATO: RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL E CONTRATO PRELIMINAR 
 
Ementário de temas: Responsabilidade civil pré-contratual - Contrato Preliminar 
 
Leitura obrigatória: AZEVEDO, Antonio Junqueira de. “Responsabilidade Pré-Contratual 
no Código de Defesa do Consumidor: Estudo comparativo com a responsabilidade pré-
contratual no direito comum”, in Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo: 
Saraiva, 2004; pp. 173/183. 
 
Leituras complementares: LOBO, Carlos Augusto da Silveira. “Contrato Preliminar”, in 
Gustavo Tepedino e Luiz Edson Fachin (org). O Direito e o Tempo. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2009; pp. 313/324. 
 
 
1. Roteiro de aula: 
Os negócios jurídicos, em geral, são precedidos por uma fase de entendimentos, de 
negociações, comumente denominada de “tratativas”. Nessa fase do contrato que ainda há 
de nascer as eventuais partes de uma futura relação contratual discutem como melhor 
compor os seus interesses para a formação do contrato. A negociação de um contrato é 
objeto de estudos que ultrapassam o universo estritamente jurídico e alcançam a seara das 
técnicas e estratégias de negociação, amplamente difundidas através de diversas 
publicações e cursos especializados.
12
 
Pode ocorrer, todavia, que as negociações não cheguem ao estágio de formação do 
contrato. É natural que alguma eventualidade ocorra e que uma das partes tenha que 
abandonar as tratativas. Contudo, existem hipóteses em que a própria fase pré-contratual 
gera para as então futuras partes de um contrato uma vinculação capaz de gerar danos caso 
seja rompida de forma injustificada. 
 
12
 Nesse sentido, vide, por todos, Robert Mnookin. Beyond Winning: Negotiating to Create 
Value in Deals and Disputes. Cambridge: Harvard University Press; 2000. 
 
 
Direito dos Contratos 
27 
O rompimento injustificado de negociações é apenas uma das hipóteses da chamada 
responsabilidade pré-contratual. Note-se que nesse momento ainda não existe contrato e 
que o vínculo existente entre as partes não se baseia na reciprocidade de obrigações 
devidamente contratadas, mas sim na tutela de um bem cada vez mais relevante para a 
prática contratual no direito brasileiro: a confiança. 
Responsabilidade pré-contratual 
A responsabilidade pré-contratual, ou culpa in contrahendo, se distancia das duas 
espécies tradicionais de responsabilização uma vez que não pode ser enquadrada como 
responsabilidade contratual, pois que contrato ainda não existe, e nem mesmo figurar como 
responsabilidade extra-contratual pois existe um vínculo prévio entre as partes que a 
diferencia da situação peculiarmente encontrada na chamada responsabilidade aquiliana 
(extra-contratual). 
Nesse terceiro gênero de responsabilização, portanto, pode-se encontrar uma 
interação voltada para a formação de um futuro contrato. Esse vínculo específico 
caracteriza a responsabilidade pré-contratual. Esse vínculo impõe aos indivíduos o dever de 
não frustrar as expectativas legitimamente criadas pelos seus próprios atos. A partir desse 
entendimento surgirá a tutela da confiança aplicada à proibição do comportamento 
contraditório (venire contra factum proprium). Claramente esse vínculo existente entre as 
partes surge de um imperativo da boa-fé objetiva, princípio da moderna teoria contratual, já 
estudado em aulas anteriores. É, portanto, a tutela da confiança o fundamento da 
responsabilidade pré-contratual. 
Especificamenteno que diz respeito ao rompimento das tratativas, Regis Fichtner 
Pereira identifica quatro hipóteses características dessa forma de responsabilização: (i) 
quando ocorre a ruptura injustificada das tratativas; (ii) quando, no desenvolvimento das 
negociações, um dos interessados cause dano à pessoa ou ao patrimônio do outro; (iii) 
quando tenha ocorrido o estabelecimento de contrato nulo ou anulável e um dos 
interessados conhecia, ou deveria conhecer, o vício no negócio jurídico; (iv) quando, 
 
 
Direito dos Contratos 
28 
mesmo instaurada a relação jurídica contratual, das negociações preliminares tenham 
surgido eventuais danos a serem indenizados.
 13
 
Vale destacar que, mesmo sendo uma terceira forma de responsabilidade, apartada 
das tradicionais responsabilidades contratual e extra-contratual, a responsabilidade pré-
contratual não prescinde da análise dos elementos comumente necessários para qualquer 
pleito de responsabilidade civil, ou seja, a conduta culposa de uma das partes da 
negociação, o dano causado e o nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente. 
Sendo a responsabilidade pré-contratual uma derivação do princípio da boa-fé 
objetiva (tutela da confiança) no direito brasileiro, torna-se imediata a conclusão de que as 
violações que geram esse tipo de responsabilidade são violações aos chamados deveres 
secundários (ou anexos), típicos da composição do princípio da boa-fé objetiva. 
Esses deveres acessórios são basicamente os quatro a seguir destacados: (i) dever de 
informação e esclarecimento; (ii) dever de cooperação e lealdade; (iii) deveres de proteção 
e cuidado; (iv) dever de segredo ou sigilo. 
O primeiro dever secundário (dever de informação e esclarecimento) tem por 
objetivo tornar as comunicações típicas da negociação claras e transparantes, tudo de forma 
a evitar que a parte contrária venha a incidir em erro na manifestação de sua vontade. 
O dever de cooperação e lealdade, por seu turno, impõe que as partes apenas 
permaneçam nas tratativas enquanto possuam um interesse sério e legítimo na formação de 
um futuro contrato, contando, ainda, com situação jurídica e econômica apta para o seu 
cumprimento. 
O dever de proteção e cuidado comanda às partes a observância de todas as 
precauções possíveis e razoáveis para que a parte contrária não venha a ser lesionada nas 
tratativas e no futuro contrato. 
 
13
 Regis Fichtner Pereira. A Responsabilidade Civil Pré-Contratual – Teoria Geral e 
Responsabilidade pela Ruptura das Negociações Contratuais. Rio de Janeiro: Renovar, 
2001. p. 102. 
 
 
Direito dos Contratos 
29 
O quarto e último dever secundário, ou seja, o dever de sigilo tem por escopo 
assegurar que as informações obtidas pelas partes durante as negociações sejam mantidas, 
salvo disposição em contrário, e de forma razoável, em regime de estrita confidencialidade, 
não sendo as mesmas utilizadas para fins outros que venham a ser estranhos à conclusão do 
contrato. 
 
Contrato Preliminar 
 
O contrato está celebrado e perfeito quando coincidem as vontades dos contratantes 
em um mesmo ponto e para a obtenção de certos efeitos
14
. No entanto, até o momento da 
convergência das manifestações de vontades dos contratantes, decorrem uma série de 
momentos e atos preparatórios e sucessivos
15
 até se alcançar o perfeito consenso e 
formação do contrato com a aceitação da proposta. 
É comum, todavia, que em razão do avanço das negociações, em que as partes 
acordem sobre objeto, que se ajuste um contrato em que se determina a celebração de outro 
contrato. A esse tipo contratual denomina-se contrato preliminar ou pactum de 
contrahendo. Por esse contrato as partes se obrigar a celebrar um futuro contrato chamado 
de contrato definitivo. 
Esse contrato é usualmente utilizado quando não se mostra conveniente às partes 
celebrar o contrato de forma definitiva, seja pela necessidade de algum fato futuro 
(liberação da carta de crédito junto à uma instituição financeira), seja porque o pagamento 
será realizado de modo parcelado. 
Para CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA
1
 é “aquele [contrato] por via do qual 
ambas as partes ou uma delas se comprometem a celebrar mais tarde outro contrato, que 
será contrato principal”. 
ORLANDO GOMES
2, por sua vez o define como a “convenção pela qual as partes 
criam em favor de uma delas, ou de cada qual, a faculdade de exigir a imediata eficácia de 
contrato que projetaram”. 
 
14
 PEREIRA DA SILVA, Caio Mário. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 
2006. 
15
 GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007. 
 
 
Direito dos Contratos 
30 
Ainda no mesmo sentido, WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO
16
 o define 
como a “convenção provisória, contendo os requisitos do art. 104 do Código Civil e os 
elementos essenciais do contrato (res, pretium e consensum), tem por objeto concretizar um 
contrato futuro e definitivo, assegurando pelo começo de ajuste a possibilidade de ultimá-lo 
no tempo oportuno”. 
 
Podemos distinguir o contrato preliminar do principal, então, pois o objeto deste é 
uma prestação substancial, enquanto que o daquele é concluir outro contrato (obrigação de 
fazer). 
Os requisitos do contrato preliminar são aqueles inerentes à qualquer outro negócio 
jurídico, conforme preceitua o art. 104 do Código Civil: capacidade das partes, objeto, 
forma e declaração de vontade. 
No que diz respeito à capacidade das partes, é preciso que além da capacidade 
gnérica para a prática dos atos da vida civil (art. 3º e 4º), os contraentes tenham a 
capacidade específica para a celebração do contrato futuro
4
, sob pena de inviabilizar a 
execução específica do contrato preliminar. Dessa forma, por exemplo, o leiloeiro jamais 
poderá prometer comprar os bens de cuja venda esteja encarregado (art. 497 do CC) 
Quanto ao objeto, além da necessidade dele ser lícito, possível, determinado ou 
determinável, devem ser observadas as regras atinentes ao contrato principal. Sendo assim, 
na promessa de venda, por exemplo, é necessário que as partes acordem na coisa e no 
preço. 
No que concerne à forma, é preciso tecer alguns comentários. Antes do advento do 
Código Civil de 2002, discutia-se muito a necessidade do instrumento público quando o 
contrato ao qual se reportava o pactum de contrahendo assim o exigisse. Para alguns a 
forma do contrato preliminar deveria ser a mesma forma do definitivo, enquanto que para 
outros a forma era autônoma em relação à do contrato a ser celebrado
2
. 
O Código Civil, entretanto, pôs fim à celeuma doutrinária e jurisprudencial em seu 
art. 462. Determina o artigo que o contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter 
todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. O dispositivo clarifica a 
 
16
 MONTEIRO, WASHINGTON DE BARROS. Curso de direito civil. Direito das 
obrigações 2ª parte. São Paulo: Saraiva, 2007. 
 
 
Direito dos Contratos 
31 
problemática explicitando que o pré-contrato não está sujeito à forma do contrato 
definitivo. Podemos concluir, portanto, que ainda que o contrato definitivo exija forma 
pública, será válido o pré-contrato celebrado mediante instrumento particular. 
 
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os 
requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado 
 
Cumpre ressaltar, por fim, que em tema de contrato preliminar, prevalece o 
princípio da liberdade da forma (art. 107 c/c 462 do CC). Nesse sentido, parece existir 
contradição entre o artigo em análise e o parágrafoúnico do art. 463. Esse último 
dispositivo determina que o contrato preliminar deve ser levado ao registro competente. 
 
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo 
antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das 
partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra 
para que o efetive. 
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. 
 
A interpretação dos dispositivos, todavia, não suscita maiores dúvidas. O registro do 
contrato preliminar só deverá ser observado quando as partes tiverem interesse em levá-lo 
ao conhecimento de terceiros, como determina o art. 221 do Código Civil. Nesse sentido, é 
o enunciado 30 da I Jornada de Direito Civil. 
 
Enunciado 30 – A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil 
deve 
ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros. 
 
O art. 463 do Código Civil prevê que, realizado o contrato preliminar sem que dele 
conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes poderá exigir a celebração do 
contrato definitivo. Para tanto deverá assinar prazo ao outro contraente, que será aquele 
previsto no contrato ou, em sua ausência, prazo razoável para o cumprimento do pactuado. 
 
 
Direito dos Contratos 
32 
 
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo 
antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das 
partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra 
para que o efetive. 
 
E caso haja recusa de uma das partes? Nessa hipotése poderá o contratante, 
mediante requerimento ao juiz, exigir o cumprimento forçado do contrato preliminar. Em 
outras palavras o inadimplente é compelido a executar o contrato especificamente
2
, 
determinando o juiz que o efeito do pré-contrato se produza, independentemente do seu 
consentimento. Ou seja, o juiz suprirá a vontade da parte que descumpriu o pactum de 
contrahendo e a sentença judicial equivalerá ao próprio contrato que era a pestação ajustada 
no preliminar
1
. Essa é a solução aventada pelo Código Civil no seu art. 464 e que está em 
perfeita consonância com o princípio da execução específica das obrigações e do moderno 
processo civil (art. 461, 461-A, 639 e 641 do CPC). 
 
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade 
da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se 
a isto se opuser a natureza da obrigação. 
 
O dispositivo, no entanto admite uma exceção: quando, pela natureza da obrigação, 
for impossível conferir caráter definitivo ao contrato preliminar. O artigo em comento 
refere-se aos casos de obrigações personalíssimas ou intuitu personae em que o fato devido 
pelo devedor só poderá ser prestado pelo próprio. Nas hipóteses de obrigações infungíveis 
ou em que não haja mais interesse do credor na realização do contrato, a este só restará 
exigir perdas e danos, conforme informa o art. 465 do mesmo diploma legal. 
 
Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra 
parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. 
 
Registre-se, por oportuno, que esta solução é subsidiária, pois que a tutela específica 
das obrigações é a que melhor alcança o interesse do credor. 
 
 
Direito dos Contratos 
33 
 
2. Questões de concurso: 
20º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase 
4. Uma grande empresa privada abre um processo seletivo para preenchimento do cargo 
de Diretor de Relações Externas. Um candidato é selecionado. As partes acordam o 
salário, demais condições de contratação e é fixada a data para a admissão. 
Intempestivamente, sem motivar, a empresa desiste da contratação. O candidato ajuíza 
em face dela ação de danos materiais e morais. Discorra sobre a fundamentação jurídica 
dessa pretensão e sua possibilidade de êxito judicial. 
22º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase 
5 - Disserte sobre o instituto da responsabilidade civil pré-contratual, no rompimento 
abrupto das negociações durante as tratativas para a celebração de um contrato, e estabeleça 
a validade ou não desta no ordenamento brasileiro a partir da aprovação do Novo Código 
Civil. 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
34 
 Aula 6 
 
Título: FORMAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
Ementário de temas: Momento da formação do contrato – Algumas peculiaridades da 
disciplina da oferta 
 
Leitura obrigatória: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil – vol. III 
– contratos. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004; pp. 36/48. 
 
Leituras complementares: GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 17ª ed., 
1996; pp. 57/70. FISCHER, Breno. Dos Contratos por Correspondência. Rio de Janeiro: 
José Konfino, 1956; pp. 77/164. 
 
 
1. Roteiro de aula: 
Um contrato se forma no momento em que as vontades declaradas tornam-se 
coincidentes. Trata-se do chamado acordo de vontades. Caso a lei não determine que a 
forma da manifestação do contrato seja expressa, a vontade poderá se manifestar também 
de forma tácita. 
A declaração de vontade inicial para a formação do contrato chama-se proposta ou 
oferta. O seu emissor é denominado proponente ou policitante. A declaração que 
corresponde à parte contrária é denominada aceitação. O seu emissor é denominado 
aceitante ou oblato. Da integração entre proposta e aceitação nasce o vínculo contratual. 
A oferta é a manifestação unilateral de vontade que uma das partes dirige a outra 
visando à celebração do contrato. Caracteriza-se por ser uma declaração receptícia de 
vontade, uma vez que é dirigida a outra parte para que a aceite. 
É importante que a proposta seja séria, evitando-se o mero espírito de emulação, 
uma vez que ela, guardados determinados requisitos, vincula o emissor ao seu 
cumprimento. 
A aceitação, por sua vez, é a manifestação de vontade através da qual o destinatário 
de uma oferta declara sua aceitação aos termos da proposta, formando assim o contrato 
entre as partes. 
 
 
Direito dos Contratos 
35 
Momento da formação do contrato 
 Existem diversas teorias que visam a delimitar um momento específico para a 
formação do contrato entre partes que não estejam simultaneamente presentes para 
manifestar a sua vontade. Pode-se identificar, pelo menos, dois grandes sistemas que 
apontam o momento de formação da relação contratual: o sistema da cognição e o sistema 
da declaração. 
 De acordo com o sistema da cognição, o contrato torna-se perfeito no momento em 
que o proponente tem efetivo conhecimento da aceitação da proposta. Nos contratos 
epistolares, isso faz com que o mesmo não se forme enquanto o proponente leia a 
mensagem que confirma o aceite. 
 A principal vantagem desse sistema reside na restrição ao fato de que alguém venha 
a ser vinculado a contrato sem o seu conhecimento. Todavia, as suas desvantagens parecem 
sobrepujar a referida vantagem, uma vez que se torna muito dificultoso estabelecer um 
momento preciso para a formação do vínculo contratual. Adicionalmente, esse sistema 
confere poder desmesurado ao proponente, que pode postergar a ciência do aceite.
17
 
 O segundo sistema, denominado “da declaração”, por sua vez, se divide em três 
teorias: (i) teoria da declaração propriamente dita; (ii) teoria da expedição; e (iii) teoria da 
recepção. 
 A primeira teoria, também chamada de teoria da simples aceitação, considera o 
contrato formado no instante em que o oblato declara a sua vontade no sentido de aceitar a 
proposta. Segundo essa teoria, independe a formação do contrato tanto da expedição doaceite como de seu conhecimento pelo proponente. Novamente existe dificuldade em 
precisar com exatidão o momento de formação do contrato. 
Cumpre ressaltar que a definição de um momento a partir do qual se considera o 
contrato formado é essencial para uma série de obrigações decorrentes da relação 
contratual, como, por exemplo, o prazo para cumprimento de uma prestação. 
 
17
 Orlando Gomes. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 17ª ed., 1996; p. 68. 
 
 
Direito dos Contratos 
36 
O inconveniente dessa teoria é retratado de forma contundente por Orlando Gomes 
ao afirmar que o oblato “ao escrever a carta de aceitação, concluiria o contrato; destruindo-
a, o desfaria; tudo isso sem que o proponente tivesse sequer a possibilidade de saber o que 
se passa.”18 
A teoria da expedição, ao reverso, considera o contrato formado não quando o 
oblato aceita, mas sim quando a aceitação é expedida. A principal vantagem dessa teoria 
reside no fato de retirar do aceitante o desfazimento, a todo e qualquer momento, do 
contrato, sem qualquer conhecimento do proponente. Essa foi a teoria adotada pelo Código 
Civil, no seu art. 434, restando como exceção a previsão do art. 433, que trata da retratação 
do aceite já expedido, a qual será regida pela terceira teoria desse sistema, a chamada teoria 
da recepção. 
Segundo a teoria da recepção, a manifestação de vontade do aceitante apenas forma 
o contrato quando o proponente recebe o aceite, independentemente do seu conhecimento. 
Essa teoria vigora no direito brasileiro para fins de retratação, ou seja, o contrato não será 
formado se a retratação chegar ao proponente antes ou simultaneamente à aceitação. Aqui 
não importa o conhecimento de ambas as manifestações de vontade: basta que a retratação 
seja recebida em conformidade com o artigo 433 do Código Civil. 
Os mencionados dispositivos estão assim redigidos: 
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela 
chegar ao proponente a retratação do aceitante. 
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a 
aceitação é expedida, exceto: 
I - no caso do artigo antecedente; 
 A dinâmica entre teoria da expedição para o aceite e teoria da recepção para a 
retratação tem interesse especial para as contratações realizadas através de e-mail, uma vez 
que as manifestações de vontade são expressas de forma muito mais ágil, mas, por outro 
lado, ficam suscetíveis, ao bom funcionamento da rede informática e dos servidores de 
 
18
 Orlando Gomes. Ob. cit.; p. 69. 
 
 
Direito dos Contratos 
37 
correio eletrônico. Essa possibilidade será explorada na aula destinada à contratação 
realizada através de meios eletrônicos. 
Algumas peculiaridades da disciplina da oferta 
O Código Civil prevê no art. 427 que a “proposta do contrato obriga o proponente, 
se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias do 
caso”. Esse dispositivo será utilizado por parte da doutrina para dividir a fase pré-contratual 
em dois momentos: a “fase da oferta” e a “fase das negociações”, variando o seu regime de 
responsabilização por rompimento das tratativas.
19
 
A proposta deixará de ser obrigatória, todavia, nas circunstâncias previstas no art. 
428, quais sejam: (i) se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita; (ii) 
se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta 
ao conhecimento do proponente; (iii) se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a 
resposta dentro do prazo dado; e (iv) se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao 
conhecimento da outra parte a retratação do proponente. 
O Código de Defesa do Consumidor tornou ainda mais abrangente os efeitos da 
oferta nas relações de consumo. Segundo prevê o art. 35 do CDC, o fornecedor de produtos 
ou serviços não poderá deixar de cumprir o constante da oferta, seja ela formal, seja por 
simples publicidade ou apresentação do produto. 
Dessa forma, a mera existência de oferta permite ao consumidor o direito de optar 
dentre as seguintes situações: (i) exigir o cumprimento forçado da obrigação, conforme foi 
ofertado; (ii) aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; (iii) rescindir o 
contrato, com direito à restituição de qualquer quantia antecipada, somada a perdas e danos. 
Essa disciplina destacada da oferta nas relações de consumo será importante para 
criticar o art. 26 do projeto de lei n 4906/2001, que trata do momento da formação do 
contrato nas relações de consumo estabelecidas através da Internet. A transferência do 
 
19
 Judith Martins-Costa. A boa-fé no Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais; 
2000; p. 510. 
 
 
Direito dos Contratos 
38 
momento da formação do contrato para o eventual envio de aviso de recebimento por parte 
do fornecedor tiraria do consumidor a oportunidade de exigir especificamente a prestação 
avençada, conforme previsto no art. 35 do CDC. Bastaria ao fornecedor não enviar o aviso 
de recebimento do aceite que não haveria qualquer contrato formado. 
Essas são hipóteses que conferem importância ao estudo do momento da formação 
das relações contratuais e fazem com o que o mesmo não seja um mero descortinar de 
teorias, mas que tenha grande relevância prática. 
2. Questões de concurso: 
 
27º Exame da Ordem – OAB/RJ – 1ª fase 
14. Se a proposta contiver prazo para a resposta e esta, embora expedida dentro do 
prazo, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, o 
contrato: 
(a) Não se forma, mesmo que o policitante não dê conhecimento ao oblato de que não 
houve o aperfeiçoamento do contrato; 
(b) Se forma, arcando o proponente com perdas e danos, caso não comunique o 
ocorrido ao aceitante; 
(c) Se forma, devido a teoria acolhida pelo Código Civil no artigo 434; 
(d) Se forma, arcando o responsável pelo atraso com perdas e danos. 
Concurso para o cargo de Analista Processual do Ministério Público da União (2004) 
59- Sob o ângulo de sua formação, o contrato com declarações intervaladas é aquele em 
que: 
(a) deixa de ser obrigatória a proposta se, feita sem prazo a uma pessoa presente, não foi 
imediatamente aceita; 
(b) a oferta não obriga o proponente que, depois de tê-la feito, se arrepender desde que a 
retratação chegue à ciência do oblato antes da proposta ou ao mesmo tempo que ela; 
 
 
Direito dos Contratos 
39 
(c) se estabelece prazo para a esfera da resposta a uma oferta feita; 
(d) na hipótese de ser o oblato ausente, o proponente deverá aguardar um lapso de 
tempo suficiente para que a oferta chegue ao destinatário, calculando-se o tempo 
conforme o meio de comunicação; 
(e) a proposta é obrigatória ao policitante. 
 
Gabarito: 14 (a); 59 (d). 
 
 
 
 
Direito dos Contratos 
40 
 Aula 7 
 
Título: CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
Ementário de temas: Contratos típicos ou nominados – Contratos atípicos ou inominados 
- Contratos mistos - Contratos bilaterais - Contratos unilaterais - Contratos consensuais - 
Contratos formais ou solenes - Contratos reais - Contratos onerosos - Contratos gratuitos - 
Contratos comutativos - Contratos aleatórios - Contratos de execução imediata ou 
instantâneos - Contratos de duração ou de trato sucessivo - Contratos pessoais ou intuitu 
personae - Contratos impessoais - Contrato individuais e coletivos 
 
Leitura obrigatória: GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2009; pp. 
83/108. 
 
Leituras complementares: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos.Rio de Janeiro: Forense, 2008; 
pp. 65/112. 
 
 
1. Roteiro de aula: 
 
A classificação decorre da necessidade de ordenação e clareza das idéias. Ela se dá 
por meio da organização, em categorias comuns, dos fenômenos que costumam surgir de 
maneira esparsa e desordenada no cotidiano. Através da classificação é possível diferenciar 
e analisar as especificidades de cada tipo contratual. 
 
Contratos típicos ou nominados. 
Diz-se contratos típicos os que, além de possuírem nome próprio (nomen juris), que 
os distingue dos demais, contituem objeto de regulação específica. São, portanto, aqueles 
em que suas regras disciplinadoras são deduzidas de maneira precisa nos códigos ou nas 
leis (como, por exemplo, compra e venda, doação, leasing etc). 
 
Contratos atípicos ou inominados. 
São aqueles em que, em razão da liberdade de contratar, foram criados fora dos 
modelos traçados na lei. Com razão, a mente humana é fértil e capaz de elaborar os mais 
variados tipos negociais para alcançar os mais variados efeitos. Seria impossível ao 
 
 
Direito dos Contratos 
41 
legislador prever todos os tipos contratuais. A atipicidade significa ausência de tratamento 
legislativo específico. 
O Código Civil, em seu art. 425, autoriza a criação de novos contratos, desde que 
submetidos os preceitos do referido diploma legal. 
 
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas 
gerais fixadas neste Código. 
 
Contratos mistos. 
Denominam-se mistos aqueles contratos nos quais se reúnem elementos de dois ou 
mais negócios, total ou parcialmente regulados na lei1. Resultam da combinação de vários 
tipos contratuais previstos em lei aliados a atipicidade. 
 
Contratos bilaterais. 
No que concerne à presente classificação, é necessário fazer algumas observações 
acerca da concepção de bilateral. Isto se deve ao fato de que, em sua formação, todos os 
contratos são bilaterais. Com efeito, todo contrato é um negócio jurídico bilateral, pois 
implica em duas manifestações de vontades. Portanto, falar em contrato bilateral no sentido 
subjetivo seria uma redundância. 
Todavia, no que diz respeito aos efeitos, os contratos podem ser bilaterais ou 
unilaterais. Bilateral é o contrato em que se criam obrigações para ambas as duas partes. A 
característica fundamental do contrato bilateral é o sinalaga, ou seja, a existência de 
prestações correlatas. Trata-se, em verdade, da correspectividade das prestações. Nesse tipo 
de contrato, uma prestação é a causa da outra. Deixando de existir uma, por conseguinte, 
deixa de existir a outra. 
Doutrina, ainda, faz ressalva acerca de uma outra espécie contratual. Seriam os 
contratos bilaterais imperfeitos. Nesses contratos, criam-se obrigações para uma só das 
partes, contudo, é possível que surjam obrigações para o outro contratante 
supervenientemente à celebração do contrato. A diferença reside no fato de que, enquanto 
nos contratos bilaterais as obrigações são recíprocas e existem desde a formação, nos 
 
 
Direito dos Contratos 
42 
bilaterais imperfeitos, a obrigação de um dos contratantes surge no curso da execução. Os 
contratos bilaterais imperfeitos se subordinam às regras dos contratos unilaterais. 
 
Contratos unilaterais. 
São aqueles em que, no momento da formação, geram obrigações para somente uma 
das partes. 
 
Contratos consensuais. 
Chama-se consensual o contrato que se torna perfeito e acabado por efeito exclusivo 
da integração das duas vontades. Em outras palavras, formam-se exclusivamente pelo 
acordo de vontades. Essa, aliás, é a regra nos contratos, conforme preceitua o art. 107 do 
Código Civil: a liberdade das formas. 
 
Contratos formais ou solenes. 
São aqueles contratos em que não basta o mero acordo de vontades para sua 
formação, mas ao invés, depende de uma formalidade exigida em lei. Ou seja, só se 
aperfeiçoam quando o consentimento é expresso pela forma exigida em lei. 
É preciso distinguir, entretanto, os contratos formais ad solemnitatem dos contratos 
formais ad probationem. Nos primeiros a formalidade é da própria essência do contrato e a 
sua inobservância implica, diretamente, na invalidade do negócio jurídico, de acordo com o 
art. 104 do Código Civil. Exemplo de contrato formal ad solemnitatem é a fiança (art. 819 
do CC). 
 
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva 
 
Já nos contratos formais ad probationem, a formalidade é exigida somente para a 
prova do contrato. O contrato não é formal, mas a formalidade é imposta como técnica 
probatória. Nesses, o contrato produz seus efeitos, embora só possa ser provado pela forma 
especificada em lei. Cumpre ressaltar que, ainda que não se tenha realizado o contrato pela 
forma especificada em lei, é possível a demonstração de sua existência por todos os meios 
de prova admitidos em direito no curso do processo, sob pena de cerceamento de defesa 
 
 
Direito dos Contratos 
43 
(art. 5º, LVI da CRFB/88 c/c art. 332 do CPC). Lembre-se que o art. 221, parágrafo único 
admite que a prova do instrumento particular pode suprir-se por outras de caráter legal. 
Exemplo desse tipo de contrato é o depósito voluntário (art. 646 do CC). 
 
Art. 646. O depósito voluntário provar-se-á por escrito. 
 
Contratos reais. 
São os contratos que se perfazem com a entrega da coisa. Em outras palavras, 
somente com a traditio se forma o contrato. São exemplos desse contrato o mútuo, o 
depósito e o comodato. 
 
Contratos onerosos. 
São aqueles contratos em que cada uma das partes visa a obter vantagem. Nesses, 
ambas as partes obtém proveito, ao qual, corresponde um sacrifício. Diz-se, portanto, que 
os contratos onerosos são bilaterais. 
 
Contratos gratuitos. 
Chamam-se gratuitos os contratos em que somente uma das partes obtém proveito. 
É o contrato em que um contratante aufere vantagens ao passo que o outro suporta o 
encargo. 
A importância da distinção diz respeito às conseqüências práticas. Nos contratos 
gratuitos, a interpretação é sempre restritiva (art. 114 do Código Civil). São, ainda, tratados 
com maior rigor, pois podem implicar em fraude contra credores (art. 158 e 159 do Código 
Civil). 
Em regra os contratos gratuitos são unilaterais, todavia, ORLANDO GOMES 
lembra uma hipótese de contrato unilateral oneroso: mútuo feneratício. Não obstante, existe 
doutrina que determina se tratar, em verdade, de um contrato bilateral. 
 
 
 
Direito dos Contratos 
44 
Contratos comutativos. 
Nesses contratos, a relação entre vantagem e sacrifício é equivalente. Em outras 
palvras, as prestações das partes são conhecidas previamente existindo, por conseguinte, 
um equilíbrio entre as prestações. 
 
Contratos aleatórios. 
 Denominam-se aleatórios os contratos em que os contraentes não podem antever 
ambas as prestações com certeza absoluta. Há uma incerteza para as duas partes sobre se a 
vantagem esperada será proporcional ao sacrifício. Existe, portanto, um risco, uma álea. A 
vantagem dessa contratação é que, por envolver um risco, o valor a ser pago pelo 
contratante será menor. Importante é que haja absoluta incerteza quanto ao resultado final 
da contratação e falta de equivalência entre as prestações. 
O risco ou álea, pode dizer respeito ou a própria existência da coisa ou sobre sua 
quantidade. No primeiro caso o contratante assume o risco da coisa sequer vir a existir. 
Dessa forma, o preço será devido ainda que nada venha a existir. Trata-se da emptio spei, 
prevista no art. 458 do Código Civil. Exemplo clássico é da compra de uma colheita, ainda 
que nada seja colhido. 
 
Art. 458. Se o contrato for aleatório,

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