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SOCIOLINGUISTICA E LINGUA MATERNA

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Rita do Carmo Polli da Silva
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A sociolinguística
e a língua materna
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O Brasil é um país imenso, repleto de expressões culturais, sons, 
cores, ritmos e, sobretudo, linguagens. Então, como é possível en-
tender nossa língua sem relacioná-la a fatores sociais?
Esta é a grande questão analisada nesta obra, que tem como objeti-
vo introduzir o professor de língua materna nos principais estudos 
de sociolinguística existentes no mundo – de Saussure a Labov – 
para então verificar a grandiosidade da língua portuguesa e, conse-
quentemente, a riqueza do português brasileiro.
Ao detalhar seus campos de atuação, metodologia e papel na for-
mação do professor, a sociolinguística é apresentada como recurso 
para a superação de preconceitos e regionalismos em salas de aula. 
Aqui, cada educador é convidado a fazer da escola um ambiente 
propício para o diálogo e o respeito à diversidade.
  
 
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A sociolinguística 
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 Dr. Ivo José Both (presidente)
Drª. Elena Godoy
Dr. Nelson Luís Dias
Dr. Ulf Gregor Baranow
Lindsay Azambuja • editor-chefe
Ariadne Nunes Wenger • editor-assistente
Raphael Bernadelli • projeto gráfico
Silvia Mara Hadas • análise de informação 
Alexandre Olsemann • revisão de texto
Denis Kaio Tanaami • capa
Regiane Rosa • diagramação
Danielle Scholtz • iconografia
1ª edição, 2013.
Foi feito o depósito legal.
Informamos que é de inteira responsabilidade 
da autora a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser repro-
duzida por qualquer meio ou forma sem a prévia 
autorização da Editora InterSaberes.
A violação dos direitos autorais é crime estabele-
cido na Lei n° 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do 
Código Penal.
Av. Vicente Machado, 317, 14º andar • Centro • CEP 80420-010 • Curitiba • PR • Brasil
Fone: (41) 2103-7306 • www.editoraintersaberes.com.br • editora@editoraintersaberes.com.br
Silva, Rita do Carmo Polli da
A sociolinguística e a língua materna [livro eletrônico] / Rita do Carmo 
Polli da Silva. – Curitiba: InterSaberes, 2013. – (Série Língua Portuguesa 
em Foco).
2 Mb; PDF
Bibliografia.
isbn 978-85-8212-215-0
1. Comunicação oral 2. Escrita 3. Fala 4. Língua e linguagem – Variação 
5. Linguagem e línguas – Estudo e ensino 6. Oralidade 7. Sociolinguística 
I. Título. II. Série. 
12-08669 cdd-410.7
Índices para catálogo sistemático:
1. Língua materna e sociolinguística: Linguística 410.7
2. Sociolinguística e língua materna: Linguística 410.7
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
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 dois língua e preconceito linguístico, 39
 três a pesquisa sociolinguística, 73
 quatro os trabalhos de variação, 117
 cinco mudança linguística, 153
 seis a sociolinguística e as aulas de língua materna, 183
considerações finais, 223
glossário, 225
referências, 229
bibliografia comentada, 237
respostas, 241
a autora, 247
sumário
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— Levante-se! — repetiu o professor — e diga-me o seu nome.
O novato articulou, com voz trêmula, um nome ininteligível.
— Diga de novo!
[...]
— Mais alto! — gritou o professor. — Mais alto!
 Tomando então uma resolução extrema, o novato abriu uma boca 
desmesurada e, como se chamasse alguém, lançou a plenos pulmões 
esta palavra: Carbovari.
Foi uma algazarra que explodiu de repente, um crescendo de gritos agudos 
(uivava-se, latia-se, sapateava-se, repetia-se: Carbovari! Carbovari!), que 
depois passou a ecoar em notas isoladas...
(Flaubert, 1971, p. 10)
apresentação
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viii rita do carmo polli da silva
¶ o q u e p o d e m o s observar nesse trecho? Você pode estar se per-
guntando por que uma epígrafe da literatura estrangeira no iníciodo 
nosso livro. Flaubert é francês; será que não há exemplos em nossa 
 vastíssima literatura nacional? Há sim, e não são poucos. A opção por 
um texto de outra língua é para mostrar que o que tratamos neste 
livro é comum a todas as línguas, acontece em todos os lugares. Em 
Madame Bovary o personagem é um garotinho interiorano que vem 
estudar na cidade grande. Traz consigo suas inseguranças, em todos 
os sentidos, inclusive a de seu dialeto, a de sua fala, a de sua variação; 
aquela, típica de interior, objetos de estudo da sociolinguística.
É exatamente esse o objetivo deste livro: introduzi-lo nos estudos 
da sociolinguística e de seus objetos de estudo e apresentá-lo aos campos 
de atuação e metodologia da área, bem como ao seu papel na formação 
do professor de língua. No primeiro capítulo, temos um breve histórico 
da sociolinguística, de Ferdinand de Saussure a William Labov, a con-
cepção de língua como um conjunto de variedades, as variações linguísti-
cas, bem como os fatores relevantes para análises nessa linha.
O segundo capítulo tem por objetivo expor e esclarecer sobre os 
preconceitos linguísticos, que constituem uma grande pedra no cami-
nho do professor de língua. Abordamos as nomenclaturas norma padrão 
e norma culta, tentando estabelecer uma distinção entre elas, além de 
questões envolvendo a baixa estima linguística de muitos brasileiros e 
os preconceitos linguísticos mais difundidos.
Na sequência, apresentamos a pesquisa sociolinguística de fato, 
passo a passo, do princípio ao fim, sempre lembrando que esta obra 
não se limita à pesquisa em si. Portanto, esses passos estão expostos de 
maneira sucinta, mas com a constante preocupação em tentar abranger 
boa parte dessa meto dologia.
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ixa sociolinguística e a língua materna
Após expor como se faz uma pesquisa na área, o quarto capí-
tulo apresenta algumas pesquisas recentes, constituídas de corpora 
de língua tanto falada quanto escrita.
O quinto capítulo tem por escopo oferecer informações de 
processos mais adiantados de variação linguística – as mudanças 
linguísticas – e traz uma breve trajetória dos pronomes você e da 
expressão a gente, já em adiantado processo de gramaticalização na 
língua portuguesa.
Para finalizar abordamos algumas metodologias práticas de 
uso da sociolinguística em sala de aula, que vão desde trabalhos 
com o que já existe e pode servir de material de análise, como a lite-
ratura, a poesia, as histórias em quadrinhos, textos de todos os gê-
neros do nosso cotidiano, até pesquisas produzidas pelos próprios 
alunos a partir das comunidades onde vivem.
No final de cada capítulo, você pode testar seu aprendizado 
com atividades de autoavaliação e de reflexão, como também ati-
vidades mais práticas, podendo conferi-las a partir do gabarito ao 
final do livro.
A finalidade principal aqui é propiciar uma abertura de ca-
minhos, é mostrar que uma língua é muito mais do que aquilo que 
pensamos ou conhecemos. Ela é viva, transforma-se, surpreende. 
Não temos o objetivo de suprimir as gramáticas tradicionais, claro 
que não; o que se pretende é somente mostrar a grandiosidade da 
língua portuguesa, a riqueza do português brasileiro. E quem vai 
apresentar essa joia para os alunos? Quem vai lutar contra os pre-
conceitos linguísticos tentando eliminá-los? Quem vai mostrar que 
a língua é nossa aliada, não nossa inimiga? O professor de língua 
materna, não é mesmo?
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x rita do carmo polli da silva
O que aqui propomos é apenas mais um passo em uma cami-
nhada muito extensa. Todas as caminhadas, no entanto, fazem-se 
passo a passo, e cada um deles precisa ser dado; assim sendo, levan-
temos nossos pés, ou melhor, nossas mãos, e vamos em frente.
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 # um sociolinguística – muito prazer
 dois língua e preconceito linguístico
 três a pesquisa sociolinguística
 quatro os trabalhos de variação
 cinco mudança linguística
 seis a sociolinguística e as aulas de língua materna
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Closer studies of the social context in which 
language is used show that many elements of 
linguistic structure are involved in systematic 
variation which reflects both temporal change 
and extralinguistics social processes.
 (Labov, 1968, p. 241)*
¶ p o i s é . m u i t o p r a z e r , dissemos. Muito prazer em conhe-
cê-la, sociolinguística. Já que fomos apresentados, agora nos resta 
começar a entendê-la. Todos os relacionamentos exigem certo cui-
dado no início, por isso neste capítulo você vai conhecer um pouco 
da história da sociolinguística para solidificar esse novo relaciona-
mento. Depois de um breve histórico da disciplina, falaremos um 
* “As análises do contexto social em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos 
elementos da estrutura linguística estão envolvidos na variação sistemática que reflete tanto a 
mudança no tempo quanto os processos sociais extralinguísticos" (Monteiro, 2000, p. 13).
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14 rita do carmo polli da silva
pouco sobre o objeto de estudo: a língua em seu enfoque social. Na 
continuação, trataremos das variedades linguísticas e teceremos 
breves comentários sobre o termo dialeto. É o nosso objetivo neste 
capítulo: iniciar esse conhecimento. Vamos lá?
umpontoum
Breve história da sociolinguística
Apesar de a linguística ser uma ciência cujo objeto de estudo é a 
descrição das línguas naturais, nem sempre o aspecto social foi 
visto como relevante. Saussure*, no início do século XX, descreve 
a língua como um “fato social”. Apesar disso, não o inclui como 
ocupação da linguística ao pressupor a homogeneidade como fator 
preponderante para sua descrição. Esse pensamento foi seguido do 
estruturalismo ao gerativismo.
Partindo dessa realidade, ou seja, a de que os estudiosos da 
área não estavam incorporando os aspectos sociais em suas pesqui-
sas, não é de se surpreender, portanto, que as primeiras considera-
ções sociais ligadas à linguagem tenham sido feitas por sociólogos 
ou antropólogos que deixavam a desejar no aspecto linguístico, pois 
não dispunham de qualificação específica sobre as questões da lín-
gua. Assim sendo, não foi por acaso que, em 1963, o Social Sciences 
* Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi professor e pesquisador em Genebra. Suas teorias 
propiciaram o desenvolvimento da linguística como ciência e desencadearam o surgimento do 
estruturalismo. É uma das maiores autoridades dessa ciência, mesmo hoje, quase um século 
depois de sua morte.
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15a sociolinguística e a língua materna
Research Council, uma associação de sociólogos, inaugurou os 
estudos sociolinguísticos.
A nova subárea, ou disciplina, não foi bem vista a princípio. 
Bright (1966) e Fishman (1972), os pioneiros, não conseguiram de-
fini-la de maneira precisa. Mesmo assim, deve-se a Bright a pri-
meira tentativa de delinear o conteúdo da sociolinguística.
Voltando a Saussure (1969), não há dúvidas de que ele revolu-
cionou a história da linguística, apesar de percebê-la como um sistema 
homogêneo. Nesse princípio, muitas questões sobre as variações lin-
guísticas observáveis não podiam ser resolvidas. Saussure reconhe-
cia a mudança linguística, mas, segundo suas teorias, era impossível 
estudá-la em curso, ou seja, em seu processo de mudança. Para ele, 
quando uma mudança linguística pudesse ser percebida, observável 
na língua, é porque ela já tinha ocorrido, já tinha sido finalizada.
A linguística norte-americana ficou limitada na mesma perspec-
tiva. Vê-se apenas em Bloomfield* um interesse pelas mudanças na 
fala, explicadas de maneira até certo ponto simplista, pois se acredi-
tava que a língua mudava por imitação, ou seja, um indivíduo imitava 
os hábitos de fala de seus interlocutores e, com isso, mudava a língua.
Chomsky (1965)** apresentou-nos o falante-ouvinte ideal, 
objeto de estudo de sua teoria linguística, membro de uma comu-
nidade homogênea e dono de um conhecimento excepcional da 
língua. Dessa forma, este falante-ouvinte ideal realiza sua língua 
* Leonard Bloomfield (1887-1949), considerado o fundador do estruturalismo norte-ameri-
cano, criou a Sociedade Linguística da América em 1924.
** Noam Chomsky nasceu na Filadélfia em 1928 e é, há quase meio século, professor do 
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Apresentou os conceitos da gramática gera-
tiva, cuja abordagem revolucionou os estudos da linguística.
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de maneira perfeita, sem nada que o afete: esqueci mentos, lapsos, 
agentes externos acidentais etc.
Chomsky deixa explícita, assim, sua visão e o fato de conside-
rar a diversidade irrelevante para a linguística moderna. O modelo 
gerativo ainda pondera a língua como algo homogêneo, o que para 
a Sociolinguística ela não é. De Saussure a Chomsky o que se tem, 
então, é um compromisso teórico com a homogeneização da língua.
Uriel Weinreich foi um dos primeiros a direcionar suas pes-
quisas para fenômenos como os efeitos do contato linguístico, a va-
riação e a mudança linguística. Partindo de premissas diferentes 
e entendendo a língua como um sistema heterogêneo, Weinreich 
e dois de seus orientandos na época, Labov* e Martin Herzog, 
discordam das teorias vigentes até então em um texto intitulado 
Empirical foundations for a theory fo language change, apresentado no 
simpósio Directions for historical linguistic, ocorrido na Universidade 
do Texas em abril de 1966, hoje considerado um clássico da área 
da sociolinguística e o ponto de partida para estudos sobre a dinâ-
mica da mudança. Mais tarde, em 1968, esse texto foi publicado no 
livro Directions of Historical Linguistics: A Symposium e, em 2006, tra-
duzido e publicado em português por Marcos Bagno, com o título 
Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística; portanto, 
a partir desse ponto, sempre que fizermos menção a essa obra, será 
referente à edição em português de 2006.
* Sob orientação do professor Uriel, Labov defendeu sua dissertação de mestrado, trabalho 
que se tornou um clássico da área, no qual analisou um fenômeno de mudança fonética a partir 
de dados de fala de habitantes da ilha de Martha’s Vineyard, no Estado de Massachusetts, nos 
Estados Unidos. Sua tese de doutorado, também na área, teve como tema a estratificação social 
do inglês na cidade de Nova Iorque.
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17a sociolinguística e a língua materna
Para esses autores a língua é um sistema heterogêneo; é codi-
ficada em alto grau e integrada à competência linguística do falante 
(Weinreich; Labov; Herzog, 2006, p. 21). Os pesquisadores pro-
põem um modelo de língua com heterogeneidade ordenada, ou seja, 
a língua pode ser, ao mesmo tempo, ordenada e inerentemente variá- 
vel. Com essa proposta, eles lançam a base de uma nova linha de in-
vestigação na história das línguas, que continua forte e vigorosa até 
hoje. Somente a partir dessa concepção de língua foi possível apre-
sentare estudar fenômenos relacionados às mudanças linguísticas.
A morte, todavia, levou o professor Weinreich, no auge dos 
seus 40 anos de idade, deixando órfãos os seus “discípulos”. Labov 
continuou suas pesquisas na área, mantendo-se fundamentado na 
direção que as pesquisas mostravam e começou uma série de in-
vestigações mais detalhadas sobre a variação linguística, que revo-
lucionaram de maneira determinante a concepção de como os 
falantes utilizam a língua. 
Labov é hoje o nome mais importante da sociolinguís tica, par-
ticularmente da sociolinguística variacionista, da qual é o fundador. 
As inovações, análises e metodologia por ele introduzidas trouxe-
ram à linguística moderna um novo campo de pesquisa e reflexão 
sobre as relações entre a estrutura linguística e a social. Por suas 
ideias e pelo proveitoso trabalho que realizou e vem realizando, tem 
hoje o reconhecimento da comunidade científica internacional.
Atualmente, a sociolinguística é uma área de ampla investiga-
ção. Tem obtido resultados impressionantes nas descrições das lín-
guas e possui ampla bibliografia reunida nos últimos anos. Grande 
parte desses estudos no âmbito nacional encontra-se acessível apenas 
nas bibliotecas das universidades. Hoje, felizmente, esses estudos, 
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na forma de dissertações e teses, estão acessíveis nos sites de quase 
todas as instituições de ensino superior (principalmente as federais). 
Com um pouco de pesquisa chegamos a elas. Basta querer. Essas 
pesquisas sociolinguísticas deixam latente a grande distância que 
há entre a gramática trazida pela tradição normativo-prescritiva, as 
conhecidas gramáticas tradicionais e os usos reais da língua, seja em 
estado de variação e mudança, seja simplesmente de variação.
umpontodois
Concepção de língua
De acordo com o que vimos, sociolinguística é definida como o ramo 
da linguística que estuda a língua em uso das comunidades de fala, 
na sociedade: daí o prefixo socio. Mas, qual é mesmo a relação entre 
língua e sociedade? Se pensarmos bem, veremos que há uma rela-
ção intrínseca entre as duas. A língua não serve apenas para que 
possamos transmitir ou receber informações; ela serve para estabe-
lecer e manter relacionamentos com outras pessoas. O uso efetivo 
da língua é uma das atividades mais fantásticas da nossa vida. É o 
sistema mais complexo que usamos no dia a dia e está presente em 
todas as nossas atividades.
Se a usamos em todas as nossas atividades, a língua não pode 
ser a mesma para todas elas. Pensemos: Como falamos diante de 
nosso chefe, de nossos pais, filhos, amigos, colegas ou de desco-
nhecidos? E nas diferentes situações de uso? Em casa, no trabalho, 
em uma festa, em uma conferência, em uma atividade acadêmica? 
Mudando o interlocutor e/ou a situação, a variedade muda, não 
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muda? Assim sendo, não há como concebê-la como um sistema 
homogêneo.
Dessa perspectiva, podemos entender então que a língua é 
um conjunto de variedades. Estendendo essa observação para ou-
tras línguas, percebemos que todas elas possuem muitas varie-
dades. Cada língua é como uma grande pizza dividida em várias 
fatias. Cada fatia é uma variedade e nenhuma é melhor ou pior 
que a outra, ou seja, não existem dialetos superiores ou inferio-
res. É tão acertado dizer bint (vinte), à maneira da cidade do Porto, 
em Portugal, como vintchi, à moda carioca (Rio de Janeiro, Brasil), 
sendo este apenas um exemplo da heterogeneidade da língua.
Essa heterogeneidade, que a princípio pode parecer aleatória, 
é condicionada por fatores internos ao sistema das línguas; caso 
contrário, não ocorreria da mesma forma nas mais diversas comu-
nidades de fala. No caso do rotacismo, por exemplo, não é qualquer 
consoante que é “trocada” por “r” (planta/pranta); nem o próprio 
“l”, em qualquer posição na palavra. Não se vê qualquer falante, 
analfabeto ou não, trocar “lata” por “rata”. Do mesmo modo, a au-
sência da concordância não acontece de qualquer maneira. Não se 
ouve em nenhuma variedade linguística, por exemplo, em vez de 
os meninos estudam, o meninos estudam, o menino estudam, ou ainda o 
meninos estuda. Observe que a ausência de concordância, quando 
ocorre, ocorre de maneira sistemática, não aleatória: os menino 
estuda. (Possenti, 1997, p. 33). 
Entendendo isso, é possível fazermos dois comentários: um 
sobre a noção de “erro”, que veremos com mais detalhes adiante, e 
outro sobre a organização da heterogeneidade. A classificação des-
sas variedades como “erros” de língua pede alguns questionamentos: 
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Se é erro mesmo, quem combinou, e onde, que todos deveriam “errar” 
da mesma forma? Por que algumas variações não ocorrem nunca? 
Portanto, se essa heterogeneidade se dá, sim, de maneira regular, não 
podemos chamá-la de “errada”; devemos pensar, sim, que existe algo 
no sistema da língua que permite essas variedade e não outras (isso é 
a heterogeneidade coordenada comentada anteriormente, lembra?).
Para a sociolinguística é exatamente este o objeto de estudo: 
a variação, princípio geral e universal. As variedades, então, são as 
representações possíveis da língua (todas elas, sem exceções) e apre-
sentam diferenças originadas de acordo com a região, o sexo, a idade, 
a condição social e cultural, a evolução histórica da língua etc.
Dialetos ou variedades linguísticas?
No contexto em que a estamos empregando, a expressão dialeto não 
é muito conhecida, principalmente fora das salas de aula de gra-
duação em letras. No que se refere à língua, para muitas pessoas 
esse vocábulo traz algumas conotações negativas. É comum ouvir-
mos afirmações no sentido de que dialeto é uma espécie de língua 
menor, como os muitos que existem na China*, por exemplo, onde 
os falantes de um, pouco ou quase nada entendem dos falantes de 
outro. “Assim sendo, para evitar essas conotações, diversos autores 
preferem substituí-lo pela expressão neutra variedade linguística. Mas, 
quando se tenta definir essa expressão, nem sempre os dialetólogos 
* Os dialetos do português falados no Brasil ou em Portugal, ou os inglesesnos Estados 
Unidos, no Canadá ou na Inglaterra, são verdadeiros dialetos, enquanto os chamados dialetos 
de países, como a China, são, na realidade, idiomas distintos, uma vez que nem sempre há 
inteligibilidade entre eles; o que falta apenas é um estatuto oficializando-os como tal.
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ou sociolinguistas são felizes” (Monteiro, 2000, p. 48). Portanto, 
faz-se necessário salientar aqui que dialeto é toda e qualquer va-
riedade linguística de uma mesma língua e que nesta obra usamos 
uma pela outra, como sinônimas.
Todos os dialetos, sem exceção, têm um conjunto de regras, 
uma norma que os regulamenta. É essa norma que garante sua uni-
dade, balizando a variação e a evolução linguís ticas. Todos os falantes 
de uma variedade conhecem as regras daquele dialeto na totalidade, 
intuitivamente, numa espécie de gramática implícita. Dessa forma, 
qualquer produção linguística, de qualquer falante, estará sempre 
inserida em uma variante dialetal.
Na comparação entre os dialetos, podemos afirmar que não 
há nenhum melhor ou mais correto que o outro; não há emba-
samento científico que valide a superioridade de uma variante em 
relação à outra. O que acontece é que, quando uma língua se insti-
tucionaliza por meio da criação de instrumentos prescritivos, como 
a gramática normativa, tende a escolher um dos seus dialetos como 
padrão, sendo este o que detém o prestígio social. Esse prestígio, 
entretanto, não o faz melhor que os demais; ele é apenas o que 
foi historicamente constituído como tal e que, de certa maneira, é 
o dialeto objeto de estudo (ou de instrução?) das instituições de 
ensino, das leis que regem o país e das situações de uso que o exi-
gem como representante de uma variedade formal (sobre essa va-
riedade, a padrão, que todas as línguas têm, trataremos no próximo 
capítulo). 
Nós, os falantes, adquirimos os dialetos próprios da região 
onde crescemos. Grosso modo, podemos dizer que tais varieda-
des podem ser descritas a partir de dois aspectos fundamentais: o 
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geográfico (também chamado de variação diatópica) e o social (de-
nominado de variação diastrática). Inde pendentemente dos aspectos, 
as variações podem se dar nos campos lexical (da palavra), fonético 
(do som, da pronúncia) ou gramatical.
Variações diatópicas
Nossa língua materna é a sexta mais falada do mundo, segundo 
o Ethnologue: Languages of the World, editado por Gordon Junior 
(1999). Pense nos países que têm a língua portuguesa como língua 
oficial. São oito: Brasil (América do Sul), Portugal (Europa), Cabo 
Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique 
(África) e Timor Leste (Oceania). Sabendo que a língua varia geo-
graficamente, imagine as variantes que podem ser encontradas em 
nossa língua considerando a área total de todos esses países. 
Vamos discutir um pouco sobre o que conhecemos do portu-
guês de Portugal e do Brasil. Você provavelmente conhece algumas 
diferenças lexicais entre esses dois países. Pense um pouco, pois elas 
são muitas. Entre os muitos textos que apresentam essas diferen-
ças como tema, há um, de Ruy Castro, antigo, de 1978, intitulado 
Como ser brasileiro em Lisboa sem dar muito na vista, em que ele trata da 
questão com muito humor e, entre outros exemplos, comenta que 
as maiores “gafes” de brasileiros em Lisboa acontecem nos restau-
rantes. Segundo o texto, beliscar alguma coisa, no sentido de “comer 
algo”, não existe. Só se podem beliscar pessoas; na hora da fome, 
é preciso perguntar onde se pode petiscar. Os lanches, continua o 
texto, têm nomes que enganam mesmo: um sanduíche de filé é cha-
mado de prego, um cachorro-quente é cachorro (sem o “quente”). “E 
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23a sociolinguística e a língua materna
não se esqueça: um cafezinho é uma bica; uma média é um galão, e 
um chope é uma imperial. E, pelo amor de Deus, não vá se chocar 
quando você tentar furar uma fila e algum gritar lá de trás: ‘O gajo 
está a furar a bicha! ’ Você não sabia, mas em Portugal chama-se fila 
de bicha. E não ria.” [grifo do original]. As diferenças não param aí. 
Há variações fonéticas e gramaticais, por exemplo:
No plano fonético: a pronúncia aberta da vogal anterior média como em 
“prémio”[‘prmj], em contraste com a pronúncia fechada no Brasil “prê-
mio” [‘premj]. No plano gramatical: derivações diversas de uma raiz 
comum, como em ficheiro, paragem, bolseiro, que no Brasil correspondem 
a fichário, parada e bolsista: a colocação de advérbios como em “Lá não 
vou” (Portugal) e “Não vou lá” (Brasil). (Alkmin, 2004, p. 34)
Mas essas diferenças não existem porque Brasil e Portugal 
estão distantes, separados pelo oceano. Pense nas diferenças lin-
guísticas dentro do território nacional: são muitas e da mesma 
ordem das intercontinentais. Quantas diferenças lexicais podere-
mos listar? Muitas. Portanto, ficaremos em apenas alguns poucos 
exemplos para que você entenda bem do que se trata.
Para designar uma criança do sexo masculino em algumas 
regiões de nosso país, usa-se a palavra menino e em outras, guri, piá, 
garoto, miúdo, moleque... Pipa (brinquedo) pode ser bicó, arraia ou raia, 
pandorga, papagaio, estrela, sura... Torneira, em algumas regiões, por 
exemplo, o Rio de Janeiro (capital), é chamada de bica. Os cario-
cas, portanto, referem-se à água que sai da torneira como água da 
bica. Por sua vez, esse mesmo vocábulo, bica, em outras regiões, de-
signa uma espécie de tubo, de meia-cana, até um pedaço de telha; 
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24 rita do carmo polli da silva
enfim, um pequeno canal por onde corre e cai a água, sem cessar, 
ininterruptamente. Bica, nesse contexto, portanto,faz parte de um 
cenário natural; ela até pode ser feita artificialmente, mas a água 
que passa por ela é natural. Assim, a palavra tem uma conotação 
totalmente positiva, pois representa água pura, fresca, natural... 
Diferentemente da água de bica do carioca.
Há regiões que chamam o pão francês por cacetinho. Aipim, aipi, 
mandioca, mandioca-doce, mandioca-mansa ou macaxeira designam o 
mesmo tubérculo em diferentes regiões. Mimosa, bergamota, mexe-
rica, tangerina, polkan são a mesma fruta. Em Curitiba chama-se a 
salsicha (aquela do cachorro-quente) de vina, não é interessante? 
Para passarmos por apuros linguísticos não precisamos sair de 
nosso país, sequer de nosso estado.
As diferenças fonéticas também são muitas. Falantes brasi-
leiros originários do Nordeste pronunciam as vogais médias pretô-
nicas bem abertas: [m’nin], enquanto falantes de outras regiões 
tendem a pronunciá-la mais fechada [me’nin]. Diferenças grama-
ticais também ocorrem no caso das negações: Sei não, em parte do 
Nordeste; Não sei nas demais regiões, entre outras. Os pronomes 
de tratamento usados na interação com o ouvinte variam, no por-
tuguês brasileiro (doravante referenciado como PB), entre o tu e o 
você de região para região, como também as marcas de concordância 
nominal e verbal em frases como os menino estuda/os meninos estudam 
(e ainda os meninu estuda – ou istuda...), os rotacismos como pranta, 
mardade, craro para planta, maldade, claro, ou ainda marcas sintáticas 
como em Ontem vocês foram no cinema... em vez de Ontem vocês foram 
ao cinema ou nós vimos ele na saída, em vez de nós o vimos na saída, isso 
só para dar pequenos exemplos da diversidade linguística da língua 
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25a sociolinguística e a língua materna
portuguesa, a qual é inerente a todas as línguas naturais humanas.
Segundo Alkmin, anteriormente citada, no Estado da Bahia, a 
origem urbana ou rural pode ser evidenciada pelo uso da expressão 
“de primeiro” [di primero] em lugar de “antigamente”. Nesse sentido 
é lícito que façamos referência às diversas variedades que a língua 
portuguesa possui designando-as com o nome da região: variedade 
curitibana, baiana, rural paulista, paulistana, mineira, amazonense, 
portuguesa, brasileira...
Quanto às duas maiores variedades da língua portuguesa, a bra-
sileira e a europeia, é possível perceber que atualmente as emissoras de 
televisão, especialmente a TV Globo, têm apresentado legendas nas 
entrevistas feitas com portugueses ou oriundas de quaisquer outras 
nacionalidades falantes da língua portuguesa. Há que se perguntar 
o porquê, haja vista a legenda e a variedade falada serem da mesma 
língua. A diferença nesse caso é o sotaque. É possível conjecturar al-
gumas possibilidades. Se pensarmos um pouco no todo da sociedade, 
veremos que o aparelho de TV tem hoje um preço bastante acessível, 
sem contar as inúmeras facilidades de crediário. Assim, a TV, bem 
como a energia elétrica, chega aos mais longínquos recantos brasilei-
ros, o que há alguns anos não acontecia. Tem-se então que mesmo as 
variedades linguísticas mais interioranas acabam por manter um con-
tato maior com a variedade-padrão veiculada pelos meios de comuni-
cação em alguns de seus programas – os telejornais, por exemplo.
Poderíamos hipotetizar nesse caso que as emissoras estariam 
apresentando a legenda em português de uma fala da língua por-
tuguesa oriunda de outro país na tentativa de dirimir eventuais 
dificuldades de interpretação apresentadas pelos mais diversos te-
lespectadores, sendo eles falantes de quaisquer outras variedades 
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26 rita do carmo polli da silva
que não a padrão. O que se percebe é que a pronúncia d’além mar, 
o sotaque, pode ocasionar certa dificuldade de entendimento, prin-
cipalmente para os usuários de variedades mais estigmatizadas 
socialmente.
Agora, você já tem uma ideia do que são as variações diatópicas. 
Sendo assim podemos seguir em frente e conhecer outro tipo de va-
riação, a diastrática.
Variações diastráticas
A língua, além de variar geograficamente como acabamos de exem-
plificar, varia de acordo com o contexto social onde o falante está 
inserido. Esse contexto é o conjunto de uma série de situações espe-
cíficas: situações de uso (familiar, trabalho, escola etc.), idade (falan-
tes mais jovens ou mais velhos), sexo, escolaridade (muita, escassa 
ou nenhuma) etc. As variações a partir desse conjunto são chamadas 
de diastráticas, e são o nosso assunto nas próximas linhas, lembrando 
que não objetivamos fazer uma explanação exaustiva; apenas ilustra-
tiva, com a finalidade de esclarecer minimamente do que se trata.
a) idade como fator de relevância
É relativamente fácil perceber, até para quem não está preocupado 
com as questões da linguagem, que as pessoas de mais idade falam, 
ou até mesmo escrevem, de maneira diversa dos mais jovens. Em 
geral, a fala dos idosos apresenta traços que já evoluíram, fazendo 
dela uma fala mais conservadora. No português atual do Rio de 
Janeiro, por exemplo, segundo Naro (2003b, p. 44), é possível ob-
servar várias situações em que a idade atua intensamente:
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27a sociolinguística e a língua materna
• seu/dele: para se referir ao possessivo de terceira pessoa (exemplo: 
o livro dele/o seu livro); os jovens de 25 anos ou menos estão usando 
pouquíssimo a forma seu para a terceira pessoa, preferindo reser-
vá-la para a segunda pessoa;
• nós/a gente: os jovens estão evitando a forma nós e usando mais 
a gente.
• ir: os jovens estão evitando as regências ir a e ir para, prefe-
rindo ir em.
Exemplos básicos e de fácil percepção de variedades indexadas 
à idade são as gírias do tipo beleza (belê, numa forma mais moderna 
e reduzida, com uso equivalente a tudo bem), cara ou veio (ou ainda 
a redução véi, referindo-se ao interlocutor, no caso de cara seja ele 
do sexo feminino ou masculino), na boa (tranquilo), se achar (ou se 
sentir – diz-se daquele que se comporta como se fosse melhor que os 
demais), sem noção (pessoa realmente sem noção dos limites de um 
modo geral), entre outras.
Da mesma maneira que hoje as gírias são típicas de grupos 
jovens, o eram no passado. Uma pessoa de mais idade,hoje, acaba 
revelando a sua época quando faz uso de uma gíria incorporada em 
seu idioleto, considerada antiga. As senhoras e senhores trintões e 
quarentões, que foram jovens nas décadas de 1980 e 1990, têm em 
seu idioleto, ou pelo menos na memória, se não fizeram uso efetivo 
delas, gírias como estou de bode (estar de mau humor), mina (mulher 
de pouca idade e bonita) ou antenado (atento), boiola ( homossexual 
do sexo masculino), mala (pessoa chata), pagar mico (passar vexame), 
mauricinho, patricinha (rapaz e moça bem vestidos). 
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Da década de 1970 podemos citar bicho (amigo), careta (pessoa 
com ideias ultrapassadas) e joia (tudo bem). Bacana (bonito), cafona 
(fora de moda), gamado (apaixonado) e gata (mulher bonita) denotam 
uma juventude vivida lá pelos idos de 1960. Chá de cadeira, (uma es-
pera longa), juntamente com paquera (cantada, assédio) fizeram su-
cesso entre os jovens dos anos 1950. 
Mas se você conhece alguém que faz uso de palavras como bro-
tinho, para referir-se a uma menina bonita, ou coqueluche, significando 
algo atual, do momento, pode ter certeza de que é alguém com bas-
tante idade, cuja juventude foi lá pela década de 1940. 
b) sexo como fator de relevância
Homens e mulheres apresentam uma série de traços distintos no uso 
da mesma língua. Há inúmeras pesquisas da língua portuguesa e 
da língua inglesa (Monteiro, 2000) que já comprovaram que as mu-
lheres utilizam o idioma de maneira muito mais cuidada, mais mo-
nitorada e até mais conservadora que os homens. De acordo com 
Labov (1992), é possível afirmar que o fato de as mulheres evitarem 
variações estigmatizadas e privilegiarem as de prestígio social é uma 
tendência universal. Scherre (2005) mostra que a variante com a pre-
sença de marca de plural em todos os elementos do sintagma nomi-
nal (como em Os meninos estudaram para as provas) é frequente na fala 
das mulheres e diminui de maneira expressiva na dos homens. Sobre 
o inglês de Nova Iorque, Labov (1966, citado por Paiva, 2003, p. 36) 
constatou que a pronúncia retroflexa do [r] pós-vocálico (como em 
car) tende a ser mais frequente na fala das mulheres do que na dos 
homens. Diga-se de passagem, essa retroflexão é uma forma inova-
dora não estigmatizada.
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29a sociolinguística e a língua materna
Ainda como exemplos de diferentes multiplicidades vincula-
das à variante sexo, temos, no português, o uso habitual de diminu-
tivos e a duração das vogais, como em liiindo ou lindinho, usualmente 
presente na fala das mulheres. Há línguas até em que existem for-
mas lexicais exclusivas de uso masculino ou feminino, como é o 
caso do japonês, em que, para o pronome de primeira pessoa do sin-
gular, além da forma utilizada por todos os falantes existe o boku, 
específica para homens, e atashi, característica da fala das mulheres 
(Alkmin, 2004).
Deve-se estar atento para o fato de que as diferenças relativas 
ao sexo possivelmente estejam ligadas apenas a questões sociais e 
culturais, e não biológicas. Observemos novamente os exemplos an-
teriores. O fato de as mulheres provavelmente utilizarem mais os di-
minutivos ou alongarem as vogais de algumas sílabas está ligado ao 
fato cultural de a sociedade ter estabelecido que as mulheres são mais 
afetuosas, delicadas e até submissas, pelo menos na cultura ocidental. 
Quanto a serem mais conservadoras em sua linguagem, isso pode 
ser explicado, pelo menos em parte, pelo fato de elas se responsabili-
zarem pela educação dos filhos, inclusive a linguística (quem nunca 
ouviu uma mãe dizendo à sua filha algo parecido com Menina não 
fala assim..., ou Isso não é coisa para estar na boca de menina...?), e pela sua 
antiga luta pela igualdade de direitos, pela conquista do mercado de 
trabalho etc.
c) contexto social como fator de relevância
No que se refere à mudança de contexto, ou situação social, temos 
os estilos de fala. O que é isso? Você já parou para pensar como 
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30 rita do carmo polli da silva
mudamos nossa fala, nosso estilo, dependendo de nosso interlocu-
tor ou da situação em que nos encontramos? É isso que veremos 
agora.
Existem situações convencionadas como formais e outras 
como informais (familiar, pessoal ou coloquial) e cada uma exige 
um estilo de fala. Não falamos da mesma maneira com nossos cole-
gas, num bar, por exemplo, e com nosso chefe, no trabalho, não é 
mesmo? As situações e os interlocutores com os quais atuamos 
ditam o estilo que podemos ou não usar. Como você falaria em 
uma entrevista para um emprego de professor no melhor colégio 
de sua cidade? Possivelmente usaria uma linguagem mais formal, 
eliminaria as gírias, se é que elas estão incorporadas a seu idioleto, 
enfim, monitoraria sua fala. Perceba que é o interlocutor, a situa-
ção de fala e até o assunto que determinam o estilo que vamos usar. 
Somos menos formal com meu diretor, por exemplo, em uma festa 
comemorativa do colégio (ou da empresa) onde trabalhamos do que 
em uma reunião pedagógica (ou de negócios). Como bem destaca 
Alkmin (2004, p. 38):
Em termos concretos é possível dizer que os falantes aprendem quando 
podem falar e quando devem permanecer em silêncio, se podem utilizar 
a forma imperativa para dar ordem ou se devem se valer de uma ex-
pressão modalizada, como em “saiam daí, já” ou, “por favor, dirijam-se 
à saída”; se é oportuno dizer “tô fora” ou “não vai ser possível”; ou, ainda, 
“a gente sabia” ou “não sabíamos”, ou ainda “desconhecíamos”.
É no dia a dia que assimilamos essas nuanças da língua. O 
falante nativo não tem grandes problemas com essas situações. Ele 
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31a sociolinguística e a língua materna
geralmente sabe quando precisa falar mais formalmenteou não. 
Essa capacidade é adquirida de modo brando e inconsciente e varia 
de acordo com os comportamentos linguísticos com os quais ele 
convive em sua casa, escola e comunidade de modo geral. 
d) escolaridade como fator de relevância
É de conhecimento unânime que a escola atua sobre o comporta-
mento do indivíduo de modo geral. É lá que o grupo social da criança 
se expande, é na escola que ela aprende algumas convenções sociais 
que muitas vezes não aprenderia apenas no convívio familiar e é 
no ambiente escolar que a pessoa terá seu primeiro contato com 
o mundo das letras. Não entrando na questão dos métodos de al-
fabetização e nas contradições existentes na área, que não é nosso 
objetivo aqui, é lá que o indivíduo aprende a ler (na grande maioria 
dos casos). A escola atua, então, sobre o indivíduo sob vários aspec-
tos. Não poderíamos deixar de considerar, portanto, sua importân-
cia sobre a língua, sobre o idioleto de cada um. Experiências da área 
mostram que o fator escolaridade tem sido proeminente para algu-
mas variações da língua e completamente irrelevante para outras*.
Síntese
Estamos fechando nosso primeiro passo neste relacionamento. 
Acabamos de conhecer uma nova disciplina e pudemos perceber 
que ela é ainda muito jovem e que ainda há muito a ser dito nessa 
área. Mas do momento em que começamos a percorrer de maneira 
* Veremos mais detalhes deste e de outros fatores condicionantes no capítulo 4.
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32 rita do carmo polli da silva
sucinta a trajetória da socio linguística até aqui, podemos dizer que 
a conhecemos, pelo menos um pouco, não é?
Tenha sempre bem claro que a língua, seu objeto de estudo, 
é um conjunto de variedades que possuem o mesmo valor. Mesmo 
quando falamos de línguas não podemos dizer que uma é mais difí-
cil, mais fácil, melhor, mais ou menos completa do que outra. Todas 
as línguas são iguais, cientificamente falando; não há melhor, mais 
fácil ou pior.
Para trabalharmos de maneira mais eficiente, devemos ter 
sempre em mente que existem diferenças regionais, sociais, etárias 
etc. que fazem diferença nas línguas falada e escrita. Deve estar 
claro para você que, quando abrimos a boca, dizemos muito de 
quem somos: o que sabemos, nossa condição social, região de onde 
viemos ou onde moramos, nossa escolaridade e até a nossa idade... 
Não se esqueça disso!
Indicação cultural
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: 
Contexto, 1997. 
A leitura deste livro é bastante pertinente nessa fase de seus estudos. Como o próprio 
nome sugere, é uma obra escrita em forma de novela, com um cenário agradável, e 
nos faz participar de algumas aulas bastante interessantes. Todos os conceitos necessá-
rios para a compreensão são expostos de forma clara e, o que é mais importante nesse 
momento, traz exemplos sobre eventos de variação e de mudança em língua e destaca 
alguns pontos-objeto de nossos estudos neste capítulo que se finda, como o caso dos ro-
tacismos. Bagno cita seis versos de Camões em que o fenômeno se apresenta: frauta, 
frechas, ingrês, pranta, pruma, pubrica. O autor segue com muitos outros exemplos 
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33a sociolinguística e a língua materna
do maior poeta português, como os acréscimos de sons no início de palavras: ajuntar, 
alembrou, alevantando, alimpamos, amostrando.
Essa obra exemplifica bem os fenômenos que muitas pessoas chamam de erro e com ela 
há a possibilidade de muitos professores, principalmente os mais antigos na profissão, 
deixarem de lado seus preconceitos e quem sabe até melhorar suas aulas, tratando os 
alunos, principalmente as crianças menos favorecidas socialmente, de forma menos dis-
criminatória. O conjunto nos proporciona uma leitura prazerosa. É uma boa leitura.
Atividades de autoavaliação
O trecho a seguir foi escrito por Adoniran Barbosa em 1955, fa-
moso por utilizar em seus textos e letras de músicas uma varie-
dade linguística não padrão da língua portuguesa.
As mariposa
As mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, roda, dispois si senta
Em cima do prato da lâmpida pra discansá
[...] (Barbosa, 2008)
1 . Assinale a afirmativa verdadeira, de acordo com os pressupostos 
da sociolinguística.
a. Os “erros de concordância” nos permitem dizer que o narrador faz 
uso de uma variedade errada da língua.
b. A troca das vogais “e” por “i” em casos como isquentá, si e discansá 
ocorrem porque as pessoas falam sempre de forma errada.
c. O texto explora uma variedade da língua diferente da padrão, ou culta.
d. O vocábulo vorta é exemplo grosseiro de erro de ortografia. 
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34 rita do carmo polli da silva
2 . Pense nos diferentes graus de formalidade das situações a seguir. 
Suponha que um colega da sua classe dirige-se a você dessa maneira: 
Ô cara, cê tem aí um lápis pra me emprestá? O estilo dele, nessa situação 
de uso, é parecido com a atitude de uma pessoa que:
a. vai a um baile de formatura trajando smoking.
b. comparece a uma entrevista de emprego em uma multinacional 
trajando short e camiseta.
c. vai ao clube de paletó e gravata. 
d. vai ao jogo de futebol, no domingo à tarde, de chinelo e bermuda.
3 . Analise as afirmações seguintes e assinale a correta. 
a. Diferenças geográficas, socioculturais e individuais marcam a di-
versidade de uma língua.
b. A língua portuguesa é uma das mais difíceis do mundo, pois apre-
senta muitas regras e exceções.
c. As circunstâncias que cercam o momento da fala não interferem 
na produção do enunciado.
d. Expressões do tipo mina, patricinha, pagar mico são exemplos de em-
pobrecimento da língua portuguesa.
4 . Assinale V para verdadeiro e F para falso e, depois, marque a opção 
que apresenta as respostas, na ordem do exercício.
( ) O ideal seria a existência de uma língua uniforme, homogênea. Dessa 
maneira a comunicação seria mais eficiente. 
( ) As línguas sofrem variações linguísticas por meio de influências ex-
ternas e internas ao seu sistema. Como influência externa, podemos 
citar as geográficas, sociais, etárias e econômicas, enquanto as inter-
nas são, de alguma forma, regradas por uma gramática interior. 
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35a sociolinguística e a língua materna
( ) As pessoas de mais idade falam de maneira diversa do modo de 
falar ou até mesmo escrever dos mais jovens. 
( ) É comum ouvirmos afirmações no sentido de que dialeto é uma 
espécie de língua menor, em que os falantes de um dialeto pouco 
ou quase nada entendem o que dizem os falantes de outro, apesar 
de ser uma afirmação falaciosa. 
a. F, F, V, V
b. F, V, V, V 
c. V, F, F, V
d. F, V, V, F
5 . Leia as afirmações a seguir e assinale a que não corresponde ao que 
vimos no capítulo.
a. A língua é um conjunto de variedades.
b. As inovações, análises e metodologia introduzidas por Labov inse-
riram na linguística moderna um novo campo de pesquisa e refle-
xão sobre as relações entre a estrutura linguística e a social.
c. As pessoas que produzem palavras do tipo pranta ou argum são 
exemplos de falantes de uma variedade errada da língua.
d. A sociolinguística é definida como o ramo da linguística que es-
tuda a língua em uso das comunidades de fala, na sociedade.
Atividades de aprendizagem
Questões para reflexão
1 . No diálogo transcrito a seguir, um dos interlocutores é falante de 
uma variedade da língua portuguesa que apresenta uma série de di-
ferenças em relação à variedade padrão, ou culta. Identifique, na fala 
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36 rita do carmo polli da silva
desse interlocutor, as marcas formais dessas diferenças e transcre-
va-as. Faça a seguir uma hipótese sobre quem poderia ser essa pes-
soa, sua classe social e grau de escolaridade, por exemplo.
— Por que o senhor acha que os jovens desta cidade, hoje, não traba-
lham com o mesmo entusiasmo com que trabalhavam os seus pais?
— É... a rapaziada agora não são mais como era quando nóis era 
moço, não senhora. Quando nóis tinha uns 10 anos era assim mesmo, 
desde muito pequeno, viu? Bem, quando nóis era muito pititiquito, 
nóis trabaiava feito gente grande, as veis não conseguia nem carregá o 
machado, de tão pesado, e saía pra cortá lenha pra mãe fazê a comida. 
Naquela época não tinha essa história de fogão a gáis. A gente tra-
baiava muito na roça também, mas se divertia do mesmo tanto, era 
banho de rio, vivia trepado nas arvre, época de fruta então era uma 
gostosura, a gente comia até não querê mais.
2 . Faça um texto identificando que tipo de efeito a escola exerceu e 
ainda exerce sobre o seu modo de falar e escrever. Quais são suas 
maiores dificuldades na produção escrita. Que relações há entre as 
suas dificuldades e a pressão da escola?
Atividades aplicadas: prática
1 . Você conhece alguém originário de outra cidade ou região do país? 
Que tal a turma conversar um pouco sobre as diferenças diatópicas 
lexicais que cada um conhece? Depois, faça a sua lista de palavras e 
os significados diferentes que elas adquirem em outras localidades. 
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37a sociolinguística e a língua materna
2 . Faça uma dupla com um colega e elabore uma pequena lista de 
pelo menos quatro pessoas. É importante que metade dessas 
 pessoas seja do sexo feminino e a outra do sexo masculino. Peça 
para cada informante da sua lista que faça uma narração de uma 
experiência vivida em que ele tenha sofrido risco de morte (nesse 
momento a narração pode ser por escrito). Compare os textos, ob-
servando e anotando todas as diferenças apresentadas na estru-
tura por ambos os sexos.
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 um sociolinguística – muito prazer
 # dois língua e preconceito linguístico
 três a pesquisa sociolinguística
 quatro os trabalhos de variação
 cinco mudança linguística
 seis a sociolinguística e as aulas de língua materna
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Adverti que minha implicância com a gramática na certa 
se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui 
péssimo em português. Mas [...] vejam vocês, a intimidade 
com a gramática é tão indispensável que eu ganho a vida 
escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria.
(Veríssimo, 1986)
¶ a p r i m e i r a p a r t e dessa epígrafe ilustra bem o pensamento de 
muitos brasileiros. Muitas pessoas, mas muitas mesmo, dizem que não 
sabem português, que são péssimas nessa disciplina. Pena que apenas 
um número reduzidíssimo tem consciência do que foi ditona epígrafe. 
Não precisamos ser escritores para que isso funcione também para nós. 
Luis Fernando Veríssimo fala da norma padrão, daquela fechada nos 
compêndios e que os gramáticos e a escola, muitas vezes, querem nos 
empurrar garganta abaixo, fazendo que o português seja visto como o 
“bicho-papão” do currículo escolar, puxando para baixo nossa estima 
linguística como falantes da língua portuguesa.
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42 rita do carmo polli da silva
No capítulo anterior, procuramos deixar claro que uma língua 
é um conjunto de variedades e que nenhuma delas é melhor ou pior 
que a outra, do ponto de vista científico, não levando em conta gostos 
e preconceitos particulares dos falantes. Mesmo tendo consciência 
dessa particularidade inerente a todas as línguas, faz-se necessário 
falar de uma delas de maneira particular. Não por ela ser melhor que 
as demais, mas por ser historicamente aceita como a língua do poder 
político, econômico e social, ou seja, por representar a modalidade 
linguística eleita pelos representantes da elite cultural de uma socie-
dade como modelo de comunicação. Trataremos agora das normas 
padrão e culta, tentando estabelecer uma diferenciação entre as duas, 
da baixa estima linguística da maioria dos brasileiros e de alguns pre-
conceitos linguísticos. Este é o assunto deste capítulo. Vamos a ele?
doispontoum
A língua portuguesa da escola
Parece que o objetivo da grande maioria das aulas de português 
é formar professores de língua*, pois a tradição escolar costuma 
separar as ocorrências linguísticas em dois grupos: as certas e as 
erradas. Tudo o que foge às normas gramaticais fixadas é conside-
rado erro. Essa divisão é tão forte que os falantes, de modo geral, 
* Apesar de ser o nosso caso, não é este o espaço específico para estudarmos a metodologia 
de ensino da disciplina. Queremos apenas salientar que os métodos tradicionais de ensino da 
língua materna, com suas listas intermináveis de nomenclaturas, de nada adiantam quando se 
tem por objetivo ajudar o aluno a se tornar um usuário compe tente da língua culta.
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43a sociolinguística e a língua materna
carregam uma enorme insegurança no uso da linguagem. É muito 
comum ouvirmos ou falarmos algo como: Será que falei corretamente?, 
Não sei nadinha de gramática, A língua portuguesa é muito difícil! Esse 
pensamento nasce justamente do nosso processo escolar: a língua 
ensinada na escola não é a mesma que usamos no dia a dia. Parece 
artificial, distante da nossa realidade, mesmo para os falantes alta-
mente escolarizados e moradores em grandes centros urbanos.
As afirmações anteriores ainda são muitos comuns, apesar 
de os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (Brasil, 2000) 
trazerem, há uma década, orientações no sentido de trabalhar de 
forma diferenciada, o que possibilitaria mostrar aos alunos as ou-
tras faces da língua, as outras variedades linguísticas, objetivando 
mostrar que o discente sabe a língua de todo dia, que ele pode ser 
bastante competente em uma ou diversas variedades, mas que tam-
bém o deve ser no lidar com a variedade-padrão.
Os PCN reconhecem que havia (ou há) uma “excessiva va-
lorização da gramática normativa e a insistência nas regras de 
exceção, com o consequente preconceito contra as formas de ora-
lidade e as variedades não-padrão” (Brasil, 1998, p. 18). Segundo 
os Parâmetros, o ensino deveria levar ao conhecimento do aluno as 
outras variedades de sua língua e lutar contra todos os tipos de pre-
conceitos linguísticos oriundos de um ensino tradicional que con-
sidera apenas uma variedade como correta em prejuízo das demais. 
Um dos grandes problemas das aulas de português é a não valori-
zação do uso brasileiro da língua, o que as deixam presas a compên-
dios gramaticais retrógrados.
Percebemos então que existem pelo menos três fenômenos 
linguísticos a serem analisados: a norma padrão, a variedade de 
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44 rita do carmo polli da silva
prestígio social (culta?) e as variedades (socialmente)estigmatizadas.
Há certa divergência entre os linguistas na tarefa de estabele-
cer uma diferenciação entre o que signifique norma padrão e norma 
culta. Por isso, partiremos para uma definição dos dois termos. De 
qualquer forma, a princípio, o que se tem, partindo do conceito pri-
meiro de norma, é uma noção de algo artificial, imposto.
doispontodois
A norma culta
Para começar a entender o significado da expressão norma culta pre-
cisamos pensar em pelo menos dois pressupostos. O mais visível 
talvez seja uma simples questão de significação, de sinonímia da 
palavra norma. Ela, por si só, já deixa clara a imposição, a noção de 
regra, de preceito, de lei a ser cumprida. Devemos obedecer, pois 
é assim que está regulamentado, como se fosse possível prender a 
evolução de uma língua, impedindo que ela varie, transforme-se, 
apresente mudanças, apenas porque tem uma “lei” que acredita que 
a conservou em uma série de regras prescritas.
O segundo pressuposto é basicamente de interpretação, de 
inferência: se existe uma norma culta, é porque existe a inculta, 
que seria a variedade falada por pessoas desprovidas de cultura. 
Literalmente, inculta significa não culta ou sem cultura, o que, se-
gundo estudos antropológicos, configura um contrassenso, pois 
não existem pessoas desprovidas de cultura (Faraco, 2002, p. 39).
A expressão norma culta, entretanto, é utilizada em dois con-
textos bastante diferentes. Um deles é o fato de ser esta a nomen- 
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clatura utilizada pela maioria dos gramáticos quando da apresen-
tação de seus trabalhos. Norma culta, nesse caso, confunde-se com 
nossa definição de norma padrão. Vejamos alguns exemplos, do 
mais atual para

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