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AMBIEL, Carlos Eduardo Direito de arena dos atletas profissionais titularidade, abrangência, forma de repasse e natureza jurídica

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Associação dos Advogados de São Paulo Rua Álvares Penteado, 151 Centro cep 01012 905 São Paulo SP tel (11) 3291 9200 www.aasp.org.br
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ISSN-0101-7497
Ano XXXIV Nº 122 Abril de 2014
DIRETORIA
Presidente	 Sérgio Rosenthal
Vice-Presidente	 Leonardo Sica 
1º	Secretário	 Luiz Périssé Duarte Junior
2º	Secretário	 Alberto Gosson Jorge Junior
1º	Tesoureiro	 Fernando Brandão Whitaker
2º	Tesoureiro	 Marcelo Vieira von Adamek
Diretor	Cultural	 Luís Carlos Moro
REVISTA DO ADVOGADO
Conselho	Editorial:	Alberto Gosson Jorge Junior, Eduardo 
Reale Ferrari, Fátima Cristina Bonassa Bucker, Fernando 
Brandão Whitaker, Juliana Vieira dos Santos, Leonardo 
Sica, Luís Carlos Moro, Luiz Périssé Duarte Junior, 
Marcelo Vieira von Adamek, Nilton Serson, Paulo Roma, 
Pedro Ernesto Arruda Proto, Renato José Cury, Ricardo de 
Carvalho Aprigliano, Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, 
Roberto Timoner, Rogério de Menezes Corigliano, Sérgio 
Rosenthal, Sonia Corrêa da Silva de Almeida Prado e 
Viviane Girardi
Ex-Presidentes	da	AASP:	Walfrido Prado Guimarães, Américo 
Marco Antonio, Paschoal Imperatriz, Theotonio Negrão, 
Roger de Carvalho Mange, Alexandre Thiollier, Luiz Geraldo 
Conceição Ferrari, Ruy Homem de Melo Lacerda, Waldemar 
Mariz de Oliveira Júnior, Diwaldo Azevedo Sampaio, José de 
Castro Bigi, Sérgio Marques da Cruz, Mário Sérgio Duarte 
Garcia, Miguel Reale Júnior, Luiz Olavo Baptista, Rubens 
Ignácio de Souza Rodrigues, Antônio Cláudio Mariz de 
Oliveira, José Roberto Batochio, Biasi Antonio Ruggiero, 
Carlos Augusto de Barros e Silva, Antonio de Souza Corrêa 
Meyer, Clito Fornaciari Júnior, Renato Luiz de Macedo 
Mange, Jayme Queiroz Lopes Filho, José Rogério Cruz e 
Tucci, Mário de Barros Duarte Garcia, Eduardo Pizarro 
Carnelós, Aloísio Lacerda Medeiros, José Roberto Pinheiro 
Franco, José Diogo Bastos Neto, Antonio Ruiz Filho, Sérgio 
Pinheiro Marçal, Marcio Kayatt, Fábio Ferreira de Oliveira e 
Arystóbulo de Oliveira Freitas
Diretor	Responsável:	Leonardo Sica
Jornalista	Responsável:	Reinaldo Antonio De Maria 
(MTb 14.641)
Coordenação-Geral:	Ana Luiza Távora Campi Barranco Dias
Capa:	Aline Vieira Barros - AASP
Revisão:	 Elza Doring, Luanne Batista, Milena Bechara e 
Paulo Nishihara - AASP
Editoração	Eletrônica:	Altair Cruz - AASP
Administração	 e	 Redação:	 Rua Álvares Penteado, 151 - 
Centro - cep 01012 905 - São Paulo-SP
tel (11) 3291 9200 - www.aasp.org.br
Impressão:	Pancrom Indústria Gráfica
Tiragem:	95.100 exemplares
A	Revista do Advogado	 é	uma	publicação	da	Associação	
dos	 Advogados	 de	 São	 Paulo,	 registrada	 no	 6º	 Ofício	 de	
Registro	de	Títulos	e	Documentos	de	São	Paulo,	sob	nº	997,	
de	25/3/1980.
©	Copyright	2014	-	AASP
A	 Revista do Advogado	 não	 se	 responsabiliza	 pelos	
conceitos	emitidos	em	artigos	assinados.	A	reprodução,	no	
todo	ou	em	parte,	de	suas	matérias	 só	é	permitida	desde	
que	citada	a	fonte.
Solicita-se	permuta.	Pídese	canje.	On	demande	I’échange.	
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Toda	 correspondência	 dirigida	 à	 Revista do Advogado	
deve	ser	enviada	à	Rua	Álvares	Penteado,	151	-	Centro	-	
cep	01012		905	-	São	Paulo-SP.
SUMÁRIO
5	 	 Nota do Coordenador.
Felipe Legrazie Ezabella
7	 	 Apresentando o Direito Desportivo. 
Luiz Roberto Martins Castro 
14	 	 Direito de arena dos atletas profissionais: titularidade, 
abrangência, forma de repasse e natureza jurídica. 
Carlos Eduardo Ambiel 
22	 	 A invasão de centros de treinamento por torcedores e a 
(im)possibilidade de rescisão indireta dos contratos de 
trabalho. 
Domingos Sávio Zainaghi 
27	 	 Particularidades do contrato especial de trabalho desportivo. 
João Henrique Cren Chiminazzo 
35	 	 Breves reflexões sobre a Lei nº 12.663/2012 (Lei Geral da 
Copa).
Luiz Felipe Guimarães Santoro 
42	 	 Jogos Olímpicos e a Lei brasileira do Ato Olímpico.
Gustavo Normanton Delbin 
55	 	 O Tribunal Arbitral do Esporte (TAS): um breve guia para 
advogados. 
Pedro Fida 
64	 	 Órgãos jurisdicionais e de resolução de disputas da Fifa. 
Leonardo Andreotti Paulo de Oliveira 
70	 	 O combate ao doping no esporte. 
Thomaz Sousa Lima Mattos de Paiva 
78	 	 A isenção dos clubes de futebol profissional em relação a IRPJ, 
CSLL, PIS e Cofins.
Juliano Di Pietro 
91	 	 Comentários ao Estatuto de Defesa do Torcedor – 
consumidor do espetáculo esportivo. 
Caio Pompeu Medauar de Souza 
101		 O novo art. 18-A da Lei Pelé e os mandatos dos dirigentes 
desportivos. 
Álvaro Melo Filho 
109		 Justiça Comum x Justiça Desportiva. 
Carlos Miguel Castex Aidar
Nota do Coordenador
Felipe	Legrazie	Ezabella
Advogado. Bacharel, mestre e doutor pela Univer-
sidade de São Paulo (USP). Especialista em Admi-
nistração Esportiva pela Fundação Getulio Vargas 
(FGV) e em Arbitragem pela Escola de Direito de 
São Paulo da FGV. Autor de livros e artigos jurídico-
-esportivos. Professor universitário e palestrante. 
Sócio-fundador do Instituto Brasileiro de Direito 
Desportivo (IBDD).
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À s	vésperas	da	realização	no	Brasil	dos	dois	principais	eventos	esportivos	do	mundo,	a	Associação	dos	Advogados	de	São	Paulo	(AASP),	mais	uma	vez,	inova	trazendo	aos	 seus	associados	e	ao	público	em	geral	a	Revista do Advogado	 sobre	Direito	
Desportivo.	
	Não	que	o	tema	seja	recente	nesta	casa,	 já	que	há	muito	tem	sido	debatida	a	legislação	
desportiva	 em	 seus	 cursos	 e	 encontros,	 bem	 como	 porque	 desde	 2005	 realiza,	 sempre	 no	
segundo	semestre	e	em	parceria	com	o	Instituto	Brasileiro	de	Direito	Desportivo	(IBDD),	o	Fórum	
de	Direito	Desportivo,	evento	esse	já	consagrado	no	calendário	jusdesportivo	brasileiro.
A	mim,	na	qualidade	de	 treinador,	 coube	o	papel	de	convocar	os	atletas,	dividi-los	por	
posição,	passar	as	orientações	mínimas,	para	que	o	público	possa	aproveitar	o	conhecimento	
disponibilizado.	Num	país	que	respira	futebol,	com	“200	milhões	de	treinadores”,	imaginem	que	
não	foi	fácil	escalar	nossa	seleção.	Procurei	seguir	os	ensinamentos	básicos	para	a	formação	
de	qualquer	equipe,	mesclando	jovens	talentos	com	renomados	juristas,	tentando	abranger	os	
mais	variados	subtemas	que	envolvem	o	Direito	Desportivo.	O	resultado,	como	os	senhores	e	
as	senhoras	verão,	deixa-me	a	certeza	de	que	outra	edição	é	necessária!
Luiz	Roberto	Martins	Castro	inicia	os	trabalhos	com	uma	apresentação	sobre	o	que	é	o	
Direito	Desportivo,	como	surgiu	e	foi	desenvolvido,	já	que,	durante	muito	tempo,	Desporto	e	
Direito	eram	dois	fenômenos	totalmente	afastados,	passando	a	interagir	quando	o	primeiro
passou	a	ter	maior	relevância	socioeconômica,	nascendo,	assim,	o	Direito	Desportivo	moderno.
O	trio	Carlos	Eduardo	Ambiel,	Domingos	Sávio	Zainaghi	e	João	Henrique	Cren	Chiminazzo	
trata	 a	 respeito	 do	 Direito	 Desportivo	 trabalhista,	 trazendo	 importantes	 considerações	
principalmente	na	conflituosa	relação	clube-atleta.
Sobre	os	dois	principais	eventos	esportivos	que	o	Brasil	hospedará,	a	Copa	do	Mundo	de	
Futebol,	em	2014,	e	os	Jogos	Olímpicos,	em	2016,	Luiz	Felipe	Guimarães	Santoro	e	Gustavo	
Normanton	Delbin,	respectivamente,	são	os	responsáveis	pelas	considerações	a	respeito	das	
duas	leis	federais	que	dão	cumprimento	às	garantias	assumidas	pelo	governo	brasileiro	junto	
às	entidades	internacionais	a	fim	de	que	o	país	pudesse	sediá-los.
Sobre	as	questões	internacionais,	tão	pouco	debatidas	e	conhecidas	aqui	no	Brasil,	Pedro	
Fida,	 Leonardo	 Andreotti	 Paulo	 de	 Oliveira	 e	 Thomaz	 Sousa	 Lima	Mattos	 de	 Paiva	 são	 os	
responsáveis,	respectivamente,	pela	Corte	Arbitral	do	Esporte,	pelos	órgãos	jurisdicionais	da	
Fifa	e	pela	legislação	sobre	doping.
“Nossa literatura ignora o futebol, e repito: nossos 
escritores não sabem cobrar um reles lateral.”
(Nelson Rodrigues)
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Sobre	a	complexa	questão	tributária	brasileira,	que	aflige	a	quase	totalidade	de	empresários,	
e	a	sanha	arrecadatória	do	Fisco,	Juliano	Di	Pietro	disserta	a	respeito	da	isenção	dos	clubes	de	
futebol	profissional	em	relação	a	IRPJ,	CSLL,	PIS	e	Cofins.	Já	Caio	Pompeu	Medauar	de	Souza	
traz	um	panorama	 legislativo	do	 torcedor/consumidor,	que	a	cada	dia	que	passa	 tem	seus	
direitos	e	garantias	ampliados	e	reconhecidos	pela	legislação	desportiva.
Por	fim,	Álvaro	Melo	Filho	e	Carlos	Miguel	Castex	Aidar,	dois	dos	mais	conhecidos	nomes	
do	meio	jurídico-desportivo,	trazem	à	discussão	tópicos	específicos	de	enfrentamento	diário	
dos	profissionais	que	militam	na	área,	como	a	discussão	sobre	a	limitação	dos	mandatos	dos	
dirigentes	desportivos	e	o	conflito	entre	Justiça	Comum	e	Justiça	Desportiva.
Antes	do	pontapé	inicial,	meus	agradecimentos	à	Diretoria	da	AASP,	pelo	convite	e	pela	
confiança	 para	 coordenar	 esse	 trabalho,	 e	 aos	 13	 selecionados,	 titulares	 camisas	 10,	 que	
prontamente	e	gentilmente	aceitaram	o	convite	e	o	desafio	proposto.
E	que	me	desculpe	Nelson	Rodrigues,	pois	a	sua	máxima,	anteriormente	transcrita,	aqui	
não	serve!
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Luiz	Roberto	Martins	Castro																																																																																				
Advogado, graduado pela Faculdade de Direito do 
Largo de São Francisco, USP. Especialista em Admi-
nistração para Profissionais do Esporte pela Escola de 
Administração de Empresas da FGV. Master em Direito 
Desportivo pela Universidade de Lérida, Espanha. Ex-
presidente do Instituto Brasileiro de Direito Despor-
tivo. Ex-coordenador da Revista Brasileira de Direito 
Desportivo. Ex-vice-presidente da Comissão de Direito 
Desportivo da OAB-SP. Membro do Advisory Board do 
The International Sports Law Journal (Haia, Holanda) 
e do Advisory Board do curso Graduate Diploma in 
Sports Law da Universidade de Melbourne (Austrália). 
Coordenador acadêmico do curso de especialização 
em Direito Desportivo promovido pelo Instituto 
Nacional de Ensinos Jurídicos em Porto Alegre. Pro-
fessor de cursos de especialização em Direito Despor-
tivo em São Paulo. Presidente do Superior Tribunal de 
Justiça Desportiva da PGA do Brasil. Auditor do Supe-
rior Tribunal de Justiça Desportiva da Confederação 
Brasileira dos Portadores de Deficiência Visual. Presi-
dente do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação 
Paulista de Volleyball. Auditor do Tribunal de Justiça 
Desportiva da Federação Paulista de Basketball. 
Auditor da 2ª Comissão Disciplinar do Tribunal de 
Justiça da Federação Paulista de Futebol.
A presentando o Direito Desportivo. 
Sumário
1. Considerações iniciais
2. O que é esporte?
3. Esporte, desporte ou desporto
4. O que é Direito Desportivo
5. Direito Desportivo Puro
6. Direito Desportivo Híbrido
7. O Direito Desportivo como ramo autônomo 
do Direito
 Bibliografia
1 Considerações iniciais
A fim de ajudar-nos a entender e acompanhar 
o desenvolvimento do Direito Desportivo, faz-se 
necessário, primeiramente, definirmos, ou, ao 
menos, compreendermos o que é esporte.
2 O que é esporte?
Inexiste na doutrina uma definição única e 
precisa de esporte, contudo existem algumas pre-
missas que sempre são coexistentes em todas as 
teorias atualmente apresentadas.
“O desporto anima o homem a compreender 
o bem da submissão às regras do jogo 
e o respeito à autoridade da ordem 
hierárquica. Êle predispõe a aceitar o chefe 
e a abominar o tirano ou o ditador.” 
(João Lyra Filho)
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Quando pensamos em esporte sempre temos 
em mente a prática de uma atividade física, con-
tudo somente a atividade física praticada de forma 
isolada não define a atividade como esporte; se assim 
o fosse, construir uma casa ou subir uma escada 
poderia ser considerado esporte, e em contrapartida 
o xadrez não poderia ser considerado esporte.
Para que uma atividade possa ser considerada 
esporte, faz-se necessária a união de três pressu-
postos:
i) existência de atividade física. Sendo que 
atividade física é aquela que “envolve o uso de ati-
vidades motoras, proeza física ou esforço físico” 
(BARBANTI, 2006, p. 54), mesmo que mínima; 
ii) possuir caráter competitivo. Não é necessá-
rio que se busquem medalhas ou recordes, o que 
importa é haver, mesmo que mínima, uma com-
petição entre os praticantes. Treinos são conside-
rados uma preparação para a competição, logo, 
podem ser entendidos como uma pré-competição; 
iii) regras padronizadas e predefinidas. “As 
regras do jogo definem um conjunto de proce-
dimentos com guias e restrições” (BARBANTI, 
2006, p. 56) e, por possuir regras predefinidas, 
podemos afirmar que apenas os seres humanos 
praticam esporte, posto que, para a sua prática, é 
necessário entender e respeitar as regras, algo que 
exige que seus participantes possuam capacidade 
de compreensão, interpretação e obediência das 
informações que lhe foram passadas. Logo, para 
se praticar esporte é pressuposto necessário que 
os seus praticantes possuam capacidade de racio-
cínio, algo que é, pelo menos até hoje, exclusivo 
do ser humano. Os animais, apesar de não terem 
a capacidade de compreender e interpretar as re-
gras, podem participar da prática esportiva, mas 
sempre o farão como meio, nunca como agente 
principal. 
Dessa forma, podemos definir esporte como 
uma atividade física competitiva, delimitada por 
regras específicas, tendo sempre o ser humano 
como agente principal. 
A definição citada não é terminativa, é apenas 
uma das diversas atualmente existentes; contudo, 
a nosso ver, é a que melhor congrega o conceito 
mundial de esporte. Entretanto sempre é possível 
encontrar atividades físicas que não são considera-
das esporte, mas que preencham os três pressupos-
tos, contudo há sempre um pressuposto impres-
cindível, qual seja: a regra predefinida. 
Como o Direito é regra, podemos afirmar que 
ele sempre será parte essencial do esporte. 
3 Esporte, desporte ou desporto?
A palavra “esporte” é derivada da palavra 
“sport, palavra inglesa tirada do artigo francês 
desport, de desporter” (LYRA FILHO, 1952, p. 27).
Por sua vez, a palavra desport “es de origen 
mediterráneo y gremial. Para el marino mediter-
ráneo, estar du-portu significa, entre otras cosas,
dedicar su tiempo libre a juegos del puerto” (SALCEDO, 
1989, p. 133).
Dessa forma, as nomenclaturas esporte/des-
porte/desporto, além de possuírem o mesmo signi-
ficado, têm a sua origem relacionada à ocupação 
do tempo livre, também conhecido como ócio. 
Ninguém é capaz de definir qual a origem do 
desporto, mas o certo é que ele só pode ter surgido 
a partir do momento em que o ser humano passou 
a ter tempo livre.
Alguns entendem que o desporto surgiu da 
evolução da dança, outros, da modificação de ri-
tos religiosos, e outros, ainda, do aprimoramento e 
exercício das capacidades vitais (caça, pesca, lutas), 
mas o certo é que a sua existência está atrelada a 
dois fatores. 
O primeiro: o ser humano ter passado a viver 
em sociedade, fato que gerou uma possibilidade 
Como o Direito é regra, sempre 
será parte essencial do esporte. 
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de divisão do “esforço obrigatório” de sobrevivên-
cia do indivíduo, qual seja caçar, guardar a caça, 
cozinhar, alimentar-se, ou seja, sobreviver ao am-
biente hostil em que se encontrava. “Esforço obri-
gatório” que modernamente pode ser entendido 
como aquele “que entraña la imperativa satisfación 
de necesidades, es decir, el trabajo” (ORTEGA Y 
GASSET, 1967, p. 259).
O segundo, que é consequência do primeiro: 
com a divisão das tarefas relacionadas ao “esfor-
ço necessário”, o ser humano passou a ter mais 
tempo livre e, assim, a fim de ocupar esse tempo 
livre, criou o chamado “esforço supérfluo”, o que 
possivelmente deu origem às denominadas ativi-
dades culturais, como a dança, a crença, a arte e a 
prática desportiva.
Passados os anos e modernizando-se os ins-
trumentos de trabalho, o ser humano passou a 
ter mais tempo para dedicar-se ao “esforço supér-
fluo”, e assim, tendo em vista que os estivadores e/
ou trabalhadores dos portos, quando não ocupa-
dos no exercício do seu “esforço necessário”, dedi-
cavam seu tempo livre a esse “esforço supérfluo”, 
que eram, dentre outros, “juegos del puerto”, surge, 
como descrito acima, a palavra desport, que, apor-
tuguesada, deu origem à palavra “desporto”. 
Dessa forma, podemos concluir que esporte, 
desporte e desporto nada mais são do que sinô-
nimos.
Tendo em vista a evolução da sociedade, o con-
ceito atual de desporto também se modernizou, e 
“Lo que hoy entendemos por deporte, el 
‘deporte moderno’, es un producto cultural que 
tiene precisados fecha y lugar de origen: Inglaterra, 
principios del XIX. Ha sido posible merced a la 
madurez de esta civilización, y como producto 
cultural recoge, readaptándolos, necesidades e 
impulsos sentidos en épocas pretéritas que, tal 
vez desde nuestra óptica, serían los tiempos del 
‘predeporte’. Las manifestaciones ancestrales, con 
las connotaciones que fueran, sirvieron al hombre 
primitivo para su afirmación individual y social. 
El hombre moderno actual ha reformulado esa 
faceta de su cultura, de manera que el deporte sea 
medio útil para la satisfacción de algunas de sus 
específicas necesidades. Sin éstas, aquél no existiría” 
(FERRER, 1991, p. 49). 
4 O que é Direito Desportivo?
Como descrito anteriormente, o desporto mo-
derno é uma atividade cultural que busca a satis-
fação específica do ser humano. No início, essa 
satisfação era restrita aos atletas e aos poucos afi-
cionados que compareciam aos locais onde o des-
porto era praticado, sendo que, na grande maioria 
das vezes, a repercussão econômica da sua prática 
era incipiente ou inexistente.
Nesse período surgiu o que podemos chamar 
de Direito Desportivo Antigo, que era aquele que 
versava exclusivamente sobre o restrito universo 
“atleta-clube-federação/confederação”. Basicamente, 
o Direito Desportivo Antigo era adstrito a regras 
e regulamentos da modalidade ou no máximo a 
questões extraesportivas relacionadas à relação 
“atletas-clubes”. 
Ocorre que, com o fato de o desporto ter, prin-
cipalmente, a partir dos Jogos Olímpicos de Bar-
celona, em 1992, deixado de ser um meio de di-
vulgação de ideais e ter se tornado uma atividade 
econômica, a denominada “indústria do esporte”, 
viu-se necessária uma maior assistência e regula-
mentação jurídica sobre a atividade, seja quanto à 
sua organização, seja quanto à sua exploração. 
Some-se a isso o fato de que o desporto é uma 
prática global1 regulada por entes privados, capazes 
de representar, em caráter não oficial nem jurídico, 
entes públicos, fato que exige uma regulamentação 
ainda mais rígida e “internacionalizada”. 
1. Frise-se que atualmente o Comitê Olímpico Internacional (COI), 
ente internacional privado, tem 204 filiados (cabe destacar que é equi-
vocado falar que temos países filiados ao COI, pois quem é filiado ao 
COI são os Comitês Olímpicos Nacionais, e não o país como Estado), 
enquanto a ONU tem 193 membros (neste caso, Estados). 
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Em função dessa necessidade, surgiu o que 
chamamos de Direito Desportivo Atual, o qual 
engloba não apenas a visão adstrita do Direito 
Desportivo Antigo mas também a nova faceta das 
atuais necessidades da “indústria do esporte”. 
Com isso, podemos afirmar que o Direito Des-
portivo, atualmente, é um direito superveniente 
aos demais, que regula não apenas os aspectos 
jurídicos relacionados à prática esportiva, mas 
também todas as outras questões relacionadas às 
atividades sociais e econômicas vinculadas à ati-
vidade esportiva.
A grande dificuldade que os teóricos do Di-
reito Desportivo encontram é saber se o Direito 
Desportivo Atual é simplesmente uma variação 
dos demais ramos do Direito, tais como o Direi-
to Civil, Penal, Trabalhista, etc., aplicado a uma 
atividade social com um objeto esportivo, ou se 
é a união de todas essas matérias aplicadas a uma 
nova necessidade social, dando, assim, origem a 
um novo e específico ramo do Direito.
Tal como já destacado em nosso artigo publi-
cado no primeiro volume da Revista Brasileira de 
Direito Desportivo, dessa questão surgiu a divisão 
do Direito Desportivo em dois sub-ramos, o 
Direito Desportivo Puro e o Direito Desportivo 
Híbrido.
5 Direito Desportivo Puro
O Direito Desportivo Puro seria aquele que se 
propõe a “garantir um conhecimento apenas diri-
gido ao Direito [Desportivo] e excluir deste tudo 
que não pertença ao seu objeto, tudo quanto não 
se possa, rigorosamente, determinar como Direito 
[Desportivo]” (KELSEN, 1985, p. 1).
Dessa forma, podemos concluir que o Direi-
to Desportivo Puro possui sua origem no Direito 
Desportivo Antigo e é atualmente materializado 
pela Justiça Desportiva, posto que essa última 
possui legislação (Código Brasileiro de Justiça 
Desportiva), julgadores próprios (auditores – art. 55 
da Lei nº 9.615/1998) e jurisdicionados limitados 
ao espectro desportivo, restando, ainda, exceção 
feita aos princípios gerais do Direito, desgarrada 
dos demais ramos do Direito.
A Justiça Desportiva somente perde o seu cará-
ter de materialização do Direito Desportivo Puro 
quando a matéria em análise é levada ao Poder 
Judiciário, pois nessa situação a “célula estéril” 
do Direito Desportivo Puro é “infectada” pelas 
demais áreas do Direito, o que, invariavelmente, 
acaba por desestabilizar e até mesmo implodir 
todo o sistema desportivo, uma vez que é usual 
que as decisões do Poder Judiciário acabem por 
basearem-se em regras estranhas e alheias à pecu-
liaridade do desporto.
Neste momento, é necessário destacar que, ape-
sar de a Justiça Desportiva ter origem constitucional 
(art. 217), ela não é um órgão do Poder Judiciário 
brasileiro, pois não consta da lista terminativa in-
serida no art. 92 da Constituição Federal (CF). 
Também frisamos que, por força do art. 217 da CF, 
a competência da Justiça Desportiva está limitada 
a conhecer e julgar ações relativas à disciplina e 
às competições desportivas. Qualquer outra ma-
téria relacionada à prática desportiva, se levada ao 
conhecimento dessa Justiça, não pode ser por ela 
apreciada sob pena de nulidade.
Em contrario sensu, também por força dos 
termos do art. 217 da CF, o Poder Judiciário só 
pode analisar questões relacionadas à disciplina e 
às competições desportivas após esgotadas as ins-
tâncias da Justiça Desportiva ou caso a questão 
levada a essa Justiça não tenha sido sanada em um 
prazo máximo de 60 dias. 
Apesar de a Justiça Desportiva 
ter origem constitucional, 
ela não é um órgão do Poder 
Judiciário brasileiro.
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Assim sendo, podemos definir a Justiça Des-
portiva como uma Justiça Administrativa mate-
rializadora do Direito Desportivo Puro, cuja com-
petência está restrita à análise de ações relativas 
à disciplina e às competições desportivas e cujas 
decisões devem seguir as suas regras próprias, mas 
que estão passíveis de revisão do Poder Judiciário 
nas hipóteses de essas terem sido proferidas de for-
ma contrária à sua própria regulamentação, aos 
princípios gerais do Direito ou à prova.
6 Direito Desportivo Híbrido
O Direito Desportivo Híbrido é a materiali-
zação do Direito Desportivo Atual, pois ele nada 
mais é do que a confluência dos demais ramos do 
Direito à nova faceta da atividade desportiva, qual 
seja o “esporte como negócio” ou ainda a “indús-
tria do esporte”. 
Outra característica do Direito Desportivo 
Híbrido é a sua grande relação e até mesmo de-
pendência de outras ciências não jurídicas, tais 
como o Marketing e a Administração Esportiva. 
Contudo, é importante frisar que, tendo em 
vista a peculiaridade da atividade esportiva e, 
principalmente, a necessidade de sempre se res-
peitarem as suas características únicas, inclu-
sive suas regras, o Direito Desportivo Híbrido é 
cunhado de exceções às regras usuais de cada área 
do Direito que o compõe. 
Regras básicas do Direito do Trabalho e do 
Direito Civil, como, por exemplo, prazo máximo 
do contrato de trabalho e valor máximo de uma 
multa contratual, são totalmente desprezadas no 
Direito Desportivo Híbrido. No Direito Despor-
tivo Híbrido, podemos dizer que a exceção é a 
regra. 
Importante destacar que, se em algum mo-
mento o desporto deixar de ser visto como in-
dústria ou negócio, o Direito Desportivo Híbrido 
deixará de despertar interesse econômico e, por 
consequência, interesse jurídico, o que acarretará 
a sua extinção, fato que jamais ocorrerá com o 
Direto Desportivo Puro.
7 O Direito Desportivo como ramo 
autônomo do Direito 
Os pressupostos determinantes para a autono-
mia científica de uma disciplina jurídica são: i) 
a manifestação de uma realidade social devida-
mente delimitada e claramente identificada; ii) a 
presença de categorias jurídicas próprias e homo-
gêneas; e iii) a existência de princípios jurídicos 
singulares que sirvam para dar um entendimento 
conjunto, integrado e sistemático das normas que 
compõem tal ramo. 
Verificados os pressupostos indicados acima, 
podemos tranquilamente afirmar que o Direito 
Desportivo Puro, ou seja, a Justiça Desportiva, 
por versar sobre uma realidade social delimitada 
e identificada, por possuir característica jurídica 
própria e também princípios jurídicos singulares, 
pode, sem qualquer dificuldade, ser considerado 
como um ramo autônomo do Direito.
Com relação ao Direito Desportivo Híbrido, 
não é possível nem fácil afirmar que ele pode ser 
visto como um ramo autônomo do Direito, posto 
ser claro que, apesar de ele ser uma manifestação 
de uma realidade social, essa realidade não é deli-
mitada e claramente identificada; mais ainda, ele 
não goza tanto de categorias quanto de princípios 
próprios; assim: 
“No estamos, por ende, ante un Derecho del 
deporte como rama del ordenamiento jurídico 
con vida propia con respecto a las restantes. No 
existe un Derecho del deporte en sentido estricto, 
sino un Derecho administrativo en materia de de-
porte, un Derecho tributario en materia de depor-
te, un Derecho mercantil en materia de deporte, 
etc. Existe en rigor un Derecho sobre la materia 
deportiva, que solo conveniencias denominativas 
y docentes podría conocerse por Derecho del 
deporte” (PIETRO, 1993, p. 23). 
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Também existem aqueles que defendem que o 
Direito Desportivo Híbrido é apenas a adequação 
de antigos ramos do Direito a um novo fato social 
(WEILER; ROBERTS, 1993). 
Pouquíssimos são aqueles que defendem que o 
Direito Desportivo Híbrido é um ramo autônomo 
do Direito, e, via de regra, o entendimento não é 
lastreado em nenhum fundamento teórico, mas 
apenas nos fundamentos apaixonados de advoga-
dos que amam e trabalham com o esporte.
 Qual o sentido prático de ser o Direito Des-
portivo um ramo autônomo ou não do Direito? 
Para os estudiosos do tema, a identificação do 
Direito Desportivo como um ramo autônomo do 
Direito seria de grande valia para fins acadêmicos, 
pois, uma vez que inexiste o ramo específico, é 
difícil a criação de cursos de mestrado ou douto-
rado com o tema, posto que não se sabe em que 
departamento a matéria se enquadraria, e mais, 
uma vez que inexistem no país doutores em Direito 
Desportivo propriamente dito, é extremamente 
difícil encontrar professores orientadores dispos-
tos a desbravar esse novo terreno.
Atualmente, todos os mestres ou doutores em 
Direito Desportivo no país ou fizeram seus cursos 
no exterior e não conseguem validar o seu diploma 
no Brasil, por inexistência de matéria equivalente, 
ou são mestres em outras áreas do Direito, como 
Direito Civil, Penal e Trabalhista, tendo elabora-
do a sua tese ou dissertação, conforme o caso, em 
assunto relacionado ao Direito Desportivo.
Toda essa dificuldade, atrelada ao preconceito 
de que a Justiça Desportiva é pífia, tendenciosa ou 
“jogo de cartas marcadas”, é extremamente preju-
dicial ao desenvolvimento do Direito Desportivo, 
seja o Puro, seja o Híbrido.2
Independentemente disso, é claro o crescimento 
do Direito Desportivo no Brasil nos últimos 15 anos. 
A criação da “indústria do esporte”, a promulgação 
da Lei Pelé, a fundação do Instituto Brasileiro de Di-
reito Desportivo, a criação da Revista Brasileira de 
Direito Desportivo, a realização de mais de 15 cursos 
de especialização em Direito Desportivo e agora a 
edição pela AASP de uma revista sobre o tema de-
monstram não apenas o real crescimento do Direito 
Desportivo no país, bem como o crescimento de 
todos no tema, que é tão apaixonante quanto o amor 
do brasileiro pelo esporte. 
2. Se no Brasil temos 200 milhões de técnicos, temos também 200 
milhões de auditores de tribunais desportivos (na Justiça Desportiva, 
os julgadores são chamados de auditores, e não juízes). 
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Carlos	Eduardo	Ambiel																																																																																				
Advogado. Mestre em Direito do Trabalho pela 
Universidade de São Paulo (USP). Professor de 
Direito do Trabalho nos curso de graduação e 
pós-graduação da Fundação Armando Álvares 
Penteado (Faap). Professor dos cursos de especia-
lização e pós-graduação do Instituto Internacional 
de Ciências Sociais (IICS), Instituto Brasileiro de 
Direito Desportivo (IBDD) e Escola Superior de 
Advocacia (ESA).
Direito de arena dos atletas 
profissionais: titularidade, abrangência, 
forma de repasse e natureza jurídica. 
Sumário 
1. Introdução
2. Conceito e evolução do direito de arena
3. Da titularidade e abrangência do direito de 
arena
4. Da natureza jurídica do repasse da arena
5. Conclusão
 Bibliografia
1 Introdução
O direito de arena constitui peculiar instituto 
do ordenamento nacional, pois, apesar de envol-
ver a autorização de transmissão de espetáculos 
esportivos, acabou gerando uma anômala forma 
de renda para os atletas profissionais, fruto da 
obrigação legal de repassar parte do valor arre-
cadado com a transmissão do espetáculo aos que 
dele participam.
Previsto na Lei de Direitos Autorais, o direito de 
arena acabou migrando para as normas nacionais 
do desporto, o que gerou evidente e preocupante 
confusão de conceitos com reflexos negativos na 
doutrina e jurisprudência. Todavia, a ocorrência 
de grandes eventos esportivos no país, embora organi-
zados por entidades internacionais, demanda uma 
análise sobre a efetiva abrangência do direito de 
arena e seus efeitos.
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Para tanto, trataremos do conceito jurídico de 
direito de arena, sua origem e evolução legislativa. 
Na sequência, analisaremos a abrangência territo-
rial do instituto e seu tratamento em competições 
esportivas internacionais, além dos critérios para 
repasse aos atletas, forma de apuração e natureza 
jurídica, culminando com nossas conclusões. 
2 Conceito e evolução do direito de 
arena
O instituto do direito de arena foi estudado por 
importantes autores nacionais (CHAVES, 1999; 
ZAINAGHI, 1998; EZABELLA, 2006). Quase 
todos explicam a palavra “arena” a partir da sua 
origem latina, que remete a um lugar coberto de 
areia onde gladiadores se enfrentavam (CHAVES, 
1999, p. 778). Atualmente significa o local desti-
nado à prática esportiva, sendo bastante comum 
denominar como “arena” os mais modernos giná-
sios e estádios onde se realizam eventos esportivos 
com presença de público.
No aspecto jurídico, no entanto, não corres-
ponde à titularidade de uma moderna arena es-
portiva. Ao contrário, embora não totalmente 
dissociado do conceito de espetáculo, o direito de 
arena tem sentido diverso da “praça esportiva”, vez 
que se preocupa não com o local onde o evento 
ocorrerá, mas sim com a proteção e titularidade 
do direito que decorre do evento realizado naquele 
recinto.
Em outras palavras, a arena é o local onde se 
realiza o evento esportivo, enquanto o direito de 
arena corresponde à titularidade jurídica para ex-
posição pública e de todos os direitos que surgem 
a partir do momento que referido evento ocorre, 
seja por meio da cobrança de ingressos dos es-
pectadores presentes, seja pela autorização para 
captação e transmissão dos fatos por meios audio-
visuais. 
Por isso, absolutamente justificável o direito de 
arena ter sido previsto originalmente nos arts. 100 
e 101 da Lei de Direitos Autorais de 1973 (Lei nº 
5.988/1973), que já definia a arena como “o direito 
de autorizar, ou proibir, a fixação, transmissão ou 
retransmissão, por quaisquer meios ou processos 
de espetáculo desportivo público, com entrada 
paga”.
Ou seja, quando tratou dos direitos autorais, 
o legislador deixou claro que a titularidade de 
autorizar ou proibir a fixação, transmissão e re-
transmissão pública de um espetáculo desportivo 
decorre do direito do clube à titularidade sobre 
aquele espetáculo esportivo do qual participou, 
permitindo estabelecer as regras e valores para ex-
posição pública do evento. 
Interessante notar também que, embora sem 
utilizar a expressão direito de arena, o art. 5º, in-
ciso XXVIII, alínea a, da Constituição Federal 
de 1988 resguarda esse direito, quando assegura, 
nos termos da lei, “a proteção às participações 
individuais em obras coletivas [...], inclusive nas 
atividades desportivas”, em evidente referência à 
proteção das participações individuais em obras 
coletivas, inclusive desportivas.
Afinal, quando um atleta participa de um es-
petáculo desportivo, em qualquer esporte coleti-
vo, e o conjunto dos movimentos que realiza no 
jogo chama a atenção de milhões de espectadores, 
que pagam para apreciar aquele evento, alguns 
presentes ao local e outros acompanhando pela 
televisão ou internet, é evidente que se está diante 
de uma obra coletiva de entretenimento, da qual 
cada um dos atletas é coautor. Isso explica o por-
quê da inclusão do conceito de direito de arena na 
Lei de Direitos Autorais, embora parte da doutri-
Embora não totalmente dissociado 
do conceito de espetáculo, o 
direito de arena tem sentido 
diverso da “praça esportiva”.
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na ainda se manifestasse contrária a aceitar que 
o esportista pudesse ser considerado um artista.1
A partir do momento que foi promulgada uma 
Lei Geral do Desporto, o direito de arena tam-
bém passou a ser regulado pelo art. 242 da Lei nº 
8.672/1993 (Lei Zico), em redação muito seme-
lhante àquela que ainda constava da antiga Lei nº 
5.988/1973. Cinco anos depois, a legislação auto-
ral deixou de dispor sobre o direito de arena3 e o 
assunto passou a ser regulado exclusivamente pelo 
art. 424 da Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé). 
Recentemente, a Lei nº 12.395/2011 alterou a 
redação do art. 42 da Lei nº 9.615/1998 para re-
duzir e regulamentar o percentual de repasse do 
direito de arena aos atletas participantes do espe-
táculo esportivo, em disposições que atualmente 
disciplinam a titularidade, abrangência, forma de 
repasse e natureza do direito, tudo conforme pas-
saremos a estudar.
3 Da titularidade
e abrangência do 
direito de arena
A titularidade e abrangência do direito de are-
na podem ser analisadas sobre aspectos distintos, 
embora complementares: i) por um lado, a titu-
laridade e abrangência do direito de autorizar a 
exposição e reprodução de um espetáculo despor-
tivo; e ii) por outro, a copropriedade nas receitas 
que decorrem da autorização onerosa do direito 
de exposição pública do evento, com obrigação de 
repasse de percentual aos atletas.
O legislador deixou muito claras essas diferen-
ças no próprio art. 42 da Lei nº 9.615/1998, afinal o 
caput fala da titularidade do direito de autorizar a 
transmissão do espetáculo, enquanto o § 1º deter-
mina a divisão das receitas com os atletas, consi-
derados coproprietários do direito. Nesse sentido, 
pertinente a transcrição dos citados dispositivos, a 
começar pelo caput, que assim dispõe: 
“Art. 42 - Pertence às entidades de prática des-
portiva o direito de arena, consistente na prerro-
gativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir 
a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a 
retransmissão ou a reprodução de imagens, por 
qualquer meio ou processo, de espetáculo despor-
tivo de que participem”.
A leitura é absolutamente clara e não deixa dú-
vidas sobre o conceito do direito de arena, definido 
pelo legislador como a “prerrogativa exclusiva de 
negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixa-
ção, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a 
reprodução de imagens de espetáculo desportivo”. 
Além disso, fica evidente que, pelo menos no Bra-
sil, o titular desse direito é sempre a entidade de 
prática desportiva, ou seja, a empresa ou associa-
ção desportiva que efetiva aquela atividade. 
Por isso, quando um evento esportivo é orga-
nizado ou praticado por entidades brasileiras, às 
quais se aplica o art. 42 da Lei nº 9.615/1998, o di-
reito de autorizar sua transmissão comercialmente 
será sempre dos clubes praticantes (entidades de 
prática), e jamais da entidade organizadora ou dos 
atletas. Dessa forma, para poder transmitir um 
evento esportivo nacional, a emissora de televisão 
interessada deve obter autorização formal – one-
rosa ou gratuita – das equipes participantes, pois a 
elas pertence o direito de arena. 
No caso do futebol, em que há notório valor 
econômico envolvido na transmissão de uma par-
tida, haverá necessidade de as duas equipes que se 
1. Essa era a posição de Walter Morais (1977), para quem não existia 
no espetáculo esportivo uma produção intelectual. 
2. “Art. 24 - Às entidades de prática desportiva pertence o direito 
de autorizar a fixação, transmissão ou retransmissão de imagem de 
espetáculo desportivo de que participem.
§ 1º - Salvo convenção em contrário, vinte por cento do preço da 
autorização serão distribuídos, em partes iguais, aos atletas partici-
pantes do espetáculo.”
3. A Lei nº 9.610/1998, sobre direitos autorais e que substitui a antiga 
Lei nº 5.988/1973, nada mais dispôs sobre direito de arena em ativi-
dades esportivas.
4. “Art. 42 - Às entidades de prática desportiva pertence o direito de 
negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou retransmissão 
de imagem de espetáculo ou eventos desportivos de que participem.
§ 1º - Salvo convenção em contrário, vinte por cento do preço total 
da autorização, como mínimo, será distribuído, em partes iguais, aos 
atletas profissionais participantes do espetáculo ou evento.”
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enfrentarão autorizarem a transmissão, prerroga-
tiva que cabe exclusivamente aos clubes despor-
tivos, não podendo tal decisão ser tomada pelas 
federações e confederações.
Questão um pouco mais complexa envolve 
a abrangência e titularidade do direito de arena 
quando as entidades de prática desportivas nacio-
nais participam de competições esportivas orga-
nizadas por entidades sediadas em outros países 
e, por isso, não sujeitas à legislação brasileira. Tal 
problema surge, por exemplo, quando clubes de 
futebol brasileiros vão disputar a Taça Libertado-
res da América ou a Copa Sul-Americana, compe-
tições internacionais organizadas pela Confedera-
ção Sul-Americana de Futebol (Conmebol), que 
tem sede no Paraguai.
A Conmebol, como não se sujeita à legislação 
brasileira, pois sediada fora do território nacio-
nal, desconsidera completamente o disposto no 
art. 42 da Lei Pelé e negocia a transmissão de 
todas as partidas da Taça Libertadores da Améri-
ca diretamente com a emissora de televisão que 
escolher, inclusive aquelas partidas entre clubes 
brasileiros, que, por isso, não poderão exercer o 
direito de arena para autorizar a transmissão por 
outra emissora. 
Isso porque, em relação aos clubes desporti-
vos, a abrangência do direito de arena, assim con-
siderada a prerrogativa de autorizar a transmissão 
dos espetáculos desportivos, se limita apenas às 
competições organizadas por entidades que se 
sujeitam à legislação nacional, não abrangendo 
entidades internacionais, nem mesmo quando as 
partidas forem realizadas no território brasileiro. 
Para exemplificar, se dois clubes mineiros se 
enfrentam no domingo em partida válida pelo 
Campeonato Brasileiro de Futebol, caberá aos 
dois o direito de autorizar a transmissão daquela 
partida pela emissora de televisão que desejarem, 
inclusive recebendo os valores cobrados pela 
autorização. No entanto, se três dias depois, na 
quarta-feira da mesma semana, os mesmos clubes 
se enfrentarem na cidade de Belo Horizonte em 
partida válida pela semifinal da Taça Libertado-
res da América, como a competição é organizada 
pela Conmebol, que não se sujeita às leis brasi-
leiras, os clubes não teriam o direito de autorizar 
a transmissão daquela nova partida, agora pela 
competição internacional, vez que o art. 42 da Lei 
nº 9.615/1998 não se aplicaria ao caso.
Idêntica situação ocorre nas competições or-
ganizadas pela Fifa, como é o caso de mundial 
de clubes, recentemente disputado no Japão ou 
no Marrocos. Os clubes brasileiros que se classi-
ficaram para referida disputa não tiveram direito 
de arena sobre as partidas daquele campeonato, 
porque não podiam autorizar a transmissão das 
partidas, prerrogativa exclusiva da Fifa. Afinal, au-
sente o direito de autorizar a transmissão, não se 
pode falar em direito de arena ou em obrigação de 
repasse aos atletas participantes. 
A Fifa, inclusive, faz questão absoluta de preser-
var para si o direito de comercializar a transmissão 
de todos os campeonatos que organiza, inclusive 
a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no 
Brasil, motivo pelo qual o art. 12 da Lei Geral da 
Copa5 (Lei nº 12.6663/2012) declarou que a Fifa 
é titular exclusiva de todos os direitos relaciona-
dos à autorização para transmissão das partidas do 
mundial, mesmo disputado em território nacional, 
o que afasta a aplicação do art. 42 da Lei Pelé às 
equipes e atletas que jogarão o mundial no Brasil.
5. “Art. 12 - A FIFA é a titular exclusiva de todos os direitos relaciona-
dos às imagens, aos sons e às outras formas de expressão dos Eventos, 
incluindo os de explorar, negociar, autorizar e proibir suas transmis-
sões ou retransmissões.”
A abrangência do direito de arena 
se limita apenas às competições 
organizadas por entidades que se 
sujeitam à legislação nacional.
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Portanto, em relação ao que consta do caput do 
art. 42 da Lei Pelé, podemos concluir que a titula-
ridade do direito de arena pertence à entidade de 
prática desportiva, mas sua abrangência se limita 
apenas às competições organizadas por entidades 
nacionais de administração do desporto (federa-
ções, confederações e ligas), não se aplicando aos 
campeonatos organizados por entidades com sede 
em outros países, mesmo que os jogos ocorram no 
território nacional.
Ao lado da titularidade e abrangência do di-
reito dos clubes de autorizarem a transmissão dos 
seus jogos, encontra-se a posição dos atletas que 
participam do espetáculo transmitido e, assim, 
por disposição reflexa da legislação, passam a ter a 
titularidade sobre parte dos valores recebidos pelo 
clube, desde que concedida autorização onerosa 
de transmissão de evento do qual referido atleta 
participou.
O assunto é integralmente regulado pelo § 1º 
do art. 42 da Lei nº 9.615/1998, que assim determi-
na, já com a redação alterada em março de 2011:
“Art. 42 - [...]
§ 1º - Salvo convenção coletiva de trabalho 
em contrário, 5% (cinco por cento) da receita 
proveniente da exploração de direitos desportivos 
audiovisuais serão repassados aos sindicatos de 
atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes 
iguais, aos atletas profissionais participantes do es-
petáculo, como parcela de natureza civil”.
Como se observa, o dispositivo é claro ao de-
terminar que parte dos valores auferidos pela enti-
dade de prática desportiva, pela autorização para 
exploração de direitos desportivos audiovisuais do 
espetáculo, deve ser repassada a todos os atletas 
que participaram do evento, ou seja, que contri-
buíram como coautores para a criação daquele 
espetáculo.
Ou seja, ao se observar o outro lado do direito 
de arena, representado pelos valores devidos aos 
atletas que integraram o espetáculo, identifica-
mos um direito cuja titularidade cabe exclusiva-
mente a cada atleta que participou do espetáculo, 
na proporção da divisão que considera a totalida-
de de autores, e não o tempo de atuação. Portanto, 
quando se fala do direito ao repasse da arena, não 
estamos mais preocupados com quem pode auto-
rizar a transmissão do evento esportivo, mas sim 
com o valor que o atleta profissional deve receber 
por ser parte daquele espetáculo.
Na atual legislação, o valor que cabe aos atle-
tas corresponde a 5% do montante obtido pelo seu 
empregador com a autorização da transmissão das 
partidas, montante que deve ser distribuído igual-
mente entre todos os atletas que entraram na par-
tida, exatamente como determina o § 1º do art. 
42 da Lei nº 9.615/1998, anteriormente transcrito.
Nas legislações anteriores, o percentual de re-
passe aos atletas poderia ser de 20%, desde que 
as partes não convencionassem de forma diversa. 
Em compensação, o valor era apurado apenas so-
bre o montante obtido pela entidade de prática 
com a autorização de transmissão, desconside-
rando receitas diversas como licenciamento de 
marcas, símbolos e nomes do campeonato e das 
equipes participantes. 
A atual redação do art. 42 da Lei Pelé reduziu 
a alíquota para 5%, mas ampliou a base de cálcu-
lo para considerar todos os valores recebidos pelas 
entidades de prática juntos às emissoras. Na ver-
dade, o legislador apenas trouxe para o texto legal 
as normas que constavam de uma transação nego-
ciada entre os representantes dos empregadores e 
dos trabalhadores, por intermédio dos sindicatos 
de classe, que resultou na homologação de um 
acordo judicial que, por muitos anos, serviu para 
pacificar o conflito entre a maioria dos clubes e 
atletas, embora ainda questionado por alguns atle-
tas no Poder Judiciário. 
Isso explica por que o legislador determinou, 
no § 1º do art. 42, anteriormente citado, que os va-
lores correspondentes aos 5% do direito de arena 
“serão repassados aos sindicatos de atletas profis-
sionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos 
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atletas profissionais participantes do espetáculo”. 
Trata-se de resquício do modelo utilizado ainda 
quando prevalecia o acordo judicial e cabia ao 
sindicato o papel de receber e distribuir os valores 
de cada atleta, por sua participação na criação do 
evento esportivo comercializado.
Na época do acordo judicial, os sindicatos apa-
reciam como meros agentes repassadores do valor 
devido e pago pelas entidades de prática desporti-
va aos seus respectivos atletas.
A revisão legislativa que prevê o repasse dos 
valores ao sindicato de classe, embora não altere 
a natureza do pagamento, vez que a origem dos 
recursos continua sendo do clube empregador, 
acabou criando algumas anomalias de difícil so-
lução prática, especialmente quando o assunto 
se referir a discussão sobre eventual regularidade 
nos valores repassados aos atletas individualmente 
considerados.
Afinal, se a obrigação de a entidade de prática 
desportiva agora se limita a entregar o percentual de 
5% devido ao sindicato de classe, para que aquele 
apure os valores e efetue a distribuição para cada 
atleta, caso algum atleta ajuíze reclamação de-
mandando por supostas diferenças de direito de 
arena, haverá necessidade de inclusão do sindica-
to no polo passivo da demanda, vez que ao empre-
gador bastará comprovar o repasse do percentual 
à entidade profissional, sem poder ser demandado 
sobre os motivos e critérios do repasse, vez que 
essa prerrogativa passou a ser do sindicato.
E nesse ponto a redação legal merece críticas, 
pois conferiu ao sindicato papel absolutamente 
diverso do que estabelecem os arts. 513 e 514 da 
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 
além de criar potencial conflito de interesse en-
tre os atletas e seu sindicato, afinal a entidade 
que deve representar os interesses dos atletas e 
buscar melhores condições de trabalho passará 
a ser réu em demandas judiciais sempre que o 
atleta entender que ocorreu inadequação nos 
critérios de repasse. 
Melhor teria agido o legislador se tivesse man-
tido a obrigação de o próprio empregador apurar a 
quantidade de jogos e repassar os valores de arena 
a cada atleta, primeiro, porque a apuração e re-
passe observariam o fluxo natural de pagamentos 
e, segundo, porque qualquer diferença poderia 
ser exigida em demanda diretamente em face do 
empregador, sem a necessidade da inclusão do 
sindicato como réu, com claros prejuízos para a 
celeridade do processo.
Além disso, a nova dinâmica de repasse do 
direito de arena gera prejuízos fiscais, afinal, se 
o sindicato é um mero repassador dos valores de 
arena, como nos parece, o montante pago a cada 
mês ao atleta deveria se somar aos demais valores 
recebidos do empregador no mesmo período, para 
apuração da base de cálculo do IRPF e correta 
aplicação das alíquotas do imposto na fonte. Na 
prática, no entanto, isso não ocorre, pois o valor 
pago pelos clubes é dividido e repassado direta-
mente pelo sindicato, que faz sua própria apura-
ção e retenção de IRPF como se fosse uma fonte 
pagadora distinta, desconsiderando as outras ver-
bas pagas pelo empregador.
Na prática, portanto, a entidade de prática 
desportiva empregadora, a quem compete o pa-
gamento do direito de arena, não consegue mais 
saber quanto é repassado mensalmente de arena a 
cada atleta, ficando impossibilitada de verificar a 
regularidade do pagamento ou mesmo de efetuar 
a retenção do Imposto de Renda. As entidades 
sindicais,
por sua vez, apesar de tratarem os va-
lores como modalidade de repasse de uma verba 
dos clubes, pois não emitem documento fiscal 
A revisão legislativa que prevê o 
repasse dos valores ao sindicato 
de classe acabou criando algumas 
anomalias de difícil solução prática.
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nem recolhem imposto sobre o valor que recebem 
e repassam aos atletas, de forma absolutamente 
contraditória, conferem ao valor repassado a na-
tureza de pagamento ao empregado por meio de 
uma fonte diversa do empregador, com a qual o 
sindicato não compartilha dados fiscais. 
Aos que entendem que o repasse do direito de 
arena aos atletas tem natureza salarial, a nova dis-
posição legal traria uma última dificuldade adi-
cional, pois a falta de informação de quanto e para 
quem o sindicato repassou valores a cada mês im-
pediria a regular apuração e pagamento dos refle-
xos do repasse mensal da arena nas demais verbas, 
muito embora não seja essa a interpretação mais 
correta, especialmente após a alteração do art. 42 
da Lei Pelé, que expressamente afastou a natureza 
salarial do repasse de arena.
4 Da natureza jurídica do repasse da 
arena
A natureza jurídica dos valores de direito de 
arena que são repassados aos atletas profissionais 
sempre foi objeto de grande controvérsia na dou-
trina, havendo quem sustentasse sua natureza sa-
larial (SOARES, 2008, p. 108), porque decorreria 
do trabalho prestado durante a partida, sua natu-
reza remuneratória (ZAINAGHI, 1998, p. 148), 
porque corresponderia a parcela de salário paga 
por um terceiro – sindicato –, e até mesmo sua na-
tureza indenizatória (EZABELLA, 2006, p. 153), 
como forma de reparar o uso não autorizado da 
imagem coletiva do atleta durante a transmissão.
A nosso ver, no entanto, nenhuma das teorias 
explicava corretamente a natureza do repasse aos 
atletas. A alegação de salário, embora encontre 
respaldo em jurisprudência do Tribunal Superior 
do Trabalho (TST), não resiste à análise da ori-
gem do repasse, que não decorre de contrapres-
tação de serviço realizado. Para a doutrina de 
Amauri Mascaro Nascimento (2007, p. 793), salá-
rio constitui a contrapartida do empregador pelo 
serviço prestado ou pelo período no qual o atleta 
esteve à sua disposição. 
No caso do repasse de percentual do direito 
de arena, o pagamento não está vinculado a qual-
quer trabalho ou tempo à disposição do atleta no 
clube, mas sim à participação em uma obra cole-
tiva, afinal o valor é distribuído apenas aos atletas 
que ingressam na partida, afastando os demais 
que ficaram à disposição no banco de reservas. 
Se salário fosse, todos que ficaram à disposição do 
empregador, mesmo sem entrar no jogo, deveriam 
receber – reservas e titulares –, mas a arena so-
mente é devida aos que ingressaram em campo.
Em outras palavras, se a contraprestação do 
trabalho do atleta decorre do fato de estar à dis-
posição do empregado, não pode ser salário valor 
que se paga apenas aos que atuaram no campo de 
jogo, excluindo os demais, que também estavam à 
disposição. Ademais, não há qualquer justificativa 
para se afirmar que o pagamento seria modalidade 
de remuneração, por ser pago por terceiro repre-
sentado pelo sindicato profissional, afinal, como 
se demonstrou anteriormente, não é o sindicato 
quem paga o atleta, cabendo-lhe apenas o papel 
de agente repassador do valor que sempre teve ori-
gem no próprio empregador. Por isso, descabida a 
diferenciação entre salário e remuneração.
Da mesma forma, entendemos que os repasses 
não têm natureza de indenizatória, até porque não 
se pretende compensar os danos pelo uso coletivo 
da imagem. Na verdade, o objetivo a ser alcan-
çado pela Lei nº 9.615/1998 no tocante ao direito 
de arena é oferecer aos atletas que participaram 
da uma obra coletiva (partida de futebol) parte do 
valor gerado pela transmissão daquele espetáculo, 
do qual o atleta foi coautor. 
Ora, conforme amplamente demonstrado, o 
direito de arena teve sua origem na Lei de Direitos 
Autorais (Lei nº 5.988/1973) e sempre representou 
parcela paga como contrapartida por uma criação 
coletiva, qual seja um espetáculo esportivo. Nas 
palavras de Carlos Alberto Bittar (2001, p. 152), 
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constitui modalidade de direitos conexos, que são 
aqueles 
“reconhecidos, nos planos dos de autor, a de-
terminadas categorias que auxiliam na criação ou 
na produção ou, ainda, na difusão da obra inte-
lectual. São denominados direitos ‘análogos’ aos 
de autor, ‘afins’, ‘vizinhos’, ou, ainda, ‘parautorais’, 
também consagrados universalmente ”.
Foi nesse sentido que o legislador, visando aca-
bar com as interpretações divergentes, alterou o 
art. 42 da Lei Pelé por meio da Lei nº 12.395, de 
16/3/2011, para passar a declarar de forma clara 
e pacificadora que o repasse do direito de arena 
constitui uma parcela de natureza civil. 
Ora, se o próprio legislador afirma que o re-
passe tem natureza civil, desaparecem as teorias 
salariais e ganha força o entendimento de que 
estamos diante de um valor repassado ao atleta 
como forma de retribuir pela sua autoria conjunta 
na criação de uma obra coletiva chamada de espe-
táculo desportivo.
5 Conclusão
O direito de arena, que tem origem na Lei 
de Direitos Autorais, significa o direito conferido 
às entidades de prática desportiva para autorizar 
a transmissão dos eventos de que participam. 
Sua abrangência é limitada às competições 
organizadas por entidades sediadas no território 
nacional, sem produzir efeitos nas competições 
internacionais.
Aos atletas profissionais que participam dos 
eventos esportivos nos quais ocorre transmissão 
onerosa, é devido um repasse do valor que lhes 
cabe pela coautoria do espetáculo desportivo, 
afastando-se assim a natureza salarial do paga-
mento. Na atual legislação, o repasse se dá por 
intermédio do sindicato de classe, fato que pro-
porciona conflitos de interesses e passivos fiscais 
que poderiam ser evitados se o pagamento fosse 
feito pelos clubes, apenas com a fiscalização dos 
sindicatos. 
Bibliografia
BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Autor. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Forense Universitária, 2001.
CHAVES, Antonio. Direito Conexos. São Paulo: LTr, 1999.
EZABELLA, Felipe Legrazie. O Direito Desportivo e a Imagem 
do Atleta. São Paulo: IOB Thomson, 2006.
MORAES, Walter. Questões de Direito Autoral. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1977.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do 
Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007. 
SOARES, Jorge Miguel Acosta. Direito de Imagem e Direito 
de Arena no Contrato de Trabalho do Atleta Profissional. 
São Paulo: LTr, 2008.
ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os Atletas Profissionais de 
Futebol no Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1998.
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Domingos	Sávio	Zainaghi																																																																																					
Doutor e mestre em Direito do Trabalho pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
(PUC-SP). Pós-doutorado em Direito do Trabalho 
pela Universidad de Castilla-La Mancha, Espanha. 
Presidente honorário do Instituto
Iberoamericano 
de Derecho Deportivo e da Asociación Iberoame-
ricana de Derecho del Trabajo y de la Seguridad 
Social. Membro da Academia Paulista de Direito 
e da Academia Nacional de Direito do Trabalho. 
Conselheiro estadual da Ordem dos Advogados 
do Brasil – Seção São Paulo (OAB-SP). Presidente 
do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) da Associação 
Paulista de Futebol. Advogado e cronista esportivo.
Ainvasão de centros de 
treinamento por torcedores e a 
(im)possibilidade de rescisão indireta 
dos contratos de trabalho. 
Após a invasão do Centro de Treinamentos do 
Sport Club Corinthians Paulista por membros de 
uma torcida organizada, muito se discutiu sobre 
o que fazer para conter esses atos (que são prati-
cados por torcedores de vários clubes no Brasil), 
sendo que, inclusive, os jogadores de futebol ame-
açaram deflagrar uma greve para reivindicar mais 
segurança para a prática de suas atividades, tendo 
algumas vozes se levantado no sentido de que os 
jogadores do Corinthians poderiam (deveriam) 
ingressar com ações de rescisão indireta de seus 
contratos de trabalho em razão do ocorrido.
Pretendemos demonstrar o equívoco de tal 
conclusão, mais baseada no ódio que torcedores 
não corintianos nutrem contra o clube da zona 
leste da capital paulista do que numa posição juri-
dicamente defensável.
A lei brasileira (art. 483 da Consolidação das 
Leis do Trabalho – CLT) adotou o sistema da 
enunciação rígida das justas causas (ou taxativa), 
ou seja, só podem ser invocados os motivos previa-
mente previstos pela lei, e nenhum outro, como 
justificativa da rescisão. Aqui temos o mesmo sis-
tema previsto no Direito Penal do nullum crimen 
nulla poena, sine lege.
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Logo, o primeiro desafio que se enfrenta é o 
de se localizar em qual ou quais alíneas do art. 
483 da CLT se enquadraria o fato ocorrido com 
os atletas corintianos.
Vejamos a lei. 
Consolidação das Leis do Trabalho:
“Art. 483 - O empregado poderá considerar res-
cindido o contrato e pleitear a devida indenização 
quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas 
forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, 
ou alheios ao contrato; 
b) for tratado pelo empregador ou por seus 
superiores hierárquicos com rigor excessivo; 
c) correr perigo manifesto de mal considerável; 
d) não cumprir o empregador as obrigações do 
contrato; 
e) praticar o empregador ou seus prepostos, 
contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da 
honra e boa fama; 
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-
-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, 
própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo 
este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivel-
mente a importância dos salários.
§ 1º - O empregado poderá suspender a pres-
tação dos serviços ou rescindir o contrato, quando 
tiver de desempenhar obrigações legais, incompa-
tíveis com a continuação do serviço.
§ 2º - No caso de morte do empregador consti-
tuído em empresa individual, é facultado ao em-
pregado rescindir o contrato de trabalho.
§ 3º - Nas hipóteses das letras ‘d’ e ‘g’, poderá o 
empregado pleitear a rescisão de seu contrato de 
trabalho e o pagamento das respectivas indeniza-
ções, permanecendo ou não no serviço até final 
decisão do processo”.
A própria Lei nº 9.615/1998 também traz os 
deveres dos clubes:
“Art. 34 - São deveres da entidade de prática 
desportiva empregadora, em especial: 
I - registrar o contrato especial de trabalho des-
portivo do atleta profissional na entidade de ad-
ministração da respectiva modalidade desportiva; 
II - proporcionar aos atletas profissionais as 
condições necessárias à participação nas competi-
ções desportivas, treinos e outras atividades prepa-
ratórias ou instrumentais.
III - submeter os atletas profissionais aos exames 
médicos e clínicos necessários à prática desportiva”.
Entendemos que, num exagero de interpreta-
ção, uma eventual reclamação trabalhista poderia 
ser fundamentada nas alíneas c e d do art. 483 da 
CLT e no inciso II do art. 34 da Lei nº 9.615/1998.
Passemos à análise dos dispositivos legais 
citados.
Correr perigo manifesto de mal 
considerável
Pelo noticiado, os atletas do Corinthians che-
garam a se refugiar em cômodos minúsculos no 
Centro de Treinamento, e até um deles, o atacante 
peruano Paolo Guerrero, teria sido agredido fisica-
mente por alguns torcedores.
Por perigo entende-se o estado ou a situação 
de uma pessoa que corre grandes riscos. Este deve 
ser manifesto, ou seja, claro, notório, evidente.
Comentando essa alínea, assim se pronuncia 
Wagner Giglio (1992, p. 330): 
“Pouco importa se o perigo manifesto resulta 
das instalações, das máquinas, do serviço ordenado 
ou da maneira de executá-lo”.
Manifesto é aquele perigo que ameaça a integri-
dade física do trabalhador, não sua saúde, a não ser, 
como leciona Antônio Lamarca, por via reflexa, ou 
seja, se do dano físico sua saúde é prejudicada.
Já mal considerável é aquela situação em que 
o trabalhador corre um risco de dano ponderável, 
Perigo deve ser manifesto, ou 
seja, claro, notório, evidente. 
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podendo se recusar a obedecer a uma ordem ou 
se submeter a um ambiente onde sua integridade 
física corra riscos.
Evidentemente, praticar a atividade de atleta 
profissional de futebol não implica necessaria-
mente riscos à integridade física, mas é uma ativi-
dade na qual os trabalhadores necessitam de pro-
teção, sobretudo aqueles que atuam em grandes 
clubes brasileiros, em razão da paixão que acomete 
seus torcedores.
Nos dias de jogos, os atletas têm proteção de 
seguranças contratados pelos clubes, que evitam 
o assédio dos torcedores, que tanto podem querer 
dar um simples abraço e tirar uma foto como po-
dem agredir um atleta.
Os clubes devem dar total segurança aos seus 
atletas em dias de jogos e nos dias de treinamento. 
No caso do Corinthians, o Centro de Treinamen-
to tem vários seguranças, homens fortes e prepara-
dos para proteger os atletas e garantir o exercício 
de sua atividade profissional.
Logo, para dias normais de trabalho, com a 
afluência apenas de fãs que querem um simples 
autógrafo ou tirar uma foto com o seu ídolo, os 
clubes, e, no caso em discussão, o Corinthians, 
têm um grupo de profissionais que garante a pro-
teção e a segurança dos atletas.
Pelo que foi divulgado, o Centro de Treina-
mento do Corinthians foi invadido por mais de 
cem torcedores, inclusive por meio de cortes em 
telas de proteção, munidos de instrumentos de 
agressão, como paus e ferros. 
Ora, tratou-se de uma situação extraordinária, 
para a qual o clube não poderia estar previamente 
preparado, pois isso foi uma situação extraordiná-
ria para a qual nenhum clube pode manter uma 
segurança efetiva e contínua.
O que deveria o clube fazer na situação supra? 
Para responder a questão, façamos outra. Um 
banco que sofresse uma invasão de mais de cem 
clientes revoltados que quisessem quebrar suas 
instalações e agredir os bancários empregados.
Os bancos mantêm seguranças, mas estes dariam 
conta de barrar o ingresso de um número tão 
grande de clientes revoltados? 
O gerente, nesse caso, deveria chamar a Polí-
cia para que esta, instituição do Estado respon-
sável pela segurança pública, fosse até a agência 
invadida e tomasse as atitudes cabíveis, protegen-
do os empregados, o patrimônio do empregador 
e dos trabalhadores, e prendendo os invasores/
agressores.
O que teriam feito os dirigentes do Corin-
thians? Noticiou-se que estes acionaram a Polícia 
Militar do Estado de São Paulo. Pois bem. Por que 
seria diferente no caso de um banco e no caso do 
Corinthians? Logo, entendemos que não se aplica 
o disposto na alínea c do art. 483 da CLT.
Não cumprir o empregador as obrigações 
do contrato
Ao assinar o contrato de trabalho, o clube assu-
me as obrigações ali constantes e aquelas previstas 
na lei. Deixando de cumpri-las, evidentemente o 
empregador torna-se inadimplente.
Há que se ressaltar que existem duas correntes 
doutrinárias a tratar do tema. Uma entende que a 
expressão “obrigações do contrato” deve ser inter-
pretada restritivamente, ou seja, somente aquelas 
obrigações constantes de um contrato, geralmen-
te escrito; outra dá ao dispositivo legal uma inter-
pretação extensiva, ou seja, não só o que está no 
contrato de trabalho, mas qualquer disposição legal 
descumprida dará ensejo à rescisão do contrato de 
trabalho por justa casa pelo empregado. Sempre 
nos manifestamos no sentido da segunda corrente.1 
Dar segurança para que o atleta exerça suas ati-
vidades é, parece-nos, uma das obrigações do em-
pregador. Logo, como afirmado antes, o Corinthians 
cumpriu tal obrigação, já que mantém corpo de se-
gurança apropriado para situações ordinárias; quan-
do se deparou com uma situação extraordinária, 
1. Vide nosso A justa causa no Direito do Trabalho (1995).
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acionou o Poder Público, no caso a Polícia Militar, e, 
ainda, levou ao conhecimento da autoridade policial 
os crimes cometidos contra seu patrimônio e seus 
empregados, para que esta instaurasse o competente 
inquérito policial, o que de fato ocorreu.
Passemos à análise do art. 34 da Lei nº 
9.615/1998. Entendemos que a situação só poderia 
se encaixar no inciso II do art. 34.
Proporcionar aos atletas profissionais as 
condições necessárias à participação nas 
competições desportivas, treinos e outras 
atividades preparatórias ou instrumentais
Sem dúvida, é dever dos clubes proporcionar 
as devidas condições aos atletas para exercerem 
suas atividades, e nesse caso incluem-se a segu-
rança e as boas condições dos locais de trabalho.
Realmente é a atividade de atleta profissional 
de futebol uma atividade distinta das demais, 
pois envolve a prática do esporte mais popular do 
mundo, sendo seus praticantes ídolos, amados 
e odiados, pessoas que não têm, muitas vezes, 
direito a sair às ruas para um simples passeio em 
um shopping center, pois correm riscos de serem 
assediados e até mesmo agredidos.
Ora, na situação aqui analisada, o Corinthians, 
como visto, cumpriu e tomou todas as medidas 
necessárias para que seus atletas exercessem sua 
atividade profissional com a presença das condi-
ções necessárias exigidas pela lei, e quando se de-
parou com uma situação especial, buscou apoio e 
ajuda no órgão estatal específico e preparado para 
combater crimes: a Polícia.
Por qualquer ângulo que se analise a situação, 
não se pode responsabilizar o Sport Club Corin-
thians Paulista pela invasão do local de trabalho 
e treinamento de seus atletas, bem como pelas 
agressões porventura cometidas contra estes, pois 
as condições normais para o exercício do trabalho 
o clube oferecia, sendo o ocorrido um fato não 
previsível; e quando este aconteceu, a entidade de 
prática desportiva empregadora tomou imediata-
mente as providências esperadas para o caso.
A culpa é elemento essencial da inexecução das 
obrigações, e no caso aqui estudado ocorreu um 
fato alheio à vontade do empregador e imprevisto, 
ou seja, um fato típico de força maior. É claro que a 
responsabilidade do empregador não se limita ape-
nas a situações previsíveis, mas também a fatos não 
previsíveis, mas de ocorrência previsível.
Fato de ocorrência previsível é o protesto de 
torcedores nos estádios em dias de jogos e até 
mesmo nos portões do clube, mas ninguém pode 
imaginar um assalto de uma turba a um local de 
trabalho e estar sempre com um aparato de guerra 
preparado para a repressão.
O ocorrido se deveu a fatores externos total-
mente fora do controle da vontade humana e cau-
sou o impedimento do desenvolvimento normal da 
relação de trabalho, o que isenta o clube, uma vez 
que se tratou de interferência eventual de terceiros. 
Ademais, a própria CLT assim dispõe: 
“Art. 501 - Entende-se como força maior todo 
acontecimento inevitável, em relação à vontade 
do empregador, e para a realização do qual este 
não concorreu, direta ou indiretamente”.
Mozart Russomano (1982, p. 608) legou-nos 
oportuna lição sobre o assunto:
“A força maior na sistemática da Consolidação 
é aquele fato que tem três características: 
a) é irresistível, superando a vontade do em-
pregador, que não concorreu, de nenhum modo, 
para o evento;
b) é imprevisível, surpreendendo tanto o em-
pregado quanto o empregador;
c) afeta ou ameaça a estrutura econômico- 
-financeira da empresa, pois, caso contrário, não 
É dever dos clubes proporcionar 
condições aos atletas para 
exercerem suas atividades.
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há motivo grave que autorize o sacrifício, embora 
parcial, dos direitos do trabalhador”. 
As duas primeiras alíneas mencionadas deixam 
de forma límpida que, em se tratando de situação 
na qual ocorra a imprevisibilidade e a existência 
de uma situação irresistível que supere a vontade 
do empregador, e para a qual este não concorreu, 
estaremos diante de um típico fato de força maior, 
que é, ao que nos parece, o que aconteceu no caso 
ora analisado.
É sempre muito delicado discutir temas jurídi-
cos a partir de fatos que ocorrem envolvendo fute-
bol, pois a paixão clubística acaba por falar mais 
alto, levando a conclusões precipitadas e desprovi-
das de fundamentos técnicos. 
Portanto, eventuais reclamações trabalhistas 
buscando a rescisão indireta dos contratos de tra-
balhos dos atletas estariam fadadas, data venia, a 
serem julgadas improcedentes. 
Esse é o nosso entendimento, SMJ. 
Bibliografia
GIGLIO, Wagner D. Justa causa. 3. ed. São Paulo: LTr, 1992.
RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à CLT. Rio de 
Janeiro: Forense, 1982.
ZAINAGHI, Domingos Sávio. A justa causa no Direito do 
Trabalho. São Paulo: Malheiros, 1995.
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João	Henrique	Cren	Chiminazzo																																																																																						
Advogado graduado pela PUC-Campinas. Mestrando 
em Direito Desportivo pela Universitat de Lleida/
INEFC – España. Membro do Instituto Brasileiro de 
Direito Desportivo (IBDD). Autor/coautor de diversas 
obras sobre Direito Desportivo.

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