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Leituras do Texto Literário - Seminário Антон́ Па́влович Чех́ов Rússia século XIX: um pouco da história • No século XIX, os russos tiveram intensa participação nas guerras que buscavam impedir o avanço do Império Napoleônico. • Apesar de tantas conquistas, os russos vivenciavam a constituição de graves contradições no interior de sua sociedade. Os camponeses e trabalhadores urbanos experimentavam uma situação de miséria que era diametralmente oposta à riqueza de uma pequena elite detentora dos bens de produção e explicitamente protegida pelos poderes do Estado Czarista. Camponeses russos do século XIX - Mujiques • Esse cenário se transformou com a lendária Revolução Russa de 1917, onde os trabalhadores foram paulatinamente tomados pelas doutrinas socialistas. Na época, esse evento causou grande espanto ao restante do mundo ocidental capitalista, que abominava o desenvolvimento de tal experiência em seus domínios. A partir de então, os russos concretizaram a formação de um Estado Socialista. Антон́ Че́хов • Foi um médico, dramaturgo e escritor russo, considerado um dos maiores contistas de todos os tempos. • Nasceu em Tangarog ao sul da Rússia. Seu pai, proprietário de uma venda era muito autoritário e obrigava-o a trabalhar com ele. Mudou-se com a família pra Moscou após o pai falir nos negócios. • Passou por muitas dificuldades e chegou a dormir no chão. • Formou-se em medicina em Moscou. Começou a escrever jovem, durante os estudos. • Morreu na cidade alemã de Badenweiler em 1904. Obra e Marcas Literárias • Tchekhov fez a literatura do século 20 reconhecer o gênero conto como um dos mais importantes da narrativa da época. • Realismo em prosa; • Ele desenhava seus enredos e personagens com certos traços cômicos e por vezes até exagerados, extraindo da narrativa um humor disfarçado, muitas vezes com certos traços de melancolia e tristeza. • Suas obras ridicularizavam o que era considerado moral, normal e de bom senso em sua época. • Sobre o estilo de suas obras, os recursos poéticos e estéticos eram mais condensados pelo autor, porém de forma alguma diminuindo o seu valor. • Através da observação dos fatos, pequenos muitas vezes, ele procurava interpretar os aspectos da existência humana. • “Quando eu escrevo (como costumava repetir Tchekhov), confio inteiramente no leitor, supondo que ele próprio vai acrescentar os elementos subjetivos que faltam ao conto”. • Segundo Tchekhov, “só as pessoas impassíveis são capazes de enxergar as coisas com clareza, isso diz respeito apenas às pessoas inteligentes e dignas; os egoístas e as pessoas vazias já são indiferentes mesmo sem isso”. • Em 1888, Tchekhov recebe o prêmio Púchkin. Citações • Vladimir Nabokov: “As coisas para Tchekhov eram engraçadas e tristes ao mesmo tempo, mas não se pode enxergar a tristeza se não se enxergar a comicidade, pois ambas estão ligadas”. • Virginia Woolf deixa destacado que o escritor russo “é o analítico mais sutil das relações humanas. Quando lemos estas Histórias sobre quase-nada, o nosso horizonte estende-se e ganhamos um espantoso sentido de liberdade”. Análise do Conto: Angústia • Resumo: o conto é focado no velho cocheiro Iona que tenta comunicar a alguém sua dor por ter perdido um filho. Cada tentativa que ele faz de dividir com os outros sua tristeza, vai resultando inútil. Narração • Narrador onisciente que narra em 3° pessoa. Na minha opinião o narrador tem a visão de todos os lados da historia conhece bem os personagens e seus sentimentos também. Descreve todos os acontecimentos com muita riqueza de detalhes. É importante ressaltar que narrador deixa lacunas em relação a morte do filho, dúvidas em relação á sua família, a casa onde mora. • ―O cocheiro de uma carruagem solta impropérios; um transeunte, que atravessou a rua correndo e chocou-se com o ombro contra a cara do rocim, lança um olhar rancoroso e sacode a neve da manga. Na boléia, Iona parece sentado sobre alfinetes e aponta com os cotovelos para os lados; seus olhos tontos perpassam pelas coisas, como se não compreendesse onde se encontra e o que está fazendo ali.’’ • ―É preciso contar como o filho adoeceu, como padeceu, o que disse antes de morrer e como morreu... É preciso descrever o enterro e a ida ao hospital, para buscar a roupa do defunto. Na aldeia, ficou a filha Aníssia... É preciso falar sobre ela também... De quantas coisas mais poderia falar agora?‖ Vozes • O cocheiro Iona Potapov está completamente branco, como um fantasma. Encolhido o mais que pode se encolher um corpo vivo, está sentado na boléia, sem se mover. • A neve molhada torna a pintá-lo de branco, juntamente com o rocim. • Iona afasta-se alguns passos, torce o corpo e entrega-se à angústia... • - Para a Viborgskaia – repete o militar. • - Cocheiro, você é casado? – pergunta um dos compridos. • - Esta semana... Assim, perdi meu filho! • O cocheiro de uma carruagem solta impropérios. • Começam a discutir a questão: dois deles irão sentados, e quem vai ficar de pé? • Não pode deixar de meditar quem foi arrancado do arado, da paisagem cinzenta e familiar, e atirado nessa voragem, repleta de luzes monstruosas, de um barulho incessante e de gente correndo... • A confusão das ruas torna-se mais barulhenta. • Iona ouve, mais que sente, os sons de uma pancada no pescoço. • Está novamente só e, de novo, o silêncio desce sobre ele. • Não haverá, entre esses milhares de pessoas, uma ao menos que possa ouvi-lo? Personagem: Iona • Não pode ser classificada como uma personagem plana porque não possui uma única característica ou qualidade imposta com determinado objetivo pelo escritor. Não é uma personagem que permanece inalterada diante das situações. Mesmo sendo usado como um objeto pelo militar e pelos jovens. Iona tenta sorrir ao puxar assunto com o militar, mesmo ele desviando a fala do cocheiro com xingamentos, Iona pensa em voltar a falar sobre o assunto começado. • Ele aceita levar os 3 jovens para tão longe por 20 copeques, mesmo não tendo lucro algum, pelo contrário, tendo prejuízo. Mas o cocheiro não demonstra se importar com a quantidade do dinheiro, pois o que ele mais deseja é ter passageiros para poder tentar falar sobre sua angústia. ―Iona puxa as rédeas e estala os lábios. Vinte copeques não é o preço justo, mas ele não está para pensar em preço... um rublo ou cinco copeques, para ele dá na mesma agora – haja passageiros...‖ • Ele ainda tenta rir duas vezes sobre o assunto dos rapazes, no objetivo de conseguir entrosar e receber alguma atenção. • O autor deixa lacunas no conto que demonstram que o cocheiro não vive com a família dele. ―Iona torce a boca num sorriso, força a garganta e rouqueja: — É que... patrão... coisa... o meu filho... se finou esta semana. — Hum!... E de que foi que ele morreu? Iona volta-se de corpo inteiro para o passageiro e diz: — E quem sabe lá! Vai ver, foi a febre... Ficou três dias no hospital e se finou... É a vontade de Deus.‖ • Iona, apesar de parecer conformado com a situação em que se encontra, ainda procura ser ouvido por alguém, qualquer um. Isso mostra uma personagem bem mais trabalhada e próximo a verossimilhança. É o desfecho do conto. ―Num dos cantos, acorda um cocheiro moço, pigarreia e estende a mão para o balde de água. — Deu vontade de beber? — pergunta Iona. — De beber, pelo visto! — Pois é... Bom proveito.. Pois eu, mano... morreu meu filho... Soube? Esta semana, no hospital... Que história! Iona olha para ver o efeito que produziramsuas palavras, mas não vê nada. O moço puxou a coberta por cima da cabeça e já dorme. O velho suspira e se coça. Assim como o moço tinha vontade de beber, ele tem vontade de falar.‖ • Ele resolve ver a égua, o único ser vivo que esteve com ele durante toda sua angústia e, ali, ele encontra sua tão esperada oportunidade de falar. ―Iona cala-se um pouco, depois continua: — Assim é, mana eguinha... Não temos mais Kuzmá Ionitch... Foi-se desta para melhor... Pegou e morreu, à toa... Agora, imagina tu, por exemplo: tu tens um potrinho, e tu és a mãe desse potrinho... E de repente, imagina, esse mesmo potrinho se despacha desta para melhor... Dá pena ou não dá? A eguazinha mastiga, escuta e esquenta com seu bafo as mãos do dono... Iona se deixa arrebatar e conta-lhe tudo...‖ Personagem: Militar • Primeiro cliente do cocheiro no conto. É a personagem de costume, apresentada de forma que se distinguem de outras formas de apresentação, com traços marcados fortemente: a imagem de um militar, a expressão séria que parece aborrecida com algo, o ar de superioridade, que é a sua característica. • A impressão que o militar causa é ser imposto como ferramenta pela nobreza para oprimir a baixa classe social. Como possui um único objetivo no conto, é classificado como uma personagem plana, permanece inalterado e não muda em nenhuma circunstância. Do começo ao fim de sua aparição mantém a postura opressora. • Carrega uma imagem superior em relação à Iona, ele chega gritando seu local de destino e irrita-se com a quietude e distrações do cocheiro, sempre dirigindo a ele palavras ofensivas e deboches e fazendo deboches dos outros também, como quando ele fala sobre a pessoa que atravessa a rua e quase é atropelado pela carruagem de Iona. • ―Um cocheiro de carruagem particular pragueja ao cruzar, e um transeunte, que atravessara a rua correndo e batera com o ombro no focinho da égua, olha furioso e sacode a neve da manga. Iona se contorce na boléia como se estivesse sentado em alfinetes, joga os cotovelos para os lados, e seus olhos correm como possessos, como se não compreendesse quem é e por que está ali. — Como todos são canalhas! — zomba o militar. — Só procuram abalroar-te ou se jogar debaixo do teu cavalo! É que estão todos de conluio contra ti!‖ Personagem: os 3 jovens • Os 3 passageiros jovens que entram na carruagem logo depois do militar e são a representação, também, das classes mais privilegiadas, aqueles que só zombam, bebem e tratam camponeses e trabalhadores como meros animais. ―— A cabeça me estala... — diz um dos compridos. Ontem, na casa dos Dukmássov, nós dois, o Vaska e eu, limpamos quatro garrafas de conhaque. — Não entendo por que mentir! — enfeza o outro comprido. — Mentes que nem um animal! — Que Deus me castigue se não é verdade. — É tão verdade quanto um piolho tossir. — Eh... eh... — ri Iona. — Que senhores alegres...‖ Características Literárias • O conto é um retrato do abismo social da sociedade russa da época. O velho cocheiro e sua égua inicialmente e durante a narrativa dão impressão de serem meros objetos, tratados desse modo pelos outros personagens. • A ironia por vezes melancólica e triste do autor está presente desde o início do conto: "— Olha para a frente, diabo! grita uma voz na escuridão. Não enxergas? Cachorro! Abre os olhos!" ―— Que diabo!… exclama o corcunda. Não queres correr, "sua" peste? É assim que se corre? Dá-lhe com o chicote! Arre! Diabo! Dá-lhe uma boa chicotada! "Cocheiro! És casado ? pergunta um dos grandes. ―— Eu! Hi, hi, hi!… senhores alegres!… Presentemente, a minha mulher é a terra fria, … hi, hi, ho, ho, ho! Ou melhor, o túmulo! Vejam só! O meu filho morreu, e eu vivo ! Que besteira! A morte errou a porta… Em lugar de entrar na minha casa, entrou na casa de meu filho…" • Mesmo sem muitos elementos subjetivos, o conto permite ao leitor uma grande experimentação das sensações vividas por Iona, como a fome e o frio, e inclusive a sua melancolia: "— Estás comendo? pergunta ele ao cavalo, ao ver os seus olhos, que brilham. Vamos, come, come! Já que não ganhamos para a nossa aveia, comamos feno… Sim!… Eu já estou muito velho para trabalhar como cocheiro… O meu filho, isso lhe ia bem, mas não a mim. Ele era um verdadeiro cocheiro!. .. Bastava-lhe viver…" • Nota-se também devido à maestria com que Tchekhóv conduz a narrativa, que a personagem silenciosa representada pela figura da égua, mostra-se mais humana do que todos os personagens cruzados por Iona, desde o militar até o jovem sonolento em que ele tenta travar conversa no albergue. De uma forma irônica, seca e perto da acidez, na cena final, Iona finalmente encontra "alguém" para "confiar a sua dor." "— Sim, meu velho cavalo; é assim, — mas Kuzma Ionyteh!… Ele quis deixar-nos pra trás. A doença agarrou-o assim, de repente, e ele morreu sem razão.’. "Escuta, suponhamos que tenhas um potro, que sejas a sua mãe, e que, de repente, o teu potro te deixe pra trás; não seria uma desgraça?…" O cavalo come, escuta e resfolega sobre as mãos do dono. Iona se comove e lhe conta tudo." ―Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza. - Sempre é dia de ironia no meu coração.‖ – Belchior Bibliografia • Um Homem Extraordinário e Outras Histórias - tradução e apresentação de Tatiana Belink • Ironia e suas refrações – Camila da Silva Alavarce • 7 Clássicos Russos - Elena Vássina • A personagem de ficção – Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes • http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/anton-pavlovitch- tchekhov/ • http://www.historiadomundo.com.br/russa/
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