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SAMARCO REPUTAÇÃO PERDIDA Como a tragédia em Mariana abala a Samarco e a mineração (1)

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Como a tragédia em Mariana abala 
a Samarco e a mineração 
O acidente ambiental que pode ser o mais grave da história do país abala a 
cidade mineira de Mariana, a empresa Samarco e o setor de mineração 
Por Flávia Furlan, Leo Branco 
access_time30 nov 2015, 04h56 
 
Mariana (MG): 11 mortes, 12 desaparecimentos e 601 desabrigados (Douglas Magno/AFP Photo/) 
São Paulo – Até a tarde do dia 5 de novembro, a mineradora Samarco desfrutava de 
prestígio em Mariana, uma das cidades históricas que formam o quadrilátero ferrífero 
de Minas Gerais. Desde a década de 70, a empresa opera um complexo de minas e 
usinas de beneficiamento de minério de ferro no município. A Samarco sempre foi 
bem-vista por ali. 
Na crise recente, causada pela queda no preço do minério, ela demitiu apenas 23 dos 
1 900 empregados em Mariana — número irrisório para causar impacto na economia 
local. Neste ano, a prefeitura conseguiu da empresa uma doação de 3 milhões de reais 
— à parte dos tributos que recolhe ao Fisco do município — para melhorar o 
abastecimento de água dos 59 000 habitantes. 
A Câmara Municipal havia anunciado recentemente uma menção honrosa à Samarco 
pelo envolvimento com a comunidade. A boa imagem desmoronou com o 
rompimento da barragem de Fundão e o transbordamento do dique de Santarém, dois 
depósitos de rejeitos da empresa. 
Um mar de lama cobriu o distrito de Bento Rodrigues, causando 11 mortes, 12 
desaparecimentos (pelo que se sabia até o dia 17, quando esta edição fechou) e 
deixando 601 moradores desabrigados. “Estávamos surfando uma onda muito boa”, 
diz um executivo da companhia que prefere não ser identificado. “Mas agora a 
Samarco não é mais uma mineradora. Ela se tornou uma empresa de ajuda 
humanitária. Os funcionários foram dispensados, mas servem como voluntários na 
tragédia. Levamos um tombo e não sabemos se vamos nos levantar.” 
A dúvida sobre o futuro da Samarco é consequência imediata do acidente, cujas 
causas estão sob investigação. A empresa, uma parceria meio a meio entre a 
brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, era uma estrela da mineração. Em 
2014, o lucro líquido da Samarco foi de 1 bilhão de dólares, gerando um retorno de 
57% sobre o capital investido. 
A capacidade da mineradora é de 30 milhões de toneladas ao ano — 2% da oferta 
global. Sua ausência do mercado após o acidente pode fazer o preço do minério de 
ferro chegar perto de 50 dólares a tonelada, 7,5% acima do patamar atual, segundo 
estimativa da consultoria Tendências. 
Para a Samarco, sobram os custos. A empresa teve 300 milhões de reais do caixa 
bloqueados e acordou com o Ministério Público mineiro destinar 1 bilhão para reparos 
emergenciais. A conta não para aí. O Ibama deve aplicar uma multa de 250 milhões. 
O maior gasto deve vir com indenizações e a limpeza do rio Doce, transformado numa 
torrente de lama de 600 quilômetros até o litoral do Espírito Santo. Os cálculos desses 
custos variam de 2 bilhões de reais, segundo a agência de classificação de risco Fitch, 
a 14 bilhões, conforme estimativa de uma comissão do Congresso que discute novas 
regras para a mineração. 
A verdade é que não se sabe aonde a conta pode chegar. No mundo desenvolvido, as 
cifras envolvidas num acidente ambiental de grande porte são enormes. 
Recentemente, a petroleira britânica BP concordou em pagar uma compensação de 
18,7 bilhões de dólares ao governo americano e a cinco estados pelo vazamento no 
Golfo do México em 2010. 
No curto prazo, a Samarco tem condições de arcar com a fatura: conta com 1,1 bilhão 
de dólares de cobertura de seguros e 2,2 bilhões de reais em caixa. No horizonte da 
empresa, o próximo grande pagamento de 1 bilhão de dólares, para amortizar sua 
dívida estimada em 3,7 bilhões, só ocorrerá em 2018. “Além disso, a Vale e a BHP 
podem fazer aportes e recolher menos dividendos da empresa”, diz Jay Djemal, 
diretor da Fitch para a América Latina. 
Esse cenário é válido se a Samarco reativar logo a exploração. Do ponto de vista 
técnico, ela pode voltar a operar no ano que vem. O buraco da mina parada é capaz de 
receber dois anos de rejeitos — o suficiente para o reparo das barragens, que, em 
média, dura até 18 meses. No entanto, é preciso autorização de órgãos públicos. 
No entendimento da Fitch, o processo será menos demorado se for provado que a 
causa do acidente foi natural, como um abalo sísmico. O imbróglio é se a Samarco for 
considerada negligente, o que causaria mais comoção popular. 
Um relatório do banco Deutsche Bank considera que, na melhor das hipóteses, a 
empresa retomará a operação em 2019. Na pior, não conseguirá apoio suficiente para 
reiniciar as atividades e vai parar de vez. Procurada, a diretoria da Samarco não deu 
entrevista. 
Uma boa resposta à crise é essencial para restabelecer a relação com a comunidade. 
Na coletiva de imprensa realizada em 11 de novembro, reuniundo os presidentes 
Murilo Ferreira, da Vale, Andrew Mackenzie, da BHP Billiton, e Ricardo Vescovi, da 
Samarco, todos disseram que a empresa só deverá voltar a operar se for esse o desejo 
da população local. 
A Samarco já fez 923 atendimentos psicológicos, forneceu materiais para 300 crianças 
voltarem às aulas e recolheu espécies de peixes do rio Doce. “Se a resposta continuar 
rápida, o dano à reputação será reduzido”, diz Ana Luísa Almeida, diretora da 
consultoria americana Reputation Institute. “Outro ponto que importa é se a causa do 
acidente foi técnica ou ética. O primeiro caso é mais aceito pela população.” 
A postura das controladoras também é importante. Aqui, a Vale deixa a desejar. Um 
ex-presidente de uma grande mineradora com atuação no Brasil considera que a 
resposta da BHP foi mais rápida e objetiva do que a da mineradora brasileira — a 
Vale chegou a alegar que a responsabilidade era apenas da Samarco e que não tem 
influência em sua operação. 
De fato, os diretores da Samarco tinham autonomia para definir medidas, como 
reuniões mensais com o departamento de segurança para reforçar o tema. “No 
planejamento de 2015, houve um esforço para cortar custos”, diz o engenheiro Mauro 
Carvalho, que trabalhou na empresa 27 anos, até junho de 2015. “Mas os 
investimentos em manutenção das barragens, considerados prioritários, ficaram 
inalterados.” 
Segundo Carvalho, a BHP e a Vale faziam auditorias a cada ano em uma área 
diferente da Samarco. O acidente deve forçar mudanças na gestão. Numa 
teleconferência com analistas em 16 de novembro, o presidente da BHP, Andrew 
Mackenzie, disse que é preciso melhorar a governança. “Nós certamente temos uma 
mina potencialmente viável”, afirma Mackenzie. “Desde que possamos encontrar uma 
maneira de fazer com que os rejeitos sejam descartados com segurança.” 
Num cenário de fechamento da Samarco, os moradores de Mariana estariam entre os 
maiores prejudicados. Perto de um terço da arrecadação do município vem da 
empresa: são 6 milhões de reais por mês. A atividade de mineração é responsável por 
8 de cada 10 reais que entram nos cofres da cidade — a Vale também tem uma 
operação no município. O restante vem de comércio e turismo. 
“Teremos de cortar programas como os de escola em tempo integral e atendimento de 
médicos na casa das famílias”, diz o prefeito Duarte Júnior, um advogado de 35 anos 
que assumiu o cargo em junho, depois que o antecessor foi cassado por improbidade 
administrativa. “Defendemos que, depois de identificada a culpa e de assumida a 
responsabilidade, a empresa volte a funcionar.” 
Independentemente do futuro da Samarco, uma coisa é certa: o acidente deve mexer 
com todo o setor de mineração, responsável por 4% do produto interno bruto e quase 
200 000 empregos. A começar pelo aumento norigor da fiscalização. Em outubro de 
2013, um laudo técnico encomendado pelo Ministério Público de Minas Gerais 
alertou para o risco de rompimento na área da Samarco porque seus depósitos estão 
próximos de uma mina da Vale — isso poderia causar processos erosivos e danificar 
as barragens. 
A Samarco argumentou que as estruturas seguem a recomendação da lei para 
segurança de barragens, de 2010, e que fiscalizações recentes, contratadas por ela 
própria, não detectaram falhas. “A Samarco seguia a lei”, diz Gilberto Calaes, diretor 
da consultoria de mineração Condet. “A questão é entender se as fiscalizações estão 
sendo feitas com qualidade.” 
Após o desastre, funcionários do Departamento Nacional de Produção Mineral 
reclamaram em carta das condições de trabalho: 430 técnicos monitoram 27 000 
empreendimentos por amostragem no país — só em Minas são quatro empregados 
para checar 300 barragens. 
Em discussão no Congresso há três anos, um novo marco regulatório prevê mais 
obrigações legais para as mineradoras, como a formulação de um plano de 
recuperação de resíduos despejados em barragens, a contratação de seguro ambiental e 
a destinação de taxas setoriais para elevar 12 vezes o orçamento do Departamento 
Nacional de Produção Mineral, para 700 milhões de reais. 
“Tudo isso deve aumentar as condições e a base legal para a fiscalização”, diz o 
deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), relator do projeto. Do rastro da destruição 
causada pelo que já é tido como o maior desastre ambiental do país, espera-se pelo 
menos que boas lições sejam tiradas para o futuro. 
COMO A SAMARCO PODERIA TER CAUSADO MENOS PREJUÍZO À SUA 
REPUTAÇÃO CORPORATIVA? (*) veja autora desta opinião no final deste artigo. 
Pouco mais de um mês depois de um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, 
ocorrido em (05 de novembro de 2015) a sociedade e a mídia brasileira ainda cobram respostas 
da mineradora Samarco, empresa controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP.Gerenciar 
crises empresariais requer muito cuidado, planejamento e eficiência, principalmente quando 
envolvem acidentes com vítimas fatais e danos ao meio ambiente. 
 O rompimento de duas barragens da mineradora, localizadas em Minas Gerais, causou 15 
mortes, 11 toneladas de peixes mortos, cerca de 1270 desabrigados, 35 cidades atingidas e dois 
mil hectares de vegetação destruída. 
O caso da Samarco é um exemplo de grande crise devido à dimensão do fato, consequências, 
repercussões mundiais e pessoas atingidas. Mas a verdade é que qualquer organização está 
vulnerável a crises, sejam elas grandes ou pequenas. E, se a empresa não se preparar bem pode 
sofrer danos ainda maiores no longo prazo. A Samarco teve um prejuízo enorme, não apenas 
financeiro, mas também um enorme desgaste reputacional. Para se ter ideia, no dia seguinte ao 
fato, as ações da Vale tiveram desvalorização de 6% na Bovespa. 
Existem alguns passos básicos para um efetivo gerenciamento de crise através da comunicação. 
A Samarco, na maioria dos momentos, não soube aplicá-los e, por isso, teve sua imagem ainda 
mais prejudicada diante da população e da mídia. As primeiras ações foram lentas para uma 
empresa que lida com um negócio de alto risco.O primeiro comunicado, feito pelo presidente da 
empresa, foi realizado apenas no final do dia em que as barragens se romperam. A Vale reagiu 
como se a tragédia em Minas Gerais fosse um fato inesperado e, o discurso do presidente não 
convenceu. 
As empresas, independente do segmento ou porte, precisam antecipar-se às crises. O momento 
pré-crise é um dos mais importantes para gestão. Realizar sessões de brainstorming para entender 
as vulnerabilidades da empresa e possíveis momentos de crise é fundamental para evitar 
situações piores. Identificar, entre os funcionários e as áreas, uma equipe para gerenciarpossíveis 
crises e, a partir disso, se certificar que essas pessoas estarão sempre treinadas e preparadas, além 
de estabelecer porta-vozes com facilidade de comunicação, também faz parte desse processo. 
Os especialistas em gerenciamento de crise possuem como dogma queo maior foco diante da 
crise é não causar mais danos – “do no harm“. Esse é o primeiro passo para quem quiser 
gerenciar sua crise da melhor maneira. O segundo passo seria uma comunicação transparente, 
assumindo a responsabilidade pelos danos causados. A Samarco deveria ter realizado um 
discursoimediato em que deveria conter: reconhecimento da gravidade do problema, 
reconhecimento de culpa interna, promessa real de busca por soluções eficazes. 
As mineradoras, em especial, tinham que se preparar para eventos como esse. Um acidente como 
esse pode acontecer com diversas outras mineradoras, seja em escala maior ou menor, e os 
gestores dessas empresas estão cientes dos potenciais riscos. A Samarco não demonstrou ter uma 
rotina de combate a desastres ou se quer uma equipe de gestão de crise preparada.A empresa 
deveria ter, antes mesmo do ocorrido, um gabinete de crise instalado, conectado com o governo 
do estado, prefeitura, defesa civil, bombeiros, secretarias de meio ambiente, Ministério Público e 
demais órgãos envolvidos. 
A Vale e a BHP divulgaram, ainda, em nota, o comunicado de que se comprometeriam apoiar a 
Samarco a criar um fundo de emergência para trabalhos de reconstrução e para ajudar as famílias 
e comunidades afetadas. Infelizmente, isso começou a ser feito há poucos dias, por imposição do 
Ministério Público. 
Não posso deixar de ressaltar que, inicialmente o trabalho de condução à crise de imagem, feito 
pela Samarco, foi relativamente organizado e correto. Eles substituíram o site oficial da empresa 
por um hotsite com vídeo de mensagem do presidente, informações sobre ações assistenciais, 
contato de uma Central de Relacionamento, comunicados, boletins informativos, links de acesso 
para as redes sociais e contatos dos assessores de imprensa do grupo. Além disso, treinaram e 
disponibilizaram porta-vozes para dar explicações em coletivas de imprensa, entrevistas e nas 
redes sociais. Trabalho que seria completo, se tivessem se preocupado em notificar e monitorar 
essas redes online com destreza e eficiência diante de uma situação tão complexa e que requer 
respostas, não mais polêmicas. 
A mineradora não chegou a assumir a culpa, não divulgou causas ou motivos que possam ter 
levado ao rompimento das duas barragens, impediu alguns jornalistas de participarem de suas 
coletivas e várias indagações nas redes sociais ficaram sem respostas. Esse tipo de atitude vai 
contra, diretamente, às regras básicas de gerenciamento de crise. Além disso, em uma tentativa 
desesperada de amenizar a situação criaram a campanha na internet #SomosTodosSamarco, 
comparando a tragédia com a situação do lixo jogado nas ruas e se mostrando orgulhosos por 
gerar muitos empregos. Conteúdo inapropriado diante das circunstâncias. 
A Samarco demonstrou não estar preparada para lidar com este momento de crise da 
própria imagem. É evidente que a reputação da empresa sofreria de uma forma ou de outra, mas 
sem dúvida, se tivessem conduzido a situação de outra maneira, poderiam ter passado aos 
brasileiros uma impressão menos negativa e criado a possibilidade de recuperar confiança na 
empresa e nos seus gestores em longo prazo. Se os seus gestores ainda possuem esperança de 
recuperação reputacional, o mais importante a partir de agora é fazer um plano de “re-
confiança”, que vem relacionado diretamente à uma comunicação transparente. 
________________________________ 
(*) Julia Sousa é diretora de desenvolvimento de negócios da Status Labs - empresa de 
gerenciamento de reputação on-line, marketing digital e relações públicas dos Estados Unidos é 
autora deste artigo sobre como a Samarcodeveria fazer para minimizar os danos a sua imagem 
corporativa, e este artigo foi retirado do google, matéria veiculada na TV Administradores.com, 6 
de fevereiro de 2016 , às 18h11

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