Educação física temas pedagógicos - Silvino Santin

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LIVRO “EDUCAÇÃO FÍSICA: TEMAS PEDAGÓGICOS”
Introdução:
Obra: conjunto de reflexões filosóficas: E.F como processo de construção da humanidade corporal do homem.
Cinco abordagens sobre temas pedagógicos na E.F.
Reflexões inspiradas em preocupações do cotidiano, não segue normas da metodologia científica.
Conversa com os disciplinadores de inteligências e com domesticadores de corpos
Alfabetização tradicional: início da caminhada de humanização.
Necessidade de entrar no mercado de trabalho (“trabalhador eficiente”), sem preocupação com acesso à cultura.
Dominar a língua não é suficiente, é necessário dominar a escrita.
Alfabetização = cidadania.
Atividade intelectual dicotomia corpo e mente disciplinar inteligências dentro de determinados modelos de pensar, aprender e saber apenas o que é quantificado e mensurado.
Rigor científico sistema produtivo da sociedade industrial.
Legitimação de um discurso universalizado exclui/interdita qualquer outro que se opõe ao raciocínio lógico e conceitual controle sobre o pensar e o falar.
Inteligência “objeto que precisa ser acionado pela racionalidade”.
Para o autor: outras inteligências, neutralizadas pelo monopólio do pensamento racional. Inteligência = fonte de criatividade humana.
Corporeidade = não contemplada na alfabetização tradicional; tratada de forma secundária, depende das atividades intelectuais.
Alfabetização necessita de corpos dóceis, submissos, neutralizados, além de fortes e saudáveis corpos fracos e subnutridos não são capazes de aprender.
Educação Física e Alfabetização * Ginástica	- domínio do corpo
							- reforço da inteligência racional
							- busca por padrões
					* Esporte 	- leis da vida x leis da física
							- máximo rendimento
							- importância resultado
Objetivo do capítulo: chamar a atenção para a necessidade de articular indissoluvelmente movimento e inteligência.
Retóricas e aporias em Educação Física
Educação Física marcada por tarefas disciplinadores e técnico-científicas.
Deixa de ser disciplinadora (ginástica) para ser treinadora (esportes).
Década de 1980: papel da EF questionado:
- Falta de estatuto epistemológico
- Papel no fortalecimento de injustiças sociais
Surgimento de novo discurso e consequentemente, novas aporias
1 – Área epistemológica
Questionamentos: definição de EF = torná-la ciência, com conhecimentos específicos – por que agora?
Ciência da EF concretizada pelo movimento humano = força motora, sistema mecânico.
Ciência não é proclamação, é construção.
Para o autor: necessário se dedicar ao desenvolvimento do homem inteiro.
2 – Área ideológica
Ideologia como discurso radical e fechado em si mesmo, sem autocrítica, ortodoxa.
Cria dualidades ou as pessoas são adeptas à ideologia ou são alienados/ingênuos.
Progressistas x reacionários não há espaço para outras posições.
EF: necessário manter-se perspicaz e corajosa, manter espírito crítico e abertura à autocrítica; renovação dos conhecimentos e consciência.
3 – Área pedagógica
Questão: a partir de quais teorias pedagógicas se dá o ensino da EF?
Percepção da diferença: conteúdos cognitivos x gestos desportivos dualismo humano teorias pedagógicas não fazem parte do universo da EF;
A aprendizagem corporal ocorre sem teorias científicas.
As estruturas construídas “artificialmente” garantem maior controle da realidade.
Para autor: movimento é um aprendizado que não pode ser decorado, medido, calculado, mas sim pela execução do que se sabe.
Possibilidade de aprendizagem por construção corporal, construção do saber enquanto homem inteiro.
Em busca de um currículo para a Educação Física
Universidade brasileira sofre do mal da ineficiência.
Solução: reforma curricular = decepção imediata = por quê?
Autor busca explicação para o fenômeno em dois momentos.
1º - Obstáculos à reforma curricular
Por que reformar o currículo? Profissionais egressos são mal preparados.
Atualizou-se o currículo, com adequações e atualizações de conhecimentos científicos, mas sem preocupação com seu significado e função.
Para autor: currículo não é apenas conjunto de conhecimento é necessário qualificar o corpo docente e o currículo ser dinâmico para se adaptar a novas situações.
Mais obstáculos:
- Formação do currículo a partir da demanda do mercado de trabalho,
	- Falta de materiais e condições,
	- Universidade “viver” de tarefas burocráticas.
2º - Caminhos e soluções
Inventar EF: atualmente, possui perfil parcial, serviçal, instrumental.
- Fundamentos que sejam capazes de sustentar a EF;
- Fundamentos de autonomia, repensar o ser humano como unitário, sem dualidades.
Repensar a corporeidade: nova EF entende o corpo como vivo; conhecimento sobre o corpo deve descartar os métodos/interpretações matemáticas; leitura de si e dos outros sem mediações.
A ecologia: atitudes de respeito aos ecossistemas do universo, sem perspectiva de dominação da natureza. Na EF, corpo entendido com ecossistema.
Escola democrática e Educação Física
Uso indiscriminado da palavra “democracia” qual sua definição correta?
Busca por instrumentos que denuncie falsas posturas democráticas.
Analisar processo de conceitualização alcançar compreensão mais ampla da problemática procura-se a essência da coisa, e não sua transitoriedade. 
Compreensão de escola democrática não é apenas analisar os conceitos, é necessário partir da realidade existente.
A escola democrática
Apresentada como capaz de construir uma sociedade mais justa.
Para isso, necessário desempenhar tarefas;
Preocupação com as camadas populares;
Compromisso com transformação de ordem social;
Conscientizar a população sobre seus direitos;
Preparar a população para o exercício pleno da cidadania.
Escolas atuais = fracasso na tentativa de preparar para cidadania.
Necessário recomeçar o desafio e voltar a refletir sobre atividades pedagógicas.
Algumas contradições
Negação desta tarefa. Empecilhos:
- A imagem do professor;
- Organização da sala de aula;
- Natureza da função da instituição escolar = não nasceu como transformadora, mas como conservadora da ordem social. Passagem contraditória = alunos com dificuldades para participação, e ao mesmo tempo não se pensa em formar um agente de transformação.
É necessário ter sensibilidade com aspirações da população.
Aspirações das camadas populares se tornaram as mesmas da classe dominante, graças à massa publicitária?
A criação da escola democrática
Escola democrática resultado de criação constante e com participação geral.
Participação: competência em todos os níveis de formação humana, vinculada aos elementos que possibilitem aos indivíduos participarem.
Através de atividades escolares = desenvolvimento de competências para exercício da cidadania.
Sensibilidade para escutar o que pensar e sonham as camadas populares pesquisa sobre imaginário social.
Primeiro passo: preparar para o exercício da cidadania.
A situação da Educação Física
De que maneira a EF poderia contribuir para construir a escola democrática?
1º) EF como disciplina: não pode ser tratada com as demais; a diferença garante a especificidade.
- Conteúdo específico: movimento humano situação privilegiada.
- Utilização dos espaços: o modo de ocupá-lo e suas significações.
- Corpo: universo ilimitado de compreensões. Em movimento = riqueza incalculável = multiplicidade de alternativas.
A intencionalidade das pessoas e a Educação Física
Compreensão da EF depende da intencionalidade de quem a pratica.
EF extrapola a sala de aula (clubes, academias etc).
Atividades físicas pensadas como meras ações motoras.
Movimento e corpo: intencionalidade, ideologia, valores das pessoas. O movimento é aceito como algo natural, corpo visto como utensílio.
Desafio da tarefa de professor: criatividade, inventividade, compromisso, inspiração de situações do cotidiano da escola.
Alfabetização e cidadania
Alfabetização é um tema que se tornou habitual.
Por que não pensar/construir alfabetização?
Alfabetizaçãodeve ser uma criação, invenção original.
Perigos da mesmice = analfabeto é aquele que não sabe ler/escrever?
A fala dos termos: alfabetizar como processo técnico. Para Paulo Freire, alfabetizar é um processo de conscientização e politização. “Aprender a ler o mundo e escrever discursos”. Alfabetizar não é apenas obter acesso ao mundo científico, mas poder discutir valores e participar ativamente da sociedade.
Tradição ensinante: alfabetizar = adequar o homem útil à sociedade, torná-lo recurso produtivo; aumentar a eficiência e exploração do homem.
A outra alfabetização: vinculada à realidade da pessoa. Aprender as palavras de forma inseparável da sua experiência.
Diálogo: não há ensinante/ensinado, o diálogo precisa começar de um ponto comum entre os envolvidos.
O pensar crítico: revela a atitude inteligente de descobrir os méritos e os limites de qualquer realidade; significa denunciar/anunciar; alfabetizar criticamente = aperfeiçoar o discernimento.
A cidadania: compreender a alfabetização como um momento de construção da cidadania; esta não pode ficar restrita a conceitos abstratos e à esfera jurídica.
A alfabetização é elemento indispensável para alguém que seja um cidadão, numa sociedade científica e técnica cujo critério último da verdade e de justiça é a cientificidade.
Atuar na alfabetização significa alimentar a esperança no empenho, acreditando e agindo para o aperfeiçoamento da vida humana.