Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA Prof. Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos EAE-0111 Fundamentos de Macroeconomia (Curso de Administração de Empresas) Turma 29 2º. Semestre 2014 1 1 Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e-mail: masv@usp.br tel: 11- 30916057 2 3 Ver “Anotações” abaixo dos slides. (clique em “Exibir” e “Anotações”). 3 3 4 CONCEITO DE MACROECONOMIA FUNDAMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA INSTRUMENTOS DE POLITICA ECONÔMICA CORRENTES DE PENSAMENTO ECONÔMICO Índice 4 4 CONCEITO DE MACROECONOMIA 5 Anotações : _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 6 Conceito de Macroeconomia A Macroeconomia é o ramo da teoria econômica que estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados nacionais Portanto, estuda o comportamento da economia como um todo. A parte relativa à determinação e medição das variáveis macroeconômicas é a CONTABILIDADE SOCIAL, que refere-se a valores já efetivados, realizados (como na contabilidade privada). Dizemos que são valores definidos EX POST (a posteriori, após realizados). A parte do comportamento dos agregados, de como são afetados pela política econômica, de como são previstos, é a TEORIA MACROECONÔMICA propriamente dita, que considera valores planejados, teóricos, aos quais chamamos de valores EX ANTE (a priori, antecipados). Ou seja, são valores previstos para as variáveis macroeconômicas, ao início de um dado período. 6 6 Anotações : _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 7 Contabilidade Nacional: definição e medição do PIB, Índices de Inflação, Emprego, Consumo Agregado, Poupança Agregada, Investimento Agregado, Agregados Monetários, Taxa de Juros, Exportações, Importações, Taxa de Câmbio. Instrumentos de Política Macroeconômica: -Política Monetária -Política Fiscal -Políticas Externas: -Política Cambial -Política Comercial -Política de Rendas Análise Agregada de Mercados: -Mercado de Bens e Serviços, - Mercado Monetário, - Mercado de Trabalho - Mercado Externo (Macroeconomia Aberta) Tópicos abordados em Macroeconomia 7 7 Anotações : _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Macroeconomia x Microeconomia Macroeconomia: trata dos agregados globais, para o país como um todo: produção, renda emprego, inflação, exportações/importações globais, agregados financeiros, etc. Microeconomia: trata de agregados parciais: de um lado, milhares de consumidores de um dado produto, que se constitui na demanda ou procura de mercado; de outro lado, as empresas, que se constitui na oferta de mercado. 8 Portanto, a Microeconomia (também chamada de Teoria de Formação de Preços, Teoria de Preços, Análise de Mercados) também trabalha com agregados (agregados parciais), não estudando empresas específicas, o que compete mais à área de Administração de Empresas. Embora a análise microeconômica subsidie o planejamento estratégico e previsões de empresas, não trata de questões como Gestão de Marketing, Gestão de Pessoal, Liderança, Motivação, etc., tópicos estudados nos cursos de Administração . Teoria de Desenvolvimento Econômico: estuda modelos de desenvolvimento que levem à elevação do padrão de vida (bem estar) da coletividade. Trata de questões estruturais, de longo prazo (crescimento da renda per capita, distribuição de renda, evolução tecnológica, qualificação da mão de obra, questões ambientais, etc.). Teoria Macroeconômica: preocupa-se mais com as questões conjunturais, de curto prazo, principalmente com o nível de atividade, de emprego e dos preços(inflação). Teoria Macroeconômica x Teoria de Desenvolvimento Econômico Desenvolvimento Econômico x Crescimento Econômico: o conceito de Crescimento Econômico é mais restrito, puramente econômico, referindo-se apenas ao crescimento do produto per capita ao longo do tempo. O conceito de Desenvolvimento Econômico é mais abrangente, envolvendo questões como qualidade de vida, distribuição de renda, educação, avanço tecnológico, etc. FUNDAMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA 10 Anotações : _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Objetivos de Política Econômica O objetivo geral da política econômica é a melhoria contínua do padrão de vida e de bem-estar da coletividade. Especificamente, isso significa: CRESCIMENTO DO NÍVEL DE RENDA E EMPREGO É o principal objetivo: crescimento contínuo e estável da renda e do emprego (não “vôos de galinha”, como no Governo José Sarney) DISTRIBUIÇÃO JUSTA DA RENDA Remunerar as pessoas de acordo com sua capacitação, mas também proporcionar melhor qualidade de vida para os que não tiveram oportunidades. ESTABILIZAÇÃO DA TAXA DE INFLAÇÃO Condição necessária para um crescimento econômico contínuo e estável, e para uma melhor distribuição de renda. 11 A escolha do objetivo de política econômica é decidida no âmbito do poder político. Cabe aos economistas levar a cabo a orientação geral dada pelo poder político, utilizando os instrumentos de política econômica da forma mais eficiente (minimizando custos, maximizando benefícios). Interessante observar que a partir de 2004, com exceção de 2009, o Brasil atingiu os três objetivos ao mesmo tempo: crescimento econômico, estabilidade de preços, e melhoria distributiva. Anteriormente, os períodos de maior crescimento econômico (Pós-Guerra, Juscelino, Milagre Econômico 1967/1973), tínhamos ao mesmo tempo altas taxas de inflação e piora da distribuição de renda (que os críticos do Milagre Econômico denominaram Teoria do Bolo: “crescer, para depois distribuir”). No Governo Itamar/FHC foram atingidos dois dos três objetivos: estabilidade de preços, com o Plano Real, e melhoria distributiva, com programas de transferência de rendas (aumentos reais do salário-mínimo, Bolsa Escola, Vale Gás, Bolsa Alimentação, consolidados e rebatizados como Bolsa Família por Lula), mas com taxas de crescimento relativamente baixas nesse período. Importância da estabilidade de preços A inflação piora a distribuição de renda: Governo e empresas conseguem se defender, ao passo que os trabalhadores perdem. Ao longo do processo inflacionário, o Governo repassa, via impostos e preços públicos, as empresas também repassam os aumentos de custos aumentando seus preços, enquanto os trabalhadores só recuperam parte da perda de seu poder aquisitivo na época do dissídio coletivo de sua categoria. Nesse sentido, a inflação é a pior forma de tributação. (“a inflação é um imposto sobre o pobre”). A inflação desestimula Investimentos das empresas em projetos de expansão, prejudicando o crescimento econômico do país: A inflação gera insegurança quanto à taxa de rentabilidade futura dos investimentos para a expansão das empresas. Uma inflação sob controle é a melhor maneira de crescer, por alargar o horizonte para os agentes da economia planejarem seus negócios. Assim, o controle da inflação é uma condição necessária para o crescimento econômico contínuo e estável, com melhoria da distribuição de renda. Portanto, não tem sentido quando os críticos do Banco Central dizem que seus técnicos importam-se apenas com a inflação, em detrimento do crescimento econômico e do emprego. Entretanto, a estabilidade de preços é condição necessária, mas não é condição suficiente para o crescimento, pois depende também de outros fatores, como infraestrutura adequada, política econômica correta, ambiente de negócios, estabilidade política, etc. Milagre Econômico 1967/1973: a economia cresceu em média 10% ao ano, mas com piora da distribuição de renda. (“Teoria do Bôlo”: primeiro crescer, para depois distribuir renda) Conflito de Objetivos de Política Econômica (Erros ou Custos?) 12 Segundo os críticos (Maria Conceição Tavares, Celso Furtado, Rodolfo Hoffmann), o Governo, cujo ministro era Delfim Netto, praticou a Teoria do Bolo (crescer primeiro, para depois distribuir). A defesa do Governo foi que a piora da distribuição de renda deveu-se à escassez de mão-de-obra qualificada, e abundância de trabalhadores de baixa qualificação, o que teria feito com que, com o rápido crescimento econômico, os mais qualificados tivessem aumentos de renda relativamente maiores do que os demais. Ou seja, todos tiveram aumento de renda, e portanto melhoraram seu padrão de vida, mas os “ricos ficaram mais ricos, e os pobres menos pobres”. O “brazilianist” Albert Fishlow, da Universidade da Califórnia em Berkeley foi quem deu início a esse debate, através de um estudo onde dividiu os trabalhadores em 10 classes de renda por salários-mínimos (dez “decis”, no jargão estatístico), e comprovou a piora na distribuição de renda no período. Entretanto, como que comprovando a justificativa do Governo, o próprio estudo dele mostra que houve um aumento da renda real (e portanto do padrão de vida) em todos os 10 extratos de renda. Posteriormente, o economista Carlos Geraldo Langoni, da FGV-RJ, orientado pelo próprio ministro Delfim Netto, mostrou, através de um estudo econométrico, como a piora da distribuição de renda deveu-se basicamente pela escassez de mão-de-obra qualificada e abundância de mão-de-obra de baixa qualificação. Conflito de Objetivos de Política Econômica (Erros ou Custos?) Governo Lula em 2003: a elevação da taxa de juros SELIC permitiu retomar o controle da inflação, mas provocou um aumento da taxa de desemprego (trade off) 13 A manutenção de juros elevados, embora tenha desestimulado o consumo e o investimento em 2003, aumentando o desemprego, permitiu ao governo recuperar o controle da inflação, que havia se elevado ao final de 2002, em função da instabilidade gerada pelo receio do mercado de que ocorreria uma mudança radical de política econômica, com a vitória do PT. Em 2002, houve uma corrida ao dólar, que provocou um desvalorização do real (o dólar chegou a quase 4 reais). O custo dos produtos importados elevou-se, impactando nos custos de produção, que foram repassados aos preços finais. Esse “repasse” de variações cambiais sobre as taxas de inflação é chamado de pass through ou repasse cambial. Trata-se de uma relação direta: desvalorizações do real tendem a elevar a inflação, e valorizações tendem a reduzi-la. Já em 2003 ocorreu uma relação inversa entre inflação e desemprego. Políticas de estabilização de preços, com o objetivo de controlar os gastos do setor privado (consumo da população, investimentos das empresas (como por exemplo elevações dos juros), normalmente provocam aumentos da taxa de desemprego. É o chamado “trade off” (relação inversa entre taxas de inflação e taxas de desemprego). É interessante observar que o Governo Lula cumpriu o que havia prometido na “Carta ao Povo Brasileiro”, que assinou em junho de 2002, quando a crise cambial se acentuou. Apesar de favorito nas pesquisas, o PT, receoso de perder uma eleição praticamente ganha, também se preocupou com a intranquilidade do mercado. Nessa carta, Lula se comprometeu a manter a essência da política econômica do governo anterior, qual seja: a) respeitar contratos (não reestatizar empresas privatizadas no governo FHC, honrar dívidas interna e externa) b) obedecer a Lei de Responsabilidade Fiscal, implantada em 2000 no Governo FHC c) manter a política de estabilidade de preços (o chamadotripé metas de inflação + câmbio flutuante + superávit primário). A partir dessa Carta, nasce a figura do “Lula Paz e Amor” e o “Lulismo”. Essa postura “neoliberal” contrariou as teses estabelecidas no Congresso do PT de novembro de 2001, que pregava a) a moratória da dívida externa, b) renegociação da dívida interna (no fundo, moratória), c) re- estatização de empresas privatizadas no Governo FHC (sistema Telebrás, Vale, Embraer, siderurgia, etc), e d) controles de preços, dos juros, do câmbio, da remessa de lucros, etc. Inclusive, causou a saída de cerca de 110 economistas do PT, a maioria filiando-se ao PSOL. Plano Real: reduziu a inflação de dois dígitos mensais para um dígito anual, mas aumentou a vulnerabilidade externa, devido à valorização do real (“âncora cambial”) Conflito de Objetivos de Política Econômica (Erros ou Custos?) 14 A valorização (apreciação) do real foi importante para derrubar a inflação de dois dígitos mensais (e quatro anuais!). A redução da taxa de câmbio ( o dólar chegou a 0,84 reais) encareceu a moeda nacional, relativamente a outras moedas, estimulou importações, aumentou a concorrência com o produto nacional, pressionando preços para baixo. Entretanto, desestimulou as exportações, tanto para os produtores (oferta de exportações), que passaram a receber menos reais por dólar vendido, como para os compradores externos, que precisavam de mais dólares para comprar produtos brasileiros (demanda por exportações brasileiras). As importações cresceram mais que as exportações, provocando déficits da balança comercial. Somado com o déficit na conta de serviços e rendas (juros, lucros, royalties, etc.), representou uma saída de dólares. Como havia pouca entrada de capitais estrangeiros, as reservas cambiais eram baixas, o que levaria à necessidade de tomada de empréstimos Enfim, esse déficit externo, e consequente aumento da vulnerabilidade externa, foi o custo de se derrubar a inflação para um dígito anual. Os economistas contrários ao Plano Real (Aloísio Mercadante, Delfim Netto) fizeram muitas críticas, apontando que aquele Plano levaria ao aumento da dependência externa, o que era verdade, mas não apresentaram alternativas concretas à estratégia adotada pelo governo para controlar a inflação. Ambos mudaram de posição posteriormente. A conjuntura internacional na segunda metade dos anos 90 não foi favorável ao Brasil e aos países emergentes em geral. A economia brasileira vinha crescendo bem em 1994 e 1995, mas a inesperada crise dos países emergentes, iniciada com a moratória do México em 1995, depois a crise do Sudeste Asiático em 1997/8, e crise argentina e moratória da Rússia em 1998/9, acabou atingindo o Brasil, que teve que recorrer ao FMI em 1998. Entretanto, o acordo com o FMI não significou o fracasso do Plano Real, pois não invalidou seus resultados positivos (queda da inflação, aumentando o poder aquisitivo dos trabalhadores, e consequente melhoria da distribuição de renda, além da melhoria da produtividade industrial e agrícola, proporcionada pelas importações). Essas crises não foram previstas, nem mesmo pelo FMI, que antes apontava os bons fundamentos econômicos do México e Sudeste da Ásia. O congelamento de preços elevou o poder aquisitivo dos trabalhadores, elevando rapidamente o consumo, e fez com que a capacidade produtiva atingisse seu limite potencial. O grande erro foi a concessão de um abono salarial de 8% a todos os trabalhadores, dado que a demanda já estava bastante aquecida, devido ao próprio congelamento. Consequências: - elevou mais ainda o Consumo Agregado: - os custos da mão de obra se elevaram, mas, como as empresas não puderam repassar esse aumento para seus preços, baixaram a qualidade (“maquiagem”, etc.) Um grande erro de Política Econômica Plano Cruzado (fevereiro 1986): abono salarial, concedido após o congelamento de preços. Após a 2ª. Crise do petróleo, no período 1979/1983, a economia mundial e a brasileira começaram a recuperar-se. A taxa de crescimento superou os 7% ao ano, fazendo com que a produção praticamente atingisse sua capacidade máxima. Entretanto, como o consumo cresceu mais que a produção, a taxa de inflação elevou-se rapidamente para 17% no mês de fevereiro de 1986, com tendência ascendente. Daí a necessidade do Plano Cruzado, criado no Governo Sarney, com o congelando os preços, concebido pela equipe do Ministro Sayad. Esse congelamento elevou o poder aquisitivo da população, aumentando ainda mais o consumo, o que já vinha ocorrendo desde 1984. Já sobre a gestão do Ministro Dilson Funaro, mais influente junto ao partido do Governo (PMDB), cometeu-se o grande erro de conceder um abono salarial geral de 8%,elevando ainda mais o consumo agregado. Para a oposição, teria ocorrido um “estelionato eleitoral”(termo criado por Delfim Netto), pois o objetivo real do PMDB, partido da situação, seria vencer as eleições para governadores em novembro de 1986 (o que aliás conseguiram). É a política interferindo na economia. Como a capacidade produtiva já estava no limite, aumentou os custos de mão de obra, mas as empresas não puderam repassar aos preços dos produtos, que estavam congelados. O aumento dos custos salariais levou as empresas a “maquiar produtos”, baixando sua qualidade. Numa certa altura, criou-se uma expectativa que os preços seriam liberados a qualquer momento, o que fez com que muitos estocassem produtos (“bois no pasto”), que passaram a faltar no mercado, com prateleiras de supermercados praticamente vazias. Com isso, na gestão do Ministro Funaro, com a economia mundial crescendo a mais de 4% ao ano, o Brasil foi o único país do mundo a declarar moratória em 1987. Observamos que: a avaliação de que seriam erros ou custos é influenciada por juízos de valor, da posição partidária e corrente de pensamento econômico do analista; b) Tudo tem um custo em economia: “não existe almoço grátis” ( famosa frase de Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia) Conflito de Objetivos de Política Econômica (Erros ou Custos?) 16 Anotações : _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Criticar, sem apresentar soluções alternativas Viés ideológico Problemas em algumas análises econômicas no Brasil 17 17 Criticar, sem apresentar a solução alternativa. Em muitas análises econômicas, percebe-se a ênfase na “problemática”, sem muito compromisso com a “solucionática”. Como tudo tem um custo em economia,fica mais fácil apontar os problemas (custos), do que apresentar soluções. Viés ideológico. Os economistas normalmente estão associados a alguma corrente ideológica ou partidária, levando a um debate acirrado, em especial na América Latina, região com mais presença de governos de esquerda, onde a divisão entre economistas é mais radical (ortodoxos x heterodoxos, neoliberais x desenvolvimentistas). Essas visões acabam evidentemente viesando as análises econômicas, dependendo da linha de pensamento do analista. Voltaremos a essa questão no tópico “Correntes de Pensamento Econômico”. INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA Anotações : ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ POLÍTICA FISCAL : - Política Tributária - Política de Gastos Públicos POLÍTICA MONETÁRIA: - emissões - reservas compulsórias - redesconto - open market - regulamentação do mercado POLÍTICAS EXTERNAS: - Política Cambial - Política Comercial POLÍTICA DE RENDAS: - Controles de preços e salários Instrumentos de Política Econômica 19 A Política Fiscal tem um processo de implementação mais lento que as demais políticas, pois depende de: - aprovação do Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas, Câmara dos Vereadores); - obedecer ao Princípio da Anterioridade, pelo qual a maioria das medidas fiscais, envolvendo gastos e principais impostos, só podem ser implementadas a partir do ano seguinte à sua aprovação legal. Isso é necessário, porque a Política Fiscal provoca impactos distributivos e na estrutura econômica mais acentuados que as demais políticas, por discriminar regiões, setores e grupos da população (classes de renda). As Políticas Monetária e Cambial, a cargo das Autoridades Monetárias, tem implementação rápida. Decisões sobre taxa de juros ou compulsório são aplicadas de imediato. São as áreas onde os economistas tem maior autonomia de decisão, com menos interferência política, diferentemente da política fiscal. As Políticas Externas são de dois tipos: a)Política Cambial (câmbio fixo, bandas cambiais, câmbio flutuante, flutuação “suja”), sob a alçada do Banco Central; b)Política Comercial(tarifas, barreiras qualitativas e quantitativas), normalmente comandada pelo Ministério do Planejamento, com apoio dos Ministérios de Relações Exteriores, Agricultura e Indústria e Comércio. A Política de Rendas referem-se à intervenção direta do Governo no funcionamento de mercado, através de congelamentos, tabelamentos, fixação de índices de reajustes salariais, de contratos, etc. Normalmente, é utilizada para controlar a inflação, mas também para a fixação do salário mínimo. CORRENTES DE PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL 20 Anotações : _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ NEO-LIBERAIS (MONETARISTAS) -Governo é o “Guardião” da moeda. Governo deve cuidar da regulação do mercado (setor financeiro, defesa da concorrência, agencias reguladoras) e investir em bens públicos (justiça, segurança, defesa nacional, educação, saneamento básico, etc), deixando os demais investimentos a cargo do setor privado -Economia de Mercado: o setor privado é mais eficiente -Abertura Comercial (Globalização) KEYNESIANOS -Governo além das funções acima, deve também ser condutor do crescimento. Complementa o setor privado, com investimentos em infraestrutura, incentivos fiscais, financiamentos, parcerias público-privadas (PPP), etc. -Estado terceiriza para o setor privado, não estatiza (não cria empresas estatais) -Economia de Mercado, mas Governo induzindo investimentos, utilizando intensamente a Política Fiscal (daí serem também chamados de Fiscalistas) -Abertura Comercial (Globalização) SOCIALISTAS, MARXISTAS , ESTRUTURALISTAS (CEPALINOS) -Estatizantes: segundo essa corrente, ”o Estado preocupa-se com o social, enquanto as empresas privadas preocupam-se apenas com o lucro” -Protecionistas/Nacionalistas: prioridade ao mercado interno. Barreiras alfandegárias para proteger a indústria nacional. -Controles de preços (exemplo: gasolina, tarifas de energia elétrica, transportes públicos, etc ). Os mais radicais também são favoráveis ao controle de juros, câmbio e remessa de lucros. “Mainstream”: (Núcleo central do pensamento econômico mundial: duas vertentes econômicas, dentro do sistema capitalista). Predomina em países desenvolvidos e nos principais países emergentes: BRICS, Sudeste da Ásia, Austrália, Nova Zelândia, Chile, México, Colômbia, etc.) -Monetaristas: FGV-RJ, PUC-RJ, USP, IBMEC-RJ, INSPER-SP -Keynesianos: FGV-SP, PUC-RJ, USP América Latina (com algumas exceções, como Chile, Perú, Colômbia e México). Forte presença no Brasil (principalmente), Cuba, Bolívia, Venezuela, Equador, Nicarágua, Uruguai). Inclui também a Argentina peronista (estatizante, e sindicalista). Essas correntes incluem a maioria dos economistas do atual Governo, bem como a quase totalidade dos economistas das universidades públicas (exceto USP) e das PUCs (exceto PUC-RJ e PUC-MG), sob liderança da UFRJ e UNICAMP. Correntes de Pensamento Econômico no Brasil: Resumo NOMES MAIS CONHECIDOS: “Mainstream” Neoliberais/ortodoxos/monetaristas: Affonso Celso Pastore (USP) José Alexandre Scheinkman (Princeton) Maílson da Nóbrega (CEUB-Brasília) Eduardo Giannetti da Fonseca (Ex-USP, INSPER) Alexandre Schwartzman (USP,Ex-Diretor do Banco Central) Keynesianos: Delfim Netto (USP) José Serra (Engenharia USP, Phd. Cornell-USA) Luiz Carlos Bresser Pereira (Bacharel em Direito, Doutor em Economia FGV-São Paulo) Yoshiaki Nakano (FGV-São Paulo) Luciano Coutinho (Cornell/UNICAMP, Presidente BNDES) Luiz Carlos Mendonça de Barros (Engenharia USP, Economia UNICAMP) José Roberto Mendonça de Barros (Economia USP) Antonio Correia de Lacerda (PUC-SP) Meio termo (de formação keynesiana -PHd. MIT/Harvard/Yale, mas mais neoliberais no Governo FHC): Pedro Malan (PUC-RJ) Gustavo Franco (PUC-RJ) Armínio Fraga (PUC-RJ) Ilan Goldstajn (PUC-RJ) Edmar Bacha (PUC-RJ) André Lara Rezende (PUC-RJ) Persio Arida (USP) Socialistas/Marxistas/EstruturalistaS(Cepalinos)/desenvolvimentistas/HETERODOXOS Dilma Roussef (UFMG,UFRGS, UNICAMP) Fernando Pimentel (UFMG, Ex- Ministro Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) Guido Mantega (UNICAMP, Ministro da Fazenda) Luiz Gonzaga Belluzzo (bacharel em Direito USP, Doutor Economia UNICAMP) Fernando Haddad (bacharel em direito, Mestre em Economia USP, Prefeito de São Paulo) Marcio Pochmann (UNICAMP) Paul Singer (USP, Secretário de Economia Solidária do Governo Federal) Leda Paulani (USP, Secretária do Planejamento da Prefeitura de São Paulo) Reinaldo Gonçalves (UFRJ) Prioridade ao mercado: o Governo é o “guardião” da moeda (cuida da liquidez, taxa de juros, câmbio, inflação), deixando ao setor privado (mercado) a produção de bens e serviços Governo é também o responsável pela regulação do mercado (defesa da concorrência, Agências Reguladoras de Empresas Públicas), pela tributação, e pelo fornecimento de “bens públicos” (justiça, segurança, defesa nacional, educação básica, saneamento, vacinação, etc.) Economia de mercado. Privativistas (contra estatização de empresas) Favoráveis à Abertura Comercial (globalização) Correntes de pensamento econômico NEOLIBERAIS (MONETARISTAS, ORTODOXOS) Além da estabilização da moeda, cabe ao Governo a responsabilidade pela regulação da ordem econômica e social, e pelo fornecimento de bens públicos. Portanto, não se trata de um “Estado Mínimo”, como os economistas estatizantes (“heterodoxos”, “desenvolvimentistas”), apregoam particularmente no Brasil. SOCIALISTAS, MARXISTAS, ESTRUTURALISTAS (CEPALINOS), “ECONOMIA POLÍTICA” Comando do Estado, inclusive produzindo bens e serviços. Contra a privatização de empresas estatais. Protecionistas/Nacionalistas: proteção à indústria nacional, prioridade ao mercado interno. Críticos da globalização (Consenso de Washington: a abertura comercial teria como objetivo favorecer multinacionais americanas”). Muitos se dizem “pós-keynesianos”. A diferença é que Keynes defendia o Estado como complemento ao setor privado, mas não a criação de empresas estatais. Segundo Keynes, o Estado deve terceirizar, estimular o setor privado, mas não estatizar. Correntes de pensamento econômico O Brasil é provavelmente o maior núcleo mundial de economistas na linha de “Economia Política”, corrente muito disseminada em países da América Latina e da África, e que se caracteriza, com raras exceções: a) pela ênfase no papel do Estado sobre o mercado (estatizantes, anti-privativistas) b) nos currículos dos cursos de Economia, é especialmente destacada a contribuição de KarlMarx, e as críticas à teoria convencional (neoclássica ,“ortodoxa”). Autodenominam-se “heterodoxos”. Ou “desenvolvimentistas” c) pela pouca ou nenhuma utilização de modelos matemáticos e econométricos. Alguns desses economistas costumam argumentar que a “Economia, como ciência social, e portanto calcada e voltada a relações humanas, não pode basear-se em frias equações matemáticas”. No Brasil, a maior matriz teórica dessa linha de pensamento é a corrente estruturalista ou cepalina, cuja origem foi a CEPAL-Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, organismo da ONU sediado no Chile, liderada pelo economista argentino Rául Prebisch, cuja influência maior deu-se nos anos 50 e 60, e difundida no Brasil por Celso Furtado e Maria Conceição Tavares. Essa corrente defende que a inflação seria provocada por causas estruturais (estrutura oligopólica do mercado, estrutura do comércio internacional, estrutura agrária), e advogava o protecionismo (processo de substituição de importações) e a maior participação do governo (estatização). Embora atualmente menos influente na América Latina, essa corrente tem enorme presença no Brasil, sendo liderada pela UNICAMP e UFRJ, e seguida pela quase totalidade das universidades públicas federais e estaduais (exceção USP),e PUCs (exceções PUC-RJ e PUC-MG). A corrente contrária, que vimos anteriormente, chamada “ortodoxa”, “monetarista”, “neoliberal”, é denominada mundialmente como “mainstream” (corrente predominante, que representa o núcleo central da teoria econômica mundial), representadas no Brasil pela USP, FGV, PUC-RJ, PUC-MG, IBMEC-RJ e INSPER. A nível mundial, a matriz teórica principal é a Universidade de Chicago. KEYNESIANOS Prioridade ao setor privado, à economia de mercado, mas o Estado não deve ser apenas o “guardião da moeda”, e deve estimular o desenvolvimento econômico, através de políticas focalizadas em determinados segmentos (Políticas Industriais, atuação do BNDES, subsídios às exportações, etc.). Uso intenso (ativo) da política fiscal (daí também serem chamados de FISCALISTAS e ATIVISTAS) Estado terceiriza, não estatiza empresas (orienta investimentos, mas o Estado não produz). Economia de Mercado. Não são contra privatizações Favoráveis à Abertura Comercial (globalização) Correntes de pensamento econômico Seguidores dos ensinamentos do economista inglês John Maynard Keynes. Segundo esse economista, o mercado sozinho não teria condições de tirar a economia da grande depressão que ocorreu com a crise de 1929. Apenas com grandes investimentos públicos, (ou seja, política fiscal expansionista) principalmente em obras públicas (estradas, pontes, etc.), que empregam grande contingente de trabalhadores, a economia se recuperaria. É o conhecido efeito multiplicador keynesiano: um investimento do governo de, por exemplo, 100 milhões, em obras públicas, aumenta a renda dos trabalhadores da construção civil e dos fornecedores de insumos , que aumentam seu consumo (alimentos, lazer, shopping, feira, padaria, etc.), que se transforma em aumento de renda e de consumo desses setores. A moeda vai passando de mãos em mãos, e os 100 milhões iniciais podem transformar-se em 300, 400 milhões de aumento de renda e, consequentemente, do emprego. A nível mundial, a matriz teórica é a Universidade de Harvard, nos USA, e Oxford, na Inglaterra. Delfim Netto: Uma política monetária e cambial mais corajosa despertaria o “espírito animal” dos empresários, e iniciaria um “círculo virtuoso” de crescimento. E isso seria possível sem pressionar a inflação, já queo próprio mercado a manteria sob controle, dado que a capacidade produtiva (oferta agregada) provavelmente cresceria na mesma proporção da demanda agregada. Teríamos assim crescimento econômico em equilíbrio dinâmico, com baixa inflação. “Estado é o condutor, mas quem faz o crescimento é o setor privado”. “ Desenvolvimentistas “ Particularmente na América Latina, mas com mais intensidade no Brasil, as correntes mais à esquerda (socialistas, marxistas, estruturalistas-cepalinos, economia política, etc.) costumam auto- denominar-se de “Desenvolvimentistas” ou “Heterodoxos”. São estatizantes, adeptos do intervencionismo estatal, e contra privatização de empresas estatais São críticos do sistema capitalista, de uma economia comandada pelo mercado. Denominam os adeptos da economia de mercado de “Ortodoxos”, “Monetaristas”, Neoliberais” Contra políticas anti-inflacionárias, “ortodoxas”, as quais, segundo eles, se preocupariam apenas com o controle da inflação, sacrificando o emprego e o crescimento econômico. Insinuam que os economistas “ortodoxos” teriam pouca preocupação com a questão social Frases típicas dessa corrente de pensamento econômico: Celso Furtado: “Não há desenvolvimento sem inflação” Dilma Roussef (2005, Ministra Governo Lula), criticando a política do Ministro Palocci: -“Qual o problema com inflação de 15% ao ano? -“A política do Banco Central é rudimentar” Nem sempre é fácil a distinção, porque tem keynesianos que também se intitulam “heterodoxos”, (por exemplo, Bresser Pereira, da FGV-SP) e economistas de esquerda e desenvolvimentistas (como Guido Mantega), dizendo-se “keynesianos” ou “pós-keynesianos”. O que ambos querem é diferenciar-se dos neoliberais monetaristas. Tem ainda os chamados nacional-desenvolvimentistas, que não são de esquerda, mas são corporativistas e estatizantes, normalmente ligados às universidades públicas, liderados pela UFRJ A Presidente Dilma Roussef tem esse perfil “desenvolvimentista”, estatizante e intervencionista, como aliás seus ministros da área econômica (Guido Mantega, Miriam Belchior, Fernando Pimentel), o Ministro da Casa Civil Aloísio Mercadante e o Secretário do Tesouro Arno Augustin. O grau de intervenção aumentou em seu governo, principalmente no setor financeiro, setor elétrico, combustíveis, setor automotivo, etc.. Essa já era sua postura (“brizolista”, “bolivariana”) como ministra de Minas e Energia e posteriormente da Casa Civil do Governo Lula. Principalmente por sua influência, as Agências Reguladoras (ANEEL, ANATEL, etc), criadas no Governo FHC, perderam sua autonomia a partir do governo petista. A justificativa dada pelo governo na ocasião foi de que as negociações com setores estratégicos, como energia elétrica, mineração, portos, aeroportos, estradas, etc., deveriam ser tratadas a nível de Ministérios, e não com agências de perfil eminentemente técnico. Essa postura acabou “politizando” as negociações com grandes projetos de infraestrutura, gerando insegurança para os investidores, que teriam o risco de ter contratos alterados ao sabor de interesses políticos, mudanças de ministros, etc., pois que não contam mais com a garantia dada pelas agências autônomas. Uma frase comum que surgiu desde então é que, “o Partido Comunista Chinês dá mais segurança aos investidores do que o governo do Brasil” . Mas a Presidente Dilma foi forçada a repensar sua posição quanto às privatizações, devido à baixa taxa de investimento e consequentemente baixa taxa de crescimento do país (“pibinhos”). Devido ao viés ideológico estatizante, o governo petista deixou de realizar os investimentos requeridos para melhoria da infraestrutura, priorizando as chamadas despesas correntes ou de custeio ((salários do funcionalismo público, salário mínimo, aposentados, Bolsa Família, etc), de evidente apelo eleitoral. Negligenciou assim as despesas de capital (investimento em infraestrutura). Com essa postura, deixou de tirar proveito do período de maior “boom” da economia mundial que se tem notícia (2003/2007), quando então tinha todas as condições e recursos para fazer as duas coisas, desde que em parceria com o setor privado. Só agora a presidente percebeu que as privatizações (“concessões”, na terminologia petista), ao passar a maior parte dos investimentos em infraestrutura para o setor privado, não significa que o governo federal deixe de praticar suas políticas sociais. O Brasil, mesmo com o fraco desempenho recente da economia mundial, poderia hoje estar crescendo acima de 4% ao ano, como os demais emergentes (BRICS e demais países da América Latina), e não menos de 2%, como atualmente. Essa é a maior crítica à política econômica do governo do PT (Lula/Dilma), que não aproveitou completamente o excepcional momento da economia mundial, antes da crise do Lehman Brothers(2008).
Compartilhar