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Oralidade e ensino de lingua - Marcuschi

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Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco “falada”
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE LÍNGUA PORTUGUESA I
Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco “falada”
Profª. Drª. Eliana Dias
Aluna: Ludmila Maria Bortolozo
O autor
Luiz Antonio Marcuschi é um linguista brasileiro. Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Tem experiência na área de Lingüística , com ênfase em Teoria e Análise Lingüística. Atuando, principalmente, nos seguintes temas: Filosofia da Linguagem, Metodologia, Epistemologia, Lógica.
O homem é um ser que fala!
A fala é uma atividade central no cotidiano das pessoas. Todavia, as instituições de ensino, os livros didáticos e professores não dão a devida importância à centralidade da fala nem na sua relação com a escrita.
“Como se apresenta hoje a concepção e análise da língua falada nos LDP e quais as alternativas para a superação do problema?” (p. 19)
Se preocupando em trabalhar com estudos gramaticais, exercícios de compreensão e atividades de redação. Os LDP demonstram que seu conceito de “língua” é um conjunto de regras gramaticias, um instrumento de comunicação e um meio de transmissão de informação.
“Observando os LDP em geral, constata-se que poucos preocupam-se em explicitar a noção de língua com que operam.” (p. 19)
Língua e Linguagem:
Linguagem: usa-se signos com objetivos cognitivos. A linguagem caracteriza a espécie humana como sujeito reflexivo. A linguagem se apresenta como um fenômeno humano, inato e geneticamente transmitido pela espécie.
Língua: um dos diversos modos de manifestação concreta dos sistemas de comunicação humanos, se manifesta como atividades sócioculturais para a comunicação interpessoal. Língua se refere sempre à uma dada língua natural, como “língua portuguesa”, “língua inglesa”, e assim por diante. As línguas se diferenciam em diversos aspectos: morfológico, semântico, pragmático, cognitivo, entre outros. 
Portanto, segundo Marcuschi, as línguas não são apenas um código para comunicação interpessoal, mas uma atividade interativa de natureza sóciocultural e histórica. Para o autor a língua apresenta as seguintes características: heterogeneidade, indeterminação, historicidade, interatividade, sistematicidade, situacionalidade, cognoscibilidade.
Já os LDP apresentam a língua como: clara, uniforme, desvinculada dos usuários, descolada da realidade, semânticamente autônoma e a-histórica. A língua é um instrumento de comunicação.
O lugar e o papel da oralidade no ensino de LP.
Segundo os LDP: a principal tarefa da escola é ensinar a escrita.
“A visão monolítica da língua leva a postular um dialeto de fala padrão calcado na escrita, sem maior atenção para as relações de influências mútuas entre fala e escrita.” (p. 22)
“Os autores de manuais didáticos, em sua maioria, ainda não sabem onde e como situar o estudo da fala. (...) Certamente, não se trata de ensinar a falar.” (p. 22)
Por que trabalhar a língua falada na escola?
“Um aspecto central no estudo da fala é a variação. (...) Mostrar que a língua falada é variada e que a noção de um dialeto padrão uniforme (...) é uma noção teórica e não tem um equivalente empírico. (...) A abordagem da fala permite entrar em questões geralmente evitadas no estudo da língua, tais como as de variação e mudança.” (p. 22)
Trabalhar questões como a variação linguística, apresentando noções como sotaque, estilo e gírias pode ajudar na conscientização de que a língua não é homogênea nem monolítica.
“Também é possível analisar níveis de uso da língua, bem como suas formas de realização, desde o mais coloquial até o mais formal, seja na fala ou na escrita, sem se ater a aspectos estritamente lexicais. (...) Aspectos relativos à polidez, ao tratamento interpessoal, às relações interculturais e muitos outros que podem ser facilmente observados na produção linguística na própria sala de aula.” (p. 22-23)
“Não se trata de transformar a fala num tipo de conteúdo autônomo no ensino da língua: ela tem de ser vista integradamente e na relação com a escrita. (...) O estudo da oralidade pode mostrar que a fala mantém com a escrita relações mútuas e diferenciadas, influenciando uma a outra nas diversas fases da aquisição da escrita.” (p. 23)
“O trabalho com a oralidade pode, ainda, ressaltar a contribuição da fala na formação cultural e na preservação de tradições não escritas que persistem mesmo em culturas em que a escrita já entrou de forma decisiva.” (p. 23)
“Dedicar-se ao estudo da fala é também uma oportunidade singular para esclarecer aspectos relativos ao preconceito e à discriminação linguística, bem como suas formas de disseminação.” (p. 23)
Ao debater com os alunos as questões do preconceito linguístico, é importante mencionar os mecanismos de controle social e o poder que as variantes de prestígio apresentam. 
A fala nos LD.
“O espaço dedicado à língua falada raramente supera o ridículo percentual de 20% no cômputo geral de páginas.” (p. 24)
A partir de uma análise do tratamento da oralidade em LDP de ensino fundamental :
a terminologia para tratar a oralidade ainda não se acha bem fixada; confunde-se gíria com dialeto e regionalismo;
falta uma concepção de língua falada;
dicotomização do “padrão” com o “não-padrão”, o que causa uma visão monolítica e uniformizada da fala;
a língua falada aparece quase sempre tratada como uma questão lexical restrita a usos gírios, coloquiais e simplificados;
os exercícios com a linguagem coloquial e com a linguagem culta são todos de reescrita de expressões descontextualizadas, e não de retextualização;
as observações sobre a língua falada tratam de elementos não centrais, como questões gramaticais;
ignora-se a produção falada real, os textos trabalhados são todos da escrita oralizada;
não há observações sobre regionalismos, quase não se encontra indicações da literatura de cordel ou a poesia popular em que se escreve imitando a fala;
quase não há menções sistemáticas à variação linguística da fala;
as atividade de reescrita da fala não apontam para a possível mudança de sentido na nova formulação, sugerindo uma crença subjacente e não explicitada na possibilidade de tradução perfeita.
Orientação programática
“A análise da interação verbal oral pode ser tida, portanto, como uma contribuição para a compreensão do que se entende quando se afirma que o homem é um ser social.” (p. 28)
“É conveniente ter uma nítida concepção de língua falada e língua escrita, sem privilegiar uma ou outra e evitando relações dicotômicas.” (p. 28)
“É importante ter em mente que o ensino de língua na escola não visa a formar linguistas ou gramáticos e muito menos analistas de texto ou da conversação. Tudo se resume a este objetivo: ensinar os alunos a perceberem a riqueza que envolve o uso efetivo da língua como um patrimônio maior do qual não podemos abrir mão.” (p. 30)
“A língua será a grande ferramenta diária da qual ninguém poderá abdicar durante toda sua vida, venha ele a fazer seja lá o que for.” (p. 30)
Um grande desafio enfrentado pelos LDP que trabalharem com a língua falada de forma satisfatória, será a variação linguística, uma vez que quando não bem entendida gera discriminação e preconceito. 
“Que tipo de informação é ativada pela variação linguística?” (p. 30)
“A variação mostra que a língua é heterogênea e não monolítica e homogênea (...), não existe a menor razão para, em questões de língua falada, reduzir a observação ao aspecto lexical e passar ao aluno a ideia de que a fala é apenas uma questão de registro e nível de língua, solúvel no aprendizado de umas poucas estratégias e técnicas da reescrita.” (p. 31)
Ao tratar da questão da variação linguística o indivíduo entrará em questões ideológicas muito complexas, sobre o que estigmatiza uma pessoa e como uma variante pode ter tanto poder e domínio em determinada cultura. Tratar da questão
da oralidade vai além do linguístico, estimula o pensamento crítico e abre os olhos do aluno quanto à questões sociais.
Algumas sugestões para análise da língua falada
“Audições de fitas com falas das mais diversas regiões brasileiras e de pessoas diferenciadas quanto ao sexo, idade, profissão, formação etc.” (p. 31)
“Debate a respeito da formação do preconceito e da discriminação linguística. Observação da variação com um olhar não discriminatório.” (p. 31)
“Análise da polidez e sua organização na fala. (...) observar como este aspectio interfere de maneira decisiva na qualidade da interação verbal e na compreensão.” (p. 31)
“Identificação dos papéis dos interlocutores e dos diversos gêneros produzidos determinando suas características.” (p. 31)
Discussão sobre quais são as diferenças em relação à escrita.
Identificação de alguns aspectos típicos da produção oral, tais como as hesitações, os marcadores conversacionais, repetições de elementos lexicais, correções etc.
Atividades de reescritura de um diálogo dos que aparecem nos livros em língua escrita padrão. Indicar em que situação se reproduz este mesmo tipo de linguagem que se tem num certo texto didático. Em que é que muda, sob o ponto de vista de efeito estético e de compreensão, o fato ed se reescrever um texto?
REFERÊNCIAS
MARCUSCHI, L. A. Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco “falada”. In: DIONÍSIO, A. P. ; BEZERRA, M. A. O livro didático de Português. Rio de Janeiro, Lucerna: 2001.

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