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Nogueira: Gestão Estratégica das relações de trabalho Conceito de Relações de trabalho O conceito de relações de trabalho abrange o conjunto de arranjos institucionais e informais que modelam e transformam as relações entre capital e trabalho em suas diversas dimensões na complexa formação social e econômica capitalista, cuja totalidade está determinada pelo modo de produção de mercadorias, isto é, pela contradição entre desenvolvimento das forças produtivas tecnológicas e do trabalho e as relações sociais de produção. Nos EUA as relações industriais são um sistema de normas e regulamentação das relações de trabalho dentro de uma visão estática e normativa que aspira à estabilidade e à ordem social, omiti a questão essencial da contradição e do conflito entre capital e trabalho, que imprime a dinâmica de mudança das relações de trabalho ao longo do tempo. Três pressupostos são essenciais para a atualização do conceito de relações de trabalho como relações entre forças sociais contraditarias: - As relações entre proprietários e não proprietários dos meios de produção continuam a prevalecer mesmo com o advento da informação, do conhecimento, da imaterialidade nos processos organizacionais e empresariais; - O trabalhador assalariado é livre para vender a sua força de trabalho, realidade contraditória incontestável porque, caso não consiga vender sua força de trabalho, deixa de ser livre para viver; - A produção de bens e serviços, apesar de coletiva e social, e interdependente no nível de países e setores, ainda é marcada pela apropriação privada dos resultados e concentrada em pequenos grupos proprietários e gestores. A concentração de riqueza reforça o caráter contraditório dos sistemas e das formas de trabalho. Ainda predominam na organização o domínio e a subordinação do trabalho com respeito ao capital. Dois processos: novas formas de trabalho e migração em busca de trabalho. As relações de trabalho têm uma dinâmica determinada pelos conflitos oriundos da estruturação da sociedade capitalista, cuja visualização e entendimento são dados através de um recorte das dimensões micro, meso, macro e hipermacro sociais. - Dimensão microssocial: abrange o local de trabalho, o processo de trabalho, a empresa ou a organização, nos quais se estabelecem políticas de RH e gerenciais baseadas em filosofias e culturas organizacionais (também novas relações: subcontratação, terceirização, trabalho parcial e temporário e até trabalho informal). - Dimensão mesossocial: abrange principalmente as agências de mediação dos trabalhadores e dos empresários (sindicatos, associações, federações, setores empresariais e cadeias produtivas. Arranjos sociais e institucionais que ultrapassam os limites da empresa, necessidade de articulação do ambiente interno e externo. - Dimensão Macrossocial: abrange os arranjos do Estado, as políticas públicas e sociais, a legislação social e trabalhista, o relacionamento entre forças políticas. Campos de força cujas decisões interferem na sociedade e na economia, no mercado de trabalho, distribuição de renda, custo da força de trabalho, regulamentação das condições gerais de trabalho. - Dimensão Hipermacrossocial: surge devido à globalização, as decisões de trabalho levam em consideração grupos globais. Nogueira: O trabalho sob tutela Estado A regulamentação das relações entre trabalho e capital era contraditória: reconhecia direitos sociais, mas manifestava o desejo do Estado de controlar e cooptar os trabalhadores. O problema histórico da legislação trabalhista, reunida na CLT, está na persistência do controle e da tutela do Estado sobre as relações entre trabalho e capital, principalmente no que se refere às dimensões coletiva e sindical. A criação da legislação tinha como objetivo regular as relações entre trabalho e capital de modo a impulsionar a acumulação capitalista de base urbano-industrial. - República-velha: questão operária era caso de polícia, manifestações eram alvo de repressão, o estado agia de acordo com interesses do setor agrário, comercial e industrial. - Revolução de 30: democracia restrita, corporativismo estatal “de cima”, alta cúpula do Estado cuida das questões trabalhistas. - Após criação do ministério do trabalho em 1930: caráter corporativista do Estado getulista.Favorecimento da nacionalização da força de trabalho (Lei 2/3: 2/3 de contratações se brasileiros). As classes poderiam se organizar em sindicatos, mas subordinados às condições do decreto (controle do ministério sobre a vida sindical: sem sindicatos para trabalhadores rurais e públicos). Conflitos resolvidos pela Justiça do Trabalho. Criação de carteira única de trabalho. Representava reconhecimento de direitos sociais e também desejo de controle. - Constituição de 34: adotou regime de liberdade e pluralidade, aprovando direito de greve, o que provocou ambigüidade com decreto de controle anterior. Conviveram no Brasil ao mesmo tempo um decreto de inspiração fascista e corporativista e um dispositivo constitucional liberal e democrático. Imprimiu ao processo de desenvolvimento brasileiro um caráter de modernização conservadora. Legislação trabalhista com função econômica (acumulação nos setores urbano-industriais) e político (pacto entre burguesia industrial e classe trabalhadora mantido pelo Estado, como no caso do salário mínimo). O corporativismo nos regimes autoritários significa a formação de grupos de interesse representantes do capital e do trabalho sem autonomia, impostos de cima e controlados pelo Estado. - CLT 1943: Constituição tem linguagem jurídica e afasta entendimento os trabalhadores, a idéia era estabelecer uma relação direta entre classe jurídica e Vargas. Reconhecia os direitos mas evidenciava controle. - Governo Dutra: caráter antipopular e antidemocrático provocou uma das maiores quedas no salário mínimo. Em 1946 decreto restringe e regulamentava o direito de greve e preservava estrutura sindical corporativista. - Retorno de Vargas: maior aproximação aos interesses populares e nacionais. Aumentos constantes do Salário Mínimo. - Após Vargas: herança da legislação social e trabalhista totalmente consolidada que permanece até hoje. A CLT hoje, mesmo enfraquecida, permanece com os seus pilares básicos (carteira de trabalho, estrutura sindical única e vertical, proteção individual ao trabalhador, a Justiça do Trabalho e a Previdência Social).
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