Buscar

Medresumo- Parasitologia: Ascaridíase

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● PARASITOLOGIA 
1 
 
www.medresumos.com.br 
 
 
ASCARIDÍASE 
 
 A ascaridíase ou ascaríase é uma parasitose geralmente benigna causada pelo verme nemátode Ascaris 
lumbricoides, também conhecido popularmente como “lombriga”. São vermes nemátodes, ou seja fusiformes sem 
segmentação, e com tubo digestivo completo. A reprodução é sexuada, sendo a fêmea (com até 40cm de comprimento) 
bastante maior que o macho, e com o diâmetro de um lápis. 
O A. lumbricoides é encontrado em quase todos os países do mundo e ocorre com frequência variada em 
virtude das condições climáticas, ambientais e, principalmente, do grau de desenvolvimento socioeconômico da 
população. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO 
 Filo: Aschelminthes 
 Classe: nematoda 
 Família: Ascaridae 
 Gênero: Ascaris 
 Espécie: Ascaris lumbricoides 
 
Na família Ascaridae, subfamília Ascaridinae, são encontradas espécies de grande importância médico-
veterinána representadas principalmente pelo Ascaris lumbricoides (Linnaeils, 1758) e A. suum (Goeze, 1882), que 
parasitam, respectivamente, o intestino delgado de humanos e de suínos. Estes helmintos são citados com frequência, 
pela ampla distribuição geográfica e pelos danos causados aos hospedeiros. São popularmente conhecidos como 
lombriga ou bicha, causando a doença denominada ascaridíase e, menos frequentemente, ascaridose ou ascariose. 
 
 
MORFOLOGIA 
O estudo da morfologia deste parasito deve ser feito observando-se as 
fases evolutivas do seu ciclo biológico, isto é, os vermes macho e fêmea e o 
ovo. As formas adultas são longas, robustas, cilíndricas e apresentam as 
extremidades afiladas. 
 
MACHOS 
 Quando adultos, medem cerca de 20 a 30cm de comprimento e 
apresentam cor leitosa. A boca ou vestíbulo bucal está localizado na 
extremidade anterior, e é contornado por três fortes lábios com serrilha de 
dentículos e sem interlábios. Da boca, segue-se o esôfago musculoso e, logo 
após, o intestino retilíneo. O reto é encontrado próximo a extremidade 
posterior. Apresenta um testículo filiforme e enovelado, que se diferencia em 
canal deferente, continua pelo canal ejaculador, abrindo-se na cloaca, 
localizada próximo a extremidade posterior. Apresentam ainda dois espículos 
iguais que funcionam como órgãos acessórios da cópula. 
Não possuem gubernáculo. A extremidade posterior fortemente 
encurvada para a face ventral é o caráter sexual externo que o diferencia 
facilmente da fêmea. Notam-se ainda na cauda papilas pré e cloacais. 
 
FÊMEAS 
 Medem cerca de 30 a 40cm, quando adultas, sendo mais robustas que 
os exemplares machos. A cor, a boca e o aparelho digestivo são semelhantes 
aos do macho. Apresentam dois ovários tiliformes e enovelados que 
continuam como ovidutos, diferenciando em úteros que vão se unir em uma 
única vagina, que se exterioriza pela vulva, localizada no terço anterior do 
parasito. A extremidade posterior da fêmea é retilínea. 
 
OVOS 
 Originalmente são brancos e adquirem cor castanha devido ao contato com as fezes. São grandes, com cerca 
de 50 µm de diâmetro, ovais e com cápsula espessa, em razão da membrana externa mamilonada, secretada pela 
parede uterina e formada por mucopolissacarídeos. A essa membrana seguem-se uma membrana média constituída de 
Arlindo Ugulino Netto. 
PARASITOLOGIA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● PARASITOLOGIA 
2 
 
www.medresumos.com.br 
quitina e proteína e outra mais interna, delgada e impermeável à água constituída de 25% de proteínas e 75% de 
lipídios. Esta última camada confere ao ovo grande resistência às condições adversas do ambiente. 
 Internamente, os ovos dos ascarídeos apresentam uma massa de células germinativas. Frequentemente 
podemos encontrar nas fezes ovos inférteis. São mais alongados, possuem membrana mamilonada mais delgada e o 
citoplasma granuloso. Algumas vezes, ovos férteis podem apresentar-se sem a membrana mamilonada. 
 Uma fêmea de Ascaris põe até 200 mil ovos por dia. Esses ovos podem ser classificados em três tipos: 
 Ovo fértil com casca: apresenta três membranas: membrana externa mamilonada, membrana média (formada 
por quitina) e uma membrana mais interna (de constituição lipídica). 
 Ovo fértil sem casca: não apresenta a membrana externa, do tipo mamilonada. Este ovo pode ser confundido 
com o ovo de ancilostomídeos. Na prática, a diferencição é possível observando a membrana dupla que o ovo 
do Ascaris apresenta, enquanto que o do ancilostomídeo apresenta apenas uma membrana. 
 Ovo infértil: ovo mais alongado apresentando vários pontos de granulações em seu interior, mas sem apresentar 
larva, uma vez que não foi fertilizado. 
 
 
HABITAT 
Em infecções moderadas, os vermes adultos são encontrados no intestino delgado, principalmente no jejuno e 
íleo, mas, em infecções intensas, estes podem ocupar toda a extensão do intestino delgado. Podem ficar presos à 
mucosa, com auxílio dos lábios ou migrarem pela luz intestinal. 
Apresenta ainda um ciclo pulmonar, assim como os demais nematelmintos estrongiloide e ancilostomídeo. Das 
três parasitoses com ciclo pulmonar (ascaridíase, estrongiloidíase e ancilostomíase), a ascaridíase é a responsável por 
uma maior expressão das manifestações no aparelho respiratório. 
 
 
CICLO BIOLÓGICO 
 A primeira larva (L1) formada dentro do ovo é do tipo rabditoide, isto é, possui o esôfago com duas dilatações, 
uma em cada extremidade e uma constrição no 
meio. Após uma semana, ainda dentro do ovo, essa 
larva sofre muda transformando-se em L2 e, em 
seguida, nova muda transformando-se em L3 
infectante com esôfago tipicamente filarioide 
(esôfago retilíneo). Estas formas permanecem 
infectantes no solo por vários meses podendo ser 
ingeridas pelo hospedeiro. 
Após a ingestão, os ovos contendo a L3 
atravessam todo o trato digestivo e as larvas 
eclodem no intestino delgado. A eclosão ocorre 
graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo 
próprio hospedeiro, como a presença de agentes 
redutores, o pH, a temperatura, os sais e, o mais 
importante, a concentração CO2 cuja ausência 
inviabiliza a eclosão. As larvas, uma vez liberadas, 
atravessam a parede intestinal na altura do ceco, 
caem nos vasos linfáticos e nas veias e invadem o 
fígado entre 18 e 24 horas após a infecção. Em dois 
a três dias chegam ao coração direito, através da 
veia cava inferior ou superior e quatro a cinco dias 
após são encontradas nos pulmões (ciclo de LOSS). 
A síndrome de Löeffler é uma associação das 
manifestações pulmonares com o aumento da 
eosinofilia. 
Cerca de oito dias da infecção, as larvas sofrem muda para L4, rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde 
mudam para L5. Sobem pela árvore brônquica e traqueia, chegando até a faringe. Podem então ser expelidas com a 
expectoração ou serem deglutidas, atravessando incólumes o estômago e fixando-se no intestino delgado. 
Transformam-se em adultos jovens 20 a 30 dias após a infecção. Em 60 dias alcançam a maturidade sexual, fazem a 
cópula, ovipostura e já são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro. Os vermes adultos têm uma longevidade de um 
a dois anos. 
 
OBS
1
: Não há mecanismos de autoinfecção na ascaridíase. Portanto, o número de ovos ingeridos determina o número 
de vermes parasitando o indivíduo. 
 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● PARASITOLOGIA 
3 
 
www.medresumos.com.br 
TRANSMISSÃO 
 Ocorre através da ingestão de água ou de alimentos contaminados com ovos contendo a L3. Poeira, aves e 
insetos (moscas e baratas) são capazes de veicular mecanicamente ovos de A. Lumbricoides. Os ovos de A. 
lumbricoides têm uma grande capacidade de aderência a superfícies, o que representa um fator importante na 
transmissão da parasitose. Uma vez presente no ambiente ou em alimentos, estes ovos não são removidos com 
facilidade por lavagens. 
 Testando-se a capacidade ovicida de levamisol, cambendazol, pamoato de pirantel, mebendazol, praziquantel e 
tiabendazol concluiu-se que somente o último medicamento foi efetivo nainibição completa do embrionamento dos ovos 
48 horas após o tratamento. 
 
 
PATOGENIA 
 Deve ser estudada acompanhando-se o ciclo deste helminto, ou seja, a patogenia das larvas e dos adultos. 
 Larva: Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração. Em infecções 
maciças encontramos lesões hepáticas e pulmonares. No figado, quando são encontradas numerosas formas 
larvares migrando pelo parênquima, podem ser vistos pequenos focos hemorrágicos e de necrose que 
futuramente tomam-se fibrosados. Nos pulmões ocorrem vários pontos hemorrágicos na passagem das larvas 
para os alvéolos. Na realidade, a migração das larvas pelos alvéolos pulmonares, dependendo do número de 
formas presentes, pode determinar um quadro pneumônico com febre, tosse, dispneia e eosinofilia. Há 
edemaciação dos alvéolos com infiltrado parenquimatoso eosinofilico, manifestações alérgicas, febre, bronquite 
e pneumonia (a este conjunto de sinais denomina-se síndrome de Loeffler). Na tosse produtiva (com muco) o 
catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do helminto. 
 Vermes adultos: Em infecções de baixa intensidade, três a quatro vermes, o hospedeiro não apresenta 
manifestação clinica. Já nas infecções médias, 30 a 40 vermes, ou maciças, 100 ou mais vermes, podemos 
encontrar as seguintes alterações: 
 Ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas 
A e C, levando o paciente, principalmente crianças, a subnutrição e depauperamento físico e mental; 
 Ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, 
urticária, convulsões epileptiformes etc.; 
 Ação mecânica: causam irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução. 
As crianças são mais propensas a este tipo de complicação, causada principalmente pelo menor tamanho 
do intestino delgado e pela intensa carga parasitária; 
 Localização ectópica: nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou ainda em que o verme sofra 
alguma ação irritativa, a exemplo de febre, uso impróprio de medicamento e ingestão de alimentos muito 
condimentados o helminto desloca-se de seu hábitat normal atingindo locais não-habituais. Aos vermes que 
fazem esta migração dá-se o nome de "áscaris errático". A literatura descreve os seguintes locais 
ectópicos do áscaris errático: apêndice cecal (causando apendicite aguda), canal colédoco (causando 
obstrução do mesmo), canal de Wirsung (causando pancreatite aguda), eliminação do verme pela boca e 
narinas. 
 
OBS
2
: Medicamentos para o tratamento de giárdia pode causar essa irritação do ascaris, fazendo com que ele se torne 
errático. Esse fato é importante para aqueles casos em que o paciente se encontra infectado com dois tipos de 
verminoses: a giárdia e a ascaridíase. Portanto, deve-se primeiro tratar a ascaridíase e depois, a giardíase. 
 
 
DIAGNÓSTICO 
 
CLÍNICO 
 Usualmente a ascaridíase humana é pouco sintomática, por isto mesmo difícil de ser diagnosticada em exame 
clínico, sendo a gravidade da doença determinada pelo número de vermes que infectam cada pessoa. Como o parasito 
não se multiplica dentro do hospedeiro, a exposição contínua a ovos infectados é a única fonte responsável pelo 
acúmulo de vermes adultos no intestino do hospedeiro. 
 
LABORATORIAL 
 É feito pela pesquisa de ovos nas fezes. Como as fêmeas eliminam diariamente milhares de ovos por dia, não há 
necessidade, nos exames de rotina, de metodologia específica ou métodos de enriquecimento, bastando a técnica de 
sedimentação espontânea. O método de Kato modificado por Katz permite a quantificação dos ovos e 
consequentemente estima o grau de parasitismo dos portadores, compara dados entre várias áreas trabalhadas e 
demonstra maior rigor no controle de cura. 
 Nas raras infecções unissexuadas (infecção apenas por fêmeas), encontra-se um grande número de ovos 
inférteis nas fezes. Indivíduos que apresentam infecções unissexuadas por machos de Ascaris podem nem apresentar 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● PARASITOLOGIA 
4 
 
www.medresumos.com.br 
sintomatologia. Geralmente descobrem a parasitose quando eliminam pelas fezes o verme adulto. Quando realiza um 
exame parasitológico de fezes, o resultado é negativo pela ausência de ovos. 
 
 
TRATAMENTO 
 A Organização Mundial da Saúde recomenda quatro drogas - albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato de 
pirantel - para o tratamento e controle de helmintos transmitidos pelo solo. 
 Albendazol: Este fármaco pode atuar de duas maneiras: através da ligação seletiva nas tubulinas inibindo a 
tubulina-polimerase, previnindo a formação de microtúbulos e impedindo a divisão celular; e, ainda, impedindo a 
captação de glicose inibindo a formação de ATP que é usado como fonte de energia pelo verme. A droga é 
pouco absorvida pelo hospedeiro e sua ação anti-helmíntica ocorre diretamente no trato gastrointestinal. A droga 
é encontrada sob a forma de comprimidos de 200 e 400mg, e de suspensão oral de 100mg/5ml. A dose única de 
400mg é altamente eficaz contra a ascaridíase. 
 Mebendazol: É encontrada sob a forma de comprimidos de 100 e 500mg e também em suspensão oral de 
100mg/5ml. O mecanismo de ação de mebendazol é o mesmo descrito para o albendazol. 
 Levamisol: é encontrado em comprimidos de 40mg e administrado em dose única de 2,5 mg/kg. Levamisol inibe 
os receptores de acetilcolina, causando contração espásmica seguida de paralisia muscular e consequente 
eliminação dos vermes. 
 Pamoato de Pirantel: é uma droga derivada da pirimiduia, sendo efetiva contra a ascaridíase e a 
ancilostomíase. É encontrada em forma de comprimidos de 250mg, sendo administrada em dose única oral de 
10mg/kg. O modo de ação é similar ao levamisol. 
 Ivermectina: A droga é administrada em dose única de 0,1 a 0,2mgkg. Sua atuação está baseada na indução 
do fluxo de íons cloro que atravessam a membrana, fazendo uma disruptura nervosa na transmissão de sinais, 
resultando na paralisia do parasita e sua posterior eliminação. 
 
 
EPIDEMIOLOGIA 
Dados mais recentes indicam que o A. lumbricoides é o helminto mais frequente nos países pobres, sendo sua 
estimativa de prevalência de aproximadamente 30%, ou seja, 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo. Distribuído por 
mais de 150 países e territórios, atinge cerca de 70% a 90% das crianças na faixa etária de 1 a 10 anos. 
Alguns fatores interferem na prevalência desta parasitose, são eles: 
 Grande quantidade de ovos produzidos e eliminados pela fêmea; 
 Viabilidade do ovo infectante por até um ano, principalmente no peridomicílio; 
 Concentração de indivíduos vivendo em condições precárias de saneamento básico; 
 Grande número de ovos no peridomicílio, em decorrência do hábito que as crianças têm de aí defecarem; 
 Temperatura e umidade com médias anuais elevadas; 
 Dispersão fácil dos ovos através de chuvas, ventos, insetos e aves; 
 Conceitos equivocados sobre a transmissão da doença e sobre hábitos de higiene na população. 
 
Sendo o ovo resistente aos desinfetantes usuais, e o peridomicílio funcionando como foco de infecção, algumas 
medidas têm de ser tomadas para o controle desta e de outras helmintoses intestinais: 
 Educação em saúde; 
 Construção de redes de esgoto, com tratamento e/ou fossas sépticas; 
 Tratamento de toda a população com drogas ovicidas, pelo menos, durante três anos consecutivos; 
 Proteção dos alimentos contra insetos e poeira.

Outros materiais