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DELAÇÃO PREMIADA

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A chamada delação premiada é uma técnica de investigação e consiste em benefícios ofertados pelo Estado àquele que confessar e prestar informações sobre o esclarecimento de delitos. Esse instituto traz grandes benefícios às investigações criminais: trata-se de um meio excepcional de obtenção de prova e efetiva-se por meio de um acordo que é realizado entre o acusado e o Ministério Público.
O colaborador fornece informações relevantes à autoridade competente e, em troca, recebe uma vantagem. No decorrer do interrogatório, além de confessar a sua autoria no crime, revela o nome de outros comparsas. Há quem opine que, dessa maneira, o delator abriria mão do princípio da ampla-defesa, um direito constitucionalmente garantido, entretanto, há também quem afirme exatamente o contrário: partindo da premissa que ao cogitar a possibilidade da delação, o acusado já tem um suficiente lastro probatório contra si, o uso desse método apenas o beneficia. De qualquer maneira, cabe uma análise mais profunda sobre a legalidade do tema e as suas consequências.
A delação premiada ganhou notoriedade mundial ao ser usada pelo magistrado italiano Giovanni Falcone para desmembrar a Cosa Nostra, uma organização criminosa que vinha angustiando profundamente a Itália. Aqui no Brasil, no entanto, a lei dos crimes Hediondos (Lei nº. 8.072/1990) foi a primeira lei a usar a colaboração. Ela previu a redução de um a dois terços da pena do participante ou associado da quadrilha voltada a efetuar crimes hediondos que denunciasse à autoridade o grupo criminoso, permitindo o seu desmantelamento. Posteriormente, a delação premiada passou a atuar também nas esferas de crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei nº. 7.492/86), Contra a Ordem Tributária (Lei nº. 8.137/1990) e crimes praticados por Organização Criminosa (Lei nº. 12.850/2013), quando foi regulamentada. Nesse prisma, a colaboração destacou-se como instituto preferido pelo Estado para combater a criminalidade organizada, com a criação de um direito premial e a oferta de segurança para aqueles que confessassem seus delitos e delatassem seus chefes na organização. A lei do combate à lavagem de dinheiro (Lei nº. 9.613/1998) também reforçou e deu aplicação prática as delações premiadas. Esta lei previu prêmios estimulantes ao colaborador (delator) com possibilidade de condenação a regimes menos gravosos, como o aberto ou semiaberto.
Para o público brasileiro de maneira geral, as delações premiadas passaram a ser conhecidas a partir do início da Operação Lava-Jato, que iniciou em Curitiba há aproximadamente três anos. Desde então, não tem sido raro nos depararmos com informações fortemente divulgadas pela mídia, a fim de dar ciência a respeito dos acordos celebrados entre os acusados nessa grande operação. Recentemente, no dia 28 de junho de 2017, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes fez críticas ao acordo de colaboração premiada firmado entre a Procuradoria Geral da República e os irmãos Joesley e Wesley Batista, executivos da holding que inclui a JBS e premiados com o não oferecimento de denúncia em face da colaboração. Gilmar Mendes questionou, nestes termos: “O Ministério Público acaba de isentar os delatores de responderem a processo. Que tipo de investigação usará para provar o contrário? Repito, como se pretende avaliar se Joesley é líder da organização criminosa?” — A falta de controle custará caro para todo o sistema jurídico — completou o ministro.
Tendo todos esses conceitos e problemáticas em vista, é inevitável questionar a moralidade do Estado, e o seu comportamento ao enfrentar ilegalidades provenientes de certos acordos que decorrem de um instituto sancionado por ele próprio.
Afastar a delação premiada do sistema brasileiro é quase impossível, diante da grande carga que temos depositado sobre ela. Ademais, é notável que tem auxiliado a justiça, porém, o que se questiona aqui são os acordos que geram uma série de ilegalidades. Como é possível que algo proveniente da própria justiça e do ordenamento nacional possa resultar em diretos desinteresses da União?
O que deve-se discutir é a normatização adequada, para que, assim, se delimite ao máximo sua aplicação, de modo a garantir sua efetividade e legalidade essencial em todos os acordos celebrados.
10 termos para você entender a Operação Lava Jato
Saiba como desenvolver o assunto na redação do concurso e na prova de Atualidades
Publicado 18/07/2017 às 12:04:00 Atualizado em 02/10/2017 às 05:30:21 
Um dos fatos mais marcantes na recente história política brasileira é a Operação Lava Jato. Considerada como a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro do país, ela teve início em 17 de março de 2014 e após três anos chega a sua 40ª fase. 
 
De lá pra cá, o assunto vem sendo abordado nos principais jornais cotidianamente. Ao lermos uma matéria ou assistirmos a noticiários sobre o tema, é comum nos depararmos com termos como: condução coercitiva, delação premiada, acordo de leniência, corrupção ativa e passiva, offshore, organização criminosa, caixa dois, peculato, entre outros.
 
 
10 termos sobre a Operação Lava Jato
Mas, afinal, o que esses termos jurídicos significam? É o que FOLHA DIRIGIDA vai te ajudar a entender, para que você acerte as questões da prova de Atualidades e consiga desenvolver o tema da redação do concurso. A matéria especial conta com a colaboração do advogado Hugo Guimarães, que explica os 10 termos que aparecem sempre que se fala sobre a Lava Jato. Confira:
 
1# Offshore: termo utilizado para se referir às contas bancárias ou empresas abertas fora do território nacional, com objetivos econômicos ou fiscais (como isenção de impostos e sigilo fiscal). A prática é permitida no Brasil, desde que siga as determinações da legislação brasileira, como declarar a abertura de uma empresa à Receita Federal e ao Banco Central, caso o valor dela seja superior a US$ 100 mil. Ao ser aberta de forma ilegal, essas empresas são registradas em nome de "laranjas" e o verdadeiro dono, que pode ser um agente público, usará o offshore como uma forma de esconder o dinheiro sujo. Assim, quando o termo aparece no noticiário ligado à Lava Jato, refere-se à lavagem de capitais através dessas sociedades empresariais.
 
2# Delação premiada: É um instrumento utilizado pelo Ministério Público para conseguir coletar mais informações dos investigados. Ela funciona da seguinte maneira: caso o réu colabore com as investigações, ele recebe benefícios por isso, sobretudo com a diminuição da pena.
 
3# Acordo de leniência: é uma espécie de acordo utilizado como meio de defesa,  normalmente, por uma pessoa jurídica, mas a lei admite a sua utilização por pessoa física. O acordo de leniência funciona de modo parecido com a delação premiada: a pessoa dá detalhes sobre a sua participação em crimes contra a ordem econômica e incrimina outras pessoas de modo a conseguir benefícios (como a extinção da ação punitiva da Administração Pública). Assim, ao aceitar o acordo, as empresas devem devolver o dinheiro público, confessar os crimes cometidos e cooperar com as investigações em troca do direito de contratar com o poder público e evitar denúncias formais.
 
4# Condução coercitiva: é utilizado para coagir e forçar as pessoas que não estão colaborando com as investigações a depor para as autoridades policiais ou do próprio judiciário. 
 
5# Usufrutuário: é a pessoa, física ou jurídica, que tem o usufruto, isto é, que não é dono, mas tem o direito de usar e de fruir de determinada coisa. 
 
6# Corrupção ativa e passiva: corrupção ativa é quando uma empresa oferece vantagem indevida a um agente público para realizar ou deixar de realizar atos de ofício. Já corrupção passiva é quando o agente público pede ou recebe vantagem indevida de uma empresa para realizar ou deixar de realizar atos de ofício.
 
7# Lavagem de dinheiro ou de capitais: consiste na realização de práticas econômicas e/ou financeiras com a finalidade de dissimular a origem ilícita de certos recursosou de certos bens. Assim, ao abrir um negócio com a única finalidade de gerar fluxo de caixa para, através de "notas fiscais frias" (notas fiscais de serviços nunca realizados ou bens nunca comercializados), regularizar capitais, o agente público está cometendo o crime de lavagem de dinheiro.
 
8# Caixa dois: é um crime eleitoral. Consiste na prestação de declaração falsa em relação aos recursos utilizados em campanha eleitoral. É uma espécie de falsidade ideológica tipificada no artigo 350 do Código Eleitoral.
 
9# Peculato: é quando o agente público se aproveita da sua função para desviar dinheiro ou bens apreciáveis em dinheiro.
 
10# Organização criminosa: é a associação de quatro ou mais pessoas com divisão de tarefas – de modo que aja uma organicidade, isto é, que as diversas pessoas ajam como um único corpo – para a prática de infrações penais.
 
Opinião 05/03/2015 às 14h10 - Atualizada em 05/03/2015 às 14h50
A armadilha da delação premiada
Jornal do BrasilSophia Pereira
Delação premiada é benefício legal concedido a criminosos delatores que revelem fatos relevantes acerca dos delitos, apontando os responsáveis, obtendo em troca benefícios legais tais como redução de pena e regimes mais brandos.
Na legislação brasileira, esse tipo de benefício é previsto em diversas leis e pode beneficiar o acusado com a diminuição da pena de um a dois terços; cumprimento da pena em regime semiaberto; extinção da pena e perdão judicial.
Sua origem advém de uma decisão proferida em 1775 na Inglaterra, quando um juiz declarou admissível o testemunho de um acusado contra seus cúmplices em troca de sua impunidade.
Na forma que conhecemos na atualidade, a delação premiada surgiu na década de 60 nos Estados Unidos, como o nome de plea bargainingI. Na época, a justiça americana enfrentava a máfia, e os criminosos presos se recusavam a colaborar com a polícia porque receavam que aqueles ainda soltos pudessem se vingar. Ressurgiu a ideia de oferecer um prêmio a quem delatasse seus companheiros de crime. 
A ideia foi adotada em outros países, inclusive na Itália, chamada de “Operação Mãos Limpas”, a qual ajudou a colocar muitos criminosos atrás das grades. Na Itália, a delação premiada também foi usada para o combate a atos terroristas.
O intuito, entretanto, é por diversas vezes desvirtuado, tendo em vista que enquanto o processo não acaba, o premiado permanece com vencimentos, proteção a testemunha e vários outros benefícios, mantendo-o em situação mais confortável e sob a proteção da lei.
Não há nenhum compromisso com a verdade, pois se trata de um criminoso, que anteriormente buscava proveitos ilícitos e agora, para se esquivar das consequências, daquelas, procura obter vantagem “ilícita”, através da delação premiada, o reputar mais proveitoso atirar para todos os lados, entregando terceiros, independentemente de efetivamente terem participado de delitos ou não, e quantos mais apontar melhor, pois como gozará das proteções legais durante e até o final do processo (trânsito em julgado) ou, conforme acordo realizado, até para o resto da vida. Ao “abrir o leque” da investigação prorroga, até perder de vista, o tempo necessário para a conclusão da ação penal, bem como da manutenção de seus benefícios acima elencados. Somente alguém que ocupasse  um posto realmente relevante numa prática criminosa teria conhecimento suficiente de seus meandros para apontar a participação individualizada de cada um dos seus denunciados, demonstrando ser ele, sim, um dos maiores, senão o maior criminoso.
Vejamos a hipótese de um mau servidor público que estivesse envolvido em centenas de casos de corrupção, todos devidamente comprovados, ao requerer o benefício da delação premiada, apontaria dezenas ou centenas de nomes como co-autores, acusando outros de envolvimentos em crimes diversos, principalmente desafetos, aquele primeiro poderia manter seu emprego, com salários integrais, sendo deslocado para outro estado da federação e sob proteção da força pública, tudo custeado por nós, contribuintes.
Embora se trate apenas de um dos meios de prova em direito admitidos sempre devendo ser corroborada por outras provas (de modo semelhante à confissão) isto acaba não ocorrendo de fato, sendo tratada como verdade absoluta, afinal, dá muito menos trabalho do que realmente investigar.
A cada dia temos mais servidores dos diversos órgãos dando entrevistas sobre processos tramitando, com a fase probatória ainda em curso, quiçá investigatória, sendo apresentados, com alarde, trechos de depoimentos, fazendo a alegria de transmissores de televisão, quase imediatamente após prestados, inclusive sobre casos tramitando em segredo de justiça; na verdade, tal procedimento, acaba prejudicando a própria apuração da verdade dos fatos, pois sucede à veiculação televisiva imediata condenação, pela opinião pública, de todos os mencionados pelo delator, independentemente de serem ou não verdadeiros os fatos ou autoria apontados, não deixando qualquer possibilidade de defesa para os mesmos.
Constantemente, as acusações são formalizadas recheadas de “provavelmente”, “possivelmente”, “certamente”, que se repetem de forma exagerada nas acusações, ainda que as “conclusões” apresentadas sejam totalmente ilógicas e inacreditavelmente fantasiosas, destruindo reputações, vidas e famílias apenas para saciar a voracidade da mídia, sedenta por escândalos, aumentando a audiência e seus patrocínios. 
Mesmo que os fatos “delatados” não sejam verdadeiros, e que nada tenham trazido de proveito efetivo para o interesse público, tal constatação terá demandado anos e recursos desperdiçados com a verificação (ou não) da procedência de suas acusações. E o delator terá sido premiado com seus benefícios legais durante muito tempo, ou até permanentemente. 
Em respeito até o disposto no Artigo 5º, incisos C e LVII da Constituição Federal, a exposição de honra, imagem, trabalho, residência e família dos “delatados” jamais deveria ser feita , ao menos até que efetivamente se tenha apurado a veracidade da ocorrência de crimes e a confirmação de sua autoria com o conseqüente trânsito em julgado da sentença condenatória.
Após a condenação pela mídia, ainda que os “delatados” sejam absolvidos no processo, pela absoluta inexistência de provas do fato delituoso, jamais voltarão ao status quo de antes; ao contrário, como a lenda popular reza que “nesse país ninguém fica preso”, “esse é o país do jeitinho”...”, sempre surgirão insinuações sobre a matéria acusatória veiculada, seja no trabalho, escolas dos filhos, empregos dos cônjuges, vizinhança..., sendo eternamente assombrados por aquelas falsas acusações.       
Delação premiada: o que acontece com quem faz? Dá para confiar no que dizem? 
Atualizado em sexta-feira, 05 de agosto de 2016, 07:30 am. 
Arte/Vix
Em meio aos desdobramentos da operação Lava Jato, maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro na história do Brasil, os delatores aparecem no papel principal. São eles que fornecem informações preciosas sobre esquemas e entregam os envolvidos nos crimes. Mas eles também são criminosos, e tão envolvidos quanto as pessoas que estão entregando aos investigadores. E então, dá para confiar no que eles dizem? Como um criminoso pode se tornar um delator e o que acontece com ele após esse acordo? A pena dele é amenizada? Entenda.
O que é delação premiada?
Quando alguém é acusado de um crime cometido por uma organização criminosa, tem a possibilidade de fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público ou com o delegado que comanda as investigações. Nesse acordo, o réu recebe alguns benefícios em troca de confessar sua participação, dar detalhes da ação do grupo, apontar outros nomes envolvidos e revelar onde está o produto do crime. "Ele faz uma confissão ampla, não só relativa à parte dele, mas à parte dos outros também", explica o advogado Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio de Janeiro.
Como acontece?
O réu quefecha esse acordo abre mão do direito ao silêncio e se compromete a falar tudo o que sabe. Ele não tem a possibilidade, por exemplo, de negociar que entregará uma parte do esquema, mas que outra parte não. Ele precisa se comprometer a dizer tudo o que sabe e não mentir sobre isso. Em troca de delatar tudo o que sabe, ele negocia um benefício, que não é definido, mas pode ser, por exemplo, a diminuição da pena em até dois terços, substituição por penas alternativas, ou até o perdão judicial, deixando de ser punido pelo crime que cometeu. "É um acordo entre a defesa do réu e o Ministério Público, que é o acusador ou, em alguns casos, o delegado. É uma negociação absolutamente livre, mas precisa passar pelo crivo do juiz, que irá ou não aprovar os termos em que a delação será feita", diz o advogado.
Arte/Vix
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Se durante a negociação, o futuro delator e seu advogado de defesa não considerarem vantajosos os benefícios oferecidos pela polícia ou o Ministério Público, podem se recusar e desistir. "Ninguém é obrigado a fazer acordo de delação e sempre caberá ampla negociação entre as partes dentro dos limites da lei. De outro lado, pode ocorrer que, mesmo convidado a fazer a delação, o acusado e seu advogado de defesa se recusem a fazer qualquer acordo de delação, alegando que estão certos e convictos de que o réu é inocente e será plenamente absolvido. A delação terá valor somente se ela for voluntária e seu resultado efetivo".
Todos os casos de delação premiada precisam ser feitos na presença do Ministério Público e do advogado de defesa. "São legalmente e obrigatoriamente imprescindíveis", diz. Já o juiz não deve estar presente no momento. Ele apenas aprova e, no final, recebe o texto do acordo, verifica se foi tudo cumprido e, se for o caso, pode convocar a pessoa para ouvir a delação de novo. "Se os termos do acordo feito pelas partes não estiverem dentro das regras exigidas e limites da lei, o juiz tem obrigação de não homologar a delação. Vendo alguma ilegalidade no texto do acordo, este não pode ser homologado. Se por acaso foi acordado algo que a lei não autoriza, trata-se de uma tratativa nula", explica Melaragno.
Quando o delator é alguém que já está preso, assim que a delação começa, ele é transferido para o regime de prisão domiciliar com monitoramento eletrônico (tornozeleira), sem poder sair de casa. Mas é possível ingressar no programa de proteção à testemunha, com proteção física, mudança de endereço ou de identidade e uma série de outras medidas previstas na lei que garantam a segurança do delator.
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Dá para confiar em uma delação? É preciso apresentar provas?
O delator não pode mentir, caso contrário, romperá o acordo. Por isso, precisa apresentar provas que podem ser documentais, periciais ou mesmo outras testemunhas que não somente ele. Caso ele não tenha provas, a investigação policial ou o processo judicial têm de obtê-las a partir desse depoimento. Porém, se não houverem provas além da palavra do delator, o juiz não pode condenar ninguém que tenha sido apontado pelo delator em depoimento.
Se for descoberto que o réu mentiu em juízo, ele será processado como autor de um delito e também verá anulado o seu acordo de delação. "No Direito brasileiro, o réu tem direito de não dizer a verdade e de até ficar calado em juízo sem qualquer prejuízo no processo. Porém, ao fazer o acordo de delação, ele automaticamente se compromete a dizer a verdade sob pena de ser processado, perdendo portanto o direito de ficar calado ou de faltar com a verdade. Mas não existe uma investigação específica para verificar se houve mentira por parte do delator. Evidentemente que, havendo mentiras, elas poderão surgir nas investigações, nas provas e até mesmo durante a defesa produzida por aqueles que foram delatados", detalha desembargador Doorgal Gustavo Borges de Andrada, da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
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Delação premiada é boa ou ruim?
Para o advogado Breno Melaragno, o principal ponto positivo da delação premiada é que ela estimula a pessoa a cooperar, já que irá receber um benefício. E o depoimento ajuda na investigação, fazendo com que os crimes sejam descobertos mais a fundo. "O acusado tem possibilidade não de se redimir, mas de ter uma reprimenda menor, já que colaborou voluntariamente", diz.
Já o lado negativo é que, se a pessoa já estiver presa preventivamente, terá uma pressão grande para confessar e “se livrar” da culpa. E, pela lei, a delação deve ser voluntária, sendo proibido haver qualquer tipo de pressão. "O sistema penal percebeu isso e, vendo que a pessoa poderia fazer uma delação, passou a decretar a prisão preventiva como forma de coagir o réu. Isso acabou virando uma prática comum em muitos casos em que a pessoa não seria presa preventivamente, mas acaba sendo como forma de pressionar para fazer a delação premiada. Esta é hoje a grande polêmica jurídica, algo muito discutido no meio e no Congresso também, inclusive já existe projeto de lei para impedir a delação de quem está preso preventivamente sob argumentos de que jamais vai ser voluntário", explica.
Sobre a mídia ou a população, especialmente em casos políticos, colocarem o delator como um herói quando, na verdade, é um criminoso, o desembargador Borges de Andrada diz que essa visão pode ser fruto de mal entendimento ou distorção. "Um delator não pode se passar por eventual herói. Antes de tudo, ele confessa ser criminoso para, depois, delatar os demais envolvidos. Ele apenas fez um acordo e quer um benefício em troca disso", diz.
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Já o advogado acredita que um delator é um "meio herói". E cita um exemplo. "Se não houvesse o depoimento dado pelo Roberto Jefferson sobre o Mensalão, dificilmente as investigações sobre o caso chegariam aonde chegaram. Na época não existia a lei de 2013, e com base na lei de 2009, o Supremo não o reconheceu como delator, mas na prática ele foi. E a operação Lava Jato hoje também não chegaria aonde chegou se não houvesse a delação premiada. Porque dentro de uma orgarnização criminosa, por mais que a investigação policial tenha melhorado no Brasil, aquele que está de dentro, quando fornece caminhos e detalhes, torna possível desvendar toda a verdade e punir. Por isso a delação premiada é essencial".
Principais delatores brasileiros: o que aconteceu com eles e como transformaram investigações
 
Edição do dia 03/03/2015 22h28 - Atualizado em 03/03/2015 22h37
Entenda como funciona a delação premiada, base da Lava Jato
Até agora 15 acusados de desvio de dinheiro da Petrobras fizeram acordo de delação premiada, entre eles Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa.
Os pedidos de abertura de inquérito na Operação Lava Jato têm como base as delações premiadas de dois investigados. A repórter Camila Bomfim explica como funciona esse sistema, em que o envolvido conta o que sabe em troca de uma possível redução da pena.
Até agora 15 acusados de desvio de dinheiro da Petrobras fizeram acordo de delação premiada, entre eles o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.
As informações e provas apresentadas pelos dois delatores no fim do ano passado permitiram à força-tarefa da Lava-Jato abrir novas frentes de investigação. A principal delas resultou na prisão de diretores e executivos das maiores empreiteiras do Brasil e também revelou acusações de pagamentos a políticos e partidos em contas no Brasil e no exterior.
Por lei, os delatores devem identificar os demais coautores e participantes da organização criminosa e os crimes praticados por eles; revelar a hierarquia e a divisão de tarefas; prevenir crimes que poderiam ser praticados pelo grupo; devolver o dinheiro desviado; e localizar eventuais vítimas.
Em troca, o investigado que entrega o que sabe pode ter redução de pena e até perdão judicial. Há também a previsão de outros benefícios, como prisão domiciliar até a sentença, como é o caso do ex-diretor Paulo Roberto Costa.
A delação só é aceita se o delatoracrescentar dados novos, além do que a investigação já apontou. Segundo o Ministério Público, a colaboração pode trazer informações a que os investigadores nunca teriam acesso ou demorariam tempo demais para receber. Entre elas, o caminho percorrido em desvios de dinheiro.
Um dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato diz que o benefício concedido ao delator aumenta se ele fornecer caminhos para que a polícia e o Ministério Público encontrem provas.
“Quanto mais provas, maior o benefício. Quanto melhor a colaboração, maior serão os benefícios também”, diz o procurador do Ministério Público Federal Januário Paludo.
Cabe aos investigadores verificar se o delator está falando a verdade e encontrar as provas. Se mentiu, perde os benefícios da delação. Mas se a polícia não consegue as provas após a homologação da delação, o delator não sofre consequências.
“O colaborador tem o compromisso de não somente descrever a estrutura da organização criminosa, indicar as pessoas que integram essa organização criminosa, mas também colaborar, porque não basta para condenar uma pessoa a mera delação. É necessário que haja, também, provas”, diz o professor de direito da FVG Thiago Bottino.
As delações só valem depois de homologadas pela Justiça. Se o delator citar envolvidos com foro privilegiado, a homologação cabe ao Supremo Tribunal Federal. Isso ocorreu com os acordos de Youssef e Paulo Roberto Costa, que citaram possível envolvimento de políticos.
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Operação Lava Jato: entenda o que é a delação premiada
A crise política pela qual o país passa nos poderes executivos e legislativos trouxe à tona a delação premiada, termo pouco conhecido no Brasil. O instrumento jurídico ganhou popularidade com a Operação Lava Jato, liderada pela Polícia Federal. O que começou com a investigação de um grupo de doleiros envolvidos com desvio de dinheiro no âmbito da Petrobras, hoje já se configura como uma das principais ações contra corrupção e lavagem de dinheiro realizada no país. Mas, afinal, você sabe o que significa a delação premiada?
A delação premiada é um acordo firmado com o Ministério Público e a Polícia Federal no qual o réu ou suspeito de cometer crimes se compromete a colaborar com as investigações e denunciar outros integrantes da organização criminosa em troca de benefícios. A delação premiada é termo generalizante pois existem vários tipos de delação e ocorreno Brasil desde os anos 90. O acordo tem sido um dos principais meios de obter provas utilizado pela força-tarefa responsável pela Operação Lava Jato. Até agora, a investigação conta com cerca de 30 colaboradores.
De acordo com o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, os acordos de colaboração premiada podem ser utilizados em maior escala com o objetivo de rastrear e repatriar ativos (bens e direitos que a empresa tem num determinado momento), o que acelera o ressarcimento de danos patrimoniais, pois não depende da espera de uma sentença judicial. “Até agosto de 2015, mais de R$ 1,8 bilhão estão sendo restituídos, no caso da Lava Jato, […] graças a acordos de colaboração premiada”, explicou Janot em entrevista para a Agência Brasil.
O Juiz responsável pela Lava jato, Sérgio Moro, defendeu os acordos de delação premiada firmados. Em um dos despachos da operação, Moro disse que “crimes não são cometidos no céu e, em muitos casos, as únicas pessoas que podem servir como testemunhas são igualmente criminosas.”
A presidenta Dilma Rousseff também se manifestou sobre o tema. Em junho do ano passado, durante visita aos Estados Unidos, a presidenta disse que “não respeita” delatores e citou sua experiência no período da ditadura.
Previsão legal
A primeira lei a prever essa colaboração premiada no Brasil foi a Lei de Crimes Hediondos.  Posteriormente, passou-se a prever a delação premiada também para crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, contra a ordem tributária e aqueles praticados por organização criminosa.
No entanto, a delação somente foi reforçada e ganhou aplicabilidade prática com a Lei 9.613/1998, de combate à lavagem de dinheiro. No mesmo sentido, caminharam outras leis que tratam da proteção de testemunhas (Lei 9.807/1999), da colaboração premiada para crimes de tráfico de drogas (Lei 11.343/2006); e a Lei 12.529/2011, que denominou a colaboração premiada de “acordo de leniência”, prevendo aplicabilidade para infrações contra a ordem econômica.
Contudo, procedimento em todo seu conjunto foi previsto apenas pela Lei 12.850/2013, que prevê medidas de combate às organizações criminosas.
Como funciona e benefícios
A delação pode ser proposta pelo Ministério Público, pela polícia ou pela defesa do investigado. Os benefícios variam de perdão judicial, redução da pena em até 2/3 e substituição por penas restritivas de direitos (art. 4º). Porém, isso depende da efetividade da colaboração e seu resultado.
O juiz não deve participar das negociações para formalização dos acordos de colaboração. Apenas o colaborador, seu advogado, o delegado de polícia e o representante do Ministério Público participam.
Só então, o termo resultante do acordo é então encaminhado ao juiz para homologação com cópia da investigação e das declarações do colaborador. Após a homologação, iniciam-se propriamente as medidas de colaboração. Não há prazo determinado para a coleta de depoimentos, uma vez que o término da delação depende do volume das informações fornecidas. 
Nos acordos de delação premiada, o colaborador renuncia ao seu direito ao silêncio e fica compromissado a dizer a verdade. A eficiência do acordo é julgada pelo juiz, durante a sentença. Mas a mesma deve apontar provas concretas e não somente a delação em si.
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Executivos e doleiros que colaboram com a Justiça firmam acordos para manter patrimônio obtido muitas vezes de forma ilícita
Enquanto presos comuns se amontoam em cubículos, empresários, diretores e doleiros que firmaram acordos de colaboração premiada com a Justiça no âmbito da Operação Lava Jato vivem uma realidade bem diferente. Responsáveis por desvios milionários, pagamentos de propina a agentes públicos, lavagem de dinheiro, formação de cartel entre outros crimes que lesaram os cofres públicos, eles negociaram com o Ministério Público Federal acordos nos quais puderam manter parte do patrimônio obtido muitas vezes de forma ilegal, além de terem as penas reduzidas além do que prevê a lei de colaborações. Hoje muitos estão em coberturas de luxo e condomínios abastados cumprindo suas penas. O juiz Sérgio Moro já condenou, até o momento, 87 pessoas, e no total a Lava Jato firmou mais de 140 acordos de delação.
O caso do doleiro Alberto Youssef, por exemplo, é emblemático. Ele é um dos principais delatores do esquema de corrupção da Petrobras, e em seu caso a redução de pena foi muito superior aos dois terços previstos em lei. Condenado em vários processos a mais de 121 anos de prisão, conseguiu emplacar em seu acordo uma cláusula que prevê no máximo o cumprimento de três anos em regime fechado. Ele cumpriu dois anos e oito meses de prisão, e migrou para o regime fechado domiciliar, onde permanecerá mais quatro meses. Atualmente mora em um edifício de luxo localizado a cinco quadras do parque do Ibirapuera, em um dos metros quadrados mais caros da capital paulista - com varanda gourmet e equipes de segurança da empresa Haganá rondando o quarteirão. No dia em que a reportagem visitou o local, o doleiro estava se exercitando na academia do prédio, de acordo com funcionários do condomínio
O artigo 4º da lei de delações premiadas, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff em 2013, prevê que o colaborador possa ter a pena reduzida em até dois terços ou até mesmo extinta. Isso se as informações oferecidas em troca levarem à recuperação de ativos, prisão de peixes maiores ou previnam outros crimes. Mas no âmbito da Lava Jato, a lei tem sido aplicada de forma diversa.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos primeiros presospela Lava Jato, em março de 2014, foi responsável por abrir a caixa de Pandora do esquema de corrupção nas diretorias da petroleira. Dono, junto com seus familiares, de 12 empresas offshores abertas para movimentar milhões de dólares, foi condenado por Sérgio Moro em sete ações penais a um total de 128 anos de prisão. Desde o final de 2016 ele já cumpre pena em regime aberto sem tornozeleira eletrônica. Ele deixou o regime fechado um dia após seu acordo de delação premiada ter sido homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, morto no início deste ano. No total ficou cinco meses atrás das grades. Atualmente, mora em um condomínio de luxo na região serrana do Rio de Janeiro. Posteriormente o Ministério Público Federal pediu que Moro suspenda os benefícios de sua delação, uma vez que ele e suas filhas teriam mentido e tentado ocultar provas nos depoimentos, de acordo com o Buzzfeed. Até o momento o magistrado não se posicionou sobre o pedido.
Em nota, o MPF, responsável pelos acordos, defende a redução das penas além 
do que está previsto na lei. “O juiz, nesses casos, tem o poder máximo que lhe pode ser deferido pela lei, que é o de conceder perdão, ou ainda o poder bastante significativo de substituir a pena privativa de liberdade pela restrição de direitos”. Logo, prossegue o texto, “por qual motivo então, considerando que o juiz pode o mais – o perdão ou a substituição pela restritiva de direitos -, não poderia ele ir além da redução da pena em 2/3?”. Para o órgão, é importante ressaltar que “é inerente ao sistema de colaboração a adequação da pena à importância da colaboração para as investigações”.
A força-tarefa da Lava Jato fala do assunto com propriedade. Afinal de contas, mesmo sofrendo críticas com relação a seus métodos, os procuradores já conseguiram repatriar mais de 4 bilhões de reais, um número recorde no país. Mas os investigadores ainda estão atrás de outros 6 bilhões, que, de acordo com o site de prestação de contas da OpeA força-tarefa da Lava Jato fala do assunto com propriedade. Afinal de contas, mesmo sofrendo críticas com relação a seus métodos, os procuradores já conseguiram repatriar mais de 4 bilhões de reais, um número recorde no país. Mas os investigadores ainda estão atrás de outros 6 bilhões, que, de acordo com o site de prestação de contas da Operação, "são alvo de recuperação via acordos de colaboração". Além disso, procuradores de outros países da América Latina onde empreiteiras brasileiras também pagaram propinas a agentes públicos - os desdobramentos internacionais da Lava Jato - vieram ao Brasil no início do mês para alinhar uma estratégia comum de combate à corrupção e aprender com a equipe brasileira.
O lobista Fernando Soares, vulgo Fernando Baiano, considerado o braço do PMDB no esquema da Lava Jato, é outro delator que cumpre pena em regime domiciliar. Mas sua residência não é qualquer uma: trata-se de uma cobertura de 800 metros quadrados na orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, um dos metros quadrados mais caros do país. Pelo acordo de colaboração ele terá que pagar uma multa de 2 milhões de reais.
Para Walter Bittar, advogado e autor do livro Delação Premiada – Direito Estrangeiro, Doutrina e Jurisprudência (Editora Lumen Juris), existe uma falta de critério na aplicação das penas. “A lei é omissa nesse ponto: ela diz que a pena pode reduzir em até dois terços ou pode perdoar”, afirma. “Mas como os juízes podem optar por perdoar eles estão agindo de forma arbitrária, o que não gera segurança e gera desproporcionalidade entre o crime cometido e o benefício concedido. Qual o critério?”, indaga. O advogado também questiona o valor das multas aplicadas: Youssef, por exemplo, terá que pagar 311.200 reais. “O dano moral causado à coletividade é difícil mensurar”, diz.
Mas lobistas, doleiros e ex-diretores da Petrobras não são os únicos que conseguiram negociar penas mais amenas. É o caso do empreiteiro Ricardo Pessoa, dona da UTC Engenharia, que foi beneficiado por um acordo de delação. Condenado após desdobramentos da Lava Jato a mais de oito anos de prisão por corrupção e pertencer a uma organização criminosa, ele cumpre pena em regime aberto diferenciado, no qual não pode viajar ao exterior. Ele ficará neste regime até 17 de novembro, e depois terá cumprido sua pena. No total, Pessoa ficou seis meses preso em regime fechado.
ração, "são alvo de recuperação via acordos 
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Entenda a “delação premiada”
Recentemente, a Revista Veja publicou reportagem de capa destacando a “delação premiada” do investigado Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento e refino da Petrobrás, preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A delação premiada é uma técnica de investigação consistente na oferta de benefícios pelo Estado àquele que confessar e prestar informações úteis ao esclarecimento do fato delituoso. É mais precisamente chamada “colaboração premiada” – visto que nem sempre dependerá ela de uma delação. Essa técnica de investigação ganhou notoriedade ao ser usada pelo magistrado italiano Giovanni Falcone para desmantelar a Cosa Nostra.
A primeira lei a prever essa colaboração premiada no Brasil foi a Lei de Crimes Hediondos. Previa-se a redução de um a dois terços da pena do participante ou associado de quadrilha voltada à prática de crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas e terrorismo, que denunciasse à autoridade o grupo, permitindo seu desmantelamento (art. 8º, parágrafo único, Lei 8.072/1990). Já no crime de extorsão mediante sequestro, o benefício dependia que fosse facilitada a libertação da vítima (art. 159, § 4º, Código Penal). Posteriormente, passou-se a prever a delação premiada também para crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e contra a ordem tributária (art. 16, parágrafo único, da Lei 8.137/1990, incluído pela Lei 9.080/1995) e crimes praticados por organização criminosa (art. 6º, Lei 9.034/1995). 
Porém, o instituto somente foi reforçado e ganhou aplicabilidade prática com a Lei 9.613/1998, de combate à lavagem de dinheiro. Essa lei passou a prever prêmios mais estimulantes ao colaborador como a possibilidade de condenação a regime menos gravoso (aberto ou semiaberto), substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e até mesmo perdão judicial (art. 1º, § 5º, Lei 9.613/1998). No mesmo sentido caminhou a Lei 9.807/1999, que trata da proteção de testemunhas (arts. 13 e 14, Lei 9.807/1999).
Posteriormente, ainda foram editadas as Leis 11.343/2006, prevendo a colaboração premiada para crimes de tráfico de drogas (art. 41), e a Lei 12.529/2011, que denominou a colaboração premiada de “acordo de leniência”, prevendo sua aplicabilidade para infrações contra a ordem econômica (arts. 86 e 87).
À exceção dessa última, todas essas legislações pecavam por não regulamentar essa técnica de investigação, o que sujeitava alguns dos colaboradores ao risco de caírem em um limbo jurídico e ficarem sujeitos ao decisionismo judicial. A Lei 12.529/2011 regulamentou mais especificamente o “acordo de leniência”, prevendo, além do evidente sigilo (art. 86, § 9º), que o colaborador identifique os demais envolvidos e forneça informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação (art. 86, I e II). Além disso, é preciso que, por ocasião da propositura do acordo, não estejam disponíveis com antecedência provas suficientes para assegurar a condenação, o colaborador confesse sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações (art. 86, § 1º).
Todavia, um procedimento completo foi previsto apenas na Lei 12.850/2013, que prevê medidas de combate às organizações criminosas.
Os benefícios variam de perdão judicial, redução da pena em até 2/3 e substituição por penas restritivas de direitos (art. 4º).
Exige-se que a colaboração seja voluntária e efetiva (art. 4º). Esta é, aliás, uma das características marcantes da colaboração premiada: o benefício depende da efetividade da colaboração, isto é, de resultado. O resultadopode ser a identificação de cúmplices e dos crimes por eles praticados, a revelação da estrutura e funcionamento da organização criminosa, a prevenção de novos crimes, a recuperação dos lucros obtidos com a prática criminosa ou a localização de eventual vítima com sua integridade física assegurada (art. 4º, I a V). 
O juiz não deve participar das negociações para formalização do acordo de colaboração. Apenas o colaborador, seu advogado, o delegado de polícia e o representante do Ministério Público participam (art. 4º, § 6º). Negociado o acordo ele deve ser formalizado contendo o relato do colaborador e eventuais resultados pretendidos, as condições da proposta do Ministério Público e da autoridade policial, a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor, as assinaturas de todos os participantes e a especificação de medidas de proteção ao colaborador e sua família (art. 6º).
O termo do acordo é então encaminhado, com cópia da investigação e das declarações do colaborador, ao juiz, para homologação (art. 4º, § 7º). Após a homologação, iniciam-se propriamente as medidas de colaboração (art. 4º, § 9º). Parte fundamental do acordo é que o colaborador renuncia ao seu direito ao silêncio e fica compromissado a dizer a verdade (art. 4º, § 14). Além disso, a Lei 12.850/2013 exige a presença de advogado em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração (art. 4º, 15º). A eficiência do acordo é julgada pelo juiz, na sentença (art. 4º, § 11), que não pode condenar apenas com base nas declarações do colaborador, devendo possuir meios de prova diversos (art. 4º, § 16).
Apesar de já ser aplicado desde a edição das primeiras leis que implantaram o instituto, a colaboração premiada pode se tornar um instituto com maior visibilidade e mais ampla utilização no processo penal brasileiro, a depender do deslinde da Operação Lava Jato. Se a delação de Paulo Roberto Costa gerar bons resultados, tanto para a administração da Justiça como para o colaborador, a cultura de investigação e processamento de crimes envolvendo grupos criminosos pode mudar bastante. A principal pergunta dos investigadores poderá passar a ser: Quem falará primeiro?
Por Francisco Yukio Hayashi, advogado criminalista, sócio-fundador do Costa Ferreira & Hayashi Advocacia e Consultoria
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Delatores da Lava Jato= penas que previsto e patrimônios menores
Os julgamentos mais esperados de 2017 na Lava Jato
Em 2016, viraram réus o ex-presidente Lula, o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-governador Sérgio Cabral, entre outros. Em 2017, as sentenças devem chegar
A Operação Lava Jato mirou – e acertou – nomes importantes da política nacional em 2016. Em Curitiba, Rio de Janeiro ou Distrito Federal, seja pelo escândalo de corrupção na Petrobras ou investigações derivadas dele, foram parar no banco dos réus pesos-pesados como o ex-presidente Lula, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci e o marqueteiro João Santana.
O juiz federal Sergio Moro e os demais magistrados de primeira instância à frente destas ações penais, a exemplo de Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, levam uma média de seis a nove meses entre o recebimento de denúncias do Ministério Público Federal e os julgamentos.
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Considerando a velocidade das canetas de quem vai julgá-los, estes nomes outrora poderosos devem figurar em sentenças judiciais em 2017. Relembre na lista abaixo as acusações contra eles:
Lula
Réu em cinco ações penais na Justiça Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve conhecer suas primeiras sentenças judiciais em 2017. Lula foi colocado no banco dos réus pela primeira vez em julho de 2016, quando o juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, aceitou a denúncia do Ministério Público Federal que acusa o petista de ter participado da tentativa de obstrução das investigações da Operação Lava Jato por meio da compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.  O juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba, abriu a segunda ação penal contra o ex-presidente em setembro. Neste processo, o petista é acusado dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex construído pela OAS no Guarujá (SP) e no armazenamento de seu acervo pessoal, bancado pela empreiteira. O terceiro processo contra o ex-presidente Lula foi aberto em outubro pelo juiz Vallisney Oliveira, também da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, a partir da Operação Janus. Neste caso, pesam contra Lula acusações de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de influência em contratos do BNDES que teriam favorecido a empreiteira Odebrecht. Nos dias 16 e 19 de dezembro, respectivamente, Oliveira em Moro aceitaram mais duas denúncias contra o ex-presidente, que sentou no banco dos réus da Operação Zelotes, acusado de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa, e em mais um processo da Operação Lava Jato, desta vez pelo suposto recebimento de propinas da Odebrecht.
 
Eduardo Cunha
O ex presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha ( PMDB ) faz exame de corpo delito no IML de Curitiba após ser preso na tarde de quarta-feira (19) na operação Lava Jato. A justificativa da prisão seria que Eduardo Cunha estaria planejando fugir para evitar uma possível prisão no futuro (Vagner Rosário/VEJA.com)
Preso em Curitiba desde outubro por ordem do juiz federal Sergio Moro, o ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha é acusado em três ações penais e também deve ser julgado em 2017. Cunha é réu desde outubro na Justiça Federal do Paraná pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas por supostamente ter recebido propina na compra de um campo de petróleo no Benin, na África, pela Petrobras. O dinheiro teria sido escondido em contas não declaradas pelo peemedebista no exterior. Outra ação penal contra Cunha corre no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro, esta por suposto recebimento de 5 milhões de dólares em propina oriundos de contratos de afretamento de navios-sonda da Samsung Heavy Industries pela Petrobras. Cunha ainda é réu em outro processo, que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal, em que é acusado dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, prevaricação e violação de sigilo funcional em aportes de fundos de investimento administrados pela Caixa Econômica Federal, como o Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), em empresas.
Antonio Palocci
O ex-ministro Antonio Palocci (PT) chega ao Instituto Médico Legal, em Curitiba (PR), após ser preso durante a 35ª fase da Operação Lava Jato, intitulada "Omertà" (Vagner Rosário/VEJA.com)
Identificado como “Italiano” nas planilhas departamento de propinas da Odebrecht, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci está preso em Curitiba desde o fim de setembro, se tornou réu na Lava Jato no início de novembro e deve conhecer a sentença do juiz federal Sergio Moro em 2017. A força-tarefa do Ministério Público Federal atribui a Palocci os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido e intermediado ao PT pagamentos de propina da empreiteira. Um relatório da Polícia Federal mostra que, entre 2008 e o fim de 2013, foram pagos mais de 128 milhões de reais ao partido e seus agentes, incluindo o ex-ministro.
 
João Santana
João Santana e a esposa foram encaminhados ao IML de Curitiba para passarem por exame de corpo de delito (Vagner Rosário/VEJA.com/VEJA.com)
Preso em fevereiro de 2016 e colocado no banco dos réus da Lava Jato dois meses depois em duas ações penais, o marqueteiro João Santana ainda não foi sentenciado por Sergio Moro. Santana é acusado pelo Ministério Público Federal dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Os investigadores da Lava Jato descobriram depósitos da empreiteira Odebrechte do lobista Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels, de Singapura, em uma conta não declarada mantida na Suíça pelo marqueteiro e sua mulher e sócia, Mônica Moura. Os pagamentos, num total de 7,5 milhões de dólares, foram feitos até o final do ano de 2014, ou seja, na época em que o publicitário dirigia a campanha à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff. João Santana deixou a cadeia em agosto e negocia um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato.
 
Sérgio Cabral
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, preso na operação Calicute, faz exame de corpo delito no IML de Curitiba - 10/12/2016 (Vagner Rosário/VEJA.com)
Preso na Operação Calicute, desmembramento da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral é o mais recente peixe grande a ser colocado no extenso banco dos réus da Lava Jato e também deve terminar 2017 com pelo menos uma sentença na primeira instância. O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da operação no Rio de Janeiro, aceitou no início de dezembro a denúncia do Ministério Público Federal contra Cabral pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O peemedebista é acusado pelos procuradores de ter liderado um esquema de corrupção que desviou 224 milhões de reais de contratos públicos do estado do Rio com as empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia.
 
José Dirceu
4 - Ex-tudo José Dirceu (Rodolfo Buhrer/Reuters/Reuters)
Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão no mensalão e a mais 20 anos e 10 meses no petrolão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu deve receber outra sentença judicial em 2017. Dirceu, que está preso em Curitiba desde agosto de 2015, é réu em outro processo na Lava Jato, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no suposto recebimento de propina em contratos do setor de compras da Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal, a Apolo Tubulars e a Confab, fornecedoras com 5 bilhões de reais em contratos com a estatal, pagaram propina de mais de 40 milhões de reais para “prosperarem” na petrolífera. Parte do dinheiro sujo teria sido destinada ao petista. A ação penal em que José Dirceu é réu está na fase de alegações finais, ou seja, a última oportunidade para acusação e defesa exporem seus argumentos ao juiz Moro.

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