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Informativo Decisao STF responsabilidade socioafetiva e biologica

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Informativo nº 78 - Supremo Tribunal Federal decide pela possibilidade de
coexistência da paternidade socioafetiva e biológica, com todas as
consequências patrimoniais e extrapatrimonais inerentes a ambos os
vínculos.
Curitiba, 05 de outubro de 2016. 
Prezados,
Na sessão do dia 21 de setembro do corrente ano, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal consolidou o entendimento de que a paternidade socioafetiva
não exime de responsabilidade o pai biológico.
Por maioria de votos, ao negar provimento ao Recurso Extraordinário de
nº 898060 com repercussão geral, fixou-se a tese de que:
a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não
impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante
baseado na origem biológica, com todas as suas consequências
patrimoniais e extrapatrimoniais1.
(Grifou-se)
A tese servirá de parâmetro para casos futuros e outros 35 (trinta e cinco)
processos com temas relacionados que se encontravam sobrestados nos demais
tribunais2.
Com esse julgamento, houve uma profunda mudança de paradigma
acerca da temática de reconhecimento de estado de filiação. Até então difundia-se
1 "Em relação ao caso concreto trazido à Suprema Corte por meio do referido Recurso
Extraordinário, infere-se da leitura da sentença prolatada pelo Juízo da 2ª Vara da Família da
Comarca de Florianópolis e dos acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa
Catarina que a autora, F. G., ora recorrida, é filha biológica de A. N., como ficou demonstrado, até
mesmo pelos exames de DNA produzidos no decorrer da marcha processual (fls. 346 e 449-450).
Ao mesmo tempo, constatou que por ocasião do seu nascimento, em 28/8/1983, a autora foi
registrada como filha de I. G., que cuidou dela como se sua filha fosse por mais de vinte anos.
Entendeu-se de rigor o reconhecimento da dupla parentalidade, devendo ser mantido o
acórdão de origem que reconheceu os efeitos jurídicos do vínculo genético relativos ao
nome, alimentos e herança, sem prejuízo da filiação registral e socioafetiva preexistente. "
(Grifou-se).
2 Informação extraída de notícia publicada no site do STF em 22/09/2016. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=325874>. Acesso em
04/10/2016.
a posição do Superior Tribunal de Justiça de que a paternidade socioafetiva
prevalecia sobre a biológica, excepcionando-se os casos em que o próprio
interessado buscava providência contrária, mediante uma ponderação de
princípios constitucionais3.
Agora, ambas podem coexistir, mesmo que haja o registro preexistente da
paternidade socioafetiva e, mais tarde, a paternidade biológica venha a ser
descoberta, como ocorreu no caso concreto que ensejou o debate na Corte
Suprema (vide nota de rodapé n° 1). 
O Relator do RE n° 898060, Ministro Luiz Fux, apontou que sob a égide
do Código Civil de 1916 a centralidade da família encontrava-se no casamento,
vínculo indissolúvel e objeto de especial proteção por parte do legislador. Por
decorrência, a lei fazia distinção entre filhos legítimos (aqueles havidos na
constância do casamento), legitimados (ou adotivos) e ilegítimos (filhos gerados
'fora' do casamento), sendo que a filiação tinha como base a rígida presunção de
paternidade atribuída ao marido no seio do casamento.
3 Nesse sentido, cita-se:
FAMÍLIA. FILIAÇÃO. CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
E PETIÇÃO DE HERANÇA. VÍNCULO BIOLÓGICO. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. IDENTIDADE
GENÉTICA. ANCESTRALIDADE. DIREITOS SUCESSÓRIOS. ARTIGOS ANALISADOS: ARTS.
1.593; 1.604 e 1. 609 do Código Civil; ART. 48 do ECA; e do ART. 1º da Lei 8.560/92. 1. Ação de
petição de herança, ajuizada em 07.03.2008. Recurso especial concluso ao Gabinete em
25.08.2011. 2. Discussão relativa à possibilidade do vínculo socioafetivo com o pai registrário
impedir o reconhecimento da paternidade biológica. 3. A maternidade/paternidade socioafetiva
tem seu reconhecimento jurídico decorrente da relação jurídica de afeto, marcadamente nos casos
em que, sem nenhum vínculo biológico, os pais criam uma criança por escolha própria,
destinando-lhe todo o amor, ternura e cuidados inerentes à relação pai-filho. 4. A prevalência da
paternidade/maternidade socioafetiva frente a biológica tem como principal fundamento o
interesse do próprio menor, ou seja, visa garantir direitos aos filhos face às pretensões
negatórias de paternidade, quando é inequívoco (i) o conhecimento da verdade biológica
pelos pais que assim o declararam no registro de nascimento e (ii) a existência de uma
relação de afeto, cuidado, assistência moral, patrimonial e respeito, construída ao longo dos
anos. 5. Se é o próprio filho quem busca o reconhecimento do vínculo biológico com outrem,
porque durante toda a sua vida foi induzido a acreditar em uma verdade que lhe foi imposta por
aqueles que o registraram, não é razoável que se lhe imponha a prevalência da paternidade
socioafetiva, a fim de impedir sua pretensão. 6. O reconhecimento do estado de filiação constitui
direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser exercitado, portanto, sem
qualquer restrição, em face dos pais ou seus herdeiros. 7. A paternidade traz em seu bojo diversas
responsabilidades, sejam de ordem moral ou patrimonial, devendo ser assegurados os direitos
sucessórios decorrentes da comprovação do estado de filiação. 8. Todos os filhos são iguais, não
sendo admitida qualquer distinção entre eles, sendo desinfluente a existência, ou não, de
qualquer contribuição para a formação do patrimônio familiar. 9. Recurso especial desprovido.
(STJ - REsp: 1274240 SC 2011/0204523-7, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de
Julgamento: 08/10/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/10/2013).
Todavia, com o passar do tempo e a evolução da sociedade, sugeriram
surgiram novas formas de organização familiar que não se adequavam a esse
modelo predefinido de casamento. Como novos desenhos de família, citam-se a
família monoparental, a união estável, os arranjos familiares compostos por
parentes diversos que não o pai, mãe e filhos (avós e netos, tios e sobrinhos),
dentre outras entre outros exemplos.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, esta passa a ser o
conjunto axiomático normativo de interpretação dos institutos que compõem o
direito civil. A dignidade da pessoa humana assume o caráter de princípio
fundante do ordenamento jurídico pátrio, promovendo a necessária leitura das
regras civilistas à luz do vetor constitucional voltado à ressignificação do sujeito
nas relações privadas: a transição do "ter" (lógica estritamente
individual/patrimonialista das relações sociais) para o "ser" (paradigma da
valorização da pessoa).
O princípio da dignidade da pessoa humana compreende o indivíduo como
ser intelectual e moral, com capacidade de autodeterminação e pleno
desenvolvimento. Nesse sentido, a eleição das próprias finalidades e objetivos de
vida assume preferência em relação aos modelos preconcebidos de instituição
familiar, destinados a resultados eleitos previamente pelo legislador, como é o
casamento.
Com efeito, no direito das famílias, referido princípio autoriza a superação
de óbices impostos por arranjos legais à convivência harmônica dos diversos
formatos de família construídos pelos próprios indivíduos em suas relações
afetivas interpessoais. Ademais, possibilita a definição da família eudemônica,
voltada à realização pessoal de seus componentes.
Estabelecida a possibilidade de surgimento de novas famílias e, por
consequência, de filiação por origens distintas,surge a necessidade de se definir
soluções jurídicas para os casos de multiparentalidade.
Coexistindo os vínculos de filiação construídos por meio da relação afetiva
e aqueles nascidos por ascendência biológica, ambos devem ser acolhidos pela
legislação infraconstitucional.
Considerou-se, com base no princípio da paternidade responsável
insculpido no art. 226, §7º, da CRFB/88, que não existe impedimento para o
reconhecimento concomitante de ambas as formas de paternidade – socioafetiva e
biológica – desde que esta opção esteja afinada ao melhor interesse do
descendente.
Afirmou o Ministro Relator que a omissão do legislador em reconhecer os
diversos arranjos familiares não pode servir de argumento para que esses não
sejam protegidos. É imperioso que se reconheçam, para todos os fins de direito,
os vínculos parentais de origem biológica e afetiva com o objetivo de prover a
mais completa e adequada tutela dos sujeitos envolvidos. Nas palavras de Maria
Berenice Dias, apud o Ministro Fux:
não mais se pode dizer que alguém só pode ter um pai e uma mãe. Agora é
possível que pessoas tenham vários pais. Identificada a pluriparentalidade,
é necessário reconhecer a existência de múltiplos vínculos de filiação.
Todos os pais devem assumir os encargos decorrentes do poder familiar,
sendo que o filho desfruta de direitos com relação a todos. Não só no
âmbito do direito das famílias, mas também em sede sucessória. (...) Tanto
é este o caminho que já há a possibilidade da inclusão do sobrenome do
padrasto no registro do enteado4.
(Grifou-se)
O Relator foi seguido em seu voto pelas Ministras Rosa Weber, Cármen
Lúcia e pelos Ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco
Aurélio e Celso de Mello.
Os Ministros Edson Fachin e Teori Zavascki divergiram no sentido de que
há o direito de se conhecer a própria origem; contudo, a paternidade afetiva
deverá prevalecer sobre a biológica.
Para o Ministro Fachin, “diante de vínculo socioafetivo com um pai e
apenas biológico com outro genitor […] somente o socioafevito se impõe
juridicamente”.
4 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 370.
O Ministro Zavascki acompanhou o voto do Ministro Fachin. Para ele “a
paternidade biológica não gera necessariamente a relação de paternidade do
ponto de vista jurídico”. Existindo a paternidade socioafetiva, esta deve persistir e
“não pode ser de forma alguma considerada menos importante do que qualquer
outra forma”5.
Este Centro de Apoio coaduna-se com o pensamento apresentado pelo
Ministro Relator em seu voto. Em diversos momentos6 ressaltou-se a
importância da família como a estrutura (palavra esta que deve ser entendida no
seu significado mais básico: a base sobre a qual algo está alicerçado) na qual o
ser humano desenvolve suas potencialidades para a convivência em sociedade, e
em que dividirá a maioria de suas realizações pessoais, sejam positivas ou
negativas, opinando-se pela viabilidade de manutenção de ambas as espécies de
filiação (biológica e socioafetiva).
O elevado número de situações nas quais este Centro de Apoio debruçou-
se sobre o tema aponta para a complexidade das relações familiares e os muitos
questionamentos que surgem acerca do Direito de Família no seio do Ministério
5 FALCÃO, Márcio. STF decide que paternidade afetiva não impede reconhecimento da biológica.
JOTA. Disponível em: <http://jota.uol.com.br/stf-decide-que-paternidade-afetiva-nao-impede-
reconhecimento-da-biologica>. Acesso em 4 out. 2016 
6 ● Notícia veiculada por este Centro de Apoio em 21/10/2014: “Registro Civil e
Multiparentalidade”. Disponível em:
<http://www.civel.mppr.mp.br/modules/noticias/article.php?storyid=92&tit=Registro-Civil-e-
Multiparentalidade>.
● Informativo n° 49 deste Centro de Apoio: “STJ reconhece possibilidade de a maternidade
socioafetiva prevalecer sobre a maternidade biológica”. Disponível em:
<http://www.civel.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=81>.
● Hotsite de Direito de Família do MP-PR. Página destinada à Filiação Socioafetiva. Disponível em:
<http://www.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6666>.
● Consulta n° 52/2015 – Procedimento administrativo de retificação de registro civil de
nascimento para acréscimo do sobrenome do pai socioafetivo. Disponível em:
<http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/File/Consulta_n_52_2015_Josni_Kovalski_PJ_Guarapua
va_acrescimo_sobrenome_pai_socioafetivo_procedimento_administrativo_viabilidade.pdf>.
● Consulta n° 65/2014 – Paternidade Registral vs. Paternidade Biológica. Disponível em:
<http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/File/Consulta_65_Dr_BrunoBrandao_Ivaipora_paternid
ade_registral_biologica_estudo_atualizado.pdf>.
● Consulta n° 55/2013 – Adoção à brasileira, retificação do registro. Disponível em:
<http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/File/Consulta_55_Antonina_Retificacao_Obito_Exclusao
_descendente_filho_biologico_adotado_pelos_tios_adocao_brasileira.pdf>.
● Consulta n° 13/2013 – Duplicação de registro de nascimento, filiação socioafetiva. Disponível
em:
<http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/File/consulta_congonhinhas_duplicidade_registro_nasci
mento.pdf>.
Público.
Acredita-se que a decisão do STF será de grande importância para a
sociedade como um todo (pois ser filho é um status comum a todos os seres
humanos e independe de escolhas) e principalmente para orientar a comunidade
jurídica nas situações de conflito que se apresentem no cotidiano.
Atenciosamente,
Terezinha de Jesus Souza Signorini
Procuradora de Justiça – Coordenadora
Samantha K. Muniz
Maria Clara A. Barreira
Assessoria Jurídica
Débora Dossiatti 
Estagiária de Pós-Graduação
Fontes da notícia: 
CALDERÓN, Ricardo. Reflexos da decisão do STF de acolher socioafetividade
e multiparentalidade. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-set-
25/processo-familiar-reflexos-decisao-stf-acolher-socioafetividade-
multiparentalidade? utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook#author>.
Notícia publicada no site do STF em 22/09/2016. Fixada tese de julgamento
que trata de responsabilidade de pais biológicos e socioafetivos. Disponível
em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?
idConteudo=325874>.
Notícia publicada no site do STF em 21/09/2016. Paternidade socioafetiva não
exime de responsabilidade o pai biológico, decide STF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=325781>.
Recurso Extraordinário n° 898060 Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE898060.pdf>.

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