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DEFESA CONTRA O ABORTO NO CRISTIANISMO

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DEFESA CONTRA O ABORTO NO CRISTIANISMO
Um dos grupos mais emblemáticos para defesa do aborto é o Catholics for Choice, que surgiu em 1973, em Washington, DC, nos EUA. Seus fundadores, católicos dissidentes adotaram a expressão " católicos" para confundir fiéis e deturpar os ensinamentos tradicionais da Igreja Católica em relação ao aborto. O objetivo é sobrepor o interesse deles à doutrina tradicional da Igreja. Notória pela forte oposição ao aborto.
É servir de voz aos católicos que acreditam na tradição da religião e apoia o direito moral e jurídico de uma mulher de seguir sua consciência em questões de sexualidade e saúde reprodutiva, isto é, servir de voz à causa do aborto.
Não dá para ser católico e, ao mesmo tempo, contra o ensino tradicional da Igreja.
A primeira estratégia é criar confusão, discórdia e dissensão entre os católicos em relação ao que a Igreja Católica ensina sobre o aborto.
A segunda estratégia é persuadir as pessoas de que a disponibilidade irrestrita do aborto é necessária para que possam desfrutar da plena liberdade religiosa. Os antivistas pró-aborto afirmam que, se o aborto é restrito de alguma forma, a liberdade religiosa está sendo comprometida.
A terceira estratégia é persuadir as pessoas de que podem ser bons católicos e ainda manterem qualquer remorso à seus filhos por nascer.
Nos EUA, o debate se distingue em dois grupos: pro-choice ( pró-escolha) e pro-life ( pró-vida). A expressão for choice em Catholics for Choice remete ao costume em diferenciar os posicionamentos, a favor ou contra o aborto. Eles alegam, em vários níveis de campanha publicitária, que o aborto é um valor defendido pela " justiça social da Igreja". Um absurdo. Vários bispos nos Estados Unidos já denunciaram a entidade. Mas isso faz parte do jogo democrático; ganha quem domina os meios de persuasão.
Francis Kissling, que foi presidente da entidade pré-aborto, explica, em uma entrevista de setembro de 2002, as razões de atacarem a Igreja Católica: " A perspectiva católica é um bom lugar para começar, tanto em termos filosóficos e sociológicos como teológicos, porque a posição católica é a mais desenvolvida. Assim, se você puder refurtar a posição católica, você refurtou todas as demais. 
Nada como confundir fiéis, já frustrados com seus dramas, de que seus pequeninos pecados são invenções de homens sedentários e cheios de manias. Nada como um argumento parecer verdadeiro e incontestável ao apontar a suposta " origem psicológica" de uma doutrina.
Em 1985, ou seja, dez anos antes da fundação das Católicas pelo Direito de Decidir, Pimentel já escrevia um artigo com o título: "Aborto: um direito da mulher". Na abertura do texto, evoca a feminista Francesa Ggisèle Halimi: " Sim, o meu corpo me pertence. Mas, se ele me pertence, é, acima de tudo, porque sou mais do que um corpo. Sou também uma razão, um coração, uma liberdade. Sou a responsável pelas mais importantes escolhas de um ser humano: dar, ou não a vida." Como se mulher sozinha, sem a parceria de um homem, pudesse gerar um novo ser e como se o fato de gerar um novo ser fosse razão e moral suficiente para matá-lo.
Silvia Pimentel, ela constata: no "meu país a dramática realidade de milhares de mulheres que, por não poderem se valer da Saúde Pública, provocam interrupção de gravidez que não podem ou não querem assumir, das maneiras mais precárias e com sérios prejuízos para sua saúde, quando não a própria morte".
Podem defender o aborto? Sem problema nenhum. A sociedade plural e democrática garante livre circulação de ideias conflitantes. Mas a Católicas pelo Direito de Decidir têm como missão apoiar-se " na prática e teoria feministas para promover mudanças em nossa sociedade, especialmente nos padrões culturais e religiosos". Se dizem católicas como recurso estratégico para atraírem católicas incautas; falam em " debate" com objetivo programático em criar a impressão de tolerantes.
Thomaz Rafael Gollop, médico geneticista, ginecologista, obstetra e professor universitário. Desde 1997, já dizia que o aborto deveria ser considerado um problema de saúde pública e legalizado. A missão de seu grupo é estar " diante do desafio político de produzir fatos, matérias para a imprensa, debates institucionais, artigos para revistas das mais diversas sociedades". No Brasil, o abortamento é uma importante causa da mortalidade materna no país, sendo inevitável em 92% dos casos. Além disso, as complicações causadas por este tipo de procedimento realizado de forma insegura representam a terceira causa de ocupação dos leitos obstétricos no Brasil. Em 2001, houve 243 mil internações na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) por curetagens pós-abortamento.
Taís médicos não poderia concluir outra coisas com os dados tão alarmantes: " Os Conselhos de Medicina concordaram que a Reforma do Código Penal, que ainda aguarda votação, deve afastar a ilicitude da interrupção da gestação em uma das seguintes situações: a) quando " houver risco à vida ou à saúde da gestante"; b) se " a gravidez resultar de violação da dignidade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida"; c) se for" comprovada a anencefalia ou quando o feto padecer de graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida independente, em ambos os casos atestado por dois médicos"; d) se " por vontade da gestante até a 12ª semana da gestação". Em outras palavras, defendem a liberação do aborto repetindo os mesmo jargões dos antivistas.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, que também esteve no Seminário dos Grupos de Estudos sobre o Aborto, foi representada pelo médico Olímpio Moraes. No relatório de participação do seminário, ele escreveu: " Poucos se dão conta de que uma tragédia assola o país, sem alardes no noticiário. No Brasil, por ano, 250 a 300 mulheres morrem em decorrência de abortos clandestinos. A maioria delas é jovem, negra, analfabeta, tem baixa escolaridade e nível socioeconômico. Por ser crime, a conta é incerta, mas o impacto da perda dessas vidas desestrutura famílias e enterra sonhos." Daí deve-se concluir: " A análise de tem tão complexo não pode ser tratada de forma maniqueísta, de reserva teológica ou de fé dogmática. Espera-se o equilíbrio e a isenção que permitam enxergar no aborto a relevância de um grave quadro de saúde pública.
A Teologia cristã, presumida no argumento dele, combateu o maniqueísmo já no século IV. O Jornalista Renan Barbosa, ao analisar a instrumentalização dos números sobre aborto pelo ativista pró-aborto, concluiu que " quando se comparam os dados ao redor do mundo sobre mortalidade materna, legalização do aborto, e o número de abortos efetivamente realizados, é difícil encontrar uma correlação significativa. Inúmeros fatores estão em jogo, mas a complexidade é ignorada pela retórica pró-aborto.
Nesse caso, uma pessoa só será mesmo uma pessoa quando for reconhecida pelos outros, que já são capazes de reconhecerem psicologicamente a si mesmos enquanto tais. O valor necessário de uma vida humana continua sendo extrínseco e artificial, ou um mero adicional provisório pelo fato de alguém ter conseguido evocar a si diante dos outros.
Para a manutenção da vida humana em sociedade, só o auto reconhecimento psicológico de si torna-se irrelevante e impotente para fundamento da comunidade moral. Porque de qualquer maneira o que importa é a capacidade de alguém, psicologicamente disposto, forçar os outros a reconhecê-lo como pessoa moralmente relevante.
Se a relevância moral já não é uma propriedade objetiva intrínseca dada pelo status pessoal, ela poderá nunca vir a ser. O " poderá" aqui demonstra fragilidade da situação, já que não há nada que dê garantias desse reconhecimento. Se por razões sociais, materiais, raciais, sexuais ou políticas um grupo for impotente diante de outro grupo mais forte para autodeterminar sua relevância, provavelmente serão relevantes. mas podem não ser, quem garante?
Elio Sgreccia. Se a humanização de alguém é determinada pelo reconhecimento dado a terceiros, nessecaso, então, são as atitudes de aceitação e reconhecimento da mãe que conferem o valor humano ao embrião. Caso a mãe não aceite ou reconheça o filho, a escolha de interromper a gravidez torna-se socialmente justificável.
O outro termo problemático, inspirado na ideia de reconhecimento e na distinção " ser humano" e " pessoa", é qualidade de vida". Como diz Elio Sgreccia, eis mais uma "distinção capciosa". Para o defensor do aborto o direito à vida depende da "qualidade de vida".
A possibilidade de que o aborto seja atentado dos mais graves à vida humana em seu nascedouro deveria afastar ideólogos de um lado e de outro. O problema deve ser cuidado com profundidade filosófica, com plenitude de visão, com apurado sentido ético, com informada metodologia científica, com inescapável compaixão, enfim. Compaixão pelas mães, certamente, que sofrem das dores do parto; mas também pelos frutos dessas dores, todos aqueles que, sem saber de choro e ranger de dentes, estão ansiosos por nascer.
Quem defende a interrupção voluntária da gravidez traz consigo um conjunto de opiniões especifico a respeito do início da vida, da liberdade da mulher e dos limites da coerção do Estado na vida do indivíduo. Quem se opõe ao aborto, pelo contrário, fundamenta seu juízo em opiniões distintas e divergentes. Certo ou errado, o custo moral a ser pago para rever opiniões relacionadas à morte da vida por nascer será sempre alto, e é difícil dizer com precisão quantas pessoas conseguem superar os traumas psicológicos e existenciais gerados por esses erros.Valores morais estão inseridos em um quadro referencial mais amplo de crenças.
Quando as pessoas discutem sobre aborto, muitas entram em debates com apelos emotivos sem qualquer rigor intelectual. Pretendem apenas convencer o interlocutor pelo poder da força retórica e física. Existem razões mais que suficientes para abandonar esse tipo de postura. A principal delas é que todo tipo de apelo à emoção não passa de relativismo, e por que não dogmatismo? mal disfarçado. No caso do aborto, isso é mais grave em virtude de um debate cujos resultados decidirão sobre vida de pessoas inocentes. Um debate precisa superar esse piso escorregadio das emoções e encontrar o terreno seguro da razoabilidade, sobretudo quando reconhece os frágeis limites da condição humana. Não há nada mais ilusório do que discutir sobre a vida humana e esquecer que também somos mortais.
O combate ao aborto considera o embrião uma pessoa como qualquer outra. Assim como é inaceitável o homicídio, também não se pode aceitar que uma mulher, ao decidir interrompera gravidez, mate o próprio filho. Como diz Hegel, nas Lições Históricas da Filosofia: "Na Religião cristã, desenvolveu-se a doutrina segundo a qual todos os homens são iguais perante Deus, porque Cristo os chamou para a liberdade." Razão e Fé não são excludentes, a despeito do que o secularismo antirreligioso divulga.
BIBLIOGRAFIA
Cf. Maria José Rosado-Nunes. " Aborto, maternidade e dignidade da vida das mulheres". In: Alcilene Cavalcante e Dulce Xavier. Em defesa da vida: aborto e direitos humanos. São Paulo: Católicas pelo Direito de Decidir, 2006, p. 28.
Cf. Silvia Pimentel. " Aborto: um direito da mulher". Lua Nova: Revista de Cultura e Política. vol. 2, n.2, set. 1985.
CF. Renan Barbosa. " Números sobre o aborto mostram pontos fracos da legalização como alternativa". Gazeta do Povo, 14 jul.2017.
Conselho Federal de Medicina. " Conselhos de Medicina se posicionam a favor da autonomia da mulher em caso de interrupção da gestação". 21 mar. 2013.

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