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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO CONCEITO DE CIÊNCIA • De Aristóteles a Kant não se fazia distinção entre os conceitos de Ciência e Filosofia; • A separação ocorre na Idade Moderna, na medida em que aumenta o hiato entre posições metafísicas e naturalistas; • Posições antagônicas: Espiritualismo (Aristóteles; Platão) X Antiespiritualismo (depois da abertura para a filosofia kantista); • A Ciência, segundo Aristóteles, tinha por objeto os princípios e as causas; • Para São Tomás de Aquino, era assimilação da mente dirigida ao conhecimento da coisa; • Wolf declarou que à ciência cumpre entender “o hábito de demonstrar assertos, [...] de inferi-los, por consequência legítima, de princípios certos e imutáveis; CONCEITO DE CIÊNCIA • Kant afirma, em sua obra Elementos Metafísicos das Ciências da Natureza, que ciência consiste em toda série de conhecimentos sistematizados ou coordenados mediante princípios; • Com a evolução do positivismo e evolucionismo, o conceito de ciência torna-se cada vez mais preciso: • Com Spencer, o conceito se torna mais nítido e perfeito. Categoriza o conhecimento segundo três variantes: a) Conhecimento empírico ou vulgar (conhecimento não unificado); b) Conhecimento científico (conhecimento parcialmente unificado); c) Conhecimento filosófico (conhecimento totalmente unificado); Littré corrobora essa redução conceitual: “a ciência é a generalização da experiência, e a filosofia, a generalização da ciência.” CONCEITUAÇÃO DE CIÊNCIA • Positivismo, Evolucionismo e Pragmatismo do século XIX inspiram quatro Ciências: a) A Físico-Química – estuda os fenômenos do mundo inorgânico; b) A Psicologia – estuda os fenômenos psíquicos; c) A Sociologia – trata dos fenômenos sociais; • Seis Ciências fundamentais do Curso de Filosofia Positiva de Comte: a) A Matemática; b) A Astronomia; c) A Física; d) A Química; e) A Biologia; f) A Sociologia; Por volta de 1850, Comte acrescentou a sétima: a Moral. Os filósofos alemães refutaram a categorização de Comte, surgindo muitos debates de cunho historicistas. A Ciência Política e as dificuldades terminológicas É aquela em que as incertezas afligem o estudioso; • Os termos que a cercam são plurissignificantes: Estado, Democracia, Política, etc. • Três prismas: a) O filosófico – a Ciência Política em sentido lato tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das ideias políticas; b) O sociológico – O estudo do Estado; c) O jurídico – estudo do Direito Político. Tendências contemporâneas: o Trimendicionalismo. CIÊNCIA POLÍTICA • Importância para o profissional do Direito: “O de que mais se precisa no preparo dos juristas de hoje é fazê- los conhecer bem as instituições e os problemas da sociedade contemporânea, levando-os a compreender o papel que representam na atuação daqueles e aprenderem as técnicas requeridas para a solução destes, [...] certas tarefas a serem cumpridas com relação a esse aprendizado terão de ser deixadas às disciplinas não jurídicas da carreira acadêmica do estudante de Direito.” ______ Edgar Bodenheimer, Ciência do Direito, p. 383. TRÊS PONTOS A SEREM RESSALTADOS a) É necessário o conhecimento das instituições (consciência e contexto, papel que representa, formas de organização); b) É necessário saber de que forma e por quais métodos os problemas sociais deverão ser conhecidos e as soluções elaboradas (evitando-se o transplante de soluções estranhas à sociedade, a aplicação simplista de ideias consagradas sem a adequação às exigências da realidade social); c) Esse estudo não se enquadra no âmbito das matérias estritamente jurídicas, pois trata de muitos aspectos que irão influir na própria elaboração do direito. Tudo isso está situado entre os objetos da Teoria Geral do Estado, que aprecia os aspectos jurídicos deste, e vai muito além, cuidando também dos aspectos não jurídicos, pois estuda o Estado em sua totalidade, detendo-se no direito apenas quando surge o legislado, isto , o formalmente positivado. CIÊNCIA POLÍTICA – disciplina de síntese • Fixando-se na noção de Teoria Geral do Estado, diz-se que é uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos, psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir seus fins com eficácia e justiça; • A disciplina, como tal, é nova, só aparecendo no final do século XIX; • Entretanto, já na antiguidade greco-romana se encontram estudos que modernamente estariam situados no âmbito da Teoria Geral do Estado, assim como ocorre com escritos de platão, Aristóteles e Cícero, dentre outros; CIÊNCIA POLÍTICA – disciplina de síntese • Na Idade Média se encontram trabalhos que também podem ser considerados no âmbito da Teoria Geral do Estado, a exemplo dos escritos de São Tomás de Aquino e santo Agostinho, que embora opostos entre si, mantêm em comum a preocupação em justificar a ordem existente, a partir de considerações de natureza teológica; • No final da Idade Média, surgem os sinais de reação a essa visão, como se verifica na obra de Marsílio de Pádua Defensor Pacis, 1324, onde se preconiza a separação, com independência recíproca, da Igreja e do Estado; • A grande revolução nos estudos políticos. Com o abandono dos fundamentos teológicos e a busca de generalizações a partir da própria realidade, ocorre com Maquiavel, no início do século XVI; CIÊNCIA POLÍTICA – CONTRIBUTO DE MAQUIAVEL • Sem desprezar os valores humanos, inclusive os morais e religiosos, o notável florentino faz uma observação aguda de tudo quanto ocorria na sua época em termos de organização e atuação do Estado. Ao passo em que observa, vive, como Secretário da República de Florença, a intimidade dos fenômenos políticos; • Dotado de vasta cultura histórica, também procede a comparações no tempo. Conjugando fatos de épocas diversas, chega a generalizações universais, criando assim a possibilidade de uma ciência política; • Sua obra sofreu deturpações e restrições durante muito tempo, entretanto, sobretudo na Itália, hoje, já se estuda seriamente a obra maquiaveliana, havendo reconhecimento de sua importânciapara a colocação de enfoque objetivo dos fatos políticos; CIÊNCIA POLÍTICA – OUTRAS CONTRIBUIÇÕES • Autores como Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, influenciados pela deia do Direito Natural, mas procurando o fundamento desse direito, assim como da organização social e do poder político, na própria natureza humana e na vida social, são verdadeiros precursores da antropologia cultural aplicada ao Estado; • No século XIX, especialmente na Alemanha, desenvolve-se um trabalho de sistematização jurídica dos fenômenos políticos. Ressalte-se a obra de Gerber Fundamentos de um Sistema de Direito Político Alemão, 1865, que exerceu influência sobre outro alemão, a quem se deve a criação de uma teoria Geral do Estado como uma disciplina autônoma, Georg Jellinek. Sua obra fundamental intitula-se Teoria Geral do Estado, foi publicada pela primeira vez em 1900. CIÊNCIA POLÍTICA - DENOMINAÇÕES • Na Itália : Diritto Pubblico Generale, através da obra de V. E. Orlando, surgindo mais recentemente a designação Dottrina dello Stato; • Na França: tornaram-se correntes as designações Théorie Générale de l’État e Doctrine de l’État; • Na Espanha: Derecho Político; • Em Portugal: Direito Político, relacionada a estudos sobre o Estado, sendo abrangidos depois pelo Direito Constitucional, havendo atualmente a tendência de se considerar a parte inicial desses estudos Ciência Política; • No Brasil: Os estudos relativos ao Estado foram primeiramenteincluídos como parte inicial do Direito Público e Constitucional, ocorrendo o desdobramento em Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado, por volta dos anos 1940; CIÊNCIA POLÍTICA - DENOMINAÇÕES • Recentemente, no Brasil, os estudos relacionados ao Estado, seguindo a mesma tendência observada em Portugal, e sob influência de um grande número de obras de autores norte-americanos, e do estreitamento entre as Universidades brasileiras e as do EUA, inúmeros professores e autores de Teoria Geral do Estado passaram a identificar esta disciplina como Ciência Política; • O relacionamento entre Teoria Geral do Estado • e Ciência Política é de interesse mais acadêmico; • Era obrigatório o ensino da TGE nos cursos jurídicos e era expressamente referida como parte do Direito Constitucional; • A partir de 1994, por decisão do governo federal, a partir de dezembro de 1994, o ensino da TGE continuou a ser obrigatório, mas, de maneira ambígua, o ato governamental menciona, entre as disciplinas fundamentais do curso jurídico, “Ciência Política (com Teoria do Estado)”. CIÊNCIA POLÍTICA E O ESTADO • Max Weber, em sua famosa conferência publicada com o título A Política como Vocação, conceitua política como: “o conjunto de esforços feitos com vista a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado.” • Neil MacCormic, professor da Universidade de Edimburgo, tratou da relação Estado e política num ensaio inserido no livro Theories and Concepts of Politics, coordenado por Richard Bellamy (Manchester University, 1993), fazendo a seguinte observação: “O Estado é de interesse central para a política, sendo ele próprio um locus para o exercício do poder, um produtor de decisões e a comunidade política primária para muitos seres humandos, no mundo contemporâneo”. CIÊNCIA POLÍTICA E O ESTADO • Acrescenta o mesmo autor: “concebido como um sujeito ativo, o Estado age através de indivíduos e grupos organizados de pessoas, que tomam e implementam decisões em nome do Estado, e que, ao decidir, alegam que são agentes ou órgãos do Estado.” • O Estado é universalmente reconhecido como pessoa jurídica que expressa sua vontade por meio de determinadas pessoas ou de determinados órgãos. • Nesse dado é que se apoiam todas as teorias que sustentam a limitação jurídica do poder do Estado, bem como o reconhecimento do Estado como sujeito de direitos e de obrigações jurídicas. O poder do Estado é, portanto, jurídico, sem perder seu caráter político. CIÊNCIA POLÍTICA- OBJETO • A Ciência Política estuda a organização política e os comportamentos políticos, à luz da Teoria Política, sem levar em conta os elementos jurídicos. • Tal enfoque é útil para complementar os estudos da Teoria do Estado, mas insuficiente para a compreensão dos direitos, das obrigações e das implicações jurídicas que contêm no fato político ou dele decorrente. • Quanto ao objeto da Teoria Geral do Estado, pode-se dizer, de maneira ampla, que é o estudo do Estado sob todos os aspectos, incluindo a origem, a organização, o funcionamento e as finalidades, compreendendo tudo o que existe no Estado e influi sobre ele. • O Estado pode ser observado de diferentes perspectivas e apresenta- se como um objeto diverso. Conforme o ponto de vista do observador. CIÊNCIA POLÍTICA E O ESTADO • É possível fazer um agrupamento de múltiplas orientações, reduzindo-as a três diretrizes fundamentais: a) Filosofia do Estado – busca a justificativa do Estado a partir dos valores humanos, éticos e morais, idealista; b) Sociologia do Estado – busca compreender o Estado em si mesmo. Eminentemente realista; c) Formalismo do Estado – reúne autores que que admitem e consideram o Estado somente como realidade normativa, criado pelo direito para realizar fins jurídicos, o estudo se dá a partir de considerações técnico-formais. Consistem em visões extremadas e unilaterais. Em reação, surgiu uma nova orientação que procura efetuar uma síntese dinâmica das três direções, adotando uma posição chamada por Miguel Reale de CULTURALISMO REALISTA. CIÊNCIA POLÍTICA E O ESTADO • Entre os autores que consideram o estado um todo dinâmico , passível de ser observado de vários ângulos, mas conservando uma unidade indissociável, situam-se: Alexandre Groppali, que, com clareza e precisão, indica o objeto da Doutrina do Estado por uma perspectiva tríplice, que, segundo o autor, compreende três doutrinas que se integram compondo a Doutrina do Estado: a) Doutrina Sociológica – estuda a gênese e evolução do Etsado; b) Doutrina Jurídica – ocupa-se da organização e érsonificação do Estado; c) Doutrina Justificativa – cuida dos fundamentos e dos fins do Estado. ______ A obra de Alexandre Gropali foi tradizida para o português por Paulo Edmur de Souza Queiroz, Saraiva. REFERÊNCIAS • BONAVIDES, Paulo. 24ª ed., São Paulo: Malheiros, 2017. • DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 33ª ed. São Paulo: Saraiva , 2016.
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