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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 1 www.medresumos.com.br ANTÍGENO E ANTICORPOS O binômio Antígeno x Anticorpo corresponde, praticamente, à base fundamental da imunologia. Um antígeno é é toda a partícula ou molécula capaz de iniciar uma resposta imune, a qual começa pelo reconhecimento pelos linfócitos e acumula com a produção de um anticorpo específico; anticorpos (imunoglobulinas) são glicoproteínas sintetizadas e excretadas por células plasmáticas derivadas dos linfócitos B, os plasmócitos, presentes no plasma, tecidos e secreções que atacam proteínas estranhas ao corpo, chamadas de antígenos, realizando assim a defesa do organismo (imunidade humoral). ANTÍGENO Antígenos (Ag) são substâcias particuladas (células, bactérias, esporos de fungos e vírus, entre outras) ou moléculas solúveis (proteínas, glicoproteínas, lipoproteínas, polissacarídios) que apresentam duas características principais: imunogenicidade (capacidade de ativar linfócitos T e/ou B) e antigenicidade (capacidade de reagir com os produtos específicos dessas celulas, no caso os anticorpos (Acs) produzidos por linfócitos B ou receptores de LT). CARACTERÍSTICAS DA IMUNOGENICIDADE O elemento deve ser estranho; Peso molecular acima de 10 mil daltons; Ter configuração espacial que propicie a resposta imune; Ter determinantes antigênicos acessíveis; Ser administrados em doses adequadas; Ter um bom estado nutricional; Idade funcional do sistema imune Pelas suas caracterísitcas fisico-quimicas, as proteinas e alguns polissacarídios complexos são as principais moléculas que apresentam essas duas propriedades (imunogenicidade e antigenicidade). Essa definição é utilizada porque há moléculas que, apesar de terem antigenicidade, não são imunogênicas; essas moléculas são denominadas de haptenos. Haptenos são, portanto, moléculas de baixo peso molecular que não tem poder imunogênico, apesar de ter antigenicidade. As características físico-químicas de lipídios, carboidratos simples e ácidos nucleicos propiciam que estas moléculas atuem como haptenos. OBS: Os haptenos (como a insulina, penicilina, anilina) podem até serem fagocitados por macrófagos e apresentados aos linfócitos, mas por já serem pequenos e ainda degradados (ficarem menor ainda), não são capazes de apresentar imunogenicidade. Já quando um hapteno se liga a uma proteína carreadora, ao ser fagocitado, degradado e apresentado, pode sim, de maneira sucinta, desencadear uma resposta imune. DETERMINANTE ANTIGÊNICO Determinantes antigênicos (epítopos) são sequências específicas de aminoácidos capazes de desencadear uma resposta imune. Quando ocorre a degradação de microrganismos pela APC, esta apresenta apenas essa sequência específica chamada de epítopo ao linfócito, que inicia, por sua vez, a resposta imune. Um anticorpo não apenas reconhece a sequência dos aminoácidos (estrutura primária) como também a sua conformação espacial (estruturas secundária e terciária). Cada estrutura pode formar diferentes determinantes antigênicos, as estruturas reconhecidas pelos anticorpos. Existem proteínas que, por exemplo, precisam ser desnaturadas ou clivadas para desvendarem seu Arlindo Ugulino Netto. IMUNOLOGIA 2016 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 2 www.medresumos.com.br determinante antigênico, uma vez que este estava inacessível. Outro caso importante são aquelas proteínas que apresentam um epítopo específico e quando elas são desnaturadas, perdem essa afinidade com o anticorpo. OBS 1 : Determinantes neoantigênicos são aquelas proteínas que apresentam sequencias típicas que poderiam desencadear uma resposta imune, mas estão inacessíveis na molécula peptídica. Daí, ao entrar em ação uma protease, o peptídeo é clivado dando origem a um novo determinante. REAÇÃO CRUZADA O reconhecimento dos determinantes antigênicos por anticorpos, apesar de específico, não é tão rigoroso, podendo ocorrer reações de maior ou menor avidez com diferentes antígenos. Quando o anticorpo reage com outros antígenos, alem daquele que induziu a resposta imune, ocorre o que chamamos de reação cruzada. A reação cruzada, no entanto, só ocorre quando os determinantes antigênicos são similares àqueles que induziram à produção do anticorpo. Por exemplo, uma gripe pode ser causada por um vírus “A” e a partir dele, são produzidos anticorpos contra ele. No entanto, ao entrar em contato com um vírus B, com determinantes antigênicos similares aos dos vírus A, propicia-se que os anticorpos contra o vírus A associem-se ao vírus B. Isso é uma das explicações de que as gripes serem tão comuns. Outro exemplo de reação cruzada é o que ocorre com transfusões sanguíneas com grupos ABO. Observe a tabela abaixo que mostra a relação dos antígenos de cada grupo sanguíneo e anticorpos presentes no seu plasma: TIPO SANGUÍNEO GENÓTIPO ESTRUTURA DO GLICOCÁLIX AGLUTINOGÊNIO (antígenos na membrana das hemácias) AGLUTININA (anticorpos no plasma) A I A I A ou I A i R – Glc – Gal – NacGal – Gal - NacGal | Fuc A Anti-B B I B I B ou I B i R – Glc – Gal – NacGal – Gal - Gal | Fuc B Anti-A AB I A I B R – Glc – Gal – NacGal – Gal - NacGal | Fuc R – Glc – Gal – NacGal – Gal - Gal | Fuc AB - O ii R – Glc – Gal – NacGal – Gal | Fuc - Anti-A e Anti-B As transfusões desejadas são aquelas que acontecem entre o próprio grupo sanguíneo, ou até mesmo do grupo O para os outros grupos sanguíneos (como a doação é feita de apenas por concentrados de hemácia, ou seja, sem o conteúdo plasmático, o que significa que os anticorpos do O não entram na transfusão), sendo assim determinado de doador universal. Já quando se doa sangue do grupo B para o grupo A, por exemplo, ocorre reação cruzada, aglutinando o sangue. A questão é: onde os grupos sanguíneos obtiveram seus anticorpos se nunca entraram em contato com sangue de um grupo diferente? A resposta é baseada em bactérias existentes no trato gastrointestinal, que apresentam em sua membrana carboidratos semelhantes ao da membrana das hemácias do sistema ABO, o que determina a primeira exposição das hemácias a esses antígenos, que formaram o fenótipo do sangue. É essa similaridade dos carboidratos da microbiota do TGI que caracterizam a reação cruzada dos anticorpos do sangue do receptor para com as hemácias do doador, quando estes são de grupos sanguíneos diferentes. INTERAÇÃO ANTÍGENO x ANTICORPO Todas as ligações entre o antígeno e o anticorpo são do tipo não- covalentes (pontes de hidrogênio, eletrostática, força de Van der Waals, interações hidrofóbicas), ou seja, a interação intermolecular Antíngeno- Anticorpo se dá por uma atração de forma fraca. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 3 www.medresumos.com.br ANTICORPOS Anticorpos (Ac), ou imunoglobulinas (Ig), são glicoproteínas sintetizadas e excretadas por células plasmáticas derivadas dos linfócitos B, os plasmócitos, presentes no plasma, tecidos e secreções que atacam proteínas estranhas ao corpo, chamadas de antígenos, realizando assim a defesa do organismo (imunidade humoral). Depois que o sistema imunológico entra em contato com um antígeno (proveniente de bactérias, fungos, etc.), são produzidos anticorpos específicos contra ele. Apresentam como características: Maior variedade de estruturas antigênicas; Maior habilidade de discriminação; Maior força de ligação com o antígeno OBS 2 : A descoberta da presença de imunoglobulinas no sangue se deu a partir da injeçãode antígenos no soro de camundongos fazendo, logo depois, eletroforese do mesmo. Observou-se que, além do pico eminente de albumina, picos na fração γ de proteínas. Concluiu-se que γ-proteínas (γ-globulinas) corriam no plasma sanguíneo e aumentavam de concentração diante de respostas imunes. A maioria das imunoglobulinas séricas apresenta migração do tipo gama (na eletroforese) e por isso são consideradas imunoglobulinas. O termo anticorpo é utilizado quando estamos nos referindo a moléculas da família das Igs que têm capacidade de reagir especificamente com um determinado antígeno. LOCALIZAÇÃO DAS IMUNOGLOBULINAS As imunoglobulinas podem ser de dois tipos: membranar (presentes na membrana do LB) ou secretoras (livres no plasma). As Ig membranares são o próprio BCR, complexo receptor presente na mebrana do LB. Os anticorpos presentes no fluido sanguíneo são aqueles sintetizados pelos plasmócitos (uma verdadeira industria de anticorpos), que é a diferenciação do LB. Os anticorpos membranares se diferenciam dos secretores por possuir uma cauda bem maior em sua estrutura, responsável por fixá-lo firmemente à membrana do LB. Quando ocorre a ligação antígenoXanticorpo, pode-se diferenciar duas fases: Fase inicial (reconhecimento): realizado pelos Ig membranares (que apresenta AA hidrofóbicos). Fase efetora: função dos Ig secretores presentes no plasma (com AA hidrofílicos). MECANISMO DE AÇÃO (DE MORTE) O anticorpo, ao reconhecer o antígeno, passado a fase incial, tem início a fase efetora, passando, então, pelos seguintes passos: Ativação do sistema complemento através da interação antígenoXanticorpo. Esse sistema é responsável por lisar o microrganismo por meio do MAC. Opsonização: o anticorpo se liga ao antígeno para facilitar a fagocitose. Neutralização espacial: o anticorpo se liga ao antígeno, fazendo com que aquele, ao ser modificado estruturalmente, perca sua função patogênica. Citotoxicidade dependente de anticorpo (ADCC): liberação de citocinas (principalmente pelas células NK) se houver interação anticorpo-antígeno. ESTRUTURA DAS IMUNOGLOBULINAS A estrutura das Igs só foi estudada na década de 1970, com o uso das enzimas proteolíticas pepsina e papaína. Esses experimentos levaram à conclusão de que as Igs são formadas por quatro cadeias polipeptídicas de diferentes pesos moléculares. Duas dessas cadeias possuem PM mais alto, sendo compostas de 450 AA e denominadas cadeias pesadas (H). As outras duas cadeias, as leves (L), apresentam PM menor e 212 resíduos de aminoácidos. Estas cadeias estão associadas entre si por pontes de dissulfeto (ligação forte, de natureza covalente) que ocorrem quando existem duas cisteínas próximas, formando um tipo de Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 4 www.medresumos.com.br estrutura globular característico das Igs. Essa estrutura tem forma globular porque cada ligação dissulfeto intracadeia forma uma alça peptídica de 60 a 70 AA. As pontes dissulfeto intracadeia dividem as regiões variáveis e constantes pertencenteas às cadeias pesadas e leves em domínios específicos a cada tipo de Ig. No ápice de das cadeias leve e pesada (na região N-terminal), tem-se a região variável (V) que determina a alta especificidade de cada tipo de Ig. Em outras palavras, as regiões contantes apresentam função meramente estrutural, enquanto as regiões variáveis são as responsáveis pelas características específicas de cada Ig, sendo seus genes produtores muito mais aleatórios que as outras regiões. Nos ensaios utilizando a papaína ocorre clivagem da molécula de Ig em regiões acima da ponte de dissulfeto que associa as duas cadeias pesadas originando três fragmentos: dois que se unem ao antígeno e são denominados de fragmentos Fab (estão sempre associados) e um que se cristaliza quando quebram, o Fc. São as Fab que entram em contato com os antígenos (e em sua extremidade variável está a associação específica do antígeno com os anticorpos) e a Fc, completamente composta de região constante, é responsável pela fixação da Ig. OBS 3 : Em relação à região variável das Igs, há sequencias de aminoácidos hipervariáveis complementares à sequencia de aminoácidos dos determinantes atigênicos presentes nos antigenos. As regiões hipervariáveis da cadeia pesada estão presentes entre resíduos de 30-35, 50-62 e 94-102 aminoácidos, formando o que se chama de CDR1 (complementarity determining regions 1 = região determinante de complementariedade), CDR2 e CDR3, respectivamente. Os domínios das imunoglobulinas são duas camadas β-laminadas pregueadas distribuídas em 3 a 5 camadas de cadeias polipeptídicas antiparalelas. Essas regiões conferem ao anticorpo: Superfície específica de ligação com o antígeno; Múltiplos contatos com o antígeno; Superfície complementar a estrutura tridimensional do antígeno TIPOS DE IMUNOGLOBULINAS (ISOTIPOS) Os anticorpos podem existir em diferentes formas conhecidas como isotipos ou classes. Nos mamíferos existem cinco isotipos diferentes de anticorpos, conhecidos como IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Eles possuem o prefixo "Ig" que significa imunoglobulina, um outro nome utilizado para anticorpo. Os variados tipos se diferenciam pelas suas propriedades biológicas, localizações funcionais e habilidade para lidar com diferentes antígenos, como mostrado na tabela ao lado. O fragmento Fab (mais especificamente, a sua região variável) das Igs confere a essas moléculas o reconhecimento específico dos determinantes antigênicos enquanto o fragmento Fc, que distingue as classes de Igs, confere funções efetoras distintas, de acordo com a capacidade dessas regiões em se associar a diferentes receptores ou outras moléculas do sistema imune. IgA (IgA1, IgA2): imunoglobulina dimérica (mais comum, podendo ser monomérica e trimérica) encontrado em grandes concentrações nas mucosas e em secreções externas (saliva, colostro, lágrimas, secreções urogenitais). Sua meia vida é em torno de 6 dias. Tem como função a imunidade das mucosas; ativa o sistema complemento pela via alternativa. IgD: é encontrada apenas na BCR, não estando presente nos líquidos sanguíneos. Responsável apenas por servir como receptor de antígenos das células B. Tem meia vida de 3 dias. IgE: imunoglobulina presente nos liquidos internos do corpo em concentrações inferiores a 1%. Tem meia vida de 2 dias. Esta relacionado com as reações de hipersensibilidade; combate a helmintos; estimula a secreção de histamina pelos basófilos e monócitos. IgG (IgG1, IgG2, IgG3, IgG4): imunoglobulina monomérica (uma única unidade básica) presente nos liquidos internos do corpo, correspondendo a 70-75% do total das Igs séricas. Sua meia vida é longa: 23 dias. As Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 5 www.medresumos.com.br moléculas das subclasses da IgGs apresentam capacidade de interagir com antígenos de diversos tipos de estruturas quimicas e ativam diferentes mecanismos de eliminação antigênica. Tem como funções: opsonização, ativação do complemento, citotoxicidade celular dependente de anticorpo, imunidade neonatal, inibição por feedback das células B (tem capacidade de atravessas a barreira placentária). IgM: imunoglobulina pentamérica (cinco unidades básicas) presente nos liquidos internos do corpo e nas secreções externas. Suas cadeias (como em todos os Ig poliméricos) são ligados pela cadeia J. Tem media vida de 5 dias. Tem como funções: receptor de antígenos das células B inativas, ativação do complemento pela via clássica. OBS 4 : A IgG faz parte de respostas secundárias (respostas de memória muito mais rápida e eficiente), já a IgM está relacionada a respostas primárias (fase aguda). Caso a criança tenha IgG sem nunca ter contato com uma infecção, por exemplo, a explicação é o fato da IgG da mãe ter atravessado a barreira placentária e imunizado a criança. Mas se for identificado IgM na criança, significaque a mesma está desenvolvento imunidade para uma doença que está se iniciando ainda. OBS 5 : O que classifica a imunoglobulina ser IgA, IgD, IgE, IgG ou IgM é o gene que codificou a cadeia Fc de cada uma: α, δ, ε, γ, μ. Com isso, a Fc das Ig não só tem carater estrutural, mas classificatório. SÍNTESE E EXPRESSÃO DA IMUNOGLOBULINA A célula-tronco (precursora linfoide) na medula óssea dá origem a uma célula pré-B, que após completa a síntese de suas Ig, dará origem a célula B madura. Essa, ao se diferenciar em plasmócito, secreta os Igs. Síntese: Ribossomos do R.E.R. Montagem: Chaperonas (Calnexinas) Expressão: Via Complexo de Golgi CARACTERISTICAS DAS IMUNOGLOBULINAS Especificidade: Capacidade de distinguir pequenas diferenças na estrutura química do antígeno. Afinidade/ Avidez: Capacidade de se ligar ao antígeno. Diversidade: grande número de imunoglobulinas que se ligam a diferentes antígenos, dando origem ao repertório de anticorpos. Repertório de Anticorpos: Coleção de anticorpos com especificidade diferente (recombinação genética aleatória). Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 6 www.medresumos.com.br ANTICORPOS MONOCLONAIS
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