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Globalização, meio ambiente e direito

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FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO
CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006
 Globalização, meio ambiente e direito
Plauto Faraco de Azevedo. Doutor em direito pela Universidade Católica de Louvain. Professor de Introdução ao Direito e de Globalização e Economia, na Faculdade de Direito da Escola Superior do Ministério Público.
Resumo: As origens da globalização encontram-se na busca da submissão do planeta ao homem, servindo-se da ciência e da tecnologia. Se não há dúvida que se trata de um fenômeno inelutável, sua característica neoliberal atenta contra o direito e conduz ao impasse ecológico.
Palavras-chave: globalização, globalização neoliberal, globalização e ecologia.
Asbtract: The origins of globalization can be found in the human search for domination of the planet through science and technology. It remains no doubt that this is an ineluctable phenomenon but its neoliberal inspiration affronts the law and it leads to the ecological impasse.
Keywords: globalization, neoliberal globalization, globalization and ecology.
A globalização não é, com se quer fazer crer, um fenômeno novo. A tendência humana à ocupação de todo o espaço geográfico disponível é de todos os tempos, alargando-se na medida em que as possibilidades econômicas e tecnológicas o permitiram. 
 A "interação das sociedades é, certamente, tão antiga quanto a história da humanidade. Há, pelo menos, dois milênios as 'rotas da seda' não somente veicularam mercadorias, mas também sustentaram trocas de conhecimentos científicos e técnicos e de crenças religiosas, que modelaram - na pior das hipóteses, parcialmente, - a evolução de todas as regiões do mundo antigo, asiático, africano e europeu". É certo, porém, que os mecanismos dessas interações e sua dimensão eram diversos daqueles que viriam a ocorrer nos tempos modernos, com o advento do capitalismo.[1: AMIN, Samir. Capitalismo, imperialismo, e mundialização. In: SLOANE, José e TADDEI, Emílio (orgs.) Resistências mundiais: de Seattle a Porto Alegre. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 16.]
 A ambição prometeica de submissão do planeta ao homem, advinda da concepção da ciência ocidental, ganha impulso decisivo com o Renascimento. O mundo se alarga com os descobrimentos propiciados por novas tecnologias de navegação, conduzidos pelo ambição de espanhóis e portugueses de tomar parte nos proventos do comércio com o Oriente, que vinha sendo monopolizado pelas cidades italianas, obrigando a Península Ibérica "a pagar altos preços pelas sedas, perfumes, especiarias e tapeçarias importadas da Ásia". [2: BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental. Tradução de Leonel Vallandro. 2.ed. Porto Alegre: Globo, 1964. v. 1, p. 488. Título original: Western civilizations.]
Ao Renascimento, como força transformadora da realidade econômica , agregaram-se as idéias advindas da Reforma Protestante, notadamente com sua aceitação do lucro, assinalando a transição da economia estática dos fins da Idade Média para o dinâmico regime capitalista do século XV e seguintes. Tal transição é conhecida como Revolução Comercial.
O tráfico comercial entre Ocidente e Oriente foi singularmente intensificado, tendo sido a expansão do suprimento de metais preciosos o mais importante resultado dos descobrimentos. Houve um extraordinário aumento das reservas de ouro e prata, que influi de modo decisivo no desenvolvimento da economia capitalista. Como o ouro e a prata "vieram a ser empregados principalmente como símbolos de utilidades e não como utilidades em si mesmas, o ideal medieval do comércio como uma troca de coisas equivalentes perdeu a sua razão de ser e foi substituído pela concepção moderna do negócio com mira no lucro". Com tal afluxo de metais preciosos sobreveio também a especulação. [3: BURNS, Edwar McNall, op. cit., p. 490-1. Grifei.]
Quase todos os dados característicos do sistema capitalista esboçaram-se à época da Revolução Comercial: o empreendimento privado, a concorrência, o negócio com fito no lucro, a forma de pagamento dos trabalhadores não em razão da quantidade de riqueza que criam, "mas na sua capacidade de competir uns com os outros para conseguir empregos". Desenvolve-se, então, o sistema bancário com o fim da vigorosa condenação da usura vigente durante a Idade Média, o que ocasionara o monopólio do crédito pelos muçulmanos e judeus. [4: Ibid., p. 491.]
No século XIV o empréstimo de dinheiro tornou-se empresa comercial, destacando-se a firma dos Médicis, em Florença, atingindo no século XV a Alemanha do norte, França e Países Baixos.
 A Revolução Comercial não se limitou ao desenvolvimento do comércio e do sistema bancário. Houve modificações fundamentais nos métodos de produção. Surgiram novas indústrias ignoradas pelo sistema corporativo, de que constituem exemplos a mineração, a fundição de minérios e a indústria da lã, cujo rápido desenvolvimento foi estimulado pelos progressos técnicos tais como a invenção da roda de fiar e do tear para tecer meias e o descobrimento de um novo método de fundir latão que economizava quase metade do combustível empregado. "Nas indústrias de mineração e fundição de minérios adotou-se uma forma de organização muito semelhante à que chegou até nós. As ferramentas e instalações pertenciam aos capitalistas, enquanto os operários eram meros percebedores de salários, sujeitos aos azares dos acidentes, do desemprego e das doenças profissionais."[5: Ibid., 492-3. Grifei.]
Sem que se pretenda adentrar as minúcias desta transformação econômica, propiciadora do surgimento do capitalismo, cabe assinalar o advento da sociedade por ações, no século XVI, mediante a subscrição de quotas de capital por um número considerável de investidores, permitindo um acúmulo de capital mediante a ampla distribuição das ações. Embora não tivessem personalidade jurídica como as modernas sociedades anônimas, constituíam uma unidade comercial permanente, independente da morte ou retirada de sócios, os quais respondiam pelos débitos da companhia na proporção de seu investimento. A maioria destas sociedades destinavam-se a empreendimentos comerciais, tendo sido mais tarde organizadas também para fins industriais. [6: Ibid., p. 494-5.]
Da consideração desta globalização renascentista percebe-se que tal processo não só não é novo, como nele se encontram muitos dos mecanismos econômicos e jurídicos característicos de sua fase atual. 
A atual globalização ou mundialização já poderia ser antecipada no início do século XX, percebendo-se o extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico atingido pelo homem, o que lhe permitiu interferir profundamente na natureza, envolvendo o mundo em uma rede técnica a operar como "uma imensa usina destinada a explorar suas matérias e energias". Já então eram perceptíveis as possibilidades e perigos característicos desta evolução histórica. Karl Jaspers, em 1931, assinalava que se o ser humano não se revelasse capaz de colocar-se à altura dos desafios emergentes, "tal situação poderia converter-se no período mais miserável da história, indicando a ruína da humanidade". [7: JASPERS, Karl. La situation spirituelle de notre époque. 4.ed. Paris: Desclée de Brower; Louvain: E. Nauwelaerts, 1966. p. 29.]
Esta possibilidade não fez senão acentuar-se, na medida em que se tornou cada vez mais presente a racionalidade técnica, vendo-se a existência orientada pelo domínio do calculável e para a dominação técnica do mundo.[8: Ibid., p. 23.]
Os tempos modernos bem espelharam suas raízes renascentistas, marcadas pelo individualismo e pelo maquinismo de nosso tempo. Neste contexto, Descartes construiu a sua filosofia, que “é a expressão de uma concepção físico-matemática”. Querendo converter o obscuro e o confuso no claro e no distinto, identificou este com o quantitativo e o mensurável, tendo qualificado os sentimentose as paixões como idéias obscuras e confusas. Julgava que “analisando-as, o homem verdadeiramente pensante poderá viver tranqüilo, isento de emoções, sob o impulso tão-só do intelecto". Por este caminho, “ao largo dos séculos XVIII e XIX, propagou-se uma verdadeira superstição da ciência”, avançando, então, a técnica que “fez nascer o dogma do progresso geral e ilimitado, a doutrina do better-and-bigger”. Acreditava-se que esta ciência seria capaz de eliminar desde o medo até a peste, suscitando um entusiasmo que chegou ao auge no século XIX - a eletricidade e a máquina a vapor manifestavam o ilimitado poder do homem; a doutrina de Darwin, por outro lado, vinha confirmar a idéia geral do progresso. Terminou-se por convertê-lo em “uma espécie de religião laica”. [9: SABATO, Ernesto. Hombres y engranajes. Buenos Aires: Espasa-Calpe; Barcelona: Seix Barral, 1993. p. 59-68.]
O Iluminismo, com seu culto à razão, acreditando que a filosofia sucederia ao passado de trevas da Inquisição, colaborou decisivamente para o progresso científico. É desta época a crença ocidental no progresso geral do mundo, em avanço regular, em uma melhoria crescente, quase automática, dos valores morais do gênero humano. Desta mesma época vem a noção de progresso, que faria longa fortuna até nossos dias, impregnando inclusive o Direito Ambiental, tendo como sua derivada a noção de desenvolvimento.[10: PILLORGET, Suzanne. Apogée et déclin des sociétés d'ordres (1610 -1787). Paris: Larousse, 1969. p. 247-49. ][11: Jean Ziegler trata da origem e evolução da noção de desenvolvimento, mostrando que ela deriva dos trabalhos dos ideólogos do Banco Mundial, que têm, tradicionalmente, demonstrado uma admirável flexibilidade teórica, produzindo teorias justificativas encobridoras do fracasso desta instituição. Ao tempo de MacNamara, preferia-se a teoria do"crescimento=progresso=desenvolvimento=felicidade geral". Em 1972, declarou-se, no Clube de Roma, que o crescimento ilimitado levaria à destruição do Planeta. O Banco Mundial passou, então, a falar em "desenvolvimento integrado", que consideraria não só o crescimento do produto interno bruto, mas também suas conseqüências sociais. Vieram os relatórios com críticas ao capitalismo desenfreado, resultante de grupos de pesquisa presididos por Gro Hare Brundtland e Willy Brandt criticando o economismo do Banco Mundial. Este passou, então, a teorizar sobre o "desenvolvimento humano". Com o advento do movimento ecológico, os ideólogos do Banco Mundial passaram a defender, fervorosamente, o "desenvolvimento sustentável (sustainable development)". ZIEGLER, Jean. Portrait de groupe à la Banque Mondiale, Le Monde Diplomatique, 583, oct. 2002, année 49, p. 32-3. JASPERS, Karl, p. 24.]
Dentro destas coordenadas históricas, desenvolveu-se o capitalismo, passando do liberalismo econômico, no século XIX, ao Estado do Bem-Estar Social. Na primeira destas fases, cujo ideário encontra-se na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, enunciaram-se os direitos e garantias individuais, os quais, de sua enunciação teórica à prática política, passaram por caminhos tortuosos de afirmação-negação. Contudo, sua explicitação em documento político-jurídico de influência universal, constituiu um passo de extrema relevância na evolução dos hoje denominados Direitos Fundamentais. A característica desses direitos e garantias então previstos, é de exigirem do Estado tão-só uma prestação negativa, correspondente à autolimitação de seu poder. 
A prática política revelou, dramaticamente, a necessidade de uma outra categoria de Direitos Fundamentais, indispensável à fruição dos direitos e franquias individuais. Mostrou a experiência histórica que, à época do Liberalismo Econômico, os custos sociais foram tão elevados que Inglaterra, França e Prússia foram constrangidas a elaborar regras de controle do mecanismo do mercado, nas quais se encontram as origens do Direito do Trabalho e do Direito Previdenciário. [12: DE LA CUEVA, Mario. Derecho mexicano del trabajo. 12.ed. México: Porrúa, 1970. p.23-7.]
Foi este o ponto de partida para a progressiva criação dos Direitos Fundamentais Sociais, mercê da intervenção estatal na economia, com vistas à realização da justiça distributiva, vale dizer, da melhor distribuição dos direitos e oportunidades, em benefício dos desfavorecidos. Tal tendência acentuou-se, desde o início do século XX, com a crise sócio-econômico-política das duas Grandes Guerras Mundiais, com o entreato da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Corporificou-se, assim progressivamente, a Social Democracia européia, em que se inscreveram constitucionalmente os Direitos Fundamentais Sociais, a exigir do Estado prestações jurídicas positivas para a sua efetiva realização. 
É de ver-se que a progressiva inscrição constitucional desta categoria de direitos não foi alheia às idéias do socialismo utópico e à institucionalização do "socialismo real", na União Soviética. Temia-se, com efeito, que as idéias "comunistas" fizessem também seu caminho no Ocidente.
Por esta forma, agregavam-se essas duas categorias de Direitos Fundamentais, a última conferindo o substrato econômico indispensável ao cumprimento da primeira, ao mesmo tempo em que, do ponto de vista geopolítico, opunham-se dois sistemas jurídicos contrastantes, inaugurando-se o poder bipolar no mundo e o conflito ideológico que o animou. 
Tal situação persistiu até que ocorresse a queda do Muro de Berlin, em 1989, e a desintegração da União Soviética, em 1991. 
Com esta mudança no quadro histórico global, o mundo evoluiria para uma configuração de poder unipolar. Liberado o establishment de contraposição política, o mercado volta a reinar de modo incontraste, reclamando o que cedera por temor da expansão do socialismo real. A entidade do mercado ilimitado, fundada sobre si mesma, mostra a sua face cruel, agredindo as conquistas do próprio Liberalismo e os Direitos Fundamentais Sociais advindos do Welfare State. 
Em conseqüência desta modificação fundamental do tecido político-jurídico e da configuração de poder mundiais, advém o neoliberalismo econômico, travestido de globalização. Apresenta-se como única via, como único mundo possível, com o apoio decisivo de boa parte da imprensa, particularmente da televisão, valendo-se de metáforas adrede construídas e sistematicamente repetidas, na tentativa ideológica de desfigurar a compreensão da realidade, buscando tolher o pensamento e a compreensão da história. O neoliberalismo escamoteia sua ação usando de metáforas, tais como modernidade, flexibilidade, reestruturação das estruturas empresariais, aberturas dos mercados, desregulamentação, liberalização, etc. A economia totalitária vem a dispensar o Estado totalitário, na era da mundialização.[13: RAMONET, Ignacio. Géopolitique du chaos. Paris: Gallimard, 1999. p. 114.]
O trabalho ideológico do neoliberalismo, não só o apresenta como um imperativo histórico incontornável, como busca identificá-lo com a mundialização. Sucede que, sendo esta uma tendência natural das possibilidades humanas, não há razão plausível a indicar que deva necessariamente orientar-se pelas forças do mercado sem controle. 
Dado saliente do neoliberalismo é o seu objetivo de "garantir a acumulação incessante de capital pela acumulação incessante de capital", o que "significa produção para a troca e não produção para o uso". Para diminuir custos e produzir cada vez mais, recorre à externalização dos custos sendo uma parte destes paga por terceiros, seja o Estado, a sociedade ou a natureza. As operações de produção excluem "o custo de restauração do meio ambiente". Esta circunstância torna o problema ecológico, hoje, "mais sério do que nunca por causa da crise sistêmica em que entramos. Esta crise estreitou de várias maneiras a possibilidade de acumulação de capital, fazendo da externalização dos custos a muleta, a alternativa mais prontamente disponível". Não havendo uma mudança de rumos, caminha-se em direção à catástrofe ecológica. [14: WALLERSTEIN,Immanuel. Ecologia e custos capitalistas de produção. Sem saída. In: ______O fim do mundo como o concebemos. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 111-121.]
Para tentar afastar esta ameaça, cujos contornos melhor se evidenciam a cada dia que passa, faz-se indispensável considerar o contexto histórico global. Neste, destacam-se a anemia da política, a economia afastada do humano, a democracia limitada a formas rituais, a moral indiferente aos valores da humanidade e da solidariedade e a ciência orientada por um paradigma incapaz de compreender a multiplicidade e a interligação de todas as dimensões da vida.
No Direito, deve-se afastar decisivamente a ideologia da separação. Como demonstrou Roberto Lyra Filho, o Direito, como processo histórico dentro do processo histórico global, há de ser visto em todas as suas dimensões - dogmáticas, fáticas e valorativas, sob pena de tornar-se impossível sua apreensão ontológica.[15: LYRA FILHO, Roberto. Para um direito sem dogmas. Porto Alegre: Fabris, 1980. passim; ______ Problemas atuais do ensino jurídico. Brasília: Obreira, 1981. passim; ______ O direito que se ensina errado. Brasília: Centro Acadêmico da UNB, 1980. passim; ______ Razões de defesa do direito. Brasília: Obreira, 1981. passim; ______ Pesquisa em que direito? Brasília: Nair, 1984. passim; ______ Por que estudar direito, hoje. Brasília: ed. Nair, 1984. passim.]
O pensamento mecanicista, compartimentado, redutor, consagrado pelo paradigma científico prevalente, é incapaz de apreender os problemas de nosso tempo. Faz-se necessário um pensamento complexo capaz de considerar o que é tecido em conjunto e de reunir os saberes separados. A inaptidão "para globalizar e para contextualizar os problemas" é tanto mais grave quanto mais se percebe que os problemas fundamentais são não só globais, como complexos: "Tudo se encontra tecido junto. Os maiores desafios de vida e de morte são, hoje, planetários". Os problemas do gênero humano devem ser pensados tendo em vista "salvar a um tempo a unidade humana e sua diversidade".[16: MORIN, Edgar. A união na busca de uma força do pensamento. Zero Hora, Porto Alegre, 05 set. 1998. Caderno Cultura, p. 4; ______ Introdução ao pensamento complexo. 2.ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. passim; ______ Meus demônios. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 41-46.]
A partir destes pressupostos, pode-se adentrar na crise da civilização presente, considerando-se alguns de seus aspectos mais significativos, sem circunscrevê-los a limites estreitos, mas interligando-os como parte que são de um contexto incindível. 
Verifica-se, do ponto de vista ambiental, a ausência de uma perspectiva ecossistêmica, bem como "a insuficiência da ética vigente, antropocêntrica, individualista, incapaz de perceber a íntima ligação entre todos os organismos vivos em interconexão entre eles e com o meio inorgânico, cujos recursos são exauríveis razão por que sua utilização tem que ser prudente e orientada por uma ética da solidariedade, em que sobressaia a responsabilidade transgeracional". [17: AZEVEDO, Plauto Faraco de. Ecocivilização. Ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 90.]
Há que se ter em conta que "o bem-estar dos homens e dos ecossistemas são intimamente ligados e que o tecido se desfia". No tecido da vida tudo se interliga. A ecologia demanda uma ética ecocêntrica, "uma visão do mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana. Todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas umas às outras numa rede de interdependências. Quando essa percepção ecológica profunda torna-se parte de nossa consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo", urgentemente necessário nos dias de hoje. Dela emerge a consciência "de que a natureza e o eu são um só". [18: RESSOURCES MONDIALES: 2000-2001. Les hommes et les ecosystèmes. Institut de Ressources Mondiales. Paris: ed. Eska, 2001. p. viii.][19: CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. p. 28-9. Título original: The web of life.]
O sistema econômico atual desconhece os limites ecológicos planetários. Atestam-no a multiplicação dos danos ambientais, cuja gravidade é crescente, no ar, na terra e no mar. A atmosfera torna-se progressivamente irrespirável, os mares convertem-se em lixeira, o gelo dos pólos derrete-se na medida em que aumenta a temperatura da terra, derrubam-se e queimam-se as florestas, consomem-se irresponsavelmente os recursos animais, vegetais e minerais. Vendem-se, em bolsa, quotas de poluição, como qualquer outra mercadoria. Em suma, o processo econômico acha-se em rota de colisão com a sobrevivência humana. 
Um de seus dados mais salientes que, inclusive, contamina o Direito Ambiental é a idéia de desenvolvimento, veiculada por uma ciência econômica orientada por noções abstratas, alheia ao drama humano e ao caráter exaurível dos recursos planetários. Falta à ciência econômica a relação com o não-econômico. É ela "uma ciência cuja matematização e formalização são cada vez mais rigorosas e sofisticadas; mas estas qualidades contêm o defeito de uma abstração que se separa do contexto (social, cultural, político); ela conquista sua precisão formal, esquecendo a complexidade de sua situação real, ou seja, esquecendo que a economia depende daquilo que depende dela.[20: MORIN, Edgard et KERN, Anne Brigitte. Terra-pátria. Porto Alegre: Sulina, 1995. p. 70.]
O autêntico desenvolvimento "deve ser concebido de maneira antropológica. O verdadeiro desenvolvimento é o desenvolvimento humano. Cabe, portanto, retirar a noção de desenvolvimento de sua ganga economística. Não cabe mais reduzir o desenvolvimento ao crescimento, que, como disse Jean-Marie Pelt tornou-se uma excrescência. [21: Ibid., 108.]
Por mais difícil ou paradoxal que isto pareça, a ultrapassagem da noção desEditado por FERREIRA, MARCOS VINICIUS VIEIRA, aluno FMP-insc.2014/1
envolvimentista põe-se como um imperativo de sobrevivência humana.
 
	
	
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