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MARCO CIVIL

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FADERGS
FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 141 
CONTRATOS ELETRÔNICOS, APLICAÇÃO DO CDC, 
CONTRATOS INTERNACIONAIS VIRTUAIS E O 
MARCO CIVIL DA INTERNET
Tatiana da Silva Fermino
RESUMO
No presente estudo, busca-se aprofundar os conceitos já explorados 
em artigo anterior, onde se tratou do panorama geral das contratações 
por meio eletrônico, dando ênfase aos pontos omissos apontados 
pelo nobre Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Direito 
Civil e Processos Civil da FADERGS, Professor Mestre, Guilherme 
Antunes da Cunha, aclarando de que forma se dá a aplicação do 
Código de Defesa do Consumidor às contratações por meio eletrônico, 
em especial no que tange os contratos internacionais, com foco na 
preservação dos direitos da parte hipossuficiente. Além disso, o artigo 
busca esclarecer quais as mudanças trazidas pela promulgação do 
marco civil da internet. 
Palavras-chave: Contrato eletrônico. CDC. Contratos Internacionais. 
Marco Civil da internet. 
ABSTRACT
In this study, we seek to deepen the concepts already explored in 
the previous article, in which were discussed the overview of hires 
electronically, emphasizing the omitted points indicated by the noble 
Coordinator of the Graduate Program in Civil Law and Civil Processes 
Fadergs, Master Teacher, Guilherme Antunes da Cunha, clarifying 
how it gives the application of the Consumer Protection Code to 
contracts by electronic means, in particular in relation to international 
contracts, focusing on the preservation of the rights of hipossuficiente 
part. Furthermore, the article seeks to clarify the changes brought 
about by the enactment of landmark civil internet .
Keywords: Electronic Contract . CDC . International Contracts. Civil 
Marco the internet.
REVISTA NOVATIO IURIS
142 FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 
1 INTRODUÇÃO
O artigo vertente consiste em uma análise aplicada do comércio em 
meio eletrônico, com foco na execução do Código de Defesa do Consumidor a 
esse tipo de avença, principalmente naquelas contratações feitas no exterior, 
onde a preservação dos direitos dos consumidores é ainda mais difícil. O 
estudo também busca revelar em que consiste o marco civil da internet, em 
qual contexto foi concebido, bem como qual sua base e contribuições para o 
comércio virtual.
Nesse sentido, faz-se necessário aclarar de que forma introduzem-se 
os princípios do CDC nas contratações pela internet, revelando quais teorias 
inserem-se nesse campo obrigacional. Por outro lado, mostra-se relevante 
esclarecer as nuances que envolvem as contratações com algum elemento 
estrangeiro. Não obstante isso, importante revelar em que consiste o marco 
civil da internet.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Considerando a insegurança jurídica própria da contratação por meio 
eletrônico, surge a necessidade de se analisar a aplicação do CDC a este tipo 
de avença, bem como explicitar de que forma são preservados os direitos dos 
hipossuficientes quando se trata de contrato internacional, objetivando dar ao 
contratante menos favorecido um mínimo de certeza quanto às suas garantias. 
Para tanto, o marco civil da internet contribui, mas de forma muito incipiente, 
ao contrário do que esperava a comunidade jurídica. 
2.1 DA APLICAÇÃO DO CDC CONDIDERANDO A CONFIANÇA E A TEORIA 
DA APARÊNCIA
Com efeito, não se tem dúvidas de que a confiança é critério relevante 
a ser analisado quando se trata de relação jurídica criada em meio virtual, 
considerando o anonimato inerente a essa via de manifestação que, se sabe, 
tem em seu bojo, muitas vezes, a dificuldade de definir de forma clara o efetivo 
consumidor e o fornecedor do produto ou serviço. 
FADERGS
FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 143 
A propósito:
O mandamento da proteção da confiança está intimamente 
ligado ao anonimato das novas relações sociais e à massificação 
das relações contratuais e pré-contratuais, da produção e 
comercialização, por vezes sem a possibilidade de se identificar 
claramente os consumidores e usuários (MARTINS, 2007, p.43).
Nesse passo, a confiança é nos contratos eletrônicos um critério para 
sopesar a distribuição dos riscos, que advém da comodidade das compras 
pela internet (MARTINS, 2007, p.43). 
Vejamos:
Por detrás da noção de confiança encontra-se a garantia 
ao consumidor da adequação do produto e dos serviços às 
expectativas legítimas que este mesmo consumidor tem em 
relação à atividade de consumo. Na acepção de Lima Marques 
“[...] a manifestação de vontade do consumidor é dada almejando 
alcançar determinados fins, determinados interesses legítimos 
(SANTOLIM, 2005, p.53).
Assim, para a proteção da confiança que permeia a contratação 
envolvendo o consumidor eletrônico de boa-fé, a doutrina majoritária 
entende aplicável aos contratos virtuais o CDC e a Teoria da Aparência, a 
qual pressupõe, nestes casos, além do antes citado animus, um elemento 
objetivo consistente em uma aparência suficientemente forte de regularidade 
da avença, bem como sujeitos definidos, quais sejam, o titular real do direito, o 
titular aparente e o terceiro contratante, que estabelece com o primeiro citado 
um conflito de interesses.
Vejamos o entendimento doutrinário acerca da aplicação da Teoria da 
Aparência, antes citada:
Seu objetivo é, em nome da proteção do sujeito de boa-fé, 
desconsiderar o vício interno de uma situação aparente válida 
para fazer valer a situação como se perfeita e regular fosse. Para 
assegurar o agente que, de boa-fé, negocia com um falso titular do 
direito, a lei impõe a produção dos mesmos efeitos jurídicos que 
o negócio surtiria se ocorresse com o assentimento do verdadeiro 
legitimado (MARTINS, 2007, p.43).
REVISTA NOVATIO IURIS
144 FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 
E aqui, segundo o antes citado jurista, um exemplo claro da aplicação 
da teoria da aparência às relações jurídicas estabelecidas em meio virtual 
seria a responsabilização do provedor de acesso do consumidor de boa-fé, 
quando este não puder identificar o titular real, no caso fornecedor do produto 
ou serviço. 
O autor esclarece que:
Portanto, as regras da aparência, como observa Jean Calais-
Auloy, justificam-se pela necessidade de se atribuir uma obrigação 
a cargo da pessoa que, de uma forma ou de outra, contribuiu para 
criar uma situação enganosa (MARTINS, 2007, p.43).
Aqui urge salientar a ausência no ordenamento jurídico vigente de 
norma expressa acerca da aplicação da teoria da aparência; todavia, há uma 
disposição no Código Civil de 2002 aplicável aos contratos eletrônicos, que 
traz em seu bojo a referida teoria, qual seja o art. 180 daquele Diploma Legal, 
que assinala que o menor que se declarar maior não se exime da obrigação a 
qual aderiu (MARTINS, 2007, p.43).
Nesse diapasão, outro instituto do Direito do Consumidor aplicável aos 
contratos eletrônicos é o princípio da solidariedade da cadeia de fornecedores 
de produtos e serviços previsto no art. 7º1, §1º e art. 142, ambos do CDC que, 
no caso de não identificação do real fornecedor, transfere a responsabilidade 
a outro integrante da cadeia, fato visualizado claramente na hipótese de 
responsabilização do provedor antes citada.
1 Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes 
de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da 
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades 
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais 
do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão 
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
2 Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentementeda existência 
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos 
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou 
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
FADERGS
FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 145 
2.2 DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS
Com efeito, é notório que a internet é uma ferramenta importante para 
o comércio internacional nos dias atuais, pois viabiliza de forma mais célere o 
intercâmbio de produtos e serviços. Porém, nas lides que surgem nessa seara 
virtual, emergem algumas dificuldades para a aplicação do direito ao caso 
concreto, uma vez que a ciência jurídica não evoluiu no mesmo passo desse 
tipo de contratação, em especial nos contratos internacionais, inexistindo 
regras capazes de nortear com clareza os direitos e deveres dos contratantes, 
tampouco consenso na doutrina quanto a sua regulamentação.
A primeira dificuldade que emerge é a incidência de normas de mais de 
um país sobre a mesma relação jurídica e, frente a essa dualidade, qual seria 
a mais adequada para resolver eventual conflito, sendo que para tal análise 
é importante ponderar a localização do fato que originou a lide, bem como a 
relação da Lei aplicável com os destinatários da norma (GOMES, 2012, p. 
136). Nesse sentido:
A incidência de mais de uma norma internacional sobre a mesma 
relação jurídica pode ser um obstáculo para a consecução dos 
direitos das partes. A solução para o problema decorre da atividade 
legislativa, que deve ser sensível à nova realidade contratual, 
segundo afirma Ferrer Correa, pois “não se trata de escolher a 
melhor lei, mas a melhor colocada para intervir - em razão da 
localização dos fatos, ou da relação dela com as pessoas a que 
estes respeitam (CHIAPPINI, 2010, p.136).
Segundo a citada jurista, quanto à eleição de foro, que foi objeto de artigo 
anterior, que seria uma solução para o conflito de normas, a doutrina diverge 
quanto à validade desse tipo de cláusula. Tem-se uma corrente que defende 
a autonomia da vontade, onde o consumidor pode optar por se submeter à 
legislação diversa do CDC, válida em qualquer país, na busca de evitar uma 
desgastante discussão judicial para fazer valer as regras estabelecidas no 
contrato. Por outro lado, outros doutrinadores pensam que, considerando a 
aplicação do CDC a esse tipo de avença, a autonomia da vontade não pode 
prevalecer, tendo em vista o caráter de ordem pública inerente ao CDC, que 
visa à proteção do hipossuficiente.
REVISTA NOVATIO IURIS
146 FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 
No Brasil, em se tratando de contrato eletrônico envolvendo relação 
de consumo, com o fornecedor estabelecido em nosso país e o consumidor 
residente no exterior, deve-se seguir os princípios do CDC, que seria a lei 
mais benéfica a parte mais frágil. Como referido, para a solução desse tipo 
de conflito, deve-se ponderar a legislação de onde se encontra o consumidor 
e o local onde foi celebrado o contrato. Em tese, a legislação do domicílio 
do consumidor tende a ser a mais benéfica a ele. Ademais, não se podendo 
identificar a legislação do país do consumidor, poderia se aplicar o art. 9, § 2º, 
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro3, que entende aplicável a 
lei do proponente da obrigação. 
Mas há também os que afastam a aplicação da LINDB, pois esta 
poderia impor a aplicação de lei desconhecida estrangeira aos consumidores 
brasileiros, em manifesto conflito aos princípios esculpidos no CDC. A 
propósito, conforme destaca a professora Carolina Dias Tavares Guerreiro 
Cruz, nos casos de contratação à distância, não se deve aplicar a norma de 
conflito supramencionada. Para ela: 
“entendemos incabível a incidência aos casos previstos na 
dissertação do art. 9.º, § 2.º, da LICC (LGL\1942\3), na medida 
em que este pode conduzir à determinação de lei estrangeira, 
como lei material aplicável aos contratos em questão. Semelhante 
possibilidade compromete a tutela do consumidor, uma vez que 
o consumidor residente no Brasil não pode estar sujeito à lei que 
desconhece, suscetível de não lhe outorgar garantias de proteção 
pelo menos idênticas àquelas de que ele dispõe, sob a lei nacional 
de sua residência. A incerteza quanto à proteção legal, em cada 
caso, pode ser relevantíssima, mas ainda mais relevante nos 
parece a circunstância de o consumidor não ter consciência da lei 
aplicável à relação em que está prestes a entrar, como elemento 
determinante da tutela assegurada nos termos peremptórios pela 
Constituição Federal (LGL\1988\3) (CHIAPPINI, 2010, p. 136).
E aqui cumpre observar a existência de um movimento no sentido 
da alteração dos artigos 7º e 101 do CDC, com vistas a garantir uma maior 
3 Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será 
esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos 
do ato.
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.
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FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 147 
proteção das relações estabelecidas fora do âmbito nacional. A doutrina sugere 
as seguintes modificações:
Para ilustrar essa questão, é interessante trazer a colação a 
proposta da professora Claudia Lima Marques, de inserção de 
três parágrafos, ao atual art. 101 do CDC (LGL\1990\40), para 
introduzir brasileiro uma norma de direito internacional privado ao 
Código especializado mencionado, com relação à lei aplicável. 
Neste sentido, sugere a professora que estes parágrafos deveriam 
ter a seguinte redação:
“Art. 101 do CDC (LGL\1990\40). (...) § 1.º. Os contratos e as 
transações contratadas a distância, por meios eletrônicos, de 
telecomunicações ou por telefone, estando o consumidor em seu 
país de domicílio, serão regidos pela lei deste país ou pela lei 
mais favorável ao consumidor, escolhida entre as partes, se a lei 
do lugar da celebração do contrato, a lei do lugar da execução 
do contrato, a lei da prestação característica ou a lei do domicílio 
ou sede do fornecedor de produtos e serviços. § 2.º. Em todos 
os casos, aplicar-se-ão, necessariamente, as normas do país do 
foro que tenham caráter imperativo, na proteção do consumidor. 
§ 3.º. Tendo sido a contratação precedida de qualquer atividade 
negocial, de marketing do fornecedor ou de seus representantes, 
em especial de envio de publicidade, correspondências, 
mensagens eletrônicas (e-mails), prêmios, convites, manutenção 
de filial ou representantes e demais atividades voltadas para o 
fornecimento de produtos e serviços e atração de clientela no 
país de domicílio do consumidor, aplicar-se-ão, necessariamente, 
as normas imperativas deste país, na proteção do consumidor, 
cumulativamente àquelas do foro e à lei aplicável ao contrato ou 
relação de consumo” (CHIAPPINI, 2010, p. 357). 
A relevância da mudança é tão premente que a Comissão de Reforma 
do CDC inseriu os contratos eletrônicos em sua pauta. 
2.3 DO MARCO CIVIL DA INTERNET
Já há muito se buscava consolidar um instrumento normativo que 
trouxesse regras específicas sobre as relações jurídicas estabelecidas 
virtualmente e, em 23 de abril de 2014 (BITELLI, 2014, p. 291), foi promulgada 
a Lei 12.965/14, o chamado marco civil da internet, objeto de Projeto de Lei 
do ano de 2009, precedido de consulta pública promovida pelo Ministério 
da Justiça. Destarte, o objetivo inicial era a criação de uma Constituição da 
REVISTA NOVATIO IURIS
148 FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 
Internet, de onde decorreu o nome marco civil, ideia que foi criticada, uma vez 
que os direitos fundamentaisjá estão inseridos na Carta Magna.
Como o próprio nome já diz, a antes citada legislação tem o objetivo 
de traçar o primeiro caminho de proteção do direito envolvendo o mundo 
virtual, as regras gerais, sendo um Diploma Legal basicamente principiológico, 
preparatório para que a doutrina e a jurisprudência, num perfeito diálogo entre 
as fontes do direito, adéquem essas normas fundamentais ao caso concreto. O 
marco civil da internet tem como norte a preservação dos dados dos usuários 
deste meio, eis que sua versão final foi concebida em meio ao escândalo da 
espionagem dos EUA em nosso país. 
A referida norma, considerando sua especialidade, não veio limitar 
a aplicação das outras fontes de direito, mas sim auxiliar na construção da 
incipiente proteção dos direitos que decorrem do uso da internet. Um dos 
princípios e, talvez o mais relevante, que emerge da novel legislação é o da 
neutralidade, onde é garantido ao consumidor a preservação de seus dados 
pessoais, estabelecido no art. 9º da referida legislação4, sendo vedado, dentre 
4 Art. 9o O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma 
isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, 
terminal ou aplicação.
§ 1o A discriminação ou degradação do tráfego será regulamentada nos termos das atribuições 
privativas do Presidente da República previstas no inciso IV do art. 84 da Constituição Federal, 
para a fiel execução desta Lei, ouvidos o Comitê Gestor da Internet e a Agência Nacional de 
Telecomunicações, e somente poderá decorrer de:
I - requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos serviços e aplicações; e
II - priorização de serviços de emergência.
§ 2o Na hipótese de discriminação ou degradação do tráfego prevista no § 1o, o responsável 
mencionado no caput deve:
I - abster-se de causar dano aos usuários, na forma do art. 927 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro 
de 2002 - Código Civil;
II - agir com proporcionalidade, transparência e isonomia;
III - informar previamente de modo transparente, claro e suficientemente descritivo aos seus 
usuários sobre as práticas de gerenciamento e mitigação de tráfego adotadas, inclusive as 
relacionadas à segurança da rede; e
IV - oferecer serviços em condições comerciais não discriminatórias e abster-se de praticar 
condutas anticoncorrenciais.
§ 3o Na provisão de conexão à internet, onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, comutação 
ou roteamento, é vedado bloquear, monitorar, filtrar ou analisar o conteúdo dos pacotes de dados, 
respeitado o disposto neste artigo.
FADERGS
FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 149 
outras restrições, aos sites utilizar tais referências como forma de marketing, 
sugerindo acessos a locais relacionados às preferências do consumidor, atitude 
recorrente nas redes sociais, tais como o facebook, que sugere a aquisição de 
vários produtos, com base no perfil do usuário. Nesse diapasão:
A oferta gratuita de acesso à determinada aplicação é uma 
estratégia de marketing, pois evidentemente tanto o provedor de 
conexão, que amplia sua base de usuários e o volume de tráfego 
por suas redes, quanto o provedor de aplicações, que incrementa 
o potencial publicitário de seu serviço, têm benefícios econômicos 
indiretos por essa oferta.
Ocorre que, ao estimular o acesso a determinada aplicação 
(como o Facebook), o provedor de conexão viola o princípio da 
neutralidade de rede, pois privilegia o conteúdo de uma aplicação 
em detrimento de outro, redirecionando (ou estimulando o 
redirecionamento) o internauta a determinada aplicação 
(OLIVEIRA, 2014, p.271).
No que tange aos contratos eletrônicos internacionais, a legislação, 
infelizmente, ao contrário do que esperava a comunidade jurídica, não vem 
regular qual o Diploma Legal a ser aplicável no que tange à execução da 
avença, apenas definindo qual disposição aplica-se nas hipótese de coleta, 
guarda, armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de 
comunicações, senão vejamos:
Primeira conclusão: o Marco Civil não cuida de definir a legislação 
que disciplinará o contrato celebrado por um brasileiro que 
adquire um produto em um site estrangeiro, salvo no tocante à 
coleta, guarda, armazenamento ou tratamento de registros, dados 
pessoais ou de comunicações. Para isso, seguem vigentes os 
elementos de conexão7 previstos na LINDB e na jurisprudência do 
STJ. Em outras palavras, para definir qual legislação disciplinará 
os contratos celebrados pelos brasileiros em compras a distância, 
não se invocará o Marco Civil, que nada diz a respeito, e sim a 
LINDB e a jurisprudência.
...
Segunda conclusão: o art. 11 do Marco Civil cuida de elemento 
de conexão específico e exclusivo para aplicação da legislação 
brasileira relativa a coleta, guarda, armazenamento ou tratamento 
de registros, dados pessoais ou de comunicações (OLIVEIRA, 
2014, p.271).
REVISTA NOVATIO IURIS
150 FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 
3 METODOLOGIA
Este tópico visa descrever como os objetivos propostos neste trabalho 
foram alcançados. A pesquisa teve como seu princípio fundamental uma análise 
qualitativa, onde foi implementada uma pesquisa bibliográfica, com análise 
documental. Sendo assim, foi denominada como uma pesquisa qualitativa 
exploratória teórica (MALHOTRA, 2006). 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por derradeiro, conclui-se plena a aplicabilidade do CDC aos contratos 
eletrônicos, em especial aos contratos firmados em âmbito internacional. Para 
tanto, cumpre observar que a relação jurídica se dá em um ambiente tido como 
envolto em confiança, eis que sem ela, considerando o anonimato próprio das 
avenças estabelecidas em âmbito virtual, seria impossível estabelecer um 
mínimo de segurança jurídica, ou seja, seria inviável preservar o consumidor, 
sabidamente hipossuficiente segundo o CDC.
Nesse diapasão, importante salientar que a relação jurídica contratual é 
permeada pela boa-fé do consumidor e lastreada na teoria da aparência onde, 
existindo elementos suficientemente fortes de regularidade da contratação, 
são preservadas as garantias do contratante de boa-fé, através, por exemplo, 
da responsabilização do servidor sede de fornecedor não identificado, por 
força do princípio da solidariedade da cadeia de fornecedores de produtos ou 
serviços.
Por outro lado, no que pertine aos contratos internacionais, considerando 
a recorrente dualidade de normas afetas ao caso concreto, deve-se analisar, 
para implementar a escolha da legislação aplicável, o lugar do fato que 
originou a lide, bem como os destinatários da norma. Na realidade, o mais 
adequado seria a eleição de um foro; todavia, não há consenso na doutrina 
sobre a legalidade de seu estabelecimento, na medida em que alguns juristas 
entendem que essa autonomia da vontade fere os princípios do CDC.
Logo, optando por solução diversa da eleição de foro, deveria ser 
adotada a legislação mais benéfica ao consumidor, que costuma ser a de seu 
país de origem. Por outro lado, não se podendo identificar a legislação do país 
FADERGS
FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 151 
do consumidor, aplicável seria o art. 9º, §2º, da LINDB, que opta pela legislação 
do proponente da obrigação, qual seja, o fornecedor, entendimento que sofre 
críticas, sob o fundamento de que se estaria criando uma hipótese onde o 
consumidor brasileiro poderia se sujeitar a uma legislação desconhecida, o 
que se mostra completamente censurável segundo o CDC. 
A referida dificuldade para a escolha da norma aplicável é objeto da 
reforma do CDC, havendo sugestões de mudanças dos artigos 7º e 101 daquele 
Diploma Legal. Quanto ao marco civil da internet, trouxe uma contribuição 
muito tímida para as relações jurídicas firmadasno âmbito da internet, 
consubstanciando-se, basicamente, em princípios, dos quais se destaca o da 
neutralidade, que garante a privacidade do consumidor, em especial de suas 
preferências. 
Por derradeiro, nota-se que a Lei 12.965/14, ao contrário do que 
esperava a comunidade jurídica, não é a Constituição da Internet, mas sim 
um início de regulamentação das obrigações daí decorrentes, preparatória 
para que os pormenores sejam objeto de análise e definição pela doutrina e 
jurisprudência. 
REFERÊNCIAS
ARTESE, Gustavo. As trancas da lei da internet. Revista Jurídica Consulex, n. 405.
BITELLI, M. A S. A Lei 12.965/2014 - O Marco Civil da Internet. Revista de Direito das 
Comunicações, v. 7, p. 291, Jan / 2014.
BLUM, Renato Opice; VAINZOF, Rony. O Marco Civil da Internet e a Legislação 
Brasileira. Informativo Consulex, n. 5/2011. Tema da Semana.
BLUM, Renato Opice. Comissão de estudos direito e internet, sob a presidência do 
Dr. Silvanio Covas. Relatório e parecer sobre o Marco Civil da Internet. Revista do 
Instituto dos Advogados de São Paulo, v. 30, p. 499, Jul 2012.
BRITO, Auriney Uchôa. Marco Civil Da Internet. Os erros e acertos da nova legislação. 
Revista Jurídica Consulex n. 416. 
CAMARGO, L. J. J. Contratos Eletrônicos: segurança e validade jurídica. Revista de 
Direito Privado. v. 48, p. 247, Out 2011.
REVISTA NOVATIO IURIS
152 FADERGS - v.6, n. 1, jan..-jun. 2014 
GOMES, C. C. Panorama atual sobre a jurisdição competente e lei aplicável aos 
contratos eletrônicos internacionais, segundo as normas do direito internacional privado 
brasileiro - Revista de Direito Privado, v. 42, p. 136, Versão Virtual p. 8 - Abr 2010.
Doutrinas Essenciais de Direito Internacional, v. 5, p. 357, Fev 2012.
LORENZETTI, R. L. Comércio Eletrônico; Tradução de Fabiano Menke; com notas de 
Cláudia Lima Marques. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
LUCCA, N. S. F. Direito & Internet. São Paulo: Quartier Latin, 2005. 
MADALENA, Juliano. Comentários ao Marco Civil da Internet - Lei 12.965, de 23 de 
abril de 2014. Revista de Direito do Consumidor, v. 94, p. 329, Jul 2014.
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 574.
MARTINS, C. N. Confiança e aparência nos contratos eletrônicos de consumo via 
internet. Revista de Direito do Consumidor, v. 64, p. 43, Out/ 2007.
MARTINS, C. N. Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil, v. 8, p. 1311, Out 
2011.
MOLON, Alessandro. Marco Civil da Internet - normatizar para garantir direitos. Revista 
Jurídica Consulex, n. 367.
OLIVEIRA, C. E. E. Aspectos principais da Lei 12.965/2014, O Marco Civil da Internet: 
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