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Apostila I - Crimes contra o patrimônio e a dignidade sexual

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Direito Penal IV 
Prof. André Cerqueira 
 
1 
 
Material de Apoio 
Apostila I 
Prof. André Cerqueira (andre.cerqueiraadv@gmail.com) 
 
*Indicação bibliográfica: 
 
a) NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Ed. RT; 
b) GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Volume III e IV. Ed. Impetus; 
c) BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Volume III, IV e V. Ed. 
Saraiva; 
d) PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume II e III. Ed. RT; 
e) GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio Gárcia Pablos de; BIANCHINI, Alice. Direito 
Penal. Parte Especial. Ed. RT. 
 
TEMA: CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO 
 
1 – ESTELIONATO (art. 171 do CP) 
 
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou 
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 
 
1.1. Bem jurídico tutelado 
 É o patrimônio. 
 
1.2. Sujeito Ativo 
 Trata-se de crime comum, ou seja, não exige qualidade ou 
condição especial do agente. 
 
1.3. Sujeito Passivo 
 Qualquer pessoa pode ser vítima de estelionato. 
 
o A vítima será a pessoa diminuída no patrimônio, bem como a 
pessoa enganada pelo agente (nenhuma das duas entra no rol 
de testemunhas). 
o Ademais, a vítima deve ser capaz, pois se a vítima for incapaz 
o crime é o do art. 173 do CP e não mais admite suspensão do 
processo (2 a 6 anos). 
 
Abuso de incapazes 
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou 
inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, 
induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, 
em prejuízo próprio ou de terceiro: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. 
 
o A vítima deve ser certa. No caso de vítima incerta, não há mais 
estelionato, mas sim crime contra a economia popular (lei 
1.521/1951). 
 
 
Direito Penal IV 
Prof. André Cerqueira 
 
2 
 
Exemplos de fraude contra vítimas incertas que recaem na lei 
1.521/1951: 
 
o Adulteração de balança 
o Adulteração de taxímetro 
o Adulteração de bomba de gasolina (adulteração do medidor) 
 Não se insere nesta lei a adulteração de combustível, 
que tem lei especial. 
 
1.4. Elementos estruturais do Estelionato 
 
1.4.1. Fraude 
 A fraude no estelionato serve para que? 
o Induzir a vítima em erro 
 É o agente quem cria a falsa percepção da realidade. 
o Manter a vítima em erro 
 O agente aproveita-se do engano espontâneo da 
vítima e a fraude serve para mantê-la neste estado. 
 
OBS: a denúncia tem que indicar se induziu ou manteve a vítima em 
erro e, se o agente apenas manteve a vítima em erro e a denúncia 
indicar que houve induzimento a denúncia será inepta. 
 
*A fraude é empregada por 3 formas: 
 Artifício 
o Uso de objetos ou aparatos aptos a enganar. 
o Ex: bilhete premiado, documentos falsos, disfarces, etc. 
 Ardil 
o Conversa enganosa (lábia). 
 Qualquer outro meio 
o Silêncio (muito utilizado para manter a vítima em erro). 
 Logo, é possível estelionato por omissão em caso de 
silêncio. 
 
OBS: A fraude tem que ser apta a enganar, ou seja, se a fraude for 
grosseira o crime é impossível. 
 
1.4.2. Obter indevida vantagem 
 
OBS1: no caso de vantagem devida, o crime é de exercício arbitrário das 
próprias razões (art. 345 do CP). 
 
OBS2: prevalece que a vantagem deve ser necessariamente econômica 
(vantagem não econômica não configura estelionato). 
 
1.4.3. Prejuízo alheio 
 O prejuízo é de ordem econômica. 
 
Direito Penal IV 
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3 
 
 
*Cola eletrônica é estelionato (ex: ponto eletrônico em concurso 
público)? 
 Há duas correntes dentro do STF: 
 
Minoria do STF Maioria do STF 
*Configura estelionato, pois: 
 Existe vantagem econômica indevida (vaga, 
cargo, etc) 
 Existe prejuízo alheio (dos concorrentes 
que não foram aprovados pela fraude e da 
instituição). 
 
*Além do estelionato há a falsidade ideológica, pois 
o agente insere no documento idéia de terceiro e 
não do agente. 
*Não há estelionato, pois: 
 Não há de vantagem econômica. 
*Não há falsidade ideológica, pois: 
 A idéia do terceiro é adotada pelo 
agente. 
 
*Assim, a cola eletrônica é fato atípico, 
carecendo de tipificação. 
 
OBS: Hacker que entra na conta de banco na internet transfere 
dinheiro de uma conta para outra não é estelionato, mas sim furto 
mediante fraude e, portanto, é inviável a suspensão condicional do 
processo. 
 
*A fraude bilateral exclui o crime (a vítima também age de má-fé)? 
 1ª Corrente (maioria – inclusive STF) 
o O tipo não exige a boa-fé da vítima. Logo, a sua má-fé não 
exclui o crime. 
 2ª Corrente (Nelson Hungria) 
o A lei não pode amparar a má-fé da vítima. Logo, a fraude 
bilateral exclui o crime. 
 
1.5. Estelionato e Documento Falso 
 1ª Corrente 
o Responde pelo estelionato + falsidade documental em 
concurso material (art. 69 do CP), pois: 
 Os dois crime protegem bens jurídicos diversos, não 
podendo um absorver o outro. 
 Concurso material: há duas condutas produzindo 
dois resultados. 
 Ex: estelionato com cartão de crédito falso (o 
agente sai da loja com o cartão). 
 É a corrente do STJ que, no entanto, prevê exceção 
em sua súmula 17. 
 Ex: estelionato com cheque falsificado (o cheque 
se esgota naquele estelionato. 
 
Súmaul 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem 
mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. 
 
 2ª Corrente (STF – corrente tradicional) 
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4 
 
o Responde pelo estelionato + falsidade documental em 
concurso formal (art. 70 do CP), pois: 
 Os dois crime protegem bens jurídicos diversos, não 
podendo um absorver o outro. 
 Concurso formal: há apenas uma conduta dividida 
em vários atos. 
 
OBS: ultimamente o STF vem caminhando em direção da primeira 
conduta. 
 
 3ª Conduta (minoritária) 
o Se o documento é público, absorve o estelionato (o crime 
mais grave absorve o menos grave). 
 
1.6. Tipo Subjetivo 
 Dolo + finalidade específica de obter para si ou para outrem 
vantagem ilícita. 
 
1.7. Consumação e Tentativa 
 É crime de duplo resultado, ou seja, consuma-se com a obtenção 
da indevida vantagem seguida do prejuízo (indevida vantagem + 
prejuízo). 
o Se faltar a obtenção da vantagem ou o prejuízo, haverá 
apenas tentativa. 
 
*Quando o agente, mediante fraude, consegue obter da vítima um título 
de crédito, tem-se crime consumado ou tentado? 
 1ª Corrente 
o Considerando que a obrigação assumida pela vítima já é um 
proveito adquirido pelo estelionatário, tem-se crime 
consumado. 
 2ª Corrente 
o Enquanto o título não é convertido em valor material, não 
há efetivo proveito do agente (nem prejuízo), respondendo 
por tentativa. 
o Para Rogério Sanches é a corrente mais correta. 
 
5.8. Estelionato Privilegiado (art. 171, §1º do CP) 
 
Art. 171, § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a 
pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. 
 
Furto Privilegiado 
(furto mínimo) 
Estelionato Privilegiado 
Primariedade do Agente 
+ 
Pequeno valor da coisa subtraída 
Primariedade do agente 
+ 
Pequeno valor do prejuízo 
 
1.9. Subtipos de Estelionatos (art. 171, §2º do CP) 
 
Art. 171, § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: 
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Disposição de coisa alheia como própria 
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;(compromisso de compra e venda?) 
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria 
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus 
ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, 
silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; 
Defraudação de penhor 
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia 
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; 
Fraude na entrega de coisa 
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; 
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou 
agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de 
seguro; 
Fraude no pagamento por meio de cheque 
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o 
pagamento. 
 
 Continua-se exigindo fraude, obtenção de indevida vantagem e 
prejuízo alheio (os três elementos estruturais do caput são aqui 
também exigidos). 
 
I – Disposição de coisa alheia como própria 
Disposição de coisa alheia como própria 
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria; 
(compromisso de compra e venda?) 
 
 Sujeito ativo 
o Qualquer pessoa. 
 
 Configura o inciso I o condômino que vende a coisa indivisa como 
se fosse o único dono? 
o Prevalece que sim, abrangendo condômino que aliena a 
coisa indivisa como se só dele fosse. 
 
 Sujeito Passivo 
o É o adquirente de boa-fé e o real proprietário. 
o É crime de dupla subjetividade passiva. 
 Objeto material 
o A conduta do agente recai sobre coisa alheia. 
 
 O rol de negócios jurídicos do Inciso I é taxativo ou 
exemplificativo? O compromisso de compra e venda está 
abrangido? 
o O rol é taxativo, logo, não se pode abranger o compromisso 
de compra e venda. 
o O compromisso de compra e venda não é abrangido pelo 
inciso I do §2º, mas cai no caput. 
 
 Consumação 
o É crime de duplo resultado, consumando-se com a 
obtenção da vantagem seguida do prejuízo. 
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o Se a coisa alheia for móvel, a transferência da propriedade 
se dá com a tradição; se a coisa alheia for imóvel, a 
transferência da propriedade se dá com a alteração do 
registro da escritura. Para a consumação do crime a 
tradição e a alteração da escritura é dispensável ou 
indispensável? 
 O crime dispensa a tradição (no caso de coisa móvel) 
ou a alteração do registro (no caso de coisa imóvel). 
o Se o estelionatário alterar o registro se passando por 
proprietário haverá dois crimes: 
 Estelionato + falsidade ideológica, em concurso 
material (Nelson Hungria). 
 Furtador que vende a coisa furtada como se fosse dono pratica 
quantos crimes? 
o Prevalece que o estelionato é um post factum impunível (é 
um modo que o agente encontrou para obter vantagem com 
o furto), consoante o princípio da consunção. 
o Tem minoria que prevê que o furtador responde em 
concurso material de furto + estelionato, pois há duas 
vítimas distintas (posição institucional do MP/SP e 
Francisco de Assis Toledo). 
 Venda de carro de outrem como se fosse do vendedor. Se o 
vendedor posteriormente comprar o carro do real proprietário 
haverá a exclusão de crime? 
o Efetivada a alienação, ainda que o agente regularize 
posteriormente o domínio, o crime permanecerá (pode 
configurar arrependimento posterior). 
 
II – Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria 
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria 
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus 
ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, 
silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; 
 
 Objeto material 
o É a coisa própria 
 Sujeito ativo 
o É o proprietário. 
 Sujeito passivo 
o É o adquirente de boa-fé 
 Conduta punível 
o A venda de imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade 
ou coisa litigiosa é caso de prática deste crime? 
 Não basta vender imóvel inalienável ou coisa litigiosa, 
mas tem que haver a fraude de silenciar sobre a 
restrição. 
 Consumação 
o O crime é de duplo resultado (precisa da vantagem indevida 
e do prejuízo). 
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III – Defraudação de penhor 
Defraudação de penhor 
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia 
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; 
 
 Em regra, no contrato pignoratício, a coisa empenhada fica na 
posse do credor. 
o Excepcionalmente, a coisa empenhada pode ficar na posse 
do devedor, que é o caso do inciso III. 
 
 Sujeito Ativo 
o É o devedor no contrato pignoratício. 
 Sujeito Passivo 
o É o credor no contrato pignoratício. 
 É crime bi-próprio. 
 
 Conduta material 
o De qualquer modo defraudar a garantia, alienando a coisa 
sem o consentimento do credor ou destrói a coisa em 
prejuízo do credor. 
 
 Consumação 
o É crime de duplo resultado. 
o OBS: tem jurisprudência minoritária dizendo que este crime 
é formal, ou seja, se consuma com a mera defraudação, 
dispensando a obtenção da indevida vantagem. 
 Defraudação de penhor = art. 171, §2º, III do CP 
o Penhor (coisa empenhada) 
o É direito real de garantia. 
 
 Defraudação de penhora = art. 179 do CP 
o Coisa penhorada 
o Penhora é garantia à execução 
o Se levar o devedor à insolvência, ou seja, o passivo 
ultrapassou o ativo: 
 Haverá fraude à execução (art. 179 do CP) 
 É infração de menor potencial ofensivo. 
o Se o devedor, apesar da defraudação, continuar em estado 
de solvência: 
 O agente responde por mero ilícito civil. 
 
Fraude à execução 
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou 
danificando bens, ou simulando dívidas: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. 
 
IV – Fraude na entrega de coisa 
Fraude na entrega de coisa 
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; 
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 Sujeito ativo 
o Qualquer pessoa juridicamente obrigada a entregar algo a 
alguém. 
 Sujeito passivo 
o É a pessoa prejudicada com o recebimento. 
 
 Ação 
o É agir com fraude, defraudar. 
 “Substância” 
o Natureza da coisa 
o Ex: substituir diamantes por vidro. 
 “Qualidade” 
o Atributo da coisa 
o Ex: entregar arroz de 2ª em vez de arroz de 1ª. 
 “Quantidade” 
o Relacionada a números (peso, dimensão, unidades, etc). 
 
 É crime de duplo resultado. 
o Entrega de televisão para consertar, se a assistência retirar 
as peças originais e colocar peças recondicionadas, pratica 
o comerciante este crime? 
 Se houver uma relação de comércio (fraude no 
comércio), o crime praticado é o do art. 175 do CP. 
 A maioria entende que o art. 175 do CP foi revogado, 
sendo atualmente ou crime do CDC (lei 8.078/90) ou 
crime de relações de consumo (lei 8.137/90). 
 
Fraude no comércio 
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou 
consumidor: 
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou 
deteriorada; 
II - entregando uma mercadoria por outra: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal 
ou substituir,no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de 
menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal 
de ou outra qualidade: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º. 
 
OBS: apesar de numeração anterior, o CDC tem vigência posterior à lei 
de crimes de relação de consumo, pois teve prazo de vacatio legis mais 
extensa. 
OBS: ver no CP de Alberto Silva Franco a tabela sobre estes crimes. 
 
V – Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou 
agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de 
seguro; 
 
 Pressuposto 
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o Existência de contrato de seguro vigente e válido. 
o Se o contrato não estiver mais vigente ou não mais válido, 
como o estelionatário não terá mais chance de obter 
vantagem, o crime de estelionato será impossível. 
 
 Sujeito Ativo 
o É o segurado, podendo o beneficiário (se distinto do 
segurado) figurar como partícipe. 
 Sujeito Passivo 
o É a seguradora. 
 Consoante a jurisprudência majoritária, o crime é formal, 
dispensando a ocorrência de resultado material de obtenção de 
vantagem indevida. 
o Ou seja, dispensa a obtenção de vantagem indevida, 
bastando a fraude com potencial lesivo. 
 
VI – Fraude no pagamento por meio do cheque 
Fraude no pagamento por meio de cheque 
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o 
pagamento. 
 
 Sujeito Ativo 
o Quem emite o cheque. 
 Sujeito Passivo 
o É o emitente do cheque. 
 Este crime abrange o endossante (em branco ou em preto) que 
sabe que o cheque não tem fundos? 
o 1ª Corrente (Nucci) 
 O endossante não emite o cheque. Logo, não pratica o 
crime, salvo na condição de partícipe. 
 A tendência a prevalecer em concurso é esta corrente. 
o 2ª Corrente (Noronha) 
 A expressão “emitir” abrange o endosso, pois deve ser 
tomada em seu sentido amplo. 
 Condutas puníveis 
o Emitir cheque sem fundos 
o Frustrar o pagamento de cheque 
 Ex: encerrar conta, sustar cheque. 
 É imprescindível a má-fé (súmula 246 do STF) 
Súmula 246 do STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de 
emissão de cheque sem fundos. 
 
*A emissão de cheque pós-datado sem fundos, em regra, não configura 
o crime, deixando de ser ordem de pagamento à vista, revestindo-se das 
características de nota promissória (garantia do crédito). 
 
OBS: se apesar de pós-datado houver fraude, haverá estelionato do 
caput. 
 
 Reparação do dano 
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o Não é orientada pelo arrependimento posterior, mas sim 
pela súmula 554 do STF (só faz referência ao estelionato 
com cheque sem fundos, mas não fala no frustrar o 
pagamento, porém, a maioria estende para o frustrar o 
pagamento): 
 
Súmula 554 do STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após 
o recebimento da denúncia não obsta o prosseguimento da ação penal. 
 
 Foro competente para julgamento (súmula 521 do STF): 
o A redação da súmula 521 do STF nasceu apenas para os 
casos de cheques sem fundos, entretanto, a maioria 
abrange o frustrar pagamento. 
Súmula 521 do STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de 
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, 
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. 
 
o A súmula 244 do STJ repete a súmula 521 do STF 
Súmula 244 do STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime 
de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos. 
 
o Quando o cheque é falsificado, esquecer o local da recusa 
do pagamento, mas considera o local da obtenção da 
vantagem (súmula 48 do STJ). 
Súmula 48 do STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita 
processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. 
 
Cheque sem fundos Cheque falsificado 
Súmula 521 do STF 
Sùmula 244 do STJ 
 
Local: da recusa do pagamento 
Súmula 48 do STJ 
Local: da obtenção da vantagem 
 
OBS: não confundir emitir cheque e depois encerrar a conta e encerrar 
a conta e emitir cheque. 
 
Emitir cheque e depois encerrar a conta Encerrar a conta e depois emitir cheques 
Art. 171, §2º, VI Art. 171, caput 
 
*É crime emitir cheque sem fundo para pagar dívida de jogo ou aposta? 
 Não é crime, pois a dívida é incobrável (art. 814 do CC/2002). 
 
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode 
recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o 
perdente é menor ou interdito. 
§ 1o Estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, 
novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao 
terceiro de boa-fé. 
§ 2o O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só 
se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos. 
§ 3o Excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em 
competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se 
submetam às prescrições legais e regulamentares. 
 
 
 
 
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1.10. Majorante do crime do art. 171 do CP 
 
Art. 171, § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de 
entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou 
beneficência. 
 
 Não se aplica o §3º contra o Banco do Brasil, pois é Sociedade de 
Economia Mista, que é pessoa jurídica de direito privado. 
 
o A súmula 24 do STJ afirma que se aplica o §3º do art. 171 
para as entidades autárquicas de previdência social 
(incorretamente chamando o §3º de qualificadora, pois é 
causa de aumento de pena). 
 
Súmula 24 do STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade 
autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3º do Art. 171 do Código Penal. 
 
*Se em 02/2009 um agente começa a receber um benefício indevido em 
virtude de ter apresentado um atestado falso, benefício que continua a 
ser recebido nos meses posteriores. Este crime se consumou em 
02/2009 e os seus efeitos se protraem no tempo ou o crime se consuma 
durante todo o tempo do recebimento indevido? 
 STJ entende que o crime é permanente. 
o Durante todo o período em que ocorre a possibilidade de 
flagrante. 
o A prescrição começa a correr no momento da cessação da 
indevida vantagem (depois de cessada a permanência). 
 STF entende que o crime é instantâneo de efeitos permanentes. 
o Só admite o flagrante no momento do recebimento da 
primeira vantagem (02/2009) e os demais são mero 
exaurimento do crime. 
o A prescrição começa a correr do momento do recebimento 
da primeira vantagem. 
o Súmula 711 do STF (só se aplica ao crime instantâneo de 
efeitos permanentes e não aos crimes permanentes) 
 
Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime 
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 
 
*A lei 7.492/1986, em seu art. 6º traz um estelionato especial, que não 
admite a suspensão do processo: 
 
Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente, 
relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lheinformação ou prestando-a 
falsamente: 
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 
 
*A lei 11.101/2005, em seu art. 168 traz outro estelionato especial, em 
que o crime é formal, havendo o crime se resultar ou for possível o 
prejuízo a credores (antes ou depois de decretada a falência): 
 
Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação 
judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou possa 
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resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou 
para outrem. 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
Aumento da pena 
§ 1º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente: 
I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos; 
II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar, ou 
altera escrituração ou balanço verdadeiros; 
III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou 
sistema informatizado; 
 IV – simula a composição do capital social; 
 V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração 
contábil obrigatórios. 
 Contabilidade paralela 
 § 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou 
movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação. 
 Concurso de pessoas 
 § 3o Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e outros 
profissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas criminosas descritas neste 
artigo, na medida de sua culpabilidade. 
 Redução ou substituição da pena 
 § 4o Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e não se 
constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz 
reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas penas 
restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou pelas de prestação de serviços à 
comunidade ou a entidades públicas. 
 
2 – RECEPTAÇÃO (art. 180 do CP) 
 
2.1. Topografia da Receptação 
 Art. 180, caput: receptação dolosa simples 
 Art. 180, §1º: receptação dolosa qualificada 
 Art. 180, §2º: cláusula de equiparação 
 Art. 180, §3º: receptação culposa 
 Art. 180, §4º: dispositivo explicativo 
 Art. 180, §5º: perdão judicial e privilégio 
 Art. 180, §6: majorante 
 
2.2. Bem jurídico tutelado 
 É o patrimônio. 
 Há doutrina lecionando que o art. 180 do CP protege também a 
administração da justiça, embaraçada pela ação do receptador 
(Noronha). 
 
2.3. Art. 180, caput 
 
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, 
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba 
ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 Sujeito Ativo 
o Qualquer pessoa, não podendo esta pessoa ter sido co-autor 
ou partícipe do crime anterior (crime do qual provenha a 
coisa). 
 O que participa do crime anterior, só responde por 
este crime anterior. 
o O proprietário do bem pode praticar receptação? 
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 Em regra, não, mas excepcionalmente pode figurar 
como sujeito ativo o proprietário do bem, caso o 
objeto esteja na posse legítima de terceiro. 
 Ex: relógio que foi penhorado e está como 
garantia para o devedor. Uma pessoa furta o 
depositário do relógio e quer vender ao 
proprietário do relógio, se ele comprar há 
receptação. 
 
 Sujeito Passivo 
o É a vítima do crime anterior. 
o Ex: B rouba veículo de A e vende para C. Quem é a vítima 
da receptação por C? 
 É A, que é a vítima do crime anterior. 
 
 Natureza Jurídica do Crime de Receptação 
o É crime acessório. 
 
Crime Principal Crime Acessório 
Não pressupõe outro para sua 
existência. 
Pressupõe outro para existir, mas não depende do outro para ser punido (tem 
punibilidade independente). 
É acessório quanto à existência, mas não quanto à punição. 
Ex: art. 180, §4º do CP, art. 348 do CP (favorecimento pessoal); art. 349 do CP 
(favorecimento real); art. 1º da lei 9.613/98 (lavagem de capitais) 
 
Art. 180, § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de 
pena o autor do crime de que proveio a coisa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, 
de 1996) 
 
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a 
que é cominada pena de reclusão: 
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. 
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: 
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. 
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do 
criminoso, fica isento de pena. 
 
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, 
auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: 
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. 
 
 Receptação própria ou propriamente dita 
 
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, 
coisa que sabe ser produto de crime 
 
o Partes 
 Agente (concorrente do crime anterior) 
 Receptador 
o O ajuste entre o receptador e o receptador é prescindível. 
 Ex: pessoa vê agente roubando vítima. Na fuga o 
agente lança a carteira fora. A pessoa vai aonde está 
a carteira e a pega, ocultando coisa que sabe ser 
produto de crime. 
 
 
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 Receptação imprópria 
 
Art. 180 - influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte 
 
o Partes 
 Agente (concorrente do crime anterior) 
 Receptador (é o intermediário, ou seja, aquele que 
está fazendo com que a coisa produto de crime saia 
do agente e vá para o terceiro de boa-fé) 
 Terceiro de boa-fé 
 Se o terceiro agir de má-fé (sabe que a coisa é 
produto de crime), ter-se-á a receptação própria 
e não a imprópria. 
 
*Existe receptação ao se adquirir coisa produto de contravenção penal? 
 Não, pois seria analogia in malam partem (não abrange 
contravenção penal). 
 
*Existe receptação ao se adquirir coisa produto de ato infracional? 
 1ª Corrente (Fragoso) 
o Não há receptação por falta de previsão legal, pois menor 
infrator não pratica crime. 
 2ª Corrente (prevalecente) 
o Há receptação, pois a lei exige coisa produto de fato previsto 
como crime abrangendo o ato infracional, já que o ato 
infracional nada mais é um fato previsto como crime porém 
praticado por menor inimputável. 
 
*É possível receptação de receptação, ou seja, o crime anterior pode ser 
receptação? 
 Sim, é perfeitamente possível. 
 Enquanto permanecer a má-fé dos adquirentes, haverá 
receptação de receptação. 
o Só cessará a receptação se o adquirente estiver de boa-fé 
(dele em diante não haverá mais crime de receptação). 
 
*É possível receptação de coisa imóvel (o objeto material pode ser coisa 
imóvel)? 
 1ª Corrente (Fragoso) 
o O objeto material pode ser qualquer coisa (móvel ou imóvel), 
pois o tipo penal não distingue. 
 Ex: pessoa engana idosa e recebe apartamento e 
depois transfere para terceiro de má-fé. 
 2ª Corrente (Hungria) 
o O objeto material só pode ser coisa móvel. 
o O significado léxico da palavra receptação pressupõe coisa 
passível de deslocamento. 
o O STF adota a segundacorrente. 
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15 
 
 
*A receptação só pode ser da coisa produto de crime ou pode ser da 
coisa transformada de crime anterior? 
 Não importa seja a coisa genuína, transformada ou alterada. 
o Ex: furto da taça Jules Rimet (de ouro maciço), com 
posterior derretimento e confecção de várias medalhas para 
pessoas que sabiam da origem do ouro. 
 
*A receptação pressupõe coisa produto de crime. Esse crime é 
necessariamente contra o patrimônio? 
 Não, pode ser contra outro bem jurídico. 
o Ex: peculato (crime contra a administração pública) gera 
receptação. 
 
*Há modalidades especiais de receptação configurando contrabando ou 
descaminho: 
 Ex: comerciante que compra coisa que sabe roubada para 
revender. 
 
*Diferença entre Receptação e Favorecimento real (art. 349 do CP) 
Receptação 
(art. 180 do CP) 
Favorecimento Real 
(art. 349 do CP) 
O agente, com a receptação, busca vantagem 
pessoal ou de terceiro que não o autor do 
crime anterior. 
Ex: adquirir um veículo furtado para benefício 
próprio ou outrem. 
O agente, com o favorecimento real, quer garantir a 
vantagem do autor do crime anterior. 
Ex: adquirir um veículo furtado para ajudar o furtador. 
 
*A expressão “coisa que sabe ser produto de crime” na receptação (art. 
180 do CP) abrange somente o dolo direto ou implicitamente o dolo 
eventual também está abrangido? 
 Prevalece que a expressão coisa que sabe abrange somente o dolo 
direto, não abrangendo o dolo eventual. 
 
*Dolo superveniente gera o crime de receptação? 
 Prevalece que o dolo deve estar presente no momento da 
aquisição (o dolo deve ser contemporâneo à prática da conduta), 
pois o dolo superveniente não gera o crime. 
 Nelson Hungria entende que há o crime com dolo superveniente. 
o Ex: adquire a coisa e só depois sabe que a coisa é produto 
de furto. 
 
 Consumação do crime de Receptação 
o Receptação própria 
 Se consuma com a prática de qualquer um dos 
núcleos. 
 Ex: adquirir, receber, transportar, conduzir, 
ocultar. 
 
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OBS: nas modalidades transportar, conduzir e ocultar são modalidades 
permanentes do crime (ou seja, não corre a prescrição). 
 Admite a tentativa. 
 Ex: tentar adquirir. 
o Receptação imprópria 
 Basta a influência sobre o terceiro de boa-fé, pouco 
importando se ele adquire, recebe ou oculte, 
bastando o ato de influir no convencimento. 
 A maioria nega a tentativa na receptação imprópria. 
 Sanches afirma que é possível a tentativa na 
receptação imprópria quando feita por escrito. 
 
2.4. Receptação qualificada (art. 180, §1º do CP) 
 
Art. 180, § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, 
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio 
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto 
de crime: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 Sujeito Ativo 
o É crime próprio, só podendo ser praticado por quem está no 
exercício de atividade comercial ou industrial. 
o A razão de ser tutelado de forma mais grave é porque na 
atividade comercial ou industrial há uma maior facilidade 
de repassar a coisa receptada para terceiros de boa-fé. 
o A coisa produto de crime tem que estar ligada direta ou 
indiretamente à atividade comercial ou industrial do 
agente. 
 Ex: oficina e carro furtado. 
 Ex: padaria e carro furtado não há receptação 
qualificada. 
o O §2º do art. 180 traz uma cláusula de equiparação e faz 
abranger na receptação qualificada o comercio irregular ou 
clandestino. 
 Ex: comércio informal, comércio feito em casa, etc. 
 
Art. 180, § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo 
anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o 
exercício em residência. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 Elemento subjetivo 
o A expressão “que deve saber ser produto de crime” significa 
o que? 
 1ª Corrente 
 A expressão “que deve saber” indica somente 
dolo eventual. 
 O problema é: como punir somente dolo 
eventual da receptação qualificada com 3 a 8 
anos (art. 180, §1º) e o dolo direto da 
receptação simples com apenas 1 a 4 anos (art. 
Direito Penal IV 
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17 
 
180, caput). Para esta corrente, a pena da 
receptação qualificada fere o princípio 
constitucional da proporcionalidade. A saída é 
substituir a pena do §1º do art. 180 pela pena 
do art. 180, caput. 
 
Todavia, a mais recente decisão do STJ aderiu 
a tese de que só abrange o dolo eventual, mas 
não permitiu a substituição da pena para 
igualar o caput, afirmando não ser tarefa do 
Poder Judiciário, mas sim do Poder Legislativo 
O STF em recentes decisões também foi nessa 
linha de raciocínio. 
 
 2ª Corrente 
 A expressão abrange também o dolo direto, 
sendo a pena proporcional. É possível ainda 
encontrar decisões do STF nesse sentido (HC 
97.344). 
 
DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 180, § 1º DO CÓDIGO PENAL. 
CONSTITUCIONALIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. A conduta descrita no § 1º do art. 180 
do Código Penal é evidentemente mais gravosa do que aquela descrita no caput do 
dispositivo, eis que voltada para a prática delituosa pelo comerciante ou industrial, que, 
pela própria atividade profissional, possui maior facilidade para agir como receptador de 
mercadoria ilícita. 2. Não obstante a falta de técnica na redação do dispositivo em 
comento, a modalidade qualificada do § 1º abrange tanto do dolo direto como o dolo 
eventual, ou seja, alcança a conduta de quem "sabe" e de quem "deve saber" ser a coisa 
produto de crime. 3. Ora, se o tipo pune a forma mais leve de dolo (eventual), a conclusão 
lógica é de que, com maior razão, também o faz em relação à forma mais grave (dolo 
direto), ainda que não o diga expressamente. 4. Se o dolo eventual está presente no tipo 
penal, parece evidente que o dolo direto também esteja, pois o menor se insere no maior. 
5. Deste modo, não há que se falar em violação aos princípios da razoabilidade e da 
proporcionalidade, como pretende o impetrante. 6. Ante o exposto, denego a ordem de 
habeas corpus. (HC 97344, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 
12/05/2009, DJe-099 DIVULG 28-05-2009 PUBLIC 29-05-2009 EMENT VOL-02362-07 
PP-01288) 
 
2.5. Receptação Culposa (art. 180, §3º) 
 
Art. 180, § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção 
entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por 
meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação dada pela 
Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 Geralmente os crimes culposos estão redigidos em tipos abertos, 
mas este art. 180, §3º é um crime culposo de tipo fechado. 
o Já traz quais são as hipóteses que configuram a negligência 
(presunção relativa). 
 Por sua natureza 
 Pela desproporção entre o valor e o preço 
 Pela condição de quem a oferece 
 
 
 
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2.6. Art. 180, §5º 
 
Art. 180, § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em 
consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o 
disposto no § 2º do art. 155. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 Traz os benefícios: 
o Perdão judicial 
o PrivilégioPerdão Judicial Privilégio 
É exclusivo da receptação culposa. 
 
Requisitos: 
 Primariedade do agente 
 Culpa levíssima 
 
OBS: o valor da coisa é irrelevante. 
 Pode-se aplicar receptação culposa para relógio ou para 
carro de luxo. 
Aplica-se à receptação dolosa e, para a maioria 
abrange a forma qualificada. 
 
Requisitos: 
 Primariedade do agente 
 Pequeno valor da coisa 
 
 
2.7. Causa de Aumento de Pena ou Majorante (art. 180, §6º) 
Art. 180, § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, 
Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a 
pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 Esta causa de aumento de pena só se aplica à receptação dolosa 
do caput, não se aplicando ao §1º. 
 
3 – Disposições Gerais dos Crimes Contra o Patrimônio 
 
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em 
prejuízo: 
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; 
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou 
natural. 
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é 
cometido em prejuízo: 
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; 
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; 
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. 
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: 
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave 
ameaça ou violência à pessoa; 
II - ao estranho que participa do crime. 
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 
(Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) 
 
 O art. 181 do CP traz a imunidade patrimonial absoluta, que é 
hipótese de isenção de pena. 
I. Praticado em prejuízo do cônjuge 
 OBS1: a maioria, através da analogia in bonam 
partem, abrange o convivente (União Estável). 
 OBS2: a imunidade (escusa absolutória) incide 
mesmo na separação de fato (se os cônjuges ainda 
estiverem casados). 
II. Em prejuízo de ascendente ou descendente 
 OBS1: não abrange irmãos, colaterais (primos, tios) 
ou afins (sogra, cunhado). 
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 O art. 182 do CP traz imunidade patrimonial relativa (escusa 
relativa), que é hipótese de modificação da ação penal: de pública 
incondicionada para pública condicionada (é por isso que 
Bittencourt critica a nomenclatura “imunidade”, pois não imuniza 
de nada). São previstas em três hipóteses: 
 
o Crime praticado em prejuízo do cônjuge separado 
judicialmente. Todavia, como a EC nº 66/09 acabou com a 
separação judicial, perdeu sentido esta hipótese, salvo para 
aqueles que ainda ostentam o status de separados 
judicialmente. 
 OBS: se já divorciado, não incide a imunidade 
(escusa). 
 
Casados ou Separados de Fato Separados Judicialmente Divorciados 
Aplica o art. 181 do CP Aplica o art. 182 do CP Não tem benefício. 
 
o Crime praticado em prejuízo de irmão 
o Em prejuízo de tios ou sobrinho, com quem o agente 
coabita. 
 É imprescindível a coabitação, mas o crime não 
precisa ocorrer sob o teto da coabitação. 
 Ex: crime ocorrido em casa de campo alugada 
pelo tio ou sobrinho. 
 
 O art. 183 do CP prevê que não se aplicam os arts. 181 e 182 
quando: 
o Houver violência contra a pessoa (se a violência for contra 
coisa, aplicam-se os arts. 181 e 182) 
o Se estranho participar do crime 
o Se a vítima tem idade igual ou superior a 60 anos (incluído 
pelo Estatuto do Idoso – Lei 10.741/2003) 
 
*Um crime contra o patrimônio no ambiente doméstico e familiar contra 
a mulher continua com essa imunidade ou a lei Maria da Penha veda? 
 
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, 
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, 
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
 
 Se o marido furtar a esposa merece a imunidade? 
o Maria Berenice Dias ensina que a Lei Maria da Penha, ao 
prever a violência patrimonial como espécie de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, logo, não se aplica a 
imunidade (o único penalista moderno que concorda é 
Kleber Masson). 
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20 
 
o Entretanto, isso seria analogia in malam partem, logo, se o 
legislador quisesse evitar esta imunidade ela teria que ser 
expressa (posição prevalecente). 
 
3. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
O título VI do CP era chamado de “Crimes contra os costumes” 
 “Costumes” significam moralidade sexual pública. 
 Um estupro não ofende uma moralidade sexual pública, 
mas mais do que este bem, ofende a dignidade sexual da 
vítima. 
 Podia se aplicar ao ato obsceno, mas não ao estupro ou 
atentado violento ao pudor. 
O título VI do CP agora é chamado de “Crimes 
contra dignidade sexual” 
 
*Hipóteses de Sucessão de Lei Penal (todas presentes na lei 
12.015/2009) 
 
a) Na vigência da lei A o fato era típico e sobrevém a lei B e torna o fato 
atípico (caso de abolitio criminis) 
 Há casos de abolitio criminis na lei 12.015. 
 A lei nova é retroativa 
 
b) Na vigência da lei A o fato era atípico e sobrevém a lei B e torna o fato 
típico (caso de novatio legis incriminadora) 
 A lei nova é irretroativa. 
 
c) Na vigência da lei A o fato era crime e sobrevém a lei B e torna a pena 
majorada ou diminuída (novatio legis in mellius ou novatio legis in pejus) 
 Novatio legis in mellius é retroativa 
 Novatio legis in pejus é irretroativa 
 
d) Na vigência da lei A era crime e na vigência da lei B passa a ser outro 
crime, porém com o mesmo conteúdo (princípio da continuidade 
normativo-típica) 
 
3. 1 – ESTUPRO (art. 213 do CP) 
 
Lei 12.015/2009 
Art. 213 do CP 
(Antes) 
Art. 213 do CP 
(Depois) 
Art. 213: estupro 
Punia conjunção carnal 
Sujeito ativo: homem 
Sujeito passivo: mulher 
Pena: 6 a 10 anos 
Art. 214: punia o atentado violento ao pudor 
Punia atos libidinosos violentos 
Sujeito ativo: qualquer pessoa 
Sujeito passivo: qualquer pessoa 
Pena: 6 a 10 anos. 
Os arts. 213 e 214 foram reunidos em um tipo só: 
Abrange os antigos estupro e atentado violento ao 
pudor. 
Pena: 6 a 10 anos. 
 
OBS: o legislador perdeu a chance de abolir a 
nomenclatura estupro, preferindo a doutrina e a 
legislação comparada a nomenclatura “violação 
sexual violenta”. 
 
1.1. Sujeito Ativo 
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21 
 
 Qualquer pessoa. 
 O crime de bi-próprio passou a ser bi-comum, pois qualquer 
pessoa pode praticar o crime e qualquer pessoa pode sofrer o 
crime. 
 Atualmente acabaram-se as dúvidas se transsexual ou 
hermafrodita poderiam ser vítimas de estupro. 
 
OBS: anteriormente, se a mulher colocasse uma arma na cabeça para 
que um homem tivesse relações sexuais com ela seria constrangimento 
ilegal. Atualmente é estupro. 
 
 Se o sujeito ativo é cônjuge, companheiro, ascendente, padrasto, 
madastra, tio, irmão, curador, preceptor ou empregador da vítima 
a pena é majorada da metade (art. 226, II). 
o No caso de cônjuge ou companheiro existe estupro entre 
eles não se configurando a antiga tese de exercício regular 
de direito. 
 
1.2. Sujeito Passivo 
 Qualquer pessoa. 
 
*Sujeito passivo menor de 18 anosAntes Depois 
Era uma circunstância judicial desfavorável 
(art. 59 do CP) 
É uma qualificadora (art. 213, §1º), com pena de 8 a 12 
anos. 
É caso de novatio legis in pejus (não há retroatividade). 
 
OBS: se menor de 14 anos passa a ser estupro de 
vulnerável (art. 217-A). 
 
*Como não se exige qualidade especial da vítima, a prostituta pode ser 
vítima de estupro. 
 
1.3. Conduta 
 São os atos de libidinagem violenta 
o Conjunção carnal com violência 
o Constranger a praticar atos libidinosos 
o Constranger a permitir que se pratiquem atos libidinosos 
 Conjunção carnal 
o Pênis-vagina ou vagina-pênis (mulher como agente ativo) 
 Atos libidinosos 
o É expressão muito genérica, porosa, ou ambígua, daí 
porque criticada por parte da doutrina. 
 Teria sido melhor que o legislador tivesse 
exemplificado alguns casos de atos libidinosos. 
 Ex: beijo lascivo (alguns juízes achavam que era ato 
libidinoso e outros não achavam isso). 
 Beijo lascivo é aquele que causa desconforto 
para quem olha. 
Direito Penal IV 
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22 
 
o Tem prevalecido o entendimento, no entanto, que trata-se 
de ato sexual que atenta contra a dignidade sexual da 
vítima. 
 
 Para haver estupro é dispensável ou indispensável o contato físico 
entre agente e vítima? 
o Prevalece que o contato físico é dispensável. 
 Ex: obrigar a vítima a se masturbar. 
o A minoria entende que o contato físico é indispensável e não 
havendo contato físico há apenas mero constrangimento 
ilegal. 
 
1.4. Elemento subjetivo 
 O crime é punido a título de dolo. 
 É só dolo ou dolo com finalidade especial? 
 
o 1ª Corrente (Mirabete) 
 Entende imprescindível a finalidade especial de 
manter conjunção carnal ou outro ato libidinoso (isso 
seria finalidade especial e não um mero dolo). 
 
o 2ª Corrente (Capez) 
 Não há finalidade específica exigida para o tipo. 
 
o 3ª Corrente (minoritária) 
 Há jurisprudência que exige a finalidade especial de 
satisfação da lascívia. 
 Por amor, por ódio ou por vingança não haveria 
crime. 
 
1.5. Consumação e Tentativa 
 O crime se consuma com a prática do ato de libidinagem. 
 É perfeitamente possível a tentativa. 
 
 
Punição do agente que pratica conjunção carnal + atos libidinosos no 
mesmo contexto fático? 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
Para o STF, respondia pelos arts. 213 (estupro) + 
art. 214 (atentado violento ao pudor), em 
concurso material. 
Não havia continuidade delitiva porque eram 
crimes diversos. 
Responde pelo art. 213, não havendo concurso, pois é um crime de 
ação múltipla de conteúdo variado. 
 
OBS: a pluralidade de núcleos será considerada na fixação da pena. 
 
*Houve uma novatio legis in mellius, sendo alteração retroativa. 
 Quem já foi condenado pelos dois o juiz tem que unificar as 
penas (LFG, Nucci, posição prevalecente). 
 Quem está sendo julgado só será por estupro (art. 213). 
 
Direito Penal IV 
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23 
 
Cuidado: em contextos fáticos distintos, ainda há o concurso de crimes 
(formal, material ou continuidade delitiva, a depender das 
circunstâncias)!!! 
 5 estupros, em 5 dias, contra 5 mulheres diferentes, por exemplo, 
pode gerar continuidade delitiva. 
 
1.6. QUALIFICADORAS 
 
 O crime de estupro será qualificado quando: a) gerar Lesão Grave 
ou; b) morte 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
 Art. 223 - Se da violência resulta lesão corporal de 
natureza grave: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Revogado 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos. (Revogado 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 Pena - reclusão, de oito a doze anos. (Redação dada 
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) (Revogado pela Lei nº 
12.015, de 2009) 
 Parágrafo único - Se do fato resulta a morte: 
(Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 Pena - reclusão, de oito a vinte anos. (Revogado pela 
Lei nº 12.015, de 2009) 
 Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos. 
(Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) (Revogado 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza 
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 
(catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
§ 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 
12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
Art. 223 
 Se da violência resulta lesão grave – pena de 8 a 
12 anos 
o Como se falava em violência, não 
abrangia grave ameaça (se a lesão 
resultasse de grave ameaça não incidia 
a qualificadora). 
 Se do fato resulta morte – pena de 12 a 25 anos. 
o Fato = abrangia violência, grave ameaça 
ou qualquer outra causa. 
Críticas: 
 Era um absurdo qualificar um crime apenas 
quando do resultado tinha violência e nada fazia 
pela gravidez. 
 Na hipótese de morte é um absurdo qualificar o 
crime quando advém outro fato alheio à vontade 
do agente (ou qualquer outra coisa). 
Art. 213, §§1º e 2º 
 Se da conduta resulta lesão grave – pena de 8 a 12 
anos. 
o Abrange grave ameaça. 
 Se da conduta resulta morte – pena de 12 a 30 anos. 
o Não mais se fala em fato, mas sim em 
conduta (excluiu qualquer outra causa). 
o As qualificadoras do art. 213 são 
preterdolosas, dolo no estupro e culpa na 
lesão grave ou morte. Se o agente quis ou 
aceitou o resultado, o agente responde em 
concurso de crimes (estupro + morte ou 
lesão grave). 
 
3.2. Violação sexual mediante fraude (art. 215 do CP) 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
Posse sexual mediante fraude 
 Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher, 
mediante fraude: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 
2005) 
 Pena - reclusão, de um a três anos. 
 Parágrafo único - Se o crime é praticado contra 
mulher virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14 
(catorze) anos: 
 Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
Atentado ao pudor mediante fraude (Revogado pela 
Lei nº 12.015, de 2009) 
 
Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela 
Lei nº 12.015, de 2009) 
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato 
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que 
impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da 
vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação 
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de 
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24 
 
Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a praticar 
ou submeter-se à prática de ato libidinoso diverso da 
conjunção carnal: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 
2005) (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 Pena - reclusão, de um a dois anos. (Revogado pela 
Lei nº 12.015, de 2009) 
(Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)(Revogado pela Lei 
nº 12.015, de 2009) Parágrafo único. Se a vítima é 
menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos: 
(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) (Revogado 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. 
(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) (Revogado 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
obter vantagem econômica, aplica-se também multa. 
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
Art. 215 – posse sexual mediante fraude 
Sujeito Ativo:homem 
Sujeito Passivo: mulher 
Conduta: Conjunção Carnal + fraude 
 
Art. 216 – atentado violento ao pudor mediante fraude 
Sujeito Ativo: homem 
Sujeito Passivo: mulher 
Conduta: Atos Libidinosos + fraude 
Art. 215 – violação sexual mediante fraude 
Sujeito Ativo: comum (qualquer pessoa) 
Sujeito Passivo: comum (qualquer pessoa) 
 
Conduta: 
Atos de Libidinagem (conjunção carnal + atos de libidinagem) 
+ 
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre 
manifestação de vontade da vítima. 
 
OBS: se o sujeito ativo for qualquer dos agentes do art. 226, 
II, a pena é aumentada. 
 
Art. 226. A pena é aumentada:(Redação dada pela Lei nº 
11.106, de 2005) 
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou 
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, 
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro 
título tem autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei nº 
11.106, de 2005) 
 
OBS2: se a vítima é menor de 14 anos, o crime passa a ser 
estupro de vulnerável (art.217-A). 
 
Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato 
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei 
nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela 
Lei nº 12.015, de 2009) 
 
 “Mediante Fraude” 
Ex: irmãos gêmeos, ginecologista. 
 
“Outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de 
vontade da vítima” 
Ex: temor reverencial, embriaguez moderada da vítima. 
 
OBS: a fraude utilizada na execução do crime não pode 
anular a capacidade de resistência da vítima, caso em que 
estará configurado o delito de estupro de vulnerável (art. 217-
A). Assim, não pratica “estelionato sexual”, mas estupro de 
vulnerável, o agente que usa psicotrópicos para vencer a 
resistência da vítima. 
 
 Elemento subjetivo 
o Este crime é punido a título de dolo. 
 Quando o agente age com o fim de obter vantagem econômica, 
aplica-se também uma multa (art. 215, parágrafo único). 
 
 Consumação 
o Com a prática do ato de libidinagem. 
 
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25 
 
 Tentativa 
o É perfeitamente possível. 
 
 Não existe mais a qualificadora se a vítima está entre 14 e 18 
anos, bem como a virgindade. Estas questões não mais qualificam 
o crime, mas interferem na fixação da pena base. 
 
3.3. Assédio Sexual (art. 216-A do CP) 
 
Assédio sexual (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001) 
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, 
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao 
exercício de emprego, cargo ou função." (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001) 
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001) 
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001) 
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. (Incluído 
pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
3.3.1. Conceito de Assédio Sexual 
 É a insistência importuna de alguém em posição privilegiada, que 
usa dessa vantagem para obter favores sexuais de um subalterno. 
 
Assédio Sexual Assédio Ambiental Assédio Moral 
O assédio parte do superior 
para o subalterno. 
Finalidade sexual. 
O assédio parte do superior para o 
subalterno (de cima para baixo). 
O assédio parte do inferior para o 
superior (de baixo para cima). 
O assédio parte do pessoa do mesmo 
escalão na hierarquia (de lado) 
Finalidade sexual. 
O assédio parte do superior para o subalterno 
(de cima para baixo). 
O assédio parte do inferior para o superior (de 
baixo para cima). 
O assédio parte do pessoa do mesmo escalão 
na hierarquia (de lado) 
Sem finalidade sexual, é caso de ridicularização 
no meio do trabalho (do empregador ou do 
empregado), bem como a robotização do 
empregado. 
 
O art. 216-A do CP só pune o assédio sexual (de cima para baixo), não 
punindo o assédio moral ou ambiental. 
 
3.3.2. Sujeito Ativo 
 É crime próprio, só podendo ser praticado por superior 
hierárquico ou pessoa que exerce ascendência. 
 
3.3.3. Sujeito Passivo 
 É a vítima (sujeito passivo próprio), logo é um crime bi-próprio. 
 
OBS1: não se aplica o aumento do preceptor ou empregador da vítima 
(art. 226, II do CP), pois redundaria em bis in idem. Para as demais 
hipóteses, aplica-se o art. 226, II do CP. 
 
Art. 226. A pena é aumentada:(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) 
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, 
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título 
tem autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) 
 
OBS2: o art. 216-A do CP é novidade da lei 12. 015/2009 e, portanto, 
não retroage, logo: antes da lei 12.015/2009 a consideração da idade da 
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26 
 
vítima era feita na pena base (1ª fase), e agora é feita para aumentar a 
pena (3ª fase). 
 
OBS3: é possível assédio sexual hetero ou homossexual, pois o 
dispositivo não menciona. 
 
*É possível assédio sexual de professor para aluno (bispo-sacerdote)? 
 1ª Corrente (Nucci e Rogério Sanches) 
o Superior hierárquico retrata uma relação laboral no âmbito 
público. Ascendência retrata uma relação laboral no âmbito 
privado. Não existe o crime de assédio sexual de professor 
para aluno (a relação laboral é entre professor e faculdade 
ou escola). 
. 
 2ª Corrente (Luiz Regis Prado – PR) 
o Superior hierárquico retrata uma relação laboral, pública 
ou privada. Ascendência retrata domínio. Como o professor 
exerce domínio ou ascendência sobre o aluno, responde por 
assédio sexual. 
 
 Bittencourt admite o constrangimento com violência 
ou grave ameaça, mas é posição minoritária. Para a 
maioria da doutrina, violência ou grave ameaça 
configura estupro e não assédio sexual (apenas a 
ameaça faz parte do assédio sexual). 
 
1.8.4. Elemento Subjetivo 
 É crime punido a título de dolo com finalidade especial de 
vantagem ou favorecimento sexual. 
 
OBS: qual é a diferença de obter vantagem ou favorecimento? 
 Vantagem é quando o agente pratica o crime para beneficiar a si 
próprio. 
 Favorecimento é quando o agente pratica o crime para beneficiar 
a outrem. 
 
1.8.5. Consumação e Tentativa 
 1ª Corrente 
o O crime não é habitual, consumando-se com o primeiro ato 
de assédio sexual, independentemente da obtenção da 
vantagem sexual (é crime formal). 
o Admite a tentativa (ex: bilhete interceptado). 
o Corrente prevalecente. 
 2ª Corrente 
o O crime é habitual, exigindo a reiteração de atos 
constrangedores, independentemente da obtenção da 
vantagem sexual (é crime formal e habitual). 
o Não admite a tentativa. 
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27 
 
o Para Sanches e Rodolfo Pamplona (posição do direito do 
trabalho), como assédio sexual é insistência inoportuna, 
deve haver reiteração de atos constrangedores. 
 
 
3.4. ESTUPRO DE VULNERÁVEL (art. 217-A do CP) 
 
Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) 
anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por 
enfermidadeou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, 
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, 
de 2009) 
§ 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 
2009) 
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
Atos de libidinagem com menor 
Art. 213 c/c 224 do CP – 6 a 10 anos 
Art. 214 c/c 224 do CP – 6 a 10 anos 
 
Vulnerável 
 Pessoa não maior de 14 anos 
o É vulnerável até o dia do 
aniversário. 
 Pessoa alienada mental 
 Pessoa sem resistência 
Art. 217-A do CP – pena de 8 a 15 anos 
 
Vulnerável 
 Pessoa menor de 14 anos 
o É vulnerável até o dia anterior do aniversário. 
o No dia do aniversário de 14 anos não é mais 
vulnerável. 
 Pessoa alienada mental 
 Pessoa sem resistência 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
1ª Hipótese 
 Houve violência contra vítima vulnerável. 
 Respondia apenas pelo art. 213 ou 214 e o fato da 
vítima ser vulnerável gerava o aumento 1/2 da pena da 
lei 8.072/90 (crimes hediondos). 
o A pena variava de 9 a 15 anos. 
 
Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados 
nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 
213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo 
único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo 
único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, 
respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a 
vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também 
do Código Penal. 
 
2ª Hipótese 
 Sem violência com vítima vulnerável. 
 Respondia apenas pelo 213 ou 214 c/c com o art. 224 
do CP. 
o A pena seria de 6 a 10 anos. 
 Não incide o art. 9º da lei 8.072/90, para evitar o bis in 
idem. 
O art. 217-A do CP abrange o crime cometido com 
violência ou sem violência. 
 Sua pena é de 8 a 15 anos 
 
OBS: no caso de estupro de vulnerável com violência, 
como a pena é mais benéfica, é retroativa. 
 
OBS: no caso de estupro de vulnerável sem violência, 
como a pena é mais gravosa, não será retroativa. 
 
 
 
 
A presunção de violência (art. 224 do CP) é absoluta ou relativa após a 
Lei 12.015/2009? 
 
Antes Depois 
Direito Penal IV 
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28 
 
Maioria 
 A presunção de violência é absoluta. 
 Sempre foi a posição prevalente, com julgados, 
inclusive, no âmbito do STF. 
 
Minoria 
 A presunção é relativa, ou seja, o réu pode 
fazer prova de que a vítima sabia que estava 
fazendo. Em recente decisão, proferida no dia 
18 de Abril de 2012, mudando a orientação 
anteriormente fixada, o STJ passou a entender 
que a antiga presunção de violência ostentava 
caráter relativo, podendo ser afastada com 
base no caso concreto (por exemplo, a 
experiência sexual pretérita da vítima) 
O art. 217-A aboliu o art. 224 do CP e consequentemente 
revogou o art. 9º da lei 8.078/90. 
 Não fala mais em presunção de violência. 
 Para a maioria, a intenção do legislador foi tornar a 
presunção absoluta. 
 Para a minoria, esta mudança foi um retrocesso. 
 
Para evitar o retrocesso, a minoria da doutrina distingue 
consoante o ECA: 
 Absolutamente vulnerável 
o É a criança 
 Relativamente vulnerável 
o É o adolescente (12 ou 13 anos) 
 
3.4.1. Sujeitos 
 Ativo 
o Qualquer pessoa (é crime comum). 
 Passivo 
o Menor de 14 anos, alienada mental ou sem resistência 
(crime próprio). 
o Incide o aumento do art. 226, II do CP. 
 
3.4.2. Conduta 
 Prática de atos de libidinagem (conjunção carnal ou outros atos 
libidinosos), mesmo praticados com violência, grave ameaça, 
fraude ou qualquer outro meio. 
 
Condutas no Estupro (art. 213) X Estupro de Vulnerável 
Art. 213 Art. 217-A 
 Conjunção carnal 
 Praticar ato libidinoso 
 Constranger a permitir que nela se 
pratique. 
 Conjunção Carnal 
 Praticar ato libidinoso 
 Tem doutrina que afirma que não pune o agente que 
constrange a permitir que nela se pratique, mas isso é 
absurdo, pois esta lacuna não existe, já que se pode 
praticar outro ato com menor tendo comportamento 
passivo ou ativo. 
 
3.4.3. Elemento Subjetivo 
 O crime é punido a título de dolo, devendo o agente ter ciência da 
vulnerabilidade da vítima. 
 E se o agente desconhece a vulnerabilidade da vítima, responde 
por qual crime? 
o Se o crime foi praticado com violência, responde pelo art. 
213 do CP. 
o Se o crime foi praticado com grave ameaça, responde pelo 
art. 213 do CP. 
o Se o crime foi praticado com fraude, responde pelo art. 215 
do CP. 
o Se o crime foi praticado com qualquer outro meio, é fato 
atípico. 
o Anteriormente o crime era presumido de forma absoluta, 
atualmente, depende do modus operandi. 
 
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29 
 
3.4.5. Consumação 
 Com a prática dos atos de libidinagem. 
 
3.4.6. Qualificadoras (art. 217-A, §§3º e 4º do CP) 
 
Art. 217-A, § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº 
12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
3.5. Corrupção de Menores (art. 218 do CP) 
 
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: (Redação 
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
 Pune o lenocínio de vulnerável. 
 Lenocínio antes e depois do art. 12.015/2009 
 
Antes Depois 
Art. 227 do CP 
(vulnerável era tratado nos parágrafos) 
Art. 227 do CP 
(vítima não vulnerável) 
 
Art. 218 do CP 
(vítima menor de 14 anos) 
 
3.5.1. Personagens 
 
 Lenão 
o É o sujeito ativo do art. 218 do CP (o destinatário não é o 
sujeito ativo deste crime). 
 Vítima (menor de 14 anos) 
o É o sujeito passivo do art. 218 do CP. 
o Tem que ser menor de 14 anos, não abrangendo as outras 
hipóteses de vulnerabilidade. 
 Destinatário do ato (consumidor) 
 
3.5.2. Condutas 
 Induzir 
o O crime não tem como meio de a violência ou grave ameaça, 
violência ou fraude, pois o que há é o convencimento do 
menor à prática dos ato. Ademais, não se trata de crime 
habitual. 
o O outrem deve ser destinatário certo e determinado, ou 
seja, se o destinatário for qualquer pessoa que apareça, o 
que haverá é o crime do art. 218-B (Favorecimento da 
prostituição ou outra forma de exploração sexual de 
vulnerável). 
 Outrem determinado = Art. 218 
 Outrem indeterminado = Art. 218-B 
 
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 Que lascívia é essa que o menor de 14 anos deve ser induzido? 
o Para a maioria, satisfazer a lascívia abrange os atos de 
libidinagem e é uma exceção pluralista à teoria monista. 
 O problema para parcela da doutrina é a grande 
disparidade da pena (um é crime hediondo com pena 
de 8 a 15 anos e outro é crime de pena de 2 a 5 
anos). 
o Para a maioria, a lascívia que deve ser satisfeitacom o art. 
218 é uma lascívia meramente contemplativa (voyeurismo), 
pois o legislador não falou em conjunção carnal ou atos 
libidinosos. 
 Esta posição faz com que o que estupra o vulnerável 
seja punido com uma pena de 8 a 15 anos e o lenão 
seja punido com uma pena de 2 a 5 anos. 
 
O Congresso Nacional tem Projeto de Lei para alterar a redação do art. 
218 do CP no sentido da posição da maioria da doutrina. 
 
3.5.3. Elemento Subjetivo 
 O crime é punido a título de dolo, tendo o agente que ter ciência 
de que o induzido é menor de 14 anos. 
 
OBS: a posição do lenocínio do art. 227 de que a vítima não pode ser 
totalmente corrompido vem sendo trazida para este tipo do art. 218, 
afirmando-se que o menor não pode estar totalmente corrompido para 
que exista o crime. 
 
3.5.4. Consumação e Tentativa 
 O crime se consuma com a prática do ato, independentemente do 
consumidor se sentir ou não satisfeito. 
 O crime não é habitual. 
 É possível a tentativa. 
o Ex: induzimento por escrito. 
 
3.6 Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente 
(art. 218-A) 
 
 Antes a redação do artigo contemplava o crime de corrupção 
sexual de menores 
 
Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 
18 (dezoito) anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou 
presenciá-lo: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
 
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a 
presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou 
de outrem: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
 
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Lei 12.015/09 
Antes Depois 
O art. 218 do CP previa a “corrupção sexual de menores” que 
consistia em “corromper menor de 18 e maior de 14 anos”: 
 Com ele praticando atos de libidinagem. 
 Induzindo o menor a praticá-lo. 
 Induzindo o menor a presenciá-lo. 
 
Se a vítima tivesse 13 anos e se houvesse atos de libidinagem, o 
crime seria estupro ou atentado violento ao pudor. 
Todavia, se houvesse apena o induzimento do menor a presenciar 
atos de libidinagem, havia uma lacuna, sendo o fato atípico. 
Revogou-se o art. 218, o fato que era atípico, 
tornou-se o art. 218-A do CP. 
 
3.6.1. Sujeitos 
 Sujeito Ativo 
o É crime comum, sofrendo o aumento de pena do art. 226, II 
do CP. 
 Sujeito Passivo 
o Pessoa menor de 14 anos. 
 
3.6.2. Condutas 
 Praticar na presença de alguém menor de 14 anos atos de 
libidinagem. 
o Percebe-se a presença espontânea do menor e para 
satisfazer a lascívia praticam-se atos de libidinagem com 
um parceiro sexual. 
o O menor de 14 anos não pode participar do ato de 
libidinagem, ou seja, não pode envolver-se fisicamente no 
ato (se isso acontecer responde-se por estupro de 
vulnerável). 
 Indução a menor presenciar atos libidinosos. 
o A presença do menor não é espontânea, pois o menor está 
presente porque o agente o induziu. 
o O menor de 14 anos não pode participar do ato de 
libidinagem, ou seja, não pode envolver-se fisicamente no 
ato (se isso acontecer responde-se por estupro de 
vulnerável). 
 
3.6.3. Elemento Subjetivo 
 É o dolo + finalidade específica de satisfazer a lascívia. 
 
OBS: não basta que o ato de libidinagem seja feito na presença de 
menor de 14 anos, mas há que se ter a finalidade específica de 
satisfação da lascívia com a presença do menor vendo os atos. 
 
3.6.4. Consumação e Tentativa 
 Quando a presença do menor é espontânea exige-se a efetiva 
prática dos atos de libidinagem. 
o O crime é material. 
 Quando a presença do menor é induzida, basta o induzimento, 
dispensando-se a prática dos atos de libidinagem. 
o O crime é formal. 
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 Guilherme de Souza Nucci entende que nas duas hipóteses a 
efetiva prática dos atos de libidinagem é indispensável. 
 
3.7 AÇÃO PENAL 
 
Lei 12.015/2009 
Antes Depois 
Regra: ação penal privada 
 Abrangia a grave ameaça. 
 Abrangia a violência presumida (art. 224 do 
CP) 
 
Exceções: 
 Vítima pobre 
o Ação penal pública condicionada à 
representação. 
 Abuso de poder 
o Ação penal pública incondicionada. 
 Qualificadora (art. 223 do CP) 
o Ação penal pública incondicionada. 
 Súmula 608 do STF 
No crime de estupro, praticado mediante 
violência real, a ação penal é pública 
incondicionada. 
Regra: ação penal pública condicionada à representação. 
 
Exceções: 
 Vítima menor de 18 anos 
o Ação penal pública incondicionada. 
 Vítima vulnerável 
o Ação penal pública incondicionada. 
 
*Depois da lei 12.015/2009, existe alguma hipótese de crimes 
contra a dignidade sexual que depende de ação penal privada? 
 Não se pode abolir a ação penal privada subsidiária da 
pública, que é garantia constitucional do cidadão 
prevista no art. 5º da CRFB/88. 
 
 
 
*Após a lei 12.015/2009, se ocorrer lesão grave ou morte, qual será a 
ação penal cabível? 
 Prevalece que cai na regra geral, ou seja, é ação penal pública 
condicionada iniciada pelo Cônjuge, Companheiro, Ascendente, 
Descendente ou Irmão. 
 Para o Procurador Geral da República (que ajuizou ADI) deve ser 
pública incondicionada e não cair na regra geral, sob pena de se 
ferir o princípio constitucional da razoabilidade. 
 
*Se o crime aconteceu antes da lei 12.015/2009 com inquérito antes 
desta lei. Todavia, o MP só ofertou denúncia após a vigência da lei 
12.015/2009. Aplica-se que lei: a nova ou a antiga? 
 Se na época do fato o crime dependia de queixa, continuará a 
depender de queixa, pois há uma abolição de três causas 
extintivas da punibilidade (renúncia, perdão e perempção) e isso 
não pode retroagir. 
 
*Se anteriormente o crime era de ação penal pública incondicionada (ex: 
abuso de poder), mas com a lei 12.015/2009 o crime tornou-se de ação 
pública condicionada. Entretanto, o MP já denunciou sem ouvir a 
vítima. O que deve o juiz fazer? Suspender e chamar a vítima para 
representar ou não? 
 Na ADI, o PGR sustenta a tese de que o juiz deve suspender os 
processos e chamar todas as vítimas a exercer o seu direito de 
representação. 
o Para Sanches isso é absurdo, pois a representação é 
condição de procedibilidade (é para o MP agir). 
o O que o PGR está fazendo é tornar a representação uma 
condição de prosseguibilidade. 
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OBS: quando a lei quer transformar a representação em condição de 
prosseguibilidade, o faz de forma expressa, como foi feito no art. 91 da 
lei 9.099/1995. 
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal 
pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta 
dias, sob pena de decadência. 
 
3.8. Causas de Aumento (art. 234-A do CP) 
Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: (Incluído pela Lei nº 
12.015, de 2009) 
I – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
III - de metade, se do crime resultar gravidez; e (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente 
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 
2009) 
 
 Estas causas de aumento de pena aplicam-se a todos os

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