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90 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Unidade IV 7 Desafios atuais Nesta unidade, apresentaremos alguns instrumentos do processo de avaliação de desempenho, bem como debateremos os desafios que são encontrados pelos gestores de recursos humanos quanto ao assunto. A unidade ainda colabora com algumas observações acerca da importância do treinamento organizacional para contribuir com o desempenho dos colaboradores e apresenta alguns exemplos de empresas e o uso que fizeram da avaliação de desempenho. 7.1 Desafios para gestores Por onde avançam os desafios dos gestores de recursos humanos e o que se pode, ainda, considerar acerca de avaliação de desempenho? Vejamos. Em 1997, as Lojas Arapuã eram reconhecidas como a melhor empresa do comércio varejista brasileiro. Até esse mesmo ano, o Banco Garantia era exemplo de instituição financeira na América Latina e, assim, modelo a ser seguido. No mês de dezembro de 1998, o Banco Marka comemorava resultados positivos no fechamento de suas contas. Por incrível que pareça, a partir de 1999, essas comemorações não foram realizadas: sequer existiam clientes! O Banco Garantia precisou fechar as portas, assim como as Lojas Arapuã e o Banco Marka. Recentemente, assistimos ao amargar dos negócios do Banco Panamericano, até então de propriedade de um conhecido empresário de uma rede de televisão. Quais os motivos que fizeram essas empresas e tantas outras a entrarem em queda livre e ver seus negócios virando cinzas? Não temos o intuito aqui de dissecar os motivos que levaram aos dias ruins as empresas citadas, e algumas até ao desaparecimento, mas Vianna (2011) apresenta duas conclusões: • que as chamadas técnicas de gestão contemporânea não são suficientes para garantir o sucesso ou a continuidade de algumas empresas; • que o sucesso verificado no passado não representa, necessariamente, possibilidade de sucesso e sobrevivência no futuro. O mesmo autor salienta estarmos diante de pelo menos três tendências, assim contextualizadas: • em períodos de incerteza, que permeiam os negócios de forma geral, é necessário abandonar a máxima de que, ao conhecer o presente, pode‑se definir o futuro; • na “Era de Caos”, ocorrências de baixa probabilidade e alto impacto têm para as organizações tanta importância quanto qualquer ocorrência de alta probabilidade e alto impacto; • algumas técnicas de gestão, invisíveis para a maioria, podem aumentar as probabilidades de sucesso, crescimento e desenvolvimento em algumas empresas. 91 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho Entre tais técnicas de gestão, Vianna (2011) destaca algumas atitudes que poderiam ser incorporadas pelas empresas de forma geral, a exemplo da avaliação do grau de motivação dos seus seres humanos. Para ele, a maioria das empresas não consegue ver seus funcionários como seres humanos, e sim como fontes geradoras de custos, fixos ou variáveis. Acabam por deixar de lado a liberdade de expressão, a valorização de atitudes proativas, o respeito à pessoa e, por vezes, às suas limitações e crenças, não demonstrando confiança nas pessoas e em seu potencial. Por fim, muitas vezes não há reconhecimento qualitativo satisfatório; acreditam que salários pagos em dia e benefícios justos – preferencialmente aqueles previstos pela legislação vigente –, perspectiva no plano de carreira e participação em resultados promissores são atitudes indispensáveis para fazer do funcionário alguém extremamente motivado. “Está cada vez mais comprovado que empresas que investem em gente têm lucros cada vez maiores”, afirma. Outras tantas demoram a perceber que estamos inseridos numa época de complexidade, em que um dos grandes desafios encontra‑se na criação de inteligência competitiva, para a qual a base de tudo é “gente capaz”. Por uma miríade de circunstâncias, talentos são raros, o que requer, por parte das empresas, atitudes consistentes que consigam atrair, desenvolver e reter talentos. Essa é, inclusive, a grande preocupação da indústria de construção civil na atualidade, setor esse que por muito tempo acreditou que qualificação era permitida apenas a engenheiros e arquitetos. O Instituto Votorantim, contando com o apoio do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, desenvolveu o estudo Trabalho, educação e juventude na construção civil. A principal preocupação desse trabalho, além de mapear os motivos da escassez de mão de obra para o setor, é apresentar discussões de como o setor da construção civil pode se aprimorar em relação ao uso de tecnologias e melhoria das condições de trabalho, de forma a atrair e reter mão de obra jovem. A pesquisa, segundo Abreu (2011), indica algumas alternativas para que as empresas do setor possam atrair cada vez mais esse tipo de mão de obra. O primeiro passo seria o de desenvolver tecnologias que permitissem diminuir a necessidade de trabalho braçal. Outra medida a ser adotada pelas empresas do setor é praticar remuneração determinada pela demanda do mercado. A terceira atitude reside na capacitação, notadamente nos cursos de qualificação. Para Vianna (2011), diante da exigência de aprendizado contínuo, diversas empresas se veem obrigadas a adotar uma série de medidas para elevar o treinamento e o desenvolvimento humano tradicional a uma categoria mais nobre. Para que uma empresa se transforme numa universidade corporativa, é necessário: • reconhecer que a educação constrói e dissemina valores da organização; • fazer com que o treinamento se transforme em práticas de melhorias; • criar uma cultura e uma mentalidade organizacional de aprendizado contínuo; • incentivar o automonitoramento de carreira; • estimular aperfeiçoamentos. É o caso da Brookfield Incorporações, que criou uma universidade corporativa para disseminar o conhecimento do negócio e estimular a capacitação técnica e o desenvolvimento de lideranças, diz Lygia Fray Villar (2011, p. 38), superintendente de RH da empresa. A autora informa ainda que 92 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 [...] em um grande portal do conhecimento, os colaboradores têm acesso a escolas que estão alinhadas com a estratégia de negócio da empresa. Existem centros de ensino que surgiram exatamente dessa crescente necessidade de capacitar mão de obra especializada, que forma e desenvolve as equipes de construção. Nesses locais, são oferecidos cursos presenciais específicos para capacitação de mestres de obras, pedreiros, encarregados de pedreiro, administrativo de obra e almoxarifes, além de cursos técnicos para a área de segurança, medicina do trabalho e ISO. Se o objetivo, na atualidade, for promover a criatividade no ambiente de trabalho, Vianna (2011) observa que figuras autoritárias de liderança devem dar lugar a lideranças maduras que objetivem “servir aos liderados e promover o prazer no desenvolvimento” de tais liderados. Mudanças nos estilos de liderança e no ambiente de trabalho, em que sejam privilegiados processos e não simples tarefas, que seja permitido tanto o trabalho em casa quanto o horário flexível, que competências sejam reconhecidas e não apenas privilegiadas habilidades requeridas, que seja permitida maior aproximação entre colaboradores da organização e que estes estejam dispostos a aprender e principalmente aprender a “desaprender o passado”, são grandes desafios para uma organização flexível. Muitas vezes, diante de um período de aquecimento da economia, em que maior quantidade de produtos é procurada pelo mercado e outra quantidade de trabalho deve ser empregada para atendimentoà produção crescente, algumas empresas precisam recrutar profissionais rapidamente, sem tempo a perder. Veja o exemplo da empresa Philips que, no ano de 2010, percebeu que deveria migrar para uma estrutura física maior. Segundo Alexandre Teixeira Alves (op.cit., Revista Você S/A, 2011, 51‑53), diretor de real state da Philips brasileira, a mudança visava “oferecer mais conforto aos funcionários e ao mesmo tempo aumentar a ocupação do espaço”. Ainda: “um novo ambiente de trabalho teria o poder de acelerar as mudanças na cultura da empresa”, diz. Só que, antes da mudança, a empresa efetuou um estudo de suas condições de trabalho. Quanto às estações de trabalho, descobriu‑se que, em média, somente 49% delas eram regularmente ocupadas, 15% eram ocupadas por pessoas que, devido a suas atribuições, se ausentavam da empresa durante parte do dia e que os 36% restantes de estações ficavam desocupadas por um período maior, pois pertenciam a funcionários em viagem, férias ou licença‑maternidade. Após o estudo, chegou‑se à conclusão de que a empresa precisava de espaços dinâmicos e adaptáveis para diferentes funções. Assim, na nova sede, nada de estações fixas de trabalho. O que foi feito? No novo projeto, cada funcionário ganhou uma prateleira em um armário, com espaço limitado e chave individual para guardar apenas o essencial, o que contribui para conscientizar a equipe sobre o uso do papel, fazendo com que reduzisse em 40% a quantidade de impressões na nova sede. As mesas individuais viraram mesões, em que cada empregado senta onde quiser entre os lugares disponíveis, partindo apenas do princípio de que há um andar estabelecido para cada setor. Como alternativa para momentos que exigem mais privacidade ou concentração, há algumas salas individuais 93 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho e também as de reunião. Na fase de planejamento do novo escritório, o presidente da Philips no Brasil, Marcos Bicudo, entrou no clima e anunciou que abriria mão de ter uma sala ou mesmo de ter mesa própria. Os diretores seguiram o exemplo. “Hoje compartilho as horas de trabalho com diferentes colegas de diferentes setores. Percebo pelo meu próprio exemplo como isso contribuiu para um ambiente de trabalho mais criativo e, principalmente, mais colaborativo”, diz o presidente. O nível de satisfação com as mudanças é alto. Na pesquisa de clima, o ambiente passou a ser classificado como “inspirador e energizante” por 75% dos funcionários, ante 42% na última pesquisa anterior às mudanças, conforme Alexandre Teixeira Alves (op. cit., Revista Você S/A, 2011, 51‑53). Pode‑se perceber que a alternativa vislumbrada pela empresa Philips corresponde a um dos pontos anteriormente destacados por Vianna, de que mudanças no ambiente de trabalho promovem maior motivação por parte dos funcionários. Melhor ainda com a participação da liderança, como no caso do presidente da empresa. Além da otimização do espaço, projetos como o da Philips levam em consideração tendências relacionadas ao ambiente de trabalho por influência da Geração Y, que deseja mais flexibilidade para trabalhar e valoriza mais prazer. Assim, a LocaWeb, empresa especializada em hospedagem de sites e outros serviços relacionados à internet, também apostou na satisfação da equipe quando da decisão da mudança de sede. Localizada em um bairro da cidade de São Paulo, o que a empresa apresenta, além das três torres de três andares cada em um imóvel de 13.000 metros de área construída, área verde com 40.000 metros quadrados a ser transformada num parque, restaurante e estacionamento para os mais de 620 funcionários? Sala de relaxamento de 170 metros quadrados, com sofás, tevê de 50 polegadas com canais pagos, jogos eletrônicos e pufes para aqueles cochilos rápidos! “O ambiente induz naturalmente à troca de ideias, e reuniões informais começaram a ocorrer ali”, diz Celso Luiz Paulon, gerente de recursos humanos da empresa. E continua: “Espero que nunca mais seja preciso acabar com esse benefício em nome da necessidade de espaço”. 7.2 Mudanças pertinentes ao ambiente de trabalho Para Tegon4, na passagem das décadas de 1980 e 1990, não obstante tenham ocorrido mudanças significativas no ambiente de trabalho, diversas empresas, na busca por maior participação de mercado e lucratividade, procuraram investir em processos de trabalho rígidos, rotineirizados, burocráticos e quantificáveis. Deixaram de lado valores realmente produtivos – as pessoas. Ainda hoje, um número considerável de empresas tem perfil que dá pouca importância à gestão dos seres humanos, bem como ao seu bem‑estar. Para algumas organizações, a responsabilidade dos recursos humanos, se assim os chamam, é estritamente do departamento pessoal, que é totalmente dissociado dos demais departamentos que constituem a estrutura organizacional. Trata‑se de uma estrutura que 4Disponível em:<http://www.rhportal.com.br/artigos/wmview.php?idc_cad=_3jeiccib>. Acesso em: 22 jul. 2011. 94 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 utiliza parte das tecnologias apenas para automatizar atividades burocráticas, como folha de pagamentos, prêmio, cálculo salarial, porém ficam à parte os programas de gestão de estrutura organizacional, políticas de benefícios e prêmios relacionados a performance, planejamento de treinamento e desenvolvimento, restringindo espaço para ação estratégica. (idem) Lembrete Ao profissional da área de recursos humanos da atualidade cabem novas competências que estão diretamente relacionadas com a melhoria dos seres humanos nas organizações. Tal profissional tem a função de, junto aos gestores da organização, administrar seus colaboradores de forma transparente, justa e objetiva. A valorização do profissional certamente contribuirá, via motivação, para a melhoria do ambiente de trabalho, para o aumento da qualidade nos processos de trabalho, para a produtividade da organização como um todo e, portanto, para sua competitividade. Torna‑se necessário ter em mente os diferentes paradigmas de recursos humanos que são encontrados nas empresas, bem como a nova formação do perfil profissional de nosso tempo. O quadro a seguir mostra a mudança nos paradigmas dos gestores de recursos humanos. Quadro 6 – Paradigmas de Recursos Humanos ANTES (departamento pessoal) DEPOIS (departamento de recursos humanos) Arquivo de funcionários Banco de dados Salários Pacote de compensações Custos Retorno sobre investimentos Centro de custos Centro de receitas/recursos Empregado(a) Colaborador(a) Local Global Treinamento generalizado Treinamento individualizado Fonte: Revista Veja observação É pertinente perceber mudanças significativas nas características que eram observadas pelo, assim chamado, modelo antigo comparativamente ao novo modelo. Uma das principais funções do departamento pessoal de antigamente era cuidar de toda a rotina pertinente ao setor: seleção, contratação, registro, apontamentos de frequências e ausências, guarda 95 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho de toda a documentação pertinente, elaboração de folha de pagamentos. É o que o quadro admite ser arquivo de funcionários. Qual o motivo de, no novo paradigma, isso passar a ser considerado como banco de dados? É que, além de todas as rotinas anteriormente descritas, há a necessidade ainda de reconhecer habilidades, competências e demais características qualitativas de cada pessoa que está na organização. Fora isso, ao elaborar uma folha de salários, ou folha de pagamentos, não se deve pensarque cada membro da organização seja um gerador de custos; mas sim que cada valor ali apontado faz parte de um pacote de compensações, um reconhecimento, na forma monetária, de que houve uma troca entre as partes envolvidas. Trabalhador ou funcionário, que passa a ser encarado como colaborador da organização. Alguém que trabalhe com a organização e não para a organização. É diferente. Quadro 7 – Mudança no perfil do profissional Antes da década de 1970 Entre as décadas de 1970 e 1990 Hoje em dia De hoje em diante A experiência é usada no comando. O grau de formação é sua ferramenta de comando. Sua performance é sua ferramenta de comando. As realizações de sua equipe são a ferramenta de seu sucesso. É acomodado. É confiante. É curioso. É estudioso. É dependente. É político. É independente. Tem visão global das coisas. É realista. Procura ser criativo. É cooperador. É facilitador. É resistente às mudanças. Ajusta‑se às mudanças. É competitivo. Gera mudanças. Lidera mudanças. Seu salário é definido pela empresa. Seu salário é negociado com a empresa. Seu salário é conquistado pela importância de seu trabalho. Seu salário é conquistado pelo resultado de seu trabalho e o da equipe. Seu conhecimento é fruto de experiência profissional. Seu conhecimento é baseado na teoria acadêmica. Seu conhecimento é fruto da aplicação prática da teoria. Seu conhecimento é fruto do aprendizado contínuo. Fonte: Revista Veja,1994. Como nossa intenção aqui é verificar quais são os grandes desafios para a área de recursos humanos de nosso tempo, concentrando atenção nas duas últimas colunas do quadro apresentado, é possível elencar algumas características marcantes: • performance como comando; • realizações da equipe como fontes de sucesso; • curiosidade e estudo; • independência e visão ampla; • cooperação e facilitação; • geração e liderança de mudanças; • remuneração por resultados individuais e da equipe; • conhecimento oriundo de práticas e aprendizado contínuo. 96 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Ésther (2008) contribui sistematizando a evolução da gestão de recursos humanos no Brasil, diante do novo perfil do profissional. É o que apresenta o quadro a seguir: Quadro 8 – Evolução da gestão de recursos humanos no Brasil PERÍODO FASE CARACTERÍSTICAS Antes de 1930 Pré‑jurídica trabalhista – Inexistência de legislação trabalhista e de departamento pessoal – Descentralização de funções Década de 1930/1945 Burocrática ‑ Advento da legislação trabalhista – Surgimento do departamento pessoal para atender às exigências legais Década de 1945/1964 Tecnicista – Implantação da indústria automobilística – Implantação de subsistemas de RH – Preocupação com eficiência e desempenho De 1964 a 1990 Da gestão profissionalizada à gestão estratégica – Surgimento da gerência de RH – Integração dos enfoques administrativos, estruturais e comportamentais – Reformas estruturais profissionalizadas – Surgimento dos movimentos da qualidade – Novas necessidades – Novas abordagens de gestão de pessoas Disponível em: <http://www.rhportal.com.br/artigos/wmview.php?idc%20cad=m52einae0>. Acesso em: 22 jul. 2011. Se observarmos as características apresentadas pelo Quadro 7, notadamente aquelas destacadas pelas duas últimas colunas com a fase que compreende o período da década de 1990, conforme destacado no Quadro 8, percebe‑se que a participação da gestão de recursos humanos nas organizações vem tomando corpo crescente e está cada vez mais relacionada às decisões estratégicas das organizações, principalmente pela integração das questões administrativas, estruturais e comportamentais. Soma‑se a isso que a contribuição dos recursos humanos das organizações tornou‑se fator importantíssimo e cada vez mais relevante na obtenção de resultados globais. Por outro lado, esses resultados não são totalmente dedicados aos recursos humanos, mas àquilo que podem promover de melhorias para as organizações. observação Mudanças de processos de produção, modificação nos recursos utilizados, nova combinação de métodos e rotinas que, preferencialmente, signifiquem queda de custos de produção são também bem avaliadas pelas organizações. Como vimos em exemplos anteriores, notadamente nos casos da Philips e da LocaWeb, que se depararam com problemas de espaço físico para alocar melhor seus recursos humanos, as 97 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho organizações, por mais que gostem das pessoas e que tenham uma função social, que é a geração de empregos e renda, não saem por aí contratando qualquer tipo de profissional, tampouco colocando em seu quadro de colaboradores quantidade superior ao necessário. A decisão pela contratação de um novo colaborador deve seguir passos estratégicos e levar em conta necessidade laboral, bem como funções e responsabilidades que serão assumidas. Muitas vezes, a contratação surge em virtude de substituição profissional. Outras, por crescimento da demanda e de produção, o que enseja maior necessidade de colaboradores. Pense, por exemplo, nos casos de empresas que produzem sorvetes. Durante o ano a indústria brasileira de sorvetes produz mais de 950 milhões de litros, incluindo sorvetes de massa, picolés e o sorvete soft. Cerca de 70% deste total é consumido durante os meses de verão (setembro a março), de acordo com a ABIS – Associação Brasileira das Indústrias de Sorvetes. O crescimento do mercado em 2009 ficou em torno de 3%5. Conforme a matéria apresentada, se o maior consumo de sorvetes no país está concentrado no período do verão, maior produção também deve ocorrer nesse mesmo espaço de tempo, iniciando‑se antes do crescimento da demanda. Se em sete meses do ano as empresas do setor devem abastecer o mercado com esse tipo de produto, o que deve acontecer com o nível de emprego no setor? Cremos que maior quantidade de funcionários seja contratada no período. Contudo, se um ano é composto por doze meses e o pico de consumo e produção de sorvetes concentra‑se em sete meses, o que fazer com os funcionários que foram contratados durante aquele período e que nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto não produzirão a mesma quantidade do que na época de verão? Simplesmente indicá‑los para demissão? Percebe‑se a atuação do departamento de RH nessa situação, ou seja, a necessidade de sua adaptação às ondas do mercado? Vejamos outra situação. Suponha uma empresa do setor de transporte de passageiros que tenha uma frota de ônibus e que atenda aproximadamente treze empresas diferentes. Seu negócio é transportar funcionários para outras empresas. Suponha agora que a empresa de ônibus está tentando negociar com três de seus clientes reajuste no contrato de prestação de serviços e que esses três clientes representem 30% de seu faturamento total. A manutenção desses contratos gera aproximadamente dezoito empregos diretos na empresa prestadora dos serviços. Por falhas na prestação de serviços – oriundos de dificuldades no departamento de operações –, bem como na administração dos contratos –, devido à falta de treino na área administrativa –, individualmente, as empresas contratantes, que já não estavam muito satisfeitas com o tratamento recebido, não concordaram com os reajustes, de forma que, via concorrência, optaram por substituir o prestador de serviços. Automaticamente, o que deve acontecer com aqueles dez postos de trabalho diretos? Serão diminuídos. Novamente o setor de recursos humanos entrará na operação. 98 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia -D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Veja: são dois setores completamente diferentes e que passam por situações muito próximas: as empresas de sorvetes devem aumentar contratações no período de pico e decidir quais serão os funcionários que permanecerão ainda na empresa durante o período de baixa. A empresa de transporte, diante da perda de participação de mercado, terá que decidir quais colaboradores serão demitidos e quais permanecerão empregados. Então, qual critério utilizar na hora de decidir por quem fica e quem sai? Mais exemplos? No final do primeiro semestre de 2011, um assunto fez‑se presente na mídia: a possível fusão entre as empresas Pão de Açúcar e Carrefour, dois gigantes do setor supermercadista. Acompanhe trecho de matéria de Cristiane Mano e João Werner Grando, veiculada pela Revista Exame6 e que retrata pequena mudança no ambiente organizacional: Tédio, definitivamente, não consta da variada lista de itens que assombram os mais de 70.000 funcionários da sede da subsidiária do Carrefour no Brasil nos últimos meses. [...]. Desde que assumiu a operação de reestruturação organizacional em julho de 2010, com a missão de melhorar as margens da rede no país, o atual presidente Luiz Fazzio instituiu novas rotinas. A mais polêmica delas, sobretudo entre os veteranos, é o horário de chegada para o expediente na empresa. Todos passaram a ser cobrados a comparecer no escritório a partir das 8 da manhã, enquanto antes era normal que os primeiros diretores só aparecessem 1 hora mais tarde. Encontros para discussão de resultados às segundas‑feiras também entraram para o dia a dia e reúnem num mesmo auditório, recentemente montado para essa finalidade, cerca de 100 executivos. Outro problema, relativo à atração e retenção de talentos, estava sendo verificado. Vejamos pela mesma matéria: A notícia das negociações que poderiam mudar o comando do Carrefour certamente não ajudou a segurar ou a atrair bons profissionais desde então. Dois cargos do primeiro escalão estão vagos há pelo menos três meses – as diretorias de marketing e recursos humanos. No fim do ano passado, a companhia já havia perdido dois executivos‑chave para concorrentes: um diretor de tecnologia e um diretor comercial. observação Veja que interessante: nos casos anteriores, dos sorvetes e dos transportes, o departamento de recursos humanos sofreu consequência indireta. Dadas as discussões sobre uma possível fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, o departamento de recursos humanos do Carrefour foi imediatamente e diretamente afetado. Demais setores também foram 99 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho balançados diante de modificações implementadas pela nova presidência, a exemplo da reestruturação das atividades relacionadas ao departamento de compras. Pelo modelo até então vigente, cada unidade tinha autonomia e independência comercial. Atualmente, “a autonomia das unidades atrapalha o ganho de escala e faz com que a rede perca diante de concorrentes que já operam no formato de negócios totalmente centralizado”7. Ainda, pela matéria da Revista Exame, nesse esforço, Fazzio trocou 60% dos executivos de compras regionais. Cada um deles passou a prestar contas não à direção operacional, mas, sim, à diretoria comercial. Parece uma diferença irrelevante, mas, na nova configuração, a cabeça comercial está na corporação, e não nas lojas. Se o presidente da rede Carrefour no Brasil optou pela substituição de 60% dos executivos de compras regionais, alternativamente, optou pela manutenção dos demais 40%. Novamente: quem ficou e quem saiu? Por qual motivo ficou e por qual motivo saiu? Com quais instrumentos de decisão contou tal presidente em sua escolha? Será que a escolha de quem fica ou de quem sai é exclusiva dele? Cremos que suas atribuições são extremamente maiores que escolher entre João e José para saber qual estará no grupo dos 40% que serão mantidos ou estará no grupo dos 60% que serão substituídos. Certamente, tal decisão, ou, por que não dizer escolha, deve ter ficado a cargo do setor de recursos humanos amparado pelos gestores diretos de cada um dos membros das compras regionais. Para Fazzio (2002), no momento em que se busca decidir o que fazer com pessoas ou avaliá‑las a empresa precisa conhecer seu capital humano potencial, tendo‑as como fundamento que poderão ajudar na tomada de decisões e, portanto, impactar de forma relevante nos resultados pretendidos. Em função disso, é possível dizer que a empresa classifica como descartáveis os funcionários que não atendem a algumas das características requeridas ou que não apresentam performance para determinado objetivo estratégico. Por conta disso, a demissão pode ocorrer. Como vimos nas páginas iniciais deste livro‑texto, a avaliação é uma ferramenta útil para obter informações, para servir de guia para o processo de melhoria e, em muitos casos, para diferenciar, por meio de atribuição de grau, os diferentes estágios de desenvolvimento das pessoas. Entretanto, para Souza e Lima8 (2011), os grandes e maiores receios e questionamentos de quem é avaliado são: “o que esta pessoa que avalia irá fazer com estas informações? Como esta pessoa está avaliando? Será possível ser prejudicado após esta avaliação?” As metodologias de avaliação de desempenho sempre estiveram presentes no processo evolutivo da humanidade. Lembrete O ser humano está constantemente sendo avaliado pelos membros da sociedade em que está inserido. Claro está que esse processo assume formas variadas de acordo com sua finalidade e com os objetivos dos avaliadores. 7 Idem. 8Disponível em: <www.aedb.br/seget/artigos05/324_avaliacao%5B1%5D.pdf>. Acesso em: 28 de julho de 2011 100 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Vejamos algumas situações que são colocadas por Siegfried Hoyler (s/d, p.19) e aqui reproduzidas na íntegra: Situação 1 – José, antigo e eficiente contramestre, comunicou à Administração que vai requerer sua aposentadoria. Dentro de seis meses, alguém deverá estar preparado para assumir seu posto. Como determinar qual melhor poderá substituí‑lo? Situação 2 – Ocorre uma crise econômica e a Direção verifica que deve economizar, dentre outros, o custo de mão de obra, para poder garantir a sobrevivência da empresa. Como determinar que empregados serão dispensados? Situação 3 – A produtividade do Departamento de Cobrança tem caído sensivelmente sem qualquer justificativa evidente. Parece, todavia, que esteja havendo alguma insatisfação no grupo. Será que Pedro, há pouco nomeado para chefiar o departamento, é realmente um bom chefe? Situação 4 – Bom mecânico, correto, pontual e de conduta exemplar, João, durante seis anos de trabalho na Companhia, foi sempre considerado ótimo funcionário. Nos últimos três meses, porém, tem‑se mostrado agressivo e frequentemente falta ao trabalho (sabe‑se lá que problema o aflige!). Manoel, “macaco velho”, pouco entende de mecânica, mas muito de politicagem interna, à qual dedicou grande parte de seus quatro anos na Companhia, “felizmente” intercalados por frequentes ausências ao trabalho. Assim, soube da próxima vaga em posto superior muito antes da própria Gerência. Vem se mostrando de eficiência ímpar e tem assumido atitude impecável nos últimos meses. Quando ocorrer efetivamente a promoção para aquela vaga, quem será o escolhido? João ou Manoel? Numa abordagem bem popular, o “Dia do Juízo” é um julgamento final. Nele, avaliam‑se as ações passadas e o resultado pode levar a arrependimentos ou surpresas boas. Lembrete Vimos que a avaliação de desempenho é um mecanismo que buscaconhecer e medir o desempenho dos indivíduos na organização, estabelecendo uma comparação entre o desempenho esperado e o apresentado pelos avaliados. Conforme Lotta (2002, p. 3), 101 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho se levarmos em consideração a participação da Avaliação de Desempenho no ambiente organizacional, estaremos nos deparando com a nova função pela qual a área de Recursos Humanos é responsável: a função de planejamento estratégico da organização. Assim, observamos que a tradicional responsabilidade dessa área, no sentido de controlar, registrar e fazer o pagamento, é deixada de lado, em prol de políticas desenvolvimentistas para os profissionais das organizações, englobando funções como planejamento, organização, direção, controle, treinamento, manutenção, utilização, motivação e desenvolvimento. Tendo em mente ser a avaliação de desempenho uma ferramenta para a tomada de decisões ou recurso para mudar nosso modo de agir, avaliar o desempenho significa apreciar sistematicamente o que foi efetuado ou conquistado no passado e o que está sendo efetuado ou conquistado pela organização no presente. Para Valle (2004, p. 2), a definição de medição de desempenho, como “uma técnica para quantificar os resultados das atividades de negócio”, não destaca suficientemente esta centralidade da tomada de decisão. “Não é um fim em si mesma, nem tem como finalidade punir. É apenas um meio para se conhecer melhor a capacidade atual da organização”, complementa. Conforme Siegfried Hoyler (s/d), desde que um dos primeiros métodos de avaliação de desempenho surgiram nos Estados Unidos da América (a escala de avaliação de Walter Dill Scott, usada pelo exército dos Estados Unidos durante a Primeira Grande Guerra), dezenas de técnicas foram ali desenvolvidas, e foi aumentando, progressivamente, o número de empresas que passaram a utilizar alguma forma de avaliação sistemática de seu pessoal. O Handbook of Personnel Management and Labor Relations, de Yoder, informa que a utilização de técnicas sistemáticas para avaliação do pessoal aumentou consideravelmente nas empresas pesquisadas e que essas avaliações são aplicadas com maior frequência em relação ao pessoal de escritório. Essa publicação informa, ainda, que pesquisa realizada em 1954 colheu, de avaliações de pessoal realizadas por empresas, o seguinte resultado: • 86% aplicam os resultados da avaliação à administração salarial; • 77% utilizam‑se deles nos casos de promoção; • 76% comunicam‑nos aos empregados; • 16% utilizam‑nos para várias pesquisas. saiba mais Para obter mais informações, consulte a Revista de Administração de Empresas, São Paulo, s/d., A avaliação sistemática de desempenho de pessoal, Siegfried Hoyler. 102 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Freitas (2009) chama a atenção para duas grandes vertentes que devem ser consideradas e analisadas profundamente antes da implantação de um sistema de avaliação de desempenho: a subjetividade do avaliador e a cultura organizacional na qual os profissionais estão inseridos. A escolha do modelo, da metodologia e do instrumento deve ser pensada de forma a procurar minimizar a subjetividade do avaliador e estar em comunhão com os valores, os objetivos e a cultura organizacional. Desenvolver e implantar um sistema de avaliação de desempenho demanda do profissional uma visão sistêmica da empresa e de seu quadro de gestores para, então, traçar ações e propor a avaliação do que realmente irá agregar valor ao avaliador, ao avaliado e à companhia. observação Por que gastar tanto tempo com avaliação de desempenho? Vamos calcular quanto tempo leva o processo. A reunião de planejamento dura de 45 minutos a 1 hora, uma vez ao ano. Redigir a avaliação pode demorar mais 1 hora. E a discussão com o funcionário leva cerca de 40 minutos. Um total aproximado de 3 horas. Acrescente mais 3 horas para fazer o seu planejamento e teremos, no máximo, 6 horas por pessoa. Há 2.000 horas úteis no ano (8 horas no dia X 5 dias por semana X 50 semanas no ano). Portanto, 6 horas representam 0,3% do tempo do gerente dedicado à gestão de desempenho de cada funcionário9. A verdade é que avaliações de desempenho estão por toda parte, em nossa vida cotidiana, e que em princípio nós a detestamos. Lembre‑se de seus primeiros boletins escolares. O que eles refletiam? Ali não estavam anotados notas e conceitos? Por exemplo: 8,0 pontos em matemática; 6,5 pontos em geografia; 10,0 pontos em educação física; 7,5 pontos em educação artística, para citar apenas algumas. A soma das notas, nesse exemplo hipotético, equivale a 32, que dividido pela quantidade de saberes, conhecimentos ou áreas avaliadas gera uma média 8,0!! O que fazer com tal número? Na maioria das vezes, os resultados das avaliações são apresentados por números: indicadores. São indispensáveis para que se possa acompanhar a consecução dos objetivos e das metas do planejamento estratégico, mas nem sempre ajudam. Conforme Valle (2004, p. 3): Indicadores e índices são símbolos ou representações, em geral numéricos, de uma determinada situação ou estado. Há indicadores (ditos “de resultados”) que buscam refletir o desempenho ao final de um período ou atividade (p. ex. vendas mensais, consumo de materiais em cada obra, lucro anual); outros (ditos “de tendência”) tentam ajudar um ajuste das ações em “tempo real”, baseando‑se no desempenho presentemente observado (p. ex., proporção dos recursos para investimentos já despendidos). 9Disponível em: <www.skynalker.com.br>. Acesso em: 22 jul. 2011. 103 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho Nas organizações, os indicadores possuem dois propósitos (VALLE, 2004, p. 4). O primeiro é o da motivação, pois podem funcionar para motivar funcionários a melhorar sua performance ou, simplesmente, ser utilizados para conduzir os funcionários a desempenharem comportamentos desejados pela organização. Nesse caso, são utilizados como instrumento de manipulação. O segundo propósito é o da avaliação da estratégia e do aprendizado. Nesse aspecto, os indicadores são utilizados como ferramentas de aferição do progresso da organização em direção a seus objetivos ou até de revisão do planejamento estratégico. Este segundo propósito nos mostra que a escolha dos indicadores revela valores e objetivos, mas que, na prática, escolher entre milhares de indicadores requer algum critério de seleção, que: • facilite a compreensão dos demais envolvidos; • seja altamente confiável; • seja passível de repetição e atualização, quando necessário e desejado; • permita o estabelecimento de metas críveis; • designe responsabilidades; • possa permitir mensurações; • tenha custo aceitável e coerente com a situação; • seja coerente com os demais indicadores. Existem diversas maneiras de classificar os indicadores de desempenho de uma organização. Garvin (apud ALMEIDA et al., 2004, p. 1189) propõe uma estrutura temporal para o gerenciamento dos processos organizacionais, classificando‑os como: a) “processos de trabalho”, relacionados a produtos ou produção de bens e de curto prazo; b) “processos de comportamento”, de médio prazo e relacionados à tomada de decisão, comunicação, aprendizagem organizacional; c) “processos de mudança”, de longo prazo e relacionados à criação, crescimento, transformação e declínio da organização. A classificação de Parmenter (apud ALMEIDA et al., 2004, p. 1190) se divide, de forma hierárquica, em • indicadores de desempenho, a serem obtidos pela união de demaisindicadores de desempenho, a saber, de determinados departamentos; • indicadores de resultado, que não passam de junções dos indicadores de desempenho (satisfação do cliente, participação no mercado, satisfação de funcionários, lucro líquido, retorno de capital aplicado) para chegar à análise do desempenho global da empresa; 104 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 • indicadores‑chaves de desempenho, que podem ser obtidos nos locais onde os processos são executados. Rummeler e Barche (2004, p. 1191), dividem a avaliação de desempenho por níveis: • Nível 1 – da organização: aborda o relacionamento da organização com o mercado e destaca as principais funções da empresa; • Nível 2 – do processo: aborda todos os processos que são definidos e desenvolvidos pela organização; • Nível 3 – do trabalhador/executor: identifica o recurso executor das atividades requeridas ao nível de processo, a exemplo de contratação, promoção, responsabilidades, treinamento e recompensas. Valle (2004) salienta que, muitas vezes, responsáveis por áreas ou departamentos preferem gerenciar indicadores a gerenciar processos organizacionais. Buscar números parece mais factível e mais imediatista do que fazer com que o gerenciamento organizacional pensado, detalhado, bem delineado, produza bons ou maus indicadores. Para tanto, utiliza exemplo da linha de montagem da indústria automobilística, considerado perfeito indicador de desempenho da mão de obra direta utilizada em relação ao volume de produção. A linha de montagem é uma forma organizacional eficientíssima, desde que haja tantos trabalhadores quanto previstos. Um único posto de trabalho desocupado paralisa toda a linha e, consequentemente, zera o numerador do indicador de desempenho que, na época, avaliava o gerente da fábrica. Logo, este mantinha uma reserva mínima de trabalhadores, que garantisse o numerador, sem pesar muito no denominador. Ocorre que, após a verdadeira revolução cultural de 1968, o absenteísmo aumentou muito nas fábricas do mundo inteiro e a reserva necessária foi aumentando cada vez mais. [...]. Nosso gerente racional via‑se obrigado a manter um efetivo enorme, mas isso não atrapalhava o seu indicador de desempenho, desde que muita gente faltasse, pois nele só eram computados, evidentemente, os trabalhadores presentes. Problema mesmo era quando todos vinham trabalhar, inflando o denominador. A solução, perfeitamente racional, era enviar os excedentes para uma jornada de formação ou para o dentista, ou enfim para qualquer outro lugar bem distante da fábrica, pois assim suas horas de trabalho, naquele dia, seriam contabilizadas nos custos indiretos. Resultado: indicadores de desempenho maravilhosos nas fábricas, mas custos indiretos crescentes nas empresas (VALLE, 2004, p. 5). Portanto, quando a atenção está direcionada exclusivamente aos indicadores, produz‑se um instrumento que representa uma simplificação exagerada da realidade. Indicadores de desempenho específicos a uma função ou departamento fazem com que a tomada de decisões siga uma racionalidade local. Por essa razão, e com a contribuição da reengenharia, das técnicas japonesas de gestão e da organização da produção, combinadas com as certificações ISO, a avaliação de desempenho não recai 105 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho com tanta efervescência nas estruturas verticais, o que prevê contingências e ações corretivas de curto prazo, mas sobre a dimensão horizontal dos processos, que permitem ação de longo prazo (VALLE, 2004). Sob forte influência do modelo japonês de gestão, passou‑se a falar mais e mais em “sistemas” de medição de desempenho, integrando indicadores contábeis e os indicadores não financeiros. Contudo a avaliação multidimensional do desempenho não equipara, necessariamente, os indicadores financeiros e não financeiros. O sistema de indicadores pode estar estruturado em níveis (tantos quantos se considere relevante), de tal modo que, a cada indicador de um determinado nível, estejam associados indicadores de um nível imediatamente inferior. Numa hierarquia em três níveis, p. ex., o primeiro pode corresponder ao negócio (p. ex., indicadores financeiros), o segundo aos processos (p. ex., índice de atendimentos dos pedidos) e o terceiro a atividades (p. ex., grau de disponibilidade de um equipamento). Cada indicador é constituído por uma agregação dos indicadores de nível imediatamente inferior (VALLE, 2004, p. 7). A abordagem de Valle é condizente com aquela apresentada anteriormente por Parmenter, Rummeler e Barche, podendo ser representada conforme a figura abaixo. Indicador de negócio = f = (IP1, IP2, IP3) Indicador de processo IP1 = f = (IA1, IA2) Indicador de processo IP2 = f = (IA1, IA2) Indicador de processo IP3 = f = (IA1, IA2) Indicador de atividade IA1 Indicador de atividade IA2 Figura 15 – Sistema de Avaliação de Desempenho Organizacional. Pela figura, que apresenta um sistema de avaliação organizacional, percebe‑se a importância de alguns níveis. O primeiro nível e o último a ser conhecido (mas objetivamente importante) é o Indicador de Negócio, composto por diferentes indicadores de processo. Isso representa que cada processo, muito bem delineado e com objetivos específicos, o que para Rummeler e Barche constitui o Nível 2, contribui para um bom Indicador de Negócio. Porém, outros indicadores são utilizados para poder chegar ao indicador de processo: são os indicadores de atividade, no fluxo representado por IA1, IA2 e assim por diante. Portanto, cada atividade deve ser desempenhada da melhor forma possível para que os processos também sejam eficientes e, por fim, contribuam para o indicador final. 106 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 observação Para Valle (2004), nesta abordagem multidimensional e hierarquizada, quanto mais específico for um indicador, maior será seu nível de detalhe e frequência de cálculo. Em compensação, quanto mais global ele for, maior será sua abrangência de funções e processos. Afora todas as modalidades de avaliação de desempenho utilizadas pelas empresas, a exemplo da DEA – Análise Envoltória de Dados, Métodos de Pesquisa Operacional, Probabilidade e Análise Estatística; SMART – Performance Pyramid, Sistema de Medição de Desempenho Integrado; PNQ – Prêmio Nacional da Qualidade; e Balanced Scorecard, para citar algumas que já tivemos a oportunidade de estudar na Unidade II, na atualidade uma nova dimensão precisa ser incorporada à avaliação de desempenho. Um contexto social muito complexo faz com que as empresas tenham necessidade de desenvolver comprometimento ético e social no ambiente de trabalho e, nesse aspecto, algumas medidas começam a ser adotadas, a exemplo da melhoria da qualidade de vida da força de trabalho e de suas famílias, bem como das comunidades nas quais estão inseridas. Questões sociais penetram no ambiente de trabalho e contribuem significativamente para que o colaborador consiga desenvolver suas atividades com maior motivação e, dessa forma, indicadores de atividades, de processo e de negócios serão cada vez mais alvissareiros. Normas e certificações relacionadas à Responsabilidade Social Empresarial, que é do que tratamos neste momento, se juntam às dimensões financeira e operacional; dessa forma, a análise de desempenho torna‑se mais complexa, sem perder seu eixo: a visão de processos. saiba mais Veja mais sobre a visão de processos em GRÜNINGER, B., OLIVEIRA, I. F.. Normas e certificações: padrões para responsabilidadesocial de empresas. São Paulo: Banco B&SD Ltda., 2002. Empresas, comunidades e indivíduos ainda estão aprendendo a viver no mundo da globalização, da transformação tecnológica e das transições políticas. A privatização do setor público, a liberação do mercado e a comunicação on‑line resultaram na transferência massiva de bens e poder ao setor empresarial. O papel das empresas mudou significativamente. Normas e certificações na área da Responsabilidade Social Empresarial vêm sendo desenvolvidas para que as empresas possam responder a desafios como ampliação de responsabilidades, exigência de transparência, perenidade em longo prazo e concorrência acirrada, trazidos pela nova realidade em que vivemos (GRÜNINGER; OLIVEIRA, 2002, p.1). 107 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho Na área de responsabilidade social, as normas procuram atender a uma demanda crescente não só por parte das pessoas que trabalham em empresas, mas da sociedade em geral, por maior transparência em qualquer processo de gestão socialmente responsável. Com relação a isso, a norma SA 8000 (Social Accountability), que versa sobre condições de trabalho nas empresas de forma geral, e a norma AA 1000 (Accountability), cujo foco é o diálogo com stakeholders e está ao alcance de todas as organizações com ou sem fins lucrativos, integram um conjunto de normas que cobrem aspectos de sustentabilidade. O quadro a seguir apresenta algumas dessas normas. Quadro 9 – Normas com critérios sociais NORMA/PADRÃO FOCO DO PADRÃO GRUPO FOCO SA8000 Condições de trabalho Todas as empresas AA1000 Diálogos com stakeholders Organizações com ou sem fins lucrativos Forest Stewardship Council – FSC Meio ambiente, comunidades locais Empreendimentos agroflorestais Marine Stewarship Council – MSC Meio ambiente, animais Pesca ISO – Norms (9000, 14000 e demais) Qualidade, meio ambiente Todas as empresas Global Reporting Initiative – GRI Qualidade em relatórios de sustentabilidade Todas as empresas Fonte: Grüninger; Oliveira, 2002, p. 2. Concentrando esforços naquelas normas que aqui mais nos interessam, SA 8000 e AA 1000, passamos a tratar delas. Segundo Grüninger e Oliveira (2002), a Norma SA8000 – Social Accountability 8000, lançada em 1997 pela CEPAA – Council on Economics Priorities Accreditation Agency – foi desenvolvida para garantir determinados direitos de trabalhadores inseridos no cenário global diante da maior cobrança da sociedade: passava a ser desejável que as empresas demonstrassem sua forma de trabalho em relação a fornecedores. Para entendermos: é crescente a preocupação dos consumidores em saber não só as especificações técnicas de produtos, por exemplo, mas também a procedência dos insumos de produção que foram utilizados na geração de um bem final. Mais: torna‑se crescente a preocupação de consumidores pouco mais conscientes com o processo de fabricação de forma geral não só com a procedência de insumos de produção, mas também com as relações de trabalho. Precisamos, ao sermos jogados ao consumo, saber de que forma tais produtos que consumimos foram produzidos. São características primordiais da norma: • o comprometimento da alta administração e participação dos funcionários; • o enfoque na prevenção e nas ações corretivas, e não na reação; • a conformidade com regras, códigos e leis locais; • o enfoque na melhoria contínua; • a busca por fornecedores éticos. 108 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Tendo como referência as normas de gestão de qualidade e de gestão ambiental, bem como as Convenções da Organização Internacional do Trabalho, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças (GRÜNINGER; OLIVEIRA, 2002, p. 5‑6), a SA 8000 é composta por nove requisitos: • Trabalho infantil: não é permitido. É aquele executado por pessoa menor de 15 anos (ou a idade mínima estabelecida pelas leis locais, o que for mais restrito); • Trabalho forçado: não é permitido. É caracterizado trabalho forçado aquele em que o trabalhador não recebe remuneração em troca de seu esforço. • Saúde e segurança: devem ser asseguradas. Manutenção de um ambiente de trabalho saudável, foco na prevenção de acidentes, manutenção de máquinas, utilização de equipamentos de segurança e treinamentos regulares devem constar em um sistema de gerenciamento de saúde e segurança da empresa. • Liberdade de associação e negociação coletiva: devem ser garantidas. Os trabalhadores não devem necessariamente associar‑se, mas devem ter o direito ao diálogo com a empresa. • Discriminação: não é permitida. Especialmente nos casos de contratação, remuneração, acesso a treinamento, promoção ou encerramento de contrato com base em raça, classe social, etnia, sexo, orientação sexual, religião, deficiência, associação a sindicato ou afiliação política; • Práticas disciplinares: não são permitidas. Punições físicas ou mentais, coerção física e abuso verbal, pagamento de multas por não cumprimento de metas são todas práticas não permitidas; • Horário de trabalho: não deve ultrapassar 44 horas semanais, no caso do Brasil, além de 12 horas extras semanais. Pelo menos um dia de descanso deve ser providenciado num período de 7 dias. • Remuneração: deve ser suficiente para cobrir custos de moradia, vestuário, alimentação, além de uma renda extra. A empresa deve ainda assegurar que não sejam realizados contratos por trabalho executado ou esquemas de falsa aprendizagem para evitar o cumprimento de obrigações impostas por lei; • Sistemas de gestão: deve existir um sistema de gestão que garanta a efetividade do cumprimento de todos os requisitos da norma, através de documentação, implementação, manutenção, comunicação e monitoramento da empresa em relação às questões abordadas na norma, num processo de melhoria contínua. observação Podemos, assim, indicar a melhoria do relacionamento organizacional interno e a demonstração da preocupação com o trabalhador, pontos positivos da norma. Desenvolvida pelo ISEA (Institute of Social and Ethical Accountability) em 1999, a AA1000 abarca um padrão de processo para a gestão da contabilidade, para auditoria e para relato da responsabilidade 109 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho social corporativa. Trata‑se de uma norma para melhoria contínua de processos. Seu principal diferencial está na inclusão das partes interessadas (stakeholders) em todos os seus passos, visando dar credibilidade à responsabilidade social corporativa da organização que a adota. Diálogo, comprometimento, engajamento e prestação de contas às partes interessadas formam sua base. A norma baseia‑se no conceito de Accountability. Ter accountability por alguma coisa é explicar ou justificar os atos, omissões, riscos e dependências pelos quais se é responsável, em relação às partes interessadas. Exige‑se ainda: transparência (fornecimento de informações às partes interessadas), pró‑atividade (responsabilidade da organização pelos seus atos e omissões, incluídos os processos de tomada de decisão) e conformidade (obrigação de estar em conformidade com os padrões em consenso – práticas, políticas, desempenho e relato) (VALLE, 2004, p.16). Segundo Grüninger e Oliveira (2002), a empresa que adota a AA1000 deve seguir um processo contínuo de ciclos de atividades, cujo primeiro passo é o estabelecimento de um escopo, que define os limites de processo e não é repetido no ciclo de auditoria regular. É um passo introdutório e único, conforme o demonstrado pelafigura que se segue: ESCOPO Avaliar performance ética e social atual Identificar os stakeholders Iniciar primeiro ciclo de auditoria Revisar escopo Comunicar resultado Verificação externa Medir performance Consultar stakeholders Identificar assuntos Concordar sobre indicadores e objetivos Processo de melhoria Figura 16 – Ciclo de Atividades para AA1000. Os princípios da Accountability são: • inclusividade; • escopo e natureza da operação, que envolve completude, materialidade, regularidade e conveniência; • significância da informação e garantia de sua qualidade; • acessibilidade à informação, permitindo sua comparabilidade, confiabilidade, relevância e entendimento; • gestão do processo em base contínua promovida pela integração de sistemas e pela melhoria contínua. 110 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 Conforme Valle (2004, p.16), o principal benefício que se busca é a melhoria do desempenho social, traduzido em maior confiança, comprometimento, lealdade e produtividade a ser conquistado quando a responsabilidade social for posta em prática, ou seja, “quando se inclui e se considera, nas decisões estratégicas, a visão e opinião de todos os grupos que estão envolvidos ou são atingidos pelas atividades da empresa”. Como vimos, são diversas as nuances que permeiam a avaliação de desempenho, seja de pessoas, de subsistemas funcionais, de organizações. Conforme Cavalcanti (1990, p. 18), constituem um dos maiores desafios políticos de nossos tempos. Não obstante as dificuldades inerentes à avaliação de resultados, torna‑se impossível fugir ao problema, por ser ele vital a questões centrais de racionalidade administrativa e justiça econômico‑social, cuja solução é básica para a sobrevivência de qualquer sistema. A menos que estabeleça uma relação apropriada entre contribuintes e retribuições, um sistema produtivo tem seu futuro ameaçado, sobretudo em ambiências caracterizadas pela escassez de recursos, dada a inexistência de um esquema referencial adequado à administração de conflitos. No contexto socioeconômico, no que diz respeito à empresa, a questão consiste em identificar e avaliar as contribuições do trabalho de cada trabalhador em particular e do capital e risco, para recompensá‑las e desenvolvê‑las. Em relação aos diferentes subsistemas funcionais, dentre eles o de Treinamento e Desenvolvimento dos Recursos Humanos, é igualmente importante avaliar sua contribuição efetiva para os resultados empresariais, para que se possam determinar adequadamente seus pesos, específico e relativo, no contexto da economia política da empresa, daí resultando as decisões de alocação de recursos, determinadoras das possibilidades e limites de sua contribuição atual e futura. A essa altura da discussão, são pertinentes três questionamentos: • Qual é o resultado desejável para as ações de treinamento e desenvolvimento, quando se trata de avaliação de desempenho? Leva‑nos a refletir ser uma questão de natureza normativa, subjetiva, que envolve políticas organizacionais que revelam preferências em relação a valores a serem alcançados. • Como medir o resultado? Trata‑se de um questionamento que coloca desafios consideráveis ao especialista da área, partindo do princípio de que a função da área de Treinamento e Desenvolvimento possa, não que seja, induzir comportamentos considerados funcionais. • Como podemos saber o que produz ou causa o resultado desejável? Tal questionamento encontra respostas de caráter factual, inspiradas, por exemplo, nas Teorias de Aprendizagem Organizacional, além de todo o conhecimento adquirido em relação às técnicas instrucionais. Diante disso, considerando‑se a indisponibilidade, muitas vezes observada, de metas e prioridades claramente estabelecidas por parte de algumas empresas, e as consequentes limitações que isso impõe à avaliação, coloca‑se um desafio: 111 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho como planejar treinamento e desenvolvimento e conceber adequadamente suas ações? Como enfrentar o desafio da avaliação da função de T&D, sem aceitar, no entanto, um discurso injusto que reflita visão simplista da questão “investimento vs retorno”? (CAVALCANTI, 1990, p.19). Nesse sentido, Mariotti (1999) apresenta preocupação entre o que fazem as empresas: se treinam ou adestram funcionários! O adestramento ocorre quando a empresa fornece conhecimentos, métodos ou técnicas isoladas a seus colaboradores com objetivos também isolados. Deve ser o mais rápido possível, e os resultados de sua aplicação prática precisam também surgir com rapidez. É, na maioria das vezes, individualizado; mas, necessariamente, pragmático, utilitarista, imediatista. Por buscar resultados de curto prazo, resulta em problemas como: – só pode ser utilizado se o objetivo do treinamento puder ser supersimplificado, o que implica, necessariamente, em superficialidade; – por ser automatizado, indivíduos treinados por essa abordagem tendem a pôr em prática os conhecimentos recebidos de forma mecânica e limitada; – a atuação estereotipada e repetitiva exclui a individualidade das pessoas por supor que o que serve para um serve para todos e, portanto, ignora a personalização. Já o treinamento, pela visão administrativa do aprendizado organizacional, requer uma abordagem mais ampla e é compreendido como um sistema que envolve toda a empresa, mesmo que não todos os colaboradores ao mesmo tempo. Denominando de educação organizacional continuada, Mariotti (1999, p. 50, grifo nosso) explica que o que se aprende e o que se ensina numa empresa não pode ser reduzido a uma série mecânica e descontínua de blocos de aprendizado que transmitem um conhecimento ralo, mecanicista, de duração efêmera e, principalmente, impessoal e massificado. [...]. A educação organizacional continuada faz parte de uma visão de negócios sistêmica, complexa e sustentada. Seus efeitos são duradouros, porque ela não interrompe depois de iniciada. Conclui‑se daí que os melhores resultados aparecerão sempre a longo prazo. Mais ainda não podem ser avaliados por critérios apenas numéricos. E mais, A educação organizacional continuada visa à competência [...] que nasce de pessoas competentes e gera pessoas competentes [...]. A excelência de seu trabalho produz benefícios que ultrapassam em muito os objetivos e resultados dos simples treinamentos (idem, p. 51). O que Mariotti procura chamar a atenção é que atitudes de adestramento conduzem à competição predatória, em que as pessoas atuam umas contra as outras, ao passo que o treinamento, ou melhor, 112 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 a educação organizacional continuada, está para um ambiente de competência em que as pessoas trabalham umas com as outras. Trata‑se, então, de duas abordagens de gestão distintas e que muita mudança ainda está por ocorrer; pois, culturalmente, fomos educados, séculos a fio, num clima de competição em que todos foram estimulados a lutar contra todos. Assim, a competição predatória seria própria da natureza humana. [...]. Entretanto, a experiência tem revelado que competir ansiosamente e adotar essa postura como norma de vida acaba tendo consequências destrutivas, tanto no plano do trabalho como no individual. Aqui se inclui a saúde e a felicidade das pessoas, de suas famílias e das organizações. (ibidem, 51). Mariotti (1999, p. 51‑52, grifo nosso) ainda denuncia: Enquanto não entendermos que tudo no fundo é um problema cultural não avançaremos um único passo. Tomemos um exemplo: a tendência,longamente sedimentada, de avaliar as pessoas do ponto de vista exclusivamente quantitativo. Mudar uma mentalidade assim, que além de tudo supervaloriza o imediatismo e, portanto, a superficialidade, só será possível com muito esforço. Do exposto, é possível perceber que os resultados alcançados por uma organização não devem ser atribuídos a pessoas isoladas, e sim ao funcionamento de todo o sistema. Isso ficou explícito quando tratamos do sistema de avaliação de desempenho organizacional anteriormente. Deming (apud MARIOTTI, 1999) destaca ser um erro supor que aquilo que não pode ser medido, no caso o aprendizado, advindo do treinamento e da educação continuada, não pode ser gerenciado. E mais: • que objetivos numéricos isolados nada significam; • que o aprendizado nunca é definitivo: trata‑se de um processo para a vida inteira; • que é impossível trabalhar sistematicamente com o antigo modelo piramidal da administração; • que as classificações, as notas e os demais métodos de ranqueamento, se tomados isoladamente e se levarem em consideração somente os números, são contraproducentes; • além disso, pode desmoralizar a pessoas, tanto as bem colocadas como as mal situadas nas avaliações. Ainda sobre aprendizagem, Garvin (2003) destaca que quatro condições são as necessárias para desenvolver o processo de aprendizagem nas organizações: reconhecer e aceitar as diferenças; proporcionar feedback oportuno e imparcial; buscar novas formas de pensar e novas fontes de informações; aceitar os erros, enganos e ocasionais fracassos. Assim, dado que todo processo de treinamento (ou da forma como aqui abordada, aprendizado organizacional) leva tempo e requer investimentos, e que seu retorno deve ser esperado a longo 113 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho prazo, há algumas perspectivas por parte das empresas do tipo de comportamento organizacional que será delineado a partir de tal treinamento. Além disso, cremos não estar dissociado o investimento em treinamento e o desenvolvimento do comportamento profissional dele derivado. De forma mais explícita, de tudo o que foi apresentado, deve haver, por parte dos gestores, um esperar de desempenho profissional devido a iniciativas de melhoria do próprio profissional. Nesse aspecto, Cavalcanti (1999) destaca que pode haver certa confusão do que se espera dos gestores: uma avaliação de resultados de treinamentos ou uma avaliação de desempenho funcional. E mais: é possível admitir que, por algum momento, pode haver alguma dúvida ao que os gestores pensam estar fazendo: se estão avaliando resultados dos treinamentos ou se estão realmente mapeando desempenho dos recursos humanos de forma concreta. Com relação à avaliação de resultados de treinamentos ou à avaliação de desempenho funcional, que seja admitida percepção da real funcionalidade da avaliação. Admitindo que avaliar seja atribuir valor, no caso, aos resultados de treinamento, tal avaliação assume a função de alimentar o próprio modelo do treinamento posto em prática e subsidiar tomada de decisão quanto à alocação dos recursos para determinada área ou função. É fundamental, no entanto, ter‑se em conta a diferença entre resultados de treinamento e desempenho funcional. Por outro lado, ao agir sobre as habilidades e sobre a percepção do indivíduo em relação ao seu próprio papel, T&D está mediando a relação esforço‑desempenho. [...]. Cabe observar que T&D, assim como os demais elementos organizacionais estruturantes, são modelados para induzir comportamentos tidos como funcionais e inibir a escolha de comportamentos considerados disfuncionais. As inconsistências de modelagem, no entanto, podem gerar, e efetivamente geram, resultados que se anulam mutuamente (CAVALCANTI, 1999, p. 25) O que é possível depreender disso? Que muitas das vezes as empresas empreendem esforços em treinamentos ou dinâmicas que desenvolvam ou favoreçam iniciativa, criatividade, motivação ou mesmo um sistema de bonificação ou qualquer outro reconhecimento para seus funcionários; mas alguns gestores, rotineiramente, adotam postura autoritária e castrativa para uns ou meritória para os felizardos! Com isso, Cavalcanti (1999, p. 25), deixa duas questões no ar: – por que avaliar o desempenho do funcionário, ou de uma função específica (T&D) quando os estímulos gerados por outras funções, igualmente determinantes do desempenho funcional, não são avaliados? – por que avaliar os resultados de T&D e falar em custo/benefício da função, sem que se avalie ou fale das mesmas coisas em relação a estruturas organizacionais, sistemas de recompensa ou recrutamento e seleção? Por que os sistemas de T&D têm quase sempre, formalizada, uma unidade de avaliação e essas outras funções não a têm? 114 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 8 Casos e resuLtaDos De avaLiação De DeseMpenho Assim, finalizaremos esta unidade descrevendo alguns exemplos de aplicação de avaliação de desempenho por algumas empresas. Exemplo 1 Organização Active10 A organização Active mostrou que é possível aumentar o leque de objetivos da avaliação dos colaboradores, quando instituiu, em 2003, uma avaliação de desempenho com foco na visão profissional e pessoal de seus colaboradores. Tal proposta, de um foco mais amplo, surgiu depois que a empresa realizou o Leader Training – um treinamento baseado em dinâmicas vivenciais e que dentre muitos tantos desafios encontra‑se estabelecimentos de metas para a vida equilibrando as cinco saúdes: física, financeira, familiar, social e intelectual/espiritual. Nesse trabalho, foi utilizado o método SMART (Specific, Mensurable, Attainable, Relevant, Time‑bound), onde as metas devem ser específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais. Na oportunidade, a empresa identificou que era preciso mudar sua ferramenta de avaliação e fazer dela um método capaz de conhecer melhor os colaboradores e seus sonhos. Avaliação na prática: no início de cada ano, é confeccionada uma agenda integrada entre a área de Gestão de Pessoas, o gestor direto e o colaborador. Em seguida, são enviados os convites com as datas a todos os colaboradores e gestores que participarão do processo. Antes de cada avaliação, o colaborador deve preencher sua autoavaliação, que contém cinco etapas: 1. análise de competências: o profissional tem 15 comportamentos a serem autoavaliados como abaixo da expectativa, dentro da expectativa, acima da expectativa; 2. contribuição para o resultado: onde ele vai mencionar como contribuir para o resultado efetivo da Active; 3. habilidades e conhecimentos: onde há questões que ajudam o profissional a entender qual orientação de carreira deve seguir; 4. dificuldades: quais dificuldades o colaborador teve durante o ano avaliado para cumprir suas metas profissionais e realizar seu trabalho; 5. planejamento futuro: onde o avaliado descreve sucintamente quem ele será daqui a dez anos e depois, detalhadamente, apresenta suas metas SMART, levando em consideração que, segundo a Organização Mundial de Saúde, a pessoa feliz precisa de equilíbrio entre cinco distintas saúdes: física, financeira, familiar, social e intelectual/espiritual. 10BISPO, P. Como tornar a avaliação em um processo humanizado? Disponível em: <www.rh.com.br/portal/desempenho/ materia/6730/como_tornar_a_avaliacao_em_um_processo_humanizado.html>. Acesso em: 22 jul. 2011. 115 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho Paralelamente, antes de cada avaliação, o gestor deve preencher um formulário de avaliação que contém duasetapas: a) Análise de competência: em que a liderança avalia o colaborador nos mesmos itens que ele se autoavalia. b) Contribuições para o resultado: em que o líder menciona os resultados que ele enxergou como positivos no decorrer do ano. Na hora da avaliação, tanto o colaborador quanto o gestor comparecem com suas avaliações em mãos. O papel da área de Gestão de Pessoas é intermediar conflitos ou dar algum parecer específico, além de preencher o formulário de Gestão de Pessoas, enquanto o consenso de ambas as partes é definido nas duas primeiras etapas. Depois que o processo de avaliação de desempenho com foco na vida profissional foi instituído pela Active, observou se maior confiança e parceria entre gestores e colaboradores. Além disso, a ferramenta trouxe outros benefícios, como, por exemplo, acesso direto à área de Gestão de Pessoas; maior transparência quanto às políticas da empresa; alinhamento de expectativas e, consequentemente melhoria comportamental e produtiva, uma vez que o colaborador sabe exatamente o que se espera dele; e gerar a sensação entre os profissionais de que eles fazem parte da empresa. Exemplo 2 Empresa Whirlpool11 Desafio: Em 2004, a Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos que em 2007 contava com 12.000 funcionários e faturamento no Brasil de US$ 3,6 bilhões, percebeu que o mercado havia mudado, sendo necessárias pessoas mais bem formadas para impulsionar o crescimento do negócio. O primeiro desafio foi reavaliar se as pessoas estavam nas posições corretas. Para isso, foi preciso rever a avaliação de desempenho que já funciona na empresa há dez anos. “Nós percebemos que deveríamos aumentar a autonomia dos gestores para gerir o negócio”, afirma Úrsula, e “decidimos atualizar a forma como avaliávamos o desempenho dos profissionais, atrelando todas as metas do negócio e proporcionando um equilíbrio maior entre os resultados, o comportamento e as expectativas de cada um”. O segundo desafio foi preparar os profissionais de base para assumir cargos estratégicos. Para isso, a empresa precisou rever a avaliação dos potenciais talentos para crescimento vertical. Só depois de encontrá‑los foi possível investir no desenvolvimento de cada um deles. Solução: O primeiro passo para colocar as pessoas nos lugares certos foi reestruturar a forma de uso da ferramenta Talent Pool 9Box. O novo jeito de avaliar iria permitir a identificação dos potenciais talentos 11ANGELI, Ú. Cada um no seu quadrado. Disponível em: <revistavocerh.abril.com.br/noticia/melhoresp/conteúdo_416161. shtml>. Acesso em: 22 jul. 2011. 116 Unidade IV Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 para crescimento vertical. A avaliação conta com nove posições estratégicas, com dois eixos relativos ao potencial e à performance. As pessoas são colocadas nas posições de acordo com o histórico da avaliação de desempenho, que aponta os profissionais com alto potencial e alta performance. Os funcionários que entram nos boxes mais perto do número 1, por exemplo, recebem um desenvolvimento focado na sua capacidade de assumir posições‑chaves na empresa. Até aí, nenhuma novidade. O que mudou a partir de 2004 foi a forma de usar essa ferramenta. Antes, os próprios gestores indicavam o quadrante de cada funcionário. Há quatro anos, a ferramenta ganhou consistência, com decisões de forma colegiada. “Não estabelecemos mais quem são os executivos da empresa apenas baseados na opinião do gestor. Agora, mais pessoas estão envolvidas no processo, o que minimiza as chances de erro”, avalia Úrsula. Chamados de Comitês de Calibração, os grupos que fazem a avaliação dos potenciais talentos são múltiplos. Um profissional da área comercial, por exemplo, será submetido à avaliação de pessoas que trabalham em áreas clientes, de chefes de outras áreas (como marketing e logística) e, claro, de pessoas do próprio departamento. Os 13 diretores avaliam os 40 gerentes‑gerais. Por sua vez, os gerentes‑gerais avaliam os 180 gerentes, que avaliam os 300 chefes e especialistas por conjunto de áreas. A avaliação desce em cascata, de forma que todos os funcionários sejam submetidos a um comitê. Para definir os talentos, são realizadas reuniões semestrais com cada grupo. Ao final, os profissionais recebem um feedback individualmente sobre seu desempenho na companhia. Ficam sabendo, portanto, qual sua imagem na organização. Jamais são informados, porém, em que quadrante estão classificados, para não gerar expectativas. Resultado: Historicamente, a Whirlpool tinha números que podiam desestimular os profissionais da casa. Com 80% dos funcionários da empresa vindos do mercado, era difícil motivar as pessoas para um plano de carreira vertical. Apenas dois anos após a mudança no uso da ferramenta, a empresa reverteu essa pirâmide, passando a contratar apenas 20% dos profissionais do mercado. Ao ajustar a discrepância, esse número está equilibrado. Diversos profissionais foram promovidos para cargos de gerentes gerais. Além de mais transparente, o processo permitiu excluir os funcionários que não estavam performando; alguns foram demitidos, outros pediram demissão. Exemplo 3 Empresa familiar do ramo de confecção12 Maillaro e Colenci Jr. descrevem caso de uma empresa familiar, do ramo de confecção, que opera em duas fábricas no estado de São Paulo. A empresa possui um canal de vendas próprio, outro por franquias e um terceiro por atacado. Denominam a empresa de Tecidos S.A. Procurando eliminar estruturas informais e auxiliar na definição dos papéis familiares e empresariais para reduzir conflitos internos e mensurar o desempenho humano, um projeto de reestruturação foi iniciado em agosto de 2009. 12MAILLARO, W. E.; COLENCI JR., A. Avaliação de desempenho em empresas familiares: um estudo de caso. Disponível em: <http://www.centropaulasouza.sp.gpv.br/pos‑graduacao/workshop‑de‑pos‑graduacao‑e‑pesquisa/anais2010/trabalhos.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2011. 117 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 12 /1 1 AvAliAção de desempenho As etapas dessa avaliação de desempenho foram: Etapa 1 Definição de competências críticas da organização baseada em princípios e valores Etapa 2 Definição dos processos de planejamento, acompanhamento e definição do sistema de avaliação de desempenho Etapa 3 Definição e adaptação da ferramenta a ser utilizada Etapa 4 Definição dos produtos e consequências do sistema de avaliação de desempenho Na Etapa 1, foi necessário definir competências em dois níveis distintos: um deles envolveu os proprietários da empresa no traçado das competências necessárias para se atingir os objetivos e as metas nos próximos dois anos. Nos níveis tático e operacional, cada função foi representada por, pelo menos, um colaborador. Foram entrevistados seguindo um roteiro elaborado de acordo com as competências desejadas pelos proprietários da empresa. As entrevistas, compostas por duas questões qualitativas – a) e b) – e as demais, de cunho quantitativo, produziram material que permitiu definir os processos de implantação de um sistema de avaliação de desempenho. As perguntas foram divididas da seguinte forma: a) quais são os objetivos e as metas da sua área? b) como é seu relacionamento com a liderança? E com os colegas de trabalho? c) você é avaliado pelo desempenho que tem? É justa essa avaliação? d) as pessoas aqui assumem suas responsabilidades? e) você conhece os procedimentos de trabalho da empresa? f) você se sente reconhecido pela sua liderança? Tem espaço para inovar ou para dar ideias e sugestões? g) você sabe quais são as competências técnicas e comportamentais necessárias para o desenvolvimento da função ocupada? Coube à Etapa 2 a definição
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