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Direito Civil- Contratos

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Aula – INTRODUÇÃO
- I -
Importância do Estudo dos Contratos
Contrato é, em verdade, a espécie mais importante e socialmente difundida de negócio jurídico, consistindo, na força motriz das engrenagens socioeconômicas do mundo. 
Desde os primórdios da civilização, quando abandonamos o estágio da barbárie, experimentando certo progresso espiritual e material, o contrato passou a servir, enquanto instrumento por excelência de circulação de riquezas, como a justa medida dos interesses contrapostos.
Ao invés de utilizar a violência para perseguir os seus fins, o homem passou a recorrer às formas de contratação, objetivando imprimir estabilidade às relações jurídicas que pactuava, segundo, é claro, os seus próprios propósitos.
Poucos institutos sobreviveram por tanto tempo e se desenvolveram sob formas tão diversas quanto o contrato, que se adaptou a sociedades com estruturas e escala de valores tão distintas quanto às que existiam na Antiguidade, na Idade Média, no mundo capitalista e no próprio regime comunista.
Uma vez que o contrato dinamiza a circulação de bens e riquezas em uma dada sociedade, fica fácil concluir que, em último plano, o direito de propriedade encontra, neste instituto, um instrumento efetivo de sua concretização. Ora, partindo-se da premissa de que a propriedade é um direito complexo, que congrega as faculdades de usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar a coisa, é forçoso convir que, por meio da celebração do contrato, o proprietário possa exercer um desses poderes reais, a saber: a disposição. 
Desta forma, os bens jurídicos circulam, enquanto a propriedade se manifesta, segundo as vicissitudes da sociedade que lhe dá ambiência e conforme os interesses econômicos envolvidos.
Claro está, portanto, que em uma sociedade neoliberal, que encara a propriedade sob um enfoque exclusivista, o contrato passa a ter uma conformação mais individual e concêntrica do que em uma sociedade socialista, em que o fenômeno estatizante culmina por interferir nos negócios contratuais.
- II –
Concepção Histórica
	A visão sistemática de determinado instituto jurídico não pode prescindir de uma abordagem histórica, posto que elementar, sob pena de não atingir seus objetivos. Por isso não poderíamos estudar os contratos sem a análise do desenvolvimento da teoria contratual.
	O termo contrato, no mais antigo Direito Romano, equivalia ao ato pelo qual o credor submetia o devedor a seu poder, em virtude do inadimplemento de uma obrigação, no sentido de restringir, apertar.
	No direito Romano, atribui-se a GAIO a catalogação das fontes das obrigações, dentre as quais se incluía o contrato como uma delas. Gaio distribui em quatro categorias eficientes:
Contrato – compreendo as convenções, as avenças firmadas entre duas partes.
Quase-contrato – tratava-se de situações jurídicas assemelhadas aos contratos, atos humanos lícitos equiparáveis aos contratos, como a gestão de negócios.
Delito – consistente no ilícito dolosamente cometido, causador de prejuízo a outrem;
Quase-delito – consistente nos ilícitos em que o agente atuou culposamente, por meio de comportamento carregado de negligência, imprudência e imperícia.
Contudo, o fato do Direito Romano ter sido a principal fonte histórica dos sistemas jurídicos ocidentais não significa que todos os institutos hodiernamente conhecidos tenham sido forjados em Roma, pois a Grécia foi o berço da civilização.
A moderna concepção de contrato, tal qual nós o concebemos hoje, segundo Orlando Gomes, consiste “em um acordo de vontades por meio do qual as pessoas formam um vínculo jurídico a que se prendem”. Somente se esclarece essa concepção de contrato à luz da ideologia individualista típica do regime capitalista.
Mas, sem dúvida, contribuição inegável seria dada pelo movimento iluminista francês, o qual, segundo uma escancarada vocação antropocêntrica, firmara a vontade racional do homem como o centro do universo, determinando, assim, uma supervalorização da força normativa do contrato – levada às suas últimas conseqüências pela consagração fervorosa do pacta sunt servanda (força obrigatória do contrato).
A elevação da autonomia privada à categoria de dogma, calcada na mencionada visão antropocêntrica e patrimonialista, refletiu-se amplamente em toda a concepção dos contratos até o final do século XX e início do seguinte.
Essa tendência individualista, entretanto, acabaria por gerar sérios desequilíbrios sociais, somente contornados pelo Dirigismo Contratual do século XX, reflexo dos movimentos sociais desencadeados na Europa Ocidental, e que recolocariam o homem na sociedade, retirando-o do pedestal a que ascendera, após a derrocada do Antigo Regime, quando pretendeu assumir o lugar de Deus.
Toda a investigação que fizermos do fenômeno contratual terá o homem como o centro das nossas atenções, sem olvidarmos da finalidade essencialmente patrimonial que se persegue quando da elaboração de um contrato. Em outras palavras, o nosso estudo terá sempre como bússola o superior princípio da dignidade da pessoa humana, limitador da livre iniciativa e da liberdade econômica, juntamente com outros dogmas de natureza constitucional.
O patrimônio deixa de ser o eixo da estrutura social, para se tornar instrumento da realização das pessoas humanas. O homem deve se servir do patrimônio e não ao patrimônio. O homem não mais deve ser ator no cenário econômico, mas regente das atividades econômicas.
- III –
Contratos
	Não celebramos contratos à toa. Os contratos são praticados por força de necessidades as mais diversas. Essas necessidades podem ser reais ou fabricadas pelo marketing, pela publicidade. (Procure saber sobre o Paradigma da Essencialidade).
	É evidente que não basta a necessidade. Para satisfazê-la, é necessário que declaremos nossa vontade. Assim é que os contratos são fruto de uma necessidade, que impulsiona nossa vontade à satisfação de uma necessidade, seja esta real ou fictícia.
	É, portanto, no acordo de vontades, impulsionado por uma necessidade, que devemos buscar o conceito de contrato. É no acordo de vontades motivado pela necessidade, com a finalidade de produzir efeitos jurídicos os mais complexos e dinâmicos, que se situam os contratos.
- IV –
Conceito
	É uma espécie do gênero negócio jurídico, é uma manifestação de vontades que auto-regulamenta o interesse das partes e que deve ser cumprido por elas, sob pena de sanção.
É a manifestação de duas ou mais vontades, objetivando criar, regulamentar, alterar e extinguir uma relação jurídica (direitos e obrigações) de caráter patrimonial (ALVARO VILAÇA)
É o acordo de vontades ou negócio jurídico, entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas) com finalidade de adquirir, resguardar, modificar, ou extinguir direitos de natureza patrimonial. Todos os contratos são atos jurídicos bilaterais, pois resultam de uma conjugação de duas ou mais vontades (Cristiano Vieira Sobral Pinto)
A manifestação de duas ou mais vontades, objetivando criar, regulamentar, alterar e extinguir uma relação jurídica (direitos e obrigações) de caráter patrimonial (ALVARO VILAÇA)
Acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. (MARIA HELENA DINIZ).
Contrato, portanto, é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a criação , a modificação ou a extinção de direitos e deveres que tenham conteúdo patrimonial.
- V –
Elementos do Contrato
O contrato contém dois elementos:
Estrutural (alteridade)
Funcional
	
Elemento Estrutural (alteridade): 
Consiste no consentimento recíproco dos parceiros contratuais, isto é, na fusão de duas ou mais vontades contrapostas. Por consequência exige a presença de, no mínimo, duas pessoas.
	Elemento Funcional: 
Consiste na composição de interesses contrapostos (função social). O contrato exerce importantefunção econômico-social, daí a razão da sua tutela jurídica. Os diversos meios de que podem lançar mão os contratantes para atingir seus fins econômicos.
Contrato consigo mesmo. Em regra, não é cabível o autocontrato ou contrato consigo mesmo. 
Exceção: Mandato em causa própria (CC, art. 117). Urge, porém, uma autorização específica, delimitando-se previamente o negócio a ser realizado e o respectivo preço. Se a autorização for genérica, isto é, sem a fixação de preço, mas o mandatário pagar o preço justo, igual ou superior ao que terceiro pagaria, o negócio deve ser tido como válido. Acrescente-se, porém, que se o preço for injusto, o negócio não é nulo, mas apenas anulável, admitindo-se, portanto, a ratificação posterior. Vide ainda art. 179, na qual imputa a anulabilidade no prazo de 2 anos.Atenção
Exemplo: Mandatário que recebe poderes para vender uma propriedade do mandante, inclusive para ele mesmo (sendo vendedor e comprador simultaneamente).
- VI –
Requisitos
	De acordo com o art. 104 do CC, a validade dos negócios jurídicos, entre os quais inclui-se o contrato, requer: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei.
Assim, o contrato, para ser válido, deve preencher os requisitos:
Subjetivos
Objetivos
Formais
 
IV.1 – Requisitos Subjetivos
Existência de duas ou mais pessoas;
Consentimento Livre das partes, isento de vícios e com pleno conhecimento do negócio;
Capacidade genérica das partes;
Legitimidade - Aptidão específica para contratar (Ex. art. 496 do CC)
Existência de duas ou mais pessoas
Cumpre não confundir parte com pessoa. Uma parte pode compor-se de várias pessoas, como por exemplo, nas obrigações solidárias, e, ao revés, uma só pessoa pode representar as duas partes, como no contrato consigo mesmo (exceção).
Consentimento Livre das partes, isento de vícios e com pleno conhecimento do negócio
O negócio será invalidado se houver erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, simulação e fraude. É preciso ainda que o consentimento seja emitido com o propósito real de realizar o contrato, pois a vontade emitida por gracejo é destituída de valor jurídico.
Capacidade genérica das Partes
Os absolutamente incapazes, como os menores de 16 anos, devem ser representados nos contratos pelo representante legal, sob pena de nulidade absoluta, ao passo que os relativamente incapazes, como os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, podem celebrar pessoalmente a maioria dos contratos, desde que assistidos pelo representante legal (pais, tutores e curador), sendo certo que a falta dessa assistência não tornará o negócio nulo, mas apenas anulável.
Exceção: Anote-se que o relativamente incapaz pode ser mandatário extrajudicial sem a assistência de seu representante legal (CC, art. 666), constituindo, pois, essa hipótese, uma exceção à regra geral. 
Acrescente-se, ainda, que, no tocante aos contratos que objetivam a alienação de bens, como a compra e venda, a permuta, a promessa de venda e outros, exige-se a autorização judicial, quando o menor, púbere ou impúbere figurar como alienante. Atenção
Observe-se que, ainda que se trate de menor púbere, não basta a assistência do pai para tornar válido o ato de alienação, pois o art. 1691 do CC, exige a autorização judicial, sob pena de nulidade. Se o menor figurar como adquirente do bem, não é preciso a ordem judicial, podendo o contrato celebrar-se normalmente por meio de representante legal, quando se tratar de impúbere, ou pelo próprio menor, quando púbere, assistido pelo representante legal.
Legitimação das Partes
A legitimação é a posição que a pessoa se encontra em relação a certas pessoas ou interesses, propiciando-lhe a prática do negócio jurídico. 
A falta de legitimação é a incapacidade para o ato (ad hoc), isto é, específica para certos negócios. Ou seja, é o impedimento para a realização de determinados negócios.
Exemplos:
Tutor não pode adquirir bens do tutelado, ainda que haja autorização judicial (CC, art. 1.749, I)
Mandatário não pode comprar o bem que administra (CC, art. 497, I)
Ascendente não pode vender para o descendente, sem que haja o consentimento dos demais descendentes (CC art. 496)
Estrangeiro: Nada impede que pratique os atos da vida civil, podendo, inclusive, celebrar o contrato de compra e venda de imóveis em nosso País. Porém essa liberdade não é absoluta, pois sofre restrições em relação aos imóveis rurais, previstas no art. 190 da CF e na Lei 5.709/71. Com efeito, o art. 12 da referida lei preceitua que a soma das áreas rurais pertencentes a estrangeiro não poderá ultrapassar ¼ da superfície dos Municípios onde se situem, salvo se tiver filho brasileiro ou for casado com pessoa brasileira sob o regime de comunhão universal de bens.Atenção
IV.2 – Requisitos Objetivos
São os referentes ao objeto do contrato, que deve ser lícito, possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica.
Licitude do objeto do contrato
Possibilidade física ou jurídica do objeto do negócio jurídico
Determinação do objeto do contrato
Economicidade de seu objeto
Objeto Lícito
É o que está de acordo com a lei, moral e bons costumes. Assim não pode ser objeto de contrato herança de pessoa viva (CC, art. 426 – pacto corvina)
Objeto Possível
A possibilidade dever sob o prisma físico e jurídico. A impossibilidade física pode ser absoluta e relativa.
Impossibilidade física é absoluta quando no momento da realização do contrato, o objeto é irrealizável por qualquer pessoa. Exemplo: Uma viagem para Júpiter
Nesse caso, não há falar-se em indenização, porque quem se obriga a realizar o impossível a nada se obrigou. Trata-se de negócio nulo.Atenção
Impossibilidade física é relativa quando o objeto é passível de realização por determinadas pessoas. Exemplo: reformar um apartamento em 10 dias. 
Atenção
Nesse caso, se houver inadimplemento será cabível a indenização por perdas e danos. Trata-se, portanto, de um negócio válido.
Possibilidade Jurídica aplica-se sobre o objeto lícito
Objeto Determinado ou Determinável
Diz-se determinado quando o objeto se encontra perfeitamente individualizado ao tempo da celebração do contrato. Exemplo: compra e venda de um carro.
Determinável é quando foi fornecido os elementos necessários à sua identificação. Exemplo: Compra de peixes que caírem na rede do pescador; obrigação de dar coisa incerta em que o contrato especifica a espécie e a quantidade do bem a ser entregue (CC, art. 243). 
Anote-se que se o objeto for absolutamente indeterminado, o contrato será nulo.
Objeto Economicamente apreciável
Objeto passível de ser transformado em dinheiro, caso contrário, deixa de interessar ao direito, por falta de ação judicial para protegê-lo.
Exemplo: Assim, é destituída de validade jurídica a compra e venda de um grão de arroz, porque o valor é tão irrisório que há falta de interesse para a propositura de uma ação judicial.
IV.3 – Requisitos Formais
Forma prescrita ou não defesa em lei (CC, art. 107 e 108)
Consentimento expresso ou tácito. Expresso é aquele quando esboçado por escrito, de forma verbal ou simbolicamente. Já o tácito é aquele transparecido por certos atos positivos, que demonstrem a intenção de contratar. 
IV.3.1 – Forma prescrita ou não defesa em Lei
Os requisitos formais são atinentes à forma do contrato, isto é, à maneira de sua exteriorização no mundo jurídico. Vigora, como regra, o princípio da liberdade das formas, de modo que os contratos são não-solenes ou não-formais, celebrando-se pelo livre consentimento das partes (CC, art. 107).
Assim, entende-se, como regra, que o contrato pode ser celebrado verbalmente e até por gestos e símbolos. O comodato, por exemplo, pode ser verbal, igualmente a locação.
Exceção:Atenção
Excepcionalmente, porém, a lei exige uma forma especial. Fala-se, então, em contratos solenes ou formais. Alguns destes contratossolenes podem celebrar-se por escrito particular, como a fiança, a doação de bens móveis, o seguro, o penhor, etc. Mas outros a lei exige escritura pública, como os que envolvem a alienação de bens imóveis, como venda, doação de bens imóveis, permuta, etc. Vide art. 108 do CC.
A inobservância da forma acarreta a nulidade absoluta do contrato, mas em alguns casos, o contrato nulo pode ser convertido em outro válido. 
Exemplo: Na compra e venda de imóvel celebrado por instrumento particular. Conquanto nula, pode ser convertida em compromisso de compra e venda (CC, art. 1417), uma vez que esse contrato admite o instrumento particular.
IV.3.2 – Consentimento expresso ou tácito
É expresso quando esboçado por escrito, verbalmente ou simbolicamente. A declaração simbólica é a realizada por gestos ou mímicas (levantar o braço) ou sinais
Consentimento tácito é o emanado de certos atos positivos reveladores da intenção de contratar. Exemplo: quando o locador recebe o aluguel, após o término do contrato. Esse ato implica em renovação do contrato de locação.
Em regra, os contratos admitem o consentimento tácito, salvo quando a lei exige que seja expressa. Na sublocação, por exemplo, a lei requer a autorização por escrito do locador, sendo, pois, vedado o consentimento tácito.
O silêncio não constitui consentimento tácito. Em matéria jurídica, quem cala não consente. (Vide, art. 111 do CC)Atenção
Exemplo: Imagine, que uma certa editora envie a uma pessoa os exemplares de uma revista, fazendo consignar que a não-devolução implicará em aceitação. Nesse caso, o silêncio, isto é, a não devolução em nada vinculará a pessoa que recebeu as ditas revistas. 
De fato, o consentimento tácito deve ser inferido de atos positivos. Exemplo: Pagamento da primeira prestação atinente à entrega das revistas, e não do silêncio, que, por si só, é insuficiente para produzir a aceitação tácita, a não ser quando a própria lei ou os costumes atribua-lhe esse efeito (CC, art. 111).
Exemplo: Doação pura, em que o silêncio do donatário implicará em aceitação (CC, art. 539).
Instrumento
O instrumento é a forma escrita do contrato. Este quando exige a forma escrita, é chamado de contrato literal.
Não é requisito de existência do contrato, mas de validade, quando se tratar de negócio solene. Quanto aos contratos não-solenes, o instrumento é útil como meio de prova.
Contratos Solenes = requisito de validade + único meio de prova
Contratos não-solenes = meio de prova
Aula – CLASSIFICAÇÃO
- I -
Introdução
A importância da classificação reside na necessidade de desvendar a natureza jurídica e por conseqüência, revelar seus efeitos.
 
- II –
Critérios
Quanto à forma que se aperfeiçoam:
I - Consensuais e Reais
a - Consensuais - São aqueles que se formam com o simples consenso das partes. Se manifesta quando há aceitação da proposta.
	Exemplo: Compra e Venda, Locação.
b - Reais - São aqueles que se formam somente com a entrega da coisa.
	Exemplo: Depósito, Comodato.
II - Solenes e não Solenes
a – Solenes - São aqueles que a Lei exige forma especial.
	Exemplo: Compra e Venda de bem imóvel; Pacto Ante-Nupcial
b – Não Solenes – Independe de forma especial (regra geral)
Quanto à própria natureza
I - Unilaterais e bilaterais
a – Unilaterais – Nasce obrigações apenas para uma das partes; uma única vontade. É aquele em que, no momento da sua formação, só uma das partes assume obrigação em face da outra.
	Exemplo: Testamento; Mútuo.
b – Bilaterais (Sinalagmáticos) – Geram Obrigações para ambas as partes. É aquele em que, no momento de sua formação, ambas as partes assumem obrigações recíprocas, uma em face da outra.
	Exemplo: Compra e Venda; locação.
Atenção: O essencial para distinguir os contratos unilaterais dos bilaterais é atentar-se para o momento da sua formação.
Existem ainda os contratos bilaterais imperfeitos (corrente minoritária) que são aqueles que nascem unilaterais, mas no decorrer de sua execução convertem-se em bilaterais.
	Exemplo: Quando o comodatário realiza benfeitorias necessárias. Com efeito, o comodato quando nasce, mediante a entrega da coisa, só cria obrigações para o comodatário, que deve conservar e restituir a coisa. Se, porém, este realizar benfeitorias necessárias, o comodante também passa a ter a obrigação de indenizá-lo, convertendo-se, destarte, o contrato em bilateral.
C – Plurilaterais – Varias manifestações de vontade
	Exemplo: Contrato Social de uma sociedade mercantil
II - Onerosos e gratuitos
a – Onerosos – As partes assumem ônus e obrigações. É o que traz benefícios e ônus para ambas as partes. Fique atento: Todo contrato bilateral é oneroso.
	Exemplo: Compra e Venda.
b – Gratuitos – Quando existe somente uma prestação. É o que onera só uma das partes, enquanto a outra apenas aufere vantagens com o negócio.
	Exemplo: Testamento; Comodato; doação, depósito não remunerado. Fique atento: À exceção do mútuo feneratício, os demais contratos unilaterais são gratuitos.[1: Mútuo Feneratício é o empréstimo de coisa fungível com cobrança de juros. Trata-se de contrato unilateral, porque ao tempo do seu nascimento, consubstanciado com a entrega da coisa, cria obrigação apenas para o mutuário, que deve devolver o equivalente acrescido dos juros. Todavia, mostra-se também oneroso, porque o mutuário tem o ônus de pagar os juros e o mutuante o de emprestar o dinheiro. (Monteiro de Barros, Flávio Augusto. Manual de Direito Civil, 2 ed. São Paulo: Editora Método, 2007, p. 245)]
III - Comutativos e Aleatórios
A - Comutativos – São aqueles em que as prestações são equivalentes e insuscetíveis de variação. As partes realizam o negócio sabendo, de antemão, o que vão ganhar e perder. As prestações são certas, determinadas e definitivas, apresentando uma relativa equivalência de valores.
Exemplo: Compra e Venda
B – Aleatórios – A prestação de uma ou de ambas as partes depende de um evento futuro e incerto. A prestação está sujeito a álea, razão pela qual são denominados contratos de risco.
Exemplo: Compra da produção de próxima safra de laranja, com preço fixado.[2: No momento da celebração do contrato o preço é fixado, mas se ignora a quantidade da produção, e mesmo se haverá produção. Há, pois, um risco: a álea. Esta álea pode se referir tanto à quantidade quanto à própria existência da coisa. (Sobral Pinto, Cristiano Vieira. Direito Civil Sistematizado, São Paulo: Editora Método, 2010, p. 298)]
Os contratos aleatórios subdividem-se em:
Aleatórios pela própria natureza: são aqueles em que o risco é da essência do negócio. Exemplos: seguro, jogo e aposta, bilhete de loteria, constituição de venda vitalícia (CC, art. 806), etc.
Acidentalmente Aleatórios: são aqueles contratos normalmente comutativos, mas que as partes, no caso concreto, resvoleram inserir o fator risco, condicionando a prestação à ocorrência de um evento incerto, isto é, casual. Exemplos: emptio spei (art. 458), venda de coisa vindoura; Emptio rei speratae (art. 459) venda de coisa esperada, isto é, futura, em que o comprador assume o risco apenas quanto à quantidade da mesma; e contrato aleatório em que o risco se refere à coisa existente, mas exposta a perecimento ou deterioração (art. 460)
IV - Causais e Abstratos
a – Abstrato – É aquele que é obrigatório, independentemente da causa que o gerou. (quem o alega só tem de provar o seu conteúdo)
B – Causais – É aquele que deixa de ser obrigatório, quando a causa for ilícita ou imoral. Vide art. 166, III, do CC.
	Exemplo: “A” doa uma casa para “B”, em troca de este vir a matar “C”
Atenção
O que distingue fundamentalmente os atos chamados causais dos abstratos é a inadmissibilidade, nestes, da oposição ao terceiro das exceções pessoais acaso oponíveis entre as partes originárias do mesmo ato.
Quanto ao exame de uns em relação aos outros
A – Principais – Possui existência própria e autônoma.Exemplo: Locação, Compra e Venda
B – Acessórios (pacta adjecta) – Sua existência está subordinada a de outro contrato. Visa assegurar a execução de outro contrato. 
Exemplo: Fiança, Arras
Atenção
Como decorrência da máxima “o acessório segue o principal”, convém destacar duas regras fundamentais:
A invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal (CC, art. 184, segunda parte)
A prescrição da obrigação principal estende-se às acessórias, mas a destas não se comunica àquelas.
Com relação à designação
A – Nominados – São aqueles disciplinados na lei com designação própria. O CC prevê 23 contratos. Há ainda outros previstos na legislação extravagante: Lei 9.610/98 (contrato de edição, representação e execução); Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra – prevê o contrato de parceria rural)
B – Inominados – São criados pelas partes, com base no princípio da autonomia da vontade (CC, art. 425). Portanto, o rol descrito no CC é meramente exemplificativo.
Exemplos: Contrato de cessão de clientela, Contrato de Exploração de lavoura de café, Contrato de hospedagem.
Quanto ao objeto (definitividade)
A – Preliminar – Também chamado de pré-contrato (pactum de contrahendo). São negócios que visam a celebração de outros, denominados contratos definitivos.
Por meio do contrato preliminar, as partes se comprometem a celebrar, no futuro, um contrato definitivo. Encontra-se disciplinado nos arts. 462 a 466 do CC.
O descumprimento do contrato preliminar autoriza a outra parte a mover ação judicial de emissão de declaração de vontade, obtendo-se uma sentença que produza o mesmo efeito que o contrato definitivo, salvo se houver cláusula de arrependimento. No compromisso de compra e venda, essa ação demonima-se adjudicação compulsória.Atenção
Em contrapartida, a desistência das negociações preliminares, em hipótese alguma, autoriza a ação de emissão de declaração de vontade, podendo, em certos casos, ensejar uma ação de perdas e danos com base na responsabilidade extracontratual.
Pode Ser:
Unilateral: É aquele em que apenas uma das partes é obrigada a celebrar o contrato definitivo, ao passo que a outra o celebra se quiser. Há um direito potestativo em favor dessa última parte. Exemplo: Quando se defere ao locatário o direito de adquirir o imóvel, por certo preço, durante o período da locação; ocorre também quando se reservam ingressos em um teatro, durante certo prazo.
Bilateral: É a regra, para ambas as partes, a obrigação de celebrar um contrato definitivo.
Definitivo
Contrato definitivo é o que é objeto do contrato preliminar.
Quanto ao tempo de sua execução
A - Execução Instantânea – é quando o contrato é de execução imediata, esgotando-se num só instante, mediante uma única prestação, em um único ato.
Exemplo: Compra e venda à vista. 
B - Execução Continuada/Trato Sucessivo – é aquele em que as prestações não são cumpridas num único momento. As prestações se protraem no tempo.
Exemplo: Compra e venda em prestações, locações, etc.
C - Execução Diferida – é aquele em que será cumprido em um único ato, no momento futuro. 
Exemplo: Compra e venda a prazo, com um único pagamento.
Quanto a importância da pessoa do contratante:
A – Pessoais/Intuitu personae – são aqueles que envolvem uma obrigação de fazer ou não fazer infungíveis. Nesses contratos, a prestação deve ser cumprida pessoalmente pelo devedor.
 
B – Impessoais – são aqueles em que a prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa.
Quanto ao modo de elaboração:
A – Paritários – Quando as partes são colocadas em pé de igualdade discutindo amplamente e fixando as suas cláusulas, após o livre debate na fase das negociações preliminares.
 
Exemplo: Compra e venda em prestações, locações, etc.
B - De Adesão/Por adesão – quando uma das partes se limita a aceitar as cláusulas e condições previamente estipuladas pela outra.
Exemplo: Fornecimento de gás, eletricidade, água, etc.
Para que configure o contrato de adesão, é necessário a presença dos seguintes requisitos:
Elaboração das cláusulas por apenas uma das partes;
Impossibilidade de a outra parte discutir a alteração dessas cláusulas;
Necessidade de contratar por parte de todos ou de um número considerável de pessoas
Proposta permanente dirigida a todos os interessados, isto é, as cláusulas são as mesmas para todos.
O contratante mais forte deve desfrutar de um monopólio de direito ou de fato.
Não obstante a possibilidade de celebração dos contratos de adesão, o aderente poderá se beneficiar das regras dos artigos 423 e 424 do Código Civil, bem como do ar. 54 do Código de Defesa do Consumidor.
Aula – PRINCÍPIOS
- I -
Introdução
A expressão princípio exprime a noção de mandamento nuclear do sistema. No âmbito contratual, os princípios constituem os preceitos básicos da organização dos contratos.
	Segundo Pablo Stolze:[3: GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil, volume IV: contratos, tomo I: Teoria Geral. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 63]
Por princípio, entendam-se os ditames superiores, fundantes e simultaneamente informadores do conjunto de regras do Direito Positivo. Pairam, pois, sobre toda legislação, dando-lhe significado, legitimador e validade jurídica.
	Os princípios são tão fortes que, sequer, há necessidade de serem enunciados pelo legislador para que possam ser aplicados.
Os princípios são os postulados fundamentais que inspiram a elaboração das normas jurídicas. Estas são editadas em consonância com os princípios. 
Os princípios são as premissas éticas que inspiram a elaboração das normas jurídicas. São mais do que normas, pois sua função primordial é servir como critério de interpretação destas.
Atenção
A norma que contém um princípio é denominada norma diretiva, exercendo importante papel na hermenêutica, pois, na dúvida acerca da adoção de uma ou outra interpretação, o hermeneuta deve adotar a exegese que mais atenda ao princípio contido na sobredita norma.
São mais do que normas, pois sua função primordial é servir como critério de interpretação destas, devendo ser observados pelo legislador, quando elabora as leis; pelos juízes quando as aplica; e pelo cidadão, quando realiza o negócio jurídico. Ou seja, a norma que contém um princípio é denominada norma diretiva, exercendo importante papel na hermenêutica, pois, na dúvida acerca da adoção de uma ou outra interpretação, o hermeneuta deve adotar a exegese que mais atenda ao princípio contido na sobredita norma.
- II –
Classificação
Princípio da Autonomia da Vontade;
Princípio da Supremacia da ordem Pública;
Princípio da Função Social dos Contratos;
Princípio da Boa-Fé;
Princípio do consensualismo;
Princípio da Obrigatoriedade;
Princípio da Relatividade.
I – Princípio da Autonomia da Vontade
	Hodiernamente conhecida como Autonomia Privada. As partes são livres para estipular as cláusulas contratuais e o tipo de contrato.
	Autonomia da Vontade compreende:
Liberdade de escolher o tipo de contrato;
Liberdade de escolher a pessoa com quem se irá contratar;
Liberdade de contratar ou não contratar;
Liberdade de escolher o conteúdo do contrato
Exemplo: “Fulano” decide procurar um ponto comercial para instalar sua nova loja de roupas. Estuda diversos imóveis por alguns meses e, ao final, seleciona três deles. Entra então em contato com os respectivos proprietários. “Fulano” decide prosseguir as negociações com “Sicrano”. Ambos discutem os termos do futuro contrato. Há várias opções disponíveis, como a compra e venda, a locação e a locação seguida de opção de compra. Depois de várias reuniões negociais, as partes decidem celebrar contrato de locação pelo prazo de 5 anos.
O exemplo serve para ilustrar as 3 facetas fundamentais da liberdade. A primeira é a liberdade para concluir ou não o contrato, chamada de liberdade de contratar. “Fulano” era livrepara decidir se concluía ou não qualquer contrato que seja. A segunda é a liberdade de escolher a pessoa com quem se contrata. “Fulano” muito pensou antes de decidir prosseguir nas negociações com “Sicrano”. A terceira e a liberdade de determinação do conteúdo contratual. “Fulano” e “Sicrano” estudaram diversas possibilidades antes de optarem pela celebração do contrato de locação pelo prazo de 5 anos.
Assim, os contratantes são livres para estipular o que lhes convenha, inclusive dispondo diversamente da lei. De fato, as normas contratuais, em regra, são supletivas ou subsidiárias, pois podem ser alteradas por vontade das partes. No silêncio do contrato, porém, essas normas do CC são de aplicação obrigatória.
Atenção
O princípio da Autonomia da Vontade não é absoluto. A liberdade dos Contratantes encontra-se limitada pelo princípio da supremacia da ordem pública e pelos dois princípios do contrato que traçam as diretrizes da noção de socialidade (função social e boa-fé objetiva)
I. 1 – Limites (restrições) ao princípio da Liberdade Contratual.
Lei: todo ato jurídico deve ser lícito. Princípio da legalidade vem enunciado no art. 5º, inciso II, da CF, e também nos arts. 104, II e 166, II, III, VI e VII, do CC.
Ordem Pública: serve tanto para determinar a cogência de normas, como também para impor limites que não estejam previstos de modo expresso na legislação.
Bons Costumes: correspondem ao conjunto das regras morais tidas como fundamentais pela sociedade brasileira. O respeito à ordem pública e aos bons costumes é exigido pelo art. 122 do CC.
Boa-fé Objetiva: arts. 187 e 422 do CC.
Função Social: arts. 422 e 2.035, parágrafo único, ambos do CC.
I. 2 – Existe uma diferenciação clássica entre Liberdade de Contratar e Liberdade Contratual.
Liberdade de Contratar
Está relacionada com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio será celebrado, sendo uma liberdade plena, em regra.[4: Como limitação da vontade de contratar, podemos citar o art. 497 do CC, que veda a compre e venda de bens confiados à administração em alguns casos. Outro exemplo é a limitação à carga volitiva do Poder Público em contratar sem autorização para tanto (TARTUCE, Flávio. Direito Civil para Concursos Públicos. Vol. 3. Método. 2006. p. 70) ]
B) Liberdade Contratual
É a autonomia de a pessoa debater o conteúdo do negócio jurídico.
É interessante deixar claro que a função social não elimina totalmente a autonomia privada ou liberdade contratual, mas apenas atenua ou reduz o alcance desse princípio. 
Nesse sentido é o teor do Enunciado 23, aprovado na I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, a saber:
ENUNCIADO 23 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
II - Princípio da Supremacia da Ordem Pública
É o princípio que limita a liberdade de contratar, vedando as convenções contrárias às normas cogentes e aos bons costumes.
Normas cogentes ou coativas são as que não podem ser modificadas pela vontade das partes. 
II. 1 - Classificam-se em:
Imperativas: São as que ordenam algum ato. 
Exemplo: Lei que obriga o comerciante a vender mercadoria a quem quiser comprá-la.
Coativas: vedam algum ato. 
Exemplo: Lei que proíbe o anatocismo (juros)
Com esse princípio surge o chamado Dirigismo Contratual, que consiste na intervenção do Estado no conteúdo dos contratos para evitar o desequilíbrio entre as partes e o abuso do poder econômico.
Maria Helena Diniz esclarece que o Estado intervém no contrato, não só mediante a aplicação de normas de ordem pública, mas também com adoção de revisão judicial dos contratos, alterando-os, estabelecendo-lhes condições de execução, ou mesmo exonerando a parte lesada, conforme circunstâncias, fundando-se em princípios de boa-fé e de supremacia do interesse coletivo, no amparo do fraco contra o forte, hipótese em que a vontade estatal substitui a vontade dos contratantes, valendo a sentença como se fosse declaração volitiva do interessado.
	
III – Princípio do Consensualismo
Como regra, o consenso a respeito do conteúdo do negócio é suficiente à formação do contrato.
Não se exige, em princípio a observância de outras formalidades, conforme se depreende dos arts. 104, III e art. 166, IV e V. O art. 482 reputa concluída a compra e venda a partir do momento em que as partes acordam no objeto e no preço.
Atenção
Exceção. Art. 108 do CC. A consenso é necessário, porém, insuficiente. Pode-se afirmar que a formalidade reforça o consenso, ao conferir solenidade ao ato
IV – Princípio da Força Obrigatória do Contrato
O efeito fundamental do contrato é a criação de obrigações para as partes. Isso significa que após a conclusão do contrato as partes estão vinculadas à execução das respectivas prestações. Devem cumpri-las e, a partir do momento em que estas se tornam exigíveis, estão mesmo obrigadas a tanto.
Todos são livres para assumir riscos, respeitados, claro, os limites impostos à liberdade de determinação do conteúdo. Os contratos nascem para ser cumpridos. Essa é a regra do direito privado.
A regra é que não se pode alterar os termos do negócio pactuado que observou à lei e aos demais limites impostos à definição do conteúdo contratual. Trata-se do que se costuma chamar de intangibilidade do conteúdo contratual.
Exceções:
Art. 317 e 478 (Revisão ou resolução do Contrato): caso a execução da prestação se torne excessivamente onerosa por circunstâncias imprevisíveis.
CDC (art 6º, V): admite a possibilidade de revisão do contrato sempre a execução da prestação a cargo do consumidor se torne excessivamente onerosa, mesmo que isso não decorra da superveniência de circunstâncias excepcionais.
Revisão do Preço da Empreitada: se ocorrer diminuição do preço do material ou da mão-de-obra superior a 1/10 do preço global convencionado (CC, art. 620);
Redução da Cláusula penal pactuada: Art. 413 do CC;
V – Princípio da Relatividade dos Contratos
O principio da força obrigatória dos contratos indica que as partes estão vinculadas ao cumprimento do pactuado. 
O princípio da relatividade dos efeitos serve a precisa-lo, pois determina que somente as partes, como exceção de quem quer que seja, estão adstritas ao cumprimento das prestações contratuais. Ou seja, o contrato somente vincula aqueles que dele participaram (res inter allios), não obrigando ou prejudicando terceiros estranhos à relação jurídica.
Exceções:
Estipulação em Favor de Terceiro: por se tratar de contrato que exclusivamente o favorece, ou seja, que não lhe cria qualquer dever ou obrigação, o art. 436, § único, confere o direito de exigir o seu cumprimento.
Exemplo: caso mais comum é o de seguro de vida contratado pela pessoa em benefício de terceiros.
VI – Princípio da Função Social
O exame da exposição de motivos do Código Civil revela que o objetivo foi o de subordinar o exercício da liberdade contratual aos ditames da socialidade, sem perder de vista a necessária proteção dos interesses individuais. Buscou-se inserir princípio que pudesse conciliar a tutela dos interesses dos contratantes com aqueles da coletividade.
	Dispõe o art. 421 do CC que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.
Na realidade, à luz da personalização e constitucionalização do Direito Civil, podemos afirmar que a real função do contrato não é a segurança jurídica, mas sim atender os interesses da pessoa humana.
Na verdade, a liberdade de contratar, relacionada com a celebração do contrato é, em regra, ilimitada. Já a liberdade contratual, relacionada com o conteúdo negocial, é que está limitada pela função social do contrato. 
Assim sendo, justifica-se a proposta de alteração, inclusive a teor do Enunciado23 CJF, sobredito.
Assim, o teor do art. 421 traz dois equívocos e que possivelmente serão corrigidos pelo Projeto Ricardo Fiúza (PL 6.960/2002), acatando a sugestão formulada pelos juristas Antônio Junqueira de Azevedo e Álvaro Villaça Azevedo.
O PL 6.960/2002 objetiva substituir a expressão ‘liberdade de contratar’ por ‘liberdade contratual’. Liberdade de contratar a pessoa tem, desde que capaz de realizar o contrato, já a Liberdade contratual é o de poder livremente discutir as cláusulas do contrato.
Também procedeu-se à supressão da expressão ‘em razão’. A liberdade contratual está limitada pela função social do contrato, mas não e a sua razão de ser.
Já existe, inclusive, outro PL n° 276/07, que visa à mudança do texto do art. 421 da Lei Civil. Eis o texto:
A Liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato
	
O princípio da função social do contrato consiste na prevalência do interesse coletivo sobre os interesses individuais dos contratantes.
	Nelson Nery Júnior salienta que o contrato tem de ser entendido não apenas como as pretensões individuais dos contratantes, mas como verdadeiro instrumento de convívio social e de preservação dos interesses da coletividade, onde encontra sua razão de ser e de onde se extrai a sua força, pois o contrato pressupõe a ordem estatal para lhe dar eficácia.
	O contrato estará conformado à sua função social quando as partes se pautarem pelos valores de:
Solidariedade (CF, art. 3°, I, da CF);
Justiça Social (CF, art. 170, caput, da CF)
Livre Iniciativa for respeitada a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1°, III, da CF);
Não ferirem os valores metaindividuais, tais como: meio ambiente
Haverá desatendimento da função social quando:
A prestação de uma das partes for exagerada ou desproporcional, extrapolando a álea normal do contrato;
Quando houver vantagem exagerada para uma das partes;
Quando se quebrar a base objetiva ou subjetiva do contrato
Indagação que surge com fundamento no princípio da função social do contrato é se a relação contratual é res inter alios acta (que só gera efeitos entre as partes)?
Sobre o assunto, o Enunciado n° 21 da I Jornada de Direito Civil do CJF afirmou que:
ENUNCIADO 21 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.
	Fato que deve ser destacado é que o princípio da função social do contrato está intimamente ligado ao princípio da conservação do contrato, e tal fato pode ser exemplificado pelo Enunciado n° 22 da I Jornada de Direito Civil do CJF e artigos do CC, como o art. 157, § 2°, e art. 479.
VI. 1 – Eficácia interna e Externa da Função Social 
Eficácia Interna: critério de cogência das normas fundamentais à promoção do equilíbrio contratual e das regras tendentes à conservação do negócio jurídico
Enuncia 360 (IV Jornada CJF). Art. 421. O princípio da função social dos contratos também pode ter eficácia interna entre as partes contratantesAtenção
Enuncia 22 (I Jornada CJF). Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas.
Eficácia Externa: Consideração e proteção de valores metaindividuais e da dignidade da pessoa humana (Tutela externa do crédito) 
Enuncia 23 (I Jornada CJF). Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.Atenção
IV - Princípio da Boa-fé
A Boa-fé pode ser dividida em:
Objetiva: também chamada de concepção ética da boa-fé
Subjetiva: também denominada de concepção psicológica da boa-fé.
Desde logo, cumpre ressaltar que a boa-fé subjetiva exerce função preponderante na interpretação dos contratos, ao passo que a boa-fé objetiva atua mais como fonte integrativa, isto é, criando direitos e obrigações não previstos expressamente.
As duas formas de boa-fé (objetiva e subjetiva) exercem uma função de controle sobre o contrato.
Art. 422 – Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
1) Trata-se:
Norma impositiva de conduta leal
Geradora de um dever de correção;
Abandona o princípio da tipicidade – reforça o poder revisionista do Juiz
Objeto de crítica:
Antiga bipolarização entre segurança de um lado e anseio de justiça de outro: princípio ético e orientador do juiz na solução do caso concreto.
Representa, no modelo atual de Contrato, o valor da ética
- Lealdade
- Correção
- Veracidade
Assoma o repúdio ao abuso da liberdade contratual a que tem dado lugar a ênfase excessiva no individualismo e no voluntarismo jurídicos
Princípio da Eticidade = valorizando as condutas guiadas pela boa-fé
Adota a dimensão pós-moderna da boa-fé = CDC, art. 4º, III
Enunciados aprovados na I Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal –27
Fundamentação Constitucional = assenta na cláusula geral da tutela da pessoa humana (encarar as relações obrigacionais como um espaço de cooperação e solidariedade entre as partes. Dignidade da pessoa humana, em substituição à autonomia da vontade)
2) Abrangência do princípio
a) Atua como norma de interpretação do negócio jurídico. 
b) Limita o exercício de direitos subjetivos;
c) Cria deveres anexos
	 
3) Boa-fé subjetiva x Boa-fé Objetiva
Subjetiva: apresenta-se como uma situação ou fato psicológico. Denota estado de consciência, ou convencimento individual de agir conforme o direito. Análise a intenção do sujeito de Direito. Sua caracterização dá-se através da análise das intenções da pessoa cujo comportamento se queira qualificar.
Objetiva: muito além de um critério de qualificação do comportamento do sujeito, impõe-lhe deveres, constituindo-se numa autêntica norma de conduta. Impõe um padrão de conduta a ambos os contratantes no sentido de recíproca cooperação, com consideração dos interesses um do outro, em vista de se alcançar o efeito prático que justifica a existência do contrato celebrado.
4) Tese dos Deveres Anexos:
o dever de cuidado em relação à outra parte negocial;
o dever de respeito;
o dever de informar a outra parte o conteúdo do negócio;
o dever de agir conforme a confiança depositada;
o dever de lealdade e probidade;
o dever de colaboração ou cooperação;
o dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade, a boa razão.
5) Especializações Funcionais do princípio da boa-fé:
Equidade;
Razoabilidade;
Cooperação.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Não encontra correspondente no CC/16. 
A boa-fé objetiva é a evolução do princípio da boa-fé, já que estabelece norma de conduta baseada nos deveres anexos, laterais ou implícitos, que são inerentes a qualquer negócio. 
A professora Judith Martins Costa utiliza a expressão deveres anexos, mas já vem sendo usada a expressão deveres laterais (aqueles que não precisam estar escritos). 
Hipóteses de deveres anexos (rol exemplificativo): 
 1. dever de cuidado em relação à outra parte; 
 2. dever de colaboração ou cooperação; 
 3. dever de respeito à confiança; 
 4. dever de informação quanto ao conteúdo do negócio; 
 5. dever de lealdade; 
 6. dever de agir conforme a eqüidade (justiça no caso concreto, razoabilidade, boa 
razão). 
 
OBSERVAÇÃO: não confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva.
 
A boa-fé subjetiva estabelece um estado psicológico de crença em alguma coisa. 
Exemplos: 
 - art. 1.242 do CC - usucapião ordinária de bem imóvel. Requisitos de posse contínua e ininterruptasem oposição, posse exercida por prazo de 10 anos; o possuidor deve ter em mãos o justo título (documento que mostra a intenção de transferência da propriedade) e posse de boa-fé (possuidor de boa-fé é aquele que ignora o problema existente na posse, acreditando que a posse é legítima); 
 - art. 1.521, CC – casamento putativo (um dos nubentes desconhece impedimento para o casamento). Putare significa crer, imaginar. 
O QUE OCORRE COM O CONTRATO SE A BOA-FÉ OBJETIVA FOR VIOLADA? 
 Enunciado 24, I Jornada, CJF – em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do CC, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa (violação positiva do contrato). 
A violação positiva do contrato gera responsabilidade objetiva. 
A boa-fé objetiva está prevista no art. 422 do CC. 
RESPONSABILIDADE
De acordo com os enunciados 24 (I Jornada) e 170 (III Jornada) do CJF, o princípio da boa-fé objetiva deve ser aplicado em todas as fases do contrato (fase pré-contratual, fase de conclusão do contrato, fase de execução do contrato e fase pós-contratual). 
Exemplos práticos: 
- boa-fé objetiva na fase pré-contratual:
CASO DOS TOMATES – a empresa CICA tinha o hábito de distribuir semesntres de tomates aos agricultores pedindo que eles plantassem, pois teriam a garantia de compra de toda a safra. A cada safra esta empresa comprava a colheita e distribuía mais sementes para serem plantadas, o que gerou uma conduta reiterada. Em dado momento forneceu as sementes e não comprou os tomates, ferindo os deveres anexos. Os agricultores, socorrendo-se do judiciário, tiveram direito à indenização em razão do descumprimento do dever de confiança, que gerou expectativa em quem plantava.
TJ/RS - 2ª Turma – Recurso 71000531376 – caso do gaúcho que foi até o Rio de Janeiro com toda a família para comprar um apartamento e lá chegando o proprietário não quis mais vender; 
- violação da boa-fé objetiva na fase contratual 
concorrência desleal do franqueador que monta franquia na área geográfica destinada ao franqueado; 
- violação da boa-fé objetiva na fase pós contratual
Uma pessoa compra um apartamento de frente para o mar, com a promessa da construtora de que nada seria construído no terreno da frente. Posteriormente um prédio muito alto é construído, fechando a vista dos apartamentos do prédio vizinho. (Antônio Junqueira de Azevedo)
 
FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA 
1ª) Função de Interpretação - art. 113, CC ; 
2ª) Função de Integração – Enunciado 26, I Jornada, CJF e conceitos de Menezes Cordeiro sobre a boa-fé objetiva: 
- supressio – significa supressão – é a perda de uma faculdade pelo não exercício no 
Tempo7;
- surrectio – aquisição de um direito que não estava previsto – art. 330, CC;
- nemo potest venire contra factum proprium – ninguém pode ir contra sua própria conduta. A conduta passa a ser aditivo contratual; 
- tu quoque – não faça com o outro o que você não quer que seja feito para si mesmo. 
- Duty to mitigate de loss (dever de mitigar a perda)
Caminhamos hoje para a aplicação da boa fé objetiva em tudo dentro das relações privadas (STJ – RESp 95539/SP).
A professora Vera Jacob Fradera trouxe para o Brasil a teoria Duty to mitigate de loss. 
Enunciado 169 do CJF estabelece a necessidade do credor evitar o agravamento do seu prejuízo. A não observância deste mandamento gera a culpa delitual, já que os valores serão reduzidos pelo magistrado de acordo com os parâmetros do caso concreto. 
Ex.: Fiança locatícia e Instituições financeiras – Ocorrido o inadimplemento, o credor tem a obrigação de buscar seu crédito o quanto antes, e não deixar que o mesmo vá aumentando, e para o devedor se agravando, somente para se beneficiar financeiramente. Isto representa a quebra da base objetiva do contrato, fazendo com que o Juiz deva reduzir o valor que será objeto de cobrança.
Trata-se de uma semente esta idéia, que admito ser revolucionária dentro da nossa sociedade, mas que deve ser lançada adiante pelos nossos tribunais, objetivando que prevaleça a relação harmônica nas relações jurídicas, e, principalmente, a aplicação deste princípio nas negociações como um todo
Enunciados CJF
21 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.
22 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas.
23 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
24 – Art. 422: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
25 – Art. 422: O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.
26 – Art. 422: A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o
contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.
27 – Art. 422: Na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.
Aula – Boa-Fé
Art. 422 – Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
1) Trata-se:
Norma impositiva de conduta leal
Geradora de um dever de correção;
Abandona o princípio da tipicidade – reforça o poder revisionista do Juiz
Objeto de crítica:
Antiga bipolarização entre segurança de um lado e anseio de justiça de outro: princípio ético e orientador do juiz na solução do caso concreto.
Representa, no modelo atual de Contrato, o valor da ética
- Lealdade
- Correção
- Veracidade
Assoma o repúdio ao abuso da liberdade contratual a que tem dado lugar a ênfase excessiva no individualismo e no voluntarismo jurídicos
Princípio da Eticidade = valorizando as condutas guiadas pela boa-fé
Adota a dimensão pós-moderna da boa-fé = CDC, art. 4º, III
Enunciados aprovados na I Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal –27
Fundamentação Constitucional = assenta na cláusula geral da tutela da pessoa humana (encarar as relações obrigacionais como um espaço de cooperação e solidariedade entre as partes. Dignidade da pessoa humana, em substituição à autonomia da vontade)
2) Abrangência do princípio
a) Atua como norma de interpretação do negócio jurídico. 
b) Limita o exercício de direitos subjetivos;
c) Cria deveres anexos
	 
3) Boa-fé subjetiva x Boa-fé Objetiva
Subjetiva: apresenta-se como uma situação ou fato psicológico. Denota estado de consciência, ou convencimento individual de agir conforme o direito. Análise a intenção do sujeito de Direito. Sua caracterização dá-se através da análise das intenções da pessoa cujo comportamento se queira qualificar.
Objetiva: muito além de um critério de qualificação do comportamento do sujeito, impõe-lhe deveres, constituindo-se numa autêntica norma de conduta. Impõe um padrão de conduta a ambos os contratantes no sentido de recíproca cooperação, com consideração dos interesses um do outro, em vista de se alcançar o efeito prático que justifica a existência do contrato celebrado.
4) Tese dos Deveres Anexos:
o dever de cuidado em relação à outra parte negocial;
o dever de respeito;
o dever de informara outra parte o conteúdo do negócio;
o dever de agir conforme a confiança depositada;
o dever de lealdade e probidade;
o dever de colaboração ou cooperação;
o dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade, a boa razão.
5) Especializações Funcionais do princípio da boa-fé:
Equidade;
Razoabilidade;
Cooperação.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Não encontra correspondente no CC/16. 
A boa-fé objetiva é a evolução do princípio da boa-fé, já que estabelece norma de conduta baseada nos deveres anexos, laterais ou implícitos, que são inerentes a qualquer negócio. 
A professora Judith Martins Costa utiliza a expressão deveres anexos, mas já vem sendo usada a expressão deveres laterais (aqueles que não precisam estar escritos). 
Hipóteses de deveres anexos (rol exemplificativo): 
 1. dever de cuidado em relação à outra parte; 
 2. dever de colaboração ou cooperação; 
 3. dever de respeito à confiança; 
 4. dever de informação quanto ao conteúdo do negócio; 
 5. dever de lealdade; 
 6. dever de agir conforme a eqüidade (justiça no caso concreto, razoabilidade, boa 
razão). 
 
OBSERVAÇÃO: não confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva.
 
A boa-fé subjetiva estabelece um estado psicológico de crença em alguma coisa. 
Exemplos: 
 - art. 1.242 do CC - usucapião ordinária de bem imóvel. Requisitos de posse contínua e ininterrupta sem oposição, posse exercida por prazo de 10 anos; o possuidor deve ter em mãos o justo título (documento que mostra a intenção de transferência da propriedade) e posse de boa-fé (possuidor de boa-fé é aquele que ignora o problema existente na posse, acreditando que a posse é legítima); 
 - art. 1.521, CC – casamento putativo (um dos nubentes desconhece impedimento para o casamento). Putare significa crer, imaginar. 
O QUE OCORRE COM O CONTRATO SE A BOA-FÉ OBJETIVA FOR VIOLADA? 
 Enunciado 24, I Jornada, CJF – em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do CC, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa (violação positiva do contrato). 
A violação positiva do contrato gera responsabilidade objetiva. 
A boa-fé objetiva está prevista no art. 422 do CC. 
RESPONSABILIDADE
De acordo com os enunciados 24 (I Jornada) e 170 (III Jornada) do CJF, o princípio da boa-fé objetiva deve ser aplicado em todas as fases do contrato (fase pré-contratual, fase de conclusão do contrato, fase de execução do contrato e fase pós-contratual). 
Exemplos práticos: 
- boa-fé objetiva na fase pré-contratual:
CASO DOS TOMATES – a empresa CICA tinha o hábito de distribuir semesntres de tomates aos agricultores pedindo que eles plantassem, pois teriam a garantia de compra de toda a safra. A cada safra esta empresa comprava a colheita e distribuía mais sementes para serem plantadas, o que gerou uma conduta reiterada. Em dado momento forneceu as sementes e não comprou os tomates, ferindo os deveres anexos. Os agricultores, socorrendo-se do judiciário, tiveram direito à indenização em razão do descumprimento do dever de confiança, que gerou expectativa em quem plantava.
TJ/RS - 2ª Turma – Recurso 71000531376 – caso do gaúcho que foi até o Rio de Janeiro com toda a família para comprar um apartamento e lá chegando o proprietário não quis mais vender; 
- violação da boa-fé objetiva na fase contratual 
concorrência desleal do franqueador que monta franquia na área geográfica destinada ao franqueado; 
- violação da boa-fé objetiva na fase pós contratual
Uma pessoa compra um apartamento de frente para o mar, com a promessa da construtora de que nada seria construído no terreno da frente. Posteriormente um prédio muito alto é construído, fechando a vista dos apartamentos do prédio vizinho. (Antônio Junqueira de Azevedo)
 
FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA 
1ª) Função de Interpretação - art. 113, CC ; 
2ª) Função de Integração – Enunciado 26, I Jornada, CJF e conceitos de Menezes Cordeiro sobre a boa-fé objetiva: 
- supressio – significa supressão – é a perda de uma faculdade pelo não exercício no 
tempo;
- surrectio – aquisição de um direito que não estava previsto – art. 330, CC;
- nemo potest venire contra factum proprium – ninguém pode ir contra sua própria conduta. A conduta passa a ser aditivo contratual; 
- tu quoque – não faça com o outro o que você não quer que seja feito para si mesmo. 
- Duty to mitigate de loss (dever de mitigar a perda)
Caminhamos hoje para a aplicação da boa fé objetiva em tudo dentro das relações privadas (STJ – RESp 95539/SP).
A professora Vera Jacob Fradera trouxe para o Brasil a teoria Duty to mitigate de loss. 
Enunciado 169 do CJF estabelece a necessidade do credor evitar o agravamento do seu prejuízo. A não observância deste mandamento gera a culpa delitual, já que os valores serão reduzidos pelo magistrado de acordo com os parâmetros do caso concreto. 
Ex.: Fiança locatícia e Instituições financeiras – Ocorrido o inadimplemento, o credor tem a obrigação de buscar seu crédito o quanto antes, e não deixar que o mesmo vá aumentando, e para o devedor se agravando, somente para se beneficiar financeiramente. Isto representa a quebra da base objetiva do contrato, fazendo com que o Juiz deva reduzir o valor que será objeto de cobrança.
Trata-se de uma semente esta idéia, que admito ser revolucionária dentro da nossa sociedade, mas que deve ser lançada adiante pelos nossos tribunais, objetivando que prevaleça a relação harmônica nas relações jurídicas, e, principalmente, a aplicação deste princípio nas negociações com um todo.
Aula – Formação dos Contratos
- I -
Noções Iniciais
Os contratos consensuais formam-se com a proposta e aceitação;
Os contratos reais com a entrega da coisa;
Os contratos formais com a realização da solenidade ou do instrumento próprio; 
- II -
Fases da Formação do Contrato
I. 1 – Formação do Contrato pelo Código Civil
	Podem ser identificadas quatro fases na formação dos contratos:
Fase de Negociações preliminares ou de puntuação (tratativas);
Nessa fase ocorrem os debates prévios visando à formação do contrato definitivo no futuro. Ela não está prevista no Código Civil, sendo anterior à formalização da proposta.
Negociações preliminares são conversações prévias e estudos sobre os interesses de cada contratante, tendo em vista o contrato futuro, sem que haja qualquer vinculação jurídica entre os participantes. 
 
Exemplo: 
Quando houver uma carta de intenções assinada pelas partes, em que estas apenas manifestam a sua vontade de celebrar um contrato no futuro.
Justamente por não estar regulamentado no CC, não se pode dizer que o debate prévio vincule as partes, como ocorre com a responsabilidade civil contratual nessa fase do negócio.
Todavia, é preciso relatar que, apesar de faltar obrigatoriedade aos entendimento preliminares, pode surgir, excepcionalmente, a responsabilidade para os que deles participam, não no campo contratual, mas no da responsabilidade aquilina. Portanto, há que se falar em responsabilidade pré-contratual (art. 187) nessa fase, nos casos de desrespeito à boa-fé objetiva.
Portanto, nessa fase de debates não existe formalização de contrato. Em regra, não vincula as partes à realização da contratação, mas aqui defende-se a vinculação aos deveres anexos à boa-fé objetiva, que é inerente à eticidade, um dos baluartes da nova codificação privada.[5: Os deveres anexos principais, também denominados de deveres laterais ou secundários, são: dever de respeito, dever de colaboração, dever de lealdade ou probidade, dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e a boa razão.]
Enunciado nº 170 - Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. (III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal)
Fase de Proposta,policitação ou oblação (art. 427 a 435);
A fase da proposta, denominada fase de oferta formalizada, policitação ou oblação, constitui a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, que solicita a concordância da outra. Trata-se, assim, de uma declaração unilateral de vontade receptícia, ou seja, só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte.
São partes dessa fase:
Proponente, policitante ou solicitante: aquele que faz a proposta;
Destinatário, Oblato, policitado ou solicitado: aquele que recebe a proposta. Se este aceitá-la, o contrato estará aperfeiçoado (o oblato vira aceitante).
A proposta é o elemento inicial do contrato. O proponente, ou policitante, propõe e o aceitante, ou oblato, aceita, de modo expresso ou tácito. Fase da proposta formalizada, que vincula as partes contratantes. 
 
Sobre a manifestação da vontade na proposta e na aceitação, o CC exige que esteja revestida das seguintes características:
A proposta deve ser séria, completa, precisa ou clara e inequívoca, bem como dirigida à pessoa determinada ou determinável para sua validade. Não constitui proposta a simples negociação preliminar, nem a oferta condicionada a ulterior confirmação do proponente.
A proposta pode ser feita entre:
Presentes
Ausentes: proposta por carta ou telégrafo
A proposta gera obrigatoriedade de contratar, salvo nos casos estabelecidos pela lei.
 
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. 
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: 
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; 
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; 
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; 
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. 
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. 
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. 
Fase de Contrato preliminar;
Agora tratada especificamente pelo Código Civil. O contrato preliminar, exceto à sua forma, terá os mesmos elementos do contrato definitivo.
Essa fase também gera efeitos jurídicos, principalmente a obrigação de celebrar o contrato definitivo, podendo assumir duas formas:
Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção: as duas partes assinam o instrumento, apenas uma delas assume o compromisso de celebrar o contrato definitivo;
Compromisso bilateral de contrato: as duas partes assinam o instrumento, ambas assumem o compromisso de celebrar o contrato definitivo.
 
Fase do Contrato Definitivo.
Aperfeiçoado o contrato pelo “choque de vontades”, haverá responsabilidade civil contratual plena (art. 389 a 391 do CC).
I.2 – Formação do Contrato pelo Código de Defesa do Consumidor
Há regras específicas quanto à oferta e publicidade – art. 30 a 38. Regras que são estudadas à luz da boa-fé objetiva. Qualquer forma de oferta vincula o produto, o serviço e o contrato (art. 30).
I. 3 – Formação do Contrato pela via eletrônica (internet)
Podem ser aplicadas tanto as regras previstas no CC quanto no CDC, sem que isso traga prejuízo à parte vulnerável (diálogo das fontes);
Enunciado nº 167 - Arts. 421 a 424: Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica entre esse Código e o Código de Defesa do Consumidor no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos (III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal)
Pode ser formado entre presentes (chat, bate-papo, vídeo conferência) ou entre ausentes (e.mail)
Enunciado nº 173 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na III Jornada de Direito Civil: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente.Atenção
- III -
Aceitação
A aceitação é uma manifestação da vontade, expressa ou tácita, da parte do destinatário de uma proposta. A aceitação deve corresponder a uma adesão integral à oferta. É permitido ao aceitante se arrepender desde que chegue ao conhecimento do ofertante antes da aceitação ou juntamente com ela. 
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunica-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. 
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. 
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa. 
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. 
- IV -
Conclusão do Contrato
Em relação aos contratos entre presentes (inter praesentes.), a conclusão se dará no momento em que o oblato aceitar a proposta. 
Contudo, no caso dos contratos entre ausentes (inter absentes.), existem duas teorias: 
Teoria da Informação ou Cognição
Teoria da Agnição ou Declaração
1) Teoria da Informação ou Cognição: 
O contrato se conclui no momento em que o ofertante tem ciência da aceitação do oblato. 
2) Teoria da Agnição ou Declaração: 
O contrato se aperfeiçoa no momento em que o oblato (aquele que recebe a proposta) manifesta sua aquiescência à proposta. Dessa teoria destacam-se três subteorias: 
Subteoria da declaração propriamente dita: basta a formulação de resposta pelo oblato;
Subteoria da expedição: não basta a formulação da resposta pelo oblato, sendo necessário o envio ao proponente;
Subteoria da recepção: o contrato se efetiva quando a resposta chegar ao poder do proponente, mesmo que dela ainda não tenha conhecimento. 
Enunciado nº 173 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na III Jornada de Direito Civil: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente.Atenção
O Código Civil adota a teoria da agnição ou declaração, na sua subteoria da expedição, sendo considerada a mais adequada. 
O contrato completa-se com a expedição da aceitação, salvo as exceções previstas no art. 434:
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: 
I - no caso do artigo antecedente; 
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; 
III - se ela não chegar no prazo convencionado. 
Local do Contrato: 
Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que a proposta é expedida ou em que é conhecida.
 
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. 
Aula – GARANTIAS CONTRATUAIS
- I -
Efeitos dos Contratos
Vícios Contratuais (Redibitórios e de Produtos) e Evicção
I. 1 – Noções Iniciais: 
Vícios Contratuais são aqueles que atingem a coisa que foi adquirida não se confundindo com os vícios do negócio jurídico, que atingem a vontade (erro, dolo, etc.).
Os vícios contratuais podem ser:
Vícios Redibitórios (CC)
Vícios do produto ou serviços (CDC)
- II -
Vícios Redibitórios
II. 1 – Vícios Redibitórios: 
São os defeitos que desvalorizam a coisa ou tornam a mesma imprópria para uso. É aquele defeito oculto que contém a coisa, objeto de contrato oneroso (comutativo), que a torne imprópria ao uso, ou lhe prejudique o valor.
Vício oculto: é aquele defeito cuja existência nenhuma circunstânciapode revelar, senão mediante exames e testes.Atenção
Redibitório: o vício é chamado de redibitório, pois confere à parte prejudicada o direito de redibir, ou seja, rescindir o contrato, devolvendo a coisa e recebendo do vendedor a quantia paga.
Exemplo: 
Novilhas escolhidas para reprodução de gado vacum, porém estéreis.
A casa que inunda quando chove.
Alguém compra um automóvel do vizinho, que não é profissional nessa atividade de venda de veículos. O carro seminovo apresenta problemas de funcionamento. Como não há relação de consumo, estaremos diante de um vício redibitório, aplicando-se o CC.
II. 2 – Requisitos: 
II.2.1 - Coisa recebida em virtude de contrato comutativo ou de doação onerosa
Embora seja mais comum a sua incidência na compra e venda, o vício redibitório não se restringe a este negócio, pois é aplicável a todos os contratos bilaterais comutativos que envolvem a transferência do domínio de uma coisa.
Desse modo, para além da compra e venda, o instituto em questão pode ser aplicado à locação, permuta, parceria e arrendamento rural, empreitada, leasing, e ainda, nas doações oneradas com encargo, pois, em todos eles, a relação entre a vantagem e o sacrifício inerentes às prestações impostas às partes é economicamente equivalente.
Há possibilidade de extensão dos vícios redibitórios no regramento dos contratos aleatórios, como no caso da compra e venda pactuada nas modalidades emptio spei e emptio rei speratae e ainda no Contrato de Seguro?Atenção
Apesar da inexistência de expressa previsão legal, na medida em que está fundado no dever imposto ao solvens (devedor) de garantir ao accipiens (credor) a plena fruição da coisa, não existem óbices à invocação das regras previstas no CC.
Esta reflexão, por conta da matriz principiologica do equilíbrio material, diante de eventual distorção surgida no curso do processo obrigacional em razão de vício oculto merece correção também nesses casos, o que se alcança também pelo processo extensivo de interpretação.
Esse posicionamento foi adotado pelo doutrinador Rodrigo Toscano de Brito ao sustentar que “apesar de darem azo a um direito de garantia, na verdade, vê-se que a busca se volta para o equilíbrio e manutenção das legítimas expectativas do comprador do bem que apresenta o vício” (Equivalência material dos contratos: civis, empresariais e de consumo, p. 145).
Exemplo:
Aquisição de uma safra futura de sementes, pactuada enquanto contrato aleatório, as quais somente após entregues e plantadas consoante os padrões exigidos, permitem a aferição de sua esterilidade, hipótese em que parecer ser evidente a existência de manifesto vício redibitório.
Pense no contrato de seguro, em que o segurador se obriga a entregar, em caso de sinistro, em vez de dinheiro, coisa da mesma qualidade do objeto que veio a perecer, e desde que esta contenha vício oculto, não há como se negar a aplicação do instituto; muito embora, na atualidade paire séria dúvida se este tipo contratual deve ser mesmo classificado como aleatório.
Ressalte-se que essa posição não é pacífica, pois há autores que entendem que nos contratos aleatórios, o risco da aquisição do objeto no estado que se encontra faz parte do ajuste (Álvaro Vilaça Azevedo), tese que não merece prevalecer a partir do fato de que tais contratos não se dão apenas nos casos previstos no art. 460 do CC como leva a entender o autor, mas sim, em tantas outras hipóteses.
Nos contrato benéficos ou gratuitos, ainda que o objeto contenha vício oculto, não se admite a resolução ou redução do preço, haja vista que nestes casos, não há para o solvens qualquer vantagem patrimonial, a ser aplicada a reciprocidade de prestações.
II.2.2 – Defeito deve ser oculto
Vício oculto é aquele imperceptível pelo homem médio. O critério de homem médio, aqui, é de pessoa com diligência comum, enquanto padrão de valoração de conduta.
Dessa forma, não se reputa oculto o defeito não notado em razão de negligência do credor, mas apenas aquele que não poderia ser averiguado no momento do desempenho da prestação.
Exemplo:
Compra e venda de um veículo com problema no motor que só se manifesta após uma hora de uso contínuo ou
Compra ou locação pactuada em período de estiagem, de um imóvel que alaga na época das chuvas.
Isabel adquire um carro de Melo, flagrantemente amassado, Dias depois, Isabel procura o vendedor e exige abatimento no preço, já que não atentara para a avaria. Não tem ela, no entanto, direito.
Cumpre frisar que, nos moldes do art. 503 do CC, se houver a aquisição de várias coisas ao mesmo tempo, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas, mas apenas da viciada.
Atenção
Diferença entre Vício Redibitório e Erro
A entrega de uma coisa por outra não é vício redibitório, eis que como exposto, é da essência do instituto ser o defeito oculto e impedir a utilização da coisa ou diminuir o valor do bem.
Exemplos:
Exemplo clássico dos Romanos: Alguém que compra candelabros prateados pensando serem de prata.[6: Castiçal grande com ramificações em que cada uma das quais há uma luz]
A entrega de um veículo com ano inferior ao pretensamente adquirido, havendo neste caso erro, cumprimento inexato, configurando-se primeiro se o comprador não se apercebeu do detalhe no momento da aquisição e o segundo quando houver desvio de qualidade por fato imputável ao devedor.
Compra um relógio dourado, pensando ser de ouro.
Não há defeito ou vício intrínseco à coisa. O que ocorre é vício no consentimento, consentimento defeituoso, pois o declarante acreditava que eram realmente de prata. Se soubesse que os candelabros não eram de prata, o comprador não sequer os teria comprado (o erro é essencial). O defeito, como vício é subjetivo, há uma falsa idéia da realidade.
Tratando-se de erro é cabível a Ação Anulatória.
No caso de vício redibitório, o negócio é ultimado tendo em vista um objeto com aquelas qualidades que todos esperam que possua, comum a todos os objetos da mesma espécie. Porém, aquele objeto falta uma dessas qualidades, apresente um defeito oculto. Neste caso o comprador realmente queria comprar aquela coisa, mas há defeito no objeto, o defeito como vício oculto é objetivo.
Os Vícios Contratuais (Redibitórios e de Produtos) atingem o objeto do negócio, não se confundindo com os vícios da vontade (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) ou com os vícios sociais do negócio jurídico (simulação e fraude contra credores), que são subjetivos.Atenção
II.2.3 – Defeito seja existente ao tempo da entrega da coisa (Aspecto Temporal)
O defeito deve ser preexistente à alienação (vide art. 444).
Defeitos supervenientes que afetem a coisa já incorporada ao patrimônio do adquirente, serão por ele suportados, e se cessarem, deixarão a demanda sem objeto (Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil, p. 120)
Exemplo:
Aquisição de um animal que traz encubado certo vírus, responsável por sua morte ou incapacidade para o fim a que se destina, hipótese em que, se o animal morrer ou não prestar ao fim a que se destina, o vendedor responde pelo vício. Entretanto, sobrevindo o animal sem sequelas, nada haverá de reclamar. Enfim, se a patologia for adquirida após a tradição, impõe-se ao comprador os ônus financeiros oriundos do perecimento.
II.2.4 – Defeito deve ser grave (prejudicar o uso da coisa ou diminuir seu valor)
Não é qualquer defeito que autorizará a redibição do negócio ou a propositura de ação visando a redução do preço, mas apenas aquele que efetivamente prejudiquem a utilidade da coisa, tornando-a inapta às suas finalidades ou reduzindo sua expressão econômica (CC, art. 441, caput).
Exemplo:
Touro obtido onerosamente visando a reprodução, mas que se mostra estéril;
Animais adquiridos com doença que causa sua morte;
Veículo comprado com vício oculto no sistema de freios.
II. 3 – Ações Edilícias: 
II.3.1 – Ação Redibitória
Consiste no pedido da extinção do contrato, mediante a rejeição da coisa,

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