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APOSTILA USO Bertol

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA 
UDESC 
 
 
 
 
 
 
 
CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS - CAV 
FACULDADE DE AGRONOMIA - FA 
DEPARTAMENTO DE SOLOS - DS 
 
 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA: USO E CONSERVAÇÃO DO SOLO 
 
 
 
APOSTILA DE AULA 
 
 
 
PROFESSOR: Ildegardis Bertol 
 
 
Lages (SC), janeiro de 2016. 
 
2 
 
PARTE I – FUNDAMENTOS DE HIDROLOGIA APLICADOS À 
CONSERVAÇÃO DO SOLO 
 
HIDROLOGIA 
 
1. Definição de hidrologia: hidrologia é a ciência que trata da água na terra, sua ocorrência, 
circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas e suas reações com o meio ambiente 
e, por conseguinte, com a vida. 
 
2. Aplicação da hidrologia: os estudos de hidrologia são aplicáveis para a escolha de fontes de 
abastecimento de água para uso doméstico ou industrial, para regularização de cursos d’água e para 
controle de inundações. Ainda, são aplicáveis para o controle de poluição, navegação, 
aproveitamento hidrelétrico, operação de sistemas hidráulicos complexos, recreação, conservação 
do meio ambiente, preservação e desenvolvimento da vida aquática e controle da erosão hídrica, 
dentre outros. 
 
3. Bacia hidrográfica: o ciclo hidrológico pode ser analisado dentro de um sistema hidrológico 
fechado, já que a quantidade de água disponível para a terra é finita e indestrutível. Entretanto, há 
subsistemas abertos que podem ser definidos por limites políticos, geográficos, topográficos ou, 
ainda, arbitrariamente. Dentre as áreas de importância prática para estudos de conservação de solo, 
destaca-se a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem, por causa da simplicidade que oferecem na 
aplicação e análise do balanço hídrico. Assim, bacia hidrográfica é uma área definida 
topograficamente, de modo que suas bordas separem as precipitações de um lado e de outro e que 
seja drenada por um curso de água. É importante, nesse caso, que os contornos topográficos da 
bacia sejam perfeitamente delimitados. 
O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica depende de uma série de características da 
própria bacia, tais como: tamanho, forma, relevo, tipo de solo, vegetação, rede de drenagem e uso e 
manejo do solo, as quais, em conjunto, influem na vazão e tempo de concentração da bacia. Quanto 
maior o tamanho da bacia (próximo ou superior a 250 km
2
), maior a probabilidade de ocorrerem 
variações (e estas serem mais intensas) nas características da bacia. Além disso, quando a área da 
bacia aumenta, provavelmente as precipitações terão características diferentes nos diversos pontos 
da bacia. As características de uma bacia hidrográfica serão discutidas adiante, para um melhor 
entendimento do seu comportamento hidrológico. No entanto, os princípios científicos envolvidos 
numa bacia hidrográfica são idênticos, em grandes e pequenas bacias, o que torna pouco importante 
a definição de micro bacia. 
 
4. Tipos de análises hidrológicas: por meio do estudo do comportamento hidrológico de uma bacia 
hidrográfica, podem ser obtidas análises hidrológicas bem definidas e específicas, tais como: 
a) volume total de enxurrada: essa informação pode ser aplicada no dimensionamento de sistemas 
de irrigação, pois está relacionado com o teor de água do solo e com o volume de chuva necessário 
para suprir o reservatório. Pode ser aplicado, ainda, entre outros, no planejamento de sistemas de 
terraços de absorção, para os quais é necessário dimensionar a capacidade máxima de absorção de 
água, em função das precipitações máximas para um período de retorno definido para cada região; 
b) taxa máxima de enxurrada: é aplicada como suporte para o planejamento de sistemas de terraços 
de drenagem, nos quais é necessário conhecer a taxa máxima de enxurrada de uma área conhecida, 
com o fim de planejar terraços cujas secções suportem tal vazão de uma chuva de um determinado 
período de retorno. Essa informação pode ser utilizada, entre outros, no planejamento de bueiros e 
drenagem de áreas urbanas; e 
c) hidrograma completo: fornece subsídios para o planejamento de grandes reservatórios, pois 
contém informações tanto da taxa de enxurrada em relação ao tempo, quanto do seu volume total. 
 
3 
 
5. Ciclo hidrológico: o comportamento da água, quanto à sua ocorrência, transformação e relação 
com a vida humana caracterizam o conceito de ciclo hidrológico. Este estudo faz parte da 
meteorologia e inclui informações de como a água ocorre na atmosfera, bem como acima e abaixo 
da superfície da terra. Os processos físicos que compõem o ciclo hidrológico são os seguintes: 
a) precipitação: refere-se principalmente à água na forma de chuvas, mas também nas formas de 
neve, geada, neblina, granizo e cerração, compreendendo todas as formas pela qual a água atinge a 
superfície da terra; 
b) interceptação: ocasionada pela vegetação ou outros materiais que estejam na superfície do solo, 
os quais interceptam a trajetória de queda da água; 
c) infiltração: é entendida como a passagem da água, que chega ao solo, através da superfície; 
d) percolação: é a redistribuição da água infiltrada, no interior do perfil do solo; 
e) retenção superficial: também denominada armazenagem superficial ou armazenagem 
depressional, é a água armazenada temporariamente na superfície do solo, que fica disponível para a 
infiltração e evaporação; 
f) detenção superficial: é a água armazenada transitoriamente na superfície do solo, na forma de 
lâmina contínua de água, que precede a enxurrada e faz parte dela; 
g) escoamento superficial: é a água que escoa na superfície do solo na forma de enxurrada, após 
terem sido vencidas as demandas iniciais; 
h) escoamento de tronco ou fluxo de caule: é a água que, após ser interceptada pela vegetação, escoa 
pelos caules ou colmos até atingir a superfície do solo; 
i) gotejamento de copa: é a água que, após ser interceptada pelas copas das plantas, cai na superfície 
do solo na forma de gotas, readquirindo velocidade e energia cinética; 
j) evaporação: é a perda de água para a atmosfera. Pode ocorrer a partir de qualquer forma de água 
armazenada, transitória, temporária ou permanentemente, na superfície do solo ou acima dele; 
l) transpiração: é a perda de água através da respiração das plantas para a atmosfera; e 
m) evapotranspiração: é a perda de água para a atmosfera, combinada, na forma de evaporação + 
transpiração. 
A água que infiltra no solo pode se deslocar horizontal ou verticalmente no perfil. Assim, pode 
reaparecer numa cota inferior e contribuir com a enxurrada da bacia na forma de interfluxo ou, 
ainda, alimentar o lençol freático via fluxo de base. A significância da contribuição do interfluxo na 
enxurrada é proporcional à área da bacia. 
Do ponto de vista de conservação de solo, alguns componentes do ciclo hidrológico podem ser 
considerados mais importantes, tais como: precipitação, interceptação, infiltração, retenção 
superficial, detenção superficial e escoamento superficial. 
 
6 - Processos hidrológicos mais importantes: Alguns processos hidrológicos, pela importância que 
tem do ponto de vista da conservação de solo no comportamento de uma bacia, merecem ser 
discutidos mais detalhadamente. 
A) Precipitação: A forma de precipitação que assume maior importância sobre a erosão hídrica do 
solo, nas condições brasileiras, é a chuva. Basicamente, serão discutidos aspectos que tornarão 
possível uma análise quantitativa da questão. Quase sem exceção, os tipos de análises hidrológicas 
anteriormente citadas iniciam com uma discussão geral sobre precipitação. As características 
fundamentais da chuva que são de interesse em termos de previsão das características da enxurrada 
e da distribuição da águano solo dentro de uma bacia incluem: a) intensidade média da chuva, ou 
seja, altura de precipitação em relação ao tempo; b) duração; c) altura total; d) período de retorno; e) 
distribuição da intensidade da chuva com o tempo. 
A intensidade média de chuva é a altura total de precipitação que ocorre em uma duração específica. 
Esta duração ou intervalo de tempo, combinada com a altura de precipitação que ocorre durante 
aquele intervalo, permite definir o que é referido como intensidade média de uma chuva particular. 
De acordo com este conceito, a intensidade é calculada do seguinte modo: 
 
4 
 
A probabilidade de ocorrência de um evento de determinada magnitude é especificada 
quantitativamente pelo intervalo de recorrência ou período de retorno. No caso de uma chuva, é o 
período médio de tempo no qual a mesma é igualada ou superada em magnitude. É o inverso da 
probabilidade. Quanto maior a probabilidade de ocorrência de uma chuva, menor será o período de 
retorno necessário para que a referida chuva seja igualada ou superada em magnitude. 
No planejamento conservacionista, o período de retorno utilizado para a execução de obras 
mecânicas de controle da erosão, como o terraceamento agrícola, é de 15 anos. As razões básicas 
para a adoção deste parâmetro são: (a): os terraços agrícolas, em sistemas convencionais de manejo 
do solo, são planejados para terem uma vida média útil de, aproximadamente, 15 anos. Assim, tem-
se a certeza que, nesse período, nenhuma chuva terá intensidade maior do que aquela levada em 
conta para o planejamento dos referidos terraços, e o sucesso da obra estará garantido para aquele 
período; (b): o custo de implantação de obras dessa natureza, com capacidade de suportar chuvas de 
período de retorno maior do que 15 anos, seria muito elevado, comprometendo sua viabilidade 
econômica; e (c): o eventual rompimento de um sistema de terraços, por chuvas com período de 
retorno maior do que 15 anos, não envolveria risco de vida para os habitantes residentes abaixo da 
área de contribuição dos terraços, como poderia ocorrer, por exemplo, no caso do rompimento de 
uma barragem. 
A distribuição da intensidade da chuva no tempo, registrada em pluviogramas, possibilita 
caracterizar os padrões de chuva. Assim, uma chuva pode apresentar padrão uniforme, padrão 
avançado, padrão intermediário, ou padrão atrasado, conforme ilustrado na figura 1. 
A importância prática do conhecimento das características da chuva, tais como, duração, 
intensidade, altura total e período de retorno, é a possibilidade de elaboração de mapas regionais ou 
estaduais, nos quais são indicadas áreas nas quais as chuvas apresentam características semelhantes. 
Assim, é possível estabelecer curvas que representem a relação intensidade duração (i x d) (Figura 
2), altura x duração (a x d) (Figura 3), intensidade x duração x frequência (i x d x f) (Figura 4) e 
altura duração frequência (a x d x f) (Figura 5) das chuvas para um mesmo local. 
Examinando as chuvas de um determinado local e com frequência (f) fixa, observa-se que a 
intensidade (i) diminui com o aumento da duração (t) para qualquer altura total (At), e que esta 
aumenta com o aumento da intensidade (i), para qualquer duração (t). 
 
 
 
 
 
 Uniforme Avançado Intermediário Atrasado 
Figura 1. Padrões de chuva. 
 
 
 Duração, D Duração, D 
Figura 2. Relação I x D. Figura 3. Relação A x D. 
 
 
5 
 
 
Duração, D Duração, D 
Figura 4. Relação I x D x F Figura 5. Relação A x D x F. 
 
Mantendo-se fixos o local e a altura total (At) de uma chuva, observa-se que, para qualquer 
frequência (f), a intensidade (i) diminui com o aumento da duração (t) da chuva. Para a mesma t de 
chuva, a i aumenta com o aumento da f. Observa-se que, para uma mesma t de chuva, a f aumenta 
com o aumento da At. Ainda, para qualquer f, a At aumenta com o aumento da t. 
A redução de intensidade devido ao aumento de duração das chuvas se deve ao fato de que chuvas 
de longa duração apresentam diâmetro médio de gotas predominantemente pequeno, enquanto o 
contrário ocorre em chuvas de curta duração. Isto explica a relação genérica apresentada na figura 2. 
O aumento de intensidade devido ao aumento da frequência se deve ao fato de que chuvas mais 
intensas ocorrem com menor freqüência, uma vez que a frequência é o inverso da probabilidade. O 
aumento da altura total devido ao aumento de duração da chuva se deve ao fato de que elevadas 
alturas de chuva estão sempre associadas a chuvas de longa duração. O aumento da altura total 
devido ao aumento da frequência pode ser explicado do mesmo modo. 
Modelos conceituais de bacias hidrográficas: O modelo conceitual de bacia hidrográfica define, em 
termos qualitativos, os vários processos físicos conhecidos e que estão envolvidos na determinação 
do comportamento de uma bacia particular, quando sujeita a uma dada chuva. Os modelos 
hidrológicos não são rigorosos. Todos representam aproximações grosseiras dos complexos 
processos físicos. Pelo fato de os modelos hidrológicos serem aproximações, tem-se que ter 
responsabilidade ao se utilizar essas técnicas para decidir quão satisfatoriamente um dado método 
quantitativo avalia o que ocorre dentro de uma bacia hidrográfica sujeita a uma precipitação. 
Primeiro modelo – uma superfície hipotética e impermeável 
Considerar uma precipitação que cai sobre uma superfície uniforme, lisa e completamente 
impermeável. A figura 6 representa (a) alguns dos processos físicos que ocorrem numa bacia 
hidrográfica submetida à chuva e (b) o hidrograma de resposta que poderá ocorrer situação. 
 
 
Figura 6. Perfil de bacia hidrográfica muito pequena, uniforme, lisa e impermeável. 
 
A figura 6b mostra um hidrograma de resposta, ou seja, a distribuição da taxa de enxurrada em 
função do tempo, desde o início até o final de uma chuva. A enxurrada inicia no tempo zero, 
 
6 
 
coincidindo com o início da chuva, aumentando gradualmente com o tempo, até alcançar taxa 
máxima em que se estabiliza. A taxa máxima de enxurrada ocorre no tempo de equilíbrio (te). A 
taxa máxima (constante) de enxurrada continua indefinidamente ao longo do tempo, até que a taxa 
de chuva se modifique ou a chuva cesse. Se em algum tempo a chuva cessa abruptamente (tr), a 
água que está produzindo descarga, armazenada na superfície, escoa, e a taxa de enxurrada decresce 
assintoticamente, até zero. 
Algumas características do hidrograma são importantes e devem ser observadas. Primeiro, as 
regiões do hidrograma chamadas V1 e V2 (Figura 6b) têm áreas iguais. A equação de conservação 
das massas condiciona que toda chuva que chega à superfície tem que necessariamente sair dela, 
supondo-se que não haja evaporação. Assim, o volume de água acumulado na superfície (V1) desde 
o início da chuva até o tempo de equilíbrio (te), é denominado detenção superficial. O volume de 
enxurrada que escoa (V2) a partir do momento em que cessa a chuva (tr), até o final da enxurrada, é 
exatamente igual ao volume (V1), também se considerando que não haja evaporação. Segundo, o 
volume total de enxurrada (Q) corresponde à área sob o hidrograma. Ele é igual à taxa de enxurrada 
(i x A) multiplicada pelo tempo (t) durante o qual a chuva cai. Isto é novamente uma conseqüência 
da condição da conservação das massas, segundo a qual o volume total de enxurrada é igual ao 
volume total de água que cai sobre uma superfície completamente impermeável. Terceiro, o tempo 
de equilíbrio (te) de uma área é uma propriedade adicional do hidrograma. O seu conceito tem sido 
freqüentemente utilizado para caracterizar uma bacia hidrográfica. 
Uma superfície lisa e impermeável, como a que foi considerada aqui, representauma situação muito 
mais simples do que a de uma superfície natural. Assim, ela tem poucas aplicações, ficando restrita, 
por exemplo, a um parque de estacionamento com pavimento de asfalto. Portanto, é necessário 
complicar um pouco a situação para se entender todos os processos que ocorrem e, assim, sugerir 
um modelo conceitual mais real. 
Segundo modelo – uma superfície natural e permeável 
A figura 7 mostra um esquema da situação física que corresponde mais precisamente a uma bacia 
hidrográfica natural típica. O modelo conceitual desenvolvido a seguir descreve os processos físicos 
que ocorrem quando uma determinada área está sujeita a uma precipitação. Para tanto, é preciso 
assumir determinadas condições: (1) a bacia é tão pequena que o solo é uniforme em toda sua 
extensão, do ponto de vista físico e químico; (2) a cobertura vegetal é uniforme e constante em toda 
a área da bacia. Em função disso, é válido supor que uma precipitação tenha uma distribuição 
espacial uniforme em toda a área da bacia. A intensidade da precipitação poderá modificar-se ao 
longo do tempo, mas as modificações serão supostamente uniformes em toda a extensão da bacia. 
Quando uma chuva começa a cair sobre a área recém-descrita, a vegetação eventualmente existente 
protege a superfície do solo contra o impacto das gotas da chuva que precipita. Este processo se 
chama interceptação. Parte da chuva que cai nas áreas não protegidas pela vegetação incide 
diretamente sobre a superfície, desagregando o solo. Imediatamente após a água chegar à superfície, 
uma parte dela começa a infiltrar, enquanto o restante se acumula nas microdepressões do relevo 
rugoso. Quando as demandas combinadas para o armazenamento depressional e interceptação 
estiverem satisfeitas, e a demanda pela infiltração for excedida pela chuva que cai, a água começa a 
se acumular na superfície do solo na forma de detenção superficial. Inicia-se, imediatamente, a 
enxurrada, a qual transporta os sedimentos que haviam sido desagregados. 
A taxa de infiltração e transmissão de água no solo é dependente do arranjo estrutural das partículas 
e da estabilidade dos agregados, os quais influem sobre a distribuição de tamanho de poros e sua 
estabilidade. Outra situação, comum na maioria dos solos agrícolas, é a presença de camadas 
adensadas na subsuperficie do solo, as quais reduzem o volume e a velocidade de infiltração de água 
no solo. Isto acarreta um aumento na taxa e volume total de enxurrada, a qual tende a escoar 
também na superfície da camada compactada (na subsuperficie do solo), transportando o solo 
desagregado acima da camada compactada. A água que infiltra no perfil do solo se movimenta tanto 
vertical quanto horizontalmente. A predominância de uma ou outra forma de movimento depende, 
fundamentalmente, da diferença de potencial total da água existente entre dois pontos no solo. Parte 
 
7 
 
dessa água poderá emergir nas cotas mais baixas da bacia hidrográfica (interfluxo), contribuindo 
para a enxurrada. Do ponto de vista hidrológico, o interfluxo geralmente é tratado como uma 
abstração da precipitação. 
 
 
A seguir serão discutidos os demais processos hidrológicos, considerados de relevância para o 
estudo da conservação do solo. 
B) Infiltração: é o processo hidrológico mais importante na determinação da forma e características 
do hidrograma, para a maioria das bacias hidrográficas. É definida como a água que passa através da 
superfície do solo. Dois termos similares, porém de significado diferente, necessitam ser definidos: 
capacidade de infiltração de água no solo é uma propriedade dos solos e refere-se à taxa a qual a 
água se move no interior do solo, sob uma chuva de ilimitada duração, ou seja, quando o solo se 
encontra em taxa constante de infiltração; taxa de infiltração de água no solo refere-se à taxa 
instantânea a qual a água se move no interior do solo, em qualquer tempo e significa a lâmina de 
água que passa por determinada secção de solo num espaço de tempo definido. Ambas serão 
idênticas somente se o suprimento de água for ilimitado. Assim, a taxa de infiltração de água no 
solo poderá ser maior ou, no mínimo, igual à capacidade de infiltração de água no solo. 
A infiltração de água no solo é controlada pelo selamento da superfície, conteúdo de água do solo 
antecedente à chuva, camada de impedimento na subsuperficie do solo, distribuição da intensidade 
da chuva e estação do ano. 
O selamento superficial é dependente do tipo de solo, práticas culturais, vegetação e intensidade da 
chuva, os quais afetam a infiltração de água no solo. As práticas culturais e a vegetação têm grande 
efeito na proteção da superfície do solo contra a energia de impacto das gotas da chuva. A 
intensidade da chuva é influenciada pelo diâmetro das gotas e sua energia cinética, sendo uma das 
características mais importantes na desagregação da superfície do solo. O selamento superficial 
caracteriza-se por afetar profundamente a porosidade dos primeiros dois a três milímetros da 
superfície em função da desagregação do solo nessa camada e, por isso, regula a infiltração de água 
no solo. 
A quantidade de água existente no solo no início da chuva influencia fortemente a infiltração 
durante a chuva. Assim, após o início da chuva, a taxa de infiltração de água diminui 
assintoticamente ao longo do tempo à medida que aumenta a umidade, até atingir a taxa constante 
de infiltração, a qual se aproxima da condutividade hidráulica saturada, quando o solo encontra-se 
alagado (Figura 8a). A infiltração total de água no solo, por outro lado, aumenta indefinidamente 
enquanto durar a chuva, pois o solo sempre apresenta determinada capacidade de infiltração, por 
menor que seja, a qual ocorre cumulativamente (Figura 8b). 
A distribuição da intensidade de chuva no tempo também influencia a infiltração de água no solo. 
Solos com determinado teor de água têm capacidade de infiltrar água a uma determinada taxa. No 
entanto, pode ocorrer que a taxa de chuva naquele momento seja menor do que a capacidade de 
infiltração de água no solo. Obviamente, a água não pode infiltrar no solo a uma taxa maior do que a 
taxa de queda da chuva. Assim, quando um solo apresenta alta capacidade de infiltração, a taxa de 
 
8 
 
infiltração de água pode ser limitada pela taxa de chuva que está caindo sobre o solo, bem como 
pela enxurrada que provém de áreas vizinhas. 
A estação do ano tem influência indireta sobre a infiltração de água no solo, já que afeta o 
desenvolvimento vegetativo das plantas. Ainda, apresenta grande importância nas regiões 
temperadas, onde periodicamente determina a formação de camadas de gelo e, conseqüentemente, o 
seu degelo. 
 
(a) (b) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Duração, minuto Duração, minuto 
Figura 8. Curvas características de taxa de infiltração (a) e infiltração acumulada (b) de água no 
solo. 
 
O tipo de solo influencia a distribuição de tamanho de partículas e agregados do solo, o que 
condiciona a distribuição de tamanho de poros. Esta é a característica principal que regula a 
infiltração de água no solo. É por isso que solos arenosos apresentam maior capacidade (taxa final) 
de infiltração de água do que solos argilosos (Figura 9a, b). 
 
 
Figura 9. Curvas características de taxa de infiltração de água (a) em solo arenoso e (b) e solo 
argiloso. 
 
O conteúdo de água na subsuperficie do solo está mais intimamente relacionado ao interfluxo 
(infiltração negativa). É mais importante na predição da taxa e quantidade de água que emerge da 
superfície do que propriamente na predição da taxa de infiltração. 
C) Interceptação: significa a quantidade de água que fica armazenada na superfície das plantas. 
Eventualmenteevapora, sendo influenciada pelo tipo de vegetação, pelo estágio de seu crescimento, 
estação do ano e velocidade do vento. 
O tipo de vegetação existente influi muito sobre a quantidade de água interceptada, pela variação na 
densidade foliar. Pela mesma razão, o estágio de desenvolvimento de uma cultura também tem 
efeito diferenciado, aumentando o poder de interceptação com o crescimento da cultura. A estação 
do ano apresenta um efeito indireto, pois influi sobre o tipo de planta e vigor vegetativo das mesmas 
em cada estação. A velocidade do vento influi de três maneiras distintas: quanto maior a velocidade 
do vento maior a evaporação, o que reduz a quantidade de água interceptada; quanto maior a 
velocidade do vento, maior o efeito mecânico de turbulência sobre a folhagem, dificultando a 
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9 
 
armazenagem por interceptação; e, por meio da modificação do ângulo de queda das gotas de chuva 
na superfície. 
D) Retenção superficial: é a água retida temporariamente nas depressões da superfície do solo e não 
faz parte da enxurrada, evaporando ou infiltrando no solo. Poderá fazer parte da enxurrada se, após 
infiltrar-se, emerge numa cota inferior no declive, na forma de interfluxo. Os fatores que influem 
sobre a retenção superficial são o microrelevo ou rugosidade superficial e a declividade da área. O 
microrelevo é influenciado pelo tipo de preparo do solo e equipamento usado, tipo de cultura, tipo 
de erosão predominante e estação do ano. Fundamentalmente, estes fatores condicionam a 
rugosidade superficial e a quantidade de resíduos na superfície do solo e são, em resumo, os 
responsáveis pela armazenagem superficial da água no solo. A declividade do terreno influi porque, 
quando esta aumenta, diminui a capacidade de armazenagem de água das microdepressões da 
rugosidade, conforme ilustra a figura 10. Na mesma condição de microrelevo, a capacidade de 
armazenagem de água diminui com o aumento da declividade do terreno. 
 
 
Figura 10. Armazenagem de água no microrelevo superficial, influenciada pela declividade. 
 
E) Detenção superficial: é a água armazenada transitoriamente na superfície do solo. Representa a 
condição necessária para que se inicie a enxurrada e, portanto, faz parte dela, uma vez que, neste 
estágio, a água acumulada forma uma lâmina na superfície do solo. Os principais fatores que 
influem sobre a detenção superficial são o microrelevo, declividade, vegetação, topografia geral da 
área e distribuição do excesso de chuva. O microrelevo superficial é influenciado pela forma de 
secção transversal, quantidade e profundidade dos sulcos de erosão pré-existentes, bem como pelos 
demais fatores relacionados com a rugosidade, os quais foram discutidos no item anterior (retenção 
superficial). A vegetação está relacionada com o tipo de prática cultural empregada e com os 
resíduos culturais que influenciam a rugosidade hidráulica. Assim, a rugosidade hidráulica e as 
características das secções transversais dos sulcos de erosão são os principais fatores que 
influenciam a detenção superficial da água. A declividade condiciona a velocidade da enxurrada e a 
topografia geral da bacia hidrográfica influencia o volume de água vinda de áreas vizinhas, o qual 
poderá fluir para dentro da bacia de estudo. Isto poderá determinar o aumento no volume de 
detenção superficial na área de estudo. Quanto maior o excesso de chuva, maior a espessura da 
lâmina de água acumulada na forma de detenção superficial, se forem mantidas constantes as 
demais abstrações. 
F) Escoamento superficial, ou enxurrada: após terem sido atendidas as abstrações iniciais da 
precipitação, por meio da interceptação, infiltração, retenção superficial e detenção superficial, o 
excesso de água da precipitação tende a escoar superficialmente na forma de enxurrada. Do ponto 
de vista da conservação do solo, este é o processo hidrológico mais importante. Os fatores que 
influenciam a enxurrada são: a rugosidade hidráulica, declividade do terreno e a altura de chuva. A 
rugosidade hidráulica é influenciada pelo microrelevo da superfície, que, ao aumentar, aumenta a 
armazenagem superficial de água e, por isso, diminui o escoamento superficial. A rugosidade 
hidráulica é influenciada pelo tipo de preparo e de manejo do solo. Vários são os tipos de preparo e 
de manejo do solo possíveis. O preparo convencional (PC) tradicionalmente é realizado com uma 
aração+duas gradagens; o preparo reduzido (PR) com uma escarificação+uma gradagem, ou, com 
uma gradagem+uma escarificação (RP), podendo também ser apenas uma escarificação (ES); na 
 
10 
 
semeadura direta (SD) o solo é mantido sem preparo antes da semeadura; e o solo sem cultivo (SC) 
é realizado com preparo convencional sem culturas (SC). Além disso, o campo nativo (CN) pode 
ser manejado de duas formas distintas: campo nativo queimado (CQ); e campo nativo apenas 
dessecado (CD). 
 Em declividade mais acentuada o escoamento superficial tende a ser maior porque aumenta a 
velocidade e a altura de enxurrada. A medida que aumenta a altura de chuva aumenta a 
profundidade do fluxo, o que faz aumentar a enxurrada. 
A quantificação da enxurrada permite obter-se o volume total e a taxa máxima. O volume total pode 
ser expresso em termos de lâmina de escoamento, independentemente da área, ou, em termos de 
volume escoado em determinada área. O volume de enxurrada expresso na forma de lâmina refere-
se a uma porcentagem da chuva que, ao seu final, transforma-se em enxurrada. O volume de 
enxurrada em determinada área é o resultado do produto da lâmina de enxurrada pela área que 
produz tal enxurrada. A taxa máxima de enxurrada, ou pico da enxurrada, ocorre no momento em a 
taxa de infiltração de água no solo é mínima, ou constante. Para o cálculo da taxa máxima de 
enxurrada existem vários métodos. A seguir será feita uma análise resumida do método que utiliza a 
Fórmula Racional. 
A Fórmula Racional foi desenvolvida para prever a taxa máxima de enxurrada que provavelmente 
acontecerá, em um determinado momento durante a ocorrência de uma chuva, considerando uma 
dada probabilidade de ocorrência da chuva, sendo dada pela seguinte equação: 
q = Cia/360, onde: [1] 
q = vazão máxima estimada (m
3
 s
-1
); 
 i = intensidade da chuva (mm h
-1
); 
A = área de captação da bacia (ha); 
C = coeficiente de escoamento, ou de enxurrada, o qual significa a razão entre a taxa de enxurrada e 
a taxa de chuva (constante de proporcionalidade), o qual varia de 0 a 1 e expressa a fração da chuva 
que durante a chuva torna-se enxurrada, portanto, é adimensional: 
C = q i
-1
, onde: [2] 
q = taxa de enxurrada em qualquer instante (mm h
-1
); 
Quando C é um, significa que a taxa de enxurrada corresponde a 100% da taxa de chuva; quando C 
é igual a 0,5, a taxa de enxurrada corresponde a 50% da taxa de chuva e, quando C é zero, não está 
ocorrendo enxurrada, pois toda a água da chuva está infiltrando; Valores de coeficiente de 
escoamento para diversos locais, tipos de solo e condições de cultivo e manejo do solo, podem ser 
visualizados nas tabelas 1, 2, 3, 4 e 5; e 
360 = é um fator de ajuste que permite expressar a vazão máxima esperada em m
3
 s
-1
. 
Nas regiões onde não há registro de chuvas por pluviógrafo, a obtenção da intensidade máxima 
média das chuvas, a serem utilizadas no cálculo da vazão, pode ser um problema. Sabe-se que à 
medida que aumenta a duração da chuva diminui sua intensidade e, ainda, que a intensidade 
máxima das chuvas varia de local para local, de acordo com a variação das características das gotas 
da chuva. Assim, é possível obter-se aintensidade máxima média das chuvas por meio de 
expressões matemáticas, de vários tipos, relacionando suas intensidades e durações. O tipo de curva 
produzida por essa relação varia de local para local, conforme a variação nas características das 
chuvas estudadas, porém, seu comportamento genérico é sempre o mesmo. Uma das expressões 
matemáticas mais utilizadas para a obtenção da intensidade máxima média da chuva em relação à 
sua duração, para um determinado local e período de retorno, é a seguinte: 
i = (a T
b
)/(t+c)
d
 [3] 
i = intensidade máxima média da chuva (mm h
-1
); 
T = período de retorno (ano); 
t = duração da chuva (minuto); e 
a, b, c, d = parâmetros de ajuste, obtidos por regressão. 
Para calcular a intensidade máxima média das chuvas pela equação 8, é necessário determinar-se os 
valores das constantes a, b, c, e d, estabelecer o período de retorno (T) que se deseja trabalhar e 
 
11 
 
obter a duração das chuvas (t). Para que a taxa de enxurrada estimada pela Fórmula Racional seja 
efetivamente máxima, é necessário considerar a duração da chuva (t) como sendo igual ao tempo de 
equilíbrio da bacia (te). 
 
Tabela 1. Valores de coeficiente de enxurrada, C, desenvolvidos pelo Serviço de Conservação 
do Solo dos EUA, para o grupo hidrológico de solo B em microbacias hidrográficas 
Cobertura e manejo do solo Coeficiente C para taxas de chuva com intensidades de 
 25 mm h
-1
 100 mm h
-1
 200 mm h
-1
 
Cultura em fileira, mau manejo 0,63 0,65 0,66 
Cultura em fileira, bom manejo 0,47 0,56 0,62 
Pequenos grãos, mau manejo 0,38 0,38 0,38 
Pequenos grãos, bom manejo 0,18 0,21 0,22 
Pastagem em rotação, bom manejo 0,29 0,36 0,39 
Pastagem perene, bom manejo 0,02 0,17 0,23 
Floresta, bom manejo 0,02 0,10 0,15 
Fatores de conversão dos grupos hidrológicos de solo 
Cobertura e manejo do solo Fatores de conversão de C do solo B para os solos: 
 A C D 
Cultura em fileira, mau manejo 0,89 1,09 1,12 
Cultura em fileira, bom manejo 0,86 1,09 1,14 
Pequenos grãos, mau manejo 0,86 1,11 1,16 
Pequenos grãos, bom manejo 0,84 1,11 1,16 
Pastagem em rotação, bom manejo 0,81 1,13 1,18 
Pastagem perene, bom manejo 0,64 1,21 1,31 
Floresta, bom manejo 0,45 1,27 1,40 
Grupos hidrológicos de solo e taxa constante de infiltração de água no solo (TC) 
Solo Descrição TC (mm h
-1
) 
A Baixo potencial de enxurrada. Areias profundas, com pouco silte e 
argila e solos siltosos rapidamente permeáveis 
 
8 – 12 
B Moderadamente baixo potencial de enxurrada. Principalmente solos 
arenosos, menos profundos, siltosos e agregados do que A 
 
4 – 8 
C Potencial de enxurrada moderadamente alto. Solos rasos com grande 
quantidade de argilas e colóides, embora menores do que D 
 
1 – 4 
D Alto potencial de enxurrada, principalmente com argilas expansivas, 
também solos rasos com horizontes inferiores menos permeáveis 
 
0 – 1 
 
Tabela 2. Coeficientes de escoamento, C, para São Paulo 
Uso do solo Coeficiente C 
Ondulada (5 a 10 % de declividade) 
Com culturas anuais 0,60 
Com pastagens 0,36 
Com florestas 0,18 
Montanhosa (10 a 30 % de declividade) 
Com culturas anuais 0,72 
Com pastagens 0,42 
Com florestas 0,21 
 
No Brasil também existem alguns valores de coeficiente de escoamento já determinados, embora 
mais simplificados em virtude da deficiência de informações obtidas. Os valores de C obtidos para 
São Paulo (Tabela 2) e Rio Grande do Sul (Tabela 3) não levam em conta o tipo de solo e 
características da chuva. Isto é explicado porque os principais fatores que influem sobre o 
 
12 
 
coeficiente de escoamento, na Fórmula Racional, são declividade, vegetação e manejo do solo. Os 
demais fatores, no entanto, também têm grande importância sobre o coeficiente C e devem ser 
considerados em trabalhos mais detalhados. 
 
Tabela 3. Coeficientes de escoamento, C, para o Rio Grande do Sul 
Uso do solo Coeficiente C 
 1 – 5 % 5 – 10 % 10 – 30 % 30 – 40 % 
Culturas anuais 0,50 0,60 0,70 1,00 
Pastagens 0,30 0,35 0,40 0,60 
Florestas 0,20 0,20 0,20 0,30 
 
Tabela 4. Coeficientes de escoamento, C, em Santa Catarina, para quatro culturas e cinco sistemas 
de manejo do solo, em um Nitossolo, obtidos com chuva simulada 
Tipo de manejo do solo Milho Feijão Feijão Soja 
PC 0,39 0,57 0,51 0,49 
CQ 0,36 0,52 0,44 0,44 
CD 0,32 0,40 0,42 0,38 
SD 0,29 0,33 0,33 0,32 
CN 0,29 0,30 0,29 0,30 
 
Tabela 5. Coeficientes de escoamento, C, em Santa Catarina, para três culturas em duas formas de 
semeadura em um Nitossolo, obtidos com chuva simulada 
Tratamento Milho Trigo Soja 
Contorno, 9,6 t ha
-1
 de resíduo 0,56 - - 
Pendente, 9,6 t ha
-1
 de resíduo 0,61 - - 
Contorno, 2,6 t ha
-1
 de resíduo - 0,39 - 
Pendente, 2,6 t ha
-1
 de resíduo - 0,44 - 
Contorno, 4,6 t ha
-1
 de resíduo - - 0,50 
Pendente, 4,6 t ha
-1
 de resíduo - - 0,55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
PARTE II – EROSÃO DO SOLO 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 A erosão do solo foi um dos principais fatores que causaram a ruína das primeiras 
civilizações humanas e a queda de importantes impérios, na antiguidade. Cidades inteiras foram 
arruinadas, após terem sido construídas com recursos obtidos a partir da produção agrícola em terras 
naturalmente férteis. Os desertos antigos do Norte da China, Pérsia, Mesopotâmia e Norte da África, 
além de outros mais recentes, têm a mesma origem, ou seja, o gradual esgotamento do solo pela 
excessiva exploração e, ao mesmo tempo, degradação pela erosão. A decadência do Império 
Romano é outro exemplo que a história apresenta, basicamente causada pela degradação química e 
erosão do solo. 
 É indiscutível que a erosão do solo é, ainda hoje, um dos problemas mais sérios da 
humanidade. Ela já arruinou milhões de hectares de terras cultivadas, alijando-as do processo 
produtivo e, ainda, reduziu a capacidade produtiva de outras áreas de terra, colocando-as numa 
situação de marginalidade do ponto de vista da produtividade competitiva. Outro aspecto, não 
menos importante, decorrente da erosão do solo, é a contaminação ambiental ocasionada pelo 
expressivo e constante aporte de sedimentos, pesticidas e nutrientes para as águas, causando sérios 
problemas de eutrofização, dentre outros, com enormes custos para seu tratamento e adequação para 
o consumo humano e animal. 
 As razões acima referidas, além de outras, são suficientes para a constante preocupação com 
a erosão do solo, especialmente a erosão hídrica pluvial. Por isso, é fundamental o seu estudo, da 
forma mais abrangente possível e, ao mesmo tempo, detalhada, nos Cursos de Agronomia. 
 
2. EROSÃO DO SOLO 
 
Considerações gerais 
 
Definição: O termo erosão significa desgaste. Assim, a erosão do solo poderia ser definida como o 
desgaste do solo. Entretanto, para melhor compreensão do assunto, é conveniente abordar alguns 
aspectos básicos envolvidos no estudo da erosão do solo. 
Agentes erosivos: os principais agentes naturais causadores da erosão do solo são a água e o vento. 
Água - a água é o agente simples de erosão mais importante. As águas das chuvas, rios, mares, 
lagos, neve, geleiras, etc., todas possuem capacidade de erodir o solo. Basta, para isso, que estejam 
em movimento. 
Vento - o vento é outro importante agente de erosão. Por si só, ele não tem capacidade de desgastar 
a rocha, porém, a abrasão, até mesmo de rochas duras, resulta da ação dos grânulos de areia ou de 
solo carregados em suspensão pelo vento. Em relação ao solo, o vento, por si só, possui capacidade 
de iniciar o movimento das partículas ecausar séria erosão. 
Além da água e do vento, outros agentes naturais, tais como as mudanças de temperatura, a 
atividade biológica e o gelo, podem, também, contribuir para a erosão do solo, embora sejam 
agentes que atuam indiretamente no processo erosivo. O principal efeito desses agentes é a 
“perturbação” que causam nas rochas e solos, acelerando o efeito erosivo da água e do vento. 
Classes de erosão do solo: com base no agente causador, existem três classes de erosão: 
a) erosão hídrica: causada pela água; 
b) erosão eólica: causada pelo vento; e 
c) erosão glacial: causada pelo degelo. 
Dependendo da origem da água a erosão hídrica pode ser pluvial, quando causada pela água das 
chuvas; fluvial, quando causada pela água dos rios; lacustre, quando causada pela água dos lagos; e 
marinha, quando causada pela água dos mares. 
 
14 
 
Tipos de erosão: basicamente, existem dois tipos de erosão: 
a) Erosão natural: também denominada erosão geológica, é causada pelos agentes erosivos durante 
longos períodos de tempo, sem a interferência do homem, em seu meio natural. É a erosão 
responsável pelo desgaste das rochas e montanhas, formação de planícies aluviais e rochas 
sedimentares. É, enfim, a erosão responsável pela formação dos solos. Por isso, é um tipo de erosão 
útil, cujos processos de desgaste estão em equilíbrio dinâmico com os processos de formação dos 
solos. 
b) Erosão induzida: também denominada erosão acelerada, é causada pelos agentes erosivos durante 
curtos espaços de tempo, com a interferência do homem. Este tipo se superpõe à erosão natural e 
deve-se às atividades do homem que altera a cobertura e as condições naturais do solo, quando 
utiliza a terra para quaisquer fins. O equilíbrio dinâmico natural entre as forças de desgaste e de 
formação dos solos é rompido, causando a erosão induzida do solo. Este é o tipo de erosão que 
preocupa, pois é o responsável por perdas de grandes quantidades de solo. 
Fontes e formas de energia erosiva: a erosão é o resultado de um trabalho. Quando uma força (vento 
ou água) em movimento age contra uma resistência (rochas ou solo) ela pode produzir movimento 
em um corpo (partículas de rochas ou solo) e, assim, a referida força está realizando um trabalho. 
Nesse trabalho é aplicada uma determinada quantidade de energia que, no caso do solo, é 
ocasionada pelo movimento de água, vento ou sólidos, pela energia termal ou pela gravidade. Todos 
os agentes erosivos obtêm sua energia do sol, gravitação e rotação da terra e dos movimentos 
geológicos da crosta terrestre. A energia é manifestada basicamente de duas formas: 
a) energia cinética: é a forma de energia decorrente do movimento dos corpos. É proporcional à 
massa do corpo e ao quadrado da velocidade. A energia cinética Ec de uma massa m 
movimentando-se a uma velocidade v é: 
Ec = (½ m v
2
) [4] 
A massa em movimento possui energia cinética. Na erosão do solo, a massa pode constituir-se de 
água, ar ou solo; e 
b) energia potencial: é a forma de energia decorrente da posição de um corpo em relação ao espaço. 
A energia potencial Ep de uma massa m produzida através de uma distância h é: 
Ep = (m h g), onde: [5] 
g = aceleração da gravidade. 
Considerando-se que a gravidade é essencialmente constante, a energia potencial de uma massa de 
solo é proporcional à sua altura acima do nível para o qual ela descende. A quantidade máxima de 
energia potencial disponível para auxiliar na erosão do solo é determinada pela altura da massa de 
solo acima do nível base de erosão. Para muitos locais, este nível base é o mar. Para o caso 
individual da erosão do solo, a quantidade de energia potencial depende da diferença de elevação 
entre a posição original da massa e o pé do declive, ou seja, depende da declividade do terreno. 
Geralmente, a erosão superficial das terras agrícolas é causada pela energia cinética da água em 
movimento, enquanto que os movimentos de massa são geralmente causados pela energia potencial 
resultante da posição da massa de solo acima de um ponto para o qual ela pode deslizar ou cair. 
Tanto a energia cinética quanto a energia potencial contribuem para a erosão superficial, nas formas 
de erosão em entre sulcos, em sulcos e em voçorocas. 
Fases da erosão: a erosão sempre se processa em três fases, às vezes nem sempre muito distintas 
uma das outras, pois elas podem realizar-se concomitantemente. As três fases básicas do processo 
erosivo são: desagregação, transporte e deposição. 
a) Desagregação: a desagregação consiste no desprendimento ou ruptura dos grânulos de rocha ou 
solo ou de microagregados da massa que os contém. É a primeira e mais importante fase do 
processo erosivo, pois, se não houver a desagregação inicial das partículas dificilmente haverá 
transporte e deposição. 
b) Transporte: o transporte consiste na remoção das partículas desagregadas para algum lugar 
distante do ponto de origem. É a segunda fase do processo erosivo, pois, após as partículas terem 
sido desagregadas pelos agentes erosivos, estes mesmos agentes as transportam. 
 
15 
 
c) Deposição: a deposição consiste na parada do material desagregado e transportado, em algum 
ponto sobre a superfície da terra. É a terceira e última fase do processo erosivo. 
Experimentos têm demonstrado que diferentes solos comportam-se de maneira completamente 
diferente em cada uma dessas fases. As partículas de areia são mais facilmente desagregadas do que 
as de argila, porém, estas últimas são mais facilmente transportadas do que as primeiras. Isto será 
discutido mais detalhadamente adiante. 
Definição de erosão do solo: uma vez abordados os aspectos fundamentais sobre o processo de 
erosão, pode-se definir a erosão do solo em termos mais específicos como “um processo de 
desagregação, transporte e deposição das partículas de solo causado pelos agentes erosivos água e 
vento, fortemente influenciado pelas atividades do homem”. É o desgaste induzido das terras 
agrícolas, com a remoção de solo do seu local original. 
 
3. MECANISMO DE EROSÃO HÍDRICA PLUVIAL DO SOLO 
 
1. Descrição do processo de erosão hídrica: como visto anteriormente, o processo de erosão 
compreende as fases de desagregação, transporte e deposição das partículas de solo pelos agentes 
erosivos. Na erosão hídrica pluvial, os principais agentes erosivos são: o impacto das gotas da chuva 
sobre o solo descoberto e o escoamento superficial da água. 
Conceitualmente, o processo de erosão hídrica pluvial do solo pode ser descrito da seguinte forma: 
assim que a chuva começa a precipitar, a vegetação eventualmente existente protege a superfície do 
solo do impacto direto da chuva. Este processo físico é chamado de interceptação. As partes da 
superfície do solo que não estiverem protegidas pela vegetação são atingidas diretamente pelo 
impacto das gotas de chuva. Esta ação de impacto das gotas dá início ao processo de desagregação 
do solo devido à grande quantidade de energia cinética contida nas mesmas. Assim, as partículas de 
solo são desprendidas da massa original que as contém, sendo lançadas em todas as direções. Este 
processo inicial de desagregação é denominado de erosão de salpico ou erosão de impacto das gotas 
de chuva e é muito importante. Uma parte da água da chuva entra no solo na forma de infiltração, 
enquanto o restante é armazenado nas pequenas depressões da superfície rugosa do terreno, na 
forma de retenção superficial. Uma vez satisfeitas as demandas combinadas para interceptação, 
retenção superficial e a continuidade da infiltração, a água começa a acumular em uma condição de 
detenção superficial e, então, escoa sobre o solo na forma de enxurrada. Neste momento, pode 
começar a ocorrer o transporte daspartículas de solo desagregadas. Quando a capacidade de 
transporte da enxurrada é maior do que a carga de sedimentos contida nela, ocorre o transporte. No 
entanto, quando a carga de sedimentos contida na enxurrada for maior do que a sua capacidade de 
transporte, a deposição ocorre, a qual é a última fase do processo erosivo. Os sedimentos 
transportados pela enxurrada podem chegar até os rios e serem transportados por eles e, assim, 
alcançarem o oceano. No entanto, alguns sedimentos são depositados no fim dos declives, em 
reservatórios e sobre as planícies aluviais, ao longo de seu percurso. Alguns sedimentos, no entanto, 
são depositados, temporariamente, sobre o próprio declive, de onde podem ser removidos, por 
chuvas subseqüentes, para locais mais distantes. 
A importância relativa das três fases do processo de erosão hídrica pluvial depende se elas estão 
ocorrendo sobre áreas de solo entre os sulcos ou nos sulcos, bem como dos níveis das varáveis 
controladoras de cada fase. 
Um melhor entendimento do processo de erosão hídrica pluvial é obtido separando-o em erosão 
entre sulcos e erosão em sulcos. O escoamento superficial na forma laminar normalmente ocorre 
numa curta distância antes que ele comece a concentra-se, denominando-se fluxo entre sulcos ou 
fluxo laminar. À medida que se move no sentido do declive, o fluxo tende a concentrar-se devido às 
marcas de preparo do solo, microtopografia natural do terreno ou marcas de erosão anterior. Esta 
concentração superficial da água é denominada fluxo em sulcos ou fluxo concentrado. Essas formas 
de erosão, entre sulcos e em sulcos, podem ocorrer de quatro modos distintos: 
a) desagregação de solo pelo impacto das gotas da chuva; 
 
16 
 
b) transporte de solo pelo impacto das gotas da chuva; 
c) desagregação de solo pelo escoamento superficial; e 
d) transporte de solo pelo escoamento superficial. 
A importância relativa de cada um desses modos de erosão varia grandemente, dependendo das 
condições de chuva e superfície do solo. 
O impacto das gotas da chuva é o fator dominante na desagregação de solo sobre as áreas entre 
sulcos. O delgado filme de água ou fluxo laminar sobre as áreas entre sulcos tem muito pouca 
capacidade de desagregação e transporte, na ausência do impacto das gotas da chuva; na presença 
das gotas, no entanto, a capacidade de transporte do fluxo laminar é muito maior. A maior parte das 
partículas desagregadas, movidas a alguma distância sobre as áreas entre sulcos, é transportada pelo 
fluxo laminar. 
A enxurrada é o fator dominante na desagregação e transporte das partículas de solo sobre as áreas 
nos sulcos. A erosão em sulcos começa quando a capacidade de desagregação do fluxo em sulcos 
em algum ponto do terreno excede a habilidade das partículas de solo de resistir à desagregação pelo 
fluxo concentrado. A maior parte do transporte de solo das áreas agrícolas é realizada pelo fluxo em 
sulcos. 
A erosão entre sulcos é essencialmente independente da erosão nos sulcos, mas esta depende 
grandemente da quantidade de sedimentos fornecida por aquela. Se a quantidade de sedimentos 
fornecida pela erosão entre sulcos é maior do que a capacidade de transporte do fluxo em sulcos, 
ocorre a deposição dos sedimentos. Se a carga de sedimentos proveniente das áreas entre sulcos é 
menor do que a capacidade de transporte do fluxo em sulcos e, se as forças erosivas do fluxo 
concentrado excedem a resistência do solo nos sulcos à desagregação pelo fluxo concentrado, então 
ocorre erosão em sulcos. Embora possa existir excesso de capacidade de transporte sobre as áreas 
entre sulcos, ela não é somada à capacidade de transporte do fluxo de água nos sulcos. Por outro 
lado, o excesso de capacidade de transporte nos sulcos não está disponível para transportar o solo 
desagregado por impacto das gotas da chuva sobre as áreas entre sulcos, se este solo não chega aos 
sulcos. 
 
2. Formas de erosão hídrica: existem quatro formas principais de erosão hídrica do solo: 
a) erosão entre sulcos: esta forma de erosão se processa nas porções mais ou menos lisas do terreno, 
onde ocorre o fluxo laminar delgado de água. A desagregação de solo é feita pelo impacto das gotas 
da chuva e o transporte dos sedimentos principalmente pelo fluxo laminar; 
b) erosão em sulcos: esta forma de erosão ocorre nos pequenos canais existentes na superfície do 
terreno, onde o fluxo de água se concentra. A desagregação e o transporte de solo são realizados 
principalmente pelo escoamento superficial da água nos sulcos; 
c) erosão em voçorocas: é semelhante à erosão em sulcos, exceto no que se refere ao tamanho dos 
sulcos e, conseqüentemente, no volume do fluxo. A desagregação na base do canal é causada pela 
enxurrada concentrada, enquanto a desagregação nas paredes da voçoroca é causada pelo impacto 
das gotas da chuva e o transporte é feito pelo fluxo concentrado. É comum o desmoronamento das 
paredes de uma voçoroca, denotando o efeito da energia potencial. A erosão em voçorocas 
representa um estágio avançado da erosão em sulcos; e 
d) erosão em cursos d’água: é a remoção dos materiais de solo dos taludes e do leito dos cursos 
d’água, intermitentes ou permanentes. O processo erosivo é essencialmente causado pelo 
escoamento superficial da água. 
A importância das diferentes formas de erosão hídrica pluvial e as prioridades dadas ao seu controle 
requer uma análise de qual é o problema e quais os objetivos do programa de prevenção da erosão. 
Se o problema é redução na capacidade produtiva do solo no que se refere às culturas alimentícias, a 
erosão entre sulcos e em sulcos torna-se prioritária em relação ao controle. Contudo, se o problema 
é a alta carga de sedimentos nos cursos d’água e rios, ameaçando o assoreamento de represas, então 
a prioridade de controle deve ser dada à erosão em voçorocas e em taludes dos cursos d’água. 
Grandes quantidades de solo perdidas das terras agrícolas podem ser retidas pela vegetação ou 
 
17 
 
serem depositadas antes de alcançar os mananciais de água. No entanto, sedimentos erodidos pela 
erosão em voçorocas e cursos d’água, vão direta e totalmente para dentro dos rios. 
 
3. Fatores que afetam a erosão hídrica pluvial: a erosão hídrica pluvial do solo se manifesta com 
intensidade variável, condicionada por vários fatores, os quais serão discutidos a seguir. 
a) Chuva: a chuva é o fator causador da erosão hídrica pluvial do solo. Para um melhor 
entendimento do efeito da chuva sobre a erosão, é necessário estudar as suas diversas características, 
tais como: 
- o tamanho, a velocidade e a forma das gotas: são as características básicas que definem a chuva. 
As gotas da chuva variam em tamanho, desde gotículas menores do que 1 mm, até gotas de 
aproximadamente 7 mm de diâmetro. A maior parte das gotas de chuva apresenta, no entanto, 
diâmetro entre 1 e 4 mm. Em cada instante da chuva ocorre uma grande variedade de tamanho de 
gotas. Há uma correlação bem definida entre tamanho médio de gotas e intensidade da chuva. O 
tamanho médio varia desde levemente acima de 1 mm para uma intensidade de 1,3 mm h
-1
, até 
levemente maior do que 3 mm para uma intensidade de 102 mm h
-1
, ou seja, para um aumento de 
três vezes no tamanho médio das gotas, a intensidade da chuva aumenta 80 vezes (Tabela 6). 
 
Tabela 6. Diâmetro médio de gotas e intensidade de chuva natural 
Diâmetro (mm) Aumento Intensidade (mm h
-1
) Aumento 
0,75 – 1 
 
 
4,3 
Vezes 
 
 
 
0,255 
 
 
597,6 
Vezes 
 
 
 
1 – 1,25 1,27 
1,25 – 1,5 2,54 
1,5 - 2 12,7 
2 – 2,25 25,4 
2,25 – 2,5 50,8 
2,5 – 3 101,6 
3 – 3,25 152,4 
 
A velocidade de queda das gotas da chuva é determinada pelagravidade, resistência do ar e vento. 
A gravidade atua uniformemente sobre as gotas de todos os tamanhos, porém a resistência do ar é 
maior por unidade de massa de água quanto menor for o diâmetro médio da gota, na ausência do 
vento. À medida que aumenta o tamanho médio da gota, aumenta a velocidade de queda (Tabela 7). 
 
Tabela 7. Diâmetro de gotas e velocidade de queda das gotas de chuva natural (últimos 20 m 
acima da superfície da terra, em queda livre, na ausência de vento) 
Diâmetro (mm) Aumento Velocidade (m s
-1
) Aumento 
1,25 
 
 
4,8 
Vezes 
4,85 
 
 
1,9 
Vezes 
1,5 5,51 
2 6,58 
3 8,06 
4 8,86 
5 9,25 
6 9,3 
 
A tabela 7 mostra que um aumento no tamanho médio das gotas acarreta um aumento na velocidade 
de queda das mesmas, porém, a taxa de aumento na velocidade de queda diminui com a taxa de 
aumento no diâmetro médio das gotas. Parte da razão para este comportamento é a forma das gotas. 
As gotas de chuva muito pequenas são quase esféricas. A grande curvatura da superfície provoca 
tensão superficial, a qual mantém as gotas com forma esférica. Gotas maiores achatadas, oblongas, 
com uma superfície mais chata no lado inferior do que no lado superior. A menor curvatura da 
superfície das gotas maiores cria uma quantidade de tensão superficial menor do que nas gotas 
 
18 
 
menores. Por isso, as gotas maiores rompem-se, como resultado da resistência do ar, razão pela qual 
raramente existem gotas de chuva maiores do que 7 mm de diâmetro. 
O vento pode contribuir materialmente para a velocidade com a qual as gotas da chuva golpeiam o 
solo, algumas vezes aumentando e, outras, diminuindo a velocidade de queda das gotas. 
- a intensidade da chuva: refere-se à quantidade de água que cai num determinado espaço de tempo. 
A intensidade da chuva, por si só, é um importante fator que afeta a desagregação do solo e 
escoamento superficial da água, com maior efeito sobre a desagregação em solo descoberto. 
Aumentando a intensidade da chuva aumenta a erosão do solo devido a maior energia de impacto 
das gotas sobre o solo descoberto, resultando em maior desagregação e, conseqüentemente, em 
menor infiltração de água, com aumento também na enxurrada. Como um índice geral, a erosão do 
solo é proporcional ao quadrado da intensidade da chuva (E œ i2); isto quer dizer que, quando a 
intensidade dobra, a erosão aumenta em aproximadamente quatro vezes (Tabela 8); 
 
Tabela 8. Duração e intensidade de chuvas e perdas de solo e água por erosão hídrica pluvial 
Duração (min) Intensidade (mm h
-1
) Perda de solo (t ha
-1
) Perda de água (% chuva) 
30 60 6 54 
15 120 15,3 64 
 
- a duração da chuva: é o complemento da intensidade. A associação da intensidade e da duração da 
chuva determina a precipitação total. Se numa região ocorrerem duas chuvas de 50 mm e com 
intensidade diferente, uma com duração de duas horas (25 mm h
-1
) e, outra, com duração de 5 horas 
(10 mm h
-1
), a primeira ocasiona maior erosão do que a segunda devido a maior intensidade. Para 
uma mesma intensidade, a chuva de maior duração causa maior quantidade total de chuva e, 
portanto, maior erosão; 
- a quantidade total de chuva: é o volume total de chuva que cai em um determinado período de 
tempo. A quantidade total de chuva exerce uma influência direta sobre a erosão porque todos os 
solos possuem um limite de absorção de água. Ultrapassado tal limite, o excesso de água escoa 
sobre o terreno, causando a erosão do solo. Chuvas de pequeno volume raramente causam 
enxurradas, ao passo que chuvas de grande volume saturam o solo e causam grandes enxurradas. 
Para uma mesma intensidade de chuva, a chuva de maior volume causa maior erosão; 
- a freqüência das chuvas: refere-se ao intervalo de tempo entre duas chuvas consecutivas. Se os 
intervalos de tempo entre as chuvas são curtos, o teor de água no solo é alto e os riscos de erosão 
aumentam em relação a intervalos de tempo longos entre chuvas, durante os quais o teor de água no 
solo é baixo. Se o intervalo de tempo entre uma chuva e outra é curto, chuvas de baixa intensidade 
podem causar séria erosão, devido ao teor de água no solo, mais do que chuvas de maior intensidade 
com longo intervalo de tempo entre duas chuvas (Tabela 9). 
 
Tabela 9. Freqüência de chuvas e erosão hídrica pluvial do solo 
Data da chuva 
anterior 
Data da chuva 
que a causou 
erosão 
Intensidade da 
chuva (mm h-1) 
Volume 
chuva 
(mm) 
Perda de solo 
(t ha
-1
) 
Perda de água 
(mm) 
03/08 20/08 36 18 0 0,1 
20/10 22/10 24 12,5 0,5 2,4 
 
Baseado no que foi exposto até o momento não se faz deduções seguras a respeito da erosão, com 
base em uma única característica da chuva. Deve-se, sempre, levar em conta as características 
combinadas da intensidade, duração, quantidade total e freqüência das chuvas; 
 - a energia cinética da chuva: é a característica simples da chuva mais importante no estudo da 
erosão do solo, uma vez que ela é a principal responsável pela desagregação do solo superficial. A 
energia cinética total da chuva, por si só, afeta a erosão do solo. No entanto, uma correlação mais 
estreita com a erosão é obtida pela interação da energia cinética da chuva com sua intensidade 
 
19 
 
máxima em 30 minutos. Este efeito multiplicativo proporciona uma boa medida do poder da chuva 
em causar erosão. 
Durante uma chuva ocorrem segmentos com intensidade distinta entre eles, por isso, deve-se 
calcular a energia cinética para cada segmento da chuva, no qual a intensidade é uniforme e somar 
os valores de Ec dos diversos segmentos para obter a energia cinética total (Ect). A Ect, 
multiplicada pela sua intensidade máxima em 30 minutos, I30, resulta no índice de erosividade da 
chuva, EI30. Quanto maior o valor do EI30 maior o potencial erosivo da chuva; e 
- a distribuição sazonal da chuva: determina, em grande parte, se uma dada quantidade de chuva 
causa erosão ou não. Isto depende dos tipos de precipitação que ocorrem nas diversas estações do 
ano e da quantidade de cobertura vegetal do solo fornecida pelas culturas. 
b) Solo: a quantidade de erosão pluvial depende da combinação do poder da chuva em causar erosão 
e da habilidade do solo em resistir à ação da chuva. O solo é o agente passivo no processo de 
erosão, visto que ele sofre a ação dos agentes da chuva, ou seja, o impacto das gotas e o escoamento 
superficial da água. A resistência do solo à erosão depende das suas propriedades físicas, químicas, 
mineralógicas e biológicas, as quais determinam se o solo é mais ou menos susceptível à erosão. A 
maior ou menor suscetibilidade de um solo à erosão é expressa por um índice relativo de 
erodibilidade. A erosividade vista anteriormente, não deve ser confundida com a erodibilidade. A 
erosividade refere-se à capacidade da chuva e da enxurrada em causar erosão; dá uma idéia do 
potencial erosivo da chuva, enquanto a erodibilidade refere-se à suscetibilidade do solo à 
desagregação e ao transporte pelos agentes erosivos; dá uma idéia da capacidade do solo em resistir 
à erosão. 
Para se identificar as propriedades do solo que afetam a erosão hídrica, se consideram os 
componentes essenciais da erosão, ou seja, desagregação e transporte. Solos de altas 
desagregabilidade e transportabilidade são altamente erodíveis. Para uma melhor compreensão do 
assunto, é conveniente separar as propriedades de solo que afetam a desagregação, àquelas que 
afetam o transporte e as que afetam a infiltração de água. 
- Propriedades do solo que afetam a desagregação: a estabilidade de agregação do solo é o fator 
fundamental que afeta a sua desagregabilidade. Desse modo, solos com agregados mais estáveisresistem mais à ação dos agentes desagregadores. A argila é o principal agente cimentante das 
partículas de solo. As partículas finas de argila ajustam-se nos espaços entre a areia e o silte, 
originando um agregado mais resistente à desagregação do que num solo composto 
predominantemente por areia e/ou silte. O tipo de argila também é importante. As argilas de alta 
superfície específica são mais eficientes na agregação das partículas de solo do que as argilas de 
baixa superfície específica. Contudo, outros compostos como os óxidos de ferro e alumínio podem 
fazer com que um solo caulinítico se torne bastante resistente à desagregação. O tipo de cátion 
dominante também afeta a agregação do solo. Argilas saturadas com cálcio e magnésio são 
geralmente floculadas e, por isso, elas conferem maior estabilidade aos agregados do solo do que 
aquelas saturadas com sódio, as quais são mais dispersas. O conteúdo de matéria orgânica afeta a 
desagregabilidade. Quanto maior o seu teor no solo maior a estabilidade dos agregados e, 
conseqüentemente, menor a desagregabilidade do solo. A combinação de matéria orgânica com 
argila fornece uma alta estabilidade aos agregados do solo, tornando-o resistente à desagregação. O 
teor de água do solo também influencia a estabilidade dos agregados. Solos com umidade 
intermediária desagregam menos do que solos secos ou molhados. 
- Propriedades do solo que afetam o transporte: A velocidade de sedimentação de uma partícula 
sólida em um meio líquido é proporcional ao quadrado do seu diâmetro. Sua transportabilidade 
aumenta à medida que sua velocidade de sedimentação diminui. Conseqüentemente, o tamanho das 
partículas desagregadas é fundamental na determinação da transportabilidade do solo. É obvio, por 
isso, que as partículas menores, desagregadas, são as mais facilmente transportadas. Partículas de 
areia ou agregados de solo do tamanho da areia ou maior, somente são transportadas por fluxos de 
água relativamente rápidos e espessos, ou pela água que está sendo constantemente agitada pelo 
salpico da chuva. Por outro lado, argila dispersa permanece quase que indefinidamente em 
 
20 
 
suspensão, sendo mais facilmente transportada pela enxurrada. A densidade das partículas 
desagregadas também afeta a transportabilidade. A densidade das partículas da maioria dos solos 
minerais é 2,65 g cm
-3
, enquanto da matéria orgânica é de 0,5 a 1 g cm
-3
. Por isso, a matéria 
orgânica flutua mais facilmente do que os grânulos minerais. Normalmente os solos são agregados, 
com uma mistura de material orgânico e mineral. Assim, um agregado de solo pode ser mais 
facilmente transportado do que um grânulo de areia do mesmo tamanho, devido a menor densidade 
do agregado. 
- Propriedades do solo que afetam a infiltração: a capacidade de infiltração dos solos é um dos 
fatores determinantes da quantidade de escoamento superficial e, por isso, afeta a quantidade de 
erosão hídrica pluvial. As principais características de solo que afetam a infiltração são: estrutura, a 
qual é parcialmente uma conseqüência da textura, e o teor de água. O tamanho e permanência de 
poros são a principal conseqüência da estrutura. A taxa a qual a água da chuva pode infiltrar no solo 
é determinada, em grande parte, pelo tamanho, arranjo e continuidade dos poros grandes. Solos com 
predominância de grandes poros apresentam “porosidade de aeração”, pois os poros têm diâmetro 
suficientemente grande (> 0,06 mm) para permitir que a água seja drenada rapidamente por 
gravidade e, por isso, servem para arejar o solo. Poros grandes podem existir como resultado da 
textura grosseira ou da agregação do solo. Contudo, a elevada taxa de infiltração somente pode ser 
mantida se a porosidade original do solo permanece mais ou menos inalterada durante o período 
inteiro de duração da chuva. Solos facilmente dispersos enchem os espaços porosos com as 
partículas menores e a taxa original de infiltração é logo diminuída. Solo de agregação estável 
mantém elevada taxa de infiltração devido à permanência de poros grandes. Solos com baixo teor de 
água apresentam taxa de infiltração mais elevada. Solos sem fendas e muito secos não absorvem a 
água rapidamente, uma vez que, nessa condição, eles não são facilmente umedecidos. Solos cujos 
poros estão cheios com água não podem absorvê-la em grande quantidade e, por isso, apresentam 
taxas de infiltração muito baixas. 
c) Relevo: o relevo é um fator de notável importância sobre as quantidades totais e taxas de erosão. 
Assim como no estudo do fator chuva, o efeito do relevo sobre a erosão é facilitado, contanto que se 
leve em conta os seus principais elementos componentes. 
- Inclinação do declive: a inclinação ou gradiente da superfície, normalmente expressa em 
percentagem, é um dos fatores mais importantes na erosão do solo. Nas terras planas, a erosão pela 
água é geralmente inapreciável, pois o maior problema que nelas pode ocorrer é a sedimentação e 
não a denudação do solo pela erosão. À medida que o grau do declive aumenta, aumenta a erosão. 
Isto porque à medida que o declive aumenta diminui grandemente a capacidade de armazenamento 
de água na superfície do solo, conseqüentemente, aumenta a quantidade total e a taxa de enxurrada. 
O aumento no volume e velocidade da enxurrada torna a água um melhor agente transportador, 
além de aumentar o poder de desagregação de solo pelo escoamento superficial concentrado nos 
sulcos. A lâmina de água sobre a superfície do solo torna-se mais delgada com o aumento na 
velocidade da enxurrada, possibilitando uma maior desagregação de solo pelo impacto direto das 
gotas da chuva. Os solos arenosos que sofrem pequena erosão sobre declives suaves estão sujeitos a 
erosão mais intensa sobre declives acentuados (Tabela 10). De modo geral, a erosão por unidade de 
área aumenta 2,5 vezes quando o grau do declive é duplicado. 
- Comprimento do declive: o comprimento de declive inicia com o início do fluxo e vai até a água 
entrar num canal definido ou onde o declive diminui e a deposição ocorra. Com a enxurrada, a água 
se acumula à medida que flui no declive e, com isso, aumenta o volume e a taxa de enxurrada na 
porção inferior do declive, aumentando a erosão com o comprimento do declive (Tabela 11). 
 
Tabela 10. Inclinação do declive e perdas de solo em três segmentos de uma pendente 
Grau do declive (%) Perda de solo (t h
-1
) 
4 2,8 
8 6,3 
12 12,6 
 
21 
 
Tabela 11. Comprimento do declive e perdas de solo em três segmentos de uma pendente de 
declividade uniforme 
Comprimento do declive (m) Perda de solo (t ha
-1
) 
25 14 
50 20 
100 33 
 
Em média, as perdas de solo aumentam 1,5 vezes por unidade de área quando o comprimento do 
declive é duplicado, podendo essa relação variar entre 1,2 e 1,8. Quando a água escoa sobre um 
terreno inclinado, perde-se mais solo na parte inferior do declive do que na parte superior, como 
referido anteriormente (Tabelas 12 e 13). 
 
Tabela 12. Comprimento do declive e perdas de solo em quatro segmentos de uma pendente de 
declividade uniforme 
Comprimento do declive (m) Perda de solo (t ha
-1
) 
0 – 23 0,9 
23 – 46 1,7 
46 – 69 2,1 
69 – 92 2,5 
 
Tabela 13. Comprimento do declive e perdas de solo em quatro comprimentos de uma pendente de 
declividade uniforme 
Comprimento do declive (m) Perda de solo (t ha
-1
) 
11 150 
22 170 
33 190 
44 210 
 
- Curvatura do declive: em geral, os declives são compostos por uma seqüência de segmentos 
uniformes, convexos e côncavos, na topografia. Normalmente, a erosão é maior sobre os declives 
convexos porque eles oferecem melhores condições para que a enxurrada seja mais ativa. Sobre os 
declives convexos,o grau de declive aumenta na direção da base da colina, aumentando o poder 
erosivo da enxurrada. A taxa de erosão sobre cada segmento de um declive varia, dependendo se o 
declive é uniforme, convexo ou côncavo (Figura 11 e Tabela 14). 
 
 
Figura 11. Tipos de curvatura de declive. 
- Variação na declividade: raramente os declives são uniformes, desde o início até o final das 
pendentes. Normalmente, há uma alternância de declives mais acentuados, menos acentuados, 
brandos e, até mesmo, partes de declive relativamente plana. Isto afeta a erosão consideravelmente. 
Além do mais, tais diferenças na declividade usualmente acompanham mudanças nas características 
de solo, causando uma alternância no solo de alta e baixa capacidade de infiltração. Provavelmente, 
áreas com declives variáveis sofrem menos a erosão do que áreas com declive uniforme. 
 
22 
 
Tabela 14. Perdas de solo por erosão hídrica pluvial em quatro segmentos de pendente, em três 
formas de declive 
Segmento Perda de solo (t ha
-1
) 
 Uniforme Convexo Côncavo 
1 3 1 26 
2 9 6 25 
3 19 27 16 
4 34 82 5 
Média declive inteiro 16 29 18 
 
- Microrelevo: refere-se à rugosidade da superfície do solo. Pequenas elevações e depressões, 
naturais ou causadas pelo preparo do solo, marcas de erosão anterior, caminhamento de animais, 
etc., têm grande influência na erosão do solo, pois afetam grandemente a enxurrada. Quanto maior a 
rugosidade ao acaso da superfície do terreno menor é a enxurrada, devido à maior infiltração. 
d) Cobertura e manejo do solo: é o fator mais importante que afeta a erosão do solo. Tanto a 
cobertura superficial pela vegetação ou seus resíduos quanto condições de subsuperficie afetadas 
pelas raízes das plantas, bem como as condições de superfície e subsuperficie afetadas pelos tipos 
de preparo, manejo e uso do solo, são de primordial importância nas taxas de erosão sobre as terras 
agrícolas. 
- Cobertura: as plantas afetam a desagregação do solo e a enxurrada de diversas maneiras. A 
proteção do solo contra o impacto das gotas da chuva é feita pela copa das plantas vivas e pelos seus 
resíduos. Quanto maior a cobertura vegetal menor a erosão. Isto se deve à dissipação do impacto 
direto das gotas da chuva, diminuição da desagregação do solo, aumento da infiltração da água e 
diminuição da enxurrada. A maior ou menor redução da erosão pela cobertura vegetal varia com a 
percentagem de cobertura (Figura 12), tipo de vegetal e/ou cultura (Tabela 15), estágio de 
crescimento da cultura (Tabela 16) e método de manejo dos resíduos culturais (Tabela 17). 
 
Tabela 15. Tipo de uso do solo e de cultura e erosão hídrica pluvial do solo 
Uso do solo/cultura Perda de solo (t ha
-1
) Perda de água (% da chuva) 
Floresta 0,004 0,7 
Pastagem 0,4 0,7 
Cafezal 0,9 1,1 
Algodoal 26,6 7,2 
 
- Manejo do solo: compreende os tipos de preparo do solo, práticas culturais, sistemas de cultivo, 
etc. Isto afeta a erosão hídrica devido ao efeito sobre as propriedades físicas do solo, bem como 
sobre a cobertura do solo. Os preparos mais intensos desagregam mais a superfície diminuindo a 
rugosidade superficial do solo e deixando-a mais suscetível ao selamento superficial. Além disso, 
estes tipos de preparo eliminam ou reduzem expressivamente a cobertura superficial do solo, o que, 
combinado ao selamento e diminuição da rugosidade superficial, acarretam a diminuição da 
infiltração e aumento da enxurrada e erosão hídrica (Tabela 18). 
Os sistemas de cultivo, tais como rotações e sucessões de culturas, afetam expressivamente a erosão 
hídrica do solo. Isto se deve ao fato de que eles afetam as condições físicas, químicas e biológicas 
do solo, devido à alternância ou não de culturas e, conseqüentemente, de resíduos culturais. Uma 
rotação de culturas, pelo fato de constituir-se de uma seqüência de culturas diferentes, distribuídas 
no tempo e no espaço, ocasiona o desenvolvimento de uma maior diversidade de micro e 
macrorganismos no solo do que uma sucessão de culturas, devido à diversidade de resíduos 
vegetais. Isto se reflete em melhoria das propriedades físicas do solo no caso da rotação de culturas, 
especialmente a estrutura, a qual ocasiona, nesse sistema de cultivo, um aumento da infiltração e 
diminuição da enxurrada e erosão hídrica em relação à sucessão (Tabela 19). 
 
 
23 
 
 
Figura 12. Relação perda de solo x cobertura do solo por resíduo cultural. 
 
Tabela 16. Período vegetativo da cultura de soja e erosão hídrica pluvial do solo 
Período vegetativo da cultura Perda de solo (t ha
-1
) Perda de água (% da chuva) 
Semeadura 7,3 31,1 
Crescimento 4,8 38 
Florescimento 0,7 20,6 
Maturação 0,05 11,8 
Colheita 0,01 15 
 
Tabela 17. Forma de manejo de resíduos culturais e erosão hídrica do solo 
Tipo de manejo do solo Perda de solo (t ha
-1
) Perda de água (% da chuva) 
Palha queimada 20 8 
Palha incorporada ao solo 14 6 
Palha na superfície do solo 6 2 
 
Tabela 18. Tipo de preparo do solo e erosão hídrica pluvial do solo 
Tipo de preparo do solo Perda de solo (t ha
-1
) Perda de água (% da chuva) 
PC 7,3 31 
PR 1,8 28 
SD 0,2 15 
 
Tabela 19. Sistema de cultivo do solo (rotação de culturas) e erosão hídrica pluvial do solo 
Sistema de cultivo Perda de solo (t ha
-1
) Perda de água (% da chuva) 
Milho continuado 86 127 
Milho/aveia/trevo por 2 anos 38 100 
Alfafa continuada 2 15 
Campo nativo 1 8 
 
e) Práticas de controle da erosão hídrica: essas práticas têm um expressivo efeito sobre a erosão 
hídrica. Basicamente, as práticas de controle visam proteger a superfície do solo do impacto direto 
das gotas da chuva, evitando a desagregação do solo, bem como melhorar as condições físicas da 
camada superficial do solo para um aumento da infiltração e, conseqüentemente, diminuir a 
enxurrada e o transporte de sedimentos. Os mecanismos pelos quais as práticas de controle reduzem 
a erosão hídrica serão vistos em detalhe no estudo das práticas conservacionistas, em tópicos 
posteriores. 
f) Interação de fatores: os fatores que afetam a erosão hídrica geralmente atuam de uma forma 
interrelacionada. As interações são numerosas e complexas e usualmente estão presentes no 
processo erosivo, algumas favorecendo a erosão do solo e, outras, dificultando este processo. O 
resultado final é, por isso, dependente de uma série de detalhes, fazendo com que o processo erosivo 
seja muito complexo e, às vezes, imprevisível. 
 
24 
 
 
4) Como julgar probabilidades de erosão: uma pergunta muito comum que é feita na prática é a 
seguinte: “onde haverá maior erosão, na situação A ou B”? A resposta nem sempre é fácil, devido às 
complexas interações entre os diversos fatores que afetam a erosão hídrica pluvial. Antes de emitir 
uma resposta deve ser feita a análise completa das situações A e B. (1): verificar as condições de 
superfície do solo, no sentido de avaliar se o processo erosivo se processa dominantemente na forma 
de erosão entre sulcos ou de erosão em sulcos, ou em ambas as formas; (2): avaliar separadamente a 
resposta de cada fator que afeta a erosão, em relação à desagregação e ao transporte, tanto pelo 
impacto das gotas da chuva quanto pela enxurrada; e (3): lembrar que a erosão em sulcos e entre 
sulcos é dominada pelas características da chuva e, que as características da enxurrada dominam o 
processo erosivo na erosão dentro dos sulcos. A associação desses aspectos básicos com os fatores 
que afetam a erosão torna-se muito útil na previsão de onde a erosão será maior, se na situação A ou 
se na situação B. Além disso, é de extrema importância para a seleção das práticas de controle da 
erosão, em ambas as situações.

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