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Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Metas Apresentar, sem demonstrar, os principais resultados sobre diferenciais e in- tegrais de funções reais, com uma variável real, e aplicar esses resultados no movimento unidimensional de uma partícula. Caso já tenha estudado os conceitos relacionados às integrais você já cumpriu as metas das seções iniciais desta aula e pode ir diretamente para a seção denominada "Problema inverso do movimento unidimensional". Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 1. calcular diferenciais de funções reais, com uma variável real; 2. calcular derivadas de funções compostas utilizando a Regra da Cadeia; 3. calcular integrais definidas de funções reais, com uma variável real; 4. utilizar integrais para obter a posição de uma partícula que está em movimento unidimensional a partir da sua aceleração e das condições iniciais; 5. resolver problemas do movimento retilíneo uniforme e do movimento retilíneo uniformemente acelerado. Introdução A descrição do movimento de uma partícula requer o conhecimento da sua posição em cada instante do tempo. As Leis de Newton, que estudaremos em mais detalhes a partir da Aula 9, não fornecem diretamente a posição da partícula, mas apenas a sua aceleração instantânea. As ferramentas mate- máticas que permitem obter a posição da partícula com o conhecimento da 47 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional sua aceleração instantânea e das condições iniciais são as diferenciais e as in- tegrais. Por isso, nesta aula, apresentaremos, sem demonstrar, os principais resultados referentes às diferenciais e às integrais. Diferenciais Figura 2.1: Variação da função ∆f e sua diferencial df . A Figura 2.1 mostra o gráfico da função f(t) no plano t× f . A vari- ação da função no entorno de t0 é dada por: ∆f(t0) = f(t1)− f(t0), sendo t1 um ponto da vizinhança de t0. Essa variação também foi represen- tada na Figura 2.1. Para não sobrecarregar as expressões das funções trigonométricas, não colocaremos as unidades nos seus argumentos. Como algumas propriedades dessas funções ficam mais simples quando seus argumentos são expressos em radianos, eles serão escritos, a menos que se diga o contrário, de acordo com essa unidade. CEDERJ 48 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Exemplo 2.1 Considere a função f(t) = sen(t). Calcule a variação f(0,1) − f(0). Dê a resposta com um algarismo significativo. Resolução A variação da função é dada por: f(0,1)− f(0) = sen(0,1)− sen(0) = 0,09 ∼= 0,1. Figura 2.2: Variação da função ∆f e sua diferencial df quando t0 e t1 estão muito próximos. A Figura 2.2 mostra que, se t1 está próximo de t0, a curva que representa a função f na vizinhança do ponto t0 e a reta tangente são quase iguais. Dizemos que a reta tangente K(t0, t) é a linearização da função f no ponto t0. Como o coeficiente angular da reta tangente em t0 é a derivada primeira da função f , a variação calculada sobre a reta tangente em t0 é dada por: ∆K = K(t0, t1)−K(t0, t0) = f ′(t0)× (t1 − t0) = f ′(t0) ∆(t). Essa variação é denominada diferencial da função f no ponto t0 e é represen- tada da seguinte forma: 49 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional df(t0) = f ′(t0) ∆(t). A Figura 2.1 mostra que a variação da função ∆f(t0) e a diferencial da função são diferentes, uma vez que vale a seguinte relação: ∆f(t0) = df(t0)− �. Todavia, é fácil perceber, pela Figura 2.2, que elas são aproximadamente iguais quando ∆t tende a zero, uma vez que, nesse caso, � também tende a zero, isto é, ∆f(t0) ∼= df(t0). As diferenciais são mais fáceis de calcular do que as variações das funções, visto que elas fornecem as variações sobre a reta tangente K(t0, t). Por isso, é comum utilizá-las para calcular as variações das funções quando os pontos são próximos. Atividade 1 Atende ao Objetivo 1 Seja a função definida por f(t) = sen(t), sabendo que sen(0) = 0, calcule o valor de sen(t) em t1 = 0,1. Forneça a sua resposta com um algarismo significativo. Resposta Comentada Como t1 = 0,1, ou seja, é próximo de zero, vamos calcular o valor do seno em t1 utilizando a diferencial da função em t0 = 0. Por definição, a diferencial de sen(t) é dada por: d(sen)(t) = (sen(t))′∆t = cos(t) ∆t. CEDERJ 50 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Logo, a diferencial em t0 = 0 é igual a d(sen)(0) = cos(0) ∆t = ∆t = 0,1− 0 = 0,1. Por isso, temos que: sen(0,1)− sen(0) = ∆(sen)(0) ∼= df(sen)(0) = 0,1⇒ sen(0,1) ∼= 0,1. A comparação entre o resultado encontrado nesta atividade e o resultado encontrado no Exemplo 2.1 mostra que, se considerarmos apenas um alga- rismo significativo, a diferença dos senos em t1 = 0,1 e t0 = 0 e a diferencial em t0 = 0 são iguais. Atividade 2 Atende ao Objetivo 1 Calcule as diferenciais das seguintes funções: 1. f(t) = C sendo C uma constante; 2. f(t) = t; 3. f(t) = C t; 4. f(t) = tn+1; 5. f(t) = cos(t). 51 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Resposta Comentada Pela definição da diferencial de uma função, temos que: 1. d(C) = (C)′∆t = 0; 2. d(t) = (t)′∆t = ∆t; 3. d(C t) = C (t)′∆t = C ∆t; 4. d(tn+1) = (tn+1)′∆t = (n+ 1) tn ∆t; 5. d(cos(t)) = (cos(t))′∆t = −sen(t) ∆t. Na Atividade 2 mostramos que d(t) = ∆t. Por isso, podemos reescrever a diferencial de um função f da seguinte forma: df(t) = f ′(t) dt. A definição da diferencial de uma função mostra que a sua derivada pode ser escrita como o quociente entre duas diferenciais. Isto é, df dt (t) = (f(t))′. Essa nova forma de escrever a derivada de uma função dá significado à no- tação de Leibniz para a derivada primeira, mencionada na Aula 1. A Regra da Cadeia A Regra da Cadeia permite calcular as derivadas de uma função com- posta formada por funções deriváveis. Seja a função f(t) derivável em t0, a função g(u) derivável em u0 e h(t) a função composta h(t) = g ◦ f(t) = g(f(t)). A derivada da função f(t) em t0 é df dt (t0) e a derivada da função g(u) em u0 = f(t0) é igual a dg du (u0). A Regra da Cadeia diz que df dt (t0) = dg du (u0) du dt (t0) , em que u(t) = f(t). Essa regra pode ser vista como uma consequência do fato de que a derivada é a razão entre duas diferenciais, já que df dt = df du du dt . CEDERJ 52 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Exemplo 2.2 Calcule as derivadas em relação a t das seguintes funções: 1. f(t) = (t− 3)3; 2. f(t) = (t− a)n. Resolução Vamos reescrever as funções como funções compostas para calcularmos as suas derivadas utilizando a Regra da Cadeia. 1. Se f(t) = g(u(t)), sendo g(u) = u3 e u(t) = (t− 3)⇒ dh dt = dg du du dt = 3u2 (t− 3)′ = 3 (t− 3)2 (1) = 3 (t− 3)2. 2. Se f(t) = g(u(t)), sendo g(u) = un e u(t) = (t− a)⇒ dh dt = dg du du dt = nun−1 (t− a)′ = n (t− a)n−1 (1) = n (t− a)n−1. Atividade 3 Atende ao Objetivo 2 Seja a função f(t) = sen(t3), calcule a derivada da função em relação ao tempo t. Resposta Comentada Se f(t) = g(u(t)), sendo g(u) = sen(u) e u(t) = t3, então temos que dg du (u) = cos(u) e du dt (t) = 3 t3−1 = 3 t2. Logo, usando a Regra da Cadeia, a derivada da função f(t) em relação ao tempo é df dt (t) = dg du (u) · du dt (t) = 3 t2. cos(t3). 53 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Propriedades das diferenciais Vimos que a diferencial de uma função f é dada por: df(t0) = f ′(t0) dt(t0). Essa frase matemática se lê da seguinte forma: "A diferencial da função em t0 é o produto da derivada da função em t0 pela diferencial da variável da função em t0". É fácil perceber que as propriedades das diferenciais são análogas às propriedades das derivadas. 1. d(f + g) = df + dg; 2. d(C g) = C dg, sendo C é uma constante; 3. d(f g) = df g + f dg; 4. Se g 6= 0⇒ d ( f g ) = df · g − f · dg g2 . Integrais definidas Mostraremos a seguir que o conhecimento da derivada primeira de uma função f(t) em um intervalo [t0, t1] permite calcular a variação dessa função entre os valores t0 e t1. Com essa finalidade, vamos dividir o intervalo [t0, t1] em N intervalos, com comprimentos iguais a t1 − t0 N . Nesse caso, poderemos escrever a variação da função f da seguinte forma: ∆f(t0) = f(t1)− f(t0) = N∑ i=1 (f(tti)− f(tti−1)) = N∑ i=1 ∆f(tti−1). Essa soma pode ser aproximada pela soma das diferenciais, isto é, ∆f(t0) = f(t1)− f(t0) = N∑ i=1 ∆f(tti−1) ∼= N∑ i=1 df(tti−1). No caso em que N tende a∞, a variação da função f em cada intervalo [tti, tti−1] se aproxima da diferencial da função f em tti−1, de tal forma que podemos reescrever a variação da função f da seguinte maneira: ∆f(t0) = f(t1)− f(t0) = lim N→∞ N∑ i=1 df(tti−1) = ∫ t1 t0 df(tt). CEDERJ 54 b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Na Figura 2.3, abaixo, utilizamos N = 3. Figura 2.3: A figura mostra que a variação da função entre os valores t0 e t1 pode ser escrita como a soma das variações das funções em três intervalos iguais e consecutivos, com tamanhos iguais a t1 − t0 3 . Dizemos então que a variação da função f no intervalo [t0, t1] é a integral definida nesse intervalo, aplicada à diferencial da função f(t): ∆f(t0) = f(t1)− f(t0) = ∫ t1 t0 df(tt). Com a finalidade de obter a relação entre a variação da função e a sua diferencial, denominados a variável que define o intervalo de tt. Como tt também é uma variável, podemos usar qualquer letra para denominá-la. Por exemplo, podemos chamá-la de t. Nesse caso, temos que: ∆f(t0) = f(t1)− f(t0) = ∫ t1 t0 df(t). 55 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional A integral definida é a função inversa da diferencial. Ela transforma a diferencial da função na variação desta entre os limites da integral. A integral definida só pode ser aplicada às diferenciais das funções. Nem sempre a integral definida é representada com uma diferencial no seu argumento. Por exemplo, ela pode ser escrita da seguinte forma:∫ t1 t0 g(t) d(t). Nesse caso, para resolvê-la, é necessário reescrever o argu- mento da integral como uma diferencial. Exemplo 2.3 Calcule as seguintes integrais definidas: 1. ∫ t1 t0 C dt, em que C é uma constante; 2. ∫ t1 t0 t dt. Resolução Para resolver as integrais, é necessário escrever seus argumentos como dife- renciais. 1. C dt = dg1 = g′1dt; 2. t dt = dg2 = g′2dt. Logo, temos que adivinhar quais são as funções g1 e g2 que, derivadas em relação a t, satisfazem às seguintes relações: g′1 = C e g ′ 2 = t. É fácil verificar que as funções são g1 = C t e g2 = t2 2 , uma vez que g′1 = C t ′ = C e g′2 = ( t2 2 )′ = (t2) ′ 2 = 2 t 2 = t. Dessa forma, as integrais das funções são dadas por: 1. ∫ t1 t0 C dt = ∫ t1 t0 d(C t) = C t1 − C t0; CEDERJ 56 b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 2. ∫ t1 t0 t dt = ∫ t1 t0 d ( t2 2 ) = t21 2 − t 2 0 2 . No Exemplo 2.3, foi utilizado o método geral para se calcular uma integral definida. Ele está enunciado no Teorema Fundamental do Cálculo. Seja a função g(t) uma função contínua definida no intervalo [t0, t1], então a integral definida existe e é dada por: G(t1)−G(t0) = ∫ t1 t0 g(t) dt, tendo a função G a seguinte propriedade: G′(t) = g(t). A função G é denominada primitiva ou antiderivada da g. Em geral, a tarefa de encontrar a primitiva de uma função g não é trivial, porque precisamos adivinhar qual é a função que, ao ser derivada em relação à variável de integração, fornece a função que deve ser integrada. Os matemáticos desenvolveram várias técnicas para auxiliar nesse procedimento. Como as integrais utilizadas em Física I são simples, não apresentaremos nesta aula as regras de integração. Utilizaremos apenas a Tabela 2.1, que foi construída com o auxílio das derivadas calculadas nesta aula. Derivadas Primitivas (C)′ = 0 0 = (C)′ (C t)′ = C C = (C t)′ (tn+1) ′ = (n+ 1) tn tn = ( tn+1 n+1 )′ (sen(C t))′ = C cos(t) cos(C t)= ( sen(C t) C )′ (cos(C t))′ = −C sen(t) sen(C t)=- ( cos(C t) C )′ Tabela 2.1: Alguns exemplos de derivadas e primitivas. Colocamos na primeira coluna da Tabela 2.1 algumas derivadas que foram calculadas. Observe que a inversão dos termos de cada equação da primeira coluna da tabela, acompanhada de uma pequena manipulação al- gébrica, transforma cada equação da primeira coluna em uma equação que envolve a primitiva da função. A seguir, temos a manipulação algébrica que transformou a terceira derivada da primeira coluna em uma primitiva: (tn+1) ′ = (n+ 1) tn ⇒ (n+ 1) tn = (tn+1)′ ⇒ tn = ( tn+1 n+ 1 )′ . 57 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional A segunda coluna deve ser lida da seguinte forma: 1. a primitiva de zero é uma constante; 2. a primitiva de uma constante C é C t; 3. a primitiva de tn é tn+1 n+ 1 ; 4. a primitiva de cos(C t) é sen(C t) C ; 5. a primitiva de sen(C t) é −cos(C t) C . Propriedades das integrais definidas Como as integrais são limites, elas obedecem a algumas das proprieda- des destes. Sejam f e g duas funções integráveis em um intervalo [t0, t1], então temos que: 1. ∫ t1 t0 (f(t) + g(t)) dt = ∫ t1 t0 f(t) dt+ ∫ t1 t0 g(t) dt; 2. ∫ t1 t0 (C f(t))dt = C ∫ t1 t0 f(t) dt. Integrais indefinidas Seja a integral ∫ t1 t0 g(t) dt e G(t) a primitiva da função g(t). A função G(t) + C, onde C é uma constante real qualquer, também é uma primitiva de g(t), uma vez que (G(t) + C)′ = G(t)′ + C ′ = G(t)′ = g. À medida que variamos C, obtemos o conjunto de todas as antideriva- das de g(t). Podemos representar esse conjunto por∫ g(t) dt = G(t) + C. CEDERJ 58 b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 A integral que aparece nessa expressão é denominada integral indefinida de g(t). As tabelas de integração, em geral, são construídas com as integrais indefinidas. A Tabela 2.2 mostra os resultados da Tabela 2.1 reescritos como integrais indefinidas. Integrais indefinidas∫ 0 dt = C∫ C dt = C t+ C1 ∫ tn dt = tn+1 n+ 1 + C ∫ cos(C t) dt = ( sen(C t) C ) + C1 ∫ sen(C t) dt = − ( cos(C t) C ) + C1 Tabela 2.2: Alguns exemplos de integrais indefinidas. Em todos os casos, C e C1 são constantes. É importante ressaltar que, na integral definida, a constante C1 que define a família de antiderivadas ou primitivas desaparece. Isso se dá uma vez que a integral definida é a diferença entre as primitivas em dois valores da variável de integração (neste caso, t) e, consequentemente, a constante se cancela na subtração. A representação geométrica da integral, no gráfico da função A integral de uma função real, com uma variável real, aparece natural- mente quando tentamos calcular a área sob a curva que representa o gráfico da função limitada pelas retas t = t0 e t = t1. Soluções aproximadas desse problema podem ser obtidas dividindo-se o intervalo [t0, t1] em N subinter- valos com comprimentos iguais a t1 − t0 N e calculando-se a soma das áreas de retângulos inscritos ou circunscritos à figura. A área sob a curva pode ser aproximada pela soma das áreas dos retângulos cujos lados são o valor da 59 CEDERJ b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional função no intervalo e o próprio intervalo. A Figura 2.4 mostra os retângulos inscritos para a partição do inter- valo em cinco partes (N = 5). Por isso, temos queA ∼= 5∑ i=1 f(tti−1)(tti − tti−1). Figura 2.4: Partição com N=5. A Figura 2.5 mostra os retângulos inscritos para a partição do inter- valo em cinco partes (N = 50)). Por isso, temos queA ∼= 50∑ i=1 f(tti−1)(tti − tti−1). Figura 2.5: Partição para N=50. A soma das áreas dos retângulos é denominada Soma de Riemann . CEDERJ 60 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 As Figuras 2.4 e 2.5 mostram que, à medida que o número de re- tângulos aumenta, a Soma de Riemann se aproxima da área sob a curva limitada pelas retas verticais t = t0 e t = t1. Dessa forma, podemos dizer que a área sob a curva é dada por: A = lim N→∞ N∑ i=1 f(ti−1) ti − ti−1 N = lim N→∞ N∑ i=1 f(ti−1)∆ti−1. A expressão obtida para a área A é, por definição, a integral definida da função f(t): A = ∫ t1 t0 f(t) dt. Logo, a representação da integral definida no gráfico da função é a área sob a curva, limitada pelas retas t = t0 e t = t1. Sempre que t1 > t0, essa área será positiva nas regiões onde g(t) é positiva e negativa nas regiões onde g(t) é negativa. Resolvendo o problema inverso do movimento unidimensional O problema que se propõe a obter a posição de uma partícula que está em movimento unidimensional, a partir do conhecimento da sua aceleração instantânea e das condições iniciais do movimento, é denominado problema inverso. Você aprendeu na Aula 1 que, no caso em que o movimento unidimen- sional da partícula ocorre no eixo OX, temos: 1. velocidade média: vmx(t0, t1) = x(t1)− x(t0) t1 − t0 ; 2. velocidade instantânea: vx(t0) = dx dt (t0); 3. aceleração média: amx(t0, t1) = vx(t1)− vx(t0) t1 − t0 ; 4. aceleração instantânea: ax(t0) = dvx dt (t0). Sendo assim, se a aceleração instantânea e a velocidade inicial da partí- cula vx(t0) são conhecidas, podemos calcular sua velocidade instantânea em 61 CEDERJ b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional qualquer instante, uma vez que ax = dvx dt ⇒ dvx = ax dt⇒ ∫ t1 t0 dvx = ∫ t1 t0 ax dt ⇒ vx(t1)− vx(t0) = ∫ t1 t0 ax dt. Na obtenção da expressão da velocidade instantânea, foram utilizados os fatos de que a derivada é o quociente entre duas diferenciais e de que as integrais definidas de funções reais, com uma variável real, são as variações das funções. É importante ressaltar que a variação da velocidade é a integral da aceleração instantânea, cuja representação geométrica é a área sob a curva do gráfico da aceleração entre as retas verticais definidas pelos instantes t0 e t1. A Figura 2.6 ilustra esse fato: Figura 2.6: A variação da velocidade é a área sob a curva do gráfico da aceleração entre as retas verticais definidas pelos instantes t0 e t1. O conhecimento da velocidade instantânea e da posição inicial da par- tícula x(t0) permite calcular a sua posição em qualquer instante do tempo, uma vez que vx = dx dt ⇒ dx = vx dt⇒ ∫ t1 t0 dx = ∫ t1 t0 vx dt ⇒ x(t1)− x(t0) = ∫ t1 t0 vx dt. A variação da coordenada x(t) da partícula é a integral da velocidade instantânea, cuja representação geométrica é a área sob a curva do gráfico CEDERJ 62 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 da velocidade entre as retas verticais definidas pelos instantes t0 e t1. A Figura 2.7 ilustra esse fato: Figura 2.7: A variação da coordenada x(t) é a área sob a curva do gráfico da velocidade entre as retas verticais definidas pelos instantes t0 e t1. Veremos a seguir que, quando a aceleração instantânea é nula ou cons- tante, é possível encontrar com facilidade a solução do problema inverso, utilizando apenas a representação geométrica da integral nos gráficos da ace- leração e da velocidade instantâneas. Já nos casos em que a aceleração ins- tantânea varia com o tempo, será necessário calcular integrais definidas para resolver o problema. Movimento retilíneo uniforme Conforme estudado na disciplina de Introdução às Ciências Físicas I, o movimento retilíneo uniforme (MRU) é aquele no qual a aceleração da partícula é nula. Isso faz com que a sua velocidade da partícula seja constante e igual a sua velocidade inicial, isto é: ax = dvx dt = 0⇒ vx(t) = vx(t0). Por isso, a coordenada x da partícula é dada por: 63 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional x(t1)− x(t0) = ∫ t1 t0 vx(t0) dt. A Figura 2.8 mostra o gráfico da velocidade instantânea no MRU: Figura 2.8: A área sob a curva do gráfico da velocidade entre as retas verticais definidas pelos instantes t0 e t1 é a integral da velocidade instantânea e nos dá a diferença da posição da partícula entre tais instantes. A integral da velocidade instantânea é a área do retângulo limitado pelos instantes t0 e t1. A área do retângulo é igual a vx(t0) (t1 − t0). Dessa maneira, a coordenada da partícula em um instante t1 qualquer é dada por x(t1)− x(t0) = vx(t0) (t1 − t0)⇒ x(t1) = x(t0) + vx(t0) (t1 − t0). Como tal expressão é válida para qualquer instante t1, vamos denominá-lo pela variável t. Assim sendo, a expressão da coordenada x se reduz a x(t) = x(t0) + vx(t0) (t− t0). Observe que o conhecimento da expressão da área que representa a integral no gráfico da velocidade permitiu resolver com facilidade o problema inverso do movimento retilíneo uniforme. CEDERJ 64 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 A Figura 2.9 mostra que, no movimento retilíneo uniforme, a veloci- dade instantânea em t0, que é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico da posição da partícula em função do tempo, é igual à velocidade média, que é, por sua vez, o coeficiente angular da reta secante entre os instantes t0 e t1. Figura 2.9: Gráfico da coordenada x de um partícula em um movimento retilíneo uniforme. Atividade 4 Atende ao Objetivo 5 Um carro está trafegando com velocidade constante em um trecho de uma rodovia que é uma reta. Ele se desloca 50 km a partir do quilômetro dez da rodovia, em meia hora. Qual é a velocidade média do carro nesse intervalo de tempo? Qual é a sua velocidade instantânea em um instante de tempo desse deslocamento? Resposta Comentada Vamos supor que a direção da estrada coincida com o eixo OX. A velocidade média entre dois instantes t1 e t2 (t2 > t1) é dada por: vmx = x(t2)− x(t1) t2 − t1 = 50 km 0, 5 h = 100 km/h. Sendo, no movimento retilíneo uniforme, a velocidade instantânea constante 65 CEDERJ b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional e igual à velocidade média em qualquer intervalo de tempo, concluímos que vx(t) = vmx(t1, t2) = 100 km/h. O movimento uniformemente acelerado O movimento uniformemente acelerado, conforme estudado em ICF 1, é aquele no qual a aceleração da partícula é constante, isto é, ax(t) = ax(t0). Figura 2.10: Gráfico da aceleração ax de um partícula em um movimento uniformemente acelerado. Logo, a velocidade da partícula é dada por: ax(t) = ax(t0) = dvx dt ⇒ vx(t) = vx(t0) + ∫ t1 t0 ax(t0) dt. A Figura 2.10 mostra o gráfico da aceleração instantânea da partícula para esse tipo de movimento. A integral da aceleração instantânea é a área do retângulo limitado pelos instantes t0 e t1. A área do retângulo é igual a ax(t0) (t1 − t0). Logo, a velocidade da partícula em um instante t1 qualquer é dada por: vx(t1) = v(t0) + ax(t0) (t1 − t0). Como essa expressão é válida para qualquer instante t1, vamos denominá- lo pela variável t. Dessa forma, a expressão para a velocidade instantânea da partícula vx se reduz a vx(t) = vx(t0) + ax(t0) (t− t0). CEDERJ 66 b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 O conhecimento da velocidade instantânea vx(t) e da posição inicial da partícula x(t0) permite encontrar a coordenada x(t) da partícula: x(t) = x(t0) + ∫ t1 t0 vx(t)dt. Figura 2.11: Gráfico da velocidade instantânea vx de uma partícula em um movimento uniformemente acelerado. A Figura 2.11 mostra o gráfico da velocidade instantânea da partícula no movimento uniformemente acelerado. A integral da velocidade instantâ- nea é a área do trapézio limitado pelos instantes t0 e t1. A área de um trapézio com bases b1 e b2 e altura h é dada por A = (b1 + b2)h 2 . As bases do trapézio da Figura 2.11 são b1 = vx(t0) e b2 = vx(t1) e a altura, h = (t1 − t0). Por isso, a sua área se reduz a A = (vx(t0) + vx(t1)) (t1 − t0) 2 = (vx(t0) + vx(t0) + ax(t1 − t0)) (t1 − t0) 2 ⇒ A = vx(t0) (t1 − t0) + ax(t0)(t1 − t0) 2 2 . Logo, a posição da partícula em um instante t1 qualquer é dada por: x(t1)− x(t0) = ∫ t1 t0 vx dt⇒ x(t1) = x(t0) + vx(t0) (t1− t0) + ax(t0)(t1 − t0) 2 2 . 67 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Isso é válido para qualquer instante t1, então vamos denominá-lo pela variá- vel t. Dessa forma, a expressão da coordenada x(t) da partícula se reduz a x(t) = x(t0) + vx(t0) (t− t0) + ax(t0)(t− t0) 2 2 . Observe que o conhecimento das expressões das áreas sob os gráficos da aceleração e da velocidade permitiu resolver com facilidade o problema inverso do movimento uniformemente acelerado. Figura 2.12: A representação geométrica da velocidade instantânea e da velocidade média em um movimento uniformemente acelerado mostra que elas são diferentes. A Figura 2.12 mostra que, no movimento retilíneo uniformemente acelerado, ao contrário do que ocorre no MRU, a velocidade instantânea em t0, que é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico da posição da partícula, e a velocidade média entre os instantes t0 e t1, que é o coeficiente angular da reta secante que passa pelos pontos t0 e t1, são diferentes. As equações que descrevem o movimento uniformemente acelerado que ocorre no eixo OX estão listadas a seguir: 1. ax = ax(t0); 2. vx(t) = vx(t0) + ax (t− t0); 3. x(t) = x(t0) + vx(t0) (t− t0) + ax(t0) (t− t0) 2 2 . CEDERJ 68 b22y Realce b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 As equações que descrevem a velocidade e a posição da partícula são denominadas equações horárias do movimento uniformemente ace- lerado. Quando o instante t0 = 0, as equações horárias se reduzem a vx(t) = vx(0) + ax t e x(t) = x(0) + vx(0) t+ ax(0) t 2 2 . Observe que o gráfico da coordenada da partícula em função do tempo é uma parábola. Figura 2.13: Gráfico da posição x(t) de uma partícula em um movimento uniformemente acelerado. A aceleração da partícula é a derivada segunda da posição, já que ax = dvx dt = d dt ( dx dt ) = d2x dt2 . Por isso, se a aceleração for positiva, a parábola é côncava para cima ( ⋃ ) e, se a aceleração for negativa, a parábola é côncava para baixo( ⋂ ). A partir das equações obtidas para o movimento uniformemente ace- lerado, podemos relacionar a velocidade com a posição e a aceleração da partícula. Primeiro, a equação da velocidade permite relacionar o tempo com a variação da velocidade, uma vez que vx(t) = vx(0) + ax t⇒ t = vx(t1)− vx(0) ax . 69 CEDERJ b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Dessa forma, temos que: x(t)− x(0) = vx(0) t+ ax t 2 2 ⇒ x(t)− x(0) = vx(0) ( vx(t1)− vx(0) ax ) + ax 2 ( vx(t1)− vx(0)2 ax ) ⇒ x(t)− x(0) = vx(t1) vx(0) ax − v 2 x(0) ax + v2x(t1) 2 ax + v2x(0) 2 ax − vx(t1) vx(0) ax x(t)− x(0) = v 2 x(t1) 2 ax − v 2 x(0) 2 ax v2x(t1)− v2x(0) = 2 ax (x(t1)− x(0)). A equação que relaciona a diferença dos quadrados das velocidades com o deslocamento da partícula em um movimento uniformemente acelerado é denominada Equação de Torricelli. É imprescindível entender que essa equa- ção só é válida para o caso particular do movimento uniformemente acelerado e não é uma expressão geral, que possa ser usada em qualquer tipo de movimento. Exemplo 2.4 Um motorista está trafegando em um trecho retilíneo de uma rodovia. Ele pode acelerar o seu carro de 0 km/h a 50 km/h em 4s. Encontre a aceleração média do carro nesse intervalo de tempo. Se a aceleração do carro fosse cons- tante e igual à aceleração média calculada, que distância o carro percorreria até a sua velocidade atingir 50 km/h? Forneça as suas respostas com dois algarismos significativos. Resolução Vamos supor que a direção do movimento seja a do eixo OX. A aceleração média do carro é amx = vx(t1)− vx(t0) t1 − t0 . A velocidade inicial do carro é nula. Sua velocidade final, expressa em metros por segundo, é vx(4s) = 50 km h = 50. 103 m 3600s = 125 9 m/s. Logo, a aceleração média do carro é amx(0,4 s) ∼= 3,5 m/s2. A distância percorrida pode ser obtida com a equação de Torricell, já que em um movimento retilíneo uniformemente acelerado ela relaciona velo- cidades com o espaço. CEDERJ 70 b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 v2x(t1)− v2x(0) = 2 ax (x(t1)− x(t0))⇒ ∆x = v2x(4 s) 2 amx(0,4 s) ∼= 24 m. Exemplo 2.5 Um carro de passeio está trafegando em um trecho retilíneo de uma rodovia. Ele percorre 4 km a 40 km/h e, depois, 6 km a 60 km/h. Qual a velocidade média do carro durante seu percurso? Despreze o tempo de aceleração e a distância percorrida pelo carro durante o tempo de mudança de velocidade instantânea. Resolução Vamos considerar que o movimento ocorre no eixo OX. A velocidade média do carro é o espaço percorrido por unidade de tempo, isto é: vmx = x(t2)− x(t0) t2 − t0 . Nos trechos onde o carro desloca por 2 km e 4 km, os movimentos são retilí- neos uniformes. Logo, o intervalo de tempo gasto nesses dois deslocamentos é igual a: ∆t = 4 km 40 km/h + 6 km 60 km/h = 0,2 h. Como o exemplo mandou desprezar o tempo de aceleração do carro e o espaço percorrido nesse tempo, a velocidade média do carro é vmx = 6 km 0,2h = 30 km/h. Atividade 5 Atende ao Objetivo 5 Um avião de grande porte precisa alcançar a velocidade de 500 km/h para decolar. Esse avião tem uma aceleração de 4 m/s2. Quanto tempo ele leva para decolar e que distância na pista ele percorre antes disso? Resposta Comentada Vamos considerar que o movimento ocorre no eixo OX e que o avião partiu da origem do eixo coordenado. Como o movimento é uniformemente acele- rado, temos que: 71 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional vx(t) = vx(0) + axt e x(t) = x(0) + vx(0) t+ axt 2 2 . As condições iniciais do movimento são: x(0) = 0 e vx(0) = 0. Logo, temos que vx(t) = axt ; x(t) = ax(0) t 2 2 . A velocidade do avião em metros por segundo é vx(0) = 500. 103 m 3600 s = 1250 9 m/s. Por isso, o tempo que o avião levou para decolar foi de t = vx(t) ax = 1250 m 9 s 1 4 m/s2 ∼= 35 s. A distância que o avião percorreu antes de decolar foi x(t) = 4 m/s2.(35 s)2 2 ∼= 2, 4 km. Exemplo 2.6 A Figura 2.14 mostra o gráfico da marcação do velocímetro de um auto- móvel como função do tempo. W�V� Y[�P�V� Figura 2.14: Gráfico do velocímetro de um automóvel como função do tempo. Trace os gráficos da aceleração e da distância percorrida em função do tempo. Suponha que em t = 0 a partícula está na origem do eixo que define a direção CEDERJ 72 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 do movimento. Qual é a aceleração média do automóvel entre t = 0 s e t = 120 s? E entre t = 150 s e t = 170 s? Resolução A aceleração no movimento unidimensional é dvx dt . Logo, ela é representada no gráfico de vx(t) como o coeficiente angular da reta tangente à curva da velocidade em função do tempo. O gráfico da Figura 2.14 mostra que, nos intervalos de tempo [0 s, 30 s] e [150 s, 170 s], os coeficientes angulares da curva são constantes e diferentes de zero e, também, que nos intervalos [30 s, 150 s] e [170 s, 220 s], os coeficientes angulares da curva são nulos. Portanto, para 0 s < t < 30 s ⇒ ax(t) = 20 m/s 30 s = 2 3 m/s2, o movimento é uniformemente acelerado com aceleração positiva. Por outro lado, para 150 s < t < 170 s ⇒ ax(t) = −20 m/s 20 s = −1m/s2, o movimento é uniforme- mente acelerado com aceleração negativa. Por fim, para 30 s < t < 150 s e t > 170 s ⇒ ax(t) = 0 m/s2, o movimento é retilíneo uniforme. O gráfico da aceleração foi representado na Figura 2.15. Figura 2.15: Gráfico da aceleração do automóvel como função do tempo. Enquanto o movimento é uniformemente acelerado, com aceleração 2 3 m/s2, o gráfico da coordenada x é uma parábola, com concavidade para cima, que inicia no ponto (0 s, 0 m) e finaliza no ponto (30 s, x(30 s)). O deslocamento ∆x(0 → 30 s) é a área sob a curva do gráfico da Figura 2.14 entre os ins- tantes [0, 30 s], que é a área do triângulo com base 30 s e altura 20 m/s. Isto é, ∆x(0→ 30s) = (20 m/s).(30 s) 2 = 300 m. 73 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Enquanto o movimento é retilíneo uniforme, o que ocorre no intervalo de tempo [30 s, 150 s], o gráfico da coordenada x é uma reta que inicia em x(30 s) e finaliza em x(150 s). O valor da coordenada x(150 s) é o valor da coordenada x(30 s) adicionado do deslocamento durante esse movimento retilíneo, que é a área do retângulo com base 120 s e altura 20 m/s. Isto é, x(150 s) = 300m + (20 m/s).(120 s) = 2700 m. Já a parábola que representa a coordenada x do movimento com ace- leração −1 m/s2 é côncava para baixo. Ela inicia no ponto (150 s, x(150 s)) e finaliza no ponto (170 s, x(170 s)). O valor da coordenada x(170 s) é igual ao valor da coordenada x(150 s) adicionada da área do triângulo de base 20 s e altura 20 m/s. Ou seja, x(170 s) = 2700 m + (20 m/s).(20 s) 2 = 2900 m. Por fim, para t > 170 s, o automóvel está parado. O gráfico da coordenada x do automóvel está representado na Figura 2.16. Figura 2.16: Gráfico da posição do automóvel como função do tempo. A aceleração média entre t = 0 e t = 120 s é amx = vx(120 s)− vx(0 s) 120 s = 20 m/s 120 s = 1 m/s 6 s ∼= 0, 2 m/s2. Já entre os instantes t = 150 s e t = 170 s é amx = vx(170 s)− vx(150 s) 20 s = 0 m/s2. CEDERJ 74 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Exemplo 2.7 Na reta final de uma maratona, os dois primeiros colocados estão correndo em uma mesma linha reta, ambos com a velocidade de 20 km/h, separados por uma distância de 100 m e distantes dos outros competidores. O maratonista que está em segundo lugar resolve tentar ultrapassar o primeiro colocado quando a distância entre ele e o ponto de chegada da corrida é de 1,6 km, acelerando a 40 km/h2. O primeiro colocado não consegue aumentar a sua velocidade. O maratonista que estava em segundo lugar consegue ganhar a maratona? Justifique a sua reposta. Resolução Para responder a essa pergunta, vamos calcular o tempo t1 que os marato- nistas levam para emparelhar e a distância entre eles e o ponto de chegada quando o emparelhamento ocorre. Vamos supor que a direção da reta de che- gada coincide com o eixo OX e que a origem do eixo coincide com o ponto onde o maratonista que está atrás começa a acelerar. Com essas considera- ções e a hipótese de que o tempo é nulo quando o segundo colocado está na origem do eixo, as coordenadas dos maratonistas são: x1(t) = 0,1 km + (20 km/h).t; x2(t) = (20 km/h).t+ 40 km/h2.t2 2 = (20 km/h).t+ (20 km/h2). t2. As coordenadas dos maratonistas se igualam quando eles possuem a mesma coordenada x. Isto é: x(t1) = x2(t1)⇒ 0,1 km + 20 km/h. t1 = (20 km/h). t1 + (20 km/h2). t21 ⇒ t1 = √ 0,1 km 20 km/h2 = √ 1 200 h. Portanto, a distância do ponto de chegada quando eles emparelham é ∆x = 1,6 km− x2(t1) = 1,6 km− 20 km/h. √ 1 200 h− 20 km/h2. ( 1 200 h2 ) ∆x ∼= 0,09 km = 90 m. Logo, isso ocorre antes do fim da maratona (∆x > 0) e o maratonista que estava em segundo lugar ganha a corrida. 75 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Atividade 6 Atende ao Objetivo 5 O tempo médio de reação de um motorista (tempo que decorre entre ele perceber o perigo súbito e aplicar os freios) é da ordem de 0,7 s. Um carro com bons freios, numa estrada seca, quando os freios são acionados, pode desacelerar a 6 m/s2. Calcule a distância mínima que o carro percorre depois que o motorista avista o perigo, quando ele trafega a 30 km/h, a 60 km/h e a 90 km/h. Resposta Comentada Antes de calcular as distâncias, vamos escrever as velocidades em m/s: v1x(0) = 30 km/h = 30 .103 m 3600 s = 25 m 3 s , v2x(0) = 60 km/h = 60 .103 m 3600 s = 50 m 3 s e v3x(0) = 90 km/h = 90 .103 m 3600 s = 25 m/s. Durante o tempo t1 = 0,7 s, de reflexo do motorista, o carro continua se deslocando em movimento retilíneo uniforme com a sua velocidade inicial. Logo, as distâncias percorridas pelo carro até o momento em que os freios são acionados são: x1(0,7 s) = 25 m 3 s . (0,7 s) ∼= 5,8 m;x2(0,7 s) = 50 m 3 s . (0,7 s) ∼= 11,7 m e x3(0,7 s) = (25 m/s). (0,7 s) = 35 m 2 ∼= 17, 5m. Uma vez que, nesse caso, as acelerações são constantes , as distâncias percorridas durante as aplicações dos freios podem ser calculadas utilizando- se a Equação de Torricelli, impondo que as velocidades finais do carro sejam nulas: v2xf = v 2 xi − 2 a∆x = 0 ⇒ ∆x = v2xi 2 a . Por isso, as distâncias percorridas pelo carro durante o acionamento dos freios, em cada uma das situações, são: ∆x1 = 1 2 · 6 m/s2 · ( 25 m 3 s )2 ∼= 5,8 m; ∆x2 = 1 2 · 6 m/s2 · ( 50 m 3 s )2 ∼= 23,1 m e ∆x3 = 1 2 · 6 m/s2 · (25 m/s) 2 ∼= 52,1 m. CEDERJ 76 b22y Realce Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Desse modo, as distâncias totais percorridas são: ∆xit = xi + ∆xi ⇒ ∆x1t ∼= 11,6 m; ∆x2t ∼= 34,8 m e ∆x2t ∼= 69,6 m. Atividade 7 Atende ao Objetivo 5 O sinal amarelo num cruzamento, de largura 20 m, fica aceso durante 4 s. Quando o sinal muda para o amarelo, o para-choque traseiro de um carro dista 100 m do cruzamento. O módulo da aceleração máxima do carro é de a1 = 4 m/s 2 e o módulo da aceleração que freia o carro é de a2 = 5 m/s2. Qual velocidade mínima o carro precisa ter no instante da mudança de sinal para amarelo, a fim de que ele possa atravessar completamente o cruzamento antes de o sinal ficar vermelho? Qual é a velocidade máxima que permite que o carro pare antes de atingir o cruzamento? Considere o tempo médio de reação do motorista igual a 0,7 s. O carro tem três metros de comprimento. Resposta Comentada Se o motorista quer atravessar o cruzamento antes do sinal vermelho, par- tindo de uma velocidade mínima, ele precisa acelerar o carro na mudança do sinal. O espaço percorrido pelo carro em um tempo t1 é ∆x1 = vx1(0) · (0,7 s) + (vx1(0)) · (t1 − 0,7 s) + (4 m/s 2) · (t1 − 0,7 s)2 2 , cujo primeiro termo representa o período antes de o motorista reagir à mu- dança para o amarelo, em que o movimento é uniforme, e o segundo termo representa o período de movimento acelerado. Logo, se o motorista quiser atravessar o cruzamento antes de o sinal ficar vemelho, o carro tem que per- correr uma distnˆacia mínima de ∆x1 = 100 + 20 = 120 m em 4 s. Por isso, a velocidade inicial mínima do carro tem que ser igual a vx1(0) = 120 m 0,7 s + (4 s− 0,7 s) + 2 · (4 s− 0,7 s)2 ∼= 19,6 m/s ∼= 70,6 km/h. 77 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional Já se o motorista quer parar antes do cruzamento, partindo de uma veloci- dade máxima, ele tem que frear na mudança do sinal. O espaço percorrido pelo carro em um tempo t2 é ∆x2 = vx2(0) · (0,7 s) + (vx2(0)) · (t2 − 0,7 s)− (5 m/s 2) · (t2 − 0,7 s)2 2 . Logo, se o motorista quiser parar antes de atravessar o cruzamento e antes de o sinal ficar vermelho, o carro tem que percorrer uma distância máxima de ∆x1 = 100− 3m = 97 m em 4 s. Por isso, a velocidade inicial máxima do carro tem que ser igual a vx2(0) = 97 m 0,7 s + (4 s− 0,7 s)− 2 · 5 · (4 s− 0,7 s)2 ∼= 31,1 m/s ∼= 112 km/h. Movimentos com acelerações que dependem do tempo A resolução do problema inverso nos casos em que a aceleração da par- tícula depende do tempo requer cálculos de integrais definidas porque, nesses casos, por si só a geometria básica não é suficiente para fornecer as fórmulas para calcular as áreas. Exemplo 2.8 Uma partícula, inicialmente com velocidade vx(0) = 1 m/s, move-se sobre o eixo OX, partindo da sua origem. A aceleração da partícula em um instante de tempo t é dada por: ax(t) = bt2, com b = 1 m/s 4. A Figura 2.17 mostra o gráfico da aceleração em função do tempo: 1. Qual é a expressão da velocidade vx(t) da partícula? 2. Qual é a expressão da posição x(t) da partícula? Resolução A velocidade da partícula é vx(t1) = vx(0) + ∫ t1 0 ax(t) dt = vx(0) + ∫ t1 0 b t2 dt. Nesse caso, a geometria básica não fornece uma expressão para a área sob a curva da aceleração limitada pelas verticais definidas por t = 0 s e t = t1. Por isso, nós teremos que encontrar a primitiva da função aceleração. ATabela 2.2, apresentada nesta aula, fornece a primitiva de que precisamos, isto é, G(t) = ∫ b t2 dt = b t2+1 2 + 1 + C = b t3 3 + C, CEDERJ 78 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 Figura 2.17: Gráfico da aceleração como função do tempo. sendo C uma constante arbitrária. Temos, portanto, que vx(t1) = 1 m/s +G(t1)−G(0) vx(t1) = vx(0) + ( b t31 3 + C ) − C = vx(0) + b t 3 1 3 . Como o instante t1 pode assumir qualquer valor, podemos reescrever a velo- cidade da partícula em termos da variável t da seguinte forma: vx(t) = b t3 3 + v0x = t3 3 + 1. Na última expressão, b e v0x foram substituídos pelos seus valores numéricos, e o tempo deve ser expresso em segundos e a velocidade em m/s. A posição da partícula é dada por: x(t1) = x(0) + ∫ t1 0 vx(t)dt. Como a partícula partiu da origem, a sua posição inicial x(0) é nula. Por isso, temos que: x(t1) = x(0) + ∫ t1 0 ( b t3 3 + vx(0) ) dt. Como a integral da soma de funções é a soma das integrais das funções e a integral de uma constante vezes uma função é a constante vezes a integral da função, temos que:∫ t1 0 ( b t3 3 + vx(0) ) dt = b 3 ∫ t1 0 t3dt+ vx(0) ∫ t1 0 dt. 79 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional A Tabela 2.2 fornece as integrais necessárias para resolver o exemplo: G1(t) = ∫ t3dt = t3+1 3 + 1 + C1 = t4 4 + C1 e G2(t) = t+ C2. Portanto, a posição da partícula é x(t1) = ( bG1(t1) 3 + vx(0)G2(t1) ) − ( bG1(0) 3 + vx(0)G2(0) ) = b t41 12 +vx(0) t1. Como o instante t1 pode assumir qualquer valor, podemos reescrever a posi- ção da partícula como função da variável t: x(t) = b t4 12 + vx(0) t = t4 12 + t. Na última expressão, b e v0x foram substituídos pelos seus valores numéricos. Atividade 8 Atende ao Objetivo 4 Uma partícula, inicialmente em repouso, é acelerada e se move sobre o eixo OX, partindo da origem. A aceleração da partícula é dada por: ax(t) = bcos(2 t), com o tempo em segundos e b = 2 m/s3. Devemos nos lembrar da convenção que estamos utilizando, de que o argumento das funções trigonométricas é sempre escrito em radianos. 1. Qual é a expressão da velocidade vx(t) da partícula? 2. Qual é a expressão da posição x(t) da partícula? Resposta Comentada A velocidade da partícula é vx(t1) = vx(0) + ∫ t1 0 2cos(2 t)dt = ∫ t1 0 2cos(2 t). CEDERJ 80 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 A Tabela 2.2 fornece, mais uma vez, a função de que precisamos: G(t) = ∫ 2cos(2 t) = 2 sen(2 t) 2 + C = sen(2 t) + C. Logo, a posição da partícula é x(t1) = G(t1)−G(0)⇒ x(t) = sen(2 t1) + C − C = sen(2 t1). Como o instante t1 pode assumir qualquer valor, podemos reescrever a posi- ção da partícula como função da variável t da seguinte forma: x(t) = sen(2 t), com o tempo em segundos e a posição em metros. Resumo Nesta aula você aprendeu a resolver o problema inverso do movimento unidi- mensional, isto é, você já entendeu o processo que permite obter a velocidade e a posição de uma partícula a partir da sua aceleração instantânea e das condições iniciais: x(t1)− x(t0) = ∫ t1 t0 vx(t0) dt e vx(t1)− vx(t0) = ∫ t1 t0 ax dt. Você também aprendeu que a integral definida ∫ t1 t0 g(t) dt tem um significado geométrico no gráfico da função g(t), ou seja, ela é a área sob a curva da função g(t) entre as verticais definidas por t0 e t1. A integral definida deve ser resolvida utilizando-se o Teorema Fundamental do Cálculo. Seja a função g(t) uma função contínua definida no intervalo [t0, t1], então a integral definida existe e é dada por: G(t1)−G(t0) = ∫ t1 t0 g(tt) dt, tendo a função G a seguinte propriedade: G′(t) = g(t). A função G(t) é denominada antiderivada, ou primitiva da função g(t). A integral indefinida é o conjunto de primitivas da função g(t). 81 CEDERJ Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional A Tabela 2.3 pode ser utilizada para encontrar as primitivas de ex- pressões que contêm as funções integradas na tabela. ∫ 0 dt = C∫ C dt = C t+ C1∫ tn dt = t n+1 n+1 + C∫ cos(C t) dt = ( sen(C t) C ) + C1∫ sen(C t) dt = − ( cos(C t) C ) + C1 Tabela 2.3: Alguns exemplos de integrais indefinidas. Em todos os casos, C e C1 são constantes. As integrais definidas têm as seguintes propriedades: sejam f e g duas funções integráveis em um intervalo [t0, t1], então temos que: 1. ∫ t1 t0 (f(t) + g(t)) dt = ∫ t1 t0 f(t) dt+ ∫ t1 t0 g(t) dt; 2. ∫ t1 t0 (C f(t)) dt = C ∫ t1 t0 f(t) dt. Agora você também entendeu as origens das equações horárias do mo- vimento uniformemente acelerado utilizadas no Ensino Médio: 1. ax = ax(t0); 2. vx(t) = vx(t0) + ax (t− t0); 3. x(t) = x(t0) + vx(t0) (t− t0) + ax(t0) (t− t0) 2 2 . Informações sobre a próxima Aula Na próxima discutiremos os conceitos necessários à descrição dos movimen- tos. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Maria Antonieta Teixeira.Introdução às ciências físicas I. v. 2, 4. ed. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. CEDERJ 82 Aula 2 - As integrais utilizadas no movimento unidimensional MÓDULO 1 - AULA 2 NUSSENZVEIG, Herch Moysés. Curso de Física básica I : Mecânica. 3. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1981. OLIVERO Mário; CARDIM, Nancy. Cálculo I. 1. ed. Rio de Janeiro: Fun- dação Cecierj, 2010. PESCO, Dirce Uesu; ARNAUT, Roberto Geraldo Tavares. Matemática bá- sica. v. 1, 5. ed. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. . Geometria básica. v. 1, 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. POMBO, Dinamérico Pereira; GUSMÃO, Paulo Henrique Cabido. Cálculo I. v. 1, 3. ed. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2010. SANTOS, Angela Rocha; BIANCHINI, Waldecir. Aprendendo Cálculo com Maple: cálculo de uma variável. Rio de Janeiro: LTC, 2002. 83 CEDERJ
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