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Questões de FES I: 1) A afirmação de Hobsbawm nos mostra que a história seria essencial ao desenvolvimento da teoria econômica pois esta guiaria o estudo em economia. Lembrando o perspectivismo da existência de Nietzsche (que afirma que o mundo tem uma pluralidade de interpretações e que toda e qualquer interpretação tem origem no próprio mundo) e o fato de a teoria tentar entender, explicar e, por vezes, intervir nos fenômenos econômicos percebemos que o estudo em economia nada mais é que o desenvolvimento de teorias sobre os fenômenos econômicos (que tem origem no mundo). Dessa forma é lógico que o economista deva entender a realidade para que então possa interpretá-la, e é nesse contexto que o estudo de história está inserido. Observa-se que aprender história é evoluir na compreensão do substrato do qual parte toda a teoria econômica e que a economia desligada da história perde relação com o próprio meio que ela deve explicar. Vira um “barco desgovernado” como diz Hobsbawm ou uma ciência autista como se afirma correntemente. 2) Para Gorender a interpretação de Formação do Brasil Contemporâneo significou um “salto qualitativo” no evolver da historiografia brasileiro pois é perceptível nessa obra um desenvolvimento à teoria de ciclos que havia sido criada por John Normano e havia com Simonsen atingido seu ápice. Prado Jr. consegue dar uma visão mais global do todo, ao contrário da teoria de ciclos onde a história de cada época não parece relacionada de forma alguma à dos outros ciclos econômicos brasileiros. Caio descobre na estrutura exportadora colonial o elo de ligação entre todos esses ciclos que até então eram como “compartimentos” separados e estanques, dando um sentido totalizante à história econômica brasileira. 3) Rostow em sua obra Etapas do Desenvolvimento Economico traça sua linha argumentativa no sentido de que todas as nações estão sujeitas ao mesmo caminho em direção ao desenvolvimento economico. Caio Prado questiona esse sentido linear e previsivel proposto por Rostow e assim como o trecho de Fernanda Cardoso afirma que as características particulares de cada sociedade, ou melhor a própria história do país estudado, deve ser seriamente levado em conta no momento de estabelecer planejamentos eficientes que objetivem o desenvolvimento economico. 4) O sentido da colonização seria o fato de a economia brasileira ter se constituido apenas como forma de enriquecer a metrópole europeia com a extração ou produção do que quer que fosse mais rentável a esta. Esse sentido teria tido como consequências necessárias a organização dos segmentos produtivos entre o setor exportador-monocultor e ““Tudo mais que nela [em nossa economia] existe, e que é aliás de pouca monta, será subsidiário e destinado unicamente a amparar e tornar possível a realização daquele fim essencial [o sentido da colonização].” (p. 123)” ou “[As atividades que não têm por objeto o comércio externo] pertencem a outra categoria, e categoria de segunda ordem. (...) Não têm uma vida própria, autônoma, mas acompanham aquelas [de exportação], a que se agregam como simples dependências.” Além disso a organização interna também seria apenas resultado necessário desse sentido da colonização (objetivos que animam os colonizadores), do caráter tropical da terra e das condições da nova ordem econômica mundial: - GRANDE PROPRIEDADE: O tipo de colono “não é o trabalhador, o simples povoador; mas o explorador, o empresário de um grande negócio. Vem para dirigir: e se é para o campo que se encaminha, só uma empresa de vulto, a grande exploração rural em espécie e em que figure como senhor, o pode interessar. Vemos assim que, de início, são grandes áreas de terras que se concedem no Brasil aos colonos. (...) Nenhum daqueles colonos que emigravam com vistas largas, e não entendia levar aqui vida mesquinha de pequeno camponês, aceitaria outra coisa.” - MONOCULTURA: “A monocultura acompanha necessariamentea grande propriedade tropical; os dois fatos são correlatos e derivam das mesmas causas. A agricultura tropical tem por objetivo único a produção de certos gêneros de grande valor comercial e por isso altamente lucrativos. Não é com outro fim que se enceta (...). É fatal, portanto, que todos os esforços sejam canalizados para aquela produção (...).” - TRABALHO ESCRAVO: “Com a grande propriedade monocultural instala-se no Brasil o trabalho escravo. Não só Portugal não contava população suficiente para abastecer sua colônia de mão- de-obra, como também, já o vimos, o português, como qualquer outro colono europeu, não emigra para os trópicos, em princípio, para se engajar como simples trabalhador assalariado do campo. A escravidão torna-se assim necessidade” 5) Ainda que seja difícil não ver uma descrição preconceituosa de Caio Prado dos grupos que formam a sociedade brasileira em sua obra, o autor poderia se defender dizendo que uma descrição assim tão exagerada da “indolência” e de outros defeitos do povo brasileiro apesar de abrir um flanco para uma possível repressão, seria necessária para conclamar à sociedade a necessidade gritante de uma revolução que conseguisse finalmene romper com o “ranço colonial” no Brasil. Lembrando que Caio Prado tratou essa parte da população dessa forma, pois eles não são de fatos atores diretos do sentido da colonização, pois são trabalhadores livres e como tais, são minorias em seu modelo e portanto podem ser encarados como inorgânicos e marginais. 6) Ambos autores criam uma teoria pautada no pensamento para a ação. A teoria de Caio Prado Jr. é ligada a um pensamento marxista, e como tal, nunca poderia ter se transformado em pauta de ação para a burguesia, enquanto Furtado, apesar de ser bastante independente dos poderes econômicos, acaba tendo sua obra convertida em arma da nova burguesia industrial brasileira. Caio Prado portanto através de suas obras tentaria conclamar a revolução que, para ele, seria a única capaz de livrar o Brasil de seu ranço colonial. Já Furtado, que para Francisco de Oliveira se esquece em sua teoria das questões sociais no Brasil e as submete aos interesses da classe dominante, é partidário de um espírito reformista para mudar as estruturas econômicas do país. Ele acreditava que uma revolução não se fazia necessária e poderia colocar em risco os avanços que já haviam sido conquistados. 7) Para Caio Prado Jr. o ranço colonial se fazia presente, ainda em 1942, em diversos aspectos da sociedade brasileira. A orientação do sistema colonial para desenvolver ao máximo as nações europeias no contexto do desenvolvimento comercial das mesmas seria o principal ponto, para o autor, que explicaria a forma como se deu todo o desenvolvimento econômico brasileiro. Na mesma linha, Novais evolui o argumento de Caio Prado, afirmando que este não teria tido total compreensão do fenômeno (ficando no meio do caminho) e mostra que essa colonização estaria contida não apenas no desenvolvimento mercantil europeu mas também seria responsável pela acumulação primitiva de capital essencial à conclusão do desenvolvimento capitalista (que não teria forças endógenas capazes de realizar essa acumulação primitiva): o capitalismo industrial. 8) Para eles o fato de ver o subdesenvolvimento brasileiro como culpa da forma como se deu nossa colonização e seu sentido (como Caio Prado Jr. faz) acaba tirando a culpa das elites nacionais. Além disso a visão de longo prazo de Caio Prado acaba inevitavelmente dando uma visão abstrata e rígida e coloca a realidade à margem da interpretação. João Fragoso e Manolo Florentino demonstram a importância da atividade comercial dentro do Brasil colonial e seu papel na formação e uma elite brasileira e seus valores presentes na sociedade até os dias de hoje; As criticas feitas pelos dois a Caio Prado, giram em torno da não importância que Caio Prado demonstra para coma relações comerciais internas da colônia, somente salientando o caráter exportador que segue o “sentido da colonização” 9) “A constituição do Brasil como uma economia reflexa e dependente não decorreu meramente da exploração metropolitana ou do fato da colônia ter se voltado para o fornecimento de produtos para o comércio europeu [como em Caio Prado Jr.], mas derivou, essencialmente, da forma de capital que marcou nossa história até 1888: o capital escravista.” A medida que se ampliava a produção escravista-mercantil, maiores eram suas exigências em termos de suprimento de cativos e de escoamento da produção efetuada. 10) pgs.76 e 77 do Novais: A riqueza flamenga a muito advinha de sua condição de entreposto comercial, centro de transferência e redistribuição dos produtos (carrying trade) daí advinha sua política pautada pelo liberalismo. Criaram-se entre 1595 e 1602 diversas companhias na tentativa de comercializar produtos orientais, havendo porém resultados desastrosos pois as companhias acabavam competindo entre si agravando os problemas trazidos por um comércio a longa distãncia. Em 1602 porém impõe-se uma orientação monopolista com a criação da Cia. das Índias Orientais, que garantia exclusividade das operações no oriente. Analisando o episódio percebemos que eram necessárias as garantias de uma operação monopolista para que as necessidades do capitalismo mercantil fossem atendidas, somente dessa forma era viável a realização de um comércio lucrativo com o oriente que garantisse uma acumulação de capital da burguesia comercial holandesa. 11) Para os autores, o sistema colonial, ou seja, a forma pela qual se deu e os interesses que guiaram a colonização das terras americanas a partir do século XVI é o principal agente que explica a forma pela qual se deu o desenvolvimento da economia colonial. O fato de toda a estrutura econômica estar voltada para o abastecimento das metrópoles teria causado danos profundos que até a época que os autores escreveram seriam sentidos. A própria dificuldade em se desenvolver do país estaria em boa medida ligada a esse sistema colonial que para Novais estaria ligado à acumulação primitiva de capital do sistema capitalista. Dessa forma percebemos que para os autores a colonização era o principal fato da história do Brasil e seria ao redor dele que tudo o resto orbitaria. 12) Há enorme discordância entre Gorender e Furtado no que tange ao entendimento de quais foram os interesses dominantes e vitoriosos com a revolução de Avis em 1395. Enquanto Furtado acredita que houve uma completa e definitiva ascensão da burguesia sem ligação com um passado feudal ao poder (rev. de Avis como rev. burguesa), Gorender coloca esta como uma Rev. Nacional que leva somente a uma renovação da burguesa portuguesa. Elementos da burguesia se enobrecem e substituem membros da antiga nobreza que haviam apoiado D.João de Castelo na disputa sucessória, ele acredita portanto na existência de certa continuidade nessa dinastia em relação à situação anterior. 13) A referida frase é de autoria do historiador Fernando Novais. Para tal autor, como explicitado na citação, o sistema colonial mercantilista foi um dos pilares da acumulação primitiva, ao estilo marxista, que proporcionou a transição do mercantilismo para o capitalismo moderno. Diferente deste, Gorender argumenta que a contribuição do colonialismo foi importante para a acumulação primitiva de capital e o consequente desenvolvimento capitalista na Europa, porém, tal ocorrência foi sucedida nos países cuja estrutura socioeconômica já vinha sendo antes trabalhada por fatores revolucionários internos – a exemplo dos “cercamentos” e revoluções Inglesas – são tais fatores, portanto, os fundamentais para a transição. O Estado Português teria praticado, em suas palavras, um “mercantilismo inferior” em cuja exploração colonial bastava, sem ter se desenvolvido no sentido do protecionismo da indústria nacional, caso do Estado Inglês. 14) A discussão entre Gorender e Faoro se dá especialmente no ponto que cada um dos autores vê como sendo fundamental e caracterizador do feudalismo. Faoro prova que não existem as relações de suserania e vassalagem em Portugal, como havia no resto da Europa pois os nobres não tinham as prerrogativas das outras regiões, eles apenas dominavam as terras. Gorender argumenta porém que não é a vassalagem o ponto fundamental e caracterizador do feudalismo, usando a caracterização de Dobb, Gorender afirma que o essencial são as relações de produção e portanto o fato de haverem servos com obrigações ligadas à tradição em portugal caracteriza por si só a existência de um feudalismo: o feudalismo de tipo português. 15) A interpretação sobre “Mercantilismo Inferior” de Jacob Gorender, se baseia no contentamento português da exploração colonial que não evoluía no sentido do protecionismo da indústria nacional, como fizeram outros países (Inglaterra e França). Isto ocorreu devido a persistência de uma sociedade arcaica, onde existia a convergência de interesses entre “nobreza e burguesia”, e na qual a nobreza havia se renovado mas continuava identificando-se com as característucas próprias dessa elite. O pioneirismo na expansão ultramarina e o sucesso e lucros inicias podem ter tornado os portugueses “acomodados”, o que culminou no não desenvolvimento do capital industrial e continua dependência da colônia-metrópole. Teve como consequências o esfacelamento econômico de Portugal, logo em seguida no decorrer da historia, e o triunfo dos países industriais, principalmente a Inglaterra. Portanto, a afirmação de Iraci Del Nero, tem em sua primeira parte as consequências das medidas não tomadas por Portugal e criticadas por Gorender. Já a segunda parte da afirmação fica na retaguarda, “se ela não viesse a obter êxito”, pois obteve. 16) Nota-se a presença da teses de Caio Prado Jr. no trecho, Ceuta tornou-se centro produtor de cereais para abastecer as necessidades portuguesas. O resto = ????????? 17) A afirmação que segue é do escritor Caio Prado Junior, que passa a visão do colono europeu (português no nosso caso) que viria para colonizar a America. Como explicado na citação, o colonizador só desbravaria natureza hostil aqui existente caso fosse senhor de uma quantia relevante de terras, em que não precisasse trabalhar e para produzir algo lucrativo. Essa visão pradiana vai de encontro com a análise realizada por Godinho sobre a expansão quatrocentista portuguesa. Pois, a sociedade expansionista portuguesa, subdividida em nobres (com anseios territoriais) e burguesa (com anseios comercias) - formavam as camadas privadas com capitais suficientes para financiar projetos como a colonização brasileira - dificilmente se lançaria além- mar para trabalhar. A solução era a existência de senhores e escravos, pois mesmo os homens portugueses sem capitais prefeririam continuar em Portugal ou seguir para as “Índias Orientais” do que vir para America à trabalho. 18) Para Godinho a afirmação do romancista Martim Page não é correta. O historiador, baseado em sua analise sobre a expansão quatrocentista portuguesa, afirma ser esta uma particularidade da Coroa Lusitana, que em principio era a única a ter capital suficiente para financiar tais projetos. Tal política expansionista era, portanto, monopólio do Reinado, o qual concedia muitas vezes à particulares a autorização para lançarem-se aos mares. O autor chega a citar as ordens religiosas - como a Ordem de Cristo de Page – mencionando sua concentração fundiária (de capitais) e suas expansões marítimas, mas sempre como um grupo particular o qual recebeu doações da Coroa Portuguesa. 19) O Reinado de Dom João II que vai de 1481-1495, trás a tona o objetivo português de alcançar o Oriente. Tal Rei sedimenta a hegemonia marítima portuguesa no Atlântico Meridional. Cria redes comerciais inter-oceânicase deixa a territorialidade secundarizada. Seu sucessor, o Rei Dom Manuel, governa de 1495-1521, sendo sua prioridade é o Oriente. Em seu reinado o Brasil é descoberto. O reinado de Dom João III (1521-1557) é marcado por vetores geopolíticos e econômicos que desfavorecem Portugal no Oriente. Com a diminuição da comercialização no Oriente, Dom João III incentiva a colonização do Brasil no intuito de defendê-lo de estrangeiros e com objetivos auríferos, tendo como exemplo o rico Império Colonial da America de seus vizinhos espanhóis. 20) O sucesso do empreendimento lusitano no Brasil é explicado por uma confluência da fatores, que possibilitaram a instalação e expansão da industria açucareira na região do atual nordeste. As técnicas de produção adquiridas pelos portugueses na implantação do sistema açucareiro das ilhas atlânticas supriram as necessidades dos métodos de produção. Os vínculos criados com os Holandeses, que financiaram grande parte do processo produtivo, encarregaram-se de criar o mercado demandante (melhorando a distribuição e atingindo novos mercados), fizeram a grande parte dos transportes e o refinamento do produto, foram outros fatores de grande relevância para o sucesso lusitano. O antigo contato Português com o tráfico de mão de obra Africana para outras regiões, incluindo a Europa, foi outro fator ao suprir o empreendimento brasileiro com trabalhadores escravos – tem-se que a escassez de aborígenes locais (que logo cedo veio a faltar), a diminuta população metropolitana e a imprevisibilidade de estes (trabalhadores português) virem ao Brasil à trabalho prejudicaria a implantação do sistema canavieiro. E por fim, outro importante fator foi a descoberta precoce de ouro na America Espanhola e a consequente inércia econômica da metrópole. A qual se estagnou economicamente, formando uma classe parasitaria que viviam das remessas de moedas preciosas da colônia, importando tudo que lhe era necessário, impedindo o desenvolvimento metropolitano. Este é um fator relevante, pois analisando a América Espanhola, esta possuía terras (tão qualificadas para a cana-de-açúcar como o Brasil), mão de obra abundante (aborígenes locais) e capital para financiar seu empreendimento (dado a quantidade de ouro encontrado), sua estagnação, portanto, foi importante para o sucesso do açúcar brasileiro. 21) Valendo-se da argumentação de Celso Furtado e de Charles Boxer, percebemos que estes historiadores enxergam a colonização brasileira, assim como a afirmativa de Freyre, dividida em um inicio desestimulante e um decorrer extremamente interessante para a metrópole colonizadora no jogo das competições imperialistas europeias. Em principio, a ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal pelas demais nações europeias. E tendo em vista este ser o período de exploração portuguesas no Oriente, percebe-se o desapontamento e o desinteresse pelo domínio das terras de pau-de-tinta. Porém, dada a queda do Império Português do Oriente devido a motivos específicos e ao mesmo tempo o encontro de uma forma de utilização econômica das terras americanas que justificaram sua ocupação e cobririam os gastos de defesa das terras, o açúcar. O que caracteriza uma nova fase de atividade portuguesa, a colonização passa a ser algo de grande interessante ao Reino Lusitano. Ou seja, em um primeiro momento temos a colonização brasileira como algo necessário, caso contrário seria perdido, e nesse mesmo período tem-se o lucrativo comércio com o oriente. Em seguida, tem-se a queda do império do oriente e o concomitante desenvolvimento americano de uma atividade que justificaria sua exploração, além de suprir a metrópole com um novo centro explorador (dada a queda do oriente). 22) A política espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias em sistemas econômicos o quanto possível autossuficientes e produtores de um excedente líquido, na forma de metais preciosos, que se transferia periodicamente para a metrópole. Esse afluxo metálico para a metrópole fez com que o poder econômico do Estado crescesse demasiadamente, causando uma crônica inflação e uma persistente balança comercial deficitária, ou seja, um aumento das importações e uma diminuição das exportações. Gerando uma camada de pessoas economicamente inativas, vivendo de subsídios do governo. A decadência econômica da Espanha prejudicou enormemente suas colônias americanas. Fora da exploração mineira, nenhuma outra empresa econômica de envergadura chegou a ser encetada. Podemos, portanto, caracterizar esse período econômico vivido pela Espanha, como um típico caso de Doença Holandesa, que ocorre quando uma nação se depara com algo extremamente rentável e de grandes proporções e devido a isso involução econômica, devido à estática e retrocesso da produção e o parasitismo que se cria. A decadência econômica espanhola favoreceu demasiadamente o êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa nas Américas. Pois a proximidade e fecundidade das terras espanholas na America, a abundancia de mão de obra local e a facilidade de capital que poderia ser oferecido à colônia, permitiria o surgimento de uma empresa agrícola espanhola mais lucrativa que a portuguesa. 23) a) As duas primeiras etapas estavam adequadas à política colonial então vigente, ou seja, obedeciam ao “sentido da colonização”, atendendo aos anseios metropolitanos, produzindo aqui algo que interessava economicamente ou comercialmente a Europa, criando um excedente líquido ao respectivo Reino. A terceira etapa não se adequava à política colonial, pois surgiu como uma economia similar a europeia, dirigida de dentro para fora, produzindo principalmente para o mercado interno, sem uma separação fundamental entre as atividades para exportação e aquelas ligadas ao mercado interno, ou seja, não obedecia mais ao “sentido da colonização”. b) Ao inverso dos interesses metropolitanos, as duas primeiras etapas, as quais obedeciam a uma lógica externa, foram pouco frutíferas para o desenvolvimento da própria colônia. Pois todo excedente gerado tinha como destino o exterior, não se criava, portanto, relações econômicas internas que gerasse o desenvolvimento das colônias. Diferente da terceira etapa, que surgiu como uma econômica colonial similar à europeia, articulando o mercado interno da colônia e permitindo seu desenvolvimento. 24) Schwartz ressalta o caráter “moderno” do empreendimento colonial açucareiro, que era dispendioso, complexo (com divisão do trabalho e “ciência” no refino) e relativamente grande para os padrões contemporâneos. Ainda, na comparação do processo de trabalho num engenho escravista com uma grande fábrica inglesa do início do séc. XIX, feita pelo mesmo Barros de Castro, temos a dimensão da sofisticação da economia açucareira para sua época. Por outro lado, o escravo se apresenta como uma antecipação do moderno proletário – nesse caso, coerção que age sobre ele é extra-econômica. Assim, é impossível considerar a existência de um sistema econômico moderno como a economia açucareira sem considerar a importância da escravidão para seu desenvolvimento. Ainda, segundo Gorender, o mercantilismo praticado em Portugal não era voltado a um protecionismo que garantisse um fortalecimento da indústria (à época, manufatura) interna, mesmo porque isto não atendia aos interesses das duas principais classes sociais, e também porque o setor manufatureiro era de fato pouco desenvolvido ali. Tal política econômica revela as razões por trás da futura dependência de Portugal perante a Inglaterra, oficializada pelo Tratado de Methuen, que sepulta a nascente indústria lusitana. Assim, fica evidente o sentido das palavras de A.J. Saraiva quando este afirma que “o Estado português no século XVI oferece exteriormente umaaparência ‘moderna’, (...) [mas] por outro lado, ele assegura, no interior do País, a persistência de uma sociedade arcaica”. Dessa forma percebemos que ambas as frases estão completamente relacionadas. Enquanto na indústria açucareira uma estrutura muito moderna de produção, com divisão do trabalho e características industriais, garantia a permanência de uma estrutura arcaica de exploração da mão-de-obra (o trabalho escravo), em Portugal o Estado também conciliava um lado extremamente moderno (de grande empresa econômica) com uma faceta absolutamente arcaica, já que esta empresa garantia a manutenção de uma sociedade feudal através da repartição de seus lucros entre os funcionários e acionistas dessa “empresa” que era o governo. 25) “(...) o fabrico do açúcar já apresentava características nitidamente manufatureiras de divisão do trabalho. O açúcar já era, nos primeiros engenhos brasileiros, produto do ‘trabalhador coletivo’. Isto, para a época, era um progresso extraordinário, como forma de trabalho em cooperação, e uma antecipação da total ruptura das formas de divisão profissional do trabalho prevalecente na produção artesanal. (...)” - Ruy Gama. 26) Segundo Furtado: “Pode-se admitir, como ponto pacífico, que a economia açucareira constituía um mercado de dimensões relativamente grandes, podendo, portanto, atuar como fator altamente dinâmico do desenvolvimento de outras regiões do país. Um conjunto de circunstâncias tenderam, sem embargo, a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse impulso dinâmico.” O trecho acima deixa claro que, apesar da capacidade teórica de prover um desenvolvimento econômico fantástico, a economia do açúcar acabou, basicamente, enviando renda ao exterior. O próprio autor explica o fato no seguinte trecho: “Tudo indica, destarte, que pelo menos noventa por cento da renda gerada pela economia açucareira dentro do país se concentrava nas mãos da classe de proprietários de engenhos e plantações de cana. (...) A parte dessa renda que se despendia com bens de consumo importados - principalmente artigos de luxo - era considerável. (...) parte substancial dos capitais aplicados na produção açucareira pertencia aos comerciantes. Sendo assim, uma parte da renda, que antes atribuímos à classe de proprietários de engenhos e de canaviais, seria o que modernamente se chama renda de não- residentes, e permanecia fora da colônia. Explicar-se-ia assim, facilmente, a íntima coordenação existente entre as etapas de produção e comercialização, coordenação essa que preveniu a tendência natural à superprodução.” Quanto à economia do ouro, o autor assinala: “A causa principal [para a ausência do desenvolvimento endógeno] possivelmente foi a própria incapacidade técnica dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras em escala ponderável. (...) O acordo de 1703 com a Inglaterra (Tratado de Methuen) destruiu [o] começo de indústria e foi de consequências profundas tanto para Portugal quanto para sua colônia. Houvessem chegado ao Brasil imigrantes com alguma experiência manufatureira, e o mais provável é que as iniciativas surgissem no momento adequado, desenvolvendo-se uma capacidade de organização e técnica que a colônia não chegou a conhecer. (...) Se o ouro criou condições favoráveis ao desenvolvimento endógeno da colônia, não é menos verdade que dificultou o aproveitamento dessas condições ao entorpecer o desenvolvimento manufatureiro da metrópole.” Nota-se, assim, que ambas as economias estavam fadadas à, na visão furtadiana, pouco colaborar para o desenvolvimento consiste e duradouro do Brasil. Em relação à renda gerada pelo ouro, o autor evidencia sua semelhança ao observado com os lucros do açúcar: “Em Portugal compreendeu-se claramente que a única saída [para a crise do açúcar] estava na descoberta de metais preciosos. Retrocedia-se, assim, à ideia primitiva de que as terras americanas só se justificavam economicamente se chegassem a produzir os ditos metais”. É perceptível, portanto, que a mesma mentalidade que levou os espanhóis à extraírem o ouro da América Central tão logo alcançaram o continente ressurgia em Portugal, séculos mais tarde. As consequências para as colônias, porém, eram idênticas: mera extração de metais, cujo elevado valor de mercado era imediatamente transportado para Europa. 27) Furtado utiliza estimativas que apontam para lucros extraordinários, da ordem de 80%, enquanto Mauro obtém números próximos de 4%. São dois extremos baseados em métodos diversos de análise dos precários dados disponíveis sobre a época, e o lucro real provavelmente se encontra entre os dois extremos. 28) Segundo Schwartz, a principal parcela do capital dos engenhos encontrava-se nas terras, seguida pelos investimentos em mão-de-obra escrava. A importância das terras para a composição do capital coloca em questionamento a idéia de que nos engenhos a mão-de- obra era o fator produtivo crucial, que é a visão também de Gorender: os dados certamente questionam tal posicionamento, embora seja também inegável a importância do total de escravos na composição do capital dos engenhos. As despesas com força de trabalho eram, de longe, as mais significativas, seja pela necessidade de reposição do estoque de escravos (observar aqui que este peculiar investimento em estoque era, como as demais formas de investimento, observado como despesa corrente, conforme salientado há pouco), seja pelos salários pagos a trabalhadores livres, contratados para serviços esporádicos ou enquanto profissionais especializados necessários à produção. Embora os custos com mão-de-obra tenham diminuído ao longo do tempo, o que se deveu principalmente pela substituição de assalariados por escravos treinados para funções mais específicas, as despesas com mão-de-obra permaneceram ainda como as mais significativas. Vale ressaltar o caráter destes dispêndios com mão-de-obra. Todo o custo despendido na aquisição de escravos na verdade era investimento em capital, ou seja, custo fixo, ao passo que a força de trabalho assalariada forma, como hoje, custos variáveis. A grande importância que possuía a força de trabalho na composição dos custos evidencia ainda mais fortemente que a indústria açucareira estava ancorada em grandes custos fixos; isso a fazia particularmente “robusta” diante de alterações de preços, de modo que podia operar com prejuízo no curto prazo, contanto que as receitas auferidas ainda pudessem compensar os custos fixos. Apesar dos pesados custos com a escravaria, dados referentes à produtividade do escravo revelam que as rendas geradas pelo trabalho desses eram suficientes para compensar as despesas de aquisição e manutenção em cerca de três anos e meio. Para Schwartz, o que explica o grande desenvolvimento da economia açucareira no período inicial, sobretudo no século XVI, foi a concessão de terras pela Coroa. Como já observado, as terras formavam a parcela principal do capital de um engenho; se não houvesse dispêndios para adquiri-la, tinha-se a oportunidade de obter grandes retornos, de tal forma que a concessão das sesmarias proporcionou um motor para a expansão da indústria. Além disso, o aumento da riqueza por parte dos senhores de engenho não se deu fundamentalmente através de aumentos sucessivos na renda, mas no estoque de ativos da economia. Isto significa que as taxas de retorno sobre o capital na forma de rendimentos efetivos não precisavam ser muito elevados para que a atividade fosse extremamente atraente: obtida uma terra por concessão, os senhores de engenho investiam na infra-estrutura necessária à produção; o resultado era que o estoque de capital da economia crescia muito e de modo realmente rápido. A demanda e os preços em ascensão aumentaram ainda mais a atratividade da indústria.Ao fim do século XVI, a disponibilidade de terras para concessão havia chegado ao esgotamento. Agora obter a terra implicava a necessidade de um capital muito mais considerável. Some- se a isto a crise decorrente da queda dos preços e ter-se-á o panorama da retração da indústria açucareira. 29) Crise do açúcar resulta em menos ouro em Portugal, que por sua vez causa desvalorização cambial, prejudicando as importações e beneficiando as exportações. Em tese isso melhora a renda no Brasil porque as importações seriam mais baratas para nós, mas como na verdade importávamos produtos ingleses (indiretamente), nada se modifica de fato, dado que o ouro era a moeda comum. Assim, a crise do açúcar poderia beneficiar Brasil, mas na prática beneficia só os exportadores portugueses. 30) Sobre o surgimento e características da economia nordestina, diz Furtado: “A economia criatória [transformou-se] num fator fundamental de penetração e ocupação do interior brasileiro. Deve-se ter em conta, entretanto, que essa atividade, pelo menos em sua etapa inicial, era um fenômeno econômico induzido pela economia açucareira e de rentabilidade relativamente baixa. (...) Sendo a criação nordestina uma atividade dependente da economia açucareira, em princípio era a expansão desta que comandava o desenvolvimento daquela. (...) A criação de gado também era em grande medida uma atividade de subsistência, sendo fonte quase única de alimentos e de uma matéria-prima (o couro) que se utilizava praticamente para tudo. Essa importância relativa do setor de subsistência na pecuária será um fator fundamental das transformações estruturais por que passará a economia nordestina em sua longa etapa de decadência.” Sobre a crise do açúcar com enfoque no Nordeste, o autor escreve: “ 31) O pacto colonial estabelecia que a colônia somente poderia adquirir manufaturas de sua metrópole, como forma de incentivar esse setor produtivo, enquanto só poderia vender sua matéria-prima e recursos naturais para a mesma metrópole. A intenção do pacto é clara: fornecer metais preciosos (renda em si) ou artigos tropicais para produção manufatureira ou revenda da metrópole, enriquecendo-a às custas da colônia. Nas Antilhas, porém, em determinados momentos observa-se uma inversão: em situações de crise por falta de demanda, as metrópoles (França e Inglaterra) tornam-se reservas de mercado, que se vêem obrigadas à adquirir o açúcar da sua colônia e não da outro local que eventualmente apresente um preço mais competitivo, como ocorreria no livre mercado. Nesse caso, temos um sacrifício involuntário metropolitano em benefício da colônia, por isso o nome ‘pacto colonial às avessas’. No Brasil, porém, as consequências são negativas, dado que os importantes mercados inglês e francês se viam blindados por o que pode-se chamar de ‘exclusivo colonial’ em relação às Antilhas. 32) Ver questão 26, mesma pergunta e mesma resposta. 333) A faiscação era a pequena extração representada pela iniciativa do próprio garimpeiro, um homem livre de poucos recursos que excepcionalmente poderia contar com alguns ajudantes. No mundo do garimpo o faiscador é considerado um nômade, reunindo-se às vezes em grande número, num local franqueado a todos. Tal atividade se realizava principalmente em regiões ribeirinhas e em áreas em que a lavra já não se mostrava produtiva, cenário comum pelos em fins do século XVIII, quando a mineração entra num processo de franca decadência. Tendo em vista a definição acima, nota-se que o faiscador era um membro do que Caio Prado classificaria como inorgânico, ou seja, parcela da sociedade brasileira absolutamente minoritária e portanto insignificante para compreender o sentido da colonização, baseado no entendimento dos grandes grupos sociais (principalmente senhores de engenho e escravos). Com esse modelo pradiano em mente, fica previsível a significação que o autor atribui ao faiscador: seria sinal de decadência da região mineratória, pois apareceria apenas quando o local já estivesse e vias de esgotar-se em termos de extração do ouro. Furtado, por sua vez, viu no faiscador uma inédita possibilidade de ascenção social, ao observar que pela primeira vez na história do país um homem livre com poucas posses poderia tentar a sorte nas minas e, eventualmente, enriquecer e adquirir escravos. Por esse prisma, o sentido da colonização de Caio Prado seria abalado, dado que seria atribuída alguma importância à um segmento social que, no modelo em questão, havia sido desprezado. 34) O Regimento de 1700 estabelecia, via sorteio, um montante de terra à ser extraído por particulares, proporcional ao número de escravos possuídos, mas de forma que os ‘brancos pobres’, mesmo sem escravos, recebessem uma quantidade de terra. Essa característica possibilitava certo grau de mobilidade social, ao menos muito superior ao obervado durante o ciclo do açúcar. Em 1702, porém, os não-proprietários deixam de receber terras para extração individual, vendo-se obrigados à associar-se à um detendor de datas para conseguir algum rendimento. Nesse sentido há estreitamento do campo social que podia usufruir da renda do ouro brasileiro. Caio Prado (sentido da colonização) falaria que essa medida visava atender ao interesse colonizador de Portugal, e o Novais (sentido profundo) iria além e argumentaria que esse ouro era essencial para o desenvolvimento posterior do capitalismo por ser uma forma de acumulação primitiva, de acordo com o modelo marxista. 35) Ver questão anterior (34). 36) Furtado afirma, ainda sobre o ciclo do açúcar: “A economia criatória [transformou-se] num fator fundamental de penetração e ocupação do interior brasileiro. Deve-se ter em conta, entretanto, que essa atividade, pelo menos em sua etapa inicial, era um fenômeno econômico induzido pela economia açucareira e de rentabilidade relativamente baixa. (...) Sendo a criação nordestina uma atividade dependente da economia açucareira, em princípio era a expansão desta que comandava o desenvolvimento daquela. (...) A criação de gado também era em grande medida uma atividade de subsistência, sendo fonte quase única de alimentos e de uma matéria-prima (o couro) que se utilizava praticamente para tudo. Essa importância relativa do setor de subsistência na pecuária será um fator fundamental das transformações estruturais por que passará a economia nordestina em sua longa etapa de decadência.” A importância da pecuária é reforçada quando o autor trata do contexto mineratório: “A pecuária, que encontrara no sul um habitat excepcionalmente favorável para desenvolver-se, (...) passará por uma verdadeira revolução com o advento da economia mineira. Se se considera em conjunto a procura de gado para corte e de muares para transporte, a economia mineira constituiu, no século XVIII, um mercado de proporções superiores ao que havia propiciado a economia açucareira em sua etapa de máxima prosperidade. Destarte, os benefícios que dela se irradiam para toda a região criatória do sul são substancialmente maiores do que os que recebem o sertão nordestino.” 37) 38) 39) 40)
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