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Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 1 FAMENE NETTO, Arlindo Ugulino. IMUNOLOGIA IMUNIDADE INATA (Professora Karina Karla) Como já sabemos, a resposta imune é divida em resposta imune inata e resposta imune adquirida que, embora ambas aconteçam simultaneamente, cada uma apresenta células específicas para cada tipo de resposta. O sistema imune inato é a forma de imunidade que nasce com a pessoa, sem precisar de substâncias ou estruturas exteriores, ou seja, é a primeira resposta de defesa do organismo. É a imunidade fornecida pelos macrófagos (células fagocitárias); pela pele, que é uma barreira de proteção contra microorganismos invasores; por substâncias químicas presentes no corpo (na pele principalmente); pelo sistema complemento (um complexo de proteínas que atuam na imunidade). Portanto, é uma imunidade nativa, natural e inespecífica, ou seja, não tem preferencia de qual microorganismo invasor esse tipo de sistema atua. Ele apenas defende o organismo de forma rápida, inespecífica e aguda. Apesar de ser inespecífica e rápida (respostas agudas), a resposta imune inata ativa a imunidade adaptativa. Podemos indentificar, por tanto, algumas diferenças entre esses dois tipos de resposta imune: Especificidade: Os microorganismos apresentam estruturas comuns entre eles denominadas de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs), de modo que é por meio desses padrões que as células da resposta imune inata os reconhece. É por isso que não há diferença de especificidade pelo sistema imune inato, uma vez que os PAMPs são estruturas em comum a todos os microorganismos. Diferentemente da imunidade adaptativa, que reconhece peptídios específicos dos microorganismos, que serão degradados e apresentados, para serem reconhecidos especificamente por receptores dos linfócitos (TCR e BCR). Receptores: os receptores das células dos dois tipos de respostas são codificadas de maneira diferente. Os receptores da imunidade inata são representados por receptores da linhagem germinativa (lipopolissacarídeos, resíduos de N-formil metionina, receptores de manose e de scavenger), com uma diversidade limitada. Já a produção dos receptores da resposta imune adaptativa são sintetizados por recombinação somática de genes para que haja uma alta especificidade de receptores. Distribuição dos receptores: células do sistema imune inato apresentam receptores não-clonais (receptores idênticos em todas as células de uma mesma linhagem). Já as células do sistema imune adaptativo são da série clonal (clones de linfócitos com especificidades distintas expressam receptores diferentes). Discriminação entre peptídeos próprios e não-próprios: a imunidade inata é capaz de diferenciar as células do hospedeiro das do agente invasor, de modo que as células do primeiro não são reconhecidas. Bem como ocorre no sistema imune adaptativo, sendo que nesta, a diferenciação é baseada na seleção contra-linfócitos auto-reativos (que quando falha, dá origem a autoimunidade). Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 2 COMPONENTES DA IMUNIDADE INATA BARREIRAS Camadas epiteliais: impedem a entrada de microrganismos, atuando como barreira para entrada de componentes estranhos para o organismo. Defensinas: enzimas com funo microbicida (morte microbiana). Linfcitos intra-epiteliais: linfcitos presentes no epitlio (que no tm caracter sticas de resposta adquirida) que causam a morte microbiana. CLULAS EFETORAS CIRCULANTES Neutrfilos: fagocitose inicial e morte de microrganismos. Macrfagos: fagocitose eficiente de microrganismos, secreo de citocinas que estimulam a inflamao. Caso seja necessrio, ele serve como um apresentador de ant geno, solicitando um outro tipo de resposta imune. Clulas NK: responsvel pela lise de clulas infectadas e ativao de macrfagos. um tipo de linfcito que, como exceo, no participa da reposta imune adquirida por no possuir TCR ou BCR (receptores de alta especificidade). PROTENAS EFETORAS CIRCULANTES Complemento: causam a morte de microrganismos, opsonizao (facilitao da fagocitose) e ativao de leuccitos. Quando as clulas do complemento so ativadas, geram uma cascata de ativaes que terminam na formao de um complexo de ataque membrana, que se liga ao microrganismo, na tentativa de causar lise no mesmo. Lectina de liga o manose (colectina): opsonizao de microrganismos, ativao do complemento (via da lectina). Protena C-reativa (pentraxina): opsonizao de microrganismos e ativao do complemento. A presena da bactria ativa a PCR, servindo como um fator facilitador da fagocitose, se ligando a bactria e eliminando cargas que repelem a bactria e o macrfago. A PCR mensurada em processos de inflamao aguda. Fatores da coagula o: bloqueio dos tecidos infectados. CITOCINAS TNF, IL-1, quimiocinas: inflamao; IFN-α, IFN-β: resistncia infeco viral; IFN-γ: ativao de macrfagos; IL-12: produo de IFN-γ pelas clulas NK e pelas clulas T; IL-15: proliferao de clulas NK; IL-10, TGF-β: controle da inflamao. RESISTNCIA NATURAL EXTERNA PELE A pele a principal barreira externa do sistema imune inato. A sua superf cie lipof lica constitu da de clulas mortas ricas em queratina, uma prote na fibrilar, que impede a entrada de microorganismos. As secrees ligeiramente cidas e l pidicas das glndulas sebcea e sudor para criam um microambiente cutneo hostil ao crescimento excessivo de bactrias. Podemos destacar alguns componentes da mesma, como: Queratincitos: clulas que formam uma placa protetora impedindo a entrada de agentes estranhos no organismo por meio da pele. Pelo: funo de controlar e limitar a entrada e contato de microrganismos com a superf cie epitelial. Glandulas sebcias e sebo Enzimas como defensinas, catalecidinas e lisosimas. Microbiota da pele Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 3 EPITÉLIO RESPIRATÓRIO Está em contato com o meio externo por meio da boca e nariz. Tem como mecanismos de resistencias naurais: Microbiota Cílios Muco Enzimas (amilase, lisozima) EPITÉLIO GASTRO-INTESTINAL Microbiota Peristaltismo Ác. Clorídrico Saliva/ Enzimas (amilase, lisozima) SISTEMA UROGENITAL Microbiota Urina (pH e fluidez) Muco (canal endocervical) Enzimas (esperminas e espermidinas) RESISTNCIA NATURAL INTERNA – CLULAS DO SISTEMA IMUNE INATO A resistência natural interna do sistema imune inato reúne aquelas células que, sem uma avidez específica por antígenos, têm capacidade de fagocitá-los, produzir citocinas (e outros mediadores), além de apresentar esses antígenos, ativando o sistema imune adaptativo. MACRÓFAGOS (MØ) São células de grandes dimensões do tecido conjuntivo, ricos em lisossomos, que fagocitam elementos estranhos ao corpo. Os macrófagos derivam dos monócitos do sangue (que se direcionam aos tecidos e se denominam como macrófagos) e de células conjuntivas ou endoteliais. Intervêm na defesa do organismo contra infecções. Possuem duas grandes funções na resposta imunitária: fagocitose e destruição do microrganismo; e apresentação de antigénios a linfócitos T. Suas funções mais relevantes são: Fagocitose APC (apresentação de antígenos para os linfócitos) Secreção de citocinas e mediadores NEUTRÓFILOS Os neutrófilos são uma classe de células sanguíneas leucocitárias, que fazem parte do sistema imunitário do corpo humano. São leucócitos polimorfonucleados, têm um tempo de vida médio de 6h no sangue e 1-2 dias nos tecidos e são os primeiros a chegar às áreas de inflamação, tendo uma grande capacidade de fagocitose. Estão envolvidos na defesa contra bactérias e fungos. Os neutrófilos possuem receptores na sua superfície como os receptoresde proteínas do complemento, receptores do fragmento Fc das imunoglobulinas e moléculas de adesão. Tem como funções: Fagocitose: Ao fagocitar forma-se o fagossomo onde os microrganismos serão mortos pela liberação de enzimas hidrolíticas e de espécie reativa de oxigénio. O consumo de oxigênio durante a reação de espécies de oxigênio é chamado de queima respiratória que nada tem a ver com respiração celular ou produção de energia; Secreção de Citocinas e Mediadores; Degranulação: liberam grânulos específicos ou "secundários" (Lactoferrina e Catelicidina); Grânulos azurófilos ou "primários" (Mieloperoxidase, Proteína de aumento da permeabilidade /bactericida (BPI), Defensina e Serino protease neutrófilo elastase e Catepsina G); Grânulos terciários (Catepsina, Gelatinase). CÉLULAS NK As células exterminadoras naturais ou células NK (do inglês Natural Killer Cell) são um tipo de linfócito ( glóbulos brancos do sangue) e naturais do sistema imunológico de defesa. Elas são activadas em resposta a vários diferentes estímulos, nomeadamente por citocina produzidos por outros elementos do sistema imunitário, por estimulação dos receptores FcR, presentes na sua membrana celular, que reconhecem a porção Fc das imunoglobulinas e pelos receptores de ativação ou inibição, específicos das células NK. As células NK são citotóxicas (tóxicas para a célula) e identificam as células que estão com vírus (consequentemente comprometidas) e as destroem. As células NK são componentes importantes na defesa imunitária não especifica. Partilham um progenitor comum com os linfócitos T. São originárias da medula óssea e são descritos como grandes e granulares. Estas células Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 4 no destroem os microorganismos patognicos diretamente, tendo uma funo mais relacionada com a destruio de clulas infectadas ou que possam ser cancer genas. No so clulas fagoc ticas. Destroem as outras clulas atravs do enfraquecimento da membrana plasmtica, causando difuso de gua e ons para o interior da clula e aumentando o seu volume interno at um ponto de ruptura no qual ocorre a lise. So quimicamente caracterizadas pela presena de CD56 e ausncia de CD3. Podemos destacar as seguintes funes: Vigilncia Apoptose OBS1: PAMPs e PRRs. Os patgenos possuem molculas altamente conservadas presentes em suas clulas. Essas molculas so chamadas de PAMPs (padres moleculares associados aos patgenos). O S.I. Inato reconhece esses PAMPs por meio dos PRRs (receptores de reconhecimento de padres; Ex: receptores Toll-like ou TLRs). Receptor Toll-like LPS, RAS, bactrias GRAM negativas; Receptor Manose manose presente nos microrganismos. Receptor Transmembrana 7 α-hlice pept deos N-formil metionil. OBS: Fun o microbicida dos fagcitos - Fagocitose 1. Reconhecimento: reconhecimento dos padres (PAMPs) pelos PRRs. 2. Emisso dos pseudpodes para que ocorra o envolvimento dos microrganismos 3. Formao da ves cula endoc tica (fagossoma) ou engolfamento. 4. Fuso do lisossomo com o fagossoma, formando o fagolisossomo, no qual ocorre a liberao de enzimas lisossmicas 5. Morte do microrganismos: os mecanismos de morte interacelular, induzidos nos neutrofilos e nos macrfagos, podem ser de dois tipos: Mecanismo de morte intracelular independente de oxignio: o microrganismo morre devido ao acmulo de cido lctico produzido pela prpria clula hospedeira, proveniente do metabolismo anaerbio da glicose. O acumulo desse acido causa diminuio do pH intracelular, criando um abiente bactericida ou bacteriosttico, dependendo da bactria em questo. Mecanismos de morte intracelular dependente de oxignio: a endocitose de microrganismos aumenta o consumo de oxigenio nas clulas fagoc ticas, o que desencadeia o chamado desvio da hexose monofosfato (“exploso respiratria”) e a formao de intermedirios reativos de oxignio (ROI, reactive oxygen intermediates). A ativao desses mecanismos envolve a participao de duas enzimas principais: o A NADPH oxidase (fagcito oxidase), que remove um hidrogenio do NADPH para formar NADP+, convertendo simultaneamente o O2 e, radical superxido. O radical superxido, pela presena de um eltron no partilhado, torna-se extremamente reativo e toxico para vrias espcies bacterianas. o A superxido dismutase (SOD), que catalisa a reao na qual radicais de superxidos so convertidos em perxido de hidrognio (H2O2) e O2. O H2O2, produzido pela ao superxido dismutase, degradado pela mieloperoxidase, na presena de ons cloro e iodo para produzir hipoclorito ou hipoiodeto, tambm txicos para espcies bacterianas. Esses produtos gerados pela ao da mieloperoxidase so txicos para uma srie de microrganismos incluindo bactrias, v rus, fungos, Mycoplasma, Chlamydia, Leishmania donovani e Schistossoma mansoni. Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 5 Mecanismo de morte intracelular dependente de nitrognio (RNI): uma via de morte intracelular dependente de oxigenio leva a produo de intermedirios reativos de nitrognio. A principal molcula produzida por esta via o oxido n trico (NO), uma molcula diatomica sintetizada e a partir do aminocido L- arginina, txica para bactrias, protozorios e clulas tumorais. A produo de NO por macrfagos depende da expresso da enzima iNOS (sintase induzida de xido n trico), cuja a produo estimulada por molculas como o LPS (em bactrias gram-negativas). O iNOS catalisa a reao que remove de forma oxidativa o tomo de nitrogenio guanidino terminal da L-arginina para formar o NO e L- citrulina. O NO, em meio l quido, altamente reativo e instvel. Essa alta instabilidade faz essas molculas reagirem entre si, com gua e oxigenio, gerando outro radial, o dixido de nitrogenio (NO2), nitrito e nitrato. OBS³: Função das células NK. As NK cells so responsveis por eliminar clulas infectadas com v rus e clulas tumorais. O macrfago infectado produz citocinas (como a IL-12) que servem como mediadores para as clulas NK (que possuem receptores para a IL-12), que, quando estimuladas por esta interleucina, passam a produzir o IFN-γ, que tem a funo de estimular a lise do macrfago. De forma mais detalhada, h duas formas de as clulas NK reconhecerem macrfagos infectados e macrfagos normais: Os macrfagos normais expressam um MHC de receptor de clulas prprias. A clula NK apresenta dois receptores: um receptor que ativa e outro que inativa a sua ao. Quando ocorre a ligao NK-macrfago, o receptor ativante se liga com o MHC espec fico do macrfago e o receptor inativante se liga com o MHC da classe I prprio (presente em organelas prprias do organismo). Agindo simultaneamente, o receptor inibitrio predomina, realizando a remoo de fosfatos da NK, induzindo a sua inibio. Macrfagos infectados apresentam o seu MHC da classe I inativado, o que impede o reconhecimento inibitrio pela NK, ativando a ao citotxica da NK. PROTENAS PROTEÍNAS DO SISTEMA COMPLEMENTO So proteases que se tornam ativas na presena do microorganismo, e passam a atuar em cascata e culminam com a lise do mesmo, formando uma estrutura protica chamada de MAC (complexo de ataque membrana). Em s ntese, o sistema complemento formado por um conjunto de prote nas ativadas em cascata, sendo suas funes: lise celular, a opsonizao, o desenvolvimento do processo inflamatrio e a retirada de complexos imunes (complexos ant geno-anticorpo) da circulao. As molculas desse sistema, produzidas na sua grande maioria no f gado, esto presentes no plasma sangu neo na forma ativa ou em baixo n vel de ativao espontnea. A ativao dasmolculas do sistema complemento pode ocorrer pela via clássica (ativada pela associao de ant genos a molcula de IgG ou IgM), via alternativa (ativada diretamente por alguns tipos de ant genos sem a participao de molculas de imunoglobulinas) e via da lectina. Com a presena do anticorpo, a via clssica, de maneira espec fica, ativada (por tanto, faz parte do sistema imune adaptativo). J a via alternativa se inicia sem ser necessria a presena do anticorpo (inespec fica). O modo de como se inicia a ativao de cada via a nica diferena entre elas. Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 6 Cabe a nós iniciarmos a cascata de ativações do sistema complemento a partir da via alternativa, que está enquadrada no sistema imune inato, que é mais antiga, em termos evolucionários, que a via clássica. Na ativação do complemento pela via alternativa, há algumas moléculas comuns à via clássica, como C3, C4, C5, C6, C7, C8 e C9. A ativação da via alternativa ocorre porque, no sangue, há sempre uma concentração de C3, protease que na forma íntegra, fica inativa, sendo classificada como uma pró-enzima. Ao dar-se início na via alternativa, ocorre hidrólise da C3, quebrando-a em duas proteases: C3b e C3a. A primeira é responsável por se depositar na membrana da bactéria, com função de opsonização e fagocitose. A segunda está envolvida no processo de inflamação. Quando a C3b se dissocia da membrana do microorganismo, esta se liga e ativa a enzima C5 convertase, que cliva outra protease C5 em C5a (também relacionada com o processo inflamatório) e C5b (associa-se às moléculas C6, C7, C8 e C9, formando um poro na membrana celular chamado de MAC, levando-a à lise, de forma similar ao que ocorre na ativação pela via clássica). PROTENAS DE FASE AGUDA São proteínas que se ativam na presença de microrganismo (principalmente de bactérias, que possuem em sua parede estruturas que ativam as mesmas), aumentando a sua concentração na corrente sanguínea. São sintetizadas normalmente pelo fígado, determinando uma concentração basal no sangue. Mas na presença do microrganismo, o fígado intensifica a produção das mesmas. Todas elas servem como opsoninas que facilitam a fagocitose. Proteína C Reativa: se liga, principalmente, à fosforilcolina presente na membrana das bactérias, facilitando a fagocitose das mesmas. Lectina (proteínas que se ligam a manose): realizam a mesma função da PCR, mas se ligam a manose da membrana bacteriana. Fibrinogênio Proteína amilóide do soro OBS4: As estruturas com as quais as proteínas de fase aguda se ligam são classificadas como PAMPs, uma vez que são estruturas comuns nas bactérias patogênicas. CITOCINAS IFN- α: infecção viral. IFN- β: infecção viral. TNF- α: inflamação; atua no hipotálamo para desencadear a febre. IL-1: inflamação; atua no hipotálamo para desencadear a febre. IL-6: estimula o fígado a produzir mais citocinas. IL-12: + NK. IFN- γ: + macrófagos; estimula o fígado a produzir mais citocinas; induz o macrófago à lise; estimula a medula óssea para produzir mais células. IL-6: + Proteínas C Reativa, PMN. IL-10: controle. OBS5: Corticoides inibem a secreção de algumas citocinas, diminuindo a sintomatologia do processo inflamatório. Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 7 INFLAMA O É um mecanismo de defesa da imunidade inata, em que há o recrutamento de células e síntese de mediadores sempre no intuito de proteger o organismo contra a invasão. Frente a uma agressão ao organismo, esta pode ser do tipo infecciosa (causada por elementos biológicos) e não-infecciosa, que danificam o tecido íntegro. É esse dano que desencadeia um processo inflamatório como resposta de defesa do organismo, em que as células do sistema imune participam ativamente para reparar o tecido danificado (cicatrização). A inflamação (do Latim inflammatio, atear fogo) ou processo inflamatório é uma resposta dos organismos vivos homeotérmicos a uma agressão sofrida. Entende-se como agressão qualquer processo capaz de causar lesão celular ou tecidual. Esta resposta padrão é comum a vários tipos de tecidos e é mediada por diversas substâncias produzidas pelas células danificadas e células do sistema imunitário que se encontram eventualmente nas proximidades da lesão. Como sabemos, a inflamação pode também ser considerada como parte do sistema imunitário, o chamado sistema imune inato, assim denominado por sua capacidade para deflagar uma resposta inespecífica contra padrões de agressão previamente e geneticamente definidos pelo organismo agredido. Esta definição se contrapõe à da imunidade adquirida, ou aquela onde o sistema imune identifica agentes agressores específicos segundo seu potencial antigênico. Neste último caso o organismo precisa entrar em contato com o agressor, identificá-lo como estranho e potencialmente nocivo e só então produzir uma resposta. FISIOPATOLOGIA (MECANISMO DE INSTALAÇÃO) À agressão tecidual se seguem imediatamente fenômenos vasculares mediados principalmente pela histamina. O resultado é um aumento localizado e imediato da irrigação sangüínea, que se traduz em um halo avermelhado em torno da lesão (hiperemia ou rubor). Em seguida tem início a produção local de mediadores inflamatórios que promovem um aumento da permeabilidade capilar e também quimiotaxia, processo químico pelo qual células polimorfonucleares, neutrófilos e macrófagos são atraídos para o foco da lesão. Estas células, por sua vez, realizam a fagocitose dos elementos que estão na origem da inflamação e produzem mais mediadores químicos, dentre os quais estão as citocinas (como, por exemplo, o fator de necrose tumoral e as interleucinas), quimiocinas, bradicinina, prostaglandinas e leucotrienos. Também as plaquetas e o sistema de coagulação do sangue são ativados visando conter possíveis sangramentos. Fatores de adesão são expressos na superfície das células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos internamente. Estes fatores irão mediar a adesão e a diapedese de monócitos circulantes e outras células inflamatórias para o local da lesão. Em resumo, todos estes fatores atuam em conjunto, levando aos eventos celulares e vasculares da inflamação. Resulta em um aumento do calibre de capilares responsáveis pela irrigação sanguínea local, produzindo mais hiperemia e aumento da temperatura local (calor). O edema ou inchaço ocorre a partir do aumento da permeabilidade vascular aos componentes do sangue, o que leva ao extravassamento do líquido intravascular para o espaço intersticial extra-celular. A dor, outro sintoma característico da inflamação, é causada primariamente pela estimulação das terminações nervosas por algumas destas substâncias liberadas durante o processo inflamatório, por hiperalgesia (aumento da sensibilidade dolorosa) promovida pelas prostaglandinas, mas também em parte por compressão relacionada ao edema. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Classicamente, a inflamação é constituída pelos seguintes sinais e sintomas: 1. Calor: aumento da temperatura no local devido a atuação de citocinas no hipotálamo 2. Rubor (hiperemia): causado por uma alteração vascular local, aumentando o fluxo sanguíneo na região para atender a demanda de células. 3. Edema (inchaço): desencadeado pelo aumento do espaçamento entre as células endoteliais dos vasos, causando o extravasamento de células e líquido para o espaço intesticial, aumentando o volume extracelular no local. 4. Dor: compressão de nervos pelo edema e pela liberação de alguns mediadores responsáveis pela sensação de dor (como a bradicinina) 5. Perda da função Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 8 OBS6: No processo inflamatrio, secretado o Fator XII (de Hangeman), que estimula vrios sistemas e cascatas relacionados com o processo inflamatrio: cascata da coagulação, sistema fibrinolítico e sistema das cininas. Cascata da coagulação: ativado no intuito de formar um cogulo no objetivo de estancar o sangue e evitar uma consequente perda de sangue no local. H tambm a liberao de mediadores como pept deios quimiotticos, que atraem, quimicamente, polimorfonucleares. Sistema fibrinolítico: degrada o cogulo para que o sangue flua normalmente e para que haja reparo tecidual, ativando, simultaneamente, o sistema complemento. Sistema das cininas: d origem as bradicininas, que autam estimulando a sensao de dor. ETAPAS DA MIGRAÇÂO CELULAR Fase de rolamento: primeiramente, o macrfago, dentro dos tecidos, fagocita o agente invasor e inicia a secreo de mediadores (como o TNF-α e IL-1) que, alm de aumentar a viscosidade do sangue no local fazendo com que as celulas fluam mais lentamente, estimulam clulas epiteliais e clulas do sistema imune a expressar molculas de adeso. At a clula do sistema imune encontrar o local prprio de adeso e penetrao no tecido, ela realiza um rolamento sobre o endotelio. No endotlio, sob o efeito do TNF-α, induzida a expresso de E-selectina (E=endotlio) e L-selectina (L=leuccito), permitindo que estas clulas passem pelo rolamento sobre o endotlio. Esse tipo de associao, de fraca afinidade, propicia um tipo de adeso temporria entre o endotlio e a clula, fazendo-a rolar sobre o mesmo. Fase de adesão celular: molculas que propiciam forte adeso, como as integrinas, entre o endotlio e as clulas sanguineas so expressas. Alm dessas molculas, citocinas quimiotticas (quimiocinas) so produzidas por macrfagos ativados e outras clulas e se associam ao endotlio vascular. Fase de diapedese (transmigração): as clulas aderidas ao endotlio por meio dessas interaes fazem a diapedese ou a transmigrao para o tecido por interao homloga entre as molculas CD31 (expressas pelo neutrofilo) e a clula endotelial. Durante esse processo, h a secreo intensa de quimiocinas, fazendo com que haja uma mudana na conformao do citoesqueleto do leuccito e este penetre em direo aos tecidos, por meio das fenestraes dos vasos. OBS7: Inicialmente, em uma resposta inflamatria, os neutrfilos so os primeiros a aumentar em concetrao no local, aumentando o pico em 6h aps o in cio da inflamao. Por isso que em uma inflamao crnica, no h presena de neutrfilo (como na asma), pois os neutrfilos so clulas que respondem apenas no in cio. Aps algumas horas, porm, cai a concentrao de neutrfilos para aumentar de concentrao outras clulas como eosinfilos e moncitos. Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 9 OBS8: Proteínas relacionadas no processo de migração celular: Selectina: carboidratos que se ligam entre si, presente tanto nos leucócitos quando no endotélio. Porém, essa ligação se dá de maneira fraca, o que permite que o leucócito circule ao longo da parede endotelial à procura de interações mais firmes. Integrinas: confere a adesão da segunda fase da migração. Esta presente nos monócitos, macrófagos, células dendríticas e neutrófios, ligando-as ao epitélio, que apresenta ICAMs (molécula de adesão intercelular). Imunoglobulinas: apresentam-se lateralemnte nas células do SI e no endotélio. COLABORA O – IMUNIDADE INATA X IMUNIDADE ADQUIRIDA A resposta imune inata se comunica com a resposta adquirida, de forma que um componente de uma resposta auxilia os componentes da outra. O macrófago, por exemplo, quando não consegue por si só destruir agentes invasores, ele libera citocinas e coestimuladores que solicitam o auxílio de células da resposta imune adquirida. A própria ativação do sistema complemento, quando há a presença de microrganismo, há a ativação simultânea de linfócitos B, que apresentam receptores que reconhecem proteínas do sistema complemento, estabelecendo uma integração das duas respostas.
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