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16/03/2018 1 História do Direito Aula 3 Direito na Antiguidade • Direito dos povos: - Egípcios; - Hebreus; - Mesopotâmicos. Transição Sociedades Arcaicas para Primeiras Civilizações • Sedentarismos agricultura e pecuária (cerâmica também se aperfeiçoa) – construir moradias mais elaboradas até cidades. • Cidades das primeiras grandes civilizações crescem bastante. • Vida sedentária + aumento demográfico aumento potencial de conflitos. • Invenção e domínio da Escrita. Primeira forma de escrita Na região da Mesopotâmia, entre rios Tigre e Eufrates (hoje é a região do Iraque). Surgiu técnica de gravação em placas de argila – técnica cuneiforme (cunhas usadas por gravações). Transição Sociedades Arcaicas para Primeiras Civilizações • Grande quantidade de pessoas nas cidades também exige o surgimento do comércio: - Alguns grupos sociais exercem o controle dos excedentes; - Alguns são escravizados (perdedores de guerras, muitas vezes, também por dívida). Desigualdades sociais. • Necessidade de desenvolvimento do controle social surge os Estados. Direito começa a se separar da religião. A simples transmissão oral da cultura passou a ser insuficiente para a preservação da memoria e identidade dos primeiros povos urbanos pois havia estrutura política, econômica e religiosa mais diferenciada documentos escritos de natureza jurídica (mais antigos 3100 a. C). 16/03/2018 2 O DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA • Normas sociais, comportamentais e religiosas foram registradas e consolidadas. • Nova concepção de direito. • Grandes codificações foram fomentadas. Povos: • Egito – até agora não há códigos ou livros jurídicos, mas foram os primeiros a desenvolver sistema jurídico individualista. • Mesopotâmia - Primeiras formulações do direito. Sumérios, Acadianos, Hititas e Assírios = redigiram “códigos” com regras mais ou menos abstratas. • Hebreus – entre Egito e Mesopotâmia (geográfica) – bíblia – livro religioso – com preceitos morais e jurídicos, que acabaram se perpetuando – influência no direito canônico e dos mulçumanos. 9 Egito x Mesopotâmia Egito x Mesopotâmia • Geografia, política e economia = influência nos institutos jurídicos. Geografia: Egito (Delta do Rio Nilo) Mesopotâmia (Rio Tigre e Eufrates). Semelhanças: Solo propício para agricultura e navegação. Rios = escoa produção e desenvolve o comércio. Diferenças: Nilo – cheias e recuos estáveis - ciclos – religião – imortalidade do Faraó = Deus. Tigre e Eufrates – instáveis. Monarquia = com ansiedades e fragilidades humanas – enfrentavam mais intempéries climáticas. Egito x Mesopotâmia • Política: • Egito: Monarquia unificada, poder central definido = centrado no Faraó. • Mesopotâmia: Civilização baseada em cidades-estado, sem unificação. • Economia: • Comércio – em ambos, mas Mesopotâmia era mais presente = diferenças no direito privado. • Egito: Rico em materiais (ouro, cobre, marfim – madeira era importada) ; • Mesopotâmia: carente de minerais – dependia mais do comércio. Egito x Mesopotâmia • Papel dos soberanos: Egito – imortalidade do Faraó – era o próprio Deus = Teofania. Mesopotâmia – instabilidade dos rios, fragmentaridade entre cidades-estado, com vários soberanos = Rei era humano, sendo apenas representante de Deus. 16/03/2018 3 Egito x Mesopotâmia • Diferença na figura do monarca: “Na Babilônia, por ocasião dos ritos de Ano-Novo no templo de Marduk, o rei era esbofeteado (e não gentilmente: o signo favorável esperado era que lágrimas saltassem de seus olhos!) por um sacerdote do deus, que lhe retirara previamente os signos da realeza e depois devia puxá-lo pelas orelhas para fazê-lo prosternar-se diante da imagem divina. Nessa ocasião, o rei deveria declarar à divindade estar livre de pecados; entre estes pecados não-cometidos constava o de ‘fazer chover golpes na face de um subordinado’, e também o de ‘humilhar’ os súditos. No Egito, algo semelhante seria, mais uma vez, impensável, sendo o faraó um deus encarnado”. (CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a Antigüidade. Op. cit., p. 50-51.; in WOLKMER, 2006) Egito • Política extremamente organizada. • Território governado pelo monarca – dividido em regiões administrativas (chefe de polícia). • Poder judiciário = sacerdotes (ordem divina do Faraó). • Crimes mais graves – tribunal supremo – principais cidades forneciam representantes. Egito • Característica do Processo judicial egípcio: • Acusação = dever cívico das testemunhas do fato criminoso; • Polícia repressiva e auxiliar da instrução – a cargo de testemunhas; • Instrução pública e escrita; • Julgamento secreto e decisão simbólica. Egito Menes (Faraó) – cadastro populacional – todas as pessoas tinham que comparecer ao magistrado, dizer nome, profissão e meios de subsistência. Esse senso era comum, o que demonstra evolução – controle do Estado sobre os cidadãos e os bens em geral. Egito • História de 40 séculos, iniciada mais ou menos 3000 a.C. • Rio Nilo corta cerca de mil Km de seu território, com cheias de julho a outubro, garantindo fertilidade para cultivo dos alimentos. • Faraó detinha todo poder político e era divinizado (confundido com o próprio Deus). Missão: ordem, soberania do Egito (ideia de Estado) e prosperidade do povo. • Direito era promulgado pelo Faraó – fonte do direito Egípcio. • Não há código encontrado até hoje. Características do Direito Egípcio • Poder = Faraó = limitação aos proprietários de terra. • Disseminação de pequenas propriedades. • Rei – governa com funcionários. - Conselho de Ministros (chefes dos deptos de administração) – Vizir = chanceler. - Agrupamento dos funcionários em departamento específicos (finanças, registros, domínios, obras públicas, irrigação, culto, intendência militar). 16/03/2018 4 Características do Direito Egípcio - Tribunais – organizados pelo Faraó, com processos escritos e com chancelaria (conservava os atos jurídicos e de registro civil); - Não há “códigos” localizados, mas há excertos de testamentos, decisões judiciais, atos administrativos, contratos. - Literatura e textos religiosos também fazem referência a normas jurídicas. Características do Direito Egípcio • Principais institutos: • - Códigos: não há comprovação de que o direito Egípcio foi codificado. Tiveram um direito evoluído, mto comparado ao direito romano (2 mil anos posterior). Sabe-se por conta dos trechos de julgamentos ou pela literatura. • - Contratos: a lei superou os costumes como fonte do direito. Lei era promulgada pelo rei, após parecer do Conselho de Legislação. • Direito privado dos egípcios ganhava autonomia, havendo liberdade para celebrarem contratos, que deveriam ser escritos – depois até com escribas. • Há registro de contratos desenvolvidos, de compra e venda, arrendamento, doações e fundações. Características do Direito Egípcio • Principais institutos: • - Família: todos os habitantes tinha posição de igualdade para o direito, sem privilégios. Família (pai, mãe e filhos menores) = célula social por excelência. • Marido e mulher em igualdade, assim como filha ou filho (sem primogenitura, nem privilégio de masculinidade). • Emancipação dos filhos – com determinada idade (no Direito Romano emancipação devia ser concedida pelo patriarca). • - Testamento: liberdade total – salvo reserva hereditária dos filhos. Características do Direito Egípcio • Principais institutos • - Coisas: bens móveis ou imóveis eram alienáveis. Predominava pequena propriedade. Havia enorme mobilidade debens = recenseamentos eram periódicos. • - Penal: menos severo que outros períodos da Antiguidade. Também havia penas cruéis – trabalho forçado, chicotadas, abandono aos crocodilos, etc. Momento de retrocesso – Direito Egípcio • Obs.: Regime Senhorial (fim da V dinastia) – retrocesso no direito Egípcio – Direito público – com ingerência de oligarquia (pequeno grupo no poder) baseada na nobreza sacerdotal, hereditariedade dos cargos e formas de imunidade. - Direito privado – reforço do poder paternal e marital, desigualdade nas sucessões (privilégios para os primogênitos e para os homens). Contratos tornaram-se escassos. Nesse período = Egito entrou em regime de economia fechada e as províncias se separaram do poder central. Só com a XVIII dinastia (Século XVI a.C.) é que o sistema jurídico voltou a se assemelhar ao do antigo império. Mesopotâmia • Ente os rios Tigre e Eufrates (atualmente Iraque e Kuwait) – grande desenvolvimento do direito. • Mais antigas legislações escritas – em forma de códigos. • Escrita cuneiforme, em forma de cunha. 16/03/2018 5 Mesopotâmia • Civilizações divididas em cidades-estado, com diversidade étnica, mas aparentadas. • Adoção de uma única língua nas relações diplomáticas – língua acádia • Cada cidade-estado possuía sua divindade, havendo alternância entre qual cidade predominava sobre as demais. • Cada alternância no poder – tentativa de impor costumes e demais normas, inclusive jurídicas. Mesopotâmia • Essa alteração constantes gerava desenvolvimento do direito, além do fato de usarem uma única língua nas relações diplomáticas. • Principais povos: - Sumérios - Acadianos - Babilônicos - Assírios. Características do Direito da Mesopotâmia • Direito Cuneiforme – grandes códigos, como o de Hamurabi. • Diferente dos códigos atuais. • Compilação de casos concretos, não eram leis gerais e abstratas como de hoje. Características do Direito da Mesopotâmia - Código de Ur-Nammu (cerca de 2040 a. C.) – Baixa Mesopotâmia – região da Suméria. Documento legislativo mais antigo. • Do mesmo período conservam-se vários atos e atas de julgamentos. • Normas = costumes reduzidos a escritos ou decisão proferida em caso concreto emblemático. • Obs.: Traz normas mais ligadas ao Direito Penal. • Demonstra a importância dada pelas cidades- estado da Mesopotâmia às penas pecuniárias, em detrimento da lei de Talião. Características do Direito da Mesopotâmia • Ex.: item 8 – Um cidadão fraturou um pé ou a mão a outro cidadão durante uma rixa pelo que pagará 10 ciclos de prata. Se um cidadão atingiu o outro com uma arma e lhe fraturou um osso, pagará uma ‘mina’ de prata. Se um cidadão cortou o nariz a outro cidadão com um objeto pesado pagará dois terços de uma ‘mina’. Características do Direito da Mesopotâmia - Código de Esnunna (cerca de 1930 a. C.) – 60 artigos de direito penal e direito civil, o que futuramente caracterizará o Código de Hammurabi. • Havia institutos de direito de família e também de responsabilidade civil: • Art. 5 – Se um barqueiro é negligente e deixa afundar o barco, ele responderá por tudo aquilo que deixou afundar. • Art. 56 – Se um cão é (conhecido como) perigoso, e se as autoridade da Porta preveniram o seu proprietário (e este ) não vigia o seu cão, e (o cão) morde um cidadão e causa a sua morte, o proprietário do cão deve pagar dois terços de uma mina de prata. 16/03/2018 6 Características do Direito da Mesopotâmia - Código de Hammurabi (rei da Babilônia – cerca de 1964 a. C.) - Tem 282 artigos e 3600 linhas de texto. • Descoberto apenas em 1901. • Hoje – Museu o Louvre. • Junto do código foram encontradas tábuas de argila, com a reprodução do texto – indica que eram usados pelos aplicadores do direito – práticos. • Indica a existência de um sistema jurídico extremamente desenvolvido, especialmente no âmbito do direito privado e dos contratos. Características do Direito da Mesopotâmia • Vários contratos e negócios jurídicos estão previstos no código mesopotâmia prevalência do comércio. • Lei de Talião – punição presente no Código de Hammurabi = pena para o delito deve ser proporcional ao dano causado. Impõe ao criminoso mesmo sofrimento causado pelo crime. “Olho por olho, dente por dente.” • Pena ultrapassa a pessoa do criminoso. Características do Direito da Mesopotâmia Três classes, que também pesavam na aplicação do código: • Awilum: Homens livres, proprietários de terras, que não dependiam do palácio e do templo; • Muskênum: Camada intermediária, funcionários públicos, que tinham certas regalias no uso de terras. • Wardum: Escravos, que podiam ser comprados e vendidos até que conseguissem comprar sua liberdade. • Ao final dos 282 consta: • “Hammurabi, rei do direito, sou eu a quem Samas oferece as leis” leis são de origem divina, inspiradas por Deus. Principais institutos: • - Contratos: Mesopotâmios – prevalência do comércio – criaram a técnica dos contratos (depois sistematizada pelos Romanos), praticando: • a) venda (também a crédito); • b) arrendamento de instalações agrícolas, de casas, de serviços.. • c) depósito; • d) empréstimos a juros; • e) título de crédito à ordem, com reembolso ao portador – para garantir a atividade dos mercadores. Principais institutos: • - Família: • Sistema – monogâmico e patriarcal (mas admitia o concubinato). • Continha elementos de extrema modernidade para a época, no campo do direito de família: • Mulher – tinha personalidade jurídica, era proprietária do dote mesmo depois de casada, com liberdade na gestão de seus bens; • Prevê repúdio da mulher pelo marido, mas também o contrário. Mulher pode alegar má conduta do marido, propondo ação para retornar para sua família, levando seus bens. • Casamento = regime de comunhão de bens. Principais institutos • Adoção – era previsto com detalhes – inclusive a ruptura do vínculo entre adotante e adotado. • - Sucessão: limites para a possibilidade de dispor do patrimônio, se ocorresse em prejuízo de filhos sobreviventes 16/03/2018 7 Principais institutos: - Penal: mais severo que o egípcio, com pena máxima para muitos casos. Pena de morte era muito aplicada (fogueira, forca, afogamento, empalação) • Mutilação – de acordo com a natureza da ofensa. • Receptação – já prevista – pena para autor do furto/roubo e também para receptador. Hammurabi • Código de Hammurabi = grande compilação das normas e dos costumes da época. Por ele, pode-se perceber a sociedade, que era dividida em segmentos, com penas para cada faixa social – livres, subalternos e escravos. • Trechos mostram: - Falso testemunho com pena de morte: Hammurabi • Trechos mostram: - Falso testemunho com pena de morte: • 1. Se alguém acusou um homem, imputando- lhe um homicídio, mas não pôde convencer disso, o acusador será morto; • 3. Se alguém em um processo se apresenta como testemunha de acusação e, não prova o que disse, se o processo importa perda de vida, ele deverá ser morto. Hammurabi - Crime de receptação: - 7. Se alguém, sem testemunhas ou contrato, compra ou recebe em depósito ouro ou prata ou um escravo ou uma escrava, ou boi ou uma ovelha, ou um asno, ou outra coisa de um filho alheio ou de um escravo, é considerado como um ladrão e morto. - Roubo: - 22. Se alguém comete roubo e é preso, ele é morto. Hammurabi • Responsabilidade Civil: • 53. Se alguém é preguiçoso no ter em boa ordem o próprio dique e não o tem e em consequência se produz uma fenda no mesmo dique e os camposda aldeia são inundados d'água, aquele, em cujo dique se produziu a fenda, deverá ressarcir o trigo que ele fez perder. Hammurabi • Mais alguns artigos: - 108. Se uma taberneira não aceita trigo por preço das bebidas a peso, mas toma dinheiro e o preço da bebida é menor do que o do trigo, deverá ser convencida disto e lançada n’água. - 129. Se a esposa de alguém é encontrada em contato sexual com um outro, se deverá amarrá- los e lançá-los n’água, salvo se o marido perdoar a sua mulher e o rei a seu escravo. 16/03/2018 8 Hammurabi • 132. Se contra a mulher de um homem livre é proferida difamação por causa de um outro homem, mas não é ela encontrada em contato com outro, ela deverá saltar no rio por seu marido. • 134. Se um homem desapareceu e não há o que comer na sua casa, a sua esposa poderá entrar na casa de um outro; essa mulher não é culpada. Hammurabi • 195. Se um filho agrediu um pai, ser-lhe-á cortada a mão na altura do punho. • 196. Se alguém vazou o olho de um homem livre, ser-lhe-á vazado o olho.
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