Buscar

CRIMES HEDIONDOS CONCEITOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 011 CRIMES HEDIONDOS........................................................................................... 021.1 Conceitos................................................................................................................... 021.2 Tipos de Crimes Hediondos.................................................................................. 121.2.1 Homicídio................................................................................................................ 41.2.2 Latrocínio................................................................................................................. 51.2.3 Extorsão qualificada pela morte e mediante seqüestro.............................................61.2.4 Estupro...................................................................................................................... 71.2.5 Atentado violento ao pudor...................................................................................... 81.2.6 Epidemia com resultado morte................................................................................ 91.2.7 
Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais............................................................................ 101.2.8 Crime de genocídio.................................................................................................. 111.3 Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990........................................................................ 121.4 Lei n. 8.702/90 e a Comoção Nacional.......................................................................... 13
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 15
1 CRIMES HEDIONDOS
Conceitos
A expressão crimes hediondos aparece pela primeira vez no artigo 5º inciso XLIII da Constituição Federal: A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. Segundo Fernando Capez desde logo o constituinte assegurou que o tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo são merecedores de tratamento penal mais severo, ficou então a cargo do legislador ordinário a tarefa de escolher um critério para classificar e definir os crimes hediondos, que mereciam o mesmo tratamento rigoroso. Sobre o assunto se pronuncia Luiz Fernando Zawarevickz dizendo que: O vocábulo hediondo foi introduzido no ordenamento jurídico pátrio pelo inciso XLIII do art. 5ºda Constituição de 1988, para estabelecer, de forma precisa, a diferença entre crimes repugnantes e horrendos, como estupro e latrocínio, por exemplo, e crimes comuns. Crimes hediondos, então, em sentido leigo, são aqueles considerados graves, repugnantes, horrendos, que são cometidos de forma brutal. É o entendimento de Fernando Capez que: De acordo com o sistema legal, somente a lei pode indicar, em rol taxativo, quais são os crimes considerados hediondos. O juiz não pode deixar de considerar hediondo um delito que conste da relação legal, do mesmo modo que nenhum delito que não esteja enumerado pode receber essa classificação. Assim, ao juiz não resta nenhuma avaliação discricionária. De acordo com Antonio Lopes Monteiro toda vez que uma conduta delituosa fosse cometida com gravidade, tanto na execução quanto na natureza do bem jurídico ofendido, ou ainda pela especial condição da vítima ter-se-ia um crime hediondo, porém, como a Constituição Federal remeteu à legislação ordinária a tarefa de definir os crimes hediondos, estes serão unicamente aqueles que a Lei de Crime Hediondos o quiser. Informa Antonio Lopes Monteiro que crime hediondo é “aquele que independentemente das características de seu cometimento, da brutalidade do agente, ou do bem jurídico ofendido, estiver enumerado no art. 1º da Lei n. 8.072/90”.
Os crimes hediondos, portanto, são apenas aqueles considerados pela Lei n. 8.072/90, que os indica taxativamente, não podendo nenhum outro delito senão aqueles ali enumerados
1.2 Tipos de crimes hediondos São crimes hediondos de acordo com a Lei n. 8.072/1990 o homicídio, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, o homicídio qualificado; o latrocínio; a extorsão qualificada pela morte; a extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada; o estupro; o atentado violento ao pudor; epidemia com resultado morte; a falsificação, corrupção, adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, ainda são considerados crimes hediondos os de genocídio previsto nos art. 1º, 2º e 3º da Lei n.2.889/1956.
1.2.1 Homicídio 
A inclusão do homicídio como crime hediondo visa à preservação da vida humana, procurando defender o bem maior da pessoa. Dá à noção Celso Delmanto de homicídio como sendo “a eliminação de uma pessoa praticada por outra”.
Não são todas as figuras típicas do homicídio que são crimes hediondos, existem quatro
 – simples, privilegiado, qualificado e culposo, e apenas o qualificado é sempre hediondo, quanto ao simples o é circunstancialmente. O homicídio que se enquadra nos crimes hediondos, portanto é o simples praticado em atividade típica de extermínio, mesmo que cometido por um só agente ou o homicídio qualificado. No entendimento de Fernando Capez a lei exige que o homicídio seja praticado em atividade típica de grupo de extermínio não se confundido, portanto, com quadrilha ou bando, uma vez que a lei não exige um número mínimo de participantes para que possa considerar o homicídio simples como hediondo. O homicídio qualificado é aquele cuja prática se enquadra em qualquer dos incisos do § 2º, artigo 121 do Código Penal. Explica ainda Fernando Capez. Que “trata-se de causa especial de majoração da pena”. As motivações têm especial relevo nos crimes de homicídio, se possui a qualificadora significa que as motivações foram anti-sociais, e a conseqüência é o agravamento da pena. Já homicídio qualificado-privilegiado não é considerado hediondo, pois como anota Fernando Capez “no concurso entre as circunstâncias objetivas (qualificadoras que convivem com o privilégio) e as subjetivas (privilegiadoras), estas últimas serão preponderantes, nos termo do artigo 67 do CP, pois dizem respeito aos motivos
determinantes do crime”, assim que se o privilégio é reconhecido pode se afastar a hediondez do homicídio qualificado. Esta diferenciação entre homicídio qualificado e o qualificado-privilegiado é de suma importância uma vez que quando um crime é enquadrado como hediondo o indivíduo passa a sofrer os efeitos da Lei dos Crimes Hediondos.
1.2.2 Latrocínio
O crime de latrocínio está previsto no Art. 157, § 3º, 2 parte. É o roubo qualificado pelo resultado morte. Nas palavras de Antonio Lopes Monteiro “tutela-se o patrimônio e, além deste, também a liberdade individual e a vida da pessoa humana”. E como explica Fernando Capez “Ocorre quando do emprego de violência física contra a pessoa com o fim de subtrair a res, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre morte da vítima”, ainda a morte da vitima ou de um terceiro pode resultar tanto do dolo quanto da culpa. Sendo latrocínio consumado ou tentado, a ação correspondente é a pública incondicionada, e da competência do juiz singular, visto que é crime contra patrimônio, como foi colocado pelo Código Penal, embora haja o evento morte.
1.2.3 Extorsão qualificada pela morte e mediante sequestro
A extorsão também é considerada crime hediondo, aquela qualificada pela morte e a mediante sequestro. Na extorsão qualificada pela morte são aplicadas as mesmas regras do latrocínio. Ela está previstano § 2º do artigo 158 do Código Penal. Esclarece Antonio Lopes Monteiro que “A extorsão é um crime contra o patrimônio, mas estão tuteladas por este dispositivo também a liberdade e a incolumidade da pessoa, e na
qualificada, a vida”.
Deve-se observar que a extorsão qualificada pelo resultado lesão corporal não pode ser considerada crime hediondo. Como ensina Fernando Capez são crimes praticamente idênticos a extorsão e o roubo, qualificados ou não, os dois ofendem os mesmos bens jurídicos, demonstra a diferença assim: “Se a vítima pratica um ato que o agente poderia
realizar em seu lugar, o crime é de roubo (entrega da carteira) se a vítima pratica um ato que o agente não poderia cometer em seu lugar, o crime é de extorsão (preenchimento de um cheque ou de um cambial)”.
Já a extorsão mediante seqüestro está prevista no artigo 159 do Código Penal. Informa Fernando Capez que “Trata-se de mais um delito de extorsão, contudo se cuida aqui da privação da liberdade da vítima tendo por fim a obtenção de vantagem, como condição ou preço do resgate”.
O seqüestro é um crime meio para a obtenção de vantagem patrimonial, tratando-se, portanto de um crime complexo, formado pela junção de dois crimes seqüestro ou cárcere privado e a extorsão. Como a Lei de Crimes Hediondos foi criada em momento de impacto emocional, da grande onda de seqüestros no país a extorsão mediante seqüestro não poderia deixar de ser incluída, diferente da extorsão que apenas é considerada crime hediondo se houver a qualificação pela morte, a extorsão mediante seqüestro é considerada crime hediondo em todas as suas formas. Neste delito não há duvidas sobre o momento de sua consumação, se consuma com o simples seqüestro, “a obtenção da vantagem econômica do agente ou o recebimento do resgate são mero euxarimento” esclarece Antonio Lopes Monteiro. As penas para este crime são as maiores da lei penal. A ação penal é pública incondicionada e a competência não deixa de ser do juiz singular, mesmo com a qualificação pela morte.
1.2.4 Estupro 
Dos crimes contra os costumes, dos dois que foram considerados crimes hediondos, um deles é o estupro, tanto na sua forma simples quanto qualificada. O artigo 213 do Código Penal o conceitua como: Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Segundo Celso Delmanto “porém, que se a violência for presumida, o crime não é hediondo”. Já Fábio Ramazzini Bechara informa que: O outro entendimento defende que a norma do art. 224 do CP, nas hipóteses de estupro e atentado violento ao pudor praticado mediante violência presumida, atua como norma de extensão, interferindo no processo de adequação típica. Com efeito, ainda, é evidente que tais crimes, seja os praticados com violência real, seja os praticados com violência presumida, ostenta igual gravidade a ponto de merecer o mesmo tratamento rigoroso introduzido pela Lei.n. 8.072/90.Entendem Antonio Lopes Monteiro e Celso Delmanto que “a presença do constrangimento é imprescindível para a tipificação. O coito desejado pelo agente deve ser conseguido por meio de violência ou grave ameaça”.
A ação penal para o crime de estupro em regra é privada, mediante queixa. Porém o artigo 225 prevê exceções onde a ação penal poderá ser pública condicionada e até mesmo pública incondicionada
1.2.5 Atentado violento ao pudor O segundo crime contra os costumes considerado hediondo é o de atentado violento ao pudor, que o artigo 214 conceitua como: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. No entendimento de Antonio Lopes Monteiro são considerados atos libidinosos aqueles com finalidade última a lascívia. Neste crime se exige a real participação do ofendido, de forma que se a vítima é obrigada a assistir ato libidinoso praticado por terceiros não é caracterizado o atentado violento ao pudor. Esclarece Antonio Lopes Monteiro que a pena é igual a de estupro seguindo as variáveis ali expostas, e “é neste ponto que o dispositivo considerado como crime hediondo sofreu muitas críticas”. Diz-se que trata-se desigualmente os desiguais “pune-se com a mesma pena o estuprador e aquele que apenas, desviado sexualmente, se contentou com uma contemplação lasciva”.
A consumação do atentado violento ao pudor ocorre com a efetiva prática do ato libidinoso.
 1.2.6 Epidemia com resultado morte
Protegendo a saúde pública a lei inclui como crime hediondo a epidemia com resultado morte. Conforme pensamento de Antonio Lopes Monteiro, “preserva-se aqui não mais a vida de um individuo, isolado, mas a vida de todo um grupo indeterminado de pessoas”.
A epidemia é prevista no artigo 267 do Código Penal: Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos. De acordo com Fernando Capez “Assim, aquele que propaga germes patogênicos, causando epidemia, isto é, surto de doença infecciosa que atinge diversas pessoas, da qual resulta morte, comete o delito previsto no Código Penal, o qual constitui crime hediondo”.
Até mesmo o atingido pela doença pode ser sujeito ativo do crime, o passivo é a coletividade. Aponta Fernando Capez que “Trata-se de crime preterdoloso. Há dolo no crime antecedente (epidemia) e culpa no crime conseqüente (morte)”.
A qualificadora morte pode ocorrer com o falecimento de uma só pessoa, não necessariamente exigindo a morte de várias pessoas
1.2.7 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. 
A falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais passou a fazer parte de crimes hediondos através da Lei n. 9.695/98 que acrescentou a conduta. Para compreender este acréscimo se observa o acontecimento de1998 nas palavras de Antonio Lopes Monteiro, “Trata-se do escândalo da falsificação dos medicamentos, que de forma bombástica veio a público pela mídia escrita e falada”, foi o ano em que o governo descobriu vários medicamentos falsos nas prateleiras de farmácias. Assim, estavam pondo em risco a vida e a saúde de toda a sociedade brasileira. No entendimento de Fábio Ramazzini Bechara “embora não haja referência expressa, são igualmente consideradas hediondas todas as formas qualificadas previstas no Art. 285 do CP, que são mais graves, e certamente a sua exclusão seria de total incoerência”.
 No pensamento de Celso Delmanton De forma absurda, este § 1º - A inclui entre os produtos objeto deste artigo, punidos com severíssimas penas, os cosméticos (destinados ao embelezamento) e os saneantes (destinados à higienização e à desinfecção ambiental), ferindo, assim, o princípio da proporcionalidade. Neste sentido pode-se encontrar uma das desproporcionalidades da lei, que, no § 1º-A do Art.273 CP, dá o mesmo tratamento de crimes graves, que expõe a risco a vida e saúde das pessoas, a crimes não tão graves assim.
1.2.8 Crime de genocídio
O genocídio é o último crime enumerado na Lei de Crimes Hediondos Para Antonio LopesMonteiro “o vocábulo é híbrido, e querem alguns que derive da palavra grega genos (raça, nação, tribo) e do sufixo latino cidio (matar)”, ainda Antonio Lopes Monteiro diz que “o que se tutela com esta norma não é num primeiro momento a vida do individuo considerado em si mesmo, mas sim a vida de grupos de pessoas em sua totalidade”.
Explica Fábio Ramazzini Bechara que: O crime de genocídio qualifica-se pela intenção daquele que pretende destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial e religioso. A Lei n. 2.889/56 não somente o define no art.1º, como igualmente pune a associação de mais de três pessoas para sua prática (art. 2º) e aquele que incita, direta e publicamente, alguém a cometer os delitos previstos no art 1º (art.3º). Prossegue Fábio Ramazzini Bechara esclarecendo que o genocídio também foi regulado pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, qual foi ratificado por Decreto presidencial, e anteriormente também ratificado pelo Congresso Nacional. Esta norma internacional,vigente no ordenamento interno, então estabeleceu que quem seria competente para julgar o crime de genocídio, entre outros, seria o Tribunal Penal Internacional (TPI
). “No entanto, a aplicação da norma internacional orienta-se pelo princípio da complementaridade, o que, em outras palavras, expressa o seu caráter subsidiário e supletivo em face da ordem interna”.
O artigo 17 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional dispõe que:Art. 17ºQuestões relativas à admissibilidade (...)2 - A fim de determinar se há ou não vontade de agir num determinado caso, o Tribunal, tendoem consideração as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo direitointernacional, verificará a existência de uma ou mais das seguintes circunstâncias:a) O processo ter sido instaurado ou estar pendente ou a decisão ter sido proferida no Estadocom o propósito de subtrair a pessoa em causa à sua responsabilidade criminal por crimes dacompetência do Tribunal, nos termos do disposto no artigo 5.º;b) Ter havido demora injustificada no processamento a qual, dadas as circunstâncias, semostra incompatível com a intenção de fazer responder a pessoa em causa perante a justiça;c) O processo não ter sido ou não estar a ser conduzido de maneira independente ou imparcial,e ter estado ou estar a ser conduzido de uma maneira que, dadas as circunstâncias, sejaincompatível com a intenção de fazer responder a pessoa em causa perante a justiça.3 - A fim de determinar se há incapacidade de agir num determinado caso, o Tribunal verificaráse o Estado, por colapso total ou substancial da respectiva administração da justiça ou porindisponibilidade desta, não estará em condições de fazer comparecer o arguido, de reunir osmeios de prova e depoimentos necessários ou não estará, por outros motivos, em condiçõesde concluir o processo. Então apenas quando apareçam estes pressupostos do Art. 17 doEstatuto deRoma é que a ordem interna cederá a internacional.
1.3 Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990O objetivo da Lei n. 8.072/90 era a princípio o atendimento do que dizia o inciso XLIII do Art. 5ºda Constituição Federal, porém a lei, segundo Antonio Lopes Monteiro
, “além de definir o crime
hediondo para efeitos desse preceito da Carta Magna, determinou outras providências
”. Esta
lei então trouxe normas de Direito Processual Penal e até mesmo de execução da pena. Emrelação a aplicação da lei no tempo Fábio Ramazzini Bechara ensina, que a lei, como umtodo, não retroage para alcançar os fatos anteriores à sua entrada em vigor, inclusive, emrelação às normas de direito processual. A qualificação do crime como hediondo acarreta otratamento penal e processual mais rigoroso, sendo vedada a aplicação compartilhada oudividida da norma em relação aos fatos anteriores. A sociedade exigia um meio de por fim aoambiente de insegurança vivido no Brasil e assim acabaram surgindo os dispositivos duros quecombatem os crimes hediondos. A edição da Lei se deu em um momento de pânico que atingiaalguns setores da sociedade brasileira, principalmente com relação aos seqüestros no Rio deJaneiro, a lei queria inovar, porém a pressa com que foi elaborada talvez explique asimprecisões contidas e os conflitos gerados. Esclarece Fernando Capez a respeito da lei que:Osistema legal por sua própria rigidez, deixou pouco campo para a avaliação discricionária daespecial repugnância da conduta no caso concreto: se esta se enquadrar em um dos tiposselecionados como hediondos, quase nenhuma margem interpretativa sobrará para o julgador.Assim, tanto o beijo lascivo quanto o coito anal cometidos consensualmente contra vítima nãomaior de 14 anos configuram atentado violento ao pudor e são considerados como crimeshediondos, embora haja enorme diferença na lesividade de um e de outro. O objetivo da leiseria diminuir a criminalidade e criar um clima de maior segurança na população, porém ocometimento dos crimes hediondos não diminuiu, bem como continuou a aumentar, provandoque não apenas o simples aumento da pena ou seu cumprimento integral em regime fechadoresolveria o problema, mas sim a certeza da punição. Sobre o assunto se manifesta AntonioLopes Monteiro dizendo que:Até que não haja uma profunda reforma no trato da questão criminal, começando pelo inquéritopolicial até o sistema penitenciário, reforma essa que traga uma confiável investigação policiale uma certeza da imediata condenação e real cumprimento da pena, continuaremos a assistir aedição de leis como a de n. 8.072/90 de muita polêmica e pouca eficácia. Assim, se observaque as diversas críticas a lei não são infundadas, realmente foi elaborada com muitasimprecisões e não alcançou o objetivo de diminuição da criminalidade.
1.4 Lei n. 8.702/90 e a Comoção NacionalA Lei de Crimes Hediondos desde sua criação teve forte vinculação com os casos de comoçãonacional, que são despertados nos brasileiros após a ocorrência de crimes violentos, apopulação sempre exige do Congresso Nacional uma
“resposta a violência” solicitando
aprovações de mudança na legislação penal. O surgimento da Lei 8.072/90 ocorreu de formarápida como um meio de resposta a violência que aumentava no Brasil, principalmente com aonda de seqüestros ocorridos no Rio de Janeiro no fim dos anos 80. Ensina Marisya Souza eSilva que:A Lei de Crimes Hediondos também é controversa porque abruptamente aprovada, semdiscussão doutrinária e participação da sociedade civil, num momento em que o pânico geralatingia a população, com roubos, estupros, homicídios e uma onda de seqüestros no Rio deJaneiro, culminando com o do empresário Roberto Medina, irmão do Deputado Federal peloEstado do Rio de Janeiro, Rubens Medina, fato que provocou a edição da Lei dos CrimesHediondos. Além do seqüestro de Roberto Medina outro que culminou na criação da Lei foi odo empresário Abílio Diniz em 11 de dezembro de 1989, então na época vicepresidente doGrupo Pão de Açúcar, que muito foi acompanhado pela mídia e pela população em geral. Foi,portanto, devido ao aumento crescente da criminalidade violenta que foi elaborada a Lei, existiauma preocupação na contenção do crime, foi promulgada sob forte clamor e pressão, por issoa pressa e o rigor com que surgiu e as imprecisões observadas. Olvidou-se do homicídio no roldos crimes hediondos e como as mudanças na lei sempre se discutem apenas quando emclima de tensão e emoção foi apenas em 1994, após o assassinato da atriz Daniela Perez, queocorreu no dia 28 de dezembro de 1992, que o homicídio passou a fazer parte dos crimeshediondos através da Lei n. 8.930/94. Explica Antonio Lopes Monteiro que o projeto de lei quedeu origem à Lei n. 8.930/94 foi incentivado por uma campanha liderada pela escritora GlóriaPerez, mãe da atriz, e por Jocélia Brandão, mãe de Miriam, menina seqüestrada e morta em Belo Horizonte, em 1993. A Lei dos Crimes Hediondos confirma tendência da última década de adoção de política criminal mais repressiva do Estado com o fim de mostrar sua eficiência e capacidade de oferecer segurança à população, por seu poder de punir. E, também, a força da mídia no nosso meio, tanto que, quando uma intensa campanha foi feita, com o apoio da mídia, a proposta de inclusão do homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos foi votada e aprovada, com a edição e promulgação da Lei 8.930, de 06.06.1994. A população em geral não entende que as normas penais não têm capacidade para mudar a realidade do Brasil, que vem sofrendo aumento da criminalidade e da violência, o que ocorre devido à pobreza e as desigualdades sociais. Marisya Souza e Silva dispõe que: Vê-se que qualquer conduta criminosa que cause repercussão nacional deve ser denominada de hedionda, sob o pretexto de que somente assim será possível combater o aumento da criminalidade. O legislador amplia o rol dos crimes hediondos, tratando situações diversas de maneira uniforme, de tal sorte que, pela simples natureza do crime, independentemente das circunstâncias pessoais dos acusados, todos recebem tratamento extremamente severo, como se, igualmente culpados, merecessem o mesmotratamento processual penal, o que não é justo. Outro exemplo é o caso da falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, que passou a fazer parte da Lei de Crimes Hediondos após os acontecimentos de 1998, foi o escândalo da falsificação de medicamentos, que veio a publico através da mídia, quando o governo descobriu diversos medicamentos falsificados nas farmácias. Como explica Antonio Lopes Monteiro: E, como nas situações anteriores, seqüestros (extorsão mediante seqüestro) e homicídios clamorosos, mais uma vez o Direito Penal foi chamado a dar umaresposta, como se, rotulando de hedionda esta ou aquela conduta, num passe de mágica, oproblema estivesse resolvido. A opinião pública mais uma vez exigia mudanças na lei, asociedade e a mídia queriam que fossem aumentadas as penas para tais condutas, definidascomo crimes pelos Arts. 272 a 275 do Código Penal, e mais uma vez o Legislativo agiu rápidofazendo surgir assim a Lei n. 9.695, de 20 de agosto de 1998. Mais recente, após a decisão doSTF de que a progressão do regime para os crimes hediondos ocorreria como para os crimes
comuns após o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena, que será estudada no terceiro capítulo, os projetos de lei que visavam à alteração da Lei n. 8.072/90, e assim regulavam a decisão do STF proferida em 23 de fevereiro de 2006, tornando mais rigorosa a progressão da pena dos condenados por crimes hediondos, foram colocados em pauta para a votação na Câmara de Deputados, no dia 14 de fevereiro de 2007, somente após a morte do menino João Hélio, de 06 anos, no Rio de Janeiro, crime que ocorreu de forma brutal, assaltantes arrastaram o garoto, pois este não conseguiu se soltar do cinto do carro que estavam roubando. Outra vez um caso de comoção nacional que implicou na alteração da Lei 8.072/90.Através destes projetos surgiu a Lei 11.464/07 que passou a regular que a progressão do regime, nos crimes hediondos, ocorreria após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena se réu primário e 3/5 (três quintos) se reincidente. Nota-se que a opinião pública continua com a mesma impressão de que a quantidade da pena e a prisão funcionam como forma de aumentara segurança como se significasse rigor, eficiência e tranqüilidade para a sociedade, como se prevenisse o crime, quando na realidade o que afasta o cometimento do delito é a certeza deque ocorrerá uma punição.
 
15
Considerações Finais
Entende-se que os crimes hediondos realmente devem ser julgados e punidos de forma mais rigorosa, porém, não como vinha acontecendo com a proibição da progressão de regime vez que isto não ressocializava o preso, uma das principais funções da pena. 47Concorda-se com a decisão do STF quanto à parte de se tratar de dispositivo inconstitucional a antiga redação do § 1º do Art. 2º da Lei n. 8.072/90 e também com a recente Lei n. 11.464/07que altera o dispositivo impondo novo período para a concessão do direito de progressão já que a necessidade de cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena para a concessão de progressão para regime mais brando aplicado a todos os crimes não deveria ser usado também em relação aos crimes hediondos.
 
16
BibliografiaBASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. v. 2. São Paulo:Saraiva, 2004BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução Lucia Guidicini, AlessandoBerti Contessa. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.BECHARA, Fábio Ramazzini. Legislação penal especial: (crimes hediondos, abusode autoridade, tóxicos, contravenções, tortura, porte de arma e crimes contra aordem tributária). 2. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. v. 1: parte geral. 9. ed., rev. e atual.São Paulo: Saraiva, 2005.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. v. 2: parte especial. 6. ed., rev. e atual.São Paulo: Saraiva, 2006.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. v. 4: legislação penal especial. SãoPaulo: Saraiva, 2006
https://pt.scribd.com/document/98305424/1-Crimes-Hediondos 15/03/2018

Outros materiais