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Aula 1: Determinantes do comportamento: A concepção freudiana As pesquisas desenvolvidas por S. Freud possibilitaram também um importante avanço na identificação de etapas importantes do desenvolvimento psicológico do indivíduo, tornando possível o diagnóstico e tratamento de sérios distúrbios mentais, que na época não eram suscetíveis a outras práticas terapêuticas. O início da psicanálise concretizou-se a partir da publicação do livro “A interpretação dos sonhos” (1900), quando foi divulgada a formulação da primeira teoria sobre a estrutura da mente humana, caracterizando os níveis e as funções da consciência, através da integração de três sistemas psíquicos, que mantinham uma relação de interdependência entre si: o sistema consciente, o sub ou pré-consciente e o inconsciente. A identificação dessas instâncias psicológicas só foi possível graças à utilização da hipnose. No final do século XIX observou um crescimento significativo de pessoas com sintomas histéricos e os conhecimentos da medicina na época não se mostravam suficientes para o tratamento destas pessoas. Em função deste aspecto, os indivíduos diagnosticados como histéricos ficavam abandonados à própria sorte, pois se acreditava que essas pessoas “fingiam” os sintomas para chamar a atenção ou para se livrarem das responsabilidades do dia a dia. Vale a pena ressaltar também que os sintomas histéricos surgiam após experiências traumáticas, com forte conteúdo emocional, que a pessoa histérica não era capaz de recordar. Apesar desta amnésia em relação à situação dolorosa, os sintomas afetavam o funcionamento do sistema nervoso autônomo, particularmente as áreas motoras e sensoriais, causando paralisias, parestesias, cegueira, dentre outros, sem que se pudesse identificar qualquer tipo de causa orgânica para esses sintomas. A partir da utilização da técnica da hipnose por pesquisadores renomados, como Breuer e Charcot, iniciaram-se as primeiras tentativas para se curar o indivíduo histérico. Porém, esses pesquisadores utilizavam a técnica visando apenas os sintomas físicos, procurando provar que não haviam causas orgânicas reais que justificassem as paralisias, a perda da visão etc. Este recurso mostrava-se adequado para este objetivo, pois enquanto a pessoa estava sob o efeito do transe hipnótico, realmente as funções motoras e sensoriais eram retomadas. Porém, ao cessar o efeito da hipnose, lá estavam novamente os bloqueios sensitivo-motores. Portanto, através da hipnose podia-se comprovar que a origem dos sintomas era de ordem emocional e não física; porém, a maneira de se utilizar a técnica não era suficiente para que se curassem os sintomas histéricos. Outro aspecto importante que pode-se conhecer através da hipnose, é que a mente humana não era regida apenas pela racionalidade; havia um outro nível de consciência, que exercia uma influência muito importante no nosso comportamento e talvez neste estágio é que se poderia encontrar a origem e o tratamento dos sintomas histéricos. Freud, então, introduziu uma modificação na maneira de se utilizar a hipnose. Durante o transe hipnótico, ao invés de sensibilizar o paciente para a percepção da reatividade física, induzia na pessoa a recordação do momento traumático. Freud estimulava o indivíduo histérico a recordar-se da situação de sofrimento e o encorajava a liberar a emoção reprimida naquela ocasião. Ao utilizar este recurso, pela primeira vez conseguiu-se eliminar ou amenizar a intensidade dos sintomas histéricos. Freud acreditava que a real origem dessa patologia consistia na impossibilidade do indivíduo assimilar conscientemente a experiência de sofrimento. Havia uma repressão dessa lembrança, porém, o conteúdo afetivo mantinha-se presente e acabava por revelar-se nos sintomas físicos, sem o dano real da função corporal. Esta técnica ficou conhecida como método catártico, pois a expressão emocional possibilitava o alívio das emoções reprimidas, tornando desnecessária a expressão física desta repressão. Ficaram então estabelecidos os níveis e as diferentes funções da consciência, identificados como: • O nível inconsciente: Que se refere aos conteúdos reprimidos pela censura interna e que não têm livre acesso aos sistemas consciente e pré-consciente. É uma área da mente humana poderosa que possui leis próprias de funcionamento; é alógico e atemporal. É o principal determinante dos nossos desejos, das nossas necessidades e motiva todo o tipo de comportamento que emitimos. • O nível pré-consciente: Que se refere aos conteúdos não disponíveis na consciência, porém, armazenados na memória; podemos ter acesso a eles através da concentração. • O nível consciente: Que representa o elo de ligação entre o mundo externo e a subjetividade; este depende basicamente da função perceptiva para identificar as necessidades internas e as possibilidades objetivas de satisfazê-las. É o responsável pelas atividades racionais e direciona as ações concretas e objetivas que são motivadas pela esfera inconsciente. Embora a identificação dos níveis de consciência tenha representado um avanço muito importante para o tratamento psicológico das pessoas, era necessário ainda conhecer melhor o funcionamento do psiquismo. Sendo assim, através do tratamento clínico das neuroses reformulou-se a concepção teórica inicial e entre 1920 e 1923 Freud divulgou uma nova teoria do aparelho psíquico, denominada “teoria dinâmica”. Nesta, foram definidos então novos sistemas da personalidade, que mantinham funções específicas e uma relação energética entre si: o id, ego e superego. • O superego: Atua ao nível inconsciente e representa a censura interna que direciona o comportamento humano. É adquirido através do processo de socialização; é um produto da identificação da criança com as atitudes dos pais. Esse processo de aprendizagem favorece a repetição automática e inconsciente de certos comportamentos; possibilita também o ajuste pessoal à sociedade, através da aquisição das normas disciplinares e da introjeção dos valores sociais. • O ego: Refere-se à esfera consciente da mente humana. Possui três funções: a perceptiva (que permite a identificação das necessidades instintivas e dos estímulos externos, captados através dos órgãos dos sentidos), a integradora (que possibilita a avaliação das condições objetivas para satisfazer essas necessidades) e a executora (que ativa o comportamento motor voluntário, necessário para a concretização da satisfação instintiva). O ego desenvolve-se também através do processo de identificação, na medida em que a criança apreende os sentimentos, pensamentos e atitudes dos adultos. Ele organiza a personalidade e permite o desenvolvimento de satisfação instintiva). O ego desenvolve-se também através do processo de identificação, na medida em que a criança apreende os sentimentos, pensamentos e atitudes dos adultos. Ele organiza a personalidade e permite o desenvolvimento de habilidades psicológicas específicas (a atenção, o raciocínio, a vontade, a reflexão, a comunicação verbal, a identificação dos desejos aprendidos, a percepção da realidade e a auto-consciência). O ego é regido pelo princípio da realidade; este é adquirido através do convívio social e permite que a pessoa aprenda formas socialmente aceitas para satisfazer suas necessidades instintivas. • O id: Representa a área instintiva que motiva todo o comportamento humano. É regido pelo princípio do prazer, que visa a obtenção onipotente do prazer e o evitamento constante da dor. O id atua de forma inconsciente; é alógico, a-espacial e a-temporal. A sua atividade instintiva origina-se de dois impulsos básicos: EROS (instinto de vida) e THANATOS (instinto de morte); essesimpulsos possibilitam a sobrevivência e a auto-conservação. Resumo: Portanto, há uma interação constante entre esses três sistemas.O ego é o elemento mediador; suporta as pressões do id, que busca a satisfação imediata de suas necessidades; o ego também procura adequar o comportamento do indivíduo às normas de conduta fixadas pelo superego. Um ego bem desenvolvido pode promover a independência do indivíduo em relação aos demais (na medida em que a pessoa for capaz de identificar quais são as suas necessidades prioritárias) incentivando, assim, o desenvolvimento da sua autonomia. Contudo, sua adaptação social irá depender também da sua capacidade de equilibrar adequadamente as suas forças instintivas e as pressões exercidas pela sua censura interna. O estudo da personalidade segundo a concepção psicanalítica freudiana A teoria psicanalítica freudiana assinala a existência de um conflito constante entre o id e o superego, mediado pelo ego. Esse conflito promove um estado de ansiedade que, dependendo da sua intensidade, poderá comprometer o equilíbrio emocional do indivíduo, com maior ou menor gravidade. Para minimizar esses efeitos, o ego dispõe de mecanismos de defesa, que são recursos que visam diminuir os efeitos da ansiedade. Esses mecanismos apresentam algumas peculiaridades: • Distorcem ou negam a realidade; • Agem inconscientemente e • Quando ineficazes, podem produzir sintomas físicos ou agravar o sofrimento psicológico do indivíduo. Existem inúmeros mecanismos de defesa; destacaremos alguns que podem ser melhor identificados a partir da observação do comportamento. São eles: • Recalque ou repressão: É a exclusão da consciência dos impulsos “perigosos” e das suas representações; ela atua automaticamente, sempre que a pessoa se vê diante da situação concreta ou imagina-se nessa situação. Quando a repressão é exagerada, acaba favorecendo o surgimento da neurose, pois a energia despendida pelo ego para reprimir os instintos inaceitáveis, priva o indivíduo da força necessária para desenvolver a sua criatividade, a sua capacidade intelectual etc. Ex.: a amnésia que a pessoa refere após um acidente de carro, mesmo que não tenha ocorrido nenhum dano cerebral. Este mecanismo pode ser acionado para impedir que a pessoa reviva o momento do acidente e sofra a ansiedade novamente. • Projeção: Atribuem-se aos outros tendências ou desejos reprimidos e que não aceitamos em nós mesmos; este mecanismo visa evitar os sentimento de culpa e a angústia. Ex.: quando uma pessoa recrimina um amigo pela demonstração exagerada da sua sensualidade. Tal comportamento pode ser motivado pelo desejo inconsciente de agir de modo semelhante, porém a própria pessoa não se permite assumir este comportamento. • Racionalização: Através deste mecanismo elaboramos uma explicação lógica, racional e convincente para um comportamento que, na verdade, é motivado por instintos reprimidos; através deste recurso a pessoa assimila melhor a manifestação dos impulsos reprimidos e inaceitáveis ao ego. Ex.: quando uma pessoa muito ciumenta “justifica” a sua necessidade. • Regressão: É a retomada de uma etapa anterior de desenvolvimento diante de uma situação crítica; este mecanismo pode ser acionado em situações de rompimento de uma relação afetiva importante ou diante de uma nova etapa de vida. Ex.: quando a criança solicita novamente a mamadeira, após o nascimento de um irmão. Buscar a companhia de velhos amigos ou familiares, após o rompimento de uma relação afetiva duradoura. • Conversão: É a liberação de um instinto reprimido, através da enervação do sistema nervoso muscular voluntário e sensorial. Ex.: perder a visão depois de um choque emocional; perder a capacidade de andar após um acidente, sem dano ortopédico. • Formação Reativa: É a repressão de um instinto “perigoso” e a expressão de um comportamento totalmente oposto aquele que gostaríamos de manifestar. Ex.: após ter sido humilhado e ofendido publicamente, adotar um comportamento de total passividade, para tentar conter a expressão da agressividade. • Sublimação: É a liberação de um instinto reprimido de forma socialmente aceita. Ex.: praticar um esporte após um dia estafante; assistir um filme e envolver-se emocionalmente com a trama; compor uma melodia e dar vazão a sentimentos incômodos. Este mecanismo é bastante benéfico para a nossa integridade mental e pode, inclusive, estimular o nosso convívio social sem maiores problemas. A questão da evolução psicossexual e a sua importância para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. A definição conceitual da sexualidade humana proposta pela psicanálise inaugurou uma maneira particular de se compreender esse aspecto do comportamento humano. Tradicionalmente acreditamos que a conduta sexual de uma pessoa se inicia a partir da curiosidade do pré-escolar ou do desenvolvimento físico da puberdade; dentro desta concepção, a sexualidade se restringiria à área genital e visaria, dentre outras coisas, a possibilidade de reprodução da espécie. Freud adotava um outro referencial: devido à sua formação em Neurologia, considerava que todo o comportamento humano é impulsionado por uma atividade orgânica, estimulada por uma energia específica. A sobrevivência do indivíduo requer a satisfação constante de necessidades básicas (ex.: fome, sede, sono, necessidades de eliminação), que podem ser toleradas até certo ponto e requerem um comportamento pré-determinado para aliviar o desconforto. Já a energia sexual, por sua vez, apresentaria as seguintes características: 1. Ela existe desde o nascimento e possibilita a obtenção de prazer em todas as atividades humanas; 2. Ela não se limita à área genital e não visa apenas a reprodução da espécie; 3. Comparando-se com as demais necessidades, a energia sexual tolera o adiamento ou a substituição da forma de obter a gratificação desse impulso; 4. Ela possui uma energia específica - a libido - que energiza diferentes partes do corpo (ou atividades psíquicas) ao longo de todo o desenvolvimento do indivíduo. A partir desta descrição, alguns autores formularam uma perspectiva do desenvolvimento da sexualidade, que ficou conhecida como evolução psicossexual. Esse enfoque descreve o desenvolvimento da sexualidade a partir de fases ou estágios, consecutivos e interdependentes, conforme descrevemos abaixo: • Fase oral (0 a 18, 24 meses): Neste período há um estado de indiferenciação eu-mundo; a partir dos cuidados essenciais à sobrevivência, desenvolve-se a dependência como a característica mais importante neste período, e tal aspecto é o principal responsável pela estruturação dos alicerces da personalidade. • Fase anal (2 a 3 anos): É uma etapa importante do desenvolvimento neuro-muscular; neste período, a imposição de limites fará com que a criança perceba a existência de regras de convivência iniciando-se a estruturação da base do super ego. • Fase fálica (4 a 6 anos) : Nessa idade o adulto procurará incentivar a criança a cuidar da própria higiene; estimula-se dessa forma, o reconhecimento das diferenças anatômicas entre os sexos. Além disso, a criança torna-se curiosa a respeito do nascimento dos bebês e sobre as características do relacionamento afetivo entre os adultos. Ocorrerá nesse período o Complexo de Édipo, que será muito importante para a identificação sexual do indivíduo. É neste período que se encerra a estruturação da base do super ego. • Fase da latência (7 a 10,11 anos) : É uma idade importante para a aquisição de habilidades intelectuais (etapa da educação escolar básica). Desenvolve-se a noção de pudor (prova da aquisição do freio moral) e há um aparente desinteresse por temasda sexualidade. Expande- se o convívio social do indivíduo, que irá buscar entrosamento com outros grupos sociais além dos seus familiares. • Fase genital (12 anos em diante) : O desenvolvimento físico da puberdade contribuirá para o investimento da libido no relacionamento erótico. O pré-adolescente tenderá a se espelhar em ídolos e apegar-se mais aos amigos do que a família. Gradativamente espera-se que a pessoa seja capaz de superar o narcisismo das etapas anteriores e estabeleça vínculos afetivos baseados no companheirismo e respeito humano. Desse modo, a teoria psicanalítica freudiana nos oferece uma visão enriquecida a respeito dos determinantes do nosso desenvolvimento psíquico e nos esclarece a respeito da importância do convívio social para o auto-conhecimento e para o aprimoramento do nosso potencial psicológico. Aula 2: A contribuição das teorias de Carl Gustav Jung e W. Reich para a compreensão do comportamento humano A diversidade de aspectos que se pode observar em relação ao modo de agir das pessoas nos impõe a necessidade de conhecer outros referenciais teóricos, que discutam aspectos talvez pouco explorados por Freud na sua arqueologia do inconsciente. Nesse sentido, destacam-se as obras de Jung e Reich, seguidores de Freud, porém, idealizadores de novas maneiras de se conceber a estruturação da personalidade e o papel do contexto social no desenvolvimento psicológico de uma pessoa. Apresentaremos a seguir, de modo esquemático, os principais conceitos propostos por esses autores, na esperança de introduzir o leitor nos primeiros passos necessários para um aprofundamento posterior. Carl Gustav Jung. Embora fortemente fascinado pelo trabalho clínico de Freud, adotou parâmetros um pouco diferentes para fundamentar a sua teoria psicológica; este autor deteve-se no estudo do homem adulto, que vive a crise da meia idade e busca a sua essência. Portanto, ao se analisar os conceitos descritos abaixo, devemos imaginar tratar-se de uma pessoa já amadurecida, que se torna capaz de se conhecer realmente. Jung descreve os seguintes conceitos: • Consciente: refere-se atividade mental que possibilita a adaptação do indivíduo à realidade externa; têm com o Ego uma íntima relação, pois esse se define como o centro da consciência. • Inconsciente pessoal: caracteriza-se como uma fronteira imprecisa e superficial entre o consciente e o inconsciente coletivo. No inconsciente pessoal estão contidas todas as idéias, experiências vividas ao longo da vida; traumas e recordações armazenadas. Neste segmento agrupam-se “as representações carregadas de forte potencial afetivo e que são incompatíveis com a atitude consciente” (Silveira, 1997), dando origem aos complexos. • Inconsciente coletivo: através dessa definição, Jung procurou explicar como se organizam as estruturas psíquicas elementares e comuns a toda a espécie humana; o inconsciente coletivo se expressa através das representações simbólicas, que apesar de diferentes entre as culturas, ilustram sentimentos universais, transmitidos hereditariamente através das gerações. O inconsciente coletivo possui um centro ordenador, do qual emana toda a energia necessária para o psiquismo – o self. É graças a essa estrutura que o indivíduo adulto pode integrar melhor a sua personalidade, assimilando algumas representações contidas no inconsciente e utilizando o seu potencial psicológico de modo mais integrado; desse modo concretiza-se o seu processo de individuação, através do qual constrói-se a essência da personalidade; a integração dos opostos; o reconhecimento das fraquezas e da imagem social construída para que possamos viver em grupo, sem perdermos a nossa integridade mental. Dentro deste contexto, cabe ressaltar que os arquétipos são também aspectos importantes, pois através deles transmitem-se as emoções e as fantasias experimentadas em relação aos fenômenos da natureza; ao relacionamento homem-mulher; a interação afetiva que se estabelece entre mãe e filho, etc. Essas experiências são essenciais para a constituição psicológica de qualquer pessoa e possibilitarão a ela o intercâmbio com os seus semelhantes. Sendo assim, percebe-se que o inconsciente é dinâmico, criativo e nele está contida toda a energia necessária para o desenvolvimento humano, ao nível biológico e mental. • Persona: é a nossa “máscara social”, que nos permite atender as exigências do meio, correspondendo aquilo que os outros esperam de nós. Embora necessária para o convívio social, não podemos nos identificar inteiramente com ela, pois desse modo renegaremos aspectos essencialmente individuais. O processo de individuação possibilitará que delimitemos melhor quais são as expectativas sociais que desejamos atender e desse modo, adotaremos condutas mais autênticas diante de nós mesmos e dos demais. • Sombra: considerada o “lado negro” da personalidade, representando os nossos defeitos, fraquezas, aspectos imaturos e reprimidos, que não aceitamos em nós mesmos. Representa também a potencialidade para adotarmos alguns comportamentos (alguns, inclusive, benéficos), competências ainda não desenvolvidas e que podem surgir diante de situações críticas que precisamos enfrentar ao longo da vida. Esse aspecto também se refere à coletividade: a “sombra coletiva” se manifesta através da crueldade nos conflitos inter-raciais, nos atos destrutivos do terrorismo, dentre outros. • Anima: trata-se de um aspecto inconsciente, que contem as experiências fundamentais que o homem vivenciou com a mulher ao longo dos séculos e que construíram a imagem feminina interna do homem; este aspecto é importante e influenciará o relacionamento amoroso que este homem irá estabelecer com a mulher, ao longo da sua vida. Inicialmente, a figura materna será o modelo feminino que o menino irá conhecer; posteriormente, essa imagem será projetada nas atrizes, deusas míticas que atrairão o homem, indo finalmente projetar-se na mulher que o atrairá concretamente. Desta mulher idealizada o homem irá esperar a perfeição, condição que será impossível atender objetivamente. Porém, graças à maturidade emocional do homem, surgirá a possibilidade de usufruir plenamente do relacionamento amoroso com a mulher, reconhecendo nela aspectos positivos e limitações, superando-se, assim, essa idealização inicial. Além desse aspecto, graças a anima o homem pode desenvolver a sua intuição, sensibilidade e afetuosidade. • Animus: considerado a “alma masculina da mulher”; assim como a anima, o animus irá determinar a imagem masculina inconsciente da mulher, que condicionará a sua atração pela figura masculina. Inicialmente a mulher irá projetá-la na figura paterna e posteriormente nos ídolos, até concretizar-se no homem com quem irá se ligar afetivamente de fato. Graças ao animus têm-se a tendência de idealizar o parceiro. Assim como se espera que aconteça com o homem, acredita-se que ocorrerá um amadurecimento psicológico da mulher e a conseqüente humanização do homem com quem ela irá conviver. Além disso, graças ao animus é possível à mulher também desenvolver a sua racionalidade, liderança, objetividade. Outra contribuição importante da teoria de Jung refere-se à definição das atitudes de extroversão e introversão e a descrição dos tipos psicológicos. Os conceitos de introversão e extroversão referem-se a maneira como a pessoa direciona a sua libido. Esse conceito, inclusive, difere do modo como foi definido por Freud. De acordo com Jung, a libido se refere a toda a energia psíquica necessária para a sobrevivência física do indivíduo (necessidades fisiológicas), como psicológica (desenvolvimento intelectual, desejo de dominar, interesse sexual, dentre outros).Neste caso, através da extroversão, a libido está predominantemente voltada para o ambiente externo, para as pessoas e situações vividas objetivamente pela pessoa. Ao nível inconsciente revela-se a introversão, característica que possibilita o auto-conhecimento, a subjetividade. Quando predomina a introversão, a energia psíquica volta-se principalmente para o mundo interno da pessoa; seus sentimentos, o modo como compreende a realidade a sua volta. Ao nível inconsciente revela-se a sua extroversão, a objetividade, a racionalidade, que se constituem nos elementos menos desenvolvidos e menos energizados pela libido. Além dessas tendências para o direcionamento da energia psíquica, Jung caracteriza de que maneira reagimos ao ambiente, como nos orientamos em relação às pessoas. Essa interação ocorre através de quatro funções: Possuímos todas, porém uma delas se desenvolve mais (função superior), contrapondo-se a outra (função inferior) e tendo as outras duas como auxiliares. Vejamos como cada uma dessas funções se apresenta: • Pensamento: refere-se a atividade racional, objetiva, que permite a pessoa deduzir, descrever, classificar e decidir sobre as situações de modo coerente.Esta função se opõe ao sentimento. • Sentimento: refere-se aos valores, a afetividade com que reagimos às diversas situações. Pessoas que possuem esse tipo predominantemente tendem a guiar as suas decisões em função da emoção que a situação desperta. Esta função se opõe ao pensamento. • Sensação: refere-se à capacidade de reagir concretamente ao ambiente; pessoas que possuem essa característica de modo marcante geralmente são sensíveis para os detalhes; demonstram bom senso estético e acurado funcionamento sensorial. Esta função se opõe à intuição. • Intuição: revela-se através da capacidade de apreender o clima de uma situação, independentemente das condições objetivas do ambiente. Costuma-se dizer que a intuição é a capacidade de perceber independentemente dos órgãos dos sentidos. A contribuição da análise do caráter contida na teoria de W. Reich Ao descrever alguns aspectos da análise caracteriológica proposta por Reich, faz-se necessário esclarecer que este autor talvez tenha sido o seguidor mais fiel da teoria freudiana e suas idéias devem ser analisadas sob essa ótica. Mencionaremos a seguir alguns tópicos dessa abordagem: • A origem do caráter: o caráter surge a partir do convívio social do indivíduo, que o obriga constantemente a reprimir a expressão aberta dos seus impulsos, ao nível físico e psicológico. De acordo com Reich, esse processo também ocorre ao nível fisiológico, favorecendo que se represe a energia vital e podendo tensionar certas regiões do corpo, quando ocorrer um estado constante de tensão e bloqueio da energia vital. • O caráter genital: considerando-se que é imprescindível a interação social para a sobrevivência física e psicológica do indivíduo, aquele que consegue desenvolver um bloqueio instintivo de modo equilibrado e mantém a sua busca de satisfação libidinal de modo flexível, caracteriza o caráter genital. Pessoas que conquistam essa capacidade são aquelas que, mesmo vivendo situações difíceis, frustrações inerentes à vida, não desistem e podem substituir objetivos, adiar a satisfação da necessidade, re-direcionando a sua energia vital. • O caráter neurótico: neste caso ocorre o impedimento constante para a realização dos desejos; há um bloqueio estático e permanente da energia vital, o que pode levar a pessoa a buscar essa satisfação a qualquer custo, mesmo reproduzindo comportamentos totalmente ineficazes. • As estratificações do caráter: como precisamos conviver com diferentes pessoas e situações, temos a necessidade de adaptar a nossa conduta às demandas externas. Sendo assim, desenvolvemos diferentes modos de agir, particularmente quando adotamos o caráter neurótico e necessitamos urgentemente de um alívio para as nossas frustrações. Em decorrência desse fato, podemos adotar condutas compatíveis com algumas características dos tipos de caráter descritos abaixo: 1- Caráter histérico: pessoas que adotam esse comportamento mostram-se sugestionáveis, com baixa tolerância à frustração, podendo reagir de modo totalmente imaturo diante de uma frustração. São imaginativas e tal fato pode induzir a uma distorção do que ocorre a sua volta, principalmente quando se vê numa situação difícil, como a constatação de uma falha que tenha cometido. Essas pessoas procuram intimidar os outros através das suas reações emocionais e têm dificuldades para manter um relacionamento afetivo gratificante devido ao seu comportamento. 2- Caráter compulsivo: Pessoas que possuem essa forma de reagir têm a tendência de se revelarem excessivamente preocupadas com a ordem, limpeza; são metódicos, desconfiados e apresentam necessidade de auto-controle constante, procurando controlar também a reação dos demais. Podem adotar condutas de avareza e revelam pensamentos auto ruminativos. Retratam rigidez na postura corporal e podem apresentar uma certa indiferença na mímica facial. 3- Caráter fálico-narcisista: o indivíduo que adota esse comportamento geralmente é muito vaidoso e se vale da sua aparência ou facilidade de comunicação para envolver as pessoas e levá-las a agir conforme ele deseja. Quando contrariados, entretanto, podem manifestar reações hostis, pois sentem-se pessoalmente atingidos pelos defeitos ou críticas que possam fazer ao seu comportamento ou às pessoas que estão envolvidas com ele. 4- Caráter masoquista: definir esse tipo de caráter impôs algumas dificuldades conceituais para Reich. Partindo do princípio que toda a atividade humana visa o prazer, como alguém pode ter “prazer em sofrer” como costuma-se definir o masoquista. Na verdade, o caráter masoquista visa o prazer e empenha-se consideravelmente para conquistar o que deseja, porém, no momento em que alcança o seu objetivo, desiste, como que buscando uma punição, não se sentindo realmente merecedor dessa conquista. Considerando os reflexos que todos esses bloqueios podem causar no investimento energético da pessoa, podem surgir tensões musculares que causam a couraça muscular, ou seja, um enrijecimento da estrutura muscular, dando origem a dores e desconforto em função do bloqueio emocional. Citaremos a seguir os sete anéis que compõem essa couraça muscular ou caracteriológica: 1- Anel ocular: revela-se através do olhar vazio, com aparente ausência de emoções. 2- Anel oral: retrata o bloqueio da agressividade, da expressão oral dos sentimentos. 3- Anel cervical: compromete a musculatura do pescoço, da nuca, língua e laringe. Demonstra a dificuldade para expressar a raiva e o choro. 4- Anel peitoral ou toráxico: aponta a dificuldade da pessoa respirar, estando intimamente relacionado aos quadros de angústia ou ansiedade aguda. Revela também o bloqueio do choro e do riso. 5- Anel diafragmático: associado ao anel peitoral, retrata a angústia e a repressão da agressividade. Pessoas com sofrem com esse bloqueio, sentem que o ambiente as agride constantemente. 6- Anel abdominal: refere-se ao processo digestivo e a dificuldade de superar emoções relacionadas à frustração. 7- Anel pélvico: revela o bloqueio na obtenção do prazer sexual e no aprofundamento do vínculo emocional com o parceiro. Resumo sobre as teorias de Reich Reich fez sua teoria através da análise caracteriológica. O carater surge a partir do convívio social do individuo. O individuo constantemente reprime seus impulsos ao nível físico e psicológico. Reich diz que o processo ocorre também a nível fisiológico represando a energia vital e tensionandocertas regiões do corpo e quando isso torna-se constante leva um bloqueio da energia vital. Reich ratifica o quanto nós seres humanos bloqueamos em nosso corpo a expressão daquilo que sentimos, pensamos e percebemos gerando vivências de desprazer. De acordo com a sua teoria, todos as patologias seriam consequência de pertubação da capacidade de obter uma dose adequada de prazer. Ele percebeu que em todos os seres humanos existem disfunções geradas no corpo para conter as emoções vividas como ameaçadoras. Essas disfunções são denominadas como "couraças" correspondendo a defesas no corpo para evitar o contato com objetos geradores de medo. Resumo sobre as teorias de Freud De um modo geral para Freud o sujeito doente que ele chama de neurótico, é aquele sujeito do conflito, ou seja, entra em conflito entre o que quer fazer e o que pode fazer. Os mecanismos psíquicos que Freud fala são vários. O que está em jogo é que a consciência usa de mecanismos para impedir que conteúdos desprazerosos vividos ao longo da vida não se manifestem na consciência. E esse conteúdo permanece na psique do sujeito e acaba retornando em forma de sintomas físicos. O adoecer é um sintoma de conteúdos reprimidos e que não foram resolvidos pelo sujeito. Para Freud qualquer sintoma está vinculado a esses conteúdos reprimidos no inconsciente. E a terapia tem o objetivo de levar o sujeito a entrar em contato com esse conteúdo. Exemplo: Uma criança é estuprada pelo pai. E ela cresce com esse fato ocorrido, porém, ao longo do seu desenvolvimento ela vai se “esquecendo” desse fato. Aos 30 anos essa menina, hoje uma mulher, descobre um câncer no útero. Esse câncer pode ter ocorrido porque ela não elaborou o fato de modo satisfatório durante o seu crescimento.
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