Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS FALHAS NORMAIS Falhas normais são aquelas que, em seção vertical perpendicular ao plano de falha, apresentam um movimento aparente tal que a capa desce em relação a lapa. Portanto, é uma classificação baseada no movimento aparente entre os blocos, visto numa seção vertical. Porém, a maioria das falhas normais são também falhas de rejeito de mergulho (dip-slip fault), ou seja, têm movimento real paralelo a inclinação do plano de falha. Desta forma, o termo tem sido usado de forma mais abrangente indicando falhas de rejeito de mergulho com movimento aparente normal. O mesmo se aplica para falhas reversas, ou seja, seriam falhas de rejeito de mergulho com movimento aparente reverso (Fig.1). Figura1 – Falha normal e reversa. Nesses blocos diagramas, ambas são também falhas de rejeito de mergulho (dip-slip fault ou normal-slip fault). Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.13, pg. 513. Em geral, falhas normais têm ângulo de mergulho alto, em torno de 60º. O nome “normal” não significa que este tipo de falha é mais comum que os outros tipos. A denominação vem do uso dado por mineiros ingleses quando realizavam operações de mineração de carvão: quando encontravam uma falha, geralmente com a capa descendo em relação a lapa, o procedimento normal era dirigir o corte da mina através do plano de falha até uma certa distância, e depois fazer sondagens para achar o carvão deslocado (para baixo). Assim, começaram a denominar tais tipos de falha de “normais” (Ramsay & Huber 1987. Fig. 1). Falhas normais, conforme aqui considerado, são também falhas de gravidade, ou seja, aquelas em que o eixo principal de stress σ1 é vertical. I - MODELAGEM EXPERIMENTAL As principais características de falhas normais foram bem definidas pelos irmãos Cloos, Hans (1936) e Ernest (1955), através de modelagem experimental com camadas de argila (Davis 1984). Os padrões de falhas que apareceram nos experimentos são extremamente semelhantes aos encontrados na natureza. O experimento consiste na fabricação de um bolo de argila preparado com uma mistura de kaolin seco e água até adquirir uma consistência de manteiga mole. Essa massa é espalhada como uma camada de mais ou menos 4 cm de espessura e 15x15 cm aproximadamente de tamanho, nivelada por uma faca. Círculos de referência são desenhados na superfície para servirem de marcadores de strain. Dois métodos de deformação são recomendados pelos irmãos: através do estiramento de uma folha de borracha elástica e através do deslocamento entre duas placas de metal. 1 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Método 1 No primeiro experimento, o bolo de argila é colocado numa folha de borracha elástica (Fig. 2A). A folha é então esticada vagarosa e uniformemente. Uma vez que a base da camada de argila se estica, todo o resto também sofre efeito de estiramento. Assim que começa, falhas normais são criadas para acomodar a extensão (Fig. 2B). Aos poucos, as falhas tornam-se uniformemente distribuídas por todo bolo de argila. No topo da camada de argila afloram numerosas e pouco espaçadas escarpas de falhas, orientadas tipicamente a altos ângulos com a direção de estiramento. Alguns traços de falhas são retilíneos; outros são curvos. As superfícies das falhas expostas ao longo das escarpas são marcadas por estrias paralelas aos seus rejeitos de mergulho e têm ângulo de mergulho em torno de 60º. Freqüentemente, ocorrem sistemas conjugados com falhas inclinadas em direções opostas uma das outras cuja movimentação geral induz a formação de blocos afundados ou grabens e blocos levantados ou horsts (Figs. 2B e 3). Este é o mecanismo proposto para a formação de riftes simétricos (McKenzie 1978): a litosfera inteira (camada de argila do modelo experimental) sofre extensão horizontal gerando sistemas conjugados de falhas normais na superfície e dextensão dúctil abaixo da zona de transição brittle-dúctil (ver Fig.24A do item IV adiante). Figura 2 – Simulação de falhamento normal em camada de argila. (A) – camada de argila sobre folha de borracha elástica, antes do estiramento. (B) – camada de argila após estiramento: formação de sistema de falhas normais constituindo depressões (grabens) e altos estruturais (horsts). Detalhes na fig. 3. Extraído de Davis, G.H. (1984), Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 9.36, pg. 287. Visto à distância, o estado final de deformação da camada de argila mostra alongamento na direção do estiramento (extensão horizontal da fig. 3) e achatamento com afinamento na espessura da camada como um todo (encurtamento vertical da fig. 3). Figura 3 – Feições geométricas típicas de graben (G) e horst (H) produzidos por atividades de sistema de falhas (de gravidade) normais conjugadas. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.14, pg. 513. 2 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Método 2 No segundo experimento, a camada de argila é colocada sobre duas placas de metal, em parte superpostas uma sobre a outra. A extensão é produzida puxando-se vagarosamente as placas por suas extremidades (Fig. 4A). Este movimento causa extensão da argila na região diretamente acima do recobrimento entre as placas de metal. Conforme as placas se separam aumenta a área afetada. Deformações experimentais desta natureza resultam no desenvolvimento de grabens simples e meio-grabens, acima da área de recobrimento das placas (Fig. 4B). A superfície da camada de argila afunda no local que o graben se forma devido a movimentação de falhas de rejeito de mergulho normais. Em geral, as falhas principais mergulham em sentidos opostos com ângulos de mergulho em torno de 60º. Entretanto, falhas secundárias com sentido de mergulho oposto ao das falhas principais – falhas antitéticas podem ocorrer, para compensar possíveis vazios gerados por deslocamentos em planos de falhas curvos (p.ex: falhas lístricas). Falhas secundárias paralelas a falha principal são denominadas de falhas sintéticas. Este é o mecanismo proposto para a formação de meio-grabens ou hemi-grabensI (Wernicke 1981): a movimentação de uma falha de descolamento (detachment fault) principal, no modelo representada pelo deslizamento oposto das duas placas, gera na superfície falhas normais imbricadas cuja movimentação geral produz o abatimento de um dos lados do graben formado (ver Fig. 24B e C do item IV adiante). Figura 4 – Segundo experimento de simulação de falhamento normal em camada de argila. (A) - estiramento produzido pelo deslocamento, em sentidos opostos, de duas placas de metal. (B) – camada de argila deformada mostrando uma série de blocos basculados por falhas normais de ângulo de mergulho alto. Falhas antitéticas geram arrasto inverso (anticlinal “roll-over”) na falha da borda à direita do graben. Na parte superior da mesma falha, o arrasto é normal (sinformal). Comparar com figs. 10, 14, 15 e 16. Extraído de Davis, G.H. (1984), Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 9.37, pg. 288. II – TIPOS ESPECIAIS DE FALHAS NORMAIS Falha lístrica (listric fault) é uma falha normal cujo plano de falha tem alto ângulo de mergulho na superfície (~60º) e subhorizontal em profundidade. São falhas que ocorrem comumente em bacias sedimentares portadoras de petróleo, como observadas em diversos perfis sísmicos (Fig. 8). 3 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 8 – Falhalístrica vista em imagem sísmica. A seção mostra uma falha cega em F, interrompida por uma superfície de discordância (B). Acima desta superfície ocorre uma falha lístrica (f) que desloca a camada T num movimento aparente normal. Extraído da Internet, www.gogoole.com - imagens – listric fault. Falha de crescimento (growth fault) são falhas sin-sedimentares nas quais a espessura das camadas próximo ao plano de falha é maior do que em outros locais, devido ao afundamento ser concomitante com a deposição (Fig. 9). Falhas de crescimento podem ser tanto falhas de rejeito de mergulho normal como também falhas lístricas (Fig. 10). Figura 9 – Falhamento normal desenvolvido por rotação de blocos (modelo dominó). O espessamento da camada escura que cobre o bloco cinza falhado, perto do plano da falha, mostra que esta é também uma falha de crescimento. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.20, pg. 516. 4 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 10 – Perfil de reflexão sísmica de falha normal lístrica. O bloco da capa está cortado por inúmeras falhas secundárias normais sintéticas (mesmo sentido de mergulho e movimento da falha principal). Notar o arrasto reverso nas porções inferiores da falha (anticlinal “roll-over”). Nas porções mais superficiais o arrasto é normal, ou seja, produz-se sinformais. Notar também o espessamento da unidade mais superior, próximo ao plano da falha – nesta etapa, a falha torna-se uma falha normal de crescimento. (A) – imagem sísmica; (B) – interpretação da imagem. Extraído de Twiss, R.J. & Moores, E.M. (1992), Structural Geology, fig. 5.3, pg.76. Falha de descolamento (detachment fault) é uma falha normal de baixo ângulo que marca o limite entre blocos não falhados abaixo, de blocos deformados e falhados acima do plano de falha (Fig. 11C e D). Quando apresenta algum tipo de controle estratal, estabelecendo-se nos estratos incompetentes, é denominada de falha décollement, termo francês que também significa descolamento (Fig. 11 A e B). Embora os dois termos tenham a mesma tradução em Português, têm significados geológicos diferentes: falhas detachment independem da estratificação, enquanto que falhas décollement se estabelecem nas camadas incompetentes. Entretanto, ambas separam blocos inferiores não falhados de blocos superiores falhados e deformados. Nos blocos superiores (capa) 5 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS formam-se falhas normais imbricadas que podem terminar abrupta (lado esquerdo da fig. 20) ou tangencialmente contra a falha de descolamento (lado direito da fig. 20). Figura 11 – Falhas de descolamento (detachment e décollement): A – Falha décollement extensional; B – Falha décollement compressional. Notar que a falha se estabelece sòmente na camada incompetente. C – Falha detachment extensional; D – Falha detachment compressional falha de empurrão com rampa e piso). Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.24, pg. 518. Além da forma lístrica, falhas normais também podem ter uma superfície de falha com mudanças abruptas no ângulo de mergulho controladas por estratos de competência diferentes, ou seja, podem possuir uma forma de rampa (alto ângulo de mergulho) – piso (ângulo de mergulho subhorizontal). Movimentos relativos ao longo de planos de falha deste tipo levam ao desenvolvimento de espaços vazios ou parcialmente vazios ao redor das rampas (Fig. 12A). Tais espaços vazios são ocupados por fases fluidas das rochas ao redor, em função de redução da pressão hidrostática e do espaço para crescimento de cristais. São, portanto, ótimos sítios para mineralização. Caso não se formem espaços vazios, o material rochoso da capa ajusta-se ao movimento da falha gerando sinformais nas porções superiores e antiformais “roll-over” nas porções inferiores e mais profundas (Fig. 12B). Uma outra forma de se preencher os espaços vazios produzidos seria por erosão das paredes da falha, com deposição do material no espaço deixado (Fig. 12C). 6 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 12 – Modificações na geometria como resultado de movimento ao longo de falha com forma rampa-piso. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.25, pg. 518. Figura 13 – Desenvolvimento de espaços preenchidos por carbonato ao longo de falha normal com setores de rampa e piso, cortando alternância de arenito-folhelho. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.26, pg. 519. 7 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS III – ESTRUTURAS ASSOCIADAS • Falhas antitéticas, sintéticas e anticlinal “roll-over” Estruturas associadas a falhas normais são as falhas sintéticas, antitéticas e anticlinal roll-over (Fig. 14). Falhas sintéticas (sinthetic fault) são falhas secundárias mergulhando no mesmo sentido e com o mesmo movimento da falha principal. Falhas antitéticas (antithetic fault), ao contrário, são falhas secundárias mergulhando no sentido contrário ao da falha principal. Anticlinal roll-over é a estrutura gerada pela deformação da capa, conforme seu deslizamento para baixo. Esta deformação pode ser plástica, representada por um antiformal que vai de encontro com o plano de falha ou por ruptura, pela presença de falhas antitéticas e sintéticas secundárias (Figs. 10, 14, 15 e 16. Comparar com fig.3). Figura 14 – Seção esquemática mostrando os elementos geométricos e terminologia de falhas de crescimento (growth fault). Ver texto para definições dos termos. Extraído da Internet – www.google.com - fault – imagens. Figura 15 – Anticlinal roll-over em camadas de gelo de geleira. Extraído da Internet – www.google.com - fault – imagens. Foto de Scott McGee. 8 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 16 – Modelo para a geometria do deslocamento em uma falha normal lístrica acompanhada de dobramento roll-over e falhamento normal antitético. A – bloco crustal com a falha incipiente. O comprimento L na capa da falha é mantido constante; B – deslocamento rígido da capa a uma distancia d paralelo à porção horizontal da falha lístrica (falha de descolamento ou detachment) resultaria num espaço vazio, geologicamente improvável; C – Deformação distribuída ao longo da capa (cisalhamento representado pelas setas grandes) evitaria o espaço vazio, mantendo a capa em contato com o plano de falha e resultando no dobramento roll-over das camadas. O comprimento L mantem-se constante, resultando no desenvolvimento de outro problema de espaço vazio na capa da falha; D – a presença de falhas antitéticas na capa reduziria o problema do espaço vazio com pequenos deslocamentos diferenciados de tal modo que a capa estaria sempre em contato com o plano de falha. Extraído de Twiss, R.J. & Moores, E.M. (1992), Structural Geology, fig. 5.17, pg. 89. • Graben, Horst e Meio-Graben Uma das principais características no desenvolvimento de sistemas conjugados de falhas normais é a geração de grabens e horsts simétricos e meio-grabens (assimétrico). A produção de conjuntos de pares simétricos de falhas normais é uma conseqüência da atuação concomitante de extensão horizontal e encurtamento vertical (Fig. 3). A formação de tais sistemas conjugados implica numa extensãonos níveis superiores da crosta continental e, se desenvolvido em escala regional, certamente implicará em que a espessura de toda crosta e talvez toda a litosfera sofra estiramento horizontal e afinamento vertical. Neste caso, a crosta superior estira por falhamento e a crosta inferior pelo desenvolvimento de zonas de cisalhamento dúcteis (Ramsay & Huber 1987). O ângulo diedro entre pares conjugados de falhas normais é, geralmente, entre 40º - 60º na época do início do falhamento. A bissetriz deste ângulo agudo é subvertical e geralmente paralela a direção de stress de compressão máxima σ3 (Fig. 17A). Se o movimento entre os pares de falhas for simultâneo, sòmente será possível afundar (graben) e levantar blocos (horst) desenvolvendo-se grandes vazios em algum lugar, o que é geologicamente improvável uma vez que a massa rochosa permanece constantemente conectada as paredes do plano de falha (Fig. 17B). 9 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 17 – Desenvolvimento sincrônico entre dois conjuntos de falhas normais que se cortam. Notar o vazio formado pelo movimento simultâneo das falhas. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.16, pg. 514. Experimentos e modelagens em laboratório mostram que em sistemas conjugados deste tipo, as falhas atuam individualmente em seqüência alternada, de tal maneira que o movimento geral é de afundamento (Fig. 18). A falha 1 é ativada e posteriormente estabilizada (Fig. 18A); a falha 2, conjugada e simétrica em relação a primeira, é ativada deslocando o plano de falha 1 e posteriormente estabilizada (Fig. 18B); o movimento continua com a falha 3 paralela a direção da falha 1 e deslocando o plano de falha 2 (Fig. 18C), e assim sucessivamente. As falhas que irão se formar posteriormente se desenvolverão em posições nas quais são completamente independentes das falhas já formadas e estabilizadas ou ainda ativas (Fig. 18C). Figura 18 – Desenvolvimento de um sistema de fraturas por movimento seqüencial ao longo de falhas. Falha 1 é deslocada por falha 2 e truncada nos pontos X e Y. Falha 3, paralela a falha 1, trunca a falha 2. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.17, pg. 515. Se a rocha contém planos de fraqueza pré-existentes e orientados em concordância com a movimentação geral, é bem provável que tais planos de fraqueza sejam reativados no falhamento. Uma superfície de falha antiga truncada pode reativar-se de tal maneira que o movimento seja em diferentes blocos: uma reativação na parte inferior da falha truncada (ponto X para baixo na fig. 18B) pode gerar novas falhas no bloco superior; uma reativação da parte superior da falha truncada (ponto Y para cima na fig. 18B) pode fazer com ela corte o bloco inferior. Este processo de regeneração de falhas deve ser geometricamente de tal maneira que seja capaz de permitir que os blocos superior e inferior de falhas antigas truncadas tenham igual oportunidade de se propagar para as partes não falhadas dos blocos adjacentes. Entretanto, devido ao fato de que as propriedades dos materiais rochosos mudam significantemente com a profundidade, deve ser mais fácil reativar preferencialmente cada bloco, independentemente um do outro. O resultado de um rejuvenecimento realizado dessa maneira gera estruturas bem diferentes (Fig. 19). A fig. 19A mostra o tipo de 10 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS sistema graben-horst produzido quando as partes inferiores de superfícies de falhas antigas truncadas são os sítios de reativação tardia. A estruturação gerada inclui proeminente levantamento de bloco do embasamento no centro do graben, com numerosas e complexas lascas de falhas nas bordas do graben. A fig. 19B mostra o tipo de sistema graben-horst produzido quando as partes superiores de superfícies de falhas antigas truncadas são os sítios de reativação tardia. A estruturação gerada inclui proeminente afundamento do centro do graben, compensado com relativo levantamento de dois blocos do embasamento nas suas bordas (Ramsay & Huber 1987). Figura 19 – Desenvolvimento de graben e horst. (A) – por reativação da parte inferior de falhas pré-existentes truncadas (p.ex: ponto X na fig. 6B); (B) – por reativação da parte superior de falhas pré-existentes truncadas (p.ex: ponto Y na fig. 6B). Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.18, pg. 515. Meio-graben ou Hemi-graben é um graben assimétrico produzido por falhamento normal com afundamento geral sòmente para um lado, diferente de um sistema graben-horst simétrico onde as falhas normais mergulham para lados opostos (Fig. 8). Figura 20 – Graben simétrico e assimétrico (meio-graben). Sistemas conjugados de falhas normais são caracterizados por uma falha principal (main fault) com falhas secundárias associadas (sintéticas e antitéticas) e por falhas lístrica (listric) e de descolamento (detachment), com imbricamento de falhas normais (modelo dominó) na capa. Extraído de Twiss, R.J. & Moores, E.M. (1992), Structural Geology, fig. 5.4, pg.77. 11 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS IV – AMBIENTES TECTÔNICOS Falhas normais (de rejeito de mergulho e de gravidade) ocorrem em ambientes tectônicos extensionais (Fig. 21). São as estruturas predominantes na formação de limites de placas divergentes incluindo as fases riftes (rift valleys) e margem continental intraplaca - cordilheira meso-oceânica (Fig. 22). Figura 21 – Os três grandes tipos de contatos de placas tectônicas. Falhas normais são comuns nos ambientes extensionais; falhas de empurrão nas zonas de subducção e colisão; falhas de rejeito direcional (strike-slip) nas zonas de falhas transformantes. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig. 23.43, pg. 530. 12 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 22 – Desenvolvimento de um limite de placa divergente e de uma margem continental intraplaca a partir de um sistema de rift intracontinental: (a) - um sistema de rift desenvolve-se num antigo supercontiente (p.ex: Pangea) através de um ponto quente (hot spot) onde material do manto sobe, estirando e afinando a crosta continental antiga (obs: existem modelos ao contrário, ou seja, estiramento da crosta faz com que o manto se eleve e penetre na crosta antiga). Sedimentos não- marinhos e vulcânicas (Triássicos) são depositadas nos vales falhados. (b) - a partir do momento em que se produz crosta oceânica, começa o espalhamento do fundo oceânico. (c) – a litosfera esfria e se contrai sob a margem continental formada, causando subsidência e transgressão marinha. Evaporitos, depósitos deltáicos e carbonatos são depositados. (d) – sedimentos Jurássicos e Cretácicos derivados da erosão dos continentes recobrem os sedimentos anteriores. Este é o modelo de formação das margens continentais da Europa, África e Américas do Norte e do Sul. Extraído de Press, F. & Siever, R. (1998), Understanding Earth. 2a ed., fi.20.17, pg. 523. 13 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Os riftes são os precursores da formação de placas tectônicas do tipo divergente: são ditos bem sucedidos quando evoluem para limite de placa divergente; são ditos abortados ou mal sucedidos quando evoluem para uma bacia intracratônica (Figs. 23 e 24). Figura23 – Relações entre rifteamento (fragmentação de supercontinentes), magmatismo anorogênico e sistemas de bacias intracratônicas-margens continentais intraplacas (Klein, 1995, fig.13.17, pg. 475). A formação de supercontinentes por aglutinação de massas continentais (subducção + colisão = orogenias) resultaria numa espécie de tampão térmico. O calor não tendo por onde escapar causaria fusão parcial da base da crosta continental e formação de magma que, por diapirismo, intrude a crosta continental – corpos ígneos plutônicos anorogênicos. Na superfície formam-se sinéclises (A). A permanência do processo gera subsidência mecânica controlada por tectonismo representado por falhamento normal, acompanhado por sedimentação, vulcanismo e plutonismo - fase rift (B). Alguns rifts serão “bem sucedidos” no sentido de que se transformarão em limites divergentes de placas, com formação de crosta oceânica, enquanto outros, ao contrário, serão “mal sucedidos” ou abortados, tornando-se bacias intracratônicas por inflexão da crosta continental devido ao seu contínuo resfriamento – subsidência térmica (C). 14 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 24 – Junção tríplice RRR (rift-rift-rift) envolvendo o leste da África e Península Arábica. O Mar Vermelho (Red Sea) e Golfo de Aden (Gulf of Aden) são dois braços do sistema de riftes que foram bem sucedidos, ou seja, evoluíram até o aparecimento de crosta oceânica, formando um limite de placa divergente. Na África, a região dos grandes lagos africanos é o sitio de um sistema de riftes (rift valleys) em estágio inicial de abertura, que poderá ser bem ou mal sucedido no futuro. A partir do momento em que aí aflorar crosta oceânica, teremos um novo limite de placa divergente. Extraído da Internet, www.gogoole.com - imagens – rift e Sengör, A.M.C. (1995), Sedimentation and Tectonics of Fossil Rifts, in: Tectonics of Sedimentary Basins, Busby, C.J. & Ingersoll, R.V. ed. (1995), fig. 2.7, pg. 68. Modelos de formação de riftes incluem: 1- extensão por cisalhamento puro gerando rifts simétricos (McKenzie 1978) e, 2- extensão envolvendo falhas de descolamento (detachment) de baixo ângulo gerando rifts assimétricos (meio-grabens) (Fig. 25). No primeiro caso, tem-se extensão por toda a crosta continental com a zona de transição brittle-dúctil funcionando como uma superfície de descolamento: falhas normais de alto ângulo formam-se na porção superior da crosta e extensão e afinamento por deformação dúctil na porção inferior (Fig. 25A). Este modelo corresponde ao método experimental 1 dos irmãos Cloos (Fig. 2). No segundo caso, uma falha de descolamento (detachment) principal atravessa completamente a litosfera até atingir a astenosfera, mudando de falha ruptil para zona de cisalhamento dúctil a profundidades em torno de 15 a 20 km. Na superfície produz-se falhas normais imbricadas gerando meio-grabens (Fig. 25B). Este modelo corresponde ao método experimental 2 dos irmãos Cloos (Fig.4). 15 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS Figura 25 - Modelos de mecanismos para a formação de riftes (extraído de Ingersoll & Busby 1995, fig. 1.5, p.13). A - Extensão por cisalhamento puro (McKenzie 1978): grabens (feições simetricas) limitados por falhas normais de alto angulo; B - Modelo de Wernicke (1981), para a Provincia Basin and Range (Apalaches, USA): extensão envolvendo falhas de descolamento (detachment faults) de baixo angulo, que cortariam toda a litosfera. Na superfície, formam-se hemigrabens (feições assimetricas); C - Modelo alternativo do anterior, incluindo delaminação da litosfera com descolamento crustal na zona de transição ductil-brittle (DBTZ) conectada com Moho (Lister et al. 1986). BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA BENNISON, G. M. 1990. An Introduction to Geological Structures and Maps.5a edição, Londres, Edward Arnold, Ltda., 69 p. BILLINGS, M.P. 1972. Structural Geology. 2a edição, Prentice-Hall, Inc. New Jersey, 606p. DAVIS, G.H. 1984. Structural Geology of Rocks and Regions. New York, John Wiley & Sons, Inc., 492 p. LOCKZY, L. de & LADEIRA, E. 1976. Geologia Estrutural e Introdução a Geotectônica. São Paulo, Edgard Blucher Ltd; Rio de Janeiro, CNPq, 528 pgs. 16 Fabio Vito Pentagna Paciullo FALHAS NORMAIS RAMSAY, J.G. & HUBBER, M.I. 1987. The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures. Academic Press, 700 pgs. TWISS, R.J. & MOORES E.M. 1992, Structural Geology, W.H. FREEMAN & COMPANY ed., 532 pgs. 17
Compartilhar