Buscar

TEORIA GERAL DO PROCESSO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 148 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 148 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 148 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
 Procurador do Estado do Paraná. Mestre em Processo Civil pela Universidade Federal do 
Paraná. Perfil no site academia.edu: https://ufpr.academia.edu/CarlosEduardoRangelXavier; 
Canal no youtube: Direito sem Juridiquês. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 7 
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 7 
1 AUTONOMIA DO PROCESSO CIVIL E TEORIAS DA AÇÃO .................................................. 9 
1.1 Introdução. Apresentação da pergunta-chave .................................................................... 9 
1.2 Antecedentes históricos ...................................................................................................... 9 
1.3 A controvérsia entre Windscheid e Muther ....................................................................... 10 
1.3.1 Tese. Windscheid. Actio romana = pretensão moderna ................................................ 10 
1.3.2 Antítese. Muther. Direito privado versus direito à fórmula ............................................. 11 
1.3.3. Síntese Windscheid. Pretensão de direito material versus ação processual ............... 12 
1.4 Bülow, os pressupostos processuais e a relação jurídica processual .............................. 13 
1.5 Teorias da ação ................................................................................................................. 14 
1.5.1 Direito de agir “abstrato”. Degenkolb/Plósz, Mortara, Couture e Wach ......................... 14 
1.5.2 As teorias da ação desenvolvidas na Itália no início do Século XX e sua influência na 
formação do Código de Processo Civil Brasileiro (CPC) de 1973 .......................................... 16 
1.5.2.1 A teoria de Chiovenda ................................................................................................. 16 
1.5.2.2 A teoria eclética de Liebman ....................................................................................... 17 
2 CONDIÇÕES DA AÇÃO .......................................................................................................... 19 
2.1 As condições da ação no CPC de 1973 ........................................................................... 21 
2.1.1 Possibilidade jurídica do pedido ..................................................................................... 22 
2.1.2 Legitimidade das partes ................................................................................................. 22 
2.1.3 Interesse processual ...................................................................................................... 23 
2.2 As condições da ação no novo CPC ................................................................................. 23 
2.3 Regime processual de reconhecimento da ausência de condições da ação ................... 24 
2.3.1 Matéria de ordem pública ............................................................................................... 24 
2.3.2 Ausência de coisa julgada material ................................................................................ 25 
2.4 Análise crítica. A teoria da asserção ................................................................................. 26 
3 A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA E DO POSITIVISMO JURÍDICO SOBRE O 
PROCESSO CIVIL CONTINENTAL............................................................................................ 29 
3.1 Mas o que a Revolução Francesa tem a ver com o processo civil mesmo? .................... 29 
3.2 Antecedentes históricos .................................................................................................... 29 
3.3 Teoria da separação de poderes estrita. Supremacia da lei. Juiz “boca da lei” ............... 30 
3.4 Liberdade como valor máximo. Limitação dos poderes executórios do juiz ..................... 31 
3.5 O papel desempenhado pelo Positivismo Jurídico ........................................................... 32 
3.6 Correlação das ideias desenvolvidas ao longo da lição com a noção de “processo civil 
autônomo” ............................................................................................................................... 32 
3.7 Conclusão.......................................................................................................................... 35 
4 O IMPACTO DO CONSTITUCIONALISMO SOBRE O PROCESSO CIVIL............................ 36 
 
 
 
 
4.1 O fim do Estado Legislativo e o início do Estado Constitucional ...................................... 36 
4.2 Neoconstitucionalismo ...................................................................................................... 37 
4.3 Hermenêutica jurídica no Estado Constitucional .............................................................. 37 
4.3.1 Ideologia dinâmica da interpretação .............................................................................. 37 
4.3.2 Técnicas decisórias do controle de constitucionalidade ................................................ 38 
4.3.2.1 Interpretação de acordo com a Constituição .............................................................. 39 
4.3.2.2 Interpretação conforme à Constituição ....................................................................... 39 
4.3.2.3 Declaração de nulidade parcial sem redução de texto ............................................... 40 
4.3.2.4 Aplicação direta de um direito fundamental ao caso concreto ................................... 40 
4.4 Funções do Estado. Dar tutela aos direitos, especialmente aos fundamentais ............... 41 
4.5 Do princípio da inafastabilidade da jurisdição ao direito fundamental de acesso à justiça e 
ao direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva ................................................................ 41 
4.6 Dizendo as coisas de outro modo. Três ondas renovatórias de acesso à justiça 
(Cappelletti e Garth) ................................................................................................................ 44 
5 PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL ....................................................................................... 46 
5.1 Introdução.......................................................................................................................... 46 
5.1.1 A importância dos princípios para o Direito contemporâneo ......................................... 46 
5.1.2 O novo Código de Processo Civil e os princípios processuais ...................................... 49 
5.2 Artigo 5º, LIV, da Constituição. Devido processo legal ..................................................... 51 
5.3 Artigo 5º, LV, da CRFB. Princípios do contraditório e da ampla defesa ........................... 52 
5.3.1 Conteúdo do princípio do contraditório .......................................................................... 52 
5.3.2 A ampla defesa e os “meios e recursos a ela inerentes” ............................................... 53 
5.3.2.1 Possibilidade de restrição aos “meios” de defesa ...................................................... 53 
5.3.2.2 Possibilidade de restrição a “recursos” (ou: é o duplo grau de jurisdição, em matéria 
cível, um direito fundamental?) ............................................................................................... 54 
5.4 Artigo 5º, XXXV, da CRFB. Inafastabilidade da jurisdição, acesso à justiça e direito 
fundamental à tutela jurisdicional efetiva ................................................................................ 565.4.1 Direito fundamental à razoável duração do processo .................................................... 57 
5.4.1.1 Princípios da economia e da celeridade ..................................................................... 58 
5.5 Princípios da publicidade do processo e da fundamentação das decisões ..................... 59 
5.6 Princípios dispositivo, da demanda e do impulso oficial ................................................... 59 
5.7 Princípios da boa-fé e da cooperação .............................................................................. 60 
5.8 Apêndice. Quadro Esquemático ....................................................................................... 62 
6 JURISDIÇÃO ............................................................................................................................ 63 
6.1 Os conceitos de jurisdição formulados no contexto do Estado Legislativo ...................... 63 
6.2 Em busca de um conceito de jurisdição no Estado Constitucional................................... 64 
7 NOÇÕES SOBRE TEORIA DOS PRECEDENTES ................................................................. 67 
7.1 Introdução.......................................................................................................................... 67 
7.2 Aspectos preliminares de teoria do Direito. Ideologia estática X ideologia dinâmica da 
interpretação ............................................................................................................................ 69 
 
 
 
 
7.2.1 Ideologia estática da interpretação. Funções dos “Tribunais Superiores.” Jurisprudência 
e súmulas ................................................................................................................................ 69 
7.2.2 Ideologia dinâmica da interpretação. Funções das “Cortes Supemas” ......................... 70 
7.3 Aproximação entre as tradições de civil law e de common law ........................................ 72 
7.4 Operacionalização de precedentes. Ratio decidendi e obiter dicta. Precedente X 
jurisprudência e súmula. Distinguishing e overruling .............................................................. 74 
7.5 Os precedentes no âmbito do controle de constitucionalidade brasileiro ......................... 79 
7.5.1 O modelo de controle difuso de constitucionalidade brasileiro e a necessidade – que 
sempre existiu – de que os precedentes do Supremo Tribunal Federal fossem de 
observância obrigatória ........................................................................................................... 80 
7.5.2 A importação do modelo de controle concentrado e o papel que a “reclamação” passou 
a desempenhar a fim de tentar agregar coerência ao sistema misto de controle de 
constitucionalidade brasileiro .................................................................................................. 82 
7.6 A perspectiva de “racionalização da jurisdição” introduzida pelas alterações 
constitucionais e legislativas brasileiras mais recentes .......................................................... 85 
7.7 A forma como o novo Código de Processo Civil disciplina o assunto da “estabilidade, 
integridade e coerência da jurisprudência” (artigos 926 e 927) .............................................. 87 
7.8 “Julgamentos de casos repetitivos” (artigo 928 do NCPC) e incidente de assunção de 
competência ............................................................................................................................ 89 
7.8.1 Recursos especial e extraordinário repetitivos. Aspectos gerais ................................... 90 
7.8.2 Incidentes de resolução de demandas repetitivas e de assunção de competência. 
Aspectos gerais ....................................................................................................................... 92 
7.9 O papel conferido pelo novo Código de Processo Civil à reclamação ............................. 94 
7.10 Apreciação crítica final à disciplina dada pelo NCPC aos precedentes em conjunto com 
a da reclamação ...................................................................................................................... 96 
8 TUTELA DOS DIREITOS. TUTELA JURISDICIONAL DOS DIREITOS. PROCESSO E 
PROCEDIMENTO. TÉCNICA PROCESSUAL ......................................................................... 101 
8.1 Introdução. Função do Estado Constitucional. Dar tutela aos direitos ........................... 101 
8.2 Compreensão do direito material no Estado contemporâneo. Estabelecimento de 
“posições juridicamente protegidas.” Formas de tutela ........................................................ 101 
8.3. Tutela declaratória .......................................................................................................... 102 
8.4 Tutela constitutiva ........................................................................................................... 102 
8.5 Esclarecimento necessário. Diferença entre ilícito e dano ............................................. 103 
8.6 Formas de tutela que objetivam evitar o acontecimento do dano. Tutelas inibitória e de 
remoção do ilícito .................................................................................................................. 103 
8.7 Forma de tutela diante do dano já realizado. Tutela ressarcitória .................................. 104 
8.8 Um exemplo para ajudar a fixar os conceitos ................................................................. 106 
8.9 Processo, procedimento e técnica processual ................................................................ 107 
8.10 O estudo das classificações das ações (trinária e quinária) ......................................... 108 
8.10.1 Tutela declaratória ...................................................................................................... 110 
8.10.2 Tutela constitutiva ...................................................................................................... 111 
8.10.3 Tutelas inibitória e de remoção do ilícito .................................................................... 111 
 
 
 
 
8.10.4 Tutela ressarcitória ..................................................................................................... 112 
8.11 Retomando o exemplo .................................................................................................. 112 
8.12 Um breve olhar sobre o Código de Processo Civil ....................................................... 113 
9 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS....................................................................................... 115 
9.1 Introdução........................................................................................................................ 115 
9.2 Definição tradicional de pressupostos processuais ........................................................ 115 
9.3 Primeira aproximação legislativa e classificações .......................................................... 115 
9.4 Menção aos pressupostos processuais em espécie ...................................................... 117 
9.5 Pressupostos processuais de existência ........................................................................ 117 
9.5.1 Pedido e investidura na jurisdição ............................................................................... 117 
9.5.2 Citação ......................................................................................................................... 118 
9.5.3 Capacidade postulatória............................................................................................... 119 
9.6 Pressupostos processuais de validade ........................................................................... 122 
9.6.1 Aptidão dapetição inicial .............................................................................................. 122 
9.6.2 Imparcialidade do juiz ................................................................................................... 124 
9.6.2.1 Impedimento (artigo 144 do novo CPC) .................................................................... 125 
9.6.2.2 Suspeição (artigo 145 do novo CPC) ........................................................................ 125 
9.6.2.3 Procedimento para verificação e consequências ..................................................... 126 
9.6.3 Capacidade processual ................................................................................................ 127 
9.6.4 Validade da citação ...................................................................................................... 130 
9.6.5 Litispendência e coisa julgada ..................................................................................... 130 
9.7 Vícios decorrentes da inobservância dos pressupostos processuais. Panorama geral . 131 
9.8 Apreciação crítica ............................................................................................................ 132 
10 COMPETÊNCIA E ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA ............................................................... 134 
10.1 Introdução...................................................................................................................... 134 
10.1.1 Competência. Fundamentos e definição .................................................................... 134 
10.2 Classificações ............................................................................................................... 135 
10.2.1 Competência absoluta................................................................................................ 135 
10.2.2 Competência relativa .................................................................................................. 137 
10.2.3 A competência no âmbito do microssistema dos Juizados Especiais ....................... 137 
10.3 Regime de reconhecimento de incompetência ............................................................. 138 
10.4 Conflitos de competência .............................................................................................. 139 
10.5 Organização Judiciária. Noções Gerais ........................................................................ 141 
10.5.1 O “duplo grau de jurisdição” e as competências dos tribunais .................................. 141 
10.5.2 Justiças Estadual e Federal, Comum e Especializada .............................................. 142 
10.6 Organização Judiciária e Competência ........................................................................ 143 
10.6.1 Justiça Comum Estadual............................................................................................ 143 
10.6.1.1 Justiça Militar Estadual............................................................................................ 144 
 
 
 
 
10.6.2 Justiça Comum Federal ............................................................................................. 144 
10.6.3 Justiça Eleitoral .......................................................................................................... 146 
10.6.4 Justiça Militar Federal ................................................................................................ 146 
10.6.5 Justiça do Trabalho .................................................................................................... 146 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
7/148 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 O presente documento é um resumo, por escrito, do conteúdo da 
matéria ministrada na disciplina de Teoria Geral do Processo. Seu objetivo é 
auxiliar os alunos na fixação do conteúdo e servir de base para o 
aprofundamento dos estudos. O material objetiva, ainda, ser o mais didático e 
simples possível, mas sem abrir mão das noções técnicas necessárias ao 
aprendizado do Direito.1 
 Como há sensível diferença entre a dinâmica da linguagem falada e da 
linguagem escrita, pode haver, também, diferenças entre o conteúdo da 
apostila e aquele ministrado em sala de aula. Por isso, a consideração atenta e 
a participação dos alunos nas aulas expositivas é fundamental, e não deve ser 
substituída pela simples leitura da apostila. Da mesma forma, o 
aprofundamento na bibliografia especializada é recomendável e estimulado. 
 A apostila apresenta um resumo dos pontos objeto da disciplina, 
utilizando diversas fontes – mas, principalmente, a Teoria do Processo Civil, 
de Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Não tem, por isso, qualquer pretensão de 
ineditismo ou de inovação. Feita essa ressalva inicial, e para facilitar tanto a 
confecção quanto a leitura do texto, observa-se que serão evitadas ao máximo 
as notas de rodapé. 
 
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 
 
Qualquer livro contemporâneo que trate sobre Teoria do Processo 
Civil, Processo de Conhecimento e Teoria dos Precedentes, e qualquer 
obra de Comentários ao Novo Código de Processo Civil ou qualquer Novo 
Código de Processo Civil Comentado podem auxiliar no estudo, na 
compreensão e no acompanhamento da matéria. Recomendam-se, no entanto, 
os seguintes livros: 
 
 
1
 A esse respeito, veja-se o Vídeo Piloto e o vídeo Ajuizar ou Interpor? Procedência ou 
Provimento? do canal Direito sem Juridiquês. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
8/148 
 
- Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Novo Curso de Processo Civil, 
volumes 1 (Teoria do Processo Civil) e volume 2 (Processo de 
Conhecimento) 
- Idem. O Novo Processo Civil 
- Idem. Novo Código de Processo Civil Comentado 
- Luiz Guilherme Marinoni. Precedentes Obrigatórios 
- Carlos Eduardo Rangel Xavier. Reclamação Constitucional e 
Precedentes Judiciais 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
9/148 
 
1 AUTONOMIA DO PROCESSO CIVIL E TEORIAS DA AÇÃO 
 
1.1 Introdução. Apresentação da pergunta-chave 
 
 Nosso estudo começa com a tentativa de responder à seguinte 
pergunta: o direito processual civil é autônomo em relação ao direito material?2 
 Hoje se sabe que qualquer autonomia científica, no campo da ciência 
jurídica (Direito), é relativa. Assim, se quiséssemos responder, de imediato, à 
pergunta proposta, diríamos: sim, ele (o direito processual civil) é autônomo 
em relação ao direito material, mas esta autonomia é relativa. 
 
 
Importante! 
A autonomia do direito processual civil em relação ao direito material é uma 
autonomia relativa, como qualquer autonomia científica no estudo do Direito 
 
 
 Mas essa é uma resposta pronta que temos nos dias de hoje. Se 
quisermos compreender o processo histórico por meio do qual o processo civil 
se desenvolveu como ciência autônoma, precisamos compreender três 
fenômenos: o primeiro, a controvérsia entre Windscheid e Muther; o segundo, a 
demonstração dos pressupostos processuais por Oskar Büllow; e o terceiro, o 
desenvolvimento das “teorias da ação”. 
 
1.2 Antecedentes históricos 
 
 Até o começo do Século XIX, não era possível cogitar de separação 
entre os planos do direito material e do direito processual. Antes, a ação era 
vista como um simples desdobramento do direito material, ou, apenas, como o 
direito material violado em estado de reação. Assim sempre se entendeu a 
actio (ação) do Direito Romano. 
 
 
2
 Veja-se o vídeo Direito material e direito processual do canal Direitosem Juridiquês. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
10/148 
 
 
 
1.3 A controvérsia entre Windscheid e Muther 
 
 Foi a controvérsia estabelecida entre Windscheid e Muther, na 
metade do Século XIX, na Alemanha, que demonstrou, primeiramente, a 
separação entre os planos do direito material e do direito processual. 
 
 
Importante! 
Controvérsia Windscheid X Muther (metade do Século XIX) = demonstração 
da separação entre os planos do direito material e do direito processual 
 
 
 
Essa controvérsia pode ser colocada em termos dialéticos: tese, 
antítese e conclusão. 
 
1.3.1 Tese. Windscheid. Actio romana = pretensão moderna 
 
Primeiramente (1856), Windscheid, visualizando o Direito Romano a 
partir do Direito de sua própria época, apresentou a tese, a seguir 
demonstrada: 
 
A) a actio (ação), no Direito Romano, não era um meio de defesa do 
direito, mas o próprio direito (o Direito Romano, segundo Windscheid, 
não era um sistema de direitos, mas um sistema de ações); 
B) essa afirmação é válida para todos os direitos, exceto para os 
direitos reais. Não seria possível identificar um direito real (direito sobre 
uma coisa) com uma ação. Apenas da violação do direito de propriedade 
é que nasce uma obrigação (como, por exemplo, a obrigação de 
indenizar os prejuízos), esta sim dando origem a uma ação (e com ela 
se confundindo, na perspectiva romana); 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
11/148 
 
C) Assim, a partir da consideração dos direitos reais, Windscheid 
concluiu que a ação (actio) romana teria o seu equivalente moderno na 
pretensão. Ou, em outras palavras, que a pretensão seria o equivalente 
moderno da ação (actio) romana. Apenas para ilustrar, veja-se o artigo 
189 do Código Civil Brasileiro (“Art. 189. Violado o direito, nasce para 
o titular a pretensão [...]”). Windscheid pretendeu mostrar que era 
exatamente isso o que acontecia, no Direito Romano, na hipótese dos 
direitos reais: apenas após violado o direito de propriedade é que 
surgiria uma obrigação e, com esta obrigação (ou, confundindo-se com 
esta obrigação) uma ação (actio), equivalente, portanto, à pretensão 
moderna. 
 
Direito de propriedade na Roma antiga 
Violação Obrigação = actio 
Noção contemporânea 
Violação a qualquer direito Pretensão 
Conclusão 
Actio romana = pretensão moderna 
 
 
1.3.2 Antítese. Muther. Direito privado versus direito à fórmula 
 
Em seguida (1857) Muther apresenta a antítese: 
 
A) Mesmo no direito romano, era possível distinguir o direito privado 
originário (de um particular contra o outro) de um direito à fórmula. 
Este último, o direito à fórmula, era dirigido por um dos particulares 
contra o Estado; 
B) O direito privado (de um particular contra o outro) é pressuposto do 
direito à fórmula (de um dos particulares contra o Estado); 
C) Quer dizer, uma vez apresentada a actio, o Estado tinha uma 
obrigação, para com o particular, de dizer qual fórmula jurídica seria 
aplicada para resolver a disputa. Logo, o Direito Romano, 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
12/148 
 
diferentemente do que havia argumentado Windscheid inicialmente, 
segundo Muther, era um sistema de direitos, e não de ações. 
 
 
Direito privado 
(originário) 
Contra o particular 
Direito à fórmula 
(o direito privado é pressuposto deste) 
Contra o Estado 
 
 
1.3.3. Síntese Windscheid. Pretensão de direito material versus ação 
processual 
 
 Após a demonstração, por Muther, da diferença que já existia, no Direito 
Romano, entre o direito originário e o direito à fórmula, Windscheid transpõe 
estas ideias para a realidade contemporânea, concluindo haver pretensão de 
direito material e ação processual. A pretensão de direito material seria o 
equivalente ao direito originário romano, e a ação processual ao direito à 
fórmula romano. 
 Essa a síntese da controvérsia. 
 
 
Direito Romano Direito moderno 
Direito privado Pretensão de direito material 
Direito à fórmula Ação processual 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
13/148 
 
1.4 Bülow, os pressupostos processuais e a relação jurídica processual 
 
 Outra descoberta teórica importante para o desenvolvimento do 
processo civil como ciência jurídica autônoma ocorreu cerca de 10 anos após a 
controvérsia entre Windscheid e Muther. 
Em 1868, Oskar Büllow demonstrou, a partir da análise dos 
“pressupostos processuais,” a existência de uma relação jurídica processual, 
envolvendo autor, Estado e réu, e que é diferente do direito material. 
 Independentemente do possível resultado do mérito (quer dizer, sobre 
quem, efetivamente tenha razão no plano material), o processo pode seguir 
uma sorte própria – sendo atrasado ou, por vezes, até mesmo extinto, caso 
haja falha em algum desses pressupostos dos quais depende sua constituição 
e seu desenvolvimento. 
 Pressupostos processuais também não são ainda nossa matéria, mas 
alguns exemplos ajudarão a compreender a descoberta de Büllow. 
 O exercício da ação diante de juízo sem competência para aquela causa 
pode levar ao retardamento do processo (e é uma matéria que o réu pode 
apresentar naquilo que Büllow chamou de “exceção dilatória”). Da mesma 
forma, o ajuizamento de ação sem representação por um advogado pode levar 
à própria extinção do processo (mesmo que, por hipótese, o autor fosse 
detentor do direito material: tivesse razão) pela falta do pressuposto processual 
que chamamos de “capacidade postulatória”. 
 Embora o conceito de “relação jurídica processual” e os próprios 
pressupostos processuais (como veremos em momento próprio) precisem de 
uma consideração mais cuidadosa hoje em dia, a tese de Büllow foi muito 
importante, em sua época, para demonstrar de forma definitiva a autonomia do 
direito processual em face do direito material. 
 Ao longo dos anos que se seguiram, no entanto, essa autonomia do 
direito processual ganhou características que desvirtuaram a própria finalidade 
do processo, transformando-o em um “fim em si mesmo”. Mas isso é assunto 
da Lição 3 (abaixo). 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
14/148 
 
1.5 Teorias da ação 
 
1.5.1 Direito de agir “abstrato”. Degenkolb/Plósz, Mortara, Couture e Wach 
 
 Afirmada a separação entre o plano processual e o plano material, o 
próximo passo foi a consideração da ação como um direito abstrato (“direito de 
agir abstrato”). Os primeiros a formularem essa tese foram Degenkolb e Plósz. 
 Degenkolb e Plósz centraram sua atenção na sentença de 
improcedência. Concluíram, assim, que, se é possível o ajuizamento de uma 
ação que termina com uma sentença que não reconhece o direito (e a 
movimentação de todo o aparato do Estado para o desenvolvimento de um 
processo, obrigando a participação do réu), então o exercício da ação não 
depende da existência do direito material afirmado em juízo. Por isso, o 
direito de ação seria abstrato (independente da existência do direito material). 
 No entanto, os autores em questão tiveram certa cautela, afirmando que 
a ação, embora abstrata, somente poderia ser validamente exercida se o autor, 
ainda que derrotado ao final, agisse de boa-fé. Percebe-se, aqui, um receio de 
que a consideração do direito de ação como abstrato pudesse levar à 
multiplicação do ajuizamento de ações, muitas das quais de forma 
completamente temerária (quer dizer, sem fundamento). Qualquer semelhança 
do receio de Degenkolb ePlósz com a realidade vivida hoje no Brasil não é 
mera coincidência... 
 Mortara, por sua vez, também considerou a ação um direito abstrato em 
relação ao direito material. Para ele, contudo, a ação se fundaria na mera 
afirmação do autor (e assim, portanto, ele eliminou a necessidade de boa-fé 
para o exercício da ação; até mesmo porque essa boa-fé é muito difícil de ser 
apurada na prática). 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
15/148 
 
Importante! 
Ação enquanto direito abstrato 
Degenkob e Plósz 
Análise da sentença de 
improcedência 
(Necessidade de boa-fé) 
Mortara 
Ação fundada na mera afirmação do 
autor 
(Boa-fé desnecessária) 
 
 
 Mais recentemente (anos 1940), o uruguaio Couture apareceu como 
grande defensor do direito de agir abstrato, afirmando que a ação nada mais é 
do que uma forma específica de exercício do direito de petição, garantido 
constitucionalmente. Se a Constituição garante a todos o direito de dirigirem 
suas petições ao Poder Público (veja-se o artigo 5º, XXIV, a, da atual 
Constituição do Brasil), 3 o ajuizamento de uma ação perante o Poder 
Judiciário é apenas uma expressão desse direito de petição, que tem 
abrangência maior. 
 Por isso, segundo Couture, a ação é abstrata, independente do direito 
material (é uma expressão do direito geral de petição assegurado 
constitucionalmente) e, portanto, independente de sentença de procedência. 
 Essa posição de Couture revela, ainda, o caráter publicístico da ação. 
Quer dizer que, embora haja interesses particulares discutidos no processo 
(entre autor e réu), a solução desse problema interessa ao Estado. Por isso é 
que se afirma, hoje, que Direito Processual Civil é um ramo do Direito Público. 
 
 
Importante! 
Couture: ação enquanto expressão do direito geral de petição. 
Caráter público do processo. 
 
 
 
3
 “XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito 
de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de 
poder” 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
16/148 
 
 É bem verdade que, antes de Couture, Wach já havia afirmado o caráter 
público da ação. Analisando a ação declaratória, Wach fez diferença entre o 
direito material e direito à tutela jurídica (que não se confundiria com o 
direito material), e entre a pretensão à sentença e a pretensão à tutela 
jurídica (sentença favorável). Autor e réu tem pretensão à sentença. A tutela 
jurídica, no entanto, somente seria prestada pela sentença favorável. 
Esclareça-se que por sentença favorável não se deve entender sentença de 
procedência. O réu, se for vencedor, receberá tutela jurídica (sentença 
favorável). O autor, nessa hipótese, teria apenas exercido sua pretensão à 
sentença, mas não à tutela jurídica. Se, pelo contrário, a sentença for de 
procedência, o réu teria exercido sua pretensão à sentença, e o autor, à tutela 
jurídica. 
 
1.5.2 As teorias da ação desenvolvidas na Itália no início do Século XX e 
sua influência na formação do Código de Processo Civil Brasileiro (CPC) 
de 1973 
 
1.5.2.1 A teoria de Chiovenda 
 
 Chiovenda, em 1903, embora concordando com Wach quanto à 
abstração da ação, entendeu que não havia sido suficientemente provado o 
caráter público do processo. Por isso, ainda visualizava a ação como o 
exercício de um poder em face do adversário (e não em face do Estado); 
verdadeiro exercício de um direito potestativo (direito que sujeita outro 
indivíduo). 
 Em outras palavras, Chiovenda compreendia que a ação, embora 
abstrata, tinha caráter privado. E, assim, o efetivo exercício do direito de ação 
dependia de sentença de procedência. Embora essa afirmação pareça 
contraditória com a consideração do direito de ação como sendo abstrato (e, de 
fato, é!), Chiovenda apoiou-se, como Wach, na ação declaratória (na qual, em 
princípio, não se exerce qualquer direito material em face do adversário) para 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
17/148 
 
compreender a abstração do direito de ação. Para Chiovenda, o direito 
afirmado na ação declaratória não seria outro senão o próprio direito de ação.4 
 É importante tentar compreender as ideias de Chiovenda, apesar da 
aparente contradição já afirmada: para Chiovenda, o direito de agir tinha 
natureza privada e, portanto, dependia de sentença de procedência (sentença 
que afirmasse o direito material). Isso deveria indicar, por uma questão de 
coerência, o reconhecimento de que o direito de ação não era abstrato. Para 
Chiovenda indicou, ao menos, que o direito de ação é um direito privado, e não 
público. Contudo, diante da ação declaratória, em que o autor não exerce 
nenhum direito subjetivo contra o réu, Chiovenda viu-se forçado a concluir, com 
Wach, que a ação era abstrata (nessa hipótese, da ação declaratória, o único 
direito que seria possível de se afirmar em juízo seria o próprio direito de ação). 
 
1.5.2.2 A teoria eclética de Liebman 
 
 Enrico Tulio Liebman, um discípulo de Chiovenda, formulou aquilo que 
chamou de “teoria eclética” da ação. Eclética porque tenta conciliar os dois 
pontos de vista (caráter público com caráter privado, ou, ainda, o direito 
abstrato de ação com um exercício concreto da ação). Liebman fez diferença 
entre o direito de ação previsto de forma geral na Constituição (posição 
parecida, neste ponto, mas só neste ponto, com a de Couture) e um direito de 
ação de natureza processual, relacionado a uma situação concreta. 
 Assim, pela Constituição, todos poderiam propor ação (exercício do 
direito constitucional de agir). Contudo, somente seria possível concluir pela 
existência da ação processual a partir da análise da situação concreta. A ação 
processual, para Liebman, equivale ao direito ao julgamento de mérito. E a 
análise da situação concreta equivale ao exame das condições da ação. 
 
 
4
 “Quando alguém pede que se declare a existência de uma relação jurídica, sem aspirar a 
outros efeitos jurídicos, que não aqueles imediatamente derivados da declaração, não afirma 
nenhum direito subjetivo contra o adversário que não o próprio direito de ação, 
coordenando um interesse de declaração; qualquer tentativa de dar um outro conteúdo a este 
direito é inútil, porque precisamente a declaração judicial a que se tende não é prestação que 
se possa pretender do réu.” Citado em MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do 
Processo. 3ª ed. São Paulo: 2008, p. 168, nota de rodapé 41. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
18/148 
 
Importante! 
Liebman: ação constitucional (geral) X ação processual (concreta) 
 
 
Estão presentes as condições da 
ação? 
Não: 
-Há ação constitucional; 
- Não há, no entanto, ação processual 
(carência de ação). Processo julgado 
sem resolução de mérito 
Sim: a ação processual foi exercida. O 
autor tem direito a uma sentença de 
mérito (que pode ser de procedência 
ou de improcedência). O processo é 
julgado com resolução de mérito 
 
 Vamos dedicar a próxima lição para o estudo das condições da ação, 
inclusive no CPC brasileiro de 2015. 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
19/148 
 
2 CONDIÇÕES DA AÇÃO 
 
No final da lição anterior, vimos que Liebman admitiu, diferentemente de 
Chiovenda, a possibilidade de exercício de ação quando há sentença de 
improcedência. Mas a ação (processual), para ele,apenas será exercida se 
superada a análise inicial da situação concreta, o que o levou a criar a figura 
das “condições da ação.” Se não for superada a fase de análise das condições 
da ação, estará presente apenas a ação constitucional (direito fundamental de 
provocar o Poder Judiciário) mas não a ação processual... 
Assim, juntamente com os adeptos de teorias abstratas, Liebman 
entendeu que existe uma ação abstrata cujo fundamento é constitucional. 
Essa ação abstrata é incondicional, não tendo, portanto, qualquer relação com 
a situação material concreta. 
No entanto, Liebman concordou com os concretistas ou privatistas ao 
identificar uma outra ação paralela à ação constitucional, que é relacionada 
com a situação concreta. Essa ação, relacionada a uma situação de direito 
material concreta, Liebman chamou de ação processual. O exercício da ação 
processual, não é demais reforçar, está condicionado à observância de alguns 
requisitos que concernem à relação de direito material. Não se trata, 
propriamente, de condicionar o direito de ação à sentença de procedência 
(como faziam as teorias concretas e privadas da ação), mas, sim, de 
condicionar a existência da ação processual à observância de determinados 
requisitos ligados à relação de direito material. 
Esses requisitos para o exercício da ação processual foram chamados, 
por Liebman, de condições da ação. 
Segundo Liebman, apenas se estiverem presentes as condições da 
ação é que a parte autora vai ter direito ao julgamento do mérito do 
processo (julgamento de mérito é a efetiva análise do pedido; é a solução da 
controvérsia material). Por isso, pode-se afirmar que a ação processual, da 
teoria eclética, coincide com o direito ao julgamento do mérito. O julgamento de 
mérito pode redundar em sentença de procedência, sentença de 
improcedência ou sentença de parcial procedência do pedido. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
20/148 
 
Por outro lado, se não estiverem presentes as condições da ação, diz-se 
que o autor é carente de ação. Assim, o reconhecimento da ausência das 
condições da ação (ou, simplesmente, da carência de ação) é um julgamento 
de extinção do processo sem resolução de mérito. A sentença que extingue o 
processo sem resolução do mérito é também chamada de sentença 
terminativa. 
 
 
Atenção! 
Teoria Eclética da Ação 
Ação Constitucional Ação Processual 
Abstrata Concreta 
Incondicional Condicionada 
(Condições da ação) 
Direito à solução do mérito 
 
 
Atenção! 
Ação Processual 
Estão presentes as condições da ação? 
Sim: 
Direito à resolução do mérito 
Não: 
Carência de ação 
Extinção do processo com resolução 
do mérito 
Extinção do processo sem resolução 
de mérito 
- Sentença de procedência; 
- Sentença de improcedência; ou 
- Sentença de parcial procedência 
 
Sentença terminativa 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
21/148 
 
É verdade que há outras situações (exclusivamente processuais) que 
podem conduzir à extinção do processo sem resolução do mérito. Por isso, é 
importante não confundir essas outras hipóteses (de extinção do processo sem 
resolução do mérito por questões exclusivamente processuais – como é o caso 
da ausência de determinados pressupostos processuais) com a extinção do 
processo sem resolução do mérito por ausência de condição da ação (em que 
a extinção do processo sem resolução de mérito não se dá por uma questão 
simplesmente processual, mas por um problema que é, antes, relacionado a 
alguma análise, ainda que superficial, da relação jurídica material). 
 Durante a II Grande Guerra, Liebman imigrou para o Brasil. Aqui, 
exerceu forte influência sobre a escola paulista de processo, e suas ideias, com 
sua teoria eclética e suas condições da ação, foram inseridas no Código de 
Processo Civil (CPC) de 1973 (ver artigo 267, VI, do CPC de 1973). O novo 
CPC, por sua vez, como veremos logo a seguir, não deixou de considerar a 
existência de condições da ação. 
 
2.1 As condições da ação no CPC de 1973 
 
Segundo o artigo 267, VI, do CPC de 1973, as condições da ação são a 
possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade das partes e o interesse 
processual. 
 
 
Atenção! Condições da ação no CPC de 1973: 
- Possibilidade jurídica do pedido; 
- Legitimidade das partes; 
- Interesse processual. 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
22/148 
 
2.1.1 Possibilidade jurídica do pedido 
 
Embora esta condição da ação não esteja mais mencionada de forma 
expressa no novo CPC o seu estudo, em perspectiva histórica, e até mesmo 
para uma melhor compreensão da condição da ação que lhe incorporou (o 
interesse de agir), é ainda conveniente. 
A possibilidade jurídica do pedido nada mais seria do que a previsão, 
na ordem jurídica, do direito postulado pelo autor da ação. 
Exemplos de situações em que não haveria possibilidade jurídica do 
pedido (ou seja, exemplos de impossibilidade jurídica do pedido) são o 
divórcio, no Brasil, até 1977, e o usucapião de bens públicos. 
 
2.1.2 Legitimidade das partes 
 
A legitimidade das partes, também chamada de legitimidade ad 
causam, é identificada como a pertinência subjetiva daquele que é parte, no 
processo, com a relação de direito material.5 
Ou seja, apenas aquele que é sujeito da relação de direito material é que 
pode figurar como parte no processo em que se discute aquela mesma relação 
jurídica. 
Imagine-se que estamos diante de um contrato firmado entre A e B. 
Apenas A e B são partes legítimas para a discussão judicial deste mesmo 
contrato. 
Assim, se A ajuizar ação contra C, o processo terá de ser extinto sem 
resolução do mérito, por ilegitimidade passiva ad causam. 
Se, por outro lado, D ajuizar ação contra B, para discutir o mesmo 
contrato (celebrado entre A e B), então o processo será extinto sem resolução 
do mérito, por ilegitimidade ativa ad causam. 
 
 
 
5
 Para complementar o estudo, recomenda-se o vídeo Direito objetivo e direito subjetivo do 
canal Direito sem Juridiquês. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
23/148 
 
2.1.3 Interesse processual 
 
O interesse processual, por sua vez, é identificado com a necessidade, 
a utilidade e a adequação do provimento jurisdicional à parte. 
Se o processo for inútil, desnecessário ou inadequado, faltará à parte 
autora interesse processual, sendo esta, portanto, carente de ação. 
Exemplos de situação em que é manifesta a ausência de interesse 
processual são o ajuizamento de ação de cobrança de dívida ainda não 
vencida (ou com exigibilidade suspensa) e a impetração de mandado de 
segurança em que a parte impetrante expressamente afirma, na petição inicial, 
a necessidade de produção de prova diferente da documental (por exemplo, 
prova testemunhal ou prova técnica). 
Esta última situação (a impetração de mandado de segurança 
afirmando-se a necessidade de produção de prova diferente da documental) é 
exemplo de falta de interesse processual por inadequação. Chama-se a 
hipótese de inadequação da via eleita. 
 
2.2 As condições da ação no novo CPC 
 
O novo CPC não eliminou as condições da ação. Elas estão 
expressamente previstas em seus artigos 17 e 485, VI. O que fez, no entanto, 
atendendo a lições tardias do próprio Liebman¸ foi reduzi-las a apenas duas: 
legitimidade e interesse. 
Com efeito, Liebman posteriormente ensinou que não deveria haver 
distinção entre possibilidadejurídica do pedido e interesse de agir: se alguém 
postula em juízo direito não previsto na ordem jurídica, logo o ajuizamento da 
ação é inútil. Essa lição foi assimilada, portanto, pelo novo CPC.6 
 
 
 
6
 Se quiséssemos levar adiante o mesmo raciocínio, poderíamos facilmente constatar que o 
ajuizamento de ação contra pessoa que não figura na relação jurídica material em discussão 
também é inútil. Com isso, reduziríamos também legitimidade de parte ao interesse processual 
– o que, no fim, apenas reforça o caráter artificial de toda a construção teórica das condições 
da ação. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
24/148 
 
 
Quadro Esquemático 
- Condições da Ação - 
Possibilidade Jurídica do Pedido 
(apenas no CPC de 1973) 
Previsão abstrata do direito na ordem 
jurídica (no novo CPC, é espécie de 
interesse processual) 
Legitimidade das partes 
(CPC de 1973 e novo CPC) 
Pertinência subjetiva das partes do 
processo com a relação de direito 
material 
Interesse processual 
(CPC de 1973 e novo CPC) 
- Utilidade; 
- Necessidade; e 
- Adequação (“da via eleita”) 
 
 
2.3 Regime processual de reconhecimento da ausência de condições da 
ação 
 
2.3.1 Matéria de ordem pública 
 
Tradicionalmente, diz-se que as condições da ação constituem matéria 
de ordem pública. Isso significa que a sua ausência pode ser reconhecida de 
ofício pelo Poder Judiciário, em qualquer tempo e grau de jurisdição, 
independentemente de alegação pelas partes. 
O caráter de matéria de ordem pública das condições da ação é 
reconhecido pelo artigo 267, § 3º, do CPC de 1973, regra que foi reproduzida, 
em sua essência, no artigo 485, § 3º, do novo CPC.7 
 
7
 A divergência extensional entre ambos os dispositivos, no que nos interessa, é que a regra do 
CPC de 1973 trata da possibilidade de reconhecimento da ausência de condição da ação de 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
25/148 
 
 
2.3.2 Ausência de coisa julgada material 
 
Afirma-se, ainda, que a sentença que extingue o processo sem 
resolução de mérito não faz coisa julgada material, fazendo apenas coisa 
julgada formal. Tal constatação foi, historicamente, extraída do conteúdo do 
artigo 268 do CPC de 1973.8 
Há que se entender exatamente o que se quer dizer por ausência de 
coisa julgada material da sentença que extingue o processo por carência de 
ação. Isso significa, apenas, que o reconhecimento de carência de ação, em 
um determinado processo, não impede que seja ajuizada uma nova ação, 
desde que seja corrigido o defeito que levou ao reconhecimento da ausência 
de condição da ação no primeiro processo. Por exemplo: se A ajuizou a ação 
contra C, a extinção do processo sem resolução de mérito não impede que ele 
ajuíze outra ação, desta vez contra B, o real devedor no plano material e, 
portanto, a parte legitima (obviamente que ele não poderá ficar repetindo a 
ação contra C, afirmando que não houve coisa julgada material...); ou, se a 
ação foi ajuizada antes do vencimento da dívida (e, por isso, foi extinta por 
ausência de interesse), isso não impede que ela seja novamente ajuizada após 
o vencimento. 
Essa situação é melhor esclarecida pelo novo Código, no § 1º do 
artigo 486: 
 
§ 1º No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos 
incisos I, IV, VI [carência de ação] e VII do art. 485, a propositura da 
nova ação depende da correção do vício que levou à sentença sem 
resolução do mérito. 
 
 
 
 
ofício “enquanto não proferida sentença de mérito”, ao passo que o novo CPC afirma que tal 
possibilidade subsiste “enquanto não ocorrer o trânsito em julgado”. 
8
 “Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor 
intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do 
pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.” 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
26/148 
 
2.4 Análise crítica. A teoria da asserção 
 
Apesar da adesão, pelo Código de Processo Civil brasileiro, à teoria 
eclética da ação (exatamente por disciplinar as chamadas condições da ação), 
ele mesmo (nosso Código de Processo Civil) não é inteiramente coerente com 
aquela teoria. 
Assim, o artigo 263 do CPC de 1973 afirma que a ação é considerada 
proposta quando a petição inicial for despachada pelo juiz. O novo CPC foi 
ainda mais além, ao afirmar, em seu artigo 312, que a ação é considerada 
proposta quando protocolada a petição inicial. 
Ora, se a ação é proposta com o simples protocolo da petição inicial 
(segundo o novo CPC) ou, ao menos, com o despacho judicial da petição inicial 
(como afirmava o CPC de 1973), isso não deixa muito espaço para que se 
considere existente a ação apenas após a verificação de determinados 
requisitos (as chamadas condições da ação). 
Trata-se, reforça-se, de contradição interna existente no CPC (tanto no 
antigo quanto no Novo), e que enfraquece a construção teórica erigida em 
torno das condições da ação. 
Com efeito, é mesmo algo estranho considerar que, após o ajuizamento 
da ação, a citação, a contestação do réu e a produção de diversas provas, o 
juiz prolate uma sentença dizendo que o autor era carente de ação. Ora, se era 
carente de ação, o que foi que as partes e o juiz fizeram ao longo de todo o 
processo? 
Assim, se, ao final do processo, o juiz identificar o que poderia ser 
considerado como “ausência de condição da ação,” entende-se que ele deve 
julgar o pedido improcedente. 
O reconhecimento da ausência de condição da ação, na forma como 
proposta pelo CPC, apenas tem algum sentido se realizado logo ao início do 
processo. Esse reconhecimento está ligado ao já estudado princípio da 
economia, segundo o qual não devem ser praticados atos processuais inúteis. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
27/148 
 
Assim, ao despachar a petição inicial, identificando o juiz, a partir das 
simples afirmações do autor, que não estão presentes as condições da ação, o 
processo deve ser extinto sem resolução do mérito por carência de ação. 
O reconhecimento da ausência de condição da ação, assim, funcionaria 
como uma forma de possibilitar uma espécie de julgamento liminar (logo ao 
início do processo) de improcedência do pedido (chamado, no entanto, de 
extinção sem resolução de mérito), a fim de evitar que o processo se 
desenvolvesse de forma inútil. 
Mas registra-se que a ausência de condição da ação teria que ser 
verificada pelo juiz logo ao início do processo, na fase postulatória, 9 e a partir 
das meras afirmações do autor. 
A isso se dá o nome de teoria da asserção (asserção significa 
afirmação). Assim, a teoria da asserção nos informa que o juiz deve verificar a 
existência das condições da ação ao início do processo, apenas a partir das 
afirmações da parte autora. E o objetivo disso, convém reiterar, é evitar o 
desenvolvimento inútil do processo. 
Se, no entanto, o juiz não proceder a esse exame inicial, instruindo o 
processo – ou se, por hipótese, apenas após a produção de prova é que foi 
possível verificar que estaria ausente uma condição da ação –, deve, de 
qualquer forma, o pedido ser julgado improcedente. 
Trabalhemos com exemplos, para ajudar a compreensão. 
Na nossa hipótesedo contrato celebrado entre A e B, imaginemos que 
se trate de um contrato escrito, e que A ajuíze a ação contra C. Nessa 
hipótese, apenas a partir das afirmações do autor já é possível perceber que C 
é parte ilegítima. Assim, ao despachar a petição inicial, deve o juiz extinguir o 
processo sem resolução de mérito, por ilegitimidade passiva. 
Imaginemos, no entanto, que o contrato seja não escrito, mas verbal, e 
que A ajuíze uma ação contra C afirmando que este é o devedor. Apenas a 
partir das afirmações do autor, portanto, C é parte legítima. No entanto, durante 
a instrução processual, todas as testemunhas ouvidas pelo juízo afirmam de 
 
9
 Para complementar a compreensão do assunto, veja-se o vídeo sobre “Fases processuais”, 
no canal Direito sem Juridiquês. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
28/148 
 
forma categórica que o contrato foi celebrado por A com B, e não com C. 
Nessa hipótese, a ilegitimidade de C apenas foi descoberta após a instrução 
processual (mesmo que tenha sido objeto de sua defesa, perceba-se), porque 
as peculiaridades do direito material (contrato não escrito) tornaram 
imprescindível a produção de prova inclusive quanto à questão da pertinência 
subjetiva. Mas, a partir das meras afirmações do autor (teoria da asserção) não 
era possível afastar, em tese, a pertinência subjetiva de C à relação de direito 
material (o que somente se tornou possível reforça-se, após a produção das 
provas). Assim, porque se chegou ao fim do processo, encerrada a fase 
instrutória, deve o juiz, simplesmente julgar o pedido improcedente em face de 
C – e não reconhecer a “carência de ação.” 
Em outro exemplo, imagine-se que a parte autora ajuíza uma ação 
contra o Estado, objetivando adquirir, por usucapião, a propriedade de um 
imóvel estadual. Nesse caso, ao despachar a petição inicial, deverá o juiz 
reconhecer a impossibilidade jurídica do pedido (ou, segundo o novo CPC, 
simplesmente a ausência de interesse de agir) e extinguir o processo sem 
resolução do mérito. 
Se, por outro lado, a parte autora, afirmando não existir matrícula do 
imóvel, ajuizar a ação contra o possuidor anterior, nada haverá, a partir da 
simples afirmações contidas na petição inicial, que indique a carência de ação. 
Mas se, durante a instrução, for obtida certidão da matrícula do imóvel e ficar 
comprovado que se trata de bem de propriedade do Estado, então o juiz, ao 
sentenciar, deve julgar o pedido improcedente (não devendo ter lugar a 
extinção do processo sem resolução de mérito, uma vez que já superada a 
fase instrutória). 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
29/148 
 
3 A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA E DO POSITIVISMO 
JURÍDICO SOBRE O PROCESSO CIVIL CONTINENTAL 
 
3.1 Mas o que a Revolução Francesa tem a ver com o processo civil 
mesmo? 
 
 À primeira vista, pode parecer um pouco estranho que, para entender o 
processo civil brasileiro atual, seja necessário pensar na Revolução Francesa. 
 Mas é assim mesmo. Na verdade, a Revolução Francesa consagrou 
uma série de ideais que ficaram impregnados na cultura jurídica europeia 
(mais precisamente, da parte continental da Europa) e que ditaram a forma de 
ser do processo civil europeu (e, acrescente-se, brasileiro) até pouquíssimo 
tempo atrás. 
 Uma vez que a alteração de paradigma (quer dizer de toda a forma de 
pensar) é consideravelmente recente, é necessário que compreendamos, ao 
menos superficialmente, a forma de pensar que influenciou toda a construção 
do processo civil enquanto ciência, para que, no passo seguinte, possamos 
examinar o estágio atual em que se encontra a disciplina objeto do nosso 
estudo. 
 
3.2 Antecedentes históricos 
 
 A Revolução Francesa surgiu como uma reação organizada da 
burguesia contra o “Antigo Regime.” Esse antigo regime, como sabemos, 
consistia no absolutismo monárquico. 
 É importante diferenciar a monarquia absolutista, experimentada na 
França e em grande parte da Europa de então, das monarquias que 
sobreviveram até hoje. As monarquias que conhecemos hoje são, em regra, 
monarquias constitucionais que, normalmente, adotam um regime 
parlamentarista. Ou seja, o monarca não concentra todos os Poderes do 
Estado, sendo, normalmente, apenas o Chefe de Estado (exercendo, em 
verdade, um cargo de representação) e não Chefe de Governo. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
30/148 
 
 Mas não era assim no regime absolutista. O monarca (ou rei) não 
somente acumulava as funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo 
como também concentrava aquilo que hoje nós conhecemos como os poderes 
(ou funções) do Estado. Legislava, administrava e julgava (ainda que pudesse 
delegar as atividades de administração e de jurisdição a pessoas de sua 
confiança, funcionando sempre, no entanto, como instância revisora – recursal 
– máxima). Em termos contemporâneos, os Poderes Legislativo, Executivo e 
Judiciário estavam concentrados na mão de uma única pessoa. Não se tinha 
“separação de Poderes”. 
 
3.3 Teoria da separação de poderes estrita. Supremacia da lei. Juiz “boca 
da lei” 
 
 O grande mecanismo desenvolvido, então, para rompimento com o 
Antigo Regime foi a teoria da “separação de Poderes,” formulada anos antes 
por Montesquieu. A fim de evitar a concentração de poderes nas mãos de 
uma única pessoa, as funções do Estado passaram a ser repartidas entre 
órgãos. 
 Surgem, assim, os nossos conhecidos Poderes Legislativo, Executivo e 
Judiciário. Deve-se apenas ressaltar que, de acordo com a linha de 
pensamento desenvolvida na Europa continental após a Revolução Francesa, 
cada um desses poderes deveria ficar restrito às suas próprias funções, não 
podendo praticar qualquer tipo de ingerência (interferência) sobre os demais.10 
 Mas não foi só. Entendeu-se que o Poder Legislativo desempenhava 
papel preponderante sobre os demais. Isso porque a lei é fruto da vontade do 
Parlamento, composto pelos representantes do povo, e serviria, assim, como 
forma de defesa do povo contra os arbítrios verificados no Antigo Regime. 
 
10
 Essa compreensão da separação de Poderes desenvolvida na Europa continental 
(separação de Poderes estrita) é um tanto diferente da ideia praticada na Inglaterra (que serviu 
como base para os estudos de Montesquieu) e, especialmente, da teoria da separação de 
Poderes formulada pelos Federalistas norte-americanos. Nos Estados Unidos (modelo 
copiado pelo constitucionalismo brasileiro, é bom destacar) não somente se admitiu como 
também se achou necessária alguma ingerência dos Poderes um sobre os outros, dando 
origem ao que ficou conhecido como sistema de “freios e contrapesos” – e do qual, inclusive, é 
deduzido o controle de constitucionalidade conferido de forma difusa ao Poder Judiciário. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
31/148 
 
 Surgiu, assim, a doutrina (ou princípio) da supremacia da lei (ou, ainda, 
da supremacia do Parlamento). 
 Os juízes, portanto, na concepção inicialmente desenvolvida na França, 
não poderiam nem sequer interpretar a lei (o que se demonstrou, ao final, 
impossível!). De todo modo, esse modelo de separação de Poderes impediu os 
juízes de realizarem qualquer inovação na ordem jurídica. Toda a atividade 
criativa de direitos ficou concentrada no Poder Legislativo. 
 O juiz, assim, foi chamado por Montesquieu de “boca da lei” e o poder 
de julgar, segundo o mesmo autor, foi descrito como um “poder nulo.”É necessário, ainda, compreender as origens históricas e sociais dessa 
forma peculiar de doutrina. Ocorre que os juízes na França do Século XVIII 
eram comprometidos com o Antigo Regime, e o Poder Judiciário era um corpo 
normalmente manchado pela corrupção. Montesquieu sabia bem disso (ele 
mesmo foi um juiz). Assim, a forma drástica como tratou os juízes tem motivos 
outros (ideológicos) que não apenas a simples coerência científica. 
 
3.4 Liberdade como valor máximo. Limitação dos poderes executórios do 
juiz 
 
 Lembremos, ainda, do grande ideal da Revolução Francesa: “Igualdade, 
Liberdade e Fraternidade.” 
 Sendo a liberdade um valor extremo, limitou-se ao máximo a 
possibilidade de que o juiz interferisse na esfera de vontade dos “cidadãos” 
(estamos considerando o processo civil, mas os reflexos disso no processo 
penal parecem ser também bastante evidentes). Como regra geral, o processo 
cível apenas poderia servir para tocar no patrimônio do réu, mas jamais 
em sua esfera de vontade. 
 Dessa forma, todos os direitos, uma vez violados, convertiam-se em 
indenização pelo equivalente pecuniário (dinheiro). 
 E não apenas isso. Mesmo para tocar no patrimônio do réu, primeiro, 
tornou-se necessário ter certeza da dívida. Logo, a execução por expropriação 
(momento processual em que se alcança o patrimônio do réu e o converte em 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
32/148 
 
dinheiro para satisfação do crédito do autor), em regra, apenas poderia ser 
iniciada após o trânsito em julgado da sentença (quer dizer, após não serem 
cabíveis mais quaisquer recursos). 
 E, uma vez iniciada a execução, deveria o juiz ficar adstrito às técnicas 
processuais previstas estritamente na lei. Ou seja, apenas pelas formas 
previstas na lei processual é que ele poderia interferir no direito de propriedade 
do réu para satisfazer o crédito do autor. A isso se chama de princípio da 
tipicidade dos meios executórios (tipicidade, aqui, tem uma acepção bem 
parecida com a do Direito Penal; apenas os meios executórios previstos 
expressamente na lei poderiam ser utilizados pelo juiz). 
 
3.5 O papel desempenhado pelo Positivismo Jurídico11 
 
 Cerca de um século após a Revolução Francesa, desenvolveu-se a 
doutrina que conhecemos como positivismo jurídico, cujo objetivo era 
compreender a ciência do Direito apenas em uma perspectiva descritiva. 
Kelsen, em sua Teoria Pura do Direito, proclama a ideologia do “Direito livre 
de valor”. 
 Isso apenas reforça o princípio da “supremacia da lei,” entendendo-se 
ser vedado aos juízes, no contexto do positivismo, inovar na ordem jurídica. 
Essa ideologia, é bom reforçar, influenciou fortemente o processo civil 
desenvolvido na Europa (e, consequentemente, no Brasil), e continua ecoando, 
de certa forma, até os dias de hoje. 
 
3.6 Correlação das ideias desenvolvidas ao longo da lição com a noção 
de “processo civil autônomo” 
 
 Devemos, agora, lembrar que cerca de meio século após a Revolução 
Francesa começou a ser delineada, na Europa, a ideia de autonomia do 
 
11
 Para complementar a compreensão, recomenda-se o vídeo Positivismo Jurídico em Cinco 
Passos, do canal Direito sem Juridiquês. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
33/148 
 
processo civil em relação ao direito material (o que foi estudado na Lição 1, 
acima). 
 Conceitos como a supremacia do Parlamento e da liberdade como valor 
máximo, além de impedirem o juiz de afetar a esfera jurídica do réu senão 
apenas segundo os meios previstos expressamente na lei, contribuíram para 
livrar o processo das interferências do direito material, transformando aquele (o 
processo) em um fim em si mesmo. 
 Pode-se dizer que, da mesma forma que o positivismo jurídico objetivou, 
enquanto ideologia, um “Direito livre de valor” (quer dizer, sem sofrer qualquer 
influência de valores externos, informados pela justiça, pela moral, pela 
religião, pela política, pela economia, etc.), o ideário da Revolução Francesa e 
do positivismo jurídico contribuiu para o desenvolvimento de um processo 
também “livre de valor” (quer dizer, livre de qualquer interferência do direito 
material). 
 Assim, a “grande construção científica” da época, no plano do Processo 
Civil, foi o procedimento ordinário. Um procedimento único que deveria servir 
para atender todas as espécies de direitos. Ou seja, o processo abstrato por 
excelência. 
 
 
Importante! 
Procedimento ordinário = fruto da concepção de um processo civil abstrato, 
influenciada pelo ideário da Revolução Francesa (liberalismo) e do positivismo 
jurídico (Direito livre de valor). Procedimento único que desse conta de todas 
as (ou da maior parte das) situações de direito material 
 
 
Embora o Código de Processo Civil de 2015 não utilize a expressão 
“procedimento ordinário”, nele encontramos o “procedimento comum”, que é, 
ainda, um resquício desta ideia. 
Se o “procedimento comum” for apenas uma regra geral de organização 
que não nos impede de considerar as necessidades do direito material, tudo 
bem, não há nenhum problema. Devemos apenas ficar atentos para que a 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
34/148 
 
existência do “procedimento comum” não nos leve a pensarmos no processo 
como um fim em si mesmo. 
Pode-se entender, ainda, que o procedimento ordinário (hoje 
procedimento comum) é influenciado por mais um dos valores da Revolução 
Francesa: a igualdade. Sabe-se que essa era uma igualdade meramente 
formal: todos são iguais perante a lei, pouco importando que houvesse alguma 
diferença concreta que pudesse ser relevante e que gerasse desigualdade.12 
Assim, abstratamente, bastava um único procedimento para atender 
virtualmente todos os direitos, o que os colocava em pé de igualdade formal, 
não se preocupando a ciência processual civil, em princípio, com diferenças 
que, de fato, pudessem ser relevantes. 
Ressalva-se que alguma necessidade específica do direito material 
(reconhecida sempre em abstrato, é bom perceber) fez com que se 
estruturassem, legislativamente, procedimentos especiais. Para compreender 
bem a natureza desses procedimentos ditos especiais, no contexto histórico e 
teórico que agora estamos estudando, é importante reforçar que a escolha da 
situação material que determinava a utilização de um procedimento diferente 
do ordinário era prevista abstratamente na lei. Jamais seria construído um 
procedimento especial, de forma inovadora pelo juiz, diante de casos 
concretos. 
 Ou seja, não era dado ao juiz, analisando determinado caso concreto, 
entender que seria necessária a criação de um procedimento especial. Ele 
devia, apenas, identificar os casos concretos que se submetiam à previsão 
legislativa de procedimento especial e, nessa circunstância, aplicar o rito 
diferenciado. 
E, de todo modo, apenas poderiam ser utilizadas no procedimento 
especial as técnicas processuais para ele expressamente previstas na lei 
(expressão do princípio da atipicidade dos meios executórios). 
 
 
 
12
 Compreende-se, hoje, a igualdade em seu aspecto material: devem-se tratar igualmente os 
iguais, e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
35/148 
 
3.7 Conclusão 
 
 O processo como um fim em si mesmo, descrito nesta lição, tornou-se 
ineficaz para anteder às necessidades do direito material. A legislação 
processual passou a definirprocedimentos abstratos (sendo o procedimento 
ordinário o procedimento abstrato por excelência), não se importando com as 
desigualdades materiais e com necessidades específicas que pudessem ser 
verificadas no plano material (exceto na tipificação, também abstrata, de alguns 
procedimentos especiais). 
Assim, o ideal da liberdade alcançou sua expressão máxima: todos os 
direitos acabavam sendo convertidos, no processo, no seu equivalente 
pecuniário. 
 
 
Importante! 
Consequência da abstração total do processo: o processo tornou-se 
ineficaz para atender as necessidades do direito material. Conversão de todos 
os direitos em pecúnia 
 
 
 Com a evolução da sociedade e, notadamente, com a criação dos 
chamados “novos direitos,” no entanto, essa concepção tornou-se 
especialmente obsoleta (antiquada, superada). Mas para compreendermos por 
que, precisamos estudar o fenômeno conhecido como constitucionalismo... 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
36/148 
 
4 O IMPACTO DO CONSTITUCIONALISMO SOBRE O PROCESSO CIVIL 
 
4.1 O fim do Estado Legislativo e o início do Estado Constitucional 
 
 É bem verdade que a Constituição tinha sua importância no Estado 
Legislativo. Na própria Teoria Pura do Direito, Kelsen afirma que a 
Constituição funciona como base do ordenamento jurídico. Todas as leis 
infraconstitucionais retiram sua validade das normas constitucionais. 
 Esse papel, no entanto, era apenas formal. Ou seja, bastava que as leis 
fossem editadas de acordo com o procedimento previsto na Constituição 
(procedimento legislativo) e que o legislador infraconstitucional atuasse dentro 
da esfera de competência delegada pela Constituição. Esta (a Constituição) 
tinha um papel muito pouco importante para o controle de conteúdo da lei. 
 Podemos afirmar, assim, que o controle de constitucionalidade 
desenvolvido no Estado Legislativo é um controle de constitucionalidade 
essencialmente formal. 
 A II Grande Guerra e, especialmente, as atrocidades cometidas pela 
Alemanha nazista, no entanto, levaram a comunidade jurídica a repensar essas 
ideias.13 
 Isso porque não seria possível admitir que fossem indiferentes ao Direito 
(como se conclui a partir do positivismo jurídico clássico) os atos praticados 
pelos nazistas, já que estes estavam amparados em normas jurídicas 
validamente editadas (quer dizer, válidas do ponto de vista meramente formal). 
 Passou-se a utilizar a Constituição, assim, para controlar o conteúdo da 
lei (controle de constitucionalidade material). Inserindo-se valores de justiça 
material na Constituição (aos quais chamamos de direitos fundamentais)14 
passa a ser possível realizar esse controle do conteúdo da lei. O Direito deixa 
de ser, como queria a proposta positivista inicial, “livre de valor.” Os valores 
 
13
 Veja-se o vídeo Positivismo Jurídico em Cinco Passos, do canal Direito sem Juridiquês. 
14
 Os mesmos direitos, em essência, consagrados na ordem internacional, são chamados de 
direitos humanos. A diferença entre uns (direitos fundamentais) e outros (direitos humanos) é 
dada pelo que se chama de critério da concreção positiva: direitos fundamentais são 
positivados na Constituição (ordem interna) e direitos humanos são positivados em tratados 
internacionais (ordem internacional). 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
37/148 
 
com os quais o Direito vai dialogar, no entanto, são aqueles expressamente 
previstos na Constituição. Daí falar-se em jusnaturalismo de base racional. 
 
4.2 Neoconstitucionalismo 
 
 Mas isso não é só. 
 O grande desafio da atualidade não é apenas utilizar os direitos 
fundamentais como normas que permitem o controle de conteúdo da lei. Os 
objetivos do Estado, atualmente, dizem respeito a dar efetividade e concretude 
aos direitos fundamentais (e isso mesmo independentemente da atividade 
legislativa, se esta se demonstrar insuficiente). 
 A essa nova configuração do Estado, que tem por objetivo levar os 
direitos fundamentais a sério, alguns autores denominam 
Neoconstitucionalismo. 
 
4.3 Hermenêutica jurídica no Estado Constitucional 
 
4.3.1 Ideologia dinâmica da interpretação 
 
Como consequência do Positivismo Jurídico15 e da ideia, bastante forte 
na Europa continental após a Revolução Francesa, 16 de que a segurança 
jurídica (previsibilidade do Direito) seria encontrada no texto da lei, 
desenvolveu-se aquilo que é chamado de ideologia estática da interpretação. A 
ideologia estática da interpretação sustenta que o interprete (no caso do 
processo, o juiz) não cria o Direito – já que o Direito é criado pela lei, e apenas 
por ela. Assim, ao interpretar a lei, o juiz está apenas revelando o conteúdo do 
direito que está subjacente ao texto da lei. 
A ideologia estática da interpretação, contudo, está em desuso na 
Europa continental há pelo menos meio século, tendo cedido lugar à ideologia 
dinâmica da interpretação. Esta compreende que o intérprete (para o que nos 
 
15
 Veja-se o vídeo Positivismo Jurídico em Cinco Passos, do canal Direito sem Juridiquês. 
16
 Veja-se o vídeo “Common law e civil law” – aprendendo Direito com o Rei Artur e com 
Napoleão Bonaparte, do canal Direito Sem Juridiquês. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
38/148 
 
interessa, o juiz) cria, sim, o Direito. Na verdade, o mais correto é dizermos que 
o juiz reconstrói o Direito. Ou seja, o Direito é o resultado do trabalho conjunto 
do Poder Legislativo com o Poder Judiciário. 
E a ideologia dinâmica da interpretação compreende que o intérprete 
(juiz) reconstroi o Direito a partir da consideração da diferença entre texto 
legislativo e norma jurídica. 
O texto legislativo, assim, é aquilo que está escrito na lei. A norma 
jurídica, por sua vez, é consequência da interpretação que é realizada sobre o 
texto legislativo. Como quem realiza a interpretação é sempre o intérprete 
(juiz), segue-se que o intérprete cria (reconstrói) o Direito. 
 
 
Ideologia dinâmica da interpretação 
 
Texto legislativo 
(produzido pelo Poder Legislativo) 
≠ 
Norma jurídica (resultado da atividade do intérprete – Poder Judiciário) 
 
 
Esse assunto será melhor aprofundado na Lição 7, mais precisamente 
nos item 7.2 (abaixo). 
 
4.3.2 Técnicas decisórias do controle de constitucionalidade 
 
No Estado Constitucional, a interpretação da lei a partir da Constituição 
é fundamental para a construção e aplicação do Direito. Na verdade, uma 
grande ferramenta de construção do Direito é a interpretação constitucional. A 
todo o momento, o texto constante nas leis aprovadas pelo Poder Legislativo 
está sendo considerado a partir da Constituição e as normas jurídicas vão 
sendo reconstruídas pelo Poder Judiciário. 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO 
Carlos Eduardo Rangel Xavier 
 
 
39/148 
 
Exatamente por isso, considerarmos as técnicas decisórias do controle 
de constitucionalidade contemporâneo é fundamental para compreendermos o 
impacto do constitucionalismo sobre o processo civil e a forma como o Poder 
Judiciário reconstrói o direito a partir do texto da lei e da Constituição. 
 
4.3.2.1 Interpretação de acordo com a Constituição 
 
A “interpretação de acordo” com a Constituição está dentro da 
interpretação literal, ou gramatical, de um texto legislativo. Ela ocorre quando o 
texto, em sua literalidade, tem mais de um significado possível, e estes dois 
significados são compatíveis com a Constituição.

Outros materiais