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PE aula07

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Políticas Públicas em Educação e a atuação do psicólogo: discurso oficial e consequências no processo de escolarização - discurso oficial x aplicação prática.
PATTO, Maria Helena Souza. Democratização do ensino e políticas públicas: desafios para a pesquisa. 
Democracia
Democratizar é “tornar democrático”.
O tema que do artigo contempla alguns pressupostos relativos à democracia:
Afirmar que não a temos – postura política que nega a crença hegemônica de que vivemos em uma sociedade democrática, moeda corrente no discurso ideológico de governantes e de seus representados preferenciais: a classe dominante brasileira.
Desejá-la – é repor, permanentemente, valores comprometidos com a harmonização da vida social. É também resgatar a essência da Filosofia: definir um dever-ser a partir do que é.
Acreditá-la possível – é resgatar a “utopia” de seu sentido depreciativo e recolocá-la como norte da ação social transformadora.
Democracia
A ideologia político neoliberal não passa de manifestação astuciosa do modo capitalista de produção no fim do século XX. Por meio de exclusão crescente de grande contingente de pessoas por direito ao emprego, à justiça, à saúde, à educação, à moradia, à segurança, etc., ela faz da palavra democracia mera retórica mistificadora numa sociedade em que os trabalhadores não são cidadãos e dá continuidade à restrição que o termo demos padecia na Grécia antiga. Mas naquela época, note-se, a igualdade não era um valor guia.
Políticas Públicas
A política pública brasileira de educação escolar tem sido democratizante?
Verbas municipais, estaduais e federais tem de fato sido destinadas ao ensino fundamental e médio nas últimas décadas?
Qual parcela desta verba realmente vai para instituições de ensino ou escoa pelo ralo da corrupção?
O discurso oficial a respeito da equalização de oportunidades educacionais tem girado em torno de 3 eixos:
Garantia universal de acesso à escola, traduzida em aumento do número de vagas;
Garantia de permanência na escola, por meio da introdução de mecanismos de progressão rápida pelas séries escolares e de atividades escolares de entretenimento, tendo em vista diminuir a reprovação e a evasão escolar;
Garantia de bom ensino para todos, campo propício à adoção sucessiva de diferentes técnicas que acabam descartadas, porque não dão conta – nem podem dar – da missão que lhes foi atribuída
De concreto, em direção à garantia do direito à escola, apenas o crescimento quantitativo da rede escolar pública fundamental.
O aumento de ingressante nas escolas esconde uma mentira estatística, em vez de sanar deficiências, agrava essa situação, difundindo-se a “má escola” e o “mau ensino”. Estatísticas que – mesmo que imprecisas e manipuláveis – não conseguem esconder o abismo entre o que o poder publico alardeia, por meio de propaganda milionária e enganosa na mídia, e o que oferece em matéria de serviços educacionais.
Encerradas nos limites estreitos de gestões efêmeras, as ações desses grupos (políticos que estão no poder) não raro assumem a forma de planejamento e implantação rápidos de mudanças que não só imprimam a marca dos que estão no poder e apaguem as marcas deixadas pela gestão anterior, mas também aumentar, se necessário a qualquer preço, estatísticas positivas que serão usadas em debates eleitorais.
Ciclo básico implantado na rede estadual paulista de ensino fundamental.
Objetivo – acabar com a reprovação entre a primeira e a segunda séries, o projeto criou dois anos de escolarização inicial, durante os quais os alunos teriam mais tempo para alfabetizarem-se.
Pautado em resultados de pesquisas universitárias que vinham mostrando critérios indefensáveis de reprovação existentes nas escolas e redução drástica das possibilidades de escolarização de aluno reprovados.
Preparo do campo escolar foi insuficiente, imposição de mudanças de cima para baixo, por intermédio de uma cadeia hierárquica de competências técnico administrativas, rebaixou os professores ao posto de simples executores de decisões que não eram suas.
Sintetizando, concepções cristalizadas que centram as causas do fracasso escolar nas crianças e suas famílias ainda permanecem. Quando o fracasso escolar é compreendido por esse viés contribui-se para estigmatizar o aluno de camadas menos favorecidas em virtude do preconceito. 
Para enfrentamento desse fracasso são implementadas políticas educacionais. Entretanto o enfrentamento de fato, esbarra nas formas hierarquizadas e pouco democráticas de implementação. E o que é mais grave, a implantação de políticas educacionais sem os necessários investimentos nas condições estruturais imprescindíveis para sua efetivação.
As explicações para a não aprendizagem de crianças, principalmente as das classes populares, só começa a sofrer alterações quando essas explicações passam a ser questionadas nas suas finalidades e princípios epistemológicos.
A partir dos questionamentos da não aprendizagem de crianças a Psicologia passa a analisar as Políticas Públicas referentes à educação.
Na década de 1980, quando se intensificaram diversos movimentos em favor da redemocratização do país, ocorre também o início das discussões e questionamentos a respeito de concepções cristalizadas da psicologia escolar relacionadas ao fracasso escolar.
Pesquisas realizadas sobre essa temática (Asbahr, 2005; Viégas, 2002), a apontam como uma questão de fundamental importância e que deve ser considerada no âmbito das políticas públicas em educação, visto que nem sempre nas implantações são alcançados os objetivos propostos, objetivos esses que quase em sua totalidade buscam a promoção do sucesso e não do fracasso escolar.
Repetição de um equívoco de longa existência na história da educação pública fundamental brasileira: a ilusão tecnicista que pôs a epistemologia genética da leitura e da escrita de base teórica piagetiana como a “bola da vez” que realizaria a missão impossível de salvar a escola brasileira. O resultado não poderia ser outro: desencadeou-se um processo que piorou a qualidade de ensino.
Primeiro porque, desrespeitando o seu fazer, os professores defenderam-se repondo velhas práticas. Foi assim que novos rótulos continuaram a patologizar alunos – deficiente mental leve  pré silábica.
Segundo porque a ideia mãe que o fundou deixava intacto um dos determinantes da relação penosa entre professores e alunos: o preconceito contra os “pobres”.
A “correção de seus efeitos estruturais e funcionais não depende de alterações puramente institucionais. Para eliminar tais defeitos, seria preciso modificar concomitantemente as relações da Universidade com a sociedade”.
Essa inversão, entretanto, não era característica dos técnicos envolvidos, mas vinha ancorada na tese acadêmica da “carência cultural”.
Repõe-se a causa do fracasso escolar como impropriedade das práticas de ensino para esse alunado e deixa-se de lado, mais uma vez, a dimensão política da produção do fracasso escolar a que as crianças estão condenadas.
Escolhem-se as explicações e prescrições mais afeitas à ideologia e, por isso, mais eficientes na ocultação de propósitos inconfessáveis.
A orientação pragmática, burocrática, tecnicista e autoritária predominante na política educacional encontra apoio num pensamento educacional ainda hegemônico, ele também produzido na Universidade e em órgãos expressivos de pesquisa de educação.
Formação de pesquisadores
Escolhem-se explicações e prescrições mais afeitas à ideologia e, por isso, mais eficientes na ocultação de propósitos inconfessáveis.
A formação de pesquisadores requer aprofundamento teórico-metodológico que não pode prescindir da aquisição de instrumentos filosóficos que viabilizem a crítica de teorias e métodos disponíveis. 
Em contraposição à crença na neutralidade da ciência, o exame do conhecimento científico como ideologia – ou seja, como instrumento de poder e de autoritarismo das elites – precisa fazer parte de currículos de programas de pós-graduação.
Sem isso as universidades não poderão ser lugar
de produção de saber e se limitarão a pesquisas burocráticas como parte de rituais acadêmicos burocráticos.
Reunido e sistematizado, o conhecimento dá visibilidade a pesquisas que portam reflexões sobre aspectos da educação escolar indispensáveis a um começo de mudança radical do rumo da política educacional: análise das políticas públicas, das formas de gestão escolar, da relação professor aluno, do compromisso político-profissional de professores bem e mal sucedidos na tarefa de ensinar, das práticas de ensino e de avaliação da aprendizagem, da natureza de conteúdos ensinados, das práticas disciplinares, do preconceito social e racial que estrutura as relações escolares, dos encaminhamentos medicalizantes dos que não conseguem escolarizar-se, das formas de organização das famílias usuárias das escolas e das consequências delas na maneira com se inserem na escola – da participação, enfim, da “cultura da escola” na produção de seu sucesso ou fracasso com a instituição de ensino
As explicações para a não aprendizagem de crianças, principalmente as das classes populares, só começa a sofrer alterações quando essas explicações passam a ser questionadas nas suas finalidades e princípios epistemológicos.
A partir dos questionamentos da não aprendizagem de crianças a Psicologia passa a analisar as Políticas Públicas referentes à educação.
Na década de 1980, quando se intensificaram diversos movimentos em favor da redemocratização do país, ocorre também o início das discussões e questionamentos a respeito de concepções cristalizadas da psicologia escolar relacionadas ao fracasso escolar.
pesquisas realizadas sobre essa temática (Asbahr, 2005; Viégas, 2002), a apontam como uma questão de fundamental importância e que deve ser considerada no âmbito das políticas públicas em educação, visto que nem sempre nas implantações são alcançados os objetivos propostos, objetivos esses que quase em sua totalidade buscam a promoção do sucesso e não do fracasso escolar.
Os pesquisadores se veem diante de um desafio: entender e denunciar mecanismos sutis de exclusão, agora encobertos pela promessa de inclusão escolar e social que não podem cumprir, quer pela mentira que os respalda, quer pelo assistencialismo que , em geral, os orienta.
As reformas educacionais só deixarão de ser intenção quando ganharem dimensão de um “querer social” objetivados em movimentos sociais reivindicatórios.
É pela explicitação dos problemas que cerceiam a democratização do ensino que poderemos ir além da retórica democratizante e das tentativas técnicas de solução deles. É conhecendo e divulgando os problemas seculares que impregnam a política educacional brasileira que poderemos, com pesquisadores da educação, colaborar com a luta por um futuro menos temeroso.

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