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Fichamento do primeiro capítulo do livro História Cultural do Roger Chartier

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FICHAMENTO DO LIVRO A HISTÓRIA CULTURAL DE ROGER CHARTIER
Na Introdução, Chartier apresente a tese central que circundou os oito ensaios, publicados entre os anos de 1982 e 1986, a qual “constitui-se como resposta à insatisfação sentida frente à história cultural francesa dos anos 60 e 70”. (p. 12)
A história cultural possui, segundo Chartier, duas vertentes: a história das mentalidades e a história serial, ou, quantitativa. 
Chartier discute a importância de se pensar a História Cultural ante os problemas que circundavam a história enquanto disciplina: essa que se encontrava ameaçada diante de um alargamento na sua importância dentro das humanidades, perdendo apenas para a literatura francesa. 
O desafio lançado a história pelas novas disciplinas assumiu diversas formas, umas estruturalistas, outras não, mas que no conjunto puseram em causa os seus objetos — desviando a atenção das hierarquias para as relações, das posições para as representações — e as suas certezas metodológicas — consideradas mal fundadas quando confrontadas com as novas exigências teóricas. (p.14)
Chartier aponta para as estratégias de transformar a História num campo grandioso, que abarcava as diversas áreas do conhecimento:
A resposta dos historiadores foi dupla. Puseram em pratica uma estratégia de captação, colocando-se nas primeiras linhas desbravadas por outros. Daí a emergência de novos objetos no seio das questões históricas: as atitudes perante a vida e a morte, as crenças e os comportamentos religiosos, os sistemas de parentesco e as relações familiares, os rituais, as formas de sociabilidade, as modalidades de funcionamento escolar, etc. (p.14)
Sob a designação de história das mentalidades ou de psicologia histórica delimitava-se um novo campo, distinto canto da antiga história intelectual literária como da hegemônica história econômica e social. Com estes objetos novos ou reencontrados podiam ser experimentados tratamentos inéditos, tomados de empréstimo das disciplinas vizinhas: foi o caso das técnicas de analise linguística e semântica, dos meios estatísticos utilizados pela sociologia ou de alguns modelos da antropologia. (p.15)
A História Cultural, tal como a entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler. (p. 16 e 17)
Alguns caminhos, segundo Chartier desse caminho devem ser pontuados:
O primeiro diz respeito às classificações, divisões e delimitações que organizam a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real. (p. 17)
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem a universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. (p. 17)
As percepções do social não são de forma alguns discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. (p. 17)
Essas são as questões referentes a representação:
Como estando sempre colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação. (p.17) 
As primeiras categorias logicas foram categorias sociais; “as primeiras classes de coisas foram classes de homens em que essas coisas foram integradas". O que leva seguidamente a considerar estas representações como as matrizes de discursos e de práticas diferenciadas — “mesmo as representações coletivas mais elevadas so tem uma existência, isto e, so o são verdadeiramente a partir do momento em que comandam atos” 5 — que tem por objetivo a construção do mundo social, e como tal a definição contraditória das identidades — tanto a dos outros como a sua. (p. 18)
A representação é instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objeto ausente através da sua substituição por uma “imagem” capaz de o reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é. (p. 20)
A definição de história cultural pode, nesse contexto, encontrar- se alterada. Por um lado, e precise pensa-la como a análise do trabalho de representação, isto e, das classificações e das exclusões que constituem, na sua diferença radical, as configurações sociais e conceptuais próprias de um tempo ou de um espaço. (p. 27)
CAPÍTULO 1
Equacionar os problemas da história intelectual constitui tarefa embaraçosa por múltiplas razoes. A primeira prende-se com o próprio vocabulário. Com efeito, em nenhum outro campo da história existe tal especificidade nacional das designações utilizadas e tamanha dificuldade em adapta-las, ou mais simplesmente em traduzi-las para uma outra língua e para outro contexto intelectual. (p. 29)
As certezas lexicais das outras histórias (econômica, social, política), a história intelectual opõe, portanto, uma dupla incerteza respeitante ao vocabulário que a designa: cada historiografia nacional possui a sua própria conceptual idade e, em cada uma delas, entram em competição diferentes noções, mal diferenciadas umas das outras. (p. 30)
OS PRIEIROS ANNALES E A HISTÓRIA INTELECTUAL
Para Febvre, pensar a história intelectual é, antes de mais nada, reagir perante os escritos que, na sua época, dela se reclamam. (p. 32)
O esforço para pensar a relação das ideias (ou das ideologias) e da realidade social através de categorias que não as da influência ou do determinismo e a segunda preocupação expressa por Febvre ja antes de 1914. (p.33) 
Não existem, no sentido próprio do termo, teorias 'criadoras', porque desde o momento em que uma ideia, por muito fragmentaria que seja, se realizou no domínio dos fatos, da maneira mais imperfeita que se queira, não é a ideia que conta a partir de então, é a instituição colocada no seu lugar, no seu tempo, incorporando, uma rede complicada e móvel de fatos sociais, que produzem e sofrem regularmente mil ações diversas e mil reações. (p. 33)
No seu Rabelais, publicado em 1942, Febvre não define a utensilagem mental, mas caracteriza-a do seguinte modo: «A cada civilização, a sua utensilagem mental; mais ainda, a cada época de uma mesma civilização, a cada progresso (quer das técnicas, quer das ciências) que a caracteriza» — uma utensilagem renovada, um pouco mais desenvolvida para certas utilizações, um pouco menos para outras. Uma utensilagem mental que essa civilização, que essa época, não está segura da capacidade de transmitir, integralmente, as civilizações, as épocas que lhe vão suceder, podendo conhecer mutilações, retrocessos, deformações importantes. Ou, pelo contrário, progressões, enriquecimentos, novas complicações. A utensilagem vale pela civilização que soube forja-la; vale pela época que a utiliza; não vale pela eternidade, nem pela humanidade: nem sequer pelo curso restrito de uma evolução interna de uma civilização. (p. 36)
Desde logo, o que diferencia as mentalidades dos grupos sociais é, acima de tudo, o uso mais ou menos alargado que eles fazem dos «utensílios» disponíveis: os mais conhecedores aplicarão a quase totalidade das palavras ou dos conceitos existentes; os mais desprovidos só utilizarão uma ínfima parte da utensilagem mental da sua época, limitando assim, comparativamente aos seus próprios contemporâneos, o que lhes e possível pensar. (p. 39)
HISTÓRIA DAS MENTALIDADE/ HISTÓRIA DAS IDEIAS
«A mentalidade de um indivíduo, mesmo que se trate de um grande homem, e justamente o que ele tem de comum com outros homens do seu tempo» ou então «o nível da história das mentalidades e o do quotidiano e do automático, e aquilo que escapa aos sujeitos individuais da história porque revelador do conteúdo impessoal do seu pensamento» (citação de Le Goff) – (p. 41)
«Não existe, não pode existir uma pessoa-modelo, exteriorao curso da história humana, com as suas vicissitudes, as suas variedades conforme os lugares, as suas transformações conforme o tempo. A investigação não tem, portanto, de estabelecer se a pessoa, na Grécia, é ou não é, mas de procurar o que é a pessoa grega antiga, do que e que ela difere, na multiplicidade dos seus traços, da pessoa dos nossos dias» (p. 42)
A história das ideias — ao permanece mal diferenciada é capaz de receber, um pouco como uma grande arrecadação, tudo aquilo com que a história tradicional pouco se ocupava — inclina-se demasiado para a intelectualidade pura, a vida abstrata da ideia, frequentemente
Isolada dos meios sociais onde se enraíza e que a exprimem de maneiras diversas [...]. O que importa, tanto quanto a ideia, e talvez mais, e a encarnação da ideia, os seus significados, o uso que dela faz. (p. 48)
A página 55 é importante ao fazer uma distinção entre cultura popular (textos populares, como no caso a literatura de cordel) e a erudita (textos acadêmicos), ver lá.
A relação assim instaurada entre a cultura de elite e aquilo que não o é diz respeito tanto as formas como aos conteúdos, aos códigos de expressão como aos sistemas de representações, logo ao conjunto do campo reconhecido a história intelectual. (p. 56)
O «popular» não esta por natureza vocacionado para a análise quantitativa e externa dos «cientistas
sociais» e, como mostra C. Ginzburg, quando os documentos o permitem, e > inteiramente licito apreender, a lupa, como um homem do povo pode pensar e utilizar os elementos intelectuais esparsos que, através dos seus livros e da leitura que deles faz, lhe advém da cultura letrada. (p. 57)

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