Buscar

revolucao de 30 e a cultura

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ANTONIO
,.-
CANDID 0
cDucA4o..
iVoh
e outros ensotos
:--�•
180
a funç5o da litciatura no proccsso do forrnaco nacional do Brasil,
coloquei-me no ângulo da História e deixei de ]ado Os aspectos
mais propriamentc estéticos. Além disso, não mencioaei Os mo-
mentos cm que a literattira comcça a produzir as suas obras no
lucn1() l e 'llpo mais caincteristicas c mais irnportantcs, isto 6, dcsdc
Machado do Assis ate os nossos dias, passando polo grande cixo
dos rnode.rriistas tIe 1922. Corn isso tenho a irnpressão de haver
mostrado apenas o vestibulo, sern entrar no interior da casa.
Mas niesrno dentro dos quadros quo estabeleci fui limit-ado e
talvcz injusto. Teria sido preciso mostrar corno algumas tendências,
vistas aqui sob a aspccto positivo, foram tarnbdm negativas. Mostrar,
par exernplo, coma a transfIguraço barroca instaurou nos hbitos
mentais do brasileiro urn amor irracional pela grandiloqi.iência pura
e simples. Como a transposição da realidade através da irnagem a
da alegoria lcvou muitas vezes o espIrito a se enganar a si mesmo,
e a aç5o a cruzar os braços ou sc perder na utopia estéril. Teria
sido preciso mostrar born, e não apenas indicar, do quo maneira a
olaboraço miloldgica do Indio serviu para ocultar o problema do
negro, de tal modo quo o Indianismo se tornou tambéni, vista
deste Angola, urna forma de manter o preconceito contra ole, apesar
do csforço generoso de poetas e abolicionistas.
Nos paIses cia America Latina a literatura sempre fol algo
profundamcnte empenhado na construço c na aquisicão do uma
consciCncia nacionat, de niodo clue o ponto dc vista liisórico-
-sociológico é indispensivel para estudá-la. Entre nós, ttido se
banhou de literatura, des(le o formaiismo jurIdico ate o senso huma-
niirio e a expresso fañiiliar dos sentimentos. Par isso C .dificil
delirnitar esse unherso insinuante e multiforrnc. Mas a 'ersao
unilateral quo acaba do ',cr cxposta nto causarC grande ma]. so a
ouvinte sair corn a certcia de quo a realidade C de fato muitci mais
vasta e complexa, e qu so as !imitaçöes do conferencista impe-
diram quo isto ficasse claro.
11
A RE VOL UçA'x DE 1930
EA4CULTURI4
No; paLces subdc.cenvo/v idos, a equipwn en/a culiural
se lirnita gcralmentr a cIrca/os inuito pequenos e clas-
ses media; riiduncitarcs. Coin Ire qiiCncia Co/zsiste L/y
opeiias algun.r poimos diJusois e con.curnjdores, lign-
dos pela educaçao: los ,necanismos culiurais de no-
çôes niais desenvo/vidas. Esses desventurados eleiros
("these unhappy /w") formnam a zinico pmkurlx mr;1
ponivel para Oã!pr,dulo.c e serviços culiurais.
C. WRIGHT MILLS
1
Quem vivcu nos anos 30 sabc qual foi a atmosfera do fervor
quo os caractcrizou no piano da cultura, scm falar de outros.
fliOVimcnto (IC outubro niio foi urn comcço absoluto ncm uma
CaUSa prinicira e rnccânica, porquc Oa I-Iistória nio ha dcssas coisas.
Mas foi urn eixo e urn catalisador: urn eixo em tomb do qual girou
do certo modo a cultura brasileima, catalisando elementos dispersos
p;Ira c1icj-Ir�nii,iia�nhij'itrnc:io nr'v:i. 1"Ir.c1r rntido f(H imi Iflarcu
IIINLOIiCil, d;ujtieIeN quo i;t,.eiii solitir vivalnclite quo houve urn
"autos" difcrcntc dc urn "depois". Em grande partc porquc gerou
urn rnovirncnto do unificaçao cultural, projetando na escala da
-1
182
Naçio fatos quc autos ocorriam no imbito das regiães. A estc
aspecto intogrador 6 prcciso juntar outro, igualmcnte iruportante:
o surgirnento dc condiçOcs para realizar, difundir e 'normalizar"
uma sane de aspiracoes, inovaçöes, pressentimentos gerados no
dccCnio do1920, quo tinha sido uma sernentera de grandes
mudanças.
Coni efeito, Os fernicntos dc transforrnaçao estavam claros nos
anos 20, quando muitos deles so definiram e manifestaram. Mas
como fcnómenos isolados, parecendo arbitráriosc sem necessidade
real, vi1os pcla mnioria cIa opiniio corn desconfiança e mesmo
hlanno ngrCsivo. I)epois dc 1930 cics so tornaram at( certo ponto
"normais", como fatos do cultura corn os quais a sociedade aprende
a conviver c, cm rnuitos casos, passa a aceitar e apreciar. Fade-se
dixon, portanto, quo sofrcrarn urn processo de "rotiriização", mais
ou nienos no sentido cm que Max \Vebci usnu esta palavra para
estudar as transiorrnaçöes do carisma. Não so pode, é claro, falar
em socializaço ou coletivizaçao da cultura artistica e intelectual,
porque. no Brasil as suas manifestaçöcs em nIvel erudito são tao
rcstritas quantitativamonre que vao pouco além da pequena minoria
quo as pode fruir. Mas levando ern conta esta conting3ncia, devida
no cicsnivc'l do tuna socicdadc tcnrivclnicntc espoliadora, n-Io h
(Itivitl;i quc depois de 1930 houve alargaiucnto dc Irticac5u
dent ro do uiibito existenic, quc por sun vex so arnpliou.
TSIO oeorrcu ct divcrsos sCtorcs; instruçio pnhhca, vida anti's-
tic;t e Jitcririn, esttidos ldstóricos e socinis, rncios dc diftisio cultu-
ral como o livro c o radio (quo tcvc desenvolvirnento ectanliur')
Iwlo tigado a tinta corrclacao nova cntrc, do urn lado, o intelectual
C o artista; do outre, a ocicdadc c a Estado - devido asnovas
rtcocliçocs cconôniido-sociais. E devido também a surprccridentc
tomada do consciência idoológica do inte!ectuais e artistas, huma
radicalizaçao quo antes era quase inexistente. Os anos 30 forim do
engajamento polItico, religioso e social no campo da cultura. N sno
as quo nâo so definiam cxplicitarncnte, c ate os quo nao tinham
consciência clara do fato, manifestaram na sua obra esse tijo de
inserçio ideolOgica, quo dá contorno especial a fisionomia do
periodo.
2
0 caso do cnsino C significativo. N5o foi 0 movimento revo-
lucioniinio. de 30 qlie coineçou as reformas; mas ele propiciou a
siia cxtens50 por todo n Pals. Antes houvera reformas lbcais,
iniciadas pela do Sampaici Doria cm Silo Paulo (1920), quc intro-
183
duziu a modcrnizaçao dos mCtodos pedagOgicos e procurou tornar
realidade a ensino primário obnigatório, corn not6ve1 incremento do
escolas rurais. Outnas reformas localizadas foram as do Lourenco
Filho, no Ceará (1924), a de Francisco Campos, em Minas (1927),
a de Fernando do Azevedo, no então Distrito Federal (1928).
Todas elas visavani a renovação pedagógi ca consubstanciada na
dcsignaciio de "escola nova", quo rcprcsentava posicão avançada no
liberalismo educacional, e quo par isso foi combatida as vczcs
violentamcntc pela Igreja, então niuito aferrada não apenas ao
ensino rcligioso, mas a rnCtodos tradicionais. Ora, a escola ptiblica
leiga pretendi a forniar inns o "dci act ilo" cIa (]Ile o 'lid'', corn base
num aprendizado pela experiência c a obscrvaçio quo descartava o
dogmatisrno. Isto pareccu a maioria dos católicos a próprio mal,
porque segundo des favorecia perigosarncnte o indiviclualismo ra-
cionalista ou uma concepçAo niaterialista e iconoclasta. Nao faltou
quem falasse em 'balchevizaçiio do ensino" a propOsito da reforma
corajosa e brilhante de Fernando dc Azevedo.
As idCias c aspiraçöes dos grupos reformadores nos anos 20
so encontram no Iivro A educação p01ica cm São Paulo (1937),
clue contCm as resultados do inquCrito feito por Fernando do
Azevedo cm 1926 c publicado ciiii-to c-ni jamal. Nele poctemos ver
iiiclioive c grande (ICSCj() do cnir a Univeisidade, cirncutiida c cii-
roada pelas faculdadcs do Filosofia, Cincias, Letras e Edlucaçio
-�ii (pie ocorreria tic'pois tl' 1)30.
O Governo Provisório instalado ncssc ann cniou itnediatarncntc
o Ministorin dc' Educ:1ç50 c Sic'idc-, conli;nln no reformador dii
nstrucao 1,6blica em Minas, Fiaocisco Campos. Este promovcu 'ito
contmnuu, mas, agora on oscala diicional, a reforrna quo traz 0 seu
nome e procurava estabelecer en too o Pals alguinas das idias
e experiências da Peiagogia e Wi Filosofia Educacional dos "esco-
la-novistas". Assim, a intcgraçbo c a gencralizaçiio, já mcncio-
nadas, eram promovidas conic' resposta a todo o rnovirnento
renovador dos anos 20.
Os ideaisdos educadores, desfbrochadosdepois de 1930,
pressiipuham do urn ]ado a difusão da instrução clementar quo,
conjugada no voto scereto (urn dos piincipais tOpicos no progrorna
da Alianca Liberal), deveria fotmar cidadãos capazes do escollier
born as seus dirigentes; de outno lado,' pnessupunham a redefiniço
C 0 aumento das carreiras de nvcl superior, visando a renovar a
formaçiio clas elites dirigentes c seus quadros tCcnicos; mas agora,
corn niaiorcs OpOrtuflidlados dc divcrsilicaçilo c classilicaçio social.
Tratava-se de anipliat' e "mclhoar" ci rccrutamento da massa vo-
tante, e do cnriquccer a composiiio di elite votada. Portanto, niio
era urna rcvoluçiio educacional, nias ürna rcfonm ampla, pois no
6A:
184
clue concerne ao grosso da populacao a situação pouco se alterou.
Nós sabcmos clue (ao contririo do clue pensavarn aqueles liberais)
as reformas na educacio nio gerani rnudancas essenciais na socie-
dade, porque no modificam a sua estrutura e o saber continua
mais oil menos como privilgio. Sâo as revolucoes verdadciras
clue possibilitam as rcformas do ensino em profundidade, de maneira
a torn-lo acessIvel a todos, prornovendo a igua1itarizaco das
oportunidades. Na America Latina, ate hoje isto so ocorreu em
Cuba a partir de 5A9A2 Quanto ao Brasil, quinze ou vinte anos
após o rnovirnenfo revolucjonrjo de 1930, e apesar do progresso
havido, as opOrtunjdades mais niodestas aii'u.la cram irrisórias, bas-
lando mcncionar clue no decénjo de 1940 os Indices mais altos de
escolarizacjo primria (isto ë, o n'.meno de crianças cnn idade
cscolar frcqiientando c fetivamente escolas) cram os de Santa Cata-
rina e SjO Paulo, rcspectjvarnente 42 e 40%.
Mas hou\'e scm divida aumento pondenivel de escolas médias,
bern como do ensino técnico sistematizado. E a situaçiio se tornou
hastante mais favorve1 no ensino superior, onde a criaco das
universidades (a partir da de So Paulo em 1934) alterou o esque-
ma tradicional das clitcs. A prática anterior de criar faculdades
isoladas fj´rj corn que cada urna adquirisse irnportância equivalente
ao papel dos scus graduados na vida polItica e administrativa do
Pals, onde os diplomas d bacharel em Direito, doutor cm Mcdi-
cina e engenliciro conferim urna espCcie de nobreza funcion1 na
sociedade de rneiitaldadc 'ainda meio estaniental, empurrando Para
baixo a arrala miida das outras escolas superiores. No decCno de
1920 foram fundadas alglmas universidades nominais, isto é quc
apenas davarn urn niinie novo i justaposico de unidades preexis-
tentcs. As clue se fuhdararn no decênio de 1930 estabelecerayci urnpadro inédito, pela dCia orgnica clue pressupunham e clue dépen-
dia das novas faculdades de Filosofia. Equipadas Para a pesquisa
nas ciôncias fisicas, naturals c hurnanas, estas tiraram urn pbuco
da aura (lrnwárfrlj( das grandcs escolas profissionais a dignifica-
ram as "pequenas" (Famrnicia, Odontologia Agronomia, Veterjná-
na), atuando como . elemento aglutinador. Esbocou-se enthc urn
"sistenia", 'onde as partes deveriam funcionar em vista do todo,
corn atcnuico das hIerarquias e amp1iaço dos grupos de elite corn
formaçio superior. J-Eouvc assim urna espécie de "democratizaco'
dentro dos sctores privilcgiados, coni asccnso dos scus cstatos
menos favoreciclos. Scni contar clue algurnas faculdades de Fib-
sofia e Econornia (estas, mais recentes) efetuaram uma rcbativa
raclicalizaçao das alitudes c concepcöes, dcvido 11 difuso das iên-
cias Soclais c hiirnanns, que lcvararn o espirito cnttirn a
wilr�'Ii:tv:nit�IIIl!iII1;IIjcfl
Nas artes e na literatura foram mais flagrantes do que em
qualquer outro carnpo cultural a "normal izaçao" e a "generaliza-
ção" dos' - f 6Fffientos renovadores, clue nos anos 20 tinham assumido
o caráter excepcional, restrito e contundente próprio das vanguar-
das, ferindo de modo cru os hábitos estabeiccidos. Nos anos 30
houve sob este aspecto ulna perda de auréola do Modernismo, pro-
porcional a sua relativa incorporação aos hábitos artIsticos e Ifte-
ririos.' N5o esqueçamos clue o Hino da Rcvoluço de 1930 é de
Vila-Lobos, mósico de vanguarda que encontrou grande apoio na
"era de Vargas", quando foi de algurn modo oficializado e dirigiu
o movimento de canto coral.
Dc 1931 é o 38. 0 Sa1o .da Escola Nacional de BelasArtes,
organizado por LiEf6Costa, que chamou pela primeira vez Para
esse ceiiarne os artistas de vãhuarda, provocando reaçOes de es-
candalizada indignaço acad8mica. 2 A Lücio Costa e Oscar Nie-
meyer seria confiado por Gustavo Capanema o projeto do edifIcio
do Ministérjo de Educacao e Saide, cm cujas Paredes Cndido
Portinari pintou os seus murais e Para cuja entrada se encomendou
a Bruno Giorgi o xnonumento da mocidade. 1-louve portanto na
arquitetura uina espécie de sanço oficial do Modérnismo, que
correspondia a aceitação progressiva pelo gosto rnédio, a partir das
prirneiras rcsidências tracadas por Warchvchik e Rino Levi nos
Os 20. 0 "estilo futurista" não apenas se difundinia, nias rècè-
beria a consagraço do mau gosto nas inurneráveis casas quadradas,
brilhantes de mica, clue se espalharam por todo o Pals.
Tomando por amostra a literatura, verificani-se nela alguns
tracos é., embora caracterIsticos do perlodo aberto pelo movi-
mento revolucionário, são na rnaioria "atua]izaçaes" (no sentido 'de
"passagem da potência ao ato") daquilo que se esboçara ou definira
nos anos20. E o caso do enfraquecimento progressivo da literatura
acadêmica; da adèitação consciente ou inconsciente das inovaçães
formais a tcrnáticas; do alargamcnto das "literaturas regionais" a
escala nacional; da polanizaçao ideológica.
'. Acompanho aqui e noutros lugares o ponto de vista de João Luiz Lafetá,
que estudou no Modernismo a passagm do "projeto estético" (anos 20)
ao "projeto ideológico" (anos 30), como dois mornentos de urn processo,apontando a diluição da vanguarda" (3A742 a crIlica e o rnodernisrno. So
Paulo, Duns Cidades, 1974. p. 13-22).
A impor1ncia deste fain é anali.sada pot Met in r S0 11 17, ('rildu de., \'nn-
(' i,ii�iii�Iiiitti 1 111 ,li,'n,lii ile vli,ti.�IIi;�I'i.'tt'I,'j,ii I/l' If((tj11.�rrr,
111011�11�111)II
6A;
Ate 1930 a literatura predorninante e mais aceita sc ajustava
a uma ideologia de permanência, representada sobretudo pelo pu-
rismo gramatical, que tendia no Limite a cristalizar a lingua e adotai
corno modelo a literatura portuguesa. Isto correspondia as expec-
tativas oficiais dc uma cultura de fachada, feita para ser vista pelos
estrangciros, coma era em parte a da Repiblica Veiha. Ela tinha
encontrado a seu propagandista no Bar5o do Rio Branco, o scu
modelo no cstilo dc Rui Barbosa e a sua instituiçio simbólica 1..a
Academia Brasilcira de Letras, ainda preponderante no dccênio de
1920 apesar dos ataques dos niodernistas (estes pareciam, então,
Lirna cxcentricidadc transitória). Mas a partir de 1930 a Academia
joi-se tornando o quc C hoje: urn clube de intcicctuais e similares,
scm maior repercussio ou influência no vivo do niovimento literário.
A incorporacio das inovaçöcs formais e ternCticas do Modcr-
nismo ocorrcu em dais nIveis: urn nIvel cspecIlico, no qual alas
foram adotadas, alterando essencialmcntc a fisionornia da obra a
urn nIvcl gcnCrico, 554 qual elas estimulavarn a rcjcição dos velhos
padröcs. Gracas a isto, no decênio de 1930 a inconformismo e a
anticonvcncionalisnio se tornaram urn direito, no urna transgres-
sao, fato notório mcsrno nos que ignoravam, rcpeliam ou passavam
longc do Modcrnirnio. Na vcrdade, quase todos os cscritorcs do
qualidade acabaran cscrevcndo coma bencficirios da 1ibrtaco
operada pelos modrnistas, que acarretava a depuraco antidratória
da lingiiagem, corn a bLisca de uma sirnp1ificaco crescente' e dos
torncios coloqulais que rornpern a tipo anterior de artificiMismo.
Assim, a escrita ml urn Graciliano Ramos ou de urn DionUo Ma-
chado ("clássicas" do algum modo), embora nio sofrende a in-
fluência modernism, pde scr aceita como "normal" porquc' a sua
despojada sccuratinha sido tambCm assegurada pcla libtrtaç\o
quo o Modcrnismo efetitou.
Na pocsia a libertaç5o fol mais geral e atuante, na medida cm
que as modos tradicionais ficaram inviáveis e, praticamente todos
as poetas qua tinham1gurna coisa a dizer entraram pelo versa
livre ou a Iivre ut1izaçio dos metros, ajustando-os no anti-senti-
mentalisma c a antiênfase. Os decênios de 1930 e 1940 assistiram
a consolidaçio a difusfvi da poCtica nlodernista, e tarnbdrn a pro-
duçio madura de 111guns dos scus prdceres, coma Manuel 1üdeiia
c Mario do Andrade.
Essas coisas rcperciitirarn na irlstrução, corn as reformas edu-
caciortais favorecerdo a rnoderniznção na cscolha de textos jara o
cnsino e na mancira do' as tratar. Embora so nos nossos dias a
Iticratura rcalrncntc conlemporanca tcnha predorninado PPJZZJ sCtOr,
as coisas cornecaram a mudar nos anos de 1930, podendo servir
187
do exemplo a Hwáxuxprj mj urwpãj px{á ãpãn2lj0 mx L}áêçãx J{ã´
(1933), cxcelente e inovadora (nas primeiras edicöes), apesar do
cunho ideologicamente conservador.
Ela foi a prinieira a incluir autores considerados modernistas
(Alceu Amoroso Lima, Agripino Grieco, Graca Aranha, Mario de
Andrade, Manuel Bandeira, Jorge do Lima), juntando aos textos
subsIdios impartantes para a anClise. Graças a isto, pela primeira
vez as autores e as teorias da vanguarda foram propostos em dose
aprcciável a professores e alunos do curso secundário, ficando assim
em pé de igualdade corn as da tradicão Iiterária da lingua.
Traco interessanteligado as condiçöes especificas do decênio
de 1930 foi a extensäo das hteraturas regionais e sua transforrnacäo
em modalidades expressivas cujo ftmbito e significado se tornaram
nacionais, coma se fossem coextensivos a prOpria literatura bra-
sileira.
E o caso doromancc do Nordeste", considerado naquela
altura pela media da opinião coriio a romance par exceléncia. A
sua yoga provém em parte do fato de radicar na linha da fieção
regional (ernbora não "regionalist a", no sentido pitoresco), feita
agora corn uma liberdade dc narração c linguagern antes dcsconhe-
cida. Mas deriva tambCm do fato dc todo o Pals ter tornado cons-
ciência de uma parte vita!, o Nordeste, representado na sua reali-
dade viva pela literatura.
Coisa igual se pode dizer da producão do Rio Grande do Sul,
tanto a "ga(icha" quanta a outra,:; niodernista ou simplesmente ur-
bana. Num estudo sugestivo, Ligh l Chiappini Moraes Leite mastrau
coma a projecão polItica do Estado, dpois e par causa do movi-
mento revolucionário de 1930, acrretou a projeção triunfaldasua
literatura, conhecida e aceita par- todo-o Pals, en, cuja vida inte-
lectual a Rio Grande tinha sido ate entiio uma presenca cpisOdica
e marginal, porquc relativamente fcchada sabre }r27
Foi corn efeito notável a interpentracao literária em todo a
Brasil- depois do 30, quando uni jovein, digarnos do interior de
Minas, ia vivendo numa experincia kCrica e real a Bahia, de
Jorge Amado, a Paraiba ou a Recife,. de José Lins do Rego, a
Aracaju, de Amando Fontes, a .Amazônia, de Abguar Bastos, a
Bela Horizonte, do Ciro dos Anjs, a Porto Alegre, do Erico Ve-
rissimo ou DionCllo Machado, a .cidade cujo rio imitava a Rena,
de Viana Moog. FOi como se a litcratura tivesse desenvolvido para
a ]eitar uma visão renovada, n5io-convenciona1, do seu pals, visto
coma urn conjunto diversificado rtas solidário,
Mon&es SLP[L0 Ligia C. Regiollalis?no e Modernismo; o "caso gaiicho".
Sac Paulo, Atica, 1978. Sobrecudo p, 139-201.
4
Como decorrência do movimento revolucjonárjo e das suas
causas, mas lambém do quc acontecia mais ou menos no mesmo
sentido na Europa c nos Estados Unidàs, houve nos anos 30 iima
cspécie de convIvio fntirno entre a literatura e as ideologias poilti-
cas e religiosas. Isto, que antes era excepcional no Brasil, so gene-
ralizou naquela altura, a ponto do haver po1arizaço dos intelec-
tuais nos casos mais dcfinidos c explicitos, a saber, os quo oplavam
pelo comunismo ou o fascismo, Mesmo quando zã{ ocorria esta
definiçäo extrerna, e mesmo quando os intelectuais não tinharn
consciência clara dos matizes ideológicos, houve penetraco difusa
das preocupaç6es sociais e religiosas nos textos, como viria a ocor-
rer do novo nos nossos dias em termos diversos e major intensidade.
Naquela altura o catolicismo se toriiou uma f6 renovada, urn
estado de espirito e uma diniensio estdtica. "Deus esti na moda",
disse corn razo André Gide em reIaço ao que ocorria na Franca
o era verdade tambérn para o Brasil. Os anos de 1930 viram fruti-
ficar as sementes lancadas por Jackson de Figneiredo no decênio
anterior, corn a fundaçio da revista Ordem (1921), do Centro
Dom Vital (1922) c a :nonicntosa conversão de Alceu Amoroso
Lima em 1928. De 1932 é a Acâo Católica, feita para suscitar a
militância dos lcigo, e da rnesrna época säo as primeirns Equipes
Sociajs, inspiradas polo professor e critico frances Robert Garric,
que orientou o trablho dessas missôes leigas nas favelas do Rio
de Janeiro.
Além do engajamenti, espiritual e social dos intelectuais cató-
licos, houve na litoratura n1go mais difuso e insinuante: a busa de
uma tonalidado espirituaHsta do tensão e rnistério, quo sugrisse.,
de urn lado, o inefvel, do outro, o fervor; e quo aarece em ?tuto-
res tao diversos quanto Otávio do Faria, Licio Cardoso, Cortiélio
Pena, na ficçao; ou AugTisto Frederico Schmidt, Jorge de Lima,
Murilo Mendes, o rimcro Vinicius de Morais, na poesia. Na
crItica e no ensaio isto se traduziu num gosto paralelo pela pesquisa
da "essCncia", o "sentido", a 'vocaçCo", a "mensageni", a
cendCncia", o "drama"�numa espécie do viso amplificadôra e
ardente.
Muitas vezes o espiritilalismo católico Ievou no Brasil dosanos
30 a simpatia pelas soluçöcs poilticas do direita, e mesrno fascistas,
como foi o caso do integralismo, cuo fundador, P1mb Salado,
modernista e participantc do movirncnto est6fto renovador, aliou
a doutrinaçao a umti ati'idade Iiterria de certo interesse. . F é
curioso notar que as opcöes desse tipo foram favorecidas pela {y3
binaçao do catolicismo, sinibolismo e sernimodernismo nacionalista,
como nos casos de Tasso da Silveira, Andrade Murici, Mansucto
Bernardi e, corn algunia variação do componentes, o citado Schmidt.
Scm o sentimentalismo desta corrente, antes corn dureza polCmica,
destacou-se a hnha crItica e polItica do Otflvio dc Faria, autor de
importantes ensaios parafascistas. Jt outros teóricos de direita nada
tinham de religioso, corno Oliveira Viana e Azevedo Amaral.
Simetricamente, Os anos 30 viram urn grande interesse pelas
corrcntcs do esquerda, como se pôde ver no Cxito da Alianca Na-
cional Libertadora e certo espIrito genérico de radicalismo, que
provocou as repressOes posteriores ao levante de 1935 e serviu
como urna das justificativas do golpo de 1937. Muita gente se
interessou pela experiCocia da União Soviética, e as livrarias pulu-
lavam do livros a respeito, estrangeiros e nacionais. 4 Estes, devidos
a observadores entusiastas, coma Caio Prado Jtnior, simpáticos,
como MaurIcio de Medeiros, ou reticentes, como Gondim da Fon-
seca. Editoras pequenas e esforçadas divulgavam obras sobre anar-
quismo, rnarxismo, sindicalismo, movimcnto operário. Algumas,
do grando Cxito, como a Hisiória do socialismo c dos lutas sociais,'
do Max Beer, o ABC do comunismo, de Bukarin, ou o farnoso
Dcz dias quo abalaram a niundo, do John Reed. Ao lado, tradu-
coos do narradores engajados na esquerda, como Boris Pilniak,
Panai Istrati, Ilia Ehrenburg, Fiodor Gladkov, Michael Gold, Upton
Sinclair, Jack London.
Surgem ontão os prirneiros livros brasileiros do orieritação
marxisa: o polêmico Mauá; de Castro Rebelo (1932), e sobretudo
Evoluçao polIticado Brasil, do Caio Prado Jcinior (1934). F
assiin coma c espiritualisnia aingiu largos setores nao-religiosos,
o marxismo reporcutiu cm ensaIstas, ostudiosos, ficcionistas que
no erarn socialistas nem comunisas, nias se impregnaramda
atmosfera "social" do tempo. Dal a yoga dc nocOes como "luta
do classes", "espoliaço'', ''mais-vha", "moral burguesa'', "prole-
tariado", ligados a insatisfaçao difusa cm rclacao ao sistema social
dominante. Foram muitos as escrilores deciaradarnente de esquer-
da, como Graciliano Ramos, Jorge Anado, Raquel do Queirós,
Abguar Bastos, Dionélio Machado, Oswald do Andrade; ou simpa-
tizantes, como Mario de Andrade, 'Carlos Drummond do Andrade,
"No extenso e superficial debate de idéias socinis, litcrárias, artisticas e
cientificas (marxismo, psicanálisc, pós-moderriismo artistico etc.), que acorn-
panhou a vitória da tanibém extensa e superficial rcvuluciio de 1930, avul-
tava a interesse em tomb cia Russia fojada pela revoluco de oulubro de
1917" SALES GoMas, Paulo Emilio. Plaiafor nrn da nova geração. 29 figuras
da intelectualidade brasbicira prestarrl o seu de;oimento no inquérito promo-
vido por Mario Neme, Porto Alegre, Gloho, 5A892
190
José Lins do Rego (este, ex-integralista); ou que não cram unia
coisa nem outra, mas manifcstavam a referida consciência "social",
que os punha urn grau além do liberalismo quc os animava no
piano consciente, como Erico VerIssimo, Amando Fontes, Guiiher-
mino César.
Talvez essa radicaiização ainda tenha sido mais nItida num
certo scntido próprio daquela fase, que consistiaem procurar unia
ntitude de aniise e crItica em face do que se chamava incansavel -
mente a 'icalidade brasiicira' (urn dos conceitos-chave do mo-
rnento). Ela Sc cncarnou flOS "cstudos brasileiros" de hist&ria,
politica, sociologia, antropologia, quo tiveram incremento notávcl,
refletido ias colccOcs dedicadas a eles. Antes de qualquer outra
a "Brasiliana", fundada c dirgtda por Fernando de Azcvedo na
Companhia Editora Nacionril; c ainda: "Coleco azul", da Editora
Schmidt; "Problernas politicos coil tcrnporneos" e "Documentos
brasiieiros", da José Olvrnpio (esta, dirigida primeiro por Gilberto
Frcvrc c dcpois por OtIvio TarquInio do Sousa, ainda existe sob
a direçio de Afonso Arinos de Mclo Franco); "Bibliote.a de
cliri1'Jda por i\rlur Ranios, na Etlitoa Ci'
'ili/;lcI,)�Ir:lcll('ir;,�Ic.
Dcixando dc lado o cunho mais conscrvador de aigunias lestas
C ut' ohrws is I;uhis, uhgaiuins lie ,I �prpria-
menic dita, critica c . "prorcssista", tevecomo traços rnaissalicntcs,
"cttiu';i�.(i:ul", a�luci:i dc rcinlcrprcl:tr
i:uciival, t' Illtcrce I)C10 71 cltiits sotrc o negro e o CITIpUTIIIO ciii
cxpticai os fatos politicos do mornento. Quanto ao negro, é peciso
rncncionar a iniciativa cultural dos próprios "homens do cor", que
inclusive criararn ento urna imprensa muito ativa, não raro ligada
a organuzaçöes, conlo a Frcntc Negra Brasiieira. No dominib dos
cstudos fol decisiva a coiitribuiçao de Gilberto Freyre, a pariir do
Casa Grande & Senzala (1933) e do 1 , 0 Congresso Afro-I3rasi-
leiro, que ele organizou no Recife cm 1934. Antes houvera os
trabaihos da escola de Nina Rodrigues, na Bahia, sobretudo os de
Artur Ramos, quc .c toruou a grande autoridadc na matérià.
Corn refcrëncia a incrprctacão histórica, o ]ivro de Giberto
Freyre (apesar do peso siudosista de uma viso aristocrática)' fun-
cionou comb fermento radicahzante, modilicarido o enfoque racista
o convencional rcinante ate ento, sobretudo pela escoiha inovadora
dos instrurnentos de anhse, bern como dos documentos e fdtos a
191
estudar (papéis Intimos, jornais; mocia, a1imentac5o, maneiras, vida
sexual etc.). Discreta mas segura foi a contribuição do Sérgio
Buarque de Holanda em Yju´l} do Brasil (1935), que efetuou
uma crItica muito aguda das soluçöes autoritárias do passado e
do presente, ao mesmo tempo que quebrava o sentimentalismo
lusófilo (visIvel em Gilberto Freyre) e punha em dtivida a capaci-
dade das elites para o papel que so arrogavarn, e era urn dos temas
dominantes do momonto.
4 jpj{nlr{wnwáx mn Formação do Brasil conternporâneo, de
Caio Prado Junior, cm 1942, foi urna espécie de cu1niinaço desse
movirnento cultural, pois, bascando-se no marxisnio, deu realce a
vida econômica e chamou a atenço para as formas oprirnidas do
trabalho do urn ângulo estritarnente cconôrnico. Ao rnesrno tempo
desrnistilicava a aura quo envolvia cct'cos conceitos. corno "patriar-
cado" ou "elite rural", apresentando urna visilo ao mesmo tempo
ohjctiva e radical, que encarna as tendéncias mais avançadas do
pcnsarncnto rcnovador dos aims de 1930.
Lernbrc-se nesta chave o papei dos recém-fundados cursos so-
perioi'es do Fiiosofi3, Cincias Sociais, 1-listória, Lctras, bern corno
a difusäo do cnsino da Sociologia no nIve] rnédio. Isto contribuiu
para dcsenvo]vor o ospIrito, anaiutico nos estudos sobre o Brasil,
corn incrernento do interesse pelos grupos ate então nienos estu-
dados, oil estuidados corn ilnsöcs (JcfoI'TlT:ldloras: nithn do negro, a
Ir;it:illuailtr rutual, 6lulerirnt"csIe LuxxxuSu.0 f()i
decisiva a contribuiçio do professofes c pesquisadores estrangeiros,
tcnipor;iria oil cicliiiitiv,imcntc ratlicaclos no Brasil, coma Samuel
Lowric, Claude Levi-Strauss, Donald Pkrson, Roger l3astidc, Her-
bert Balduis, Pierre Defiontaines, Pirre Monbcig, Jacques Lambert,
I 'iiiiliii Witleujus etc.
6
As rnudanças na educação, na literatura e nos estudos brasi-
leiros repercutirarn na indüstria do livro, desdo o projeto gráfico ate
a difusio; mas sobretudo quanto i matéria preferencia] das suas
paginas, cada vez mais rcceptivas abs autorcs novos integrados nas
tendCncias do rnomento. Pode-se dizer uc, reciprocamente, essas
tendenctas foram estimuladas pclo livro rcnovado, na rnedida cm
quo os autores procuravam se ajuslar a preferencia da moda e dos
editores - coino, por exeniplo, a "romance social" e os estudos
brasileiros. (Em meados do decCnio do 1930 Plinio Barreto pôde
escrever que, assirn como na geraco anterior as jovens procuravarn
.-%
192
Sc afirmar atrnvés dc urn Ii'iro inaugural de versos, os de enlo
tcndian, a Jaz-To por nleio (10 cnsaio dc cunho sociológico.)
Ainda aqui estamos ante urn processo começado nos anos 20,
quando Monteiro Lobato fundou e desenvolveu a sua editora, mar-
cada por algtins traços inovadorcs: preferéncia quasc exciusiva por
aulurcs hr;tiTcirs 660 prcscnlc; illtcrcssc 1cius prohienias da hora:busca dc urna fisionomia material própria, diferente dos tradicionais
1)adr3cs franccscs c portugucscs; cslorço para vender por precos
accssfvcis scm quebra cIa quatidade editorial.
Mas sá depois de 1930 se gcncralizarja cm grande escala
este desejo de nacionaiizar o ]ivro e torná-lo j nstrurnento da cultura
mais viva do Pals. As cditoras procuraram inclusive criar urna
literatura diduica ajustada aos novas programas e aos ideals das
rcformas cducacjonajs. Consolidou-se deste rnodo o livro escolar
brasileiro para a nivel rnádio, atento as necessidades imediatas da
nossa cultura e procurando substituir a clássica bibliografia cstran-
geira do tipo coleçoes de F.T.D. e F.T.C., série Royal Readers,
História, de Raposo l3otelho, Matemática, dc Coniberousse, FIsica,
dc Ganot (ou do seu mau adaptador português Nobre), Qulmica,
de Bazin, Geologia, de Lapparent, História Natural, de Pizrn etc.
etc. A obrigaçao do cur.so seriado (anterior a Reforrna CaFnpos)
propiciou a aparecirncnto de series de livros para as difercnts ma-
térias, que antes eistiai'n sobretudo para o ensino prirná'io de
Português e Histórii Ptia.
Neste sentido destaa-se a atividade cia Corripanhia Editora
Nacional, de So Puio, slicessora de Monteiro Lobato & Cia: Con-
servadora cm literattira, publicou apenas as novas menos avancados
(Guilhernie dc Almeida, Cassiano Ricardo, Menotti del Pjchja,
Ribeiro Couto). Mts foi longe noutros terrenos, como se comprova
pela famosa "Biblioteca Pcdagogica Brasileira", talvez a mais
natávei empreendirriento editorial qua o Pals conheccu atéhoje.
Ideada e durante mitito tmpo dirigida por Fernando de Azvedo,
abrangia colecoes de livro didáticos, atualidades pedagógicas,diVUl-
gacão cieritIfica, lite'ratura' infantil e estudos brasileiros. Estes ilti-
mos constitujram a "Brasiliana", ainda em atividade, que fi urn
marco dec.isivo, no apents pela reediço de ciássicos estranejros
e nacionais, nias pelo estimulo aos COntemporâneos.
Importante foi a atuiçlio da Editora Globo, (IC Porto Alegre,
qua passou cia livro cIiditico para a lileratura, divulgandi, Os liovos
vulrcs do Rio Grande cld Sol c urna c]uantidacic de autores etran-
geiros con tcmporflncos tuilo isso corn a rolahoraçan d lrirn \7 'rls-
dIflhI�''Hull�"lliu'l'IIuijni�eilIiilIj U I�'�, uluiIH�A�Iuliii
193
gratuitamcntc, a tItulo de propaganda, o foiheto periódico W{náx n
Brrnico, quo dcscrnpcnhou uma boa tarcfa dc popuIarizacio cultu-
ral pelo Pals afora, graças ñs noticias informativas C crlticas sabre
escritores brasileiros e estrangeiros editados pela casa. No geral
gentc pouco difundida antes, como Joseph Conrad, Thomas Mann,
Sorncrscl M;utgluirn, Alciotis I Ttixlcy, Lion Fcuchtwangcr, William
Faulkner, Charles Morgan, Rosamond Lehman, Sinclair Lewis,
Ernst Glacscr etc. dc. Mais tarde cia chcgaria aos ernprccndirnentoc
monumcntais qua foram a traduciio cia Cornédia humana, de Baizac
(sob a direção de Paulo Rónai) e do A busca do tempo perdido,
de Marcel Proust.
No Rio algumas pequenas editoras exerceram papel importante:
Adersen, Schmidt, Arid (quc publicava a famoso Boletim), segui-
das logo depois por uma grande editora, sob vários aspectos a mais
caracterIstica do perlodo - a José Olympio. Estas casas confiaram
abertamente no autor nacional jovem e, assim, permitiram a difusão
da literatura moderna. Confiaram tambCm nos jovens artistas, que
trouxeram para as capas e ilustracães as conquistas das artes visuais
do clecênio anterior, incorporando a sensibilidade media a que antes
ficara confinado aos amadore; esciarecidos. Assim, insensivelmente,
o leitor se farniliarizou corn o Cuhismo, a Prirnitivismo, o Surrea-
lismo, as estilizaçôes do Realismo - nas capas de Santa Rosa,
Cicero Dias, Jorge de Lima, Cbrnélic Pena, Fülvio Pennacehi,
Clóvis Graciario, João Fahrion, Edgard Koetz e outros, para elas e
autras editoras. Nos anos 20 ista ocorrera em esca]a bern restrita,
através dc aigumas capas de Di Cavaicanti, Tarsila do Amaral,
Brechcret, Flávio de Carvalho, para uns poucos iivros de Maria d
Andrade, Oswald de Andrade, Rdul Bopp.
No centro deste mavimento, )osé Olympia pode set conside-
rado verdadeiro herói cultural, pelo arrojo e a amplitude corn qua
estirnulou e editou os novas, bern coma pelo estilo das capas de
suas edicôes, criadas sobretudo por Santa Rosa em suas diversas
fases. A mancha calorida corn a desenho central em branco e preto
se tornou nos-anos 30, par todo o Pals, a sImbolo da renovaçao
incorporada ao gosto pdblico.
Como uma espécie de ilha aftesanal e graficamente conserva-
dora, nessa onda de industria1izaçio e atuaiizacão editorial, funcia-
nou em Bela Horizonte, por iniciativa do Eduardo Frieiro, a prin-
cipio a Pindorarna, depois a Aniios do Livro, mantidas par coti-
znçcs rncnsais qua davam clireito i ccliciia periôdica do urn volume.
Deste modo foram editadas algunias obras importanics de Carlos
Driummond do Andrade, Joio Aiphonsus, Emilio Moura, Ciro dos
I'll-.
195
194
7
Dc mancira craI a rcpercussIo do movirnento rcvolucionirjo
dc 1930 na cuIura foi positiva. Comparacla corn a de antes, a
situac5o nova rcpresentourande progresso, embora tenha sido
pouco. cm face do Clue se esperaria de urna vcrdacleira revoluço.
S pcflsarriios no "povo pobre" (corno curia Joaquim Manuel dc
Maccdo ) . ou seja, a ma oria absoluta cia Naco, foi quase nada.
Mesmo pondo enlrc parnteses as rnodificaçocs Clue poderiam ter
ocorriclo na cstrutura econOmica e social, para ele a Clue se impunha
era a implaatação real do nstruclio prirnria, corn possibilidade de
aCcsso futuro aos outroS niveis; C cia continuou a ating!-10 apenas
dc raspio. Mas Sc pensarmos nas camadas interrnediárias (quc
aumentararn dc volume e participaç5o social depois de 1930), a
rnelhora foi sensIvel graças i clifuso do ensino media e técoico,
quc aurncntou as suas possihilidades dc afirmaçño c rca!izaç5o, de
acordo corn as neccssidacics novas do dcscnvolvirncnto cconômico.
Sc, finalmentc, pensarnios nas chamadas elites, verificaremos o
randc incrcmcnto de oportunidades para ampliar c aprofundar a
cxpericncia cultural, inclusive corn aquisiçio de urn carte progres-
sista par alguns dos 'scu- setores. Este fato nio poderia dekar de
rcpercutir no societladc par causa do papcl quc as elites dccempe-
nhavarn - ninito grancte devido extrema privaço culidi-al do
Pals. A qualidade c gran dc Cousciéncia dos deteotores cia ultura
e do saber tornavm-se elcmentos de peso, porque eles podiam
assuniir a funço de "delegados" cia coictividade. Dc urn laJo isto
servia de prctcxto jara inanter posiçöes priviicgiadas, corn :1 COfl-
seqücntc sujciçio das cámadas dominadas (que niio erarn cultas
acm "prcparadas" para dirigir a seu destino, segundo a idCologia
rein ante), Mas sob o pouto de vista estritarnente cultural, podia ser
oportuniclade dc servir como velculo possivel para manifear os
interesses e necessidades dc expressio dessas camadas. Desde o
pensador politico que formula urn ideário radical, ate a artista que
canstrói estruturas por rneio das quais se manifesta o humano,
acinia dos intcrcsses de blasse, muitos setores das elites puderam
(e podern) encontrar unia aita justificativa para a sua atividade.
AlCrn disso, depois dc 1930 se esboçou uma mentalidadc mais
democrtica a respeito da cultura, Clue começou a ser vista, pelo
mcnos em tcsc, conic dicito dc todos, contrastando corn a viso
dc tijic) aFi.StoCrttiu() qtic ;eiuprc liavi:t precIniiiitcIa no Brasil, cuni
nina (ran(Iiiilid;idle dc coiiscieilcia (tic nan perturl)ava a paz de
cspirito de quase nin(',uérii. Para csta visiio iradtinn:tl. as 1irm:i..i
' I'�ilti,�-66662�I'uuiIj�Ijilia�ii'
equiparnento (que se transfcrrnava cm direito) para a "misso"
que lhes competia, em lugar do povo e em seu name.
0 nova modo dc ver, mesmo discretarnente rnanifcstado, pres-
supunha uma "desaristocratizaçiio" (corn perdo da m'á palavra)
c tinha aspectos radicais Clue nio cessariam dc se reforçar ate nossos
dias, desvenclando cada vez niais as contradicoes entre as formu-
iaçes idealistas da cultura c a tcrrIvel rcalidadc do sua fruicio
ultra-restrita. Por extensljo, Iiouvc ma j or consciôncia a respeito this
contradiçöes da prdpria socicdade, podendo-se dizer que sob este
aspecto as anos 30 abrem a fase moderna nas concepçöes de
cultura no Brasil.
Urna das conseqihncias foi o conceito de intelectual e artista
como opositor, ou seja, quc a seu lugar é no lado oposto da ordern
estabelecida; e que faz pane da sua natureza adotar uma posiç5o
crItica em face dos regimes autoritários c da mentalidade conser-
v ado r a.
No entanto, cstc processo foi ehcio dc paradoxos, inclusive
porque o intelectual e a artista foram intensaniente cooptados pelos
govcrnos posteriores a 1930, devido ao grande aumento das ativi-
dades estatais e as exigências de uma crescente racionalizacäo buro-
crática. Nem sempre foi f'icil a colaboracLo srm submissão de urn
intelectual, cujo grupo se radicalizava, corn urn Estado de cunho
cada vez mais autoritário. Resultaram tcnsöes c acornodacöes, corn
incremento da divisão de papéis no mesmo indivIduo. Sérgio Mi-
celi estudou as aspectos externos desta situaçAo num iivro pianeiro
— act qual seria preciso todavia acrcscentar que a serviço püblico
não significou e n5o significa neccssaniamente identificaçIbo con- as
ideologias e interesses dominantcs. 5 E que urna análise mais corn-
pieta mostra como a artista e 0 esr3nitor aparentemenic cooptados
sIlo capazes, pela própnia natureza da sua atividade, de desenvolver
antagonismos objetivos, nIbo rncramente subjetivos, corn relaçIlo a
ordem estabelecida. A sua rnargcrn de oposicIbovem da elasticidade
major ou rnenor do sistema dominante, que as pode tolerar scm
que eles deixem corn isto de exercer a sua funçao corrosiva. Assim,
durante a ditadura do Estado Nova, depois de 1937, Cândido Par-
tinani, cumprindo encomenda oficial, pintou no Ministério da du-
cacao os famosos murais Clue, fela conccpçIbo, temario e técnica,
cram a negacIlo do regime opressor, ao mostrarem coma repre-
sentante da producIlo a trabaihador, nIb a patrlio, a negro, nio a
Micui.i, Srgio. Pwulunl1éãs} C clw.vt .wtâtgp/çp!yz!wRâôãt&!(5A6415A89.2 So
Paulo, Difel. 1979. Vein-se tarnhCrn a nn,'ifisc realmente notbvel sobre a
,Il�IVi�fill� iijiititi�Ii�.\tI�ittri,j�ti�jj 'ii�1�I
ii�liii�u'iji'�Ii�iiiiilllI .,Ii�ti.liiiI.'�t if�1,1111;
flkyg
196
branco, e ao rj´ê1'x conlorme urna fatura que afirmava a inovaçio
criadora contra as norrnas tradicionais, dc agrado dos poderes. E
o quc sugerc Annateresa Fabris nuina análise precisa e rnatizada.
iJ \'imos também quc muitos inteicctuais sign ificativos daquelc
mornento, mcsruo scm qita!qucr deflnição ideol6gicl explicita, par-
ticipavam ciutn lipo de consckmcia critica identificada aos ternas c
atitudcs radicais. E quc, apesar das discrepãncias (dentro de cada
indiviluo) cntrc estas c os autornatismos conservaciorcs, cngrossa-
ram o que se poderia charnar o "espIrito dos anos 30". Sobretuclo
levanclo cm coata quc gracas a des Sc instalou no Brasil urna silua
ço de ambigudadc, que levaria aos csforços para superá-la.
Mencionernos para tcrminar algurnas conscqüncias forniais
cia "conscincia social" dos escritores e artistas, que foi bastante
caractcristica daquele mornento, ruesmo antes do Congresso de Kar-
kov (1934) ter apresentaclo o "realisnio socialista" cnio padro.
'1'raa-se do scuinte: a prcocupaco ahsorvente corn os "pro-
blcnias" (da mente, cia alma, da socicdadc) icvou tnuitas vezcs a
certo desdern pela elaboraçdo formal, o que foi negativo. Posto
em absoluto primeiro piano, o "probierna" podia relegar para se-
gundo a sua organizacño estética, e é o quc scntimos lendo muitos
cscritorcs e criticos da época. Chcga-se a pensar que para des não
era nccess;'ir,o, e ájFçl´ ate fosse prejudicial, fundir dc mancira
válicia a "matéria" corn os rcquisitos da "fatura", pois csta poLieria
atrapaihar eventualmente o impacto humano da outra (quandb na
verdadc é a sua condiço).
Esta atitude, bern caracteristjca dos anos 30, se explica em
boa pane pcla referida passagem do "projeto estético" ao "prôjeto
ideológico" no processo niodernista (Lafetá), e por aI COfltaSta
corn a posiço dos modcrnjstas do decênio de 1920, bascadt no
csforço para discernir a correlaço matéria-fatura. Leia-se, par
cxcmplo, a nota prévia de Jorge Amado a Jjljã (1933):
Tentci contar ncstc Iivro, corn urn minimo de literatura para urn
mixima de honestidadc, j vida dos trabaihactores de cacat.i dosul da Bahia.
0 leitor fica corn a impressio de que "honestidade" é pouco
compativel corn "literatura", e que esta (aqui, sinônimo de clabo-
Fnius, Arjnatcrcsa Yzâçtyâu!{tâtwzâ!ãzntlw3!\ãz!Paulo, Universidadc de
São Paulo, Escola de Comunicaçoes e Artes, 1977. Dissertaçiio de Mestrado,
mimeo. A autora focaliza a pintura social de Portinari a luz da tcoria mar-
xista da alicnaçao, analjsando o tratamento revolucionário do negro, cujafunção ern telas c painis dos anos 30 'é uma afirmação racial, urn reco-nhecimcnto do sen papel histórico, é simbolo do proietariado" ( p . t76).A analise do assunto é feita da p. 174 a p. 198.
ração formal) tende a ser urn enbuste que atrapalha o enfoque
certo da realidade. Outros autorcs mostravam ter consciência dos
requisitos da produço literánia, mas na prática a sua escrita per-
manecia no nIvel cursivo quc parecia ignorá-]os - corno Abguar
Bastos, cot cujo romance Safra (1937) IA um ]cicido prefécio onde,
depois de informar que vai descrever a vida dos apanhadores dc
castanha da Amazônia, pondera:
Porém, devo advertir o seguinte; urn romance perrnite que se Ihe
adivinhern os pianos, quando se trata de reconstituir qualquer
fasc da cxistência humana, Mas cvita que des surjam, a flor do
texto, corn urn ar de delibcração.
SIntese de acontecimentos que não perde de vista o fundo mais
nobre das suas paisagens: cis o romance. Assim sendo, o seu
material não so é intrInscco ao scgrcdo da sua forma, corno prolbe
uma seqiiéncia de arte que não se revele muito naturalmente.
Dcsse rnodo o piano do livro, isto é, a sua intenção social e a sua
aparncia artistica, sc rnisturani scm que urn perccba o outro. Não
scrá corno a água c o azeitc. Será, antes, como a luz e a cor.
Estas consideraçöes mostram consciência clara do problerna
essencial na elaboraçao Jiteréria; mas cornparadas corn a reali-
zação, em seu autor e muitos outos, ficam mais como alegaçio
ritual; c as "pianos" (isto d, as intuitos, as convicçöes) acabam
absorvendo o resto, como uma "tese" a ser "ilustrada" pela ficco.
Poucos, naquele perIodo, tiverarn a capacidade de corresponder ao
prograrna tracado par Abguar Bastos: Graciliano Ramos,Dionélio
.Machado, alguns mais. E pouquissimos puderam unir a formuaçao
critica adequada a realizacäo correta, como se observa num vete-
rano do decônio precedente, Mario de Andrade.
0 quc houve mais foi preocupaçao de discutir a pertinência
dos temas e das atitudes ideológicas, quase ninguém percebendo
como urna coisa e outra dependern da clahoraçao formal (estrutural
e estilIstica), chave do acerto em arte e literatura. E note-se que
isto não foi prOprio dos escritores e artistas de esquerda, on radicais
no sentido amplo. Ocorreu também nos outros, inclusive as tie
direita, devido ao mesmo desvio obsessivo rumo aos "problemas",
bastando pensar no aspecto pouco elaborado tie obras ambiciosas
e nao desprovidas de forca, como a de Otávio de Faria, que se
tornou urn crItico acerbo do Modernismo e dos ternas "sociais",
defendendo a concentraço nos dc cunho religioso, moral e psico-
lOgico, que praticava no entanto corn total insensibilidade em rela-
cão aos aspectos de fatura. Tan to no caso da ficçao espinitualista
quanta do "romance social", a imerso nos "pthnos" (sentido de
Abguar Bastos) como aspecto dominante conduzia ao espontâneo,
que no limite 6 o inforine.
i .:.�.
:L
198
Na poesli, houve fenômeno paralelo, mas diferente, que foi
positivo: a tensio entre o verso (elaborado segundo as regras) e o
nib-versa (livrc, em vários sentidos). Poetas coma Drummond e
Murilo Mendes parcciarn reduzir o verso a urna forma nova do
expressibo, cl ue incorporou as qua]idades da prosa e funcionou coma
instrumento adequado para cxprimir a dilaccramcnto da consciên-
cia estética. Sob este aspecto eles prolongararn a qxperiência ma-
dernista dc apagaincoto das fronteiras entrc os gneros, que fora
cinpreendida nos anus dc 1920 sobretudo per Oswald do Andrade
(cujo Serufim Ponie Grande, albis, foi publicado cm 1933); c quo
nos anos 30 encontrou manifestacao curiosa no irrcalizado 0 anjo,
dc Jorge do Jima (1934).
()�'tsIi,�1111�iieii,s�ri�li,le ;111_i:i�Llii�itluttiti,�ii�tan-
-art/stico (cm rclaçiio aos padröcs da tradiç/io cu flOS da variguar-
tla) , levoti por vezcs a si tervalorizar cscrilcircs quc parcciarn ter a
virtudc do cspontâneo; e a não reconhecer devidamente certas
obrac (IC i:ttiira rcqtiiiitada. itias (lecprov(lac (l(' (Icololgil oStnnSiVa.
�
(lIlt) ON ,,,tov, (IC l)iiinilio Macli:i&lii ( I�) nit() (I000IIIL;l.5I
Bc/ni/ru, de Ciro dos Atijos (1937). F talvcz urn artista do grande
nIvel, coma Graciliano Ramos, tenha sido mais valorizado pelo
tcrnziro, cunsiderado inconformista c contundcnte, do clue pelt rara
qualidade do fatura, quo lhc perniitiu fazer obras realmentc vilidas.
Post Scriptztni: Aqui foram abordados alguns aspectos da vida
cultural posterior a 1930; mas haveria muitos outros, relatives ao
teatro, radio, cinema, ni'isica, quo escapam ii minha comnpetência.
Lcmbro apenas que na rnisica popular ocorreu urnproccsso equi-
valcnte dc "gencralizacao' c "normalizacão", so quo a partir das
esferas populares, rurno as camadas médias e superiores. Nos
anos 30 e 40 par cxcmp]o, o samba c a marcha, antes pratica-
monte confinados nos morros e subOrbios do Rio, conquistaram a
Pais e todas as classes, tornando-se urn pao-nosso quotidiano dc
consumo cultural. Enquanto na g anos 20 urn mestre supremo como
Sinhô era dc atuacibo restrita, a partir do 1930 ganharam escala
nacional hornens coma Noel Rosa, Ismael Silva, A]mirante, Lamar-
tine Baho, Jolia di Bahiana, Nássara, lo go de Barro e rnuitos
outros. Elcs foram a grande cstimulo para a triunfo avassalador
da mibsica popular nos anos 60, inclusive do sua interpcnetração
corn a pocsia erudita, numa qucbra de barreiras quc é dos fatos
mais importantcs da nossa cultura contemporânea c comcçou a
Sc definir tins anos 30, corn a intcrcsse pelas coisas brasilciras quc
sjccdei rw niovin1tltc :cvolucinnario.
FY
A NOVA NARRATIVA
I
Pelo mundo afora, quando se menciona a "nova narrativa
latino-arnericana", pensa-se quase exclusivamente na producäo do-
veras impressionantc de bc/os as autores espalhados cm todos as
palses da America qtie falamn a lingua espar.hola, isto C, dezenove,
se não estou enganado. Urna unidade conipósita, maciça e pode-
rosa, em face da qual, hum segundo momenta, lembra-se que cxiste
uma unidade simples quo fala partuguês c C precisa incluir, a fim
de completar a panorama. F ento so juntam alguns names, em
geral Guimares Rosa e Clarice Lispector.
A mcsrna caisa acontece no Brasil, onde, quanclo se mcnciona
a referida narrativa, pensa-se na producao dos nossos parentes dc
idioma espanhol, cm geral corn urn senso unificador e mesmo sim-
plificador que permite considerar coma aspectos do mesmo fenO-
mcrio a mexicano Rulfo, a colombiano Garcia Mrquez, a peruano
Arguedas, a paraguaio Roa Bastos, a argentino Coctázar, conside-
rando-se caso a parte as nossos próprias escritores, que so depois
de alguma reflexao a gente se esforca par integrar no conjunto.
A Espanha cstilhaçou-se nurna pocira do naçöcs nrncricanas
Mas sabre o tranco sonora da lingua do ão
Portugal rcuniu vintc dons orqudeas dcsigunis,

Outros materiais