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46 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
VULNERABILIDADE FAMILIAR E 
ACONSELHAMENTO PASTORAL
VULNERABILITY FAMILY AND PASTORAL COUNSELING
José Neivaldo de Souza.1
RESUMO
São muitos os desafios colocados à família contemporânea. O presente artigo 
traz uma reflexão acerca desses desafios, porém submetendo-os à orientação 
cristã. Seu objetivo principal é levar o leitor a questionar a realidade familiar, 
os conflitos existentes no seu interior e pensar novas saídas. O método consiste 
em trazer à tona a realidade da família hoje, modelos e conflitos; depois, 
enxergar a família como vulnerável e, à luz da Palavra de Deus, buscar luzes 
que iluminam os seus passos; por último, trazer dicas práticas àqueles que se 
colocam à disposição nesse campo pastoral. 
Palavras-chave: Família; crise; terapia; Jesus; harmonia.
ABSTRACT
There are several challenges facing today´s family. The present article 
provides reflection on these issues, however, submitting them to the Christian 
orientation. Its main purpose is to lead the reader to discuss the reality of 
the family, the existing inner conflicts, and search for new solutions. The 
method consists in bringing the family issues to light, models and conflicts; 
seeing its vulnerability and searching ways to face the challenge in the light 
of the word of God. Finally, providing basic tips to those who put themselves 
at the disposal of the pastoral care work.
Keywords: Family; crisis; therapy; Jesus; harmony.
1 José Neivaldo de Souzaé mestre em filosofia e doutor em teologia pela Universidade 
Gregoriana de Roma – Itália. Mestre em psicologia clínica com concentração em 
psicanálise. É professor da FTBP (Faculdade Teológica Batista do Paraná): pós-
graduação e mestrado em Teologia e FEPAR (Faculdade Evangélica do Paraná). 
E-mail: Neivaldo.js@gmail.com.
47Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
Introdução
O filósofo Hans Jonas, parafraseando Kant, nos deixou um 
imperativo moral, fundamental no debate sobre a vida futura e 
o agir no mundo hoje: “Age de tal maneira que o efeito das tuas 
ações não coloque em risco a possibilidade de vida no futuro”. No 
século XVIII, Immanuel Kant, filósofo alemão, à luz do Iluminismo, 
percebera que há, no ser humano, tão certo como o céu estrelado, 
uma lei moral ou um imperativo categórico que cobra dele um 
“agir” local e um “pensar” global. Nas palavras de Kant: “age 
como se a máxima de tua ação devesse tornar-se mediante tua 
vontade a lei universal da natureza”2. É nessa direção que Jonas nos 
convida a caminhar. Para esse filósofo, há dois problemas éticos 
dignos de serem pensados globalmente e praticados localmente: a 
vulnerabilidade da existência e o cuidado com a vida. 
Quanto à vulnerabilidade da existência, entramos no século 
XXI com o sentimento de que a existência, as pessoas e os valores 
essenciais para uma vida feliz são relativos. Esse sentimento se 
mostra na expressão de Bauman ao tratar da “vida líquido-
moderna”. Segundo ele, tudo é tratado como descartável, e isso 
é retratado na produção do luxo e do lixo: “livrar-se das coisas 
tem prioridade sobre adquiri-las”. Segundo sua percepção, e nos 
parece bem sensata, vivemos em tempos onde o cidadão perdeu a 
capacidade de esperar devido à ideologia do “imediatismo”. A lei 
do mercado é esta: produção e consumo imediatos:
A sobrevivência dessa sociedade e o bem-estar de seus membros 
dependem da rapidez com que os produtos são enviados aos 
depósitos de lixo e da velocidade e eficiência da remoção dos 
2 Cf. trad. MARCONDES, Danilo. Rio de Janeiro: JZE, 2000, p. 121. 
48 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
detritos. Nessa sociedade, nada pode ter permissão de se tornar 
indesejável. A constância, a aderência e a viscosidade das coisas 
tanto animadas quanto inanimadas, são os perigos mais sinistros 
e terminais, as fontes dos temores mais assustadores e os alvos 
dos ataques mais violentos.3
Nesta direção, o bem-estar físico, psíquico e espiritual exige 
respostas imediatas e, se uma não serve, passamos à outra, etc. 
Entramos numa dinâmica onde tudo o que diz respeito à vida é 
“vulnerável”: os dogmas religiosos, as relações sociais e familiares, 
a “normalidade” psíquica e a natureza. 
Quanto ao cuidado com a vida, devido ao real que invade, 
o que nos resta é uma ética que cultive e insista na “fortaleza” dos 
valores e das coisas. Sob a orientação bíblica é possível encontrar 
luzes para uma vida saudável e comprometida. A produção de 
sentido deve sobrepor à produção do lixo. São vários textos, do 
Primeiro e Segundo Testamentos, nos levam a uma reflexão séria 
sobre a existência e a melhor forma de viver. 
A partir desses pressupostos, perguntamos: e a família, como 
vai? Enquanto núcleo social ela sofre os impactos da “modernidade-
líquida”. Haverá uma ética capaz de resgatar ou fortalecer valores 
antigos, mas essenciais à convivência familiar? Urge uma ética do 
cuidado capaz de transformar o ser humano e suas relações. O 
filósofo Albert Camus entendia que a melhor ação do pensamento 
é o pensamento em ação. Dizia: “um pouco de pensamento afasta 
da vida, mas muito pensamento retorna a ela” e “só há uma ação 
útil, aquela que recriaria o homem e a terra”.4 Uma ética do 
cuidado versa sobre a vulnerabilidade da vida e busca, de forma 
3 BAUMAN, Zigmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, pp. 8-9.
4 Cf. CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Rio de janeiro: BestBolso, 2010, p. 23. 
49Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
responsável, pistas e novas perspectivas para recriá-la. 
É preciso garantir às gerações futuras o direito não só de 
existir, mas de ser feliz. Pode a felicidade se reduzir ao bem-estar 
físico? Como a bíblia pode ajudar na formação de consciência 
crítica hoje? Como orientar bons terapeutas para o trato com as 
dores e as dificuldades familiares? São questões pertinentes a serem 
pensadas aqui. O cuidado com a família aparece nos evangelhos 
através do cuidado com as pessoas. São elas que constituem, não 
só a família humana, mas a família de Deus neste mundo. 
1. Vulnerabilidade familiar: uma realidade a ser observada
Há famílias na cidade e no campo, ricas e pobres, 
tecnologicamente instruídas e analfabetas, com muita ou pouca 
experiência de vida, etc.. Todas vulneráveis, pelo fato de viverem 
numa sociedade que se orgulha de dizer-se “líquido-moderna”. 
Cercada de todo lado por problemas psíquicos, sociais e religiosos, 
a família se vê diante de grandes desafios e, muitas vezes, sem 
saber o que fazer em relação a questões importantes da vida 
como: origem da vida, aborto, eutanásia, reprodução em vitro 
e manipulação de embriões. Como pensar a família a partir da 
vulnerabilidade e o cuidado? Que ações podem favorecer valores 
como: autoridade, segurança e diálogo?
Há uma crise generalizada no que se refere às instituições 
responsáveis por garantir aos cidadãos, no campo individual 
e social, mais saúde, educação e segurança. A família, entre 
estas instituições de valores, se encontra aí, sob uma ideologia 
utilitarista, brutal e inumana. Muitas vezes, o que deveria ser 
lugar da acolhida e de formação de pessoas, muitas vezes se torna 
50 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
lugar de preconceito e abandono. 
As modernas tecnologias têm provocado conflitos de 
gerações, e as relações familiares vêm sofrendo bombardeios 
diários, principalmente no que tange a questões de autoridade. 
Não podemos mais afirmar que há um só modelo de família e que 
os conflitos são sempre os mesmos. Modelosdiversos e conflitos 
também diversos. 
Uma jornalista da Agência Brasil, Débora Zampier,5 há 
dois anos, constatara que os problemas familiares estão entre 
os conflitos mais acirrados na sociedade brasileira. Nessa época, 
segundo ela, tais conflitos, juntamente com problemas no trabalho 
e com os vizinhos, respondiam por 52% entre os problemas mais 
graves no Brasil. Sua pesquisa, acompanhada pelo Instituto de 
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revelava que, entre os 
conflitos ligados à família, ao trabalho e aos vizinhos, a primeira 
liderava o ranking com 24,86%. Boa parte deles é encaminhada à 
justiça, apesar da maioria não gostar desse procedimento. Hoje os 
números não são diferentes. 
Entre as crises familiares, em geral, constatamos que a de 
autoridade, seja ela materna ou paterna, é mais comum. Como 
anda a autoridade dos pais ou tutores em relação aos filhos, gerados 
ou adotivos? Na família, a autoridade, não necessariamente é 
exercida pelos pais, na falta deles, os tutores constituídos exercem 
esse papel. 
Os censos demográficos apresentam uma crise na família 
tradicional e ressalta o surgimento de um novo modelo de família: 
5 Cf. http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-05-31/problemas-de-familia-sao-
conflitos-mais-comuns-enfrentados-pelo-cidadao-mostra-ipea acesso 27\09\2013.
51Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
“tentacular”. São famílias, monogâmicas, cuja autoridade se 
limita a apenas um adulto ou a uma liderança compartilhada, que 
tem como desafio a convivência com pessoas diferentes, vindas de 
outras famílias. 
Segundo a psicanalista Maria Rita Khel6, o surgimento 
desse novo modelo se dá devido a algumas razões: o mercado; 
o achatamento de salário dos homens e as oportunidades de 
trabalho para as mulheres; a independência econômica feminina 
e a perda de poder aquisitivo dos homens; a expansão dos meios 
de comunicação e, por fim, observa Maria Rita Kehl, o que foi 
mais decisivo para minar o núcleo da família tradicional patriarcal 
é a instabilidade conjugal: “a democratização das técnicas 
anticoncepcionais possibilitou às mulheres diversificarem suas 
experiências sexuais, desvinculando a sexualidade feminina dos 
avatares da procriação. As mulheres passaram a incluir a satisfação 
sexual entre os requisitos para a escolha do cônjuge”.
O modelo “tentacular”, no que diz respeito à autoridade, 
muitas vezes não deixa claro quem é o adulto responsável pela 
provisão e educação da criança, isso por motivos diferentes: seja 
por sentimento de culpa por não ter dado à prole o direito de 
viver numa família “harmoniosa” e “feliz”, sob os cuidados do 
pai e da mãe ou, seja pelo fato de não querer repetir os “erros” 
da primeira união e, por isso, deixam à deriva a lei e os limites 
a serem colocados aos filhos. Ocorre também que os pais da 
antiga união têm o direito de conviver com seus filhos e acabam 
influenciando, ainda que indiretamente, as relações familiares do 
novo lar.
6 Cf. Entrevista à Família Cristã, ano 77; n.905. São Paulo: Paulinas, maio 2011, p. 19.
52 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
Também, em relação às novas descobertas científicas, a 
“função paterna” enfrenta desafios relacionados à maternidade, 
ao controle de natalidade, à fertilização in vitro, etc. Novas 
descobertas científicas e tecnológicas ajudam a controlar a 
maternidade de tal forma que uma mulher pode recorrer a uma 
produção independente sem ter que conviver com o pai da 
criança: a mãe se assume como pai. Às vezes, essa confusão de 
papéis faz com que a autoridade seja tomada de forma radical 
entre autoritarismo ou anarquismo. 
A crise de segurança é um dos desafios colocado à família 
hoje. Não são poucos os filhos que, chegando à maioridade, têm 
dificuldade em sair de casa para construir sua família. Há uma 
insegurança lá fora e, muitas vezes, há uma forte ilusão de que 
dentro da casa dos pais é o lugar mais seguro para estar, pois nada 
é cobrado, e os pais já não exigem deles como antes. O chamado 
“ninho cheio”, que muitas vezes expressa o medo dos filhos de se 
desapegarem financeiramente e emocionalmente dos pais e a falta 
de autoridade destes em relação aos filhos constituem um grande 
desafio para a família hoje. 
Como se não bastasse a insegurança econômica, há a 
insegurança em relação à violência estabelecida. Estamos ligados 
24 horas por dia às notícias, e elas nos chegam em tempo real. 
Há agressões que chegam via tecnologia e são do tipo psicológico, 
sexual e moral. A falta de limites colocados em relação à realidade 
virtual pode colocar em risco a segurança dos filhos já que na 
internet há a possibilidade do uso indiscriminado de sites de 
pornografia, pedofilia e incitação ao terrorismo e à violência. 
A Modernidade trouxe às novas famílias uma moral 
53Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
baseada no lucro individual: Adam Smith pensou uma sociedade, 
primeira a inglesa e depois o resto do mundo, segundo a qual 
o enriquecimento da nação depende única e exclusivamente 
do lucro do individuo. A vida tornou-se uma corrida maluca e 
desenfreada em busca do lucro. Para a Economia Liberal o que 
importa é não perder tempo: “Time is Money”. Não há mais 
um momento familiar, os horários para as principais refeições, 
principalmente nas grandes cidades, quase não existem mais. 
Cada um cuida de si. Quando não comem fora, vão para a sala de 
televisão ou para frente do computador. O espaço para o diálogo 
fica comprometido. Em muitos lares, a mesa de jantar é menor do 
que a mesa do computador.
2. Busca de orientações a partir de uma hermenêutica 
bíblica 
Os valores mudam de acordo com a sociedade e a cultura. 
Essa realidade se constata em muitos lares: a falta de comunicação 
e de trocas de experiências entre pais e filhos cultiva uma espécie 
de individualismo, estabelecendo uma carência de amizade e 
cumplicidade; uma carência que, muitas vezes, leva à ansiedade e 
à necessidade de procurar fora o que poderia ser encontrado em 
casa: a alegria de viver. O desamor pode levar o casal e os filhos a 
buscarem satisfações no álcool, drogas e outros prazeres que não 
resolvem o problema da falta. Como sair desta? A Bíblia pode nos 
indicar saídas para uma vivência mais concreta e harmoniosa?
Encontramos textos bíblicos para qualquer situação: 
angústia, ansiedade, desespero, alegria, gratidão, etc. Entre esses 
textos encontramos alguns que não só nos ajudam a refletir 
54 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
sobre nossas dificuldades e limitações, mas propõem pistas para 
uma ética da libertação. Uma ética que ajude a transformar vidas 
no meio familiar e, consequentemente, na sociedade.
Deuteronômio (6.5-7) diz: “Amarás, pois, o SENHOR, teu 
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua 
força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; 
tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua 
casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”. 
O livro do Deuteronômio, encontrado durante a reforma 
do templo, sob o reinado de Josias, resgata uma lei antiga, a 
de Moisés. Esse resgate aponta para o século VI a.C., época de 
confusão religiosa, corrupção política e moral originada sob o 
governo de Manassés.7 As famílias israelitas se viam perdidas 
e inseguras. Haviam perdido a fé em Deus e a esperança no 
ser humano. Muitas viviam afastadas, vivendo uma moral 
estranha aos dez mandamentos; inseguras, buscavam em falsas 
autoridades, políticas e religiosas,um sentido para suas vidas. 
A reforma do rei Josias foi religiosa e social. Reformou o 
templo, centralizou o culto em Jerusalém e multiplicou cópias 
da Torá, as Escrituras, a fim de educar as famílias, segundo 
a autoridade divina e a tradição judaica. Para o rei, a família 
israelita só se sustentaria no seguimento das leis de Deus. A 
certeza dele tinha na base o canto do salmista que diz: “Se o 
Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; 
Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl 
127.1-2).
7 Cf. KRAMER, Pedro. Origem e legislação do Deuteronômio. São Paulo: Paulinas, 
2006, p. 24-32.
55Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
Jesus, seis séculos depois de Josias, entendeu a reforma do 
rei. Ele não quis negar a lei, mas sim dar sentido a ela. Os verbos 
“renunciar”, “denunciar” e “anunciar” expressam claramente 
seu ministério. Jesus renunciou ao poder, à riqueza e aos prazeres 
constituídos como “bons”. A “Boa notícia” sobre Jesus, trazida 
por Lucas (4.1-22), comunica esta verdade. Diante do diabo 
(4.1-13), nome atribuído ao tentador ou ao “que divide”, Jesus 
“renuncia” ao poder, declarando a autoridade de Deus em todos 
os sentidos. Em seguida, o texto apresenta o início do ministério 
de Jesus. Ele, sob o “poder do espírito” (4.14-22), ensina nas 
sinagogas e é ouvido por todos. Na Galileia, numa aldeia chamada 
Nazaré, Jesus inicia sua missão de “anúncio” sobre o poder de 
Deus a todos os que são, fisicamente ou espiritualmente, vítimas 
da exploração e do autoritarismo político e religioso. Ao ler a 
passagem do profeta Isaías (61.1-2), ele define uma ética, cujos 
valores não são negociáveis com a morte, mas necessários a 
uma vida com sentido. Quanto à “denúncia”, não são poucos 
os textos encontrados. Jesus chama alguns líderes religiosos de 
“sepulcros caiados”, “víboras”, “hipócritas”. Ao fazer isso, ele, 
à luz dos profetas, denuncia aqueles que cometem injustiças, 
tratando-se tanto de pessoas, atos e coisas. A denúncia se dirige 
principalmente a um moralismo falso que “coa um cisco e deixa 
passar um elefante”.
Jesus viveu numa sociedade em crise: crise de autoridade, 
como ele mesmo denunciou. Diante dos sacerdotes, escribas e 
fariseus, Jesus acolhia os mais indefesos e garantia a eles uma fé 
inabalável e uma esperança mais concreta. A teologia de Jesus era 
prática. O amor do Pai se traduz em alteridade, e isso o próprio 
56 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
Jesus anuncia, recordando o Deuteronômio e os profetas: “Tudo 
o quanto, pois quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós 
também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”(Mt 7.12).
Conhecendo o pensamento daqueles que cultivavam um 
moralismo destruidor e sem perspectiva de futuro, Jesus ensinou: 
“Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade 
ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt 12.25). 
As atitudes de Jesus nos ajudam a pensar melhor sobre 
os desafios colocados à família hoje. Jesus veio para unificar, 
não dividir. Ele chamou os doze apóstolos e, com eles, formou 
uma nova família com propósito espiritual. Os pais, seguindo o 
exemplo de Jesus, antes de gerarem ou adotarem seus filhos, devem 
amá-los, acolhendo seus sentimentos e ajudando-os a solidificar 
sua identidade.8 Nesse sentido, a autoridade não tem outra 
função senão a de servir, e o problema da segurança se resolve 
na alteridade. Uma família, à luz da Palavra Deus, pode pensar 
suas dificuldades, buscar luzes que iluminam seus caminhos e 
encontrar saídas inteligentes e valorosas para uma vida feliz. 
3. Reinventar a família: uma aposta cristã
O novo desafio às famílias está em cuidar para que 
valores tradicionais de comunhão e partilha não se percam. 
Uma nova ética que tenha como centro o cuidado leva não só 
os pais a identificarem os prejuízos, em relação aos filhos e às 
gerações futuras, mas a dialogarem e trabalharem as dificuldades, 
principalmente as mágoas. A segurança dos filhos depende da 
8 BAKER, Mark w. Jesus o maior psicólogo que já existiu. Rio de Janeiro: sextante, 
2005, p. 127.
57Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
autoridade dos pais. Tais atitudes podem ser cultivadas partindo 
de um diálogo sincero sobre os conflitos e sobre a melhor maneira 
de lidar com eles. 
Diante de situações familiares vulneráveis, cabe-nos uma 
ética do cuidado, entendendo-a como “essencial” à vida. Muitas 
famílias não conseguem lidar com os conflitos, por isso pedem 
ajuda a profissionais. A saúde familiar não pode ser fragmentada, 
mas bio-psíquico-espiritual. Todo profissional deve contemplar 
essas áreas, pois dizem respeito a um trabalho de salvação. Ao 
termo “conselheiro”, preferimos o “cuidador” ou terapeuta. 
A palavra grega therapeuõ coloca o “cuidar” no mesmo 
sentido de curar e salvar, como lemos nos evangelhos de Lucas 
(7,3) e João (5,10). O therapeuter, atento ao sofrimento alheio, deve 
buscar meios para curar e salvar. Seguindo o modelo de Jesus, ele 
deve, em primeiro lugar, “fazer a luz resplandecer sobre as trevas”. 
Em outras palavras, “levar o próprio interlocutor a se confrontar 
automaticamente com sua própria sombra”9 e descobrir que outro 
mundo é possível. 
A vida não é alguma coisa a ser resolvida pela informática, 
mas um “mistério” a ser compartilhado com o outro. O cuidador 
ou terapeuta deve ser responsável, pois, sob sua orientação, 
famílias serão reformadas e convocadas a se comprometer com 
pessoas e assegurar a elas o direito de viver dignamente.
Sob a responsabilidade do terapeuta familiar, seguindo os 
passos de Jesus, está o trazer à tona a função paterna. A autoridade 
de um adulto, seja pai, mãe ou tutor, precisa ser exercida com 
amor. Ainda que tenha, por parte dos adultos, crianças e 
9 WOLFF, Hanna. Jesus psicoterapeuta. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 28. 
58 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
adolescentes, situações de enfrentamento, a autoridade deve ser 
exercida com amor e responsabilidade, como observa Maria Rita 
Kehl: “todos os papéis dos agentes familiares são substituíveis. O 
que é insubstituível é um olhar de adulto sobre a criança, a um só 
tempo amoroso e responsável”.
Há, não só nas igrejas, mas no dia a dia e em fóruns de 
internet, muitas pessoas desesperadas. Elas pedem ajuda ou 
buscam orientações para enfrentar determinados problemas. O 
auxílio terapêutico aqui é fundamental e carece de atenção por 
parte do terapeuta familiar. Algumas dicas são bem-vindas:
Em primeiro lugar: a escuta. O terapeuta deve-se colocar à 
pessoa, mais do que às suas dificuldades. Ela não se confunde aos 
seus problemas, pois estes podem ser eliminados, aquela não, deve 
ser compreendida e resgatada. O olhar do terapeuta, a exemplo de 
Jesus, é de compaixão: ver e ouvir aquele que sofre sem qualquer 
tipo de preconceito ou prejuízo. Há alguns casos em que a pessoa 
já elimina 30% dos problemas quando ouvida.
Em segundo lugar: análise. A partir do momento em 
que alguém estabelece um auxiliador, essa relação vem a priori 
carregada de autoridade e confiança. Esse momento deve ser 
aproveitado, e os problemas colocados submetidos a uma análise. 
Sem julgamento, ela deve ser bem objetiva a fim de ajudar a pessoa 
a ver seus problemas à distância.
Em terceiro lugar: o diálogo. Depois de uma análise 
individual, é importante convocar a família para uma reflexão. É a 
família que dará continuidade ao trabalho. Numa reunião, os reais 
problemas de relacionamento virão à tona; a soluçãodos problemas 
será proposta, à luz da Palavra de Deus, e repensada de forma 
59Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
sistêmica em diálogo com as pessoas que ali estão. O terapeuta é 
um conciliador e não um juiz; por isso, é importante que estabeleça 
uma metodologia de trabalho com passos bem precisos:
1. como conciliador, o terapeuta deve estabelecer um clima 
de acolhida e evitar situações de brigas e revanchismo entre os 
membros da família; 
2. mostrar novas possibilidades nas relações: a verdade não 
é posse desta ou daquela pessoa, mas circula no diálogo e leva a 
um entendimento geral;
3. cultivar a certeza de que a pessoa é maior do que seus 
problemas. A libertação ou cura, muitas vezes, se dá não na 
eliminação dos problemas, mas em lidar com eles.
Uma ética que tenha no centro o cuidado é capaz de refletir 
a vulnerabilidade familiar trazendo à luz as sombras e identificar, 
sob a orientação cristã, situações que dignificam a vida humana. 
São muitos os desafios colocados à família, porém centramos 
naqueles mais comuns e que precisam de mais atenção que são os 
problemas ligados à autoridade, à segurança e ao diálogo.
Conclusão
Na mitologia grega, caía sobre Hermes a responsabilidade 
de transmitir aos humanos a sabedoria dos deuses e exigir destes 
que vivessem segundo a semelhança divina: “quer viver bem, 
então compreenda o que os deuses querem para você e transmita, 
de forma clara, esta novidade aos familiares, para que, com você, 
eles possam também compreender, comunicar e comungar das 
verdades divinas”.
Esta narrativa se encontra como arquétipo em grandes 
60 José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61 | Via Teológica
religiões, cujas tradições, orais ou escritas, delinearam modelos de 
família. No Cristianismo, por exemplo, a partir dos evangelhos, 
a família humana deve viver segundo a vontade divina, a qual 
Jesus é portador. Por ele, compreendemos o amor de Deus e 
podemos, como ele, transmitir e viver esse amor em comunhão 
com os irmãos.
Nossa reflexão procurou abordar a realidade da família hoje 
e, à luz da Palavra de Deus, repensar novas soluções para novos 
desafios ligados à falta de autoridade dos pais, à insegurança e 
às dificuldades de confiança e diálogo na vida familiar. Esses 
desafios são antigos e estão presentes em famílias cristãs e não 
cristãs. A partir deles, pode-se pensar uma ética que tenha no 
centro o cuidado e a responsabilidade com as vidas. 
REFERÊNCIAS
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1971.
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BÍBLIA SHEDD. São Paulo: Vida nova; Brasília: SBB, 1997.
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Rio de janeiro: BestBolso, 2010. 
KRAMER, Pedro. Origem e legislação do Deuteronômio. São 
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MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia. Rio de 
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WOLFF, Hanna. Jesus psicoterapeuta. São Paulo: Paulinas, 1979.
61Via Teológica | José Neivaldo de Souza, Vol. 14, n.28, dez.2013, p. 46 - 61
Revista: 
Família Cristã. Ano 77 n.905 maio 2011. São Paulo: Paulinas.
Sites: 
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_cont
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http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-05-31/problemas-
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mostra-ipea, acesso 27\09\2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lewis_Henry_Morgan.
Artigo recebido em: 30 de setembro de 2013
Artigo aceito em: 20 de novembro de 2013

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