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55 Lipídeos Introdução Você já ouviu falar de gorduras? Certamente você escutou esta palavra associada a problemas como obesidade, alimentação pesada ou doenças cardiovasculares. O senso comum diz que as gorduras são as grandes vilãs da alimentação que põem em risco a saúde e o equilíbrio emocional do homem moderno. Por este motivo, freqüentemente verificamos um esforço na redução de colesterol em um grande número de alimentos e uma preocupação médica com a diminuição do nível de colesterol na dieta de seus pacientes. Mas se você vasculhar as prateleiras de supermercados é bem provável que encontre diversos alimentos enriquecidos com Omega-3. Gorduras, colesterol e Omega-3 são apenas alguns exemplos de moléculas conhecidas como LIPÍDEOS (ou LIPÍDIOS). Assim, parece uma grande contradição que, por exemplo, o leite desnatado (menos lipídeo) seja enriquecido com Omega-3 (mais lipídeo). Os lipídeos desempenham várias e importantes funções nos sistemas biológicos. Ao contrário do senso comum, eles são indispensáveis a uma série de atividades celulares, sem as quais seria impossível a vida como a conhecemos hoje. Esperamos ajudar você a entender essa aparente contradição e enxergar com outros olhos o conceito de saúde, de alimentação saudável e perceber que as gorduras, assim como as outras biomoléculas apresentadas até aqui, desempenham papéis bem definidos e essenciais ao funcionamento do organismo. Você já percebeu que, além das gorduras, que são uma forma de estoque de energia na maior parte dos organismos vivos, existem muitos outros tipos de lipídeos. O colesterol, esse terrível vilão, é um lipídeo que tem múltiplas funções: pode ser parte da estrutura das membranas biológicas, precursor de sais biliares e Aula_26_intrC.p65 6/23/2004, 4:33 PM55 56 de uma grande variedade de hormônios como os hormônios sexuais (estrogênio e testosterona) e hormônios envolvidos no metabolismo energético, entre outros. Os lipídeos, presentes nos alvéolos de pulmões normais, diminuem a tensão superficial e impedem que os alvéolos colapsem durante a expiração. Eles também são encontrados na cera de abelhas e recobrindo as penas de aves com função de impermeabilização. Lipídeos formam a bainha de mielina que recobre as células nervosas e desempenham importante papel na transmissão sináptica. Um lipídeo chamado fator de ativação de plaquetas (PAF) é o principal mediador de hipersensibilidade, reações inflamatórias agudas e choque anafilático. Agregação plaquetária, trocas pulmonares e cardiovasculares, edema, hipotensão e quimiotaxia de células do sistema imune também são afetados por esta molécula. Portanto, tenha em mente que os lipídeos não são compostos dispensáveis ou perigosos: os riscos de uma dieta completamente sem gordura podem ser tão graves para a sua saúde quanto os riscos de uma dieta com excesso de gordura. Aula_26_intrC.p65 6/23/2004, 4:33 PM56 Lipídeos II - os triacilgliceróis 27AULA ob jet ivo s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Ser capaz de identifi car um triacilglicerol; Ser capaz de entender como ele é construído a partir de glicerol e ácidos graxos; Entender como a participação de diferentes ácidos graxos na estrutura do triacilglicerol determina suas propriedades físico-químicas; Conhecer funções que os Triacilgliceróis desempenham no organismo; Discutir o conceito de obesidade. 72 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos II - os triacilgliceróis A maioria dos ácidos graxos não pode ser encontrada livre na natureza. Eles são as unidades de construção de lipídios mais complexos, como as gorduras (triacilgliceróis) e os lipídeos de membranas celulares (fosfolipídeos e esfi ngolipídeos). Nós agora veremos a estrutura dos triacilgliceróis e as funções que eles desempenham no organismo vivo. Nas aulas seguintes, veremos os lipídeos de membranas e outros lipídeos biologicamente importantes. FINALMENTE AS GORDURAS, ONDE COMEÇAMOS. O QUE SÃO ELAS? As moléculas conhecidas como gorduras compõem substâncias como a manteiga, a margarina, os óleos e a banha. Estas moléculas são formadas por três longas caudas não-polares ou apolares e, por isso, gorduras não se misturam com a água. A água, sendo polar, rejeita as caudas. As células usam as gorduras para estoque ou armazenamento de energia justamente porque suas caudas têm mais energia potencial do que outras moléculas biológicas, como os açúcares, por exemplo. Enquanto nos mamíferos os adipócitos (células do tecido adiposo) são as células especializadas no armazenamento de gorduras, nos insetos as células do corpo gorduroso têm a mesma função. Nas células vegetais, as gorduras são armazenadas nos cloroplastos sob forma de gotículas de lipídeos. As gorduras são denominadas TRIACILGLICERÓIS ou simplesmente triglicerídeos. Os detalhes variam, mas todos os triacilgliceróis são formados por 3 ácidos graxos, unidos por ligações éster a uma molécula de glicerol. Triacilgliceróis podem ser formados por uma ampla variedade de ácidos graxos, maiores ou menores, saturados ou insaturados, que conferem ao triacilglicerol propriedades específi cas. Portanto, existe uma grande variedade de triacilgliceróis que se diferenciam uns dos outros pela combinação dos diferentes ácidos graxos. No exemplo da Figura 27.2, o triacilglicerol é formado por uma molécula de ácido palmítico, uma de ácido esteárico e outra de ácido oléico - os três ácidos graxos. Neste caso, o triacilglicerol possui na sua estrutura um ácido graxo insaturado (o ácido oléico) e dois ácidos graxos saturados (ácido palmítico e ácido esteárico). Figura 27.1: Uma micro- grafia eletrônica de varredura de adipócitos, células de estoque de triacilgliceróis. TRIACILGLICERÓIS Os triacilgliceróis se diferenciam em função dos diferentes ácidos graxos que os compõem. C E D E R J 73 A U LA 2 7 M Ó D U LO 5 Figura 27.2: Um triacilglicerol é formado por 3 cadeias de ácidos graxos (caudas apolares) unidas por uma molécula de glicerol. O GRAU DE SATURAÇÃO FAZ A DIFERENÇA... Você lembra quando falamos que o grau de saturação dos ácidos graxos infl uencia no seu ponto de fusão? Pois bem, veja agora como as propriedades dos ácidos graxos que formam os Triacilgliceróis determinam as propriedades das gorduras. Nas gorduras saturadas, as caudas dos ácidos graxos tendem a fi car alinhadas e as moléculas formam substâncias sólidas à temperatura ambiente. Isto é o que acontece com a manteiga. Nas gorduras insaturadas, como o óleo de soja, as caudas contêm duplas ligações e, portanto, um arranjo tridimensional não linear, ou curvo. Estes Triacilgliceróis não se alinham facilmente, o que os mantêm como um óleo líquido. Figura 27.3: Representação esquemática das moléculas de triacilgliceróis que for- mam o óleo e a manteiga. 74 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos II - os triacilgliceróis Você deve estar se perguntando sobre a margarina.... Para fazer a margarina, o óleo vegetal líquido é convertido a sólido. Você imagina como isso é feito? É preciso introduzir hidrogênios na molécula. A adição de hidrogênios nas duplas ligações chama-se hidrogenação. Tal procedimento transforma os ácidos graxos insaturados em ácidos graxos saturados. Para isso são utilizados gás hidrogênio e um catalisador, em geral níquel. Figura 27.4: Para a produção de margarina, o óleo vegetal é parcialmente hidrogenado. Aproximadamente 62% dos ácidos graxos da manteiga são saturados, em comparação com apenas 20% na margarina. Durante a fabricação da margarina e de algumas outras manteigas vegetais, os óleos poliinsaturados de milho, soja ou girassol, ao serem parcialmente hidrogenados,reorganizam sua estrutura química. Esta reorganização origina um lipídeo que não é encontrado na natureza e que é mais endurecido (saturado), porém não tão duro quanto a manteiga. Quando um dos átomos de hidrogênio da cadeia de carbono se desloca de sua posição de ocorrência natural (posição cis) para o lado oposto da dupla ligação entre dois átomos de carbono (posição trans), o ácido graxo reestruturado recebe a designação de ÁCIDO GRAXO INSATURADO TRANS. ÁC I D O G R A X O I N S A T U R A D O T R A N S Para mais informações ver: Ascherio et al. (1999) Trans Fatty Acids and Coronary Heart Disease. The New England Journal of Medicine em http:// www.nejm.org/content/ 1999/0340/0025/ 1994.asp e Taylor (1995) Trans Fatty Acids in Margarine. The New England Journal of Medicine – July 13, 1995 – Vol. 333, No. 2. Em http:// www.nejm.org/content/ 1995/0333/0002/ 0130c.asp C E D E R J 75 A U LA 2 7 M Ó D U LO 5 E o que você prefere: manteiga ou margarina? Existe ainda hoje uma grande controvérsia a respeito das vantagens e desvantagens do uso da margarina no lugar da manteiga e vice-versa. Tal controvérsia tem como foco os possíveis efeitos prejudiciais à saúde dos ácidos graxos insaturados trans. Uma dieta rica nesses ácidos graxos, parcialmente hidrogenados, eleva a concentração de LDL (lipoproteína de baixa densidade) aproximadamente na mesma proporção que uma dieta rica em gordura saturada. Mas, ao contrário das gorduras saturadas, as gorduras parcialmente hidrogenadas parecem reduzir também a concentração de HDL (lipoproteínas de alta densidade). Há dados indicando que os ácidos graxos trans dietéticos causam 30.000 mortes a cada ano por doenças cardíacas. Em aulas posteriores, falaremos sobre as lipoproteínas, o seu papel no transporte de lipídeos e sua relação com as doenças cardiovasculares. GORDURA É FUNDAMENTAL Apesar das polêmicas em torno das gorduras, veja agora alguns exemplos de sua importância para o organismo animal. Durante sua oxidação, as gorduras liberam mais energia (37kJ/g) que os carboidratos ou as proteínas (17kJ/g). As gorduras são estocadas sem qualquer molécula de água ligada a elas. Ao contrário, ao glicogênio (ver aula de glicídeos), por exemplo, liga-se uma quantidade de água equivalente a 2 vezes seu próprio peso. Isto signifi ca que, apenas 1/3 do peso do glicogênio é carboidrato. Assim, por grama, gorduras estocam aproximadamente 6 vezes mais energia que o glicogênio. No verão, os ursos estocam grandes quantidades de triacilgliceróis que eles usarão para obter energia durante a hibernação (ver item 4 desta aula). É a forma mais efi ciente de garantir o inverno. Camelos também podem estocar grandes quantidades de Triacilgliceróis, em suas corcovas, que eles utilizam na obtenção de energia e produção de água. O tecido adiposo ajuda a manter órgãos e nervos em suas posições corretas e protegê-los contra choques e lesões traumáticas. A camada subcutânea de gordura isola o organismo, preservando o calor e mantendo a temperatura do corpo. As gorduras auxiliam no transporte e absorção das vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, D, E e K. Elas também diminuem a produção de secreções gástricas e tornam mais LDL e HDL O papel fi siológico da LDL e da HDL e a discussão de como estas proteínas afetam nossa saúde você verá na aula 31 deste módulo. 76 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos II - os triacilgliceróis lento o esvaziamento gástrico. Além disso, adicionam paladar à dieta e produzem uma sensação de saciedade após a refeição. HIBERNAÇÃO OU POR QUE OS URSOS DORMEM DURANTE O INVERNO? Você já deve ter percebido que nem todo estoque de energia na forma de gorduras é prejudicial. Alguns organismos são capazes de estocar grandes quantidades de energia na forma de lipídeos, para posterior utilização, durante um período de inatividade chamado de hibernação. A hibernação é uma estratégia de sobrevivência de algumas espécies no caso de escassez de alimento ou de difi culdade para encontrá-lo, por exemplo, durante o inverno. Na hibernação profunda a temperatura do corpo do animal pode cair a aproximadamente 5°C. A taxa respiratória cai de 200 por minuto a 4 ou 5 por minuto e o batimento cardíaco de 150 para 5. Este é o caso de algumas espécies de esquilos, sapos, cobras e tartarugas. No caso de alguns mamíferos, como os ursos e texugos, o estado de prolongada dormência no inverno é acompanhado apenas de pequena ou nenhuma queda da temperatura corporal. Este estado é chamado de “torpor”. Por este motivo eles não são considerados hibernadores profundos ou verdadeiros. Em algumas espécies de ursos, 4000 calorias podem ser obtidas por dia a partir da quebra dos lipídeos estocados. Durante a hibernação os ursos também não consomem água e são capazes de manter um perfeito BALANÇO HÍDRICO por até cem dias. Embora ursos em hibernação apresentem um nível de colesterol sérico perigosamente alto, que chega a aproximadamente duas vezes o nível de colesterol encontrado em ursos fora do período de hibernação, não há sinais de lesão arterial ou formação de depósitos de colesterol nas paredes das artérias, como acontece com humanos nas mesmas condições. Essa diferença metabólica tem sido objeto de intensa investigação científi ca. BA L A N Ç O HÍ D R I C O é o resultado entre a entrada e a saída de água. Se muita água é perdida e pouca é consumida, temos um desequilíbrio hídrico que pode levar à desidratação. Figura 27.5: O urso pardo americano. C E D E R J 77 A U LA 2 7 M Ó D U LO 5 OBESIDADE Quando falamos de lipídeos, pensamos quase instantaneamente em obesidade. Ela é um dos distúrbios metabólicos mais antigos; evidências de obesidade foram encontradas em múmias egípcias e esculturas gregas. Entretanto, a preocupação com a obesidade e a relação inversa entre obesidade e estética é característica da civilização moderna (Figura 27.6). Obesidade ou sobrepeso é um estado no qual o peso excede um determinado padrão que pode ser baseado na relação entre o peso e a altura do indivíduo (índice de massa corpórea ou BMI, do inglês Body Mass Index). O conceito está então relacionado ao que se considera peso corpóreo ideal ou IBW (do inglês Ideal Body Weight). O excedente de peso, característico da obesidade, é resultante do aumento do tamanho e do número das células que estocam lipídeos no corpo, os adipócitos. Normalmente uma pessoa tem entre 30 a 35 bilhões dessas células. Quando ela ganha peso, os adipócitos aumentam primeiro em tamanho e depois em número. Quando uma pessoa começa a perder peso, as células diminuem de tamanho, mas o número geralmente permanece o mesmo. Isso explica porque é tão difícil reverter um quadro de obesidade. Mas não se desespere. Você acaba perdendo este excesso de adipócitos se não voltar a usá-los. As células morrem, mas este processo ocorre mais lentamente. O seu peso corporal é o resultado de um balanço entre a quantidade de energia que você ingere e a quantidade de energia que seu organismo requer, ou seja, o quê e o quanto você come versus o quê e o quanto você gasta. Todo o excesso de energia deve, necessariamente, ser modifi cado e transformado em energia química potencial para armazenagem. Como a principal forma de estoque de energia no nosso corpo é a gordura, o excesso de energia disponível causa um aumento do tecido adiposo e, conseqüentemente, um aumento da massa corporal. A obesidade tem múltiplas causas. O seu desenvolvimento é resultado de uma complexa interaçãoentre fatores genéticos, psicológicos, Figura 27.6: Ontem e hoje. 78 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos II - os triacilgliceróis socioeconômicos e culturais. Entre os americanos, aqueles com um nível de educação mais baixo e mais pobres são, em média, mais obesos. Isso não é necessariamente verdade para outros povos. Fatores ambientais e genéticos afetam a forma como os lipídeos são processados no organismo, e existem diferenças individuais que tornam um indivíduo mais ou menos suscetível à obesidade. Esquimós, por exemplo, têm uma dieta extremamente rica em gordura animal. É comum na dieta dessas populações a ingestão de grande quantidade de gordura de foca, consumida sem prévio cozimento. Esse hábito tem sido fundamental à sua sobrevivência naquele ambiente particular e, portanto, o conceito de obesidade, neste caso, não pode se basear no padrão do homem moderno ocidental e urbano. Com base em dados obtidos, principalmente a partir da população americana e das populações urbanas de diversos países, tem sido sugerido que o risco de algumas doenças aumenta progressiva e proporcionalmente com o ganho de peso. Homens, com o peso 20% acima do peso ideal, têm 20% mais chances de morrer de doenças cardíacas, 10% mais chances de sofrer derrame cerebral, o dobro de chances de morrer de diabetes e 40% mais chances de sofrer de doenças da vesícula biliar. Naqueles que apresentam peso 40% acima do normal observa- se um aumento de 55% de mortalidade associada a todas estas causas, das quais: 75% relacionada a doenças cardiovasculares, 75% a derrame cerebral e 400% a um aumento de mortalidade por diabetes. Algumas dessas doenças têm sua origem em níveis altos de colesterol SÉRICO. Na obesidade mórbida (um aumento de peso acima de 60%) a mortalidade duplica para cada uma das causas citadas acima. A obesidade pode acarretar ainda anormalidades endócrinas; câncer, principalmente de útero, ovários e pulmões; artrite e hipertensão e uma grande variedade de doenças. SÉ R I C O níveis séricos de uma dada substância ou molécula se refere à sua concentração no sangue. C E D E R J 79 A U LA 2 7 M Ó D U LO 5 Quadro 27.1: Classifi cação de sobrepeso e obesidade. Classifi cação Homens Mulheres IBW (%) BMI (Kg/ m2) IBW (%) BMI (Kg/ m2) Superobeso 225 >50 245 >50 Obeso Mórbido 200 45 220 45 Obesidade signifi cativa 160 35 170 35 Obeso 135 30 145 30 Sobrepeso 110 25 120 25 IBW 100 20-25 100 20-25 O peso corpóreo ideal pode ser calculado através do método do índice de massa corpórea BMI. BMI = peso (em quilogramas)/ altura (em metros)2 BW = índice corpóreo ideal; BMI = índice de massa corpórea. Fonte: FORSE et al. Nutr. Today. 24(5): #10 (1989). O quadro 27.1 mostra a classifi cação de sobrepeso e obesidade. É facil ver onde você se enquadra. Primeiro calcule o seu BMI (índice de massa corpórea), dividindo seu peso (em quilogramas) pelo quadrado da sua altura (em metros). Supondo que você pese 75 quilogramas e tenha uma altura de 1,68m, teremos: BMI =75/ (1,68)2= 26.59 Compare agora com o BMI mostrado na tabela. Este índice de massa corpórea se aproxima do índice corpóreo ideal, tanto para homens quanto para mulheres. Neste caso, você está dentro dos 100% do IBW. Para BMI maiores que 25, o índice corpóreo ideal é acrescido de uma porcentagem que vai de 10% no caso de sobrepeso, até acima de 100% nos casos de obesidade mórbida e superobesidade. Tente agora aplicar a tabela em outras pessoas, amigos, familiares, seu chefe... Para mais informações consulte http:// www.obesity. org/obmed- conditions.htm) 80 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos II - os triacilgliceróis Triacilgliceróis ou triglicerídeos são lipídeos formados por 3 ácidos graxos unidos por ligações éster a uma molécula de glicerol. Triacilgliceróis se diferenciam uns dos outros pela combinação dos diferentes ácidos graxos e são comumente conhecidos como gorduras e óleos. As propriedades dos ácidos graxos que formam os triacilgliceróis determinam suas propriedades. Assim, nos triacilgliceróis formados por ácidos graxos saturados, as caudas dos ácidos graxos tendem a fi car alinhadas e as moléculas formam substâncias sólidas à temperatura ambiente. Triacilgliceróis saturados são encontrados principalmente em gorduras de origem animal. Ao contrário, triacilgliceróis insaturados formam substâncias líquidas à temperatura ambiente como os óleos de origem vegetal. Durante sua oxidação as gorduras liberam mais energia (37kJ/g) que os carboidratos ou as proteínas (17kJ/g). Por este motivo, a principal função deste tipo de lipídeo nos sistemas biológicos é o armazenamento de energia. Outras funções são ainda a proteção contra choques e lesões mecânicas; o isolamento térmico, preservando o calor e mantendo a temperatura do corpo; o transporte e absorção de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, D, E e K. R E S U M O EXERCÍCIOS 1. 1. Desenhe e descreva a estrutura básica de um triacilglicerol. 2. Por que as caudas das gorduras são ricas em energia? 3. Por que na reação entre a molécula de glicerol e os ácidos graxos, 3 moléculas de água são liberadas? (ver fi gura 27.2) 4. O que são ácidos graxos insaturados trans? 6. O que é obesidade mórbida? 7. Os ursos são considerados hibernadores verdadeiros FALSO ( ) VERDADEIRO ( ) 8. O seu peso corporal é resultado: ( ) do balanço entre a quantidade de energia que você ingere e a quantidade de energia que seu organismo precisa. C E D E R J 81 A U LA 2 7 M Ó D U LO 5 ( ) do balanço entre a quantidade de energia que você ingere e a quantidade de energia que você perde. ( ) do balanço entre a quantidade de energia produzida pelo seu corpo e o quanto de energia você gasta. ( ) do balanço entre a quantidade de energia que você consome e o quanto de energia você absorve. ( ) do balanço entre energia e alimento. 9. Triacilgliceróis ou triglicerídeos são: ( ) lipídeos formados por 3 ácidos graxos unidos por ligações éster a uma molécula de glicerol. ( ) lipídeos formados por 3 cetoses unidas por ligações glicosídicas. ( ) lipídeos formados por 3 aminoácidos unidos por ligações peptídicas. ( ) lipídeos formados por uma molécula de ácido graxo e uma molécula de glicerol. ( ) lipídeos formados somente por ácidos graxos. 10. Indique abaixo as principais doenças cujo risco aumenta progressiva e proporcionalmente com o ganho de peso. ( ) doenças cardíacas, derrame cerebral, diabetes. ( ) doenças cardíacas, osteoporose e mioma. ( ) doenças cardíacas, derrame cerebral e dengue ( ) diabetes, câncer pulmonar, febre amarela ( ) diabetes, osteoporose e derrame cerebral 82 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos II - os triacilgliceróis 11. Durante a fabricação da margarina e de algumas outras manteigas vegetais, os óleos polinsaturados vegetais são parcialmente hidrogenados. Os ácidos graxos reestruturados recebem a designação de: ( ) ácido graxo poliinsaturado ( ) ácido graxo hidrogenado ( ) ácido graxo insaturado trans. ( ) ácido graxo reestruturado ( ) ácido graxo saturado Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J83 Lipídeos III: lipídeos de membranas Nas duas aulas anteriores, você conheceu uma parte deste grupo heterogê- neo de biomoléculas, chamado LIPÍDEOS. Não esqueça que, apesar de heterogê- neo, o grupo guarda em comum a propriedade de ser total ou parcialmente insolú- vel em água (hidrofóbico, lembra?). Você já conhece algumas moléculas que fazem parte deste grupo, como os ácidosgraxos e os triacilgliceróis. Agora vamos conhecer outros lipídeos. Desta vez destacaremos os lipídeos que participam das membranas celulares. Que lipídeos são esses? Que características têm? Qual a importância deles e de suas caracterís- ticas na estrutura e nas propriedades de uma membrana celular? Você já conhece muita coisa de célula e de membranas celulares (ver seus apontamentos do vestibular e anteriores). Aqui não daremos ênfase ao papel bioló- gico das membranas celulares. Isto você discutirá com maior profundidade em Bio- logia Celular I. Discutiremos apenas os aspectos bioquímicos dessas membranas. Isso é a base para a Biologia Celular I. Então capriche! Objetivos • Conhecer os principais grupos de lipídeos que participam da estrutura de membranas celulares e ser capaz de distingüi-los. • Refletir sobre a evolução do conhecimento sobre lipídeos de membranas. • Discutir a participação dos diferentes lipídeos nas propriedades físico- químicas de uma membrana celular. Pré-requisitos • Noções de estrutura e organização celular - Ensino Médio - Distinção entre células eucarióticas e procarióticas - Ensino Médio - Noções básicas de membranas celulares - Ensino Médio - Definição de lipídeos - Aula 26 - Características gerais dos lipídeos - Aula 26 - Estrutura de ácidos graxos e triacilgliceróis E agora estamos prontos? Então vamos lá! Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM83 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 84C E D E R J Lipídeos são os integrantes básicos das membranas biológicas Você já ouviu falar de membranas celulares. É difícil esquecer. Membranas são estruturas biológicas únicas, compostas de um arranjo ordenado de lipídeos e proteínas. Sua função mais importante é a compartimentalização dos processos biológicos. A membrana plasmática é responsável pela manutenção da célula em um ambiente diferenciado do meio externo, no qual a entrada e a saída de substân- cias podem ser reguladas. As membranas biológicas estão presentes tanto em células eucarióticas quanto em procarióticas. Nos diferentes organismos vivos, diferentes membranas apresen- tam as mesmas classes de componentes químicos, uma organização estrutural similar, e muitas propriedades em comum. Em células eucarióticas, as membranas também estão presentes nas organelas, definindo seus limites e envolvendo seu conteúdo. Porém, elas são mais do que simples barreiras, pois participam ativa- mente de muitas atividades biológicas essenciais como: fotossíntese, fosforilação oxidativa, transmissão do impulso nervoso, comunicação entre células etc. A manutenção da estrutura celular depende de membranas, que podem ser comparadas a delicadas bolhas de sabão. Lipídeos e proteínas são os dois principais componentes das membranas biológicas. Entretanto, a quantidade relativa de cada um desses componentes na composição das membranas celulares varia bastante, como veremos a seguir. Observe atentamente a figura 28.2. Ela mostra a porcentagem relativa de lipídeos e proteínas em diferentes membranas biológicas. Figura 28.1: Um modelo de célula eucariótica. Na figura 28.1 temos uma célula eucariótica. Pesquise em seus apontamentos ou livros do Ensino Médio, um modelo e exemplos de células procarióticas. Figura 28.2: Porcentagem relativa de lipídeos e proteínas em diferentes membranas Membranas Mielina Eritrócito Humano Membrana Plasmática Golgi Retículo endoplasmático rugoso Membrana nuclear Membrana Externa Mitocondrial Membrana Interna Mitocondrial % Componenetes 0 100 Lipídeo Proteína Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM84 Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J85 Figura 28.3: Representação esquemática de um FOSFOLIPÍDEO, mostrando a cabeça polar e as duas caudas hidrofóbicas A proporção de lipídeos e proteínas na membrana plasmática, por exemplo, é praticamente a mesma, enquanto na composição da membrana interna mitocondrial há muito mais proteína que lipídeos. Os lipídeos de membranas A estrutura de uma membrana biológica é mantida por interações entre a água e um grupo especial de lipídeos, chamado FOSFOLIPÍDEOS. Fosfolipídeos re- cebem este nome por apresentarem um grupo fosfato na sua estrutura. Características básicas de um fosfolipídeo Fosfolipídeos se caracterizam por apresentarem uma região altamente polar (cabeça) e, na maior parte das vezes, 2 cadeias de hidrocarbonetos, apolares ou hidrofóbicas (caudas) (figura 28.3). FOSFOLIPÍDEOS são os principais lipídeos constituintes das membranas biológicas. Para fixar os conceitos de molécula polar e apolar, ver aula anterior. Na água estas moléculas ANFIPÁTICAS são hidratadas na região polar. Nesta região, as moléculas de água interagem com a cabeça do fosfolipídeo que é hidrofílica. ANFIPÁTICAS Você viu esta palavra antes? Em que contexto? Lembra do seu significado? Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM85 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 86C E D E R J Em torno das caudas apolares as moléculas de água tendem a sofrer repulsão, em virtude de sua hidrofobicidade. Assim, nesta região, a água se organiza de forma diferente. Como está representado na figura 28.4, você pode observar um distanciamento maior das moléculas de água na cauda apolar que na região polar do fosfolipídeo. Figura 28.4: Um fosfolipídeo e sua interação com moléculas de água. O espaçamento entre as moléculas adjacentes, na representação abaixo, foi exagerado para enfatizar esta diferença estrutural. As caudas apolares da maior parte dos fosfolipídeos são ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol. Os tipos de lipídeos presentes nas membranas celulares Glicerofosfolipídeos Glicerofosfolipídeos são lipídeos complexos cuja estrutura contém ácidos graxos, fosfato e glicerol (daí o nome!). Glicerofosfolipídeos são também chama- dos fosfoglicerídeos. Como os triacilgliceróis, que você viu na aula passada, as cau- das da maior parte dos fosfolipídeos são ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol. Mas existe uma diferença crucial: como você deve lembrar, os triacilgliceróis apresentam três caudas, enquanto os fosfolipídeos apresentam somente duas. Um grupo polar carregado substitui a terceira cauda (X). Este grupo sempre inclui FOSFATO, mas o resto do grupo pode variar. Na figura 28.5 mostramos a estru- tura básica do fosfolipídeo onde o X pode ser qualquer um dos grupos substituintes mostrados. Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM86 Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J87 Figura 28.5: À esquerda temos a estrutura básica de um glicerofosfolipídeo, mostrando as duas caudas apolares (ácidos graxos) unidas através de um glicerol a uma cabeça polar. A cabeça polar tem como característica um grupo fosfato e um grupo variável (X). Nestes lipídeos os dois ácidos graxos são ligados ao primeiro e segundo carbo- nos do glicerol (posições sn 1 e sn 2 indicadas na figura 28.5) através de uma ligação éster. O terceiro carbono do glicerol recebe um grupo carregado e altamente polar (representado por um X na figura 28.5). O grupo é ligado ao terceiro carbono do glicerol por uma ponte ou ligação fosfodiester (ver figuras 28.5 e 28.6) Os dois GRUPOS ACIL GRAXOS presentes nos glicerofosfolipídeos são esterificados (ou seja, fazem ligação éster) aos carbonos 1 e 2 do glicerol. Estes grupos também podem variar nos diferentes glicerofosfolipídeos. A designação dos diferentes glicerofosfolipídeos não especifica quais ácidos graxos estão presentes. Ache na estrutura da figura 28.6 a ligação fosfodiester C - O - P - O - C. GRUPO ACIL GRAXO o ácido graxo quando ligado em uma estrutura química deixa de ser um ácido e passa a ser um grupo acil graxo. Compare a estrutura do ácido graxo livre da aula 28, com o ácido graxocomo parte da estrutura do fosfolipídeo. O que foi perdido? CH2 O CH2 CH2 1 CH2 O CH23 O O O OP x C O C O CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 CH Cabeça polar Ácidos graxos, caudas apolares ou hidrofóbicas Na representação ao lado, X da cabeça polar pode ser substituído pelos seguintes grupos: Colina Etanoalamina Serina Glicerol Inositol CH2HO CH2 N + CH3 CH3 CH3 CH2HO CH2 NH3 + NH3 CH2HO C + C O OH H CH2HO C OH H CH2 OH OH OH OH OH H H OH H OH H H H Na posição representada por podemos ter um dos vários grupos substituintes apresentados ao lado X Uma ligação éster (C–O–C) une o glicerol às cadeias de ácidos graxos sn1 sn2 Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM87 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 88C E D E R J No exemplo que vamos mostrar a seguir, temos a estrutura de um glicerofosfolipídeo, chamado fosfatidilcolina, também conhecida como LECITINA. Na figura 28.6 destacamos os diferentes componentes que formam a sua estrutura. No caso da fosfatidilcolina, o grupo polar é uma molécula de colina (em destaque na figura 28.6 A). Fosfatidilcolina normalmente contém ácido palmítico ou esteárico na posição sn1 e um ácido graxo C18 insaturado (oléico, linoléico ou linolênico) no carbono sn2 (para relembrar ácidos graxos veja a aula anterior). Figura 28.6: Fosfatidilcolina. Destaques: A - grupo colina; B - um grupo fosfato forma uma ligação fosfodiester que une o grupo substituinte (colina) às duas cadeias de ácidos graxos; C - glicerol; D - Ácidos graxos. Você já ouviu falar de lecitina de soja? É um produto comercializado em muitas lojas de produtos naturais. Agora você já sabe o que é. Antes de seguir adiante, tente construir os outros glicerofosfolipídeos substi- tuindo a colina da fosfatidilcolina pelos outros grupos substituintes apresentados na figura 28.5. Glicerofosfolipídeos são chamados genericamente fosfolipídeos, porque to- dos contém fosfato. Entretanto, existem outros fosfolipídeos que não são glicerofosfolipídeos. Relembrando... Os fosfolipídeos que contêm glicerol, como a fosfatidilcolina, são chama- dos de GLICEROFOSFOLIPÍDEOS. Eles são os mais importantes fosfolipídeos de membranas. Alguns glicerofosfolipídeos... Agora, que você tentou construir os outros glicerofosfolipídeos, confira aqui alguns deles. Apresentaremos cada um, dando a nomenclatura e a estrutura. Preste atenção no grupo substituinte. O que diferencia um glicerofosfolipídeo de outro é o grupo substituinte! Veja se você consegue identificar até o final desta aula, algum fosfolipídeo que não seja um glicerofosfolipídeo. H H H H H H H I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H C– C– C– C– C– C– C– C– CH HC–O–C– – H O – – H H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I I I I I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C H I I I I I I I I I I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H H HC–O–C– H O – – – – HC–N–C–C–O–P–O–CH H HCH + HCH H H H O O H H H H – – – — — H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H C– C– C– C– C– C– C– C– CH HC–O–C– – H O – – H H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I I I I I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C H I I I I I I I I I I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H H HC–O–C– H O – – – – HC–N–C–C–O–P–O–CH H HCH + HCH H H H O O H H H H – – – — — H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H C– C– C– C– C– C– C– C– CH HC–O–C– – H O – – H H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I I I I I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C H I I I I I I I I I I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H H HC–O–C– H O – – – – HC–N–C–C–O–P–O–CH H HCH + HCH H H H O O H H H H – – – — — H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H C– C– C– C– C– C– C– C– CH HC–O–C– – H O – – H H H H H H H H H H H H H H H H H I I I I I I I I I I I I I I I I I C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C–C H I I I I I I I I I I I I I I I I I H H H H H H H H H H H H H H H H H HC–O–C– H O – – – – HC–N–C–C–O–P–O–CH H HCH + HCH H H H O O H H H H – – – — — H H H H H H H H H A C B D Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM88 Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J89 Figura 28.7: Note o grupo substituinte OH e os ácidos graxos representados por R1 e R2. Este é o glicerofosfolipídeo mais simples. Ácido Fosfatídico Este é o mais simples glicerofosfolipídeo. Os outros glicerofosfolipídeos são derivados do ácido fosfatídico. Neste caso, o grupo substituinte esterificado ao fosfato é uma hidroxila (figura 28.7). Ela, juntamente com o fosfato, forma a cabeça polar deste lipídeo. Fosfatidiletanolamina A fosfatidiletanolamina (figura 28.8) também é cha- mada etanolamina glicerofosfolipídeo ou CEFALINA. A fosfatidiletanolamina e a fosfatidilcolina, também cha- mada colina glicerofosfolipídeo ou lecitina (que você já viu na figura 28.5), são os glicerofosfolipídeos mais co- muns em membranas. Figura 28.8: Fosfatidiletanolamina - neste caso o grupo substituinte é a etanolanina. Cardiolipina Também chamada fosfatidilglicerol fosfoglicerídeo ou difosfatidilglicerol (figura 28.9). Ela contém dois áci- dos fosfatídicos ligados a um glicerol, e é encontrada quase que exclusivamente em membranas mitocondriais e de bactérias. Figura 28.9: Cardiolipina. Repare na estrutura diferenciada: 3 moléculas de glicerol, 2 moléculas de fosfato e 4 ácidos graxos participam de sua estrutura. O P O OH CH O CH2 O CH2 O CH R1 CH C R2 CH2 O Hidroxila Fosfato Glicerol Ácidos graxos O P CH O O OH CH2 O CH2 O C C CH2 O CH2 CH2 NH3 + O CH2 O P CH O O O CH2 O CH2 O C C CH2 O CHOH CH O2 O CH2 R1 R2 CH2 O P O CH O CH2 CH2 OO C C CH2 OO CH2 R1 R2 Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM89 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 90C E D E R J Sistematizando... Todos os glicerofosfolipídeos são moléculas anfipáticas, ou seja, contém uma cabeça polar – devido ao fosfato carregado e aos grupos substituintes – e duas caudas não polares – devido às cadeias hidrofóbicas dos ácidos graxos. Quando em pH 7,0, a cabeça polar apresenta uma carga negativa devido à ionização do grupo fosfato (pK=2) e também devido às cargas dos grupos substituintes. Fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina, por exemplo, são zwitterions a pH 7,0, com uma carga negativa do fosfato e uma carga positiva do Nitrogênio (ver estruturas da fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina nas figuras 28.6 e 28.8, respectivamente). Para relembrar o conceito de Zwitterions consulte a aula de aminoácidos. Fosfatidilinositol O Inositol, um álcool hexahidroxilado, é esterificado ao fosfato formando o fosfatidilinositol. Tanto o 4-fosfofoinositol quanto 4,5-bisfosfoinositol glicerofosfolipídeos estão presentes em membranas plasmáticas. O último é fonte de inositol fosfato e diacilglicerol,moléculas envolvidas na ação hormonal. Figura 28.10: Fosfatidilinositol. O inositol é um álcool. Lembre-se que a numeração na nomenclatura se refere à posição e número de fosfatos. Assim, o 4- fosfoinositol tem 1 fosfato na posição 4 do inositol e o 4,5- bisfosfoinositol tem 2 fosfatos nas posições 4 e 5. Agora, tente identificar o fosfatidilinositol da figura 28.10. Os carbonos do inositol já estão numerados. Figura 28.11: Várias maneiras de se representar graficamente um glicerofosfolipídeo. Tente outras. Assim você será capaz de reconhecer um em qualquer lugar. O P CH O O CH2 O CH2 O C C CH2 OO CH2 R1 R2 P OH O OH OH OH OH H H H OH H H O 6 5 1 2 H 3 4 O – – Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM90 Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J91 Os Esfingolipídeos O segundo grupo mais importante de lipídeos encontrados nas membranas celulares são os ESFINGOLIPÍDEOS. Estes também apresentam uma cabeça polar e duas caudas apolares, como os glicerofosfolipídeos. O que diferencia este grupo é que ele não contém glicerol. Composição Esfingolipídeos são compostos de um amino-álcool de cadeia longa (18 car- bonos), chamado esfingosina (figura 28.12), ou um de seus derivados. Figura 28.12: A esfingosina é um amino álcool. Note na estrutura a presença de um grupo amina (NH) e da hidroxila lateral (OH) que caracteriza um álcool. CERAMIDA é largamente utilizada na indústria de cosméticos, principalmente em shampoos. Figura 28.13: Ceramidas são formadas por esfingosina ligada a uma longa cadeia de ácido graxo (R) por uma ligação amina (C - NH - C). Nos esfingolipídeos, o grupo polar representado por X, pode variar. A cabeça polar (X na figura 28.13) é variável e está unida à molécula por uma ligação glicosídica (ver aula de glicídeos para relembrar) ou por uma ligação fosfodiester. Uma longa cadeia de ácido graxo (R) forma uma ligação amida com o amino grupo da esfingosina para produzir CERAMIDA (figura 28.13). HO CH CC H H [CH ]2 12 CH3 CHN H H C2 O HO CH CC H H [CH ]2 12 CH3 CHN H H C2 O C O R EsfinogosinaCeramida X Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM91 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 92C E D E R J Figura 28.14: Esfingomielina. O grupo substituinte da cabeça polar é a fosfocolina, o mesmo da fosfatidilcolina. Figura 28.15: Glicocerebrosídeo, um cerebrosídeo cujo grupo substituinte é um açúcar. Tipos de Esfingolipídeos Existem três classes de esfingolipídeos, todas derivadas da ceramida, que diferem quanto à sua cabeça polar: esfingomielinas, glicolipídeos neutros (não carregados) e gangliosídeos. (a) A Esfingomielina contém fosfocolina ou fosfatidiletanolamina como grupo polar. Ela lembra a fosfatidilcolina em suas propriedades gerais, estrutura tridimensional e na carga líquida da sua cabeça polar. Está presente nas membra- nas plasmáticas de células animais e é abundante na membrana de mielina – uma estrutura que envolve e isola os axônios de alguns neurônios. Por este motivo recebe o nome de esfingomielina. (b) Glicolipídeos neutros (não carregados) O Glicoesfingolipídeo, ou glicolipídeo, largamente presente na face externa de membranas plasmáticas, tem como cabeça polar um ou mais açúcares conectados diretamente à hidroxila do Carbono 1 da ceramida. Glicoesfingolipídeos não apre- sentam fosfato. Os cerebrosídeos e os globosídeos são também chamados glicolipídeosneutros porque não apresentam nenhuma carga a pH 7,0. HO CH CC H H [CH ]2 12 CH3 CHN H H C2 O C O R EsfinogosinaCeramida [PO ]CH CH N[CH ] +3 2 2 3 3 Esfingomielina HO CH CC H H [CH ]2 12 CH3 CHN H H C2 O C O R EsfinogosinaCeramida Glicocerebrosídeo H O H HO H H OH H OH OH Cerebrosídeos têm um único açúcar ligado à ceramida; aqueles com galactose são característicos de membranas plasmáticas de células do tecido ner- voso. Aqueles com glicose são característicos de mem- branas plasmáticas de células de outros tecidos. Globosídeos são glicoesfingolipídeos neutros com dois ou mais açúcares, geralmente d-glicose, d-galactose, ou N-acetil-D-galactosamina. Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM92 Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J93 (c) Gangliosídeos, os esfingolipídeos mais complexos, têm oligossacarídeos como grupo da cabeça polar e possuem em sua composição um ou mais resíduos de ácido N-acetilneuramínico, também chamado ácido siálico (ver aula de glicídeos), que dá ao gangliosídeo uma carga negativa a pH 7,0. Algumas curiosidades sobre os esfingolipídeos Mostramos aqui as diferentes classes de esfingolipídeos. Se você pensar nas possíveis substituições nos grupos da cabeça polar e nos ácidos graxos poderá perceber a variedade de moléculas que podem ser construídas. Tente fazer isto mudando os açúcares no oligossacarídeo dos gangliosídeos, por exemplo. Pois é, em humanos, pelo menos 60 diferentes tipos de esfingolipídeos já foram identifi- cados nas membranas celulares. Muitos deles são particularmente encontrados em células nervosas e alguns são claramente SÍTIOS DE RECONHECIMENTO na su- perfície celular, mas somente alguns poucos esfingolipídeos têm sua função especí- fica conhecida. A porção glicídica de certos esfingolipídeos define o grupo sangüíneo em humanos e o tipo de sangue que um indivíduo pode receber com segurança em transfusões. O tipo e a quantidade de esfingolipídeos mudam drasticamente durante o de- senvolvimento embrionário e a formação de tumores induzem a síntese de novos gangliosídeos. Diversas doenças hereditárias humanas, como a doença de Niemann- Pick e a doença de Tay-Sacks são causadas por anomalias no metabolismo de esfingolipídeos. O principal sintoma da doença de Niemann-Pick é o retardo mental em crianças. Os sintomas da doença de Tay-Sacks são retardo mental progressivo, paralisia e cegueira. Ambas levam a uma morte prematura entre 3 e 4 anos de idade. SÍTIOS DE RECONHECIMENTO São regiões onde uma determinada molécula liga-se especificamente. Neste caso, falamos de superfície celular, onde moléculas, presentes no espaço extracelular, precisam ser reconhecidas para entrarem na célula ou desencadearem uma determinada resposta intracelular. Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM93 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 94C E D E R J CH2 H HO CH2 CH C3 C C CH CH3 CH3H H C H HHH CH2 H HO CH2 CH C3 C C CH CH3 CH3H H C H HHH C C C C C CCC C C C C C C C C C Os esteróides O terceiro grupo de lipídeos, encontrados em membranas biológicas, é o dos esteróides. Esteróides são lipídeos estruturais presentes nas membranas da maior parte das células eucarióticas. Alguns esteróides funcionam como hormônios. Movem-se através da corrente sangüínea, ligados a proteínas carreadoras, do seu sítio de síntese para os tecidos - alvo onde vão atuar. Entram nas células, ligam-se a receptores protéicos altamente específicos no núcleo e provocam mudanças na expressão gênica e no metabolismo celular. Os principais grupos de hormônios esteróides são os sexuais, o cortisol e a aldosterona. Alguns esteróides, com potentes atividades antiinflamatórias (prednisona e prednisolona), têm uma grande variedade de aplicações terapêuticas, incluindo o tratamento de asma e artrite reumatóide. Este grupo de lipídeos caracteriza-se pela presença do núcleo esteróide cons- tituído de quatro anéis fundidos; três deles com seis carbonos e um com cinco Figura 28.16: Núcleo esteróide O colesterol Colesterol, o principal esteróide de mem- branas em tecidos animais, é uma molécula anfipática, com uma cabeça polar (o grupo hidroxila noCarbono 3) e um corpo apolar (o núcleo esteróide e e as cadeias laterais no carbono 17). O colesterol é o mais abundante esteróide em animais. Esteróides simi- lares, entretanto, são encontrados em fungos (ergosterol) e em plantas (stigmasterol). Bactérias não podem sintetizar esteróides; umas poucas espécies, entretanto, podem incorporar esteróides exógenos em suas membranas. Figura 28.17: Estrutura do colesterol. Note os quatro anéis fundidos. carbonos. O núcleo esteróide é planar (estrutura química dispos- ta em um único plano) e relativamente rígido; os anéis fundidos não permitem a rotação das ligações C-C. Os esteróides diferem uns dos outros por apresentarem diferentes grupos ligados aos seus anéis. Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM94 Lipídeos III: lipídeos de membranas MÓDULO 5 - A U L A 2 8 C E D E R J95 Você deve estar curioso sobre o colesterol. Afinal você provavelmente já deve ter ouvido falar muito dele. Dizem até que existe colesterol bom e colesterol ruim. Será? Discutiremos esse tema na aula de lipoproteínas (aula 31). Por enquanto não esqueça que colesterol é um lipídeo importantíssimo, pois faz parte de nossas membranas celulares. Além disso, o colesterol é PRECURSOR de muitos outros esteróides. Não dá para viver sem ele. Na aula 30, você verá as estruturas de outros esteróides e as diferentes fun- ções que este grupo de lipídeos pode desempenhar. Não esqueça que todos os esteróides têm em comum esta característica particular de apresentar 4 anéis fundi- dos e, como os outros lipídeos, são pouco solúveis em água. Nosso objetivo, nesta aula, foi apresentar somente aqueles lipídeos que parti- cipam da estrutura de membranas, por isso mostramos, por enquanto, apenas o colesterol. Agora que você já conhece os lipídeos de membrana, discutiremos como esses lipídeos estão organizados na membrana e o papel destes lipídeos nas propriedades destas estruturas celulares. Agora, observe a figura abaixo, na qual representamos a estrutura básica de uma membrana biológica (a bicamada lipídica) e a estrutura do colesterol. Utilize os espaços que deixamos na estrutura da membrana e mostre como o colesterol se insere nesta membrana. Assinale na figura o grupo hidroxila do Carbono 3 do colesterol e as cadeias laterais do carbono 17. Elabore sua resposta levando em conta o que você aprendeu nesta aula. Chamamos PRECURSOR àquelas moléculas que são o ponto de partida na síntese de outras moléculas. Veja no dicionário alguns sinônimos desta palavra. Mas lembre-se, no nosso caso a palavra precursor é um jargão bioquímico e nenhum dos sinônimos encontrados no dicionário se aplica. Figura 28.18: Colesterol. Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM95 Lipídeos III: lipídeos de membranas BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 96C E D E R J Exercícios avaliativos 1. Fosfolipídios são moléculas anfipáticas. Comente a frase acima e mostre como esta característica permite a organização de membranas celulares. 2. Utilizando as estruturas mostradas abaixo, indique como o ácido fosfatídico é formado. Desenhe a estrutura final, o que deve sair e o que deve entrar para que a reação ocorra. 3. Dê 5 exemplos de fosfolipídeos com as diferentes nomenclaturas. 4. Cite um fosfolipídeo que não se enquadra como glicerofosfolipídeo. 5. A figura abaixo representa uma célula. a)Que lipídeos são típicos de membrana plasmática? b) Que lipídeos são encontrados particularmente, ou em maior quantidade nas membranas mitocondriais? c) Que lipídeos estão presentes nas estruturas denominadas gotículas de lipídeos? Mitocondria Gota de lipídeo Membrana plasmática Aula_28C.p65 7/5/2004, 2:22 PM96 Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas 29AULA ob jet ivo s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Conhecer as principais experiências científi cas que sustentam o atual modelo de membranas biológicas. Conhecer o modelo do mosaico fl uido e suas implicações na compreensão das funções desempenhadas pelas membranas biológicas. Compreender as principais propriedades de uma membrana e como elas são determinadas por sua composição molecular. Pré-requisitos Propriedades dos ácidos graxos (aula 26); Forças hidrofóbicas (moléculas hidrofóbicas, hidrofílicas e anfi páticas (aula 26); Lipídeos de membranas (aula 28); Estrutura de proteínas. 98 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas POR QUE CONTAR A HISTÓRIA ? Nesta aula, traremos até você algumas experiências científi cas que fundamentaram os conceitos sobre a organização das membranas. Após a apresentação de cada experiência, discutiremos as conseqüências dos resultados experimentais para a evolução do conhecimento. Com isso queremos enfatizar que o que sabemos hoje é fruto de trabalho experimental acumulado ao longo dos anos, por várias pessoas. Além disso, pretendemos mostrar também que esses conceitos podem mudar com o tempo e pela disponibilidade de novas tecnologias. Preste atenção nas datas. As experiências apresentadas seguem uma ordem cronológica. Procure entender as experiências e o signifi cado dos resultados. Tire suas próprias conclusões antes de ler as apresentadas aqui sob o título “Conceito fundamentado pelas observações de Langmuir”. Isto é fundamental para o educador que você será. Repare como um mesmo tema pode ser apresentado de diversas maneiras e que nem sempre fornecer uma informação direta é a melhor forma de ensinar. Mesmo que você tenha difi culdade de pensar sobre as experiências apresentadas, não deixe de tentar. Esse é um exercício fundamental para entender como o conhecimento é construído. Em Ciência nada é uma verdade absoluta, mas parte de um processo pela busca desta verdade. Exercite esta busca e depois, como professor, passe adiante. A HISTÓRIA Abordagem experimental de Langmuir Em 1917, IRVIN LANGMUIR produziu membranas artificiais adicionando fosfolipídeos dissolvidos em benzeno (um solvente orgânico) IR V I N G LA N G M U I R era engenheiro metalúrgico e recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1932, “por suas excepcionais descobertas e invenções no campo da Química de Superfície”. Suas contibuições à físico- química de superfície, sem a menor dúvida, justifi cam o prêmio recebido. No entanto, infelizmente é pouco notado (principalmente pelos químicos) que o trabalho de Langmuir atingiu diversos campos da ciência, com importância fundamental, passando pelo estudo do átomo e chegando até a ciência atmosférica. Para saber mais, consulte: http://www.sbq.org.br/ ranteriores/23/ resumos/0088/e http://public.lanl.gov/ alp/plasma/people/ history.html “Se uma teoria é aprendida dogmaticamente como ela está, sem referência à sua origem, então ela corre perigo de se tornar fossilizada e de ser fi nalmente um obstáculo a progressos futuros. A Ciência não é um corpo de verdades reveladas que precisam ser piamente preservadas. Nós devemos entender o que é essencial em uma teoria e o que não é, e a melhor maneira de atingir esse entendimento é estudando sua história”. Freeman Dyson C E D E R J 99 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 A formação de micelas depende da concentração do fosfolipídeo. Acima da concentração chamada de concentração micelar crítica (CMC), os fosfolipídeos se organizam desta forma. Figura 29.1: Na superfície da água, os fosfolipídeos mantêm sua cabeça polar na água e suas caudas em contato com o ar. No centro, fosfolipídeos formando micelas. CONCEITO FUNDAMENTADO NAS OBSERVAÇÕES DE LANGMUIR Langmuir mostrou que, como moléculas anfi páticas, os lipídeos quando colocadosem água apresentam um comportamento particular: em contato com ela, suas caudas hidrofóbicas se unem e o fosfolipídeo expõe apenas sua região polar (cabeça) para o meio externo. Na superfície da água, a mesma tendência é observada. As caudas não interagem com a água. Este comportamento se deve às características físico-químicas da molécula de lipídeo, cuja região apolar tende a “fugir” da água. à água. Após evaporação do benzeno, Langmuir observou que os fosfolipídeos permaneceram como uma fi na película (monocamada) cobrindo a superfície da água, com as cabeças hidrofílicas imersas na água e as caudas hidrofóbicas em contato com o ar. Langmuir observou ainda a formação de MICELAS (Figura 29.1). Neste caso, as caudas hidrofóbicas se atraem mutuamente e as cabeças polares recobrem a micela, interagindo com a água. 100 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas ABORDAGEM EXPERIMENTAL DE GORTER E GRENDEL Em 1925, dois cientistas alemães, E. Gorter e F. Grendel calcularam a área da superfície de hemácias de várias espécies. Paralelamente isolaram as membranas dessas hemácias e, usando um solvente orgânico – a acetona, extraíram os lipídeos dessas membranas. Estes lipídeos foram então espalhados cuidadosamente sobre a água. Gorter e Grendel mediram a área ocupada pelos fosfolipídeos espalhados na superfície da água. Repetiram a experiência diversas vezes e compararam a área calculada e a área medida. Eles observaram que os lipídeos em água ocupavam aproximadamente o dobro do espaço da superfície calculada para a membrana. Lembre que lipídeos são pouco solúveis em água e muito solúveis em solventes orgânicos. Tente desenhar o experimento... Partindo destas observações, o que você concluiria no lugar de Gorter e Grendel? De que forma os lipídeos estariam organizados para explicar o resultado? Antes de seguir adiante... Baseado no comportamento dos fosfolipídeos, descrito nas experiências de Langmuir, escolha entre as quatro fi guras acima aquela que você acha mais adequada para representar a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas. Justifi que sua resposta. ATIVIDADE 1 Figura 29.2: Quatro representações da organização dos fosfolipídeos. C E D E R J 101 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 Você acertou! Os lipídeos só poderiam estar organizados como uma bicamada. Entretanto, GORTER E GRENDEL cometeram 2 erros experimentais que se anularam e lhes permitiram chegar à conclusão correta. O primeiro erro foi o de extrair os lipídeos da membrana de hemácias com acetona. A acetona é um solvente orgânico pouco efi ciente na extração de lipídeos (75% dos lipídeos apenas podem ser removidos, enquanto uma mistura de clorofórmio e metanol remove 100%). Isso os levou a subestimar o conteúdo lipídico daquelas membranas e, portanto, a área observada era menor do que a área que os lipídeos realmente ocupariam se a extração fosse mais efi ciente. O segundo erro foi cometido ao calcular a área das células intactas. O cálculo feito a partir de hemácias secas levou-os a subestimar esta medida. Na época, a estimativa fi cou em torno de 99 µm2 (micrometros ao quadrado). As medidas recentes, feitas por microscopia de interferência diferencial, indicam que hemácias humanas têm uma área de superfície de aproximadamente 138 µm2. GO R T E R E GRE N D E L concluíram: “Está claro que nossos resultados se adequam à suposição de que os eritrócitos (hemácias) são cobertos por uma camada de substâncias lipídicas que têm a espessura de duas moléculas”. Figura 29.3: As 3 possíveis organizações de lipídeos anfi páticos em água, segundo as observações de Langmuir (monocamada e micela) e Gorder e Grendel (bicama- da). Acima, monocamada na interface água - ar; no meio, micela com as caudas apolares para o centro; no fundo, uma bicamada fosfolipídica. A medida teórica foi menor que a real, mas a extração também não foi efi ciente. Como os erros foram proporcionais (Ufa! Que sorte!), Gorter e Grendel acabaram chegando à conclusão correta de que os lipídeos só poderiam estar organizados como uma bicamada. Para mais detalhes ver: http://physioweb. med.uvm.edu/ diffusion/frap/ membranes/pages/ MembStruct 4aside2.htm 102 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas Figura 29.4: Uma bicamada fosfolipídica (A). Em (B) a estrutura de um fosfoli- pídeo. CONCEITO FUNDAMENTADO NAS OBSERVAÇÕES DE GORTER E GRENDEL Você viu aqui que o método científi co não é infalível. E que existem, em alguns momentos, fatores pouco científi cos agindo. No caso de Gorter e Grendel... Que sorte heim? Os erros experimentais foram perfeitamente proporcionais. Dá para imaginar quanta gente tentou e tenta todos os dias, nos seus laboratórios, um sem número de experiências científi cas. Os erros são muitos e a gente nem fi ca sabendo. Somente aqueles que têm sucesso são divulgados. No caso de Gorter e Grendel, os erros passaram despercebidos por muito tempo. Mas o que importa é que apesar desses erros, podemos ainda hoje concluir que bicamadas podem ser formadas quando 2 moléculas anfi páticas, como os fosfolipídeos, são colocadas na água. Observando as fi guras 29.3 e 29.4 você perceberá que estas moléculas organizam-se com suas caudas voltadas para o interior da bicamada, enquanto as cabeças polares permanecem em contato direto com o meio aquoso. Portanto, uma bicamada apresenta necessariamente a espessura equivalente à soma dos comprimentos das duas moléculas de fosfolipídeos. C E D E R J 103 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 Como você viu na aula anterior, além de lipídeos, a membrana apresenta em sua estrutura uma fração significativa de proteínas. As propriedades e funções de uma membrana são o resultado das propriedades e funções destas moléculas (lipídeos e proteínas) e como elas se organizam para formar uma membrana celular. A seguir avançaremos na compreensão desta organização e das propriedades que ela determina. ABORDAGEM EXPERIMENTAL DE FRYE E EDIDIN Em 1970, L.D. Frye e M. Edidin demostraram, através de um elegante experimento, uma das principais propriedades das membranas. Frye e Edidin fundiram artifi cialmente uma célula humana com uma célula de camundongo. Esta fusão resultou em uma célula híbrida, contendo os componentes da membrana plasmática do camundongo e os componentes da membrana plasmática humana. A fusão de duas células pode ser promovida por agentes químicos ou por alguns vírus. Frye e Edidin usaram o Sendai vírus como agente de fusão. Figura 29.5: Experimento de Frye e Edidin. Os lipídeos formam uma matriz fluida na qual estão inseridas as proteínas. 104 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas O que isso signifi ca? Tente imaginar outras situações, substituindo proteínas por objetos. Que característica tem que apresentar o meio para que esses objetos, mergulhados neste meio, possam se movimentar? ATIVIDADE 2 CONCEITO FUNDAMENTADO NOS RESULTADOS DE FRYE E EDIDIN Frye e Edidin observaram no microscópio a distribuição da fl uorescência e concluíram que as proteínas se movimentavam na membrana. Com isso mostraram que os lipídeos formam uma base fl uida, na qual estão mergulhadas as proteínas (fi gura 29.6). MODELO DO MOSAICO FLUIDO As experiências de Frye e Edidin inspiraram dois pesquisadores alemães chamados Jonathan Singer e Garth Nicolson. Singer e Nicolson trabalhavam na Universidade da Califórnia em San Diego e postularam,em 1972, o modelo conhecido como Modelo do Mosaico Fluido. Este modelo prevê que a membrana é formada por uma matriz lipídica fl uida na qual proteínas estão inseridas e se movimentam livremente. Este é o modelo de membrana aceito atualmente. Mas não pense que parou aí. Esta é apenas uma parte da história. De 1970 para cá, o modelo já mudou muito, novos componentes foram descobertos e as representações de uma membrana estão cada vez mais sofi sticadas. Entretanto, a idéia básica continua a mesma. No experimento, as proteínas de membranas das diferentes células foram identifi cadas com anticorpos marcados com substâncias fl uorescentes (proteínas humanas = anticorpos marcados com rodamina – vermelha; proteínas de camundongo = anticorpos marcados com fluoresceína – verde). Como mostra a figura 29.5, após algum tempo as proteínas se encontravam homogeneamente distribuídas na membrana. A distribuição das proteínas marcadas com diferentes substâncias fl uorescentes pode ser visualizada em um microscópio de fl uorescência. C E D E R J 105 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 Figura 29.6: Modelo do Mo- saico fluido. A membrana celular é formada por uma bicamada de fosfolipídeos que formam uma matriz fl uida na qual proteínas estão mergu lhadas e se movimentam. PROPRIEDADES DA MEMBRANA Agora que você conhece um pouco da história das abordagens experimentais e dos conceitos fundamentais sobre membranas, vamos discutir as propriedades de uma membrana, ou seja, como ela se comporta e como seus constituintes infl uenciam este comportamento. Como você já sabe, os lipídeos são um dos principais componentes da membrana. Por isso, muitas de suas propriedades, como a fl uidez, são determinadas por sua composição lipídica. Discutiremos agora o papel dos lipídeos e a infl uência de fatores intrínsecos (tipos de lipídeos presentes) e extrínsecos (temperatura) nas propriedades da membrana. A FLUIDEZ DA MEMBRANA DEPENDE DA TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO Já sabemos que a membrana é formada por uma matriz lipídica fl uida. Entretanto, esta propriedade pode ser alterada. Na verdade, os fosfolipídeos em uma bicamada podem ser encontrados em uma de duas fases ou estados: cristalino ou fl uido. O estado, cristalino ou fl uido, é diretamente infl uenciado pela temperatura. A uma determinada temperatura, abaixo da chamada TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO, a membrana é cristalina. Acima desta temperatura, a fl uidez da membrana aumenta, desordenando os fosfolipídeos, sem, entretanto, alterar a estrutura básica da membrana. Observe o esquema abaixo (fi gura 29.7). TE M P E R A T U R A D E T R A N S I Ç Ã O é aquela em que a membrana passa de um estado cristalino para o estado fl uido. 106 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas A temperatura de transição de uma bicamada lipídica, e conseqüentemente de uma membrana, depende do tipo de ácidos graxos presentes na estrutura dos fosfolipídeos. Ácidos graxos saturados, como o palmitato e o estearato, mantêm os fosfolipídeos próximos uns dos outros, o que contribui decisivamente para uma alta temperatura de transição. Ácidos graxos altamente insaturados, como o ácido araquidônico, não podem se manter unidos por causa de suas duplas ligações e, conseqüentemente, por sua conformação espacial. Isto confere àqueles fosfolipídeos que apresentam ácidos graxos insaturados, uma temperatura de transição mais baixa na bicamada (ver fi gura 29.8). Lembra da discussão sobre a manteiga e o óleo, da aula27 O raciocínio é exatamente o mesmo. Figura 29.8: Infl uência dos ácidos graxos na organização e fl uidez da membrana. Figura 29.7: Infl uência da temperatura na fl uidez de uma bicamada fosfolipídica. A temperatura de transição é aquela em que a bicamada passa do estado cristalino (A) para o estado fl uido (B). Observe que em A o termômetro marca uma temperatura abaixo da temperatura de transição, enquanto em B o termômetro indica uma temperatura maior que a temperatura de transição. C E D E R J 107 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 O conteúdo de colesterol em uma membrana celular é um dos fatores mais importantes no controle da fl uidez. Conhecendo a estrutura do colesterol, tente determinar comparativamente o que acontece com membranas com maior e menor conteúdo de colesterol. Proponha uma experiência para provar sua hipótese usando as metodologias que você viu nesta aula. ATIVIDADE 3 OS FOSFOLIPÍDEOS TAMBÉM SE MOVIMENTAM NA MEMBRANA Nas membranas naturais (biológicas), em temperatura ambiente, os fosfolipídeos encontram-se no estado fl uido. Como conseqüência disto, os fosfolipídeos têm considerável liberdade de movimento na bicamada. Este movimento indica que as membranas biológicas são fl exíveis e dinâmicas, e não estáticas. Embora fosfolipídeos não possam se mover para fora da bicamada, eles apresentam grande mobilidade. Por causa de sua natureza fl uida, fosfolipídeos são livres para se movimentar lateralmente, em qualquer direção. Este processo é chamado de difusão lateral. O movimento dos fosfolipídeos entre as diferentes camadas é mais raro e difícil do que aquele que ocorre no mesmo plano (em várias direções na mesma camada). O movimento de um fosfolipídeo de uma camada para outra é TERMODINAMICAMENTE DESFAVORÁVEL, pois requer que uma cabeça polar passe através da região central hidrofóbica da bicamada. A este tipo de movimento damos o nome de fl ip-fl op (fi gura 29.9). TE R M O D I N A M I- C A M E N T E DE S F A- V O R Á V E L signifi ca que em condições normais algum evento ou processo biológico requer uma grande quantidade de energia para ocorrer. Não é impossível, mas raramente ocorre e requer condições especiais. Figura 29.9: Movimento entre as diferentes camadas de uma membrana, também chamado fl ip-fl op. O fosfolipídeo em destaque passa de um plano para outro na bicamada. Este movimento é raro, pois requer uma drástica mudança de posição do fosfolipídeo na bicamada. 108 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas OS LIPÍDEOS ESTÃO DISTRIBUÍDOS ASSIMETRICAMENTE NA MEMBRANA Como você viu até agora, as membranas celulares são formadas por uma mistura de diferentes tipos de lipídeos. Na membrana de hemácia humana, por exemplo, esta mistura de lipídeos está distribuída assimetricamente entre as duas metades da bicamada. Isto parece ser verdade para todas as membranas celulares. Tem sido mostrada a presença de enzimas chamadas translocases e fl ipases diretamente envolvidas na manutenção e regulação da assimetria da membrana. Note que, na fi gura 29.10, os principais lipídeos da camada externa da membrana plasmática de uma hemácia humana são esfi ngomielina, fosfatidilcolina e colesterol. Na camada interna, os dois primeiros lipídeos estão relativamente em menor quantidade. Fosfatidiletanolamina e fosfatidilserina estão em maior quantidade. O colesterol distribui-se de forma eqüitativa neste caso em particular. Figura 29.10: Distribuição dos diferentes lipídeos na bicamada. C E D E R J 109 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 O histórico do conhecimento acerca da organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas começa com Langmuir (1917). Ele mostrou que, como moléculas anfi páticas, tais lipídeos ao serem colocados em água apresentam um comportamento no qual suas caudas hidrofóbicas se unem, fugindo da água e expondo apenas sua região polar (cabeça) para o meio externo. A seguir, Gorder e Grandel concluíram que bicamadaspodem ser formadas quando duas moléculas anfi páticas, como os fosfolipídeos, são colocadas na água. Os experimentos de Frye e Edidin, em 1970, mostram que a membrana não é uma estrutura estática, pois observaram o movimento de proteínas neste local. Estes experimentos foram a base para que Singer e Nicolson, em 1972, propusessem o Modelo do Mosaico fl uido que estabelece que a membrana é formada por uma matriz lipídica fl uida na qual proteínas estão inseridas e se movimentam livremente. Tal movimento é predominantemente lateral, pois o deslocamento de um fosfolipídeo de uma camada a outra (fl ip-fl op) é termodinamicamente desfavorável por necessitar que uma cabeça polar passe através da região central hidrofóbica da bicamada. Essa limitação de movimento é importante para manter a assimetria da membrana. A fl uidez da membrana depende da composição de fosfolipídeos destas membranas. Fosfolipídeos formados por ácidos graxos saturados tendem a formar membranas mais rígidas. A temperatura de transição é aquela na qual a membrana passa deste estado fluido para um estado cristalino. Temperaturas muito baixas, portanto, interferem no funcionamento da membrana por infl uenciarem esta propriedade. R E S U M O 110 C E D E R J Bioquímica I | Lipídeos: a organização dos fosfolipídeos nas membranas biológicas EXERCÍCIO 1) Considere duas populações de peixes. A espécie X vive próxima à superfície do oceano, enquanto a espécie Y vive em grandes profundidades oceânicas, onde a pressão hidrostática é maior e a temperatura mais baixa. Que espécie tem maior conteúdo de ácidos graxos poliinsaturados: a espécie X ou a espécie Y? Justifi que. Dica: as membranas das duas espécies devem ser fl uidas. 2) A espessura de uma bicamada é igual a quantas moléculas de fosfolipídeos? 3) A membrana celular é uma estrutura rígida na qual nenhum de seus componentes são livres para se movimentar. ( ) FALSO ( ) VERDADEIRO Dica: observe a fi gura ao lado. Ela representa uma bicamada fosfolipídica. C E D E R J 111 A U LA 2 9 M Ó D U LO 5 4) A temperatura de transição é a temperatura na qual os fosfolipídeos, em uma bicamada, passam de um estado ordenado para um estado desordenado. Esta transição é acompanhada pela desintegração da membrana. ( ) FALSO ( ) VEDADEIRO Lipídeos IV: outros lipídeos MÓDULO 5 - A U L A 3 0 C E D E R J111 Lipídeos IV: outros lipídeos Objetivos • Conhecer a variedade estrutural e funcional dos lipídeos; • Distinguir diferentes grupos de lipídeos quanto a sua estrutura. Pré-requisitos • Definição de lipídeos; • Funções orgânicas. Nesta aula, vamos apresentar outros grupos de lipídeos com estruturas e atividades biológicas bastante diversificadas. Nossa intenção não é aprofundar o seu conhecimento em nenhum deles em particular, mas dar uma visão geral da diversidade deste grupo. Não se prenda às estruturas, tentando memorizá-las. Preste atenção na variedade dos grupos que vamos apresentar e lembre que são só alguns dentre tantos. Existem muitos outros, o que tornaria a missão de apresentá-los impossível. Para aqueles que são mostrados aqui, selecionamos as informações mais importantes, mas certamente deixamos de falar muito a respeito de cada um deles. Se você tem interesse em algum, em particular, não deixe de procurar mais informações nos pólos, com os monitores ou mesmo entrando em contato conosco. Aula_30C.p65 6/25/2004, 10:00 AM111 Lipídeos IV: outros lipídeos BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 112112C E D E R J Esteróides não encontrados em membranas Já falamos do colesterol, um esteróide encontrado em membranas celulares. Mas existem muitos outros esteróides e aqui mostraremos apenas alguns deles. Estradiol O estradiol é um hormônio estrogênio, um dos hormônios sexuais femininos. Ele esti- mula o desenvolvimento sexual feminino, a formação e liberação de ovos; ajuda a prevenir ataques cardíacos e a osteoporose. Testosterona A testosterona é um androgênio, um hormônio sexual masculino. Ele estimula o desenvolvimento sexual masculino, a formação do esperma e promove a agressividade em ambos os sexos. Vitamina D 3 A presença de um dos anéis aberto é característica da vitamina D3. Esta molécula é formada a partir do colesterol. É produzida na pele com a ajuda da luz ultravioleta do sol e sua deficiência causa raquitismo em crianças (ossos malformados). Controla o metabolismo de cálcio e fosfato e, portanto, é essencial na formação de ossos e dentes. É tóxico em altas doses. Figura 30.2: Estrutura da testosterona. Figura 30.3: Estrutura da Vitamina D3. Figura 30.1: Estrutura do Estradiol. Aula_30C.p65 6/25/2004, 10:00 AM112 Lipídeos IV: outros lipídeos MÓDULO 5 - A U L A 3 0 C E D E R J113 Ácidos biliares Ácidos biliares são derivados polares do colesterol e atuam como detergentes no intestino, emulsificando as gorduras da dieta e, assim, facilitando a ação de lipases. Ceras Cera é um termo geral utilizado para substâncias que formam uma cobertura protetora em folhas e frutos de vegetais, mas também encontradas em animais (cera de abelhas, cutícula de insetos, glândulas de pássaros e crustáceos planctônicos), algas, fungos e bactérias. Ceras podem desempenhar uma diversidade de funções, na natureza, relacionadas à sua propriedade de repelir a água e à sua consistência firme. Certas glândulas na epiderme de vertebrados secretam ceras para proteger o cabelo e a pele, mantendo-os lubrificados e impermeáveis. Alguns pássaros possuem glân- dulas secretoras de ceras que mantêm suas penas impermeáveis. As ceras são formadas principalmente de ésteres de ácidos graxos de cadeia longa (C14 a C36) com álcoois de cadeia longa (C16 a C30), mas podem também conter ácidos graxos livres e várias substânci- as que incluem hidrocarbonetos (n- alcanos), cetonas, di-cetonas, álcoois primários e secundários, aldeídos, áci- dos alcanóicos, terpenos e monoésteres, todos com cadeias de carbono longas ou muito longas (de 12 a 38 átomos de carbono) (quadro 30.1). Como nos triacilgliceróis, as pro- priedades das ceras são influenciadas diretamente pelo comprimento e grau de saturação de suas cadeias de hidrocarbonetos. Seus pontos de fusão (60°C a 100°C) são geralmente mais altos que aqueles dos triacilgliceróis. Composto Estrutura geral n-alcanos cetonas álcoois secundários β-dicetonas monoesteres álcoois primários aldeídos ácidos alcanóicos ω-hidroxi-álcoois H3C[CH2]nCH3 R1COR2 R1CH(OH)R2 R1COCH2COR2 R1COOR2 RCH2OH RCHO RCOOH HOCH2[CH2]nCOOH R1 e R2 representam 10 - 20 átomos de carbono ou mais. Quadro 30.1: Principais componentes presentes na estrutura de ceras. Figura 30.4: Estrutura do ácido taurólico, um ácido biliar. Aula_30C.p65 6/25/2004, 10:00 AM113 Lipídeos IV: outros lipídeos BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 114114C E D E R J Ceras animais Na glândula uropigial de pássaros, os ácidos graxos podem ser formados de cadeias mono ou poliramificadas. No plâncton, microorganismos marinhos que ocupam a base da cadeia alimentar, ceras são a principal forma de estoque de combustível metabólico. Em algumas espécies antárticas, os depósitos de ceras chegam a perfazer até 70% do total de lipídeos encontrado nesses animais. Espécies carnívoras de zooplâncton têm ceras que se caracterizam pela presença de álcoois de cadeias relativamente curtas (14:0 ou 16:0), enquanto espécies herbívoras, como alguns copépodes, apresentam principalmente álcoois de cadeia longa (20:1, 22:1). A cera de abelha tem sido utilizada pelo homem desde tempos remotos: em atividades humanas foi detectada em desenhos rupestres e em múmias egípcias. A produção mundial atualmente chega a 7.000 toneladas por ano das
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