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1 MODELO JUNGUIANO DA PSIQUE METAPSICOLOGIA UMA IMAGEM DA PSIQUE É A BORBOLETA. TRATA-SE DE SÍMBOLO BONITO, POIS COMO A BORBOLETA, A PSIQUE É UMA MANIFESTAÇÃO VIVA DO PRINCÍPIO DA METAMORFOSE. PRECISAMOS TER CUIDADO AO ABORDARMOS CIENTIFICAMENTE A PSIQUE PARA NÃO A MATARMOS E COMO FAZEM ALGUNS ENTOMOLOGISTAS OBSESSIVOS, PRENDÊ-LA COM UM ALFINETE NUM MOSTRUÁRIO E COLOCÁ-LA NO MUSEU. ALÉM DISSO, A METAPSICOLOGIA COMPÕE-SE DE ABSTRAÇÕES, QUE SÃO ENTIDADES DIRETAMENTE NÃO-OBSERVÁVEIS. USAMOS DE UMA “FICÇÃO”, INVENTAMOS UM VOCABULÁRIO QUE NOS POSSIBILITA FALARMOS SOBRE A PSIQUE “COMO SE” ELA FOSSE DOTADA DE UMA ESTRUTURA, PARA PODERMOS CRIAR UM MODELO DE TRABALHO QUE NOS AJUDE A ENTENDÊ-LA. MAS ESTE MODELO IMAGINÁRIO NÃO REPRESENTA A REALIDADE CONCRETA. TRATA-SE APENAS DE UMA METÁFORA. A ÚNICA MANEIRA DE PODERMOS CONHECER A PSIQUE É VIVENCIÁ-LA. O RESTO É MERA DEDUÇÃO. O EGO É APRESENTADO CIRCULANDO EM ÓRBITA NUMA FAIXA DA CONSCIÊNCIA, AO REDOR DE UM NÚCLEO CENTRAL (O SI-MESMO). OS DOIS ESTÃO LIGADOS PELO EIXO DO EGO E DO SI-MESMO. A FAIXA CONCÊNTRICA INTERIOR E MÉDIA REPRESENTA O INCONSCIENTE COLETICO E O INCONSCIENTE PESSOAL. AS UNIDADES FUNCIONAIS QUE CONSTITUEM O INCONSCIENTE PESSOAL SÃO OS COMPLEXOS. E AS QUE COMPÕEM O INCONSCIENTE COLETIVO SÃO OS ARQUÉTIPOS. ESSES “COMPONENTES” FUNCIONAIS DEVEM SER ENTENTIDOS NÃO COMO “SISTEMAS” FIXOS OU ESTÁTICOS, MAS COMO “SISTEMAS” DINÂMICOS, EM PROCESSO CONTÍNUO DE INTERAÇÃO E MUDANÇA. TODOS ELES ESTÃO SOB A INFLUÊNCIA COORDENADORA DO SI- MESMO. O EGO É O PONTO FOCAL DA CONSCIÊNCIA. TRAZ EM SI A CONSCIÊNCIA DO PRÓPRIO ATO DE EXISTIR, DA PRÓPRIA EXISTÊNCIA, JUNTO COM O SENSO CONTÍNUO DA IDENTIDADE PESSOAL. ELE É O ORGANIZADOR CONCIENTE DOS NOSSOS PENSAMENTOS E INTUIÇÕES, NOSSOS SENTIMENTOS E SENSAÇÕES E TEM O ACESSO ÀQUELAS LEMBRANÇAS NÃO REPRIMIDAS E PRONTAMENTE DISPONÍVEIS. É O PORTADOR DA PERSONALIDADE. SITUADO NA CAMADA EXTERIOR DA PSIQUE, O EGO É INTERMEDIÁRIO ENTRE O CAMPO SUBJETIVO E O CAMPO OBJETIVO DA EXPERIÊNCIA. 2 ESTÁ SITUADO NA JUNÇÃO ENTRE OS MUNDOS INTERIOR E EXTERIOR. AS PESSOAS DIVERGEM QUANTO A DECIDIR QUAL DESSES DOIS MUNDOS É MAIS IMPORTANTE PARA ELAS, E ISSO DETERMINA O SEU TIPO DE ATITUDE: PARA OS EXTROVERTIDOS, O MUNDO EXTERIOR TEM SIGNIFICADO MAIOR, (ou seja, o Tipo Extrovertido tem o interesse direcionado primeiro para os objetos e depois para o sujeito). AO PASSO QUE OS INTROVERTIDOS SÃO ORIENTADOS PRINCIPALMENTE PARA AS SUAS EXPERIÊNCIAS INTERIORES (ou seja, o Tipo Introvertido tem o interesse direcionado primeiro para o sujeito e depois para os objetos) ALÉM DISSO, JUNG OBSERVAVA QUE AS PESSOAS DIFEREM QUANTO AO USO CONSCIENTE QUE FAZEM DE CADA UMA DAS QUATRO FUNÇÕES PRIMÁRIAS: O PENSAMENTO, O SENTIMENTO, INTUIÇÃO E SENSAÇÃO. EM QUALQUER INDIVÍDUO, UMA DESSAS FUNÇÕES SE TORNA SUPERIOR ÀS OUTRAS, O QUE SIGNIFICA QUE ELA É MAIS ALTAMENTE DESENVOLVIDA DO QUE AS DEMAIS, UMA VEZ QUE SE FAZ UM USO MAIOR DELA DO QUE DAS OUTRAS. ISSO DETERMINA O ASPECTO FUNCIONAL DO TIPO PSICOLÓGICO. O EGO SURGE (A PARTIR DO SI-MESMO), NO DECURSO DA PRIMEIRA FASE DO DESENVOLVIMENTO, MAIS OU MEMOS COMO A LUA SE SEPAROU DA TERRA NA PRIMEIRA FASE DA HISTÓRIA DO NOSSO PLANETA. NO ENTANTO, DIFERENTEMENTE DA LUA, O EGO POSSUI UMA FUNÇÃO EXECUTIVA – ELE É O INTERMEDIÁRIO ENTRE O SI-MESMO PARA O MUNDO, E DO MUNDO PARA O SI-MESMO. REALIZA OUTROS PAPÉIS IMPORTANTES: É ELE QUE CAPTA O SIGNIFICADO, O AVALIADOR DOS VALORES, DAS ATIVIDADES, QUE NÃO SÓ PROMOVEM A SOBREVIVÊNCIA, MAS TAMBÉM TORNAM A VIDA DIGNA DE SER VIVIDA. ENTRETANTO, O EGO DEVE SER ENTENDIDO COMO ALGO SOBORDINADO AO SI-MESMO. POIS O EGO ORBITA AO REDOR DO SI- MESMO, DA MESMA FORMA COMO A LUA GIRA AO REDOR DA TERRA, OU A TERRA AO REDOR DO SOL. MAS, AO MESMO TEMPO, ELE VEM A SER UMA EXPRESSÃO DO PRÓPRIO SI-MEMO. JUNG ESCREVEU O SEGUINTE A RESPEITO DO SI-MEMO: “ELE NÃO É APENAS O CENTRO, MAS TAMBÉM A CIRCUNFERÊNCIA TODA QUE ABRANGE TANTO O CONSCIENTE COMO O INCONSCIENTE; ELE É O CENTRO DESTA TOTALIDADE, ASSIM COMO O EGO É O CENTRO DA MENTE CONSCIENTE” (CW12,PAR.41). 3 OS COMPLEXOS E O INCONSCIENTE PESSOAL O INCONSCIENTE PESSOAL É O PRODUTO DA INTERAÇÃO ENTRE O INCONSCIENTE COLETIVO E O MEIO AMBIENTE EM QUE O INDIVÍDUO CRESCE: “TUDO QUANTO CONHEÇO, MAS SOBRE O QUAL NO MOMENTO NÃO ESTOU PENSANDO; DE TUDO QUANTO EU TINHA CONSCIÊNCIA, MAS AGORA ESQUECI; TUDO QUANTO OS MEUS SENTIDOS PERCEBEM, MAS QUE NÃO É NOTADO PELA MINHA MENTE CONSCIENTE; TUDO QUANTO, INVOLUNTARIAMENTE E SEM PRESTAR ATENÇÃO, SINTO, PENSO, RECORDO, QUERO E FAÇO; TODAS AS COISAS FUTURAS QUE ESTÃO TOMANDO FORMA EM MIM E QUE ALGUM DIA VIRÁ À CONSCIÊNCIA; TUDO ISSO É O CONTEÚDO DO INCONSCIENTE” (CW, PAR.382). “ALÉM DISSO, TUDO DEVEMOS INCLUIR TODAS AS REPRESSÕES MAIS OU MENOS INTENCIONAIS DE PENSAMENTOS E SENTIMENTOS DOLOROSOS. CHAMO À SOMA DE TODOS ESSES CONTEÚDOS DE “INCONSCIENTE PESSOAL” (CW 8, PAR.270). AS UNIDADES FUNCIONAIS DE QUE SE COMPÕE O INCONSCIENTE PESSOAL SÃO OS COMPLEXOS, E ISTO É TÃO VERDADEIRO EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS SÃS QUANTO EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS NEURÓTICAD OU PSICÓTICAS. ENQUANTO FREUD CONSIDERAVA OS COMPLEXOS ENVOLVIDOS APENAS COM AS DOENÇAS, JUNG OS ENTENDIA TAMBÉM COMO PARTES ESSENCIAIS DA MENTE SÃ. OS COMPLEXOS TÊM AUTONOMIA (DO GREGO, AUTÓS = DE SI MESMO, E NOMOS= LEI, REGRA): UMA REGRA PARA SI MESMO. OS COMPLEXOS PARECEM POSSUIR UMA VONTADE, UMA VIDA E UMA PERSONALIDADE PRÓPRIA: “OS COMPLEXOS SE COMPORTAM COMO SERES INDEPENDENTES, FATO ESSE IGUALMENTE EVIDENTE EM ESTADOS ANORMAIS DA MENTE” (FENÔMENOS TAIS COMO AS VOZES ALUCINATÓRIAS “OUVIDAS” PELAS PESSOAS ESQUIZOFRÊNICAS, OS “ESPÍRITOS” QUE “CONTROLAM” OS MÉDIUNS EM ESTADO DE TRANSE, AS PERSONALIDADES MÚLTIPLAS QUE SE MANIFESTAM NAS PESSOAS HISTÉRICAS, ETC.). O TRABALHO QUE JUNG FEZ COM TESTES DE ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS O CONVENCEU DE QUE NO CENTRO DE CADA COMPLEXO EXISTE UM “ELEMENTO NUCLEAR” QUE FUNCIONA FORA DO ALCANCE DA VONTADE CONSCIENTE. É AO REDOR DESTE NÚCLEO QUE SE AGRUPAM AS IDÉIAS ASSOCIADAS CARREGADAS DE EMOÇÕES. O QUE PROPORCIONA O NÚCLEO? NO CASO DOS COMPLEXOS PRINCIPAIS – POR EXEMPLO, OS COMPLEXOS MATERNO E PATERNO, E NO QUE ELE MAIS TARDE IDENTIFICOU COMO PERSONA, SOMBRA, EGO, ANIMA E ANIMUS – ELE CHEGOU À CONCLUSÃO QUE ESTE ELEMENTO NUCLEAR ERA UM COMPONENTE DO INCONSCIENTE COLETIVO. 4 A PARTIR DE 1912, ELE OS DENOMINOU DE “ARQUÉTIPOS”. COMO É QUE UM ARQUÉTIPO DO INCONSCIENTE COLETIVO SE TORNA UM COMPLEXO NA PSIQUE PESSOAL? ESTA É UMA PERGUNTA DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA, POQUE A SUA RESPOSTA PRECISA NOS DIZER ALGUMA COISA SOBRE O MODO COMO, EM CADA UM DE NÓS, A VIDA PESSOAL SE INSERE, POR ASSIM DIZER, NA HISTÓRIA COLETIVA DA ESPÉCIE. AS LEIS DA ASSOCIAÇÃO, ELABORADAS POR PSICÓLOGOS ACADÊMICOS NO FIM DO SÉCULO XIX, FORNECEM, PELO MENOS, UMA RESPOSTA PARCIAL. EXISTEM DUAS DESSAS LEIS; A LEI DA SIMILARIDADE E A LEI DA CONTIGÜIDADE. APLICANDO ESSAS DUAS LEIS, PODE-SE FORMULAR A HIPÓTESE DE QUE UM ARQUÉTIPO SE TORNA ATIVO NA PSIQUE QUANDO O INDIVÍDUO ENTRA NA PROXIMIDADE (CONTIGÜIDADE) DE UMA SITUAÇÃO OU DE UMA PESSOA CUJAS CARACTERÍSTICAS POSSUEM UMA SIMILARIDADE COM O ARQUÉTIPO EM QUESTÃO. QUANDO UM ARQUÉTIPO É ATIVADO COM SUCESSO, ACUMULAM EM SI PRÓPRIO, IDÉIAS, PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS EMOCIONAIS ASSOCIADAS À SITUAÇÃO OU À PESSOA RESPONSÁVEL PELA SUA ATIVAÇÃO, E AS MESMAS SÃO TRANSFORMADAS EM UM COMPLEXO QUE, EM SEGUIDA, SE TORNA FUNCIONAL NO INCONSCIENTE PESSOAL. A ATIVAÇAO DE UM SISTEMA ARQUETÍPICO REQUER A PROXIMIDADE DAS FIGURAS OU SITUAÇÕES ADEQUADAS PARA O FUNCIONAMENTO DO ARQUÉTIPO. ALÉM DISSO, É NECESSÁRIO QUE ESSAS FIGURAS OU SITUAÇÕES SE COMPORTEM DE ACORDO COM UMA FORMA ARQUETIPICAMENTE PREVISTA. NO CURSO SO DESENVOLVIMENTO, OS COMPLEXOS SE TORNAM, EM GRAU VARIÁVEL, CONSCIENTES. Na primeirafase da infância, o mais importante de todos os complexos, o do ego, entra em funcionamento como núcleo da percepção consciente da identidade pessoal. MAS, ALGUNS COMPLEXOS PERMANECEM PROFUNDAMENTE INCONSCIENTES, E QUANTO MENOS CONSCIENTE É UM COMPLEXO, TANTO MAIS COMPLETA É A SUA AUTONOMIA. ENTÃO, ELE PODE EXERCER SOBRE NÓS UMA GRANDE INFLUÊNCIA SEM O NOSSO CONHECIMENTO. AO ESCREVER, EM 1921, APÓS A “EXPERIÊNCIA QUE TEVE COM O INCONSCIENTE”, JUNG DECLARAVA: “TODOS NÓS SABEMOS, ATUALMENTE, QUE AS PESSOAS TÊM COMPLEXOS; O QUE NÃO SABEMOS COM CERTEZA É QUE OS COMPLEXOS PODEM POSSUIR- NOS” (CW, 6, PAR.200). COMO CONSEQÜÊNCIA DISSO, OS COMPLEXOS PODEM NOS MANIPULAR DENTRO DE SITUAÇÕES QUE PODEM SE TORNAR 5 DESAGRADÁVEIS OU ATÉ MESMO DESASTROSAS PARA O NOSSO PRÓPRIO BEM-ESTAR. CERTAMENTE, OS COMPLEXOS PODEM EXERCER UMA GRANDE INIBIÇÃO SOBRE NOSSA HABILIDADE DE VIVER NOSSA VIDA TÃO LIVREMENTE QUANTO DESEJARMOS. É POSSIVEL QUE ACREDITEMOS PODER DOMINAR NOSSOS COMPLEXOS, PORÉM, COM TODA CERTEZA, NOS DEIXAMOS ESCRAVIZAR POR ELES. SE QUISERMOS NOS LIBERTAR DE SUA INFLUÊNCIA, A ÚNICA MANEIRA DE FAZÊ-LO É TORNÁ-LOS CONSCIENTES E CONFRONTÁ-LOS. Mas, isso não é fácil. OS COMPLEXOS NÃO ENTREGAM OS SEUS SEGREDOS OU DESISTEM DO SEU PODER COM TANTA FACILIDADE, E PODEM APRESENTAR UMA REISTÊNCIA TENAZ AO PROCESSO ANALÍTICO, PRINCIPALMENTE EM PESSOAS QUE TÊM FORTES SENTIMENTOS DE INSEGURANÇA. Essas pessoas podem ficar aterrorizadas ao confrontar os seus complexos e tudo farão para negá-los, projetá-los ou racionalizá-los, em vez de conscientizá-los. ENCONTRAR A CORAGEM PARA TENTAR UMA CONFRONTO CONSCIENTE PODE EXIGIR DELAS UMA GRANDE DOSE DE CONFIANÇA NO ANALISTA, E DA PARTE DELE, PODE EXIGIR MUITO TATO E HABILIDADE. O ÊXITO, NESTE CASO, PODE TRAZER UMA GRATIFICAÇÃO MUITO GRANDE. O EGO DESENVOLVE UMA CONSCIÊNCIA MAIOR E UMA LATITUDE MAIS AMPLA PARA A AÇÃO, E O ARQUÉTIPO QUE SE ENCONTRA NO CENTRO DE TODO O PROCESSO LIBERTA-SE DE SUAS EXCRESCÊNCIAS PATOLÓGICAS. O PAC. ENTÃO PODE EVITAR AS COAÇÕES IMPOSTAS PELO COMPLEXO E ENCARAR O PROBLEMA QUE ANTES O PRENDIA NUMA ARMADILHA COMO ALGO QUE SEMPRE FORA SIGNIFICATIVO PARA A HUMANIDADE, E, EM CONSEQÜÊNCIA DISSO, COMO ALGO CAPAZ DE UMA SOLUÇÃO MAIS CRIATIVA DO QUE ATÉ ENTÃO FORA POSSÍVEL TENTAR. A VERDADE TERAPÊUTICA FUNDAMENTAL É QUE, ENQUANTO OS COMPLEXOS PODEM SER DE ORIGEM PATOLÓGICA, OS ARQUÉTIPOS NÃO O SÃO. ESTES SÃO EXPRESSÕES DE NATUREZA COMPLETAMENTE SADIA. ELES SÓ CONTRIBUEM PARA A PATOLOGIA QUANDO UM AMBIENTE DOENTIO FAZ COM QUE SE INSIRAM NOS COMPLEXOS PATOLÓGICOS. O TRATAMENTO CONSISTE NA CONFRONTAÇÃO DO COMPLEXO, LIBERTANDO O ARQUÉTIPO E POSSIBILITANDO A FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES MAIS SADIAS COM O MUNDO EXTERIOR. OS ARQUÉTIPOS E O INCONSCIENTE COLETIVO PARA JUNG, O HOMEM NÃO NASCE UMA TABULA RASA. PARA ELE TODA PERSONALIDADE JÁ SE ENCONTRA PRESENTE, EM POTENCIAL, JÁ A PARTIR DO NASCIMENTO, E QUE O MEIO AMBIENTE NÃO FORNECE A PERSONALIDADE, PORÉM, SIMPLESMENTE, TRAZ À LUZ O QUE JÁ SE ENCONTRA NO INDIVÍDUO. TODA CRIANÇA JÁ NASCE COM UM PROJETO INTACTO PARA A VIDA, TANTO SOB O PONTO DE VISTA FÍSICO COMO SOB O ASPECTO 6 MENTAL, QUE LHE FOI CONFERIDO, NÃO PELO MEIO AMBIENTE ATUAL, MAS POR UMA COMBINAÇÃO DE PRESSÃO SELETIVA E DE HEREDITARIEDADE QUE ATUAVAM NO CONTEXTO DO AMBIENTE ANTERIOR AO QUAL ESTAVA EXPOSTA TODA A ESPÉCIE HUMANA. O INCONSCIENTE COLETIVO É UMA HIPÓTESE CIENTÍFICA COMPATÍVEL COM A ABORDAGEM TEÓRICA ADOTADA POR CERTOS BIÓLOGOS QUE ESTUDAM O COMPORTAMENTO ANIMAL EM AMBIENTES NATURAIS. ESSES CIENTISTAS (ETÓLOGOS, COMO SÃO DENOMINADOS) SUSTENTAM QUE CADA ESPÉCIE ANIMAL ESTÁ SINGULARMENTE EQUIPADA DE UM REPERTÓRIO DE COMPORTAMENTOS ADAPTADOS AO AMBIENTE EM QUE SE DESENVOLVE. ESSE REPERTÓRIO DEPENDE DE “MECANISMOS LIBERADORES INATOS” QUE OS ANIMAIS HERDAM EM SEU SISTEMA NERVOSO CENTRAL E QUE SÃO CONDICIONADOS A ENTRAR EM AÇÃO QUANDO OS ESTÍMULOS APROPRIADOS, CHAMADOS “SINAIS-ESTÍMULOS”, SE ENCONTRAM NO MEIO AMBIENTE. QUANDO ESSES ESTÍMULOS SÃO ENCONTRADOS, O MECANISMO INATO É LIBERADO, E O ANIMAL RESPONDE COM UM “PADRÃO DE COMPORTAMENTO” ADAPTADO À SITUAÇÃO. QUANDO SE FAZ A DEVIDA CONCESSÃO PARA UMA FLEXIBILIDADE MAIOR DE ADAPTAÇÃO DE NOSSA ESPÉCIE, A POSIÇÃO ETOLÓGICA SE APROXIMA MUITO DA VISÃO DE JUNG EM RELAÇÃO À NATUREZA DOS ARQUÉTIPOS E DO SEU MODO DE ATIVAÇÃO. O QUE SE TORNA FIXO NA ESTRUTURA GENÉTICA É A PREDISPOSIÇÃO A ESSES TIPOS DE EXPERIÊNCIA. TODO ORGANISMO EVOLUI DENTRO DO SEU AMBIENTE TÍPICO (QUE OS ETÓLOGOS CHAMAM DE UMWELT), E, NO DCURSO DO SEU CICLO VITAL, ENCONTRA “SITUAÇÕES TÍPICAS”. EM CONSEQUÊNCIA DAS MUTAÇÕES GENÉTICAS, QUE OCORREM DE MODO ESPONTÂNEO E AO ACASO, UM INDIVÍDUO IRÁ ADQUIRIR UMA CARACTERÍSTICA OU UMA PROPENSÃO QUE O TORNA MAIS BEM ADAPTADO DO QUE OS SEUS SEMELHANTES E MAIS CAPACITADO A REPONDER DE FORMA ADEQUADA A UMA DETERMINADA SITUAÇÃO ESPECÍFICA – TAL COMO, POR EXEMPLO, A UM ATAQUE DE UM PREDADOR. ESTE INDIVÍDUO APRESENTARÁ A TENDÊNCIA A SOBREVIVER E A TRNSMITIR A SUA NOVA CONFIGURAÇÃO GENÉTICA A MEMBROS DAS GERAÇÕES SEGUINTES, OS QUAIS, DE POSSE DAS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS, IRÃO COMPETIR COM MAIS EFICIÊNCIA NA LUTA PELA EXISTÊNCIA. EM CONSEQÜÊNCIA DISSO, COM O TEMPO, O NOVO ATRIBUTO SE ESTABELECE COMO UM COMPONENTE-PADRÃO NA ESTRUTURA GENÉTICA DA ESPÉCIE. DESSA FORMA, AS NOSSAS PROPENSÕES ARQUETÍPICAS FORAM SE ADAPTANDO ÀS SITUAÇÕES CARACTERÍSTICAS ENCONTRADAS NA VIDA DO HOMEM. A SELEÇÃO REPETIDA DAS MUTAÇÕES FORTUITAS QUE OCORRERAM ATRAVÉS DE GERAÇÕES SUCESSIVAS E DURANTE CENTENAS DE MILHARES DE ANOS TEVE COMO REAULTADO O GENÓTIPO ATUAL OU A ESTRUTURA ARQUETÍPICA DA ESPÉCIE HUMANA. 7 EM 1946 JUNG ANUNCIOU UMA DISTINÇÃO TEÓRICA BEM NÍTIDA ENTRE O ARQUÉTIPO-EM-SI, PROFUNDAMENTE INCONSCIENTE, E, PORTANTO, IMPERCEPTÍVEL E AS IMAGENS ARQUETÍPICAS, IDÉIAS, IMAGENS E COMPORTAMENTOS QUE SURGEM DO ARQUÉTIPO-EM-SI. É O ARQUÉTIPO-EM-SI (A PREDISPOSIÇÃO PARA ADQUIRIR UMA DETERMINADA EXPERIÊNCIA) QUE É HERDADO, E NÃO A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA EM SI. ASSIM, OS ARQUÉTIPOS NOS PREDISPÕEM A ENFRENTAR A VIDA E A EXPERIMENTÁ-LA SOB CERTAS FORMAS, DE ACORDO COM OS PADRÕES JÁ ESTABELECIDOS NA PSIQUE. ALÉM DISSO, ELES ORGANIZAM TAMBÉM PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS DE MODO A CONFORMÁ-LAS AOS PADRÕES. PARA JUNG, HÁ TANTOS ARQUÉTIPOS QUANTAS AS SITUAÇÕES TÍPICAS NA VIDA. EXISTEM FIGURAS ARQUETÍPICAS (POR EXEMPLO, A MÃE, O FILHO, O PAI, DEUS, O SÁBIO), EVENTOS ARQUETÍPICOS (POR EXEMPLO, O NASCIMENTO, A MORTE, A SEPARAÇÃO DOS PAIS, O NAMORO, O CASAMENTO, ETC) E OBJETOS ARQUETÍPICOS (POR EXEMPLO, A ÁGUA, O SOL, A LUA, O PEIXE, OS ANIMAIS PREDADORES, COBRAS). CADA UM DELES É PARTE DO DOTE TOTAL QUE NOS FOI LEGADO ATRAVÉS DA EVOLUÇÃO, A FIM DE NOS PREPARAR PARA A VIDA. CADA UM DELES ENCONTRA EXPRESSÃO NA PSIQUE, NO COMPORTAMENTO E NOS MITOS. DE MODO FIGURATIVO, JUNG RESUMIU ISSO DA SEGUINTE FORMA: “O INCONSCIENTE COLETIVO É UMA IMAGEM DO UNIVERSO QUE LEVOU UMA ETERNIDADE PARA SER FORMADO. NESTA IMAGEM, CERTAS CARACTERÍSTICAS, OS ARQUÉTIPOS OU DOMINANTES, CRISTALIZAM-SE COM O TRANSCORRER DO TEMPO. ELES CONSTITUEM AS FORÇAS DOMINANTES” (CW 7, PAR. 151). A HIPÓTESE ARQUETÍPICA FOI O PRODUTO DE UMA NECESSIDADE QUE DUROU TODA A VIDA DE JUNG DE RECONCILIAR A BIOLOGIA COM A VIDA DO ESPÍRITO – a aspiração que se tornou tão manifesta nele ao ler o manual de Krafft-Ebing, quando ainda estudante, e ao decidir que o único curso para ele seria o de tornar-se psiquiatra: “SOMENTE LÁ É QUE AS DUAS CORRENTES DO MEU INTERESSE PODERIAM FLUIR JUNTAS E NUM ÚNICO CURSO CAVAR O SEU PRÓPRIO LEITO. LÁ ESTAVA O CAMPO EMPÍRICO COMUM AOS FATOS BIOLÓGICOS E ESPIRITUAIS, QUE EU HAVIA PROCURADO POR TODA PARTE E EM PARTE ALGUMA HAVIA ENCONTRADO. LÁ, FINALMENTE, ESTAVA O LUGAR ONDE A COLISÃO DA NATUREZA E DO ESPÍRITO SE TORNAVA UMA REALIDADE”. COM A TEORIA DOS ARQUÉTIPOS E DO INCOSCIENTE COLETIVO, JUNG BASEOU SUA PSICOLOGIA, OBSERVANDO QUE A VIDA DO INDIVÍDUODEVE SER ENCARADA NÃO APENAS DENTRO DO CONTEXTO DE SUA CULTURA, MAS NO CONTEXTO DA SUA ESPÉCIE.. ESCREVEU: “EM ÚLTIMA ANÁLISE, CADA VIDA INDIVIDUAL É IDÊNTICA À VIDA ETERNA DA ESPÉCIE” (CW 11, PAR. 146). 8 EM CONSEQUÊNCIA DISSO, O MODELO JUNGUIANO DA PSIQUE ESTÁ PERMEADO DE SUPOSIÇÕES “BIOLÓGICAS”. DA MESMA FORMA COMO A ESTRUTURA DA PSIQUE É DETERMINADA PELO CONCEITO DO ARQUÉTIPO, ASSIM TAMBÉM A FUNÇÃO DA PSIQUE PROCEDE DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS “BIOLÓGICOS” DA ADAPTAÇÃO, DA HOMEOSTASE E DO CRESCIMENTO. ANATOMIA PSIQUÍCA X FISIOLOGIA PSIQUÍCA ADAPTAÇÃO PROCESSO PELO QUAL UM ORGANISMO SE AJUSTA ATIVAMENTE AO SEU MEIO AMBIENTE E ÀS MUDANÇAS QUE NELE OCORREM. OS FILHOTES DE ANIMAIS DE TODAS AS ESPÉCIES, INCLUINDO OS NOSSOS PRÓPRIOS FILHOS, COMEÇAM A VIDA COM O EQUIPAMENTO INATO NECESSÁRIO PARA QUE OCORRA ESSA ADAPTAÇÃO, E ESTA CONTINUA, À MEDIDA QUE O PROGRAMA INATO PARA A VIDA VAI DESABROCHANDO NO CONTEXTO DO UMWELT (O MEIO AMBIENTE PECULIAR A CADA ESPÉCIE). O APRENDIZADO DESEMPENHA UM PAPEL IMPORTANTE NESTA ADAPTAÇÃO, TANTO MAIS IMPORTANTE QUANTO MAIS COMPLEXO FOR O ORGANISMO. PARA JUNG, O RECÉM-NASCIDO, LONGE DE SER UMA TABULA RASA, É UMA CRIATURA SUMAMENTE COMPLEXA, DOTADA DE UM GRANDE REPERTÓRIO DE EXPECTATIVAS, DE REQUISITOS E DE PADRÕES PARA RESPOSTAS NELE EMBUTIDOS, CUJA REALIZAÇÃO E EXPRESSÃO DEPENDEM DA PRESENÇA DE ESTÍMULOS APROPRIADOS QUE SURGEM NO MEIO AMBIENTE. EM RAZÃO DISSO, O DOTAMENTO ARQUETÍPICO COM O QUAL CADA RECÉM-NASCIDO VEM EQUIPADO CAPACITA-O A ADAPTAR-SE À REALIDADE DE UMA FORMA INDISCERNÍVEL DA DOS NOSSOS REMOTOS ANTEPASSADOS. AO CONJUNTO DESSES DOTAMENTOS JUNG DEU O NOME DE SI- MESMO, AO QUAL MUITAS VEZES ELE SE REFERIA COMO AO ARQUÉTIPO DOS ARQUÉTIPOS. AS OUTRAS ESTRUTURAS PSÍQUICAS – O EGO, A PERSONA, A SOMBRA, O ANIMUS OU ANIMA – SE DESENVOLVEM A PARTIR DESTA MATRIZ E PERMANECEM SOB A INFLUÊNCIA ORIENTADORA DO SI- MESMO. TODAS ELAS DESEMPENHAM FUNÇÕES VITAIS DE ADAPTAÇÃO NO PROCESSO DE AMADURECIMENTO DA PSIQUE. SI-MESMO OU SELF Arquétipo que representa a unidade dos sistemas consciente e inconsciente, funcionando, ao mesmo tempo, como centro regulador da totalidade da personalidade. O SI-MESMO É O ORGÃO PSÍQUICO DA ADAPTAÇÃO POR EXCELÊNCIA. NA QUALIDADE DE “GÊNIO” ORGANIZADOR QUE ESTÁ POR TRÁS DA PERSONALIDADE TOTAL, ELE É RESPONSÁVEL PELA 9 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE VIDA, EM CADA ETAPA DO CICLO VITAL, E PELA EFETIVAÇÃO DOS MELHORES AJUSTAMENTOS QUE AS CIRCUNSTÂNCIAS INDIVIDUAIS PERMITIREM. POR ISSO, O SI-MESMO POSSUI UMA FUNÇÃO TELEOLÓGICA, NO SENTIDO DE QUE POSSUI A CARACTERÍSTICA INATA DE BUSCAR A SUA PRÓPRIA REALIZAÇÃO NA VIDA. (TELEO É UMA PALAVRA DE COMBINAÇÃO, DERIVADA DE TELEOS, QUE SIGNIFICA PERFEITO, COMPLETO, E DE TELOS, QUE SIGNIFICA FIM; TELEOLOGIA, PORTANTO, SE REFERE À REALIZAÇÃO DO OBJETIVO, DO PROJETO DE PERFEIÇÃO). O OBJETIVO DO SI-MESMO É A TOTALIDADE. JUNG DENOMINOU ESSE PROCESSO QUE DURA A VIDA TODA DE INDIVIDUAÇÃO, E A MESMA É A RAZÃO DE SER DO SI-MESMO: O SEU OBJETIVO É A BUSCA MAIS PLENA POSSÍVEL DA REALIZAÇÃO DO SI-MESMO NA PSIQUE E NO MUNDO. EMBORA O SI-MESMO ESTEJA VINCULADO ÀS NOSSAS HERANÇAS BIOLÓGICAS, ELE, NÃO OBSTANTE, NOS CONDUZ PARA OS MISTÉRIOS INEFÁVEIS DA ALMA. ELE TRANSMITE INTIMAÇÕES, SUGESTÕES, SOBRE ASSUNTOS BÁSICOS A RESPEITO DOS QUAIS O EGO PERMANECE IGNORANTE. O EGO TOMA CONTA EXCLUSIVAMENTE DAS NOSSAS PREOCUPAÇÕES CONSCIENTES, PORÉM O SI-MESMO TEM ACESSO A UM CAMPO INFINITAMENTE MAIS VASTO DA NOSSA EXPERIÊNCIA. POR ESSA RAZÃO, O SI-MESMO, GERALMENTE, É PROJETADO EM FIGURAS OU INSTITUIÇÕES RECONHECIDAS COMO POSSUIDORAS DE UM PODER E PRESTÍGIO PREEMINENTES – SEJAM ELAS FIGURAS HUMANAS, COMO PRESIDENTES, REIS E RAINHAS, OU, A MAIORIA DAS VEZES, ENTIDADES SUPRAPESSOAIS, COMO O ESTADO, DEUS, O SOL, A NATUREZA OU O UNIVERSO. EM MUITAS CULTURAS, A FENOMENOLOGIA DO SI-MESMO É IDENTIFICADA COM DEUS OU COM O PANTEÃO DOS DEUSES, TENDO COMO RESULTADO QUE TANTO DEUS COMO O SI-MESMO ACABAM PARTICIPANDO DO MESMO SIMBOLISMO. UM EXEMPLO TÍPICO DISSO É A IMAGEM CONHECIDA EM SÂNSCRITO COMO O MANDALA. OS MANDALAS SÃO ENCONTRADOS NO MUNDO INTEIRO. OCORREM NOS PERÍODOS MAIS CONHECIDOS DA HISTÓRIA E SÃO SÍMBOLOS PERENES DA PLENITUDE E DA TOTALIDADE. ELES SE APRESENTAM SOB A FORMA DE CÍRCULOS E INCORPORAM ALGUMA REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DE QUATERNIDADE, COMO UMA CRUZ OU UM QUADRADO. O CENTRO É DESTACADO E GERALMENTE CONTÉM ALGUMA REFERÊNCIA À DIVINDADE. O SI-MESMO, POR CONSGUINTE, PROPORCIONA OS MEIOS DE ADAPTAÇÃO, NÃO APENAS AO MEIO AMBIENTE, MAS TAMBÉM A DEUS E À VIDA DO ESPÍRITO. 10 A PERSONA A ADAPTAÇÃO DO INDIVÍDUO À SOCIEDADE É REALIZADA ATRAVÉS DO DESENVOLVIMENTO DE UMA PARTE DA PERSONALIDADE QUE JUNG CHAMAVA DE PERSONA, QUE ERA O NOME DADO À MÁSCARA USADA PELOS ATORES NA ANTIGÜIDADE. A PERSONA É UM “COMPLEXO FUNCIONAL QUE ENTRA EM AÇÃO POR RAZÕES DE ADAPTAÇÃO OU DE CONVENIÊNCIA PESSOAL, PORÉM, DE FORMA ALGUMA, É IDÊNTICA À INDIVIDUALIDADE” (CW 6, PAR. 801). É O PAPEL QUE NÓS REPRESENTAMOS CARACTERISTICAMENTE, A EXPRESSÃO QUE ASSUMIMOS, QUANDO NOS RELACIONAMOS COM OS NOSSOS SEMELHANTES. A PERSONA É O “INVÓLUCRO” DO EGO; É A FORMA MASCULINA OU FEMININA DO EGO, RESPONSÁVEL PARA ANUNCIAR ÀS PESSOAS COMO O INDIVÍDUO DESEJA SER ENCARADO E TRATADO. ELA SIMPLIFICA O RELACIONAMENTO COM OS SEMELHANTES, LUBRIFICA A ENGRENAGEM DO RELACIONAMENTO SOCIAL. O ÊXITO SOCIAL DEPENDE DA QUALIDADE DA PERSONA. O MELHOR TIPO DE PERSONA QUE ALGUÉM PODE TER É O QUE SE ADAPTA COM FLEXIBILIDADE ÀS DIFERENTES DITUAÇÕES SOCIAIS, E QUE, AO MESMO TEMPO, SEJA UM BOM REFLEXO DAS QUALIDADES QUE ESTÃO POR TRÁS DO EGO. O PROBLEMA SE DÁ QUANDO, POR RAZÕES NEURÓTICAS, O INDIVÍDUO PROCURA ASSUMIR UMA PERSONA QUE NÃO SE ADAPTA OU TENTA MANTER UM TIPO DE POSTURA QUE REALMENTE NÃO APRESENTA AS QUALIDADES QUE QUER OSTENTAR. NESSE CASO, A SENSAÇÃO DE SEGURANÇA QUE JÁ SE ENCONTRA ABALADA FICA AINDA MAIS ABALADA. TENDO EXPOSTO AS MELHORES MERCADORIAS NA VITRINE, A PESSOA RECEIA QUE OS FREGUESES ADENTREM A LOJA E NÃO ENCONTREM OUTRA COISA A NÃO SER AS MERCADORIAS MAIS ORDINÁRIAS. PODE TAMBÉM SURGIR ALGUMA DIFICULDADE QUANDO O INDIVÍDUO TENTA SE IDENTIFICAR COM A PERSONA, POIS ISTO REPRESENTA SACRIFICAR O RESTANTE DE SUA PERSONALIDADE E IMPOR UM GRAU PREJUDICIAL DE CONSTRANGIMENTO À REALIZAÇÃO DO POTENCIAL NÃO UTILIZADO QUE O PRÓPRIO INDIVÍDUO AINDA POSSUI. A PRINCÍPIO, A PERSONA ORIGINA-SE DA NECESSIDADE DE SE ADAPTAR ÀS EXPECTATIVAS DOS PAIS, DOS PROFESSORES E DA SOCIEDADE, NO PERÍODO DO CRESCIMENTO. ALGUMAS QUALIDADES SÃO CONSIDERADAS DESEJÁVEIS, ENQUANTO OUTRAS NÃO SÃO: É O QUE AS CRIANÇAS DESDE CEDO VÃO APRENDENDO. POR ISSO, EXISTE UMA TENDÊNCIA MUITO COMPREENSÍVEL PARA QUE DETERMINADOS TRAÇOS DESEJÁVEIS SEJAM INSERIDOS NA PERSONA, ENQUANTO QUE ALGUMAS QUALIDADES CONSIDERADAS INDESEJÁVEIS, INACEITÁVEIS OU REPREENSÍVEIS SÃO REPRIMIDAS OU OCULTADAS DA VISÃO DAS OUTRAS PESSOAS. 11 ESSAS DISPOSIÇÕES REPRIMIDAS ACABAM FORMANDO OUTRO COMPLEXO OU SUBPERSONALIDADE, QUE JUNG DENOMINAVA DE SOMBRA. SOMBRA COMO SE PODE PREVER PELA FORMA COMO EVOLUI, O COMPLEXO DA SOMBRA POSSUI QUALIDADES OPOSTAS ÀS MANIFESTADAS NA PERSONA. EM RAZÃO DISSO, ESSES DOIS ASPECTOS DA PERSONALIDADE COMPLEMENTAM-SE E SE CONTRABALANÇAM UM AO OUTRO: A SOMBRA COMPENSA AS PRETENSÕES DA PERSONA, E ESTA, POR SUA VEZ, COMPENSA AS TENDÊNCIAS ANTI-SOCIAIS DA SOMBRA. CASO ESTE RELACIONAMENTO COMPENSATÓRIO SE INTERROMPA, O RESULTADO PODE SER UM TIPO DE PERSONALIDADE VAZIA, FRÁGIL E CONFORMISTA, QUE É TODA ELA PERSONA, COM UMA PREOCUPAÇÃO EXAGERADA DO “QUE AS OUTRAS PESSOAS PODEM PENSAR”. OU, NUMA SEGUNDA ALTERNATIVA, PODE PRODUZIR UMA ESPÉCIE DE INDIVÍDUO CRIMINOSO OU PSICOPATA QUE DISPÕE DE POUCO TEMPO PARA O REFINAMENTO SOCIAL OU PARA AS EXIGÊNCIAS DA OPINIÃO PÚBLICA. A COEXISTÊNCIA DESSA DUPLA PERSONALIDADE PROFUNDAMENTE CONTRASTANTE NO MESMO INDIVÍDUO É UMAFONTE INTERMINÁVEL DE “PERPLEXIDADE” NA VIDA E TEM PRODUZIDO UMA LITERATURA MUITO VASTA – POR EXEMPLO, O DUPLO DE DOSTOIEVSKI, O ELIXIR DO DEMÔNIO DE E.T.A. HOFFMANN, WILLIAM WILSON DE EDGAR ALLAN POE, O ESTRANHO CASO DO DR. JEKYLL E DE MR. HYDE DE R .L .STEVENSON E O RETRATO DE DORIAN GRAY DE OSCAR WILDE. PARA JUNG ERA O TERMO SOMBRA QUE SE AJUSTAVA PERFEITAMENTE A ESTA SUBPERSONALIDADE DISSOCIADA, PORQUE, PRIVADA DA LUZ DA CONSCIÊNCIA, FICAVA RELEGADA À REGIÃO DA PENUMBRA, NO INCONSCIENTE PESSOAL. A SOMBRA, QUE JUNG CONSIDERAVA APENAS UMA PARTE DA PSIQUE INCONSCIENTE, É MAIS OU MENOS EQUIVALENTE A TODO O INCONSCIENTE FREUDIANO. APESAR DE INCONSCIENTE, A SOMBRA NÃO CESSA DE EXISTIR: ELA PERMANECE DINAMICAMENTE ATIVA. OS ASPECTOS REJEITADOS DO EGO EM DESENVOLVIMENTO CONTINUAM MANTENDO UM SENSO DE IDENTIDADE PESSOAL, E, DE TEMPO EM TEMPO, QUANDO SE CHOCAM COM A PARTE CONSCIENTE, SÃO APREENDIDOS COMO POSSIBILIDADES ELES ADQUIREM UM TOQUE DE SENTIMANTO DE CULPA E DE DESPREZO E O RECEIO DE QUE A PESSOA SEJA REJEITADA, CASO SEJAM DESCOBERTOS OU FIQUEM EXPOSTOS. 12 POR ISSO, O FATO DE ALGUÉM “POSSUIR” A SUA PRÓPRIA SOMBRA VEM A SER UMA EXPERIÊNCIA DOLOROSA E POTENCIALMENTE ATERRADORA – TANTO MAIS PORQUE NÓS, GERALMENTE, NOS PROTEGEMOS CONTRA TAL CONSTATAÇÃO PERTURBADORA, FAZENDO USO DOS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO: NÓS PASSAMOS A NEGAR A EXISTÊNCIA DA NOSSA SOMBRA E A PROJETAMOS NOS OUTROS. ISSO É FEITO NÃO NUM ATO CONSCIENTE OU DA VONTADE DA PESSOA, MAS DE MODO INCONSCIENTE, NUMA ATITUDE DE PRESERVAÇÃO DO PRÓPRIO EGO. DESSE MODO, NÓS ACABAMOS NEGANDO A NOSSA PRÓPRIA “MALDADE” E A PROJETAMOS NOS NOSSOS SEMELHANTES, A QUEM ACUSAMOS COMO RESPONSÁVEIS PELA MESMA. ESTA ATITUDE DE ESPERTEZA INCONSCIENTE EXPLICA A PRÁTICA ANTIGA DE ARRANJAR UM “BODE EXPIATÓRIO”: ELA PÕE EM DESTAQUE TODOS OS TIPOS DE PRECONCEITOS CONTRA AS PESSOAS QUE PERTENCEM AOS GRUPOS QUE NÃO SE IDENTIFICAM COM O NOSSO GRUPO E ENTRA NA FORMAÇÃO DA DESCULPA PARA TODOS OS MASSACRES, ATAQUES ORGANIZADOS A MINORIAS ÉTNICAS E TODA ESPÉCIE DE GUERRAS. ATRAVÉS DA PROJEÇÃO DA SOMBRA, NÓS CONSEGUIMOS TRANSFORMAR NOSSOS INIMIGOS EM “DEMÔNIOS” E CONVENCER-NOS DE QUE ELES NÃO SÃO HOMENS E MULHERES “IGUAIS A NÓS”, E SIM MONSTROS INDIGNOS DE QUALQUER CONSIDERAÇÃO HUMANA. OS LÍDERES NACIONAIS PODEM FAZER USO INESCRUPULOSO DESTA TENDÊNCIA, A FIM DE ALCANÇAR OS SEUS PRÓPRIOS OBJETIVOS POLÍTICOS. OS DISCURSOS DE ADOLF HITLER, POR EXEMPLO, RECORRIAM COM FREQÜÊNCIA AO TEMA DOS UNTERMENSHEN (SUBUMANOS), COM O QUAL ELE SE REFERIA AO POVO DE ORIGEM JUDAICA E ESLAVA, DECLARANDO QUE HAVIA UMA SÓ COISA A FAZER COM ESSES “PARASITAS”, A SABER: EXTERMINÁ-LOS. MEDIANTE O USO HABILIDOSO DA MÁQUINA DA PROPAGANDA NAZISTA, ELE CONSEGUIU INDUZIR UMA PARTE CONSIDERÁVEL DA POPULAÇÃO ALEMÃ A PROJETAR COLETIVAMENTE A SUA SOMBRA SOBRE ESSES DOIS POVOS TRAGICAMENTE DESFORTUNADOS. O QUE TORNA ESSE TIPO DE PROPAGANDA TÃO DEVASTADOR EM SUAS CONSEQÜÊNCIAS PSICOLÓGICAS É O FATO DE QUE ELA CONSEGUE ATIVAR O ARQUÉTIPO DO MAL, QUE, EM SEGUIDA, PODE SER PROJETADO SOBRE O “INIMIGO”, ALÉM DA PRÓPRIA SOMBRA PESSOAL. ESTA DUPLA PROJEÇÃO FUNCIONA ENTÃO COMO JUSTIFICATIVA PARA O EXTERMÍNIO QUE, A PARTIR DAÍ, É INEVITÁVEL. EM CONDIÇÕES NEURÓTICAS, DEVE-SE ESPERAR CERTO GRAU DE RUPTURA ENTRE A PERSONA E A SOMBRA. UMA FASE ESSENCIAL NO TRATAMENTO JUNGUIANO CONSISTE EM TRAZER PARA O MUNDO CONSCIENTE A PERSONALIDADE DA SOMBRA, A FIM DE ESTABELECER UM ENCONTRO COM A PERSONA E DESSA FORMA PROMOVER A INTEGRAÇÃO DE AMBOS OS COMPLEXOS NO ÂMBITO DA PERSONALIDADE COMO UM TODO. ENTRETANTO, ESTE PODE SER UM PROCESSO DEMORADO E MUITO ÁRDUO, DEVIDO À FACILIDADE COM QUE A SOMBRA PODE SER NEGADA 13 E PROJETADA INCONSCIENTEMENTE (“EU NÃO QUERIA ATINGI-LO: FOI ELE QUE ME OBRIGOU A FAZER ISSO”!). MUITAS VEZES, COMO DIZ JUNG, “TANTO A INTROSPECÇÃO COMO A AQUIESCÊNCIA SÃO INEFICAZES, PORQUE A CAUSA DA EMOÇÃO APARENTA ESTAR, ACIMA DE QUALQUER DÚVIDA, NA PESSOA DO OUTRO. (CW 9, II, PAR. 16). PREFERIMOS CONSERVAR A NOSSA PRÓPRIA IMAGEM IDEALIZADA, EM VEZ DE RECONHECER AS NOSSAS PRÓPRIAS DEFICIÊNCIAS PESSOAIS. É MUITO MAIS FÁCIL LANÇAR A CULPA SOBRE OS OUTROS POR CAUSA DOS NOSSOS PRÓPRIOS DEFEITOS, PARTICULARMENTE QUANDO CONSEGUIMOS NOS CONVENCER A NÓS MESMOS DE QUE A CULPA É JUSTIFICADA. ENTRETANTO, COMO OBSERVA JUNG: “ALGUÉM NÃO FICA ILUMINADO COM O SIMPLES FATO DE IMAGINAR FIGURAS DE LUZ, MAS TORNANDO CONSCIENTE A ESCURIDÃO. MAS, ESTE ÚLTIMO PROCEDIMENTO É DESAGRADÁVEL E, POR ISSO, IMPOPULAR”. EXISTEM, NO ENTANTO, DUAS MANEIRAS RELATIVAMENTE SIMPLES PELAS QUAIS A PESSOA PODE DESCOBRIR OS ASPECTOS PRINCIPAIS DO COMPLEXO DE SOMBRA DE ALGUÉM, SE DESEJAR FAZÊ- LO. SE A PESSOA TIVER UM PRECONCEITO RACIAL DECLARADO, BASTA PERGUNTAR-LHE QUAL É O ASPECTO QUE DETESTA NA PESSOA DE OUTRA COR. AS RESPOSTAS MAIS COMUNS SÃO DE QUE ELAS NÃO MERECEM CONFIANÇA, SÃO SEXUALMENTE PROMÍSCUAS OU PERVERSAS, SÃO DELINQÜENTES MORAIS, SUJAS EM SEUS HÁBITOS PESSOAIS, ETC. CASO ELA NEGUE TODO PRECONCEITO RACIAL, ENTÃO, GERALMENTE, BASTA PERSUADÍ-LA A FALAR SOBRE O TIPO DE PESSOA QUE ELA NÃO SUPORTA. QUANDO SE PÕE A FALAR À VONTADE, NOS DARÁ UMA IMAGEM BASTANTE PRECISA DA SUA PRÓPRIA SOMBRA. MAS, É PRUDENTE ABSTER-SE DE LHE DIZER O QUE ACABOU DE REVELAR A RESPEITO DE SI MESMA, POIS ELA NÃO IRÁ GOSTAR DISSO, E NA VERDADE, PODERÁ FICAR PROFUNDAMENTE DESGASTADA E PERTURBADA. O MAIS PROVÁVEL É QUE ELA QUEIRA NEGAR A VALIDADE DA SUGESTÃO QUE LHE É APRESENTADA E ATRIBUÍ-LA À FALTA DE INTELIGÊNCIA DE QUEM A FEZ. COMO QUALQUER OUTRO COMPLEXO IMPORTANTE, A SOMBRA POSSUI O SEU NÚCLEO ARQUETÍPICO: O ARQUÉTIPO DO INIMIGO, O ESTRANHO TRAIÇOEIRO, O INTRUSO MALIGNO. ISSO TAMBÉM FAZ PARTE DO NOSSO EQUIPAMENTO DE ADAPTAÇÃO. O ARQUÉTIPO DA SOMBRA SE TORNA ATIVO JÁ NO COMEÇO DA EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO, UMA VEZ QUE SE TRATA DE UM PROBLEMA DE SOBREVIVÊNCIA TODOS OS ANIMAIS JOVENS POSSUÍREM UMA PRECAUÇÃO PROGRAMADA CONTRA TUDO O QUE FOR ESTRANHO E POSSA SE TORNAR POTENCIALMENTE HOSTIL, PREDATÓRIO OU DESTRUTIVO. 14 COM O PASSAR DO TEMPO, O NÚCLEO ARQUETÍPICO SE ENCARNA NAS TENDÊNCIAS DA PERSONALIDADE QUE PASSAM A SER REJEITADAS PELOS PAIS (OU MEIO) POR SEREM MÁS E INACEITÁVEIS. ESTA MANIFESTAÇÃO PESSOAL INTRAPSÍQUICA DO ARQUÉTIPO DA SOMBRA É, PORTANTO, UM COMPROMISSO DE ADAPTAÇÃO ENTRE A SOCIEDADE E O SI-MESMO EM DESENVOLVIMENTO. É UMA FORMA DE HIPOCRISIA CONCEDIDA, ATRAVÉS DA QUAL O INDIVÍDUO CONTINUA SENDO O QUE É PROIBIDO DE SER, SEM OSTENTAR PUBLICAMENTE ESTE ASPECTO DA SUA PERSONALIDADE. SOMENTE QUANDO ESTA DINÂMICA PASSA A CUSTAR MUITO EM TERMOS DE ENERGIAS DESPENDIDAS, DE SENTIMENTOS DE CULPA OU DE ANSIEDADE É QUE PODE PROVOCAR UM SURTO DE ANGÚSTIA NEURÓTICA E EXIGIR UMA INTERVENÇAÕ TERAPÊUTICA. NA VERDADE, ESTA É UMA DAS CAUSAS MAIS COMUNS QUE LEVAM AS PESSOAS A SE SUBMETEREM À ANÁLISE. PORTANTO, COMPETE AOS ANALISTAS CRIAR UMA SITUAÇÃO E UMA ATMOSFERA EM QUE O PACIENTE IRÁ SENTIR-SE SUFICIENTEMENTE SEGURO PARA EXAMINAR O CONTEÚDO PERIGOSO DESTA SOMBRA E LIBERTAR AS ENERGIAS PSÍQUICAS REPRIMIDAS, NA ESPERANÇA DE CRIAR UM EQUILÍBRIO MELHOR NO ÂMBITO DA PERSONALIDADE E UMA MELHOR ADAPTAÇÃO NA SOCIEDADE. POR MAIS QUE O INDIVÍDUO POSSA DECIDIR TOMAR A INICIATIVA, A ASSIMILAÇÃO DA SOMBRA É UM PASSO IMPORTANTE A SER DADO NO CAMINHO DA INDIVIDUAÇÃO. A ANIMA E O ANIMUS DE TODOS OS SISTEMAS ARQUETÍPICOS COM QUE OS INDIVÍDUOS ESTÃO EQUIPADOS PARA SE ADAPTAREM AOS EVENTOS TÍPICOS DA VIDA HUMANA, UM DOS MAIS IMPORTANTES É AQUELE QUE ESTÁ ENVOLVIDO NO RELACIONAMENTO COM O SEXO OPOSTO. ATRAVÉS DE UMA ANÁLISE CUIDADOSA DE MILHARES DE SONHOS, JUNG DETECTOU A PRESENÇA DE FIGURAS PORTADORAS DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS DE PESSOAS DO SEXO OPOSTO AO DA PESSOA QUE SONHOU. ESSAS FIGURAS TINHAM O PODER E A INFLUÊNCIA DE COMPLEXOS AUTÔNOMOS. JUNG DENOMINOU O COMPLEXO FEMININO PRESENTE NO HOMEM DE ANIMA E O COMPLEXO MASCULINO PRESENTE NA MULHER DE ANIMUS.TODO HOMEM TRAZ DENTRO DE SI A IMAGEM ETERNA DA MULHER, NÃO PROPRIAMENTE A IMAGEM DESTA OU DAQUELA DETERMINADA MULHER, MAS UMA IMAGEM FEMININA DEFINIDA. ESTA IMAGEM É FUNDAMENTEALMENTE INCONSCIENTE, UM FATOR HERDADO DE ORIGEM PRIMITIVA GRAVADO NO SISTEMA ORGÂNICO VIVO DO HOMEM, UMA MARCA OU ARQUÉTIPO DE TODAS AS EXPERIÊNCIAS ANCESTRAIS DO ENTE FEMININO, COMO QUE UM DEPÓSITO DE TODAS AS IMPRESSÕES CAUSADAS PELA MULHER. UMA VEZ QUE A IMAGEM É INCONSCIENTE, ELA É PROJETADA DE MODO INCONSCIENTE NA PESSOA AMADA E É UMA DAS RAZÕES 15 PRINCIPAIS PARA UMA ATRAÇÃO APAIXONADA OU UMA AVERSÃO. (JUNG). SE LEVARMOS EM CONSIDERAÇÃO O EMPREGO DA LINGUAGEM FIGURADA POR PARTE DE JUNG, QUANDO ESCREVE DE UMA IMAGEM PRIMITIVA “GRAVADA” NO SISTEMA ORGÂNICO VIVO, OU DE UM “DEPÓSITO” DE EXPERIÊNCIAS ANCESTRAIS, ENTÃO se TORNA POSSÍVEL CALCULAR O VALOR DA ANIMA E DA IMAGEM MASCULINA CORRESPONDENTE NO INCONSCIENTE DA MULHER, O ANIMUS, COMO PARTES DO SISTEMA INATO, A NÓS LEGADOS PELA HISTÓRIA DA NOSSA EVOLUÇÃO, RESPONSÁVEIS PELO INÍCIO E PELA MANUTENÇÃO DO RELACIONAMENTO HETEROSSEXUAL. VISTOS SOB ESTA LUZ, TANTO O ANIMUS COMO A ANIMA SÃO INDISPENSÁVEIS À PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE. JUNTOS, ELES REPRESENTAM UM PAR SUPREMO DE OPOSTOS, A SIZÍGIA, “QUE CONFERE A PROMESSA DE UNIÃO E QUE A TORNA REALMENTE POSSÍVEL”. NA PSIQUE, ESSES COMPLEXOS CONTRA-SEXUAIS PODEM SER CONTAMINADOS PELA SOMBRA. QUANDO ISSO OCORRE, AS QUALIDADES FEMININAS, QUE, EM SI, SÃO MORALMENTE NEUTRAS, SÃO NÃO OBSTANTE, EXPERIMENTADAS COMO “MÁS” E PASSAM A SER REPRIMIDAS NO HOMEM, E, DE MODO SIMILAR, AS QUALIDADES MASCULINAS, REPRIMIDAS NA MULHER, COM A CONSEQUENTE EXPERIÊNCIA DO SENTIMENTO DE CULPA, CASO SEJAM DETECTADAS AS QUALIDADES CONTRA-SEXUAIS. ISTO ESTAVA MAIS PROPENSO A ACONTECER DENTRO DO SISTEMA PATRIARCAL, NO QUAL JUNG ESTAVA TRABALHANDO, QUANDO EXISTIA UM IMPERATIVO SOCIAL MAIS FORTE PARA OS “HOMENS SEREM HOMENS” E AS “MULHERES SEREM MULHERES”. FELIZMENTE, EM NOSSOS DIAS, VIVEMOS EM TEMPOS DE MAIOR LIBERDADE CULTURAL, PORÉM, COMO ACONTECE EM TODAS AS CULTURAS, OS ESTEREÓTIPOS AINDA PREVALECEM, E OS HOMENS E AS MULHERES CONTINUAM EXPERIMENTANDO UM SENTIMENTO DE CULPA AO INFINGI-LOS, EMBORA NUMA EXTENSÃO MENOS MUTILADORA DO QUE NO PASSADO. JUNG JULGAVA TAMBÉM QUE TANTO A ANIMA COMO O ANIMUS ATUAM COMO MEDIADORES DO INCONSCIENTE PARA COM O EGO, DURANTE OS SONHOS E NAS MANIFESTAÇÕES DA IMAGINAÇÃO. O ANIMUS E A ANIMA ASSIM PROPORCIONA OS MEIOS PARA A ADAPTAÇÃO INTERIOR, BEM COMO PARA A ADAPTAÇÃO AO MUNDO EXTERIOR. A RAZÃO DE SER A PSIQUE UM ÓRGÃO TÃO EFICIENTE DE ADAPTAÇÃO JUNG A ATRIBUÍA AO FATO DE TER ELA EVOLUÍDO NO CONTEXTO DO MUNDO. AS LEIS QUE PREVALECEM NO COSMO TAMBÉM PREDOMINAM NA PSIQUE, PORQUE ESTA É “NATUREZA PURA”. EM OUTRAS PALAVRAS, A PSIQUE É UMA PARTE MICROCÓSMICA DO MACROCOSMO. POR ESSA RAZÃO, JUNG SE REFERIA AO INCONSCIENTE COLETIVO COMO À PSIQUE OBJETIVA, PARA DESTACAR A 16 SUA CONATURALIDADE COM TODA A EXISTÊNCIA: ELA É TÃO REAL E TÃO EXISTENTE COMO QUALQUER OUTRA COISA NA NATUREZA. ESSA É A RAZÃO POR QUE AS LEIS FUNDAMENTAIS DA NATUREZA, COMO OS PRINCÍPIOS DE ADAPTAÇÃO, A HOMEOSTASE E O CRESCIMENTO, SE APLICAM À PSIQUE TÃO SEGURAMENTE COMO A QUALQUER OUTRO FENÔMENO BIOLÓGICO. HOMEOSTASE Uma vez que a psique é um sistema dinâmico que funciona de acordo com as leis naturais, a psicologia precisa desenvolver hipóteses de trabalho em relação ao modo como opera o mesmo sistema. Da mesma forma que os psicólogos antigos, Jung adotou algumas hipóteses dos físicos e sustentou o ponto de vista discutível segundo o qual a energia física obedecia à primeira e à segunda lei da termodinâmica. Princípios mais apropriados podem ser encontrados na biologia, e, felizmente, Jung fez bom uso dos mesmos, sendo um dos mais importantes entre eles o princípio da homeostase. A homeostase é o princípio da auto-regulação. É o meio pelo qual os sistemas biológicos se mantêm num estado de equilíbrio para o interesse da sobrevivência. O meio ambiente natural em nosso planeta está em mudança contínua, e nenhum organismo vivo poderia ter evoluído se não possuísse dentro de si mesmo a capacidade de manter um “estado fixo”. Para sustentar tal estado num mundo sujeito a mudanças, exige-se a aplicação contínua do controle homeostático. A avaliação da importância da homeostase remonta ao tempo antigo dos gregos e dos taoístas chineses. Hipócrates identificou a saúde com o estado de harmonia existente entre o homem, suas forças vitais e o meio ambiente; por sua vez, os taoístas ensinavam que toda a realidade está permeada de dois grandes princípios opostos, embora complementares, o masculino e o feminino, o Yang e o Yin, e que todas as mudanças e todas as transformações se devem a alterações no equilíbrio entre os dois. A regulagem homeostática, na realidade, pode ser observada em todos os níveis da existência, desde as moléculas até as comunidades, em sistemas vivos e também nos sistemas que não têm vida, e todo o nosso planeta pode ser concebido como um vasto sistema homeostático de complexidade infinita. Jung estava convencido de que a psique, da mesma forma que o corpo, era um sistema auto-regulador. A psique se esforça constantemente para manter o equilíbrio entre tendências opostas, enquanto, ao mesmo tempo, busca ativamente a sua própria individuação. Existe uma polaridade dinâmica entre o ego e o si-mesmo, entre a persona e a sombra, entre a consciência masculina e a anima, entre a consciência feminina e o animus, entre as atitudes extrovertidas e as introvertidas, entre as funções do pensamento e do sentimento, entre a sensação e a intuição e entre as forças do bem e do mal. Da mesma forma como o corpo possui os mecanismos de controle para manter em equilíbrio as funções vitais, assim também a psique tem um mecanismo de controle sobre a atividade compensadora dos sonhos. OS SONHOS Na visão de Jung, a função dos sonhos é promover uma adaptação melhor à vida através da compensação das limitações unilaterais da consciência. 17 Embora Jung concordasse com Freud em que os sonhos representavam a “via real para o inconsciente”, a compreensão que ele tinha do seu significado e do seu objetivo divergia radicalmente da idéia de Freud. Este considerava o “conteúdo manifesto” dos sonhos como a realização disfarçada de um desejo reprimido que tinha sua origem na sexualidade infantil. Jung acreditava que os sonhos tinham implicações mais amplas e mais profundas do que simplesmente as de ordem sexual. Ele rejeitava a idéia de que um sonho é uma fachada que esconde o verdadeiro significado: “a assim chamada fachada de muitas casas de modo algum é um disfarce ou uma distorção ilusória; pelo contrário, ela acompanha o projeto da própria construção e muitas vezes revelam a sua disposição interior” (CW 7, par. 319). Nenhuma escamoteação está envolvida no caso: “os sonhos são a expressão direta da atividade psíquica inconsciente” (CW 7, par. 295). Eles dão uma visão da situação da pessoa que sonha e mobilizam o potencial da personalidade para atingi-la. A função compensatória dos sonhos provém da potencialidade rica do inconsciente de criar símbolos, de “pensar” lateralmente e de extrair informações de uma fonte de dados muito mais extensa do que a que está à disposição da consciência do ego. Uma vez que os sonhos podem introduzir na situação geral novos fatores inesperados, eles nos possibilitam ver as coisas de modo diferente e dentro de uma perspectiva mais ampla. Além disso, mediante a sua ação compensatória, os sonhos podem apoiar e fortalecer o ego e promover o desenvolvimento da personalidade. Um desenvolvimento da personalidade que pode ser ilustrado através de um exemplo: Um homem introvertido e um pouco tímido perante os colegas de negócios e de sua esposa que o deixava bastante atemorizado, estava muito apreensivo em ter que dirigir uma reunião dos acionistas daempresa. Concretamente, ele não precisava preocupar-se, pois era extremamente lúcido e diligente, homem de rara integridade, possuidor de um brilhante talento para negócios. Mas, embora estivesse consciente de suas boas qualidades, isso pouco contribuía para acalmar-lhe os temores. Durante a noite que precedeu a temida reunião, ele sonhou que estava entrando pelo corredor, dirigindo-se para o local da reunião, onde iria falar perante os acionistas. Uma mulher se aproximou dele. Era desconhecida dele, mas, assim mesmo, chamou a sua atenção por possuir alguns traços familiares. Ela lhe colocou um anel na palma da mão, forçando-o contra a mesma e fechando-lhe os dedos sobre o mesmo, disse-lhe em tom conspiratório: “Segure bem este anel para não perdê-lo”. Ele passou pelo corredor, ciente de que a sua apreensão agora tinha desaparecido. Na manhã seguinte, antes de sair de casa, ele telefonou ao seu analista para lhe referir o sonho. Parecia-lhe que a sua anima viera em seu socorro e desejava dar-lhe o apoio que a esposa era incapaz de lhe dar. O anel era um presente mágico, um símbolo de união, um talismã que tinha uma força protetora. O analista sugeriu-lhe que, na hora de levantar-se para falar perante a assembléia de acionistas, deveria esquecer as pessoas presentes e em nenhum instante fosse dar atenção ao conteúdo do discurso que iria proferir (que ele poderia até falar de costas), mas deveria pensar somente no anel de outro que a anima lhe dera: “Segure-o bem firme para não perdê-lo”. Isto parece ter sido de grande valia para ele. Feito o discurso, os colegas e acionistas o cumprimentaram e lhe deram apoio praticamente unânime, e até chegou a receber os cumprimentos da própria esposa. Com este sonho, e o sucesso alcançado em seguida, alguma coisa mudou nele, e passou a sentir maior segurança em todos os seus empreendimentos e negócios com as pessoas. Seguiram-se outros sonhos poderosos da 18 anima, e o seu casamento, que desde o início fora um fracasso, acabou por aí. No término das sessões de análise, ele estava vivendo muito feliz com uma dama que, em espírito, era muito mais parecida com a sua anima. Experiências iguais a esta estão em concordância com as palavras de Jung, segundo as quais: “os sonhos constituem a ajuda mais eficaz para a formação da personalidade” (CW 7, par. 332). Como sistema homeostático eficaz, a psique possui a capacidade de fornecer e propiciar a cura a si mesma, e é na função compensatória do inconsciente que reside este poder de autocura. Uma expressão fundamental desta tendência é a forma como o inconsciente produz símbolos capazes de agrupar tendências conflitantes que parecem irreconciliáveis em nível do consciente. Esta capacidade fenomênica nunca cessou de fascinar e comover a Jung, que a chamava de função transcendente. Ele chegou à conclusão de que nós nunca somos capazes de resolver os problemas mais cruciais de nossa vida, mas, se formos pacientes, podemos transcendê-los. Volta e meia, em minha prática, acontecia que um paciente ultrapassava as possibilidades obscuras em seu próprio íntimo, e a constatação do fato era uma experiência de suma importância para mim. Nesse meio tempo, eu tinha aprendido a ver que os maiores e mais importantes problemas da vida são todos eles basicamente insolúveis. Eles devem ser assim porque expressam a polaridade necessária, inerente em qualquer sistema auto-regulador. Eles nunca podem ser resolvidos, mas apenas superados... Cada um de nós precisa alcançar este nível superior, pelo menos sob a forma embrionária, e, em circunstâncias favoráveis, deve ser capaz de desenvolver esta possibilidade. Quando examinei o modo de desenvolvimento das pessoas, que calmamente, como que de modo inconsciente, superam-se a si mesmas, senti que a sua sina tinha algo em comum. Seja emergindo do seu próprio interior, seja vinda de fora, a nova situação acontecia a todas essas pessoas, procedente de um campo obscuro de suas possibilidades – elas a aceitavam, ultrapassavam o ponto onde se encontravam, por meio dela... mas nunca era algo que vinha exclusivamente do seu interior ou de fora delas. Se viesse de fora do indivíduo, tornava-se uma experiência íntima; se procedesse do seu interior, transformava-se num evento exterior. Porém, em nenhuma das circunstâncias, ela era evocada para a existência propositadamente ou por um ato consciente da vontade, porém, antes, parecia brotar da torrente do tempo (Jung). Nesta passagem, Jung deixa bem claro o que quer dizer: a pessoa precisa tornar- se bem ciente de ambos os pólos de cada um dos conflitos que surgem e suportar, com plena consciência, as tensões criadas entre ambos; em seguida, ocorrerá mudança radical que levará a pessoa para além dos dois pólos do conflito. Isto acontece através do poder que tem o inconsciente de criar uma nova síntese simbólica, proveniente das tendências conflitantes. A importância prática desta constatação é enorme, pois significa que a possibilidade de reconciliação entre forças aparentemente irreconciliáveis está sempre presente. A vivência do dia-a-dia à luz desta introspecção traz consigo um prêmio de valor inestimável: a sabedoria. 19 O CRESCIMENTO O tema que atravessa todo o conjunto da teoria junguiana é o princípio do crescimento, do desenvolvimento, da individuação, da realização do si-mesmo. Jung considerava todo o ciclo vital como um processo contínuo de metamorfose que era comissionado e homeostaticamente regulado pelo próprio si-mesmo. Ele entendia que os estágios pelos quais todo ser humano passa são apenas uma extensão evolutiva daqueles estágios que podemos observar nas espécies animais. “A individuação”, dizia ele, “é uma expressão deste processo biológico – simples ou complicado, conforme o caso – pelo qual todo ser vivo se torna aquilo que estava destinado a ser desde o princípio” (CW 11, par. 144). Ao nos conduzir ao longo do percurso do ciclo vital, o si-mesmo faz com que experimentemos as imagens, as idéias, os símbolos e as emoções que os seres humanos sempre experimentaram, desde quando teve início a nossa espécie e em qualquer parte do planeta onde assumimos a nossa morada. Esta é a razão por que a arte, quando exprime a realidade arquetípica, nos comove, em toda parte e em qualquer época em que é ou foi criada. Ela fala de princípios universais da existência humana: transcende nação, raça e credo. À medida que evolui o ciclo vital, nós aceitamos e incorporamos em nossa personalidade a nossa própria experiência de vida. Mas o que você e eu experimentamos, no processo todo, é apenas o resultado final.. Nós somos um processo psíquico que não controlamos ou apenas parcialmente dirigimos. A história da vida começa em alguma parte, num determinado ponto, passamos a nos lembrar; mas, mesmo então, ela já era muito complexa... A vida sempre me pareceu uma planta que vive de suas raízes. A sua vida verdadeira é invisível, está oculta em suas raízes. A parte que aparece, acima do solo, dura apenas um só verão. Em seguida, ela definha – uma aparição efêmera... O que vemos é apenas a sua florescência que passa. As raízes permanecem (MDR, pg. 18). Temos consciência apenas de nossa história pessoal; somos inconscientes em relação à marca evolutiva sob cuja base se originou a nossa experiência pessoal. Isto ajuda a explicar o modo como algumas das melhores inteligências do século XX rejeitaram Jung em favor das teorias hebavioristas do desenvolvimento que só levavam em consideração os condicionamentos em que cada indivíduo esteve envolvido durante toda a sua existência. Ignorando a dimensão arquetípica, desprezavam o alicerce biológico sobre o qual se forma toda a personalidade humana. 20
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