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102 7. REATORES BIOQUÍMICOS Os biorreatores ou reatores bioquímicos são o coração dos processos bioquímicos. São reatores onde uma dada reação bioquímica ocorre. Esta reação pode ser o resultado de crescimento de microrganismos ou uma reação catalisada por enzimas. No primeiro caso dizemos que o biorreator é um fermentador. O conceito de biorreatores pode ser também estendido para outros tipos de processos que envolvem microrganismos ou produtos de origem biológica como tanques para tratamento biológico de águas residuárias ou ainda colunas de purificação de bioprodutos (enzimas, vitaminas, aminoácidos, etc.). Os biorreatores podem ser divididos também nas formas clássicas dos reatores de mistura e tubulares. O estudo do comportamento, projeto e dimensionamento de cada biorreator é possível de ser efetuado pela combinação de conhecimentos de cinética das reações biológicas com balanços de energia e massa. Neste capítulo consideraremos inicialmente a forma simplificada dos reatores ideais, para melhor entendimento das características essenciais dos biorreatores, para, em seguida, estudarmos os desvios da idealidade nos reatores reais, como conseqüência dos desvios da hidrodinâmica dos sistemas. 7.1. REATORES BIOLÓGICOS IDEAIS Dentro dos biorreatores reais estudaremos inicialmente os fermentadores do tipo reatores de mistura perfeita, nas suas diferentes formas de operação, tais como, reatores em batelada, batelada alimentada e contínuos. Em seguida, veremos os reatores tubulares e os enzimáticos. 7.1.1. REATORES DE MISTURA 7.1.1.1. Reatores em Batelada Este processo constituiu-se basicamente de duas etapas: preparação do inóculo e a fermentação propriamente dita. a. Preparo do inóculo Inóculo (pé-de-cuba ou pé-de-fermentação) é o volume de uma suspensão de microrganismos capazes de garantir a fermentação de um dado mosto. O volume de inóculo pode variar segundo as condições de 0,5 a 50% da capacidade do tanque. A técnica de seu preparo compreende uma fase de laboratório e outra industrial, segundo o esquema abaixo, obedecendo a regra do volume crescente. User Realce User Realce User Realce User Realce 103 Figura 7.1. Técnica de preparo do inóculo Existem, basicamente, três modos de operação de um sistema batelada: processos em que a dorna recebe um inóculo; processos com recirculação do microrganismo; processo por meio de cortes. No primeiro caso, o sistema oferece as melhores condições para uma boa fermentação, pois recebe o inóculo de células ativas e praticamente isenta de contaminantes. No segundo caso, algumas dornas são incubadas no início do processo. O meio, uma vez fermentado, é centrifugado obtendo-se assim uma suspensão de microrganismos de elevada concentração. A suspensão é tratada (ou não) com o objetivo de eliminar as células inativas e os microrganismos contaminantes. Esta suspensão é re-utilizada então como inóculo de outro fermentador. No terceiro caso, inocula-se uma dorna no início do processo e quando a fermentação atinge um estágio apropriado, passa-se parte do conteúdo para uma outra dorna e completa-se ambas as dornas com o meio fresco, a fermentar. A sucessão de cortes pode ocasionar perda de rendimento principalmente se o meio não é esterilizado. Este processo pode ser utilizado também na preparação do inóculo o que evita que o processo seja reiniciado repetidas vezes. Existem também processos mistos que associam dois dos processos citados. Um reator batelada, ilustrado na figura abaixo, ideal é espacialmente homogêneo de forma que as propriedades físicas e químicas do meio são iguais em todo o reator. b. Equações do reator em batelada A forma matemática geral de balanço para reatores em batelada pode ser escrita da seguinte forma: cultura pura incubação V1 V2 >V1 incubação fase laboratório fase planta ind. V3 > V2 Incubação V4 Vn User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 104 entrada - saída – consumo (ou crescimento) = acúmulo ou seja, 0 - 0 -r(Ci.Cj)V = dt VCd i jii C,CrVdtVCd (7.1) Onde V é o volume do reator, Ci é a concentração do componente i e Cj representa a concentração de outras substâncias que podem influir na cinética de formação ou consumo do componente i. O termo r(Ci,Cj) é a taxa volumétrica de formação ou consumo do componente i. Pode-se escrever o balanço de massa global do sistema como sendo: 0 dt Vd (7.2) Isto implica que a massa total do sistema permanece constante, em outras palavras, tanto V como a densidade do meio permanecem constantes. Desta forma pode-se simplificar a equação 7.1 para obter-se: jii C,CrdtdC (7.3) Considerando o modelo de Monod para crescimento de microrganismos, a equação acima pode ser reescrita da seguinte forma para expressar a velocidade de crescimento celular e de consumo do substrato, após o balanço de células e balanço de substrato: Balanço de células SK SXμ μX dt dX s max (7.4) Balanço de substrato SK SXμ Y 1 dt dS s max sx (7.5) Estas equações podem ser somadas, após a multiplicação da equação de S por Yx/s, e obteríamos a equação abaixo: V S X User Realce 105 0 dt SYXd sx (7.6) Ou seja, para X(0)=X0 e S(0)=S0: 0sx0sx SYXSYX SSYXX 0sx0 Substituindo-se X na equação de S, tem-se: SK SSSYX Y μ dt dS s 0sx0 sx max (7.7) Cuja integração analítica fornece tSYXμ S SlnYK X SSYX lnKSYX 0sx0max 0 sxs 0 0sx0 s0sx0 (7.8) Esta equação é implícita em S e a melhor forma de se calcular o consumo do substrato em função do tempo é obtendo-se t para valores especificados de S. Se existe formação de produto e este é parcialmente associado ao crescimento pode-se escrever: X SK SX dt dP s max (7.9) De uma forma geral, as equações cinéticas de um processo fermentativo em batelada, que segue a lei de Monod, seriam: μX dt dX (7.10a) μX Y 1 dt dS S X (7.10b) βX dt dXα dt dP (7.10c) c. Cálculo do número e volume dos reatores Em todo processo em batelada, o número total de reatores que são colocados em operação deve ser tal que a operação pós-fermentação (downstream) mantenha-se, de preferência, em fluxo contínuo. Isto é particularmente importante em processos onde é necessário User Realce 106 destilação, como na industria de etanol, pois as colunas de destilação trabalham em fluxo contínuo. Este cálculo depende de alguns fatores como explanado a seguir. Consideremos: F: vazão média do meio fermentado enviado ao setor de tratamentos finais tf: tempo de fermentação V: volume do fermentador n: número de fermentadores td; tempo de descarga de um fermentador tc: tempo de limpeza e carregamento M: massa do produto que se deseja obter num tempo t. r: rendimento do tratamento final C: concentração do produto no meio fermentado r.t.C MF (7.11) F V t d (7.12) Para facilitar os cálculos, toma-se tc = td. Existirá um tempo td de intervalo entre o começo de funcionamento de duas dornas consecutivas. Tomando-se como tempo zero o início de funcionamento da primeira dorna, a dorna n deverá iniciar o funcionamento no instante (n-1).td. Por outro lado, a dorna n deverá iniciar seu funcionamento no instante tf + td, como indica a figura abaixo: Figura 7.2.: a: início do preparo do fermentador, b: fim da carga e início da fermentação, c: final da fermentação e início da descarga, d: final da descarga e início de outro ciclo de operação Podemos então escrever: td t2nttt.1n ffdd (7.13) td tdtf fermentador 1 fermentador 2 fermentador 3 a b c d fermentador n fermentador 1 tempo User Realce User Realce 107 V t.F2n f (7.14) F e tf são conhecidos e V deve ser determinado em função de custos mínimos. Assim sendo, teremos o número econômico de dornas (ne). Sendo p, o custo de um fermentador de volume útil V, é válida a equação empírica, onde K e a são parâmetros que dependem das condições econômicas: aV.Kp 0<a<1 (7.15) Indicando P o custo de n fermentadores, temos combinando as equações (7.13) e (7.14): a a f )2n( n .)t.F(Kp.nP (7.16) Esta equação permite o cálculo de ne que conduz ao valor mínimo de P: a1 2 ne (7.17) Aplicando-se a equação acima na equação (7.13) teremos a capacidade útil econômica (Ve) de cada um dos n fermentadores. fe t.F. a2 a1V (7.18) Se houver a disponibilidade de uma lista de preços de dornas de diversas capacidades pode-se achar o valor de a da seguinte forma: aV.Kp (7.19) logV.alogKlogp (7.20) d. Morte celular em culturas em batelada De forma geral, culturas em batelada se processam em tempos relativamente curtos e neste estado a morte celular é praticamente irrelevante. Contudo em algumas culturas, com tempo relativamente longo e com células submetidas a stress físico ou químico, pode ocorrer morte celular em taxas importantes de modo que a viabilidade em tais culturas passa a ser significativamente menor que 100%. Em tais casos é importante poder avaliar a cinética de morte. Se considerarmos que somente células viáveis (Xv) geram células não viáveis (Xd), numa cinética de primeira ordem, cuja constante é k, pode-se escrever para batelada vv v kXX dt dX (7.21) v d kX dt dX (7.22) User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 108 O crescimento total da população é dado por: v dvt X dt XXd dt dX (7.23) 7.1.1.2. Reatores em batelada alimentada A batelada alimentada é um tipo especial de processos em batelada onde o substrato é alimentado constantemente, durante o processo fermentativo, de forma a manter esta concentração constante, ou aproximadamente constante, resultando num sistema com volume variável. A batelada alimentada é um processo de muito sucesso, pois elimina a inibição pelo substrato, resultando em altas produtividades, geralmente muito maiores que as obtidas na batelada simples. Os balanços são muito similares à batelada simples, exceto pelo fato de que existe uma alimentação e, portanto o volume do reator é variável. Fazendo-se os balanços a partir da figura abaixo tem-se: Figura 7.3. Reator em regime de batelada alimentada Fρ dt ρVd A : balanço global de massa no reator Considerando ρ constante e igual a ρA,então: F dt dV (7.24) VrFS dt SVd sa : balanço do substrato Vr dt XVd x : balanço de células Vr dt PVd p : balanço de produto Onde V é o volume do reator num tempo t e F é a vazão de alimentação, rs e rx são as velocidades de consumo do substrato e de crescimento, respectivamente. Sabendo-se que: μXrx (7.25) V0 S0 X0 F Sa User Realce User Realce User Realce 109 temos tμ XV XVdμXV dt XVd * (7.26) Como S é mantido constante pelo efeito da adição de substrato (na concentração S*), toma-se constante e igual a *. Assim, integrando-se a equação acima de (XV)0 a um (XV) genérico tem-se: tμ0 *eXVXV (7.27) Do balanço do substrato, considerando S constante e igual a S*, tira-se: XVμ Y 1FSFS dt dVS * sx a ** (7.28) tμ00* sx * a * eVXμ Y 1SSF (7.29) De onde tira-se a equação para F, que é a vazão de alimentação necessária para manter S constante. *asx tμ 00 * SSY eVXμ F * (7.30) A estimativa da variação do volume pode ser tirada da seguinte equação, obtida da integração da equação acima ao se substituir F por dV/dt: 1eSSY X1VV tμ * asx 0 0 * (7.31) e a concentração da biomassa 1e SSY X1 eX X tμ * asx 0 tμ 0 * * (7.32) 110 Figura 7.4. Volume, biomassa e substrato em função do tempo para um reator de batelada alimentada 7.1.1.3. Reatores de mistura contínuos a. O Quimiostato: o reator de mistura ideal O uso de reatores contínuos começou na década de 50 com os trabalhos de Monod. A descoberta de que as culturas de microrganismos podiam ser mantidas em estado estacionário por longos períodos, em qualquer taxa de crescimento até max, foi um passo importante no entendimento da fisiologia e metabolismo dos microrganismos. A configuração típica de um reator de mistura contínuo é ilustrada na figura abaixo: Batelada alimentada Batelada simples Fim da fermentaçãoFim da alimentação t V X S V SX Vf Vo Xo S* User Realce 111 Figura 7.5. Configuração típica de um reator de mistura contínuo. Meio novo, normalmente estéril, é introduzido no reator e o volume é mantido constante para que a retirada de meio fermentado seja em igual taxa na qual é introduzido o meio novo. O nome “quimiostato” deriva das propriedades químicas do ambiente que são constantes quando o sistema funciona em regime permanente. Um outro sistema, conhecido como turbidiostato, é um quimiostato provido de uma célula fotoelétrica para regular a turbidez da cultura, ou seja, para aumentar a vazão de entrada do meio (F), quando a concentração celular ultrapassa o nível desejado. O volume de líquido é mantido constante através de um controlador de nível. A diferença básica existente entre o turbidiostato e o quimiostato, é que no primeiro a densidade da biomassa é fixada e a taxa de diluição ajusta-se ao regime estacionário e no segundo a taxa de diluição é fixada e a concentração de biomassa ajusta-se ao regime estacionário. As equações de balanço podem ser escritas para as principais variáveis do processo: a.1. Balanço de células Células entrando – Células saindo + Células crescendo = Acúmulo de células VrFXXF dt XVd xOO (7.33) Sabemos que Xrx , Fo=F, e que V é constante, portanto: Reservatório de meio Reservatório de ácido ou base Reservatório de meio fermentado Saída de gases (O2, CO2) Entrada de ar estéril V X S Fs X S Fe X0 S0 Controle de pH User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 112 XX V FX V F dt Xd ... 0 (7.34) Usualmente X0 = 0, o que nos dá: V F dt dX Xdt dXXX V F .1.. (7.35) Em regime permanente: 0dt dX , logo: V F (7.36) Chamando V F de taxa de diluição D, que é o inverso do tempo de residência (), temos: 1 D (7.37) Portanto, em regime estacionário, a taxa específica de crescimento será igual à taxa de diluição D. a.2. Balanço do substrato Substrato entrando – Substrato saindo – Substrato consumido = Acúmulo de substrato dt dSX.. Y 1S. V FS. V F sx 0 (7.38) Em regime estacionário: 0dt dS 0X.. Y 1S. V FS. V F S X 0 (7.39) S X 0 Y X.)SS(D (7.40) Como =D )SS(YX 0sx (7.41) Considerações feitas para obtenção desta equação: sxY independe de e D (o que nem sempre é verdadeiro); X independe de todos os nutrientes, exceto o limitante; sxY é afetado somente pelo tipo de substrato. User Realce 113 As duas últimas são relativamente corretas em certas condições (Temperatura, pH, O2, constantes e excesso de todos os outros nutrientes). Temos deduzidas as equações: = D )SS(YX 0sx (7.42)Já conhecemos a equação de Monod: SK S S máx (7.43) Então podemos escrever para um quimiostato em regime permanente: SK SDD S c (7.44) Onde DC é a taxa de diluição crítica que representa a máxima diluição em que um quimiostato pode operar. Com algumas exceções, DC é geralmente igual a máx. A equação acima fica: Dμ D.KS max S (7.45) Substituindo as equações temos: ) Dμ D.K(SYX max S 0sx (7.46) Usando as equações acima, o comportamento teórico de um quimiostato pode ser representado na figura abaixo, onde nas ordenadas tem-se os valores das variáveis X, S e Pr em regime permanente e nas abscissas os valores da taxa de diluição D: Figura 7.6. Variações da taxa de diluição em função de X, S e P X X washout S S Pr D S Pr DM Dc User Realce 114 Figura 7.7.: Efeito da vazão nas concentrações de biomassa e substrato O washout é o ponto onde a concentração de células atingirá zero, em regime permanente, devido à taxa de alimentação ser superior a taxa de reprodução do microrganismo. Essa taxa de diluição é normalmente conhecida como diluição crítica (Dc). Pode ser determinada aproximadamente pela relação: 0s 0max c SK S D (7.47) a.3. Produtividade Um processo de fermentação é sempre avaliado pelo fator de conversão ou rendimento e pela produtividade média. A produtividade Pr é definida como: X.DPr (7.48) onde avolumétricadeprodutivid tL Mp Vr . 3 A produtividade volumétrica faz referência à eficiência do processo ou equipamento mássicaadeprodutivid t Mp mr A produtividade mássica está relacionada à capacidade de produção da indústria. D DKSY.DPr máx S0sx (7.49) A variação de Pr em função de D está representada na figura anterior. A taxa de diluição necessária para obtenção da produtividade máxima será a derivada primeira da equação acima igualada a zero. Derivando obtém-se DM 2 1 0S S máxM SK K1D (7.50) tempo F1 F2 F3 X S X S S0 X=0 X S X S S0 X=0 D1 D2 D3 User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 115 Então a produtividade máxima PrM será: M 2 1 0S S máxMMM X.SK K1X.DPr (7.51) É interessante notar que a produtividade máxima não ocorre necessariamente em uma taxa de diluição que corresponde à conversão máxima do substrato. Portanto neste processo, a otimização deve ser feita levando-se em conta a produtividade, o rendimento e o substrato residual no efluente. Auto regulação de um quimiostato Considerando as equações: D dt dX . X 1 (7.52) SK S S máx (7.53) X.. Y 1SS.D dt dS sx 0 (7.54) Analisemos os 4 casos abaixo: Perturbação Resposta Dμ,μ,S0, dt dS,D Dμ,μ,S0, dt dS,D X0, dt dX,μ,S0, dt dS X0, dt dX,μ,S0, dt dS Neste ultimo caso, se D > max, ocorrerá uma lavagem no reator, ou washout, com a eliminação total dos microrganismos. b. Sistemas múltiplos-estágios X ↓ X ↑ F ↓ F ↑ User Realce User Realce 116 Figura 7.8. Esquema de fermentação com múltiplos estágios. O balanço de massa no primeiro reator será exatamente o de um quimiostato, se a alimentação for estéril, ou seja, X0 = 0. Se todos os volumes forem iguais então D1=D2=…=Dn=D Desta forma tem-se para o primeiro reator: D1 (7.55) D DKS max s 1 (7.56) 10sx1 SSYX (7.57) b.1. Balanço de massa celular no segundo reator Células entrando – Células saindo + Células crescendo = Acúmulo de células dt dXX.X. V FX. V F 2221 (7.58) dt dXX.X.DX.D 2221 (7.59) No estado estacionário: 0 dt dX (7.60) 0X.2X.DX.D 221 (7.61) 2 12 2 X XX D (7.62) F, X2, S2, P2 F, X1, S1, P1 F, X0, S0, P0 F, Xn-1, Sn-1, Pn-1 F, Xn, Sn, Pn 117 b.2. Balanço do substrato no segundo reator Do balanço de massa do substrato, de forma análoga ao quimiostato, tira-se: Substrato entrando – Substrato saindo – Substrato consumido = Acúmulo de substrato dt dSX. Y 1S. V FS. V F 22 sx 21 0X Y 1S V FS. V F 22 sx 21 (7.63) 22 sx 21 XY 1SSD (7.64) Substituindo-se a equação de 2 obtida acima na equação anterior tem-se: 121sx2 XSSYX (7.65) E tomando-se a equação de X1 e substituindo na equação anterior tira-se: 20sx2 SSYX (7.66) Tendo-se ainda a equação de Monod, recai-se num sistema de 3 equações e 3 incógnitas (X2, S2 e 2) que devem ser resolvidas para se obter S2 e X2. Caso o sistema contenha mais de 2 reatores, procede-se de forma idêntica até o último reator. Generalizando as equações podemos escrever: Para a concentração celular: n 1nn n X XX D (7.67) ou ainda 1n 2n 1n D X.DX (7.68) Ou seja: 1nn 2n 2 n DD XDX (7.69) Genericamente: n 2i i 1 1n n D X.D X (7.70) Para a concentração do substrato: 118 nn sx n1n XY 1SSD (7.71) nn sx 1nn XY 1 D 1SS (7.72) A outra equação necessária é sempre a equação da cinética de crescimento. Considerando a equação de Monod, teremos para o enésimo reator: sn n maxn KS S (7.73) Caso haja formação de produto teremos: 1n1nnxpn PXXYP (7.74) ou ainda 1nn1nspn PSSYP (7.75) c. Sistema com reciclo de células Figura 7.9. Sistema com reciclo de células Sistemas com reciclo de células são muito comuns na industria de fermentação. A principal função do reciclo de células é aumentar a concentração celular no interior do fermentador, tendo como conseqüência o aumento da velocidade de conversão do substrato. Industrialmente, este reciclo é feito com centrífugas, normalmente quando o microrganismo é uma levedura, ou por microfiltração, quando o microrganismo é uma bactéria. Neste último caso, o reciclo de células é total, ou seja, a concentração de células no efluente (Xs) é zero, e no caso das centrífugas, deve- se ter em conta a eficiência do aparelho. Em ambos os casos, ocorre a concentração da massa celular (Xr > X1) e não há concentração de compostos solúveis (S, P). O tratamento matemático leva em consideração, inicialmente um balanço de massa na junção B, para se obter os valores de fluxo e concentrações na entrada do reator. Deve-se ter em conta também a eficiência da centrífuga e o valor da taxa de reciclo. F, X0, S0, P0 F',X'0,S'0,P'0 F',X1,S1,P1 Fr, Xr, Sr, Pr F, Xs, Ss, Ps B 119 c.1. Balanço no ponto B: Balanço Global: 'FFF rra Para simplificar, consideremos as densidades dos diferentes fluxos iguais, de forma que teremos: 'FFF r Levando em consideração ainda a taxa de reciclo FFr tem-se: 1F'F Balanço de Células: 00rr 'X'FFXXF Se a alimentação é estéril então: r0 Xα1 αX (7.76) Se por outro lado, a eficiência da centrífuga for definida como , tem-se: 1 ' rr XF XF 1r XφXα1 α ou seja, 1r Xα α1X (7.77) assim, tem-se para X'0: 10 X'X (7.78) Balanço do Substrato 1 SS 'S 1F FSFS 'S 'S'FFSSF 0r 0 0r 0 00rr (7.79) 120 Como a concentração de reciclo Sr é praticamente igual à que sai do fermentador S1, tem- se: 1 SS 'S 010 (7.80) Se a conversão do substrato é total temos S10, então: 1 S 'S 00 (7.81) Balanço do Produto 00rr 'P'FFPPF (7.82) Se P0=0 e PrP1 tem-se: 10 P1 'P (7.83) c.2. Balanço no reator: O balanço no reator segue os mesmos critérios do reator com inoculação constante (por exemplo, o segundo reator de um sistema múltiplo estágios), de forma que teremos para as diferentes variáveis: 1 01 X 'XX D (7.84) onde D=F'/V=F(1+)/V 010sx1 'XS'SYX (7.85) E se a cinética pode ser a de Monod teremos: 1s 1 max SK S (7.86) Desta forma, como nos casos anteriores, teremos 3 equações e 3 incógnitas que possuem solução real, se os valores de , , F e V forem conhecidos, assim como as constantes cinéticas max e Ks. d. Sistema múltiplos-estágios com alimentação múltipla Estes sistemas encontram aplicação quando existe algum ganho de produtividade, normalmente quando o substrato e o produto são inibidores, ou quando há necessidade de alimentar um segundo substrato ou um ativador para um determinado produto (enzima, antibiótico, etc.). A Figura 7.9 ilustra o processo. A análise matemática do sistema é muito similar ao visto anteriormente. O primeiro reator funciona como um quimiostato, se a alimentação for estéril, ou como um reator de reciclo caso haja reciclo de células (linhas pontilhadas). No segundo reator deve-se fazer o balanço na junção 121 B, como visto anteriormente. É importante notar que a vazão de alimentação no segundo reator neste caso será F+F', ou seja, a taxa de diluição será diferente no segundo reator, caso os volumes sejam iguais. e. Comparação entre quimiostato e sistema de múltiplos estágios Muitas vezes é difícil manter uma cultura no estado fisiológico trabalhando-se num reator homogêneo simples estágio tipo quimiostato. É o que acontece quando uma cultura tem atividade máxima na fase exponencial de crescimento. Neste caso deveríamos manter D=máx o que não é aconselhável, pois qualquer aumento acidental da vazão do meio padrão poderá provocar uma lavagem no fermentador. Então aqui se deve empregar um turbidiostato ou um sistema duplo estágio. No caso do turbidiostato a taxa de diluição se ajustará a concentração de células fixada à priori (no caso seria uma concentração celular que fornecesse D=máx). Para o sistema duplo estágio, ou eventualmente, múltiplos estágios existe maior possibilidade de representar em maior escala as fases de uma curva de crescimento e, portanto a reprodução do estado fisiológico onde a atividade é máxima. Esta característica pode ser esquematizada segundo a figura abaixo: Figura 7.11. Variação do produto com D O mesmo raciocínio pode ser aplicado no caso em que a atividade máxima encontra-se na fase estacionária. É praticamente impossível manter uma cultura na fase estacionária num P D 1 estágio 2 estágios F'', X'1, S'1, P'1 Figura 7.10. Sistema estágios com alimentação múltiplos F, X1, S1, P1 B F'", X2, S2, P2 F,X0, S0, P0 F', S'0 122 simples estágio. Haveria necessidade de um volume adicional relativamente muito grande o que acarretaria em encarecimento dos custos de implantação. É mais sensato, portanto adicionar um segundo estágio onde a fase estacionária será mais facilmente atingida e com menores custos. Outros tipos de fermentação exigem altas concentrações do substrato para que se chegue a resultados expressivos. O resultado disto é que a constante de saturação torna-se muito alta dificultando a utilização do substrato. Deve-se então usar um fermentador multi-estágios ou eventualmente uma combinação de um quimiostato com um fermentador tubular. Este sistema misto pode também ser utilizado na produção de toxinas onde um reator simples ou duplo estágio não permite a suficiente concentração do produto. 7.1.2. REATORES TUBULARES A aplicação de reatores tubulares em processos biológicos é muito rara senão inexistente. A razão é muito simples: primeiro que devido às próprias características do processo, onde via de regra é necessário aerar, agitar, corrigir o pH, alimentar com substrato, etc., torna-se quase impossível manter-se um fluxo pistonado. Além disso, a existência de material particulado, como o microrganismo, tende a formação de um sistema bifásico, com decantação da biomassa, crescimento na parede do reator, etc. As dificuldades, portanto, são inúmeras. Por outro lado, conhecendo-se a teoria dos reatores tubulares, pode-se obter sistemas que se aproximam deste tipo de reator, como veremos agora. Figura 7.12. Comportamento do substrato e biomassa em reatores tubulares Como característica principal de um tubular as concentrações variam no interior do tubo como ilustra a figura acima. Observa-se também, que o formato das curvas assemelha-se muito aos processos descontínuos em reatores de mistura. De fato, a análise matemática dos reatores X F, S0, X0 F, S, X S, X S L 123 tubulares ideais, mostra que a cinética deste tipo de reator é igual a, o reator tubular, ao contrário do reator de mistura, necessita uma inoculação constante para que o processo fermentativo ocorra. Esta inoculação constante pode ser conseguida com reciclo de células. Embora as concentrações mudem no interior do tubo, quando o regime permanente está estabelecido, as concentrações não mudam num mesmo ponto durante o tempo de fermentação. Isto significa que o reator tubular é um sistema variável no espaço, mas constante no tempo. A análise matemática pode ser feita a partir do esquema abaixo: v = vazão linear (m/s); A: área da seção transversal; S: concentração do substrato; Z: distancia percorrida pelo fluido dentro do reator. O balanço no volume infinitesimal é: taxa de entrada – taxa de saída – taxa de transformação = acúmulo zAΔ dt dS rAzvASvAS Acumulo zsΔzzz Em regime permanente o acúmulo é zero e, portanto, dS/dT = 0. Assim, obtém-se após rearranjo da equação acima: dz dS v dz vSd Δz vSvS r Δzzz s , pois v é constante, dada ser a área também constante. Assim dt dS r dt dz v s (7.87) Este resultado é o mesmo obtido para um reator de mistura em batelada. No caso do reator tubular o tempo de reação será igual ao tempo de retenção do fluido dentro do reator. Neste caso temos: F V (7.88) v (m/s) v (m/s) S0 S Z=L vS|z vS|z+Z Z Z+Z A V = volume do reator (L) F = razão do fluido (L/s) 124 Por ser impossível se obter um verdadeiro tubular em fermentações, consegue-se aproximadamente o mesmo efeito, dividindo-se o tubo em diferentes seções, ou seja, colocando- se vários reatores de mistura em série, como ilustra a figura abaixo. Neste sistema a variação das concentrações será em degrau e quanto maior o número de reatores de mistura mais próximo se estará do tubular verdadeiro. Na prática, limita-se o número de reatores por motivos econômicos, pois a partir de uma certa quantidade (4 ou 5) os ganhos em produtividade são desprezíveis. Figura 7.13. Analogia entre reatores tubulares e sistemas de múltiplos estágios É importante frisar, que este sistema é aplicável para alguns tipos de processos fermentativos, principalmente aqueles em que o produto é inibidor e a concentração do substrato é geralmente alta na entrada do primeiro reator. Este sistema exige um tempo de residência longo para que todo o substrato seja convertido, e isto só é conseguido com altos rendimentos e altas produtividades em reatores múltiplos estágios deste tipo. Um exemplo típico desta aplicação é a produção de álcool combustível, que utiliza 4 a 5 fermentadores e reciclo de células. No entanto, para outros sistemas este tipo de fermentador pode não ser o mais indicado. Portanto, a análise matemática deste tipo de reator é idêntica à análise feita anteriormente nos sistemas múltiplos estágios, e não necessita ser repetida. Partindo dos resultados obtidosnuma fermentação descontínua e da equação de crescimento do microrganismo, dt dX X 1μ , pode-se determinar as condições necessárias para se obter uma determinada quantidade de células. X F, S0, X0 F, S, X S, X S L 125 A reta partindo da origem, linha de operação, fornece o valor de D, como mostra a figura. Este método pode ser utilizado para predizer a concentração celular em regime estacionário num exato D ou, vice versa, empregado para determinar o D necessário para uma desejada população. A linha de operação deverá passar pela origem se X0=0. A intersecção da linha de operação com a curva fornece a concentração celular no reator. A primeira intersecção M deve ser ignorada porque representa um estado instável e porque ocorre na fase lag. Quando o método gráfico é usado em sistemas multiestágio, as condições no primeiro estágio são determinadas como se fosse um único estágio, ou seja, a reta partida da origem (se X0=0), a tangente fornecerá D e a intersecção com a curva fornecerá a concentração celular X1 em regime permanente. No segundo, a alimentação é fornecida pelo primeio reator cuja concentração celular é X1 como mostra a figura abaixo. Para os demais estágios procede-se de maneira idêntica. Quando o volume dos reatores é igual, todas as linhas de operação serão paralelas e conseqüentemente D1=D2=D3=....Dn. Quando X0 for diferente de 0 (reciclagem de células) a base da primeira linha operatória deve ser deslocada da origem ao valor de X0 na abscissa. Figura 7.14.: Análise gráfica de sistemas contínuos Figura 7.15.: Projeto de sistemas contínuos μmáx Linha de operação =rX/X=μ rX X X tempo dX/dt Batelada simples Sistema Contínuo Sistema Contínuo X rX D Reator 1 Reator 2 Reator 3 126 7.1.3. REATORES ENZIMÁTICOS As conversões bioquímicas podem ser feitas em reatores usando microrganismos, ou enzimas isoladas como catalisadores. As enzimas produzidas extracelularmente pelos microorganismos são disponíveis em larga escala e são usadas em vários processos industriais: panificação, cervejaria, alimentos, couro, têxtil, etc. No entanto, somente algumas enzimas produzidas intracelularmente por microorganismos são disponíveis comercialmente. As enzimas podem ser utilizadas na forma solúvel ou insolúvel (imobilizada) e a escolha entre um processo ou outro depende do tipo de reação na qual está envolvida e/ou do custo do processo. O mesmo pode se dizer entre a escolha do emprego de enzimas, microorganismos ou agentes químicos num dado processo industrial. 7.1.1.4. Tipos de Reatores Enzimáticos a. Introdução: Muitos reatores são usados com enzimas, seja ela na sua forma solúvel ou imobilizada. O sistema mais comum é o de batelada em tanques agitados. Alguns exemplos são mostrados nas figuras abaixo: Quando a estabilidade da enzima é boa deve-se considerar sua reutilização. Desta forma, os reatores podem ser classificados como abertos, quando a enzima se perde no efluente do reator, ou fechado quando ela é retida dentro do sistema. Portanto, quando a enzima deve ser reutilizada o sistema a ser utilizado deve ser fechado. b. Cinética de reatores enzimáticos: b.1. Equação integrada de Michaelis-Menten – Reatores batelada Consideremos a equação de Michaelis-Menten da seguinte forma: Figura 7.16. Exemplos de reatores de fluxo contínuo 127 dt dS SK S V KEr M S (7.89) Para reações em batelada a equação acima pode ser integrada dando: t V KE S S KSS fmf 0 0 ln (7.90) Chamando x a conversão 0 0 S SS f , temos: t V KE xKxS mo 1ln (7.91) Rearranjando a Equação 7.91. t VK KE xS K x m o m 11ln (7.92) b.2. Reatores tubulares: Para um reator tubular (RT) temos: v = vazão linear (m/s); A: área da seção transversal; S: concentração do substrato; Z: distribuição percorrida pelo fluido dentro do reator. O balanço na camada infinitesimal é: taxa de entrada – taxa de saída – taxa de transformação = 0 0 zszzz zrAvASvAS dz dS v dz vsd z vSvS r zzz s rS = velocidade da reação (mol.seg-1.L-1); KE = atividade máxima da enzima (mol.seg-1); V = volume em litros. v: m/s A: m2 S: g/m3 rS: g/(m3.s) v (m/s) v (m/s) S0 S Z=L vS|z vS|z+Z Z Z+Z A 128 dt dS r dt dz v s Este resultado é o mesmo obtido para um reator em batelada. No caso do reator tubular o tempo de reação será igual ao tempo de retenção do fluido dentro do reator. Neste caso temos: Q V Portanto, a equação integrada de Michaelis-Menten para um reator tubular se torna: V KE Q KE xKxS mo 1ln (7.93) ou, mmm o m VK KE xS KQK KE xS K x 011)1ln( (7.94) b.3. Reatores de Mistura Contínuos Num reator de mistura contínuo temos: taxa de entrada – taxa de saída – taxa de transformação = 0 00 VrQSQS s V = volume do reator (L) Q = vazão do fluido (L/s) FR/S So F S Tanque agitado 129 Q KE V KE x xKxS S KV KESS S KmV KE r SSSS V Q rVrSSQ m m s ss 11 1 1 1 )()( 0 0 0 00 (7.95) ou, mm m KKS S S KV KE x )1(1111 1 0 0 0 (7.96) c. Cinética de Reatores Enzimáticos com Inibição No parágrafo precedente assumiu-se que a enzima não sofria inibição nem do substrato nem dos produtos da reação. Muitas enzimas sofrem, no entanto, alguma espécie de inibição, o que tem um efeito considerável na cinética de um reator. c.1. Inibição pelo substrato Neste caso, a velocidade de reação é dada por: s m s K SKS SVKE r 2 (7.97) As equações para os três tipos de reatores são: batelada e tubular (RT): τ V KE t ou V KE)xx( K S x)(KxS s m 2 2 0 0 22 1ln (7.98) reator de mistura contínuo: Q KE xx K S x xKxS s m )(1 2 2 0 0 (7.99) c.2. Inibição competitiva pelo produto 130 i m s K IKS SKE/V r 1 (7.100) batelada e tubular (RT): τ V KE t ou V KE x)(K K S xS K K m ii m 1ln11 00 (7.101) reator de mistura contínuo: Q KE x Sx K K x xKxS i m m 11 0 2 0 (7.102) c.3. Inibição não competitiva pelo produto m i s KS S K I VKE r 1 (7.103) batelada e tubular (RT): V KE ou)1ln(1 2 21 02000 tV KE xK K S x K xS K K K S xS m iii m i (7.104) reator de mistura contínuo: Q KE xS K K Sx x xKxS m i m 111 0 2 0 2 0 (7.105)
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