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Marcio Antonio Jorge da Silva NOTAS DE AULA: A Transformada de Laplace Londrina, 12 de marc¸o de 2013 Suma´rio 1 Introduc¸a˜o 2 1.1 Biografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2 A Transformada de Laplace 5 2.1 Definic¸a˜o e Exemplos Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.2 Transformac¸a˜o Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.3 Mais Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 3 Propriedades da Transformada de Laplace 13 3.1 Propriedades Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 3.2 Teoremas de Translac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.3 O Teorema de Convoluc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.4 A func¸a˜o de Gama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4 Aplicac¸o˜es em Equac¸o˜es Diferenciais 33 4.1 Equac¸o˜es Lineares de Segunda Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.2 Exerc´ıcios de Fixac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.3 Equac¸o˜es Lineares de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 5 Mais Aplicac¸o˜es em Equac¸o˜es Diferenciais 44 5.1 O sistema massa-mola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.2 Func¸o˜es Impulso: O Delta de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.3 Equac¸a˜o Integro-Diferencial de Volterra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 5.4 Exerc´ıcios de Fixac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 6 Frac¸o˜es Parciais: Uma breve revisa˜o 56 Refereˆncias Bibliogra´ficas 61 1 Introduc¸a˜o A transformac¸a˜o linear que estudaremos a seguir e´ o operador integral conhecido como Transformada de Laplace 1. Esta transformada constitui-se de um importante instrumento na resoluc¸a˜o de Equac¸o˜es Diferenciais Ordina´rias (EDO) Lineares a coeficientes constantes quando os me´todos tradicionais e te´cnicas elementares na˜o se mostram eficientes. O me´todo consiste em transformar uma equac¸a˜o diferencial em uma Equac¸a˜o Alge´brica (EA) que envolve as condic¸o˜es iniciais e, utilizando um processo de inversa˜o, obte´m-se a soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial em questa˜o. A noc¸a˜o intuitiva da Transformada de Laplace esta´ expressada nas figuras a seguir L L -1 f(t) F(s) f(t) L L -1 EDO EA Solução Inicialmente, vamos aplicar a Transformada de Laplace em va´rias func¸o˜es numa classe espec´ıfica. Em seguida, passaremos a obtenc¸a˜o de resultados e propriedades mais impor- tantes da transformada. Uma boa parte destas notas sera´ dedicada a compreensa˜o de como a Transformada de Laplace atua em certas func¸o˜es e quais as propriedades ba´sicas de tais transformadas. Para enfatizar a importaˆncia da Transformada de Laplace, apre- sentaremos ferramentas importantes como o Teorema da Convoluc¸a˜o, as Func¸o˜es de Green e a Func¸a˜o Gama, entres outras, com intuito de ampliar a classe de problemas a serem estudados. Para obter um bom desempenho no estudo da Transformada de Laplace e´ necessa´rio que se tenha um conhecimento ba´sico sobre as EDO’s lineares e, tambe´m, que se recorde alguns conceitos sobre limites, continuidade, derivadas e integrais (impro´prias) de func¸o˜es 1Uma breve biografia de Laplace e´ dada a seguir 2 reais. Um bom manejo com frac¸o˜es parciais pode ajudar na resoluc¸a˜o de tranformadas inversas. Ao final destas notas, uma breve revisa˜o sobre frac¸o˜es parciais e´ feita com o objetivo de relembrar o assunto para os leitores convenientes. 1.1 Biografia Figura 1: Pierre Simon Laplace (1749-1827) Astroˆnomo e matema´tico franceˆs, Marqueˆs de Pierre Simon de Laplace, nasceu na localidade de Beumont-en-Auge, Prov´ıncia da Normandia em 28 de marc¸o de 1749. Filho de um pro´spero fazendeiro, revelou um grande talento e perspica´cia para a matema´tica enquanto estudava teologia na Universidade de Caen. Embora de origem modesta, poˆde estudar na Escola Militar da cidade natal. Pouco depois, tornou-se professor de matema´tica nessa escola. Desfrutando da admirac¸a˜o de D’Alambert, obteve o lugar de professor da Academia Militar de Paris. Por volta de 1784, tomou parte na organizac¸a˜o da Escola Polite´cnica e da Escola Normal, e ingres- sou na antiga Academia de Cieˆncias. Da´ı em diante, ocupou alguns cargos pol´ıticos de importaˆncia, como os de Ministro do Interior, com Napolea˜o, e o de vice-presidente do Senado. Figurou como um dos ”quarenta imortais” da Academia Francesa. Suas contribuic¸o˜es para a a´rea exata foram na f´ısica, estudando sobre a teoria do calor, mecaˆnica celestial, velocidade do som entre outros estudos. Ja´ na matema´tica, voltou sua atenc¸a˜o para o ramo da probabilidade, tomando como to´pico fundamental a 3 teoria dos erros. E neste mesmo per´ıodo, desenvolveu um me´todo de soluc¸a˜o integral para equac¸o˜es diferenciais: a Transformada de Laplace, cuja teoria, alia´s, o consagrou na a´rea de ca´lculo devido a` praticidade oferecida na resoluc¸a˜o de equac¸o˜es diferenciais. Estes sa˜o alguns exemplos dos estudos desenvolvidos por ele. Laplace foi um dos mais influentes dentre os cientistas franceses em toda a histo´ria. Sua reputac¸a˜o o tornou ce´lebre e imortal, ficando conhecido como o ”Newton franceˆs”. Sua carreira foi importante por suas contribuic¸o˜es te´cnicas para as cieˆncias exatas, para o ponto de vista filoso´fico que ele desenvolveu durante sua vida e pela parcela que tomou parte na formac¸a˜o das modernas disciplinas cient´ıficas. Seus u´ltimos anos de vida foram vividos em Arcueil, onde ele e um amigo qu´ımico chamado Bertholet encontravam-se as- sociados a um c´ırculo filoso´fico conhecido como Socie´te´ d’Arcueil. Laplace aparentemente encontrou uma extensa˜o anormal da mode´stia quando estava vivendo seus u´ltimos mo- mentos na cama, onde ele pronunciou: ”O conhecimento que temos das coisas e´ pequeno, na verdade, quando comparado com a imensida˜o daquilo em que ainda somos ignorantes”. Fonte: http://www.fem.unicamp.br/∼em313/paginas/person/laplace.htm Autor do texto: Fa´bio Andreotti. Para mais detalhes, ver as seguintes refereˆncias: • American Council of Learned Societies. Dictionary of Scientific Biography, vol 15 & 16, pp.273-386. • McGraw Hill. Encyclopedia of Science and Technology, vol 7 , pp. 400-403. • Grolier. Encyclopedia Americana, vol 16, p. 756. 4 2 A Transformada de Laplace 2.1 Definic¸a˜o e Exemplos Iniciais Iniciamos com a principal definic¸a˜o deste contexto Definic¸a˜o 2.1 Seja f : [0,∞) → R uma func¸a˜o. A Transformada de Laplace de f e´ dada por L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt, (1) supondo que a integral convirja para algum valor de s. Note que a integral impro´pria em (1) nos fornece uma func¸a˜o de s e, por este motivo, usaremos tambe´m as seguintes notac¸o˜es: L[f(t)] = F (s) ou ainda L[f(t)](s). Exemplo 2.1 Seja f(t) = cos(at), onde a e´ uma constante arbitra´ria. Enta˜o, L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−st cos(at) dt = lim B→∞ ∫ B 0 e−st cos(at) dt = = lim B→∞ ( e−sB s2 + a2 (a sin(aB)− s cos(aB)) + s s2 + a2 ) . E este u´ltimo limite existe se, e so´ se, s > 0. Neste caso, tem-se que o limite assume o valor s s2 + a2 . Portanto, a transformada da func¸a˜o f(t) = cos(at) e´ L[cos(at)] = s s2 + a2 para s > 0. Exemplo 2.2 Seja f(t) = 1, ∀ t > 0. Temos que L[f(t)] = L[1] = ∫ ∞ 0 e−st1 dt = lim B→∞ ∫ B 0 e−st dt = lim B→∞ ( −1 s e−sB + 1 s ) = 1 s quando s > 0. Logo L[1] = 1 s , s > 0. As pro´ximas definic¸o˜es teˆm o intuito de nos direcionar quais as propriedades que forncera˜o condic¸o˜es suficientes para a existeˆnciada Transformada de Laplace de uma func¸a˜o f(t) dada. 5 Definic¸a˜o 2.2 Uma func¸a˜o f : [0,+∞)→ R e´ dita cont´ınua por partes se: (i) f e´ cont´ınua em todos os pontos de qualquer intervalo [a, b] ⊂ [0,+∞) exceto num nu´mero finito pontos deste subintervalo. (ii) Os limites f(x+0 ) = lim h→0+ f(x0 + h) e f(x − 0 ) = lim h→0+ f(x0 − h) existem em cada ponto x0 ∈ [0,+∞). Definic¸a˜o 2.3 Diz-se que uma func¸a˜o f e´ de ordem exponencial no intervalo [0,∞) se existem constantes C e α, com C > 0, tais que |f(t)| ≤ Ceαt, ∀ t > 0. Exemplo 2.3 Note que a func¸a˜o g(t) = eat, sendo a uma constante, e´ de ordem expone- cial. A Transformada de Laplace da func¸a˜o g em [0,∞) e´ dada por L[eat] = ∫ ∞ 0 e−steat dt = ∫ ∞ 0 e(a−s)t dt = lim B→∞ ∫ B 0 e(a−s)t dt = lim B→∞ ( 1 a− se (a−s)B + 1 s− a ) = 1 s− a, s > a. Note que, este na˜o foi apenas um mero exemplo onde a func¸a˜o que e´ ordem exponencial admite a Transformada de Laplace. Para comprovar a existeˆncia da Transformada de Laplace de func¸o˜es cont´ınuas por partes e de ordem exponencial temos o resultado a seguir. Teorema 2.1 Se f : [0,∞)→ R e´ uma func¸a˜o cont´ınua por partes e de ordem exponen- cial, enta˜o existe um nu´mero α tal que ∫∞ 0 e−stf(t) dt = L[f(t)] converge para todos os valores s > α. 6 Prova: Sabemos da ana´lise real que se f e g sa˜o func¸o˜es integra´veis em (a, b) com a < b ≤ ∞ e f(t) ≤ g(t), ∀ t ∈ (a, b), enta˜o vale a seguinte propriedade:∫ ∞ a g(t) dt <∞ ⇒ ∫ ∞ a f(t) dt <∞ (Teste de comparac¸a˜o). Como f e´ de ordem exponencial, consideremos as constantes C > 0 e α tais que |f(t)| ≤ Ceαt. Assim, L[f ] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt ≤ ∫ ∞ 0 e−stCeαt dt = C ∫ ∞ 0 e(α−s)t dt = C s− α, se s > α. Logo, pelo teste de comparac¸a˜o resulta L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt < ∞, ∀ s > α. A rec´ıproca do Teorema 2.1 e´ falsa, isto e´, existem func¸o˜es que admitem a Transfor- mada de Laplace, mas na˜o sa˜o de ordem exponencial, por exemplo, considere a func¸a˜o f(t) = 1√ t , esta func¸a˜o na˜o e´ de ordem exponencial, como mostraremos a seguir, mas admite a Transformada de Laplace, o que analisaremos mais adiante. Com efeito, temos de mostrar que, para quaisquer constantes reais α e C > 0, existe t > 0 tal que f(t) > Ceαt. Note que lim t→0+ 1√ t = +∞, enta˜o, dado M > 0, existe δ > 0 tal que 1√ t > M sempre que 0 < t < δ. Dadas quaisquer constantes α e C > 0, considere t suficientemente pequeno e tome M = max{Ceαt, C}. Da´ı, segue que 1√ t > M ≥ Ceαt. Portanto a func¸a˜o f(t) = 1√ t na˜o e´ de ordem exponencial. Com esse exemplo, temos que o conjunto das func¸o˜es que possuem a Transformada de Laplace e´ maior que o conjunto das func¸o˜es de ordem exponencial. Pore´m, este u´ltimo conjunto e´ suficientemente grande para nossos fins e conte´m a maioria das func¸o˜es que aparecem em nossas aplicac¸o˜es. Mais adiante, mostraremos que a transformada de Laplace de f(t) = 1/ √ t existe. 7 2.2 Transformac¸a˜o Linear Denotemos por E o conjunto de todas as func¸o˜es cont´ınuas por partes e de ordem exponencial, que sera´ considerado um espac¸o vetorial real, com as definic¸o˜es usuais de adic¸a˜o e multiplicac¸a˜o por escalar (prova-se isto em um contexto mais amplo). E seja F o conjunto de todas as func¸o˜es a valores reais definidas em intervalos da forma [s0,∞), onde s0 ∈ R. F pode ser considerado um espac¸o vetorial, desde que modifiquemos a definic¸a˜o de adic¸a˜o usada ate´ enta˜o em espac¸os de func¸o˜es para nos adequarmos ao fato de as func¸o˜es de F na˜o serem definidas no mesmo intervalo. Definic¸a˜o 2.4 Se f e g sa˜o duas func¸o˜es quaisquer em F , temos que f + g e´ definida como a func¸a˜o cujo domı´nio e´ a intersec¸a˜o dos domı´nios de f e g, cujo valor em qualquer ponto x nessa intersec¸a˜o e´ (f + g)(x) = f(x) + g(x).´ Com esta nova definic¸a˜o e com a multiplicac¸a˜o por escalar usual, verifica-se facilmente que F e´ um espac¸o vetorial real. Omitiremos aqui essa ana´lise pois na˜o se encontra dentro do objetivo principal deste contexto. Pelas observac¸oes feitas, juntamente com o Teorema 2.1 podemos dizer que a trans- formada de Laplace L aplica o espac¸o vetorial E no espac¸o vetorial F . Queremos veˆ-la agora como uma transformac¸a˜o linear. Contudo, ha´ uma dificuldade inicial em afirmar que L[f + g] = L[f ] + L[g]. Se considerarmos as func¸o˜es f(t) = cos(at) e g(t) = −cos(at) temos que L[f ] + L[g] e´ a func¸a˜o nula definida no intervalo (0,∞), e por outro lado, L[f + g] = L[0] e´ a func¸a˜o nula definida em (−∞,∞). Visto esse exemplo, so´ podemos enta˜o dizer que L[f + g] e L[f ] + L[g] sa˜o ideˆnticas para os valores de s para os quais ambas esta˜o definidas, o que na˜o e´ o mesmo que dizer que sa˜o iguais. Mas esta dificuldade pode ser superada simplesmente considerando duas func¸o˜es em F como ideˆnticas quando coincidem num intervalo da forma (a,∞). Desta forma, as duas func¸o˜es obtidas acima sa˜o consideradas como iguais. 8 Realizadas essas observac¸o˜es, demonstraremos agora que L e´ transformac¸a˜o linear de E em F . Para isso temos o Teorema 2.2 (Linearidade da Transformada de Laplace) Sejam f, g : [0,∞) → R func¸o˜es cujas Transformadas de Laplace existam. Enta˜o, L[af(t) + bg(t)] = aL[f(t)] + bL[g(t)], ∀ a, b ∈ R. Prova: Pela definic¸a˜o da transformada de Laplace temos: L[af(t) + bg(t)] = ∫ ∞ 0 e−st(af(t) + bg(t)) dt = ∫ ∞ 0 [ae−stf(t) + be−stg(t)] dt = a ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt + b ∫ ∞ 0 be−stg(t) dt = aL[f(t)] + bL[g(t)]. Analisaremos agora se L e´ biun´ıvoca, ou seja, L[f ] = L[g] ⇒ f = g. Para garantir esse resultado enuciaremos um importante teorema na teoria de Transformada de Laplace. Teorema 2.3 (Teorema de Lerch) Sejam f e g func¸o˜es cont´ınuas por partes e de or- dem exponencial. Suponhamos que exista um s0∈ R tal que L[f(t)](s) = L[g(t)](s), ∀ s > s0. Enta˜o, com a poss´ıvel excessa˜o dos pontos de descontinuidade, f(t) = g(t), ∀ t > 0. Prova: Ver [6]. Para uma refereˆncia em portugueˆs, ver tambe´m [4]. O Teorema de Lerch diz que o operador linar L e´ injetivo e portanto e´ invers´ıvel lateralmente. Com isto, podemos dizer que se a equac¸a˜o L[y] = ϕ(s) pode ser resolvida 9 em relac¸a˜o a y, a soluc¸a˜o sera´ u´nica. Esta soluc¸a˜o e´ chamada de Transformada Inversa de Laplace da func¸a˜o ϕ e sera´ denotada por L−1[ϕ]. Em resumo, vale a seguinte equivaleˆncia: L[y] = ϕ ⇔ L−1[ϕ] = y. Falta verificarmos se L−1 aplica o espac¸o vetorial F no espac¸o vetorial E , isto equivale a perguntarmos se L[y] = ϕ(s) tem soluc¸a˜o para toda func¸a˜o ϕ em F , o que na˜o e´ verdade. Isto segue como consequeˆncia do seguinte resultado. Teorema 2.4 Se f e´ uma func¸a˜o de ordem exponencial, enta˜o lim s→∞ L[f(t)](s) = 0. Prova: Como f e´ de ordem exponencial, pelo teorema 2.1 existem constantes C e α tais que |L[f(t)](s)| ≤ C s− α ∀s > α. Assim − C s− α ≤ L[f(t)](s) ≤ C s− α , e passando o limite quando s→∞ resulta que 0 ≤ lim s→∞ L[f(t)](s) ≤ 0, donde lim s→∞ L[f(t)](s) = 0. A rec´ıproca e´ falsa, conforme comprovaremos mais adiante com a transformada de f(t) = 1/ √ t. A contrapositiva nos garante que existem func¸o˜es no espac¸o F que na˜o possuem Transformadas de Laplace Inversas em E , veja o exemplo a seguir. Exemplo 2.4 As func¸o˜es s, sen(s) e s s+ 1 na˜o possuem Transformadas de Laplace In- versas em E , pois nenhuma das func¸o˜es citadas tendem a zero quando s→∞. 2.3 Mais Exemplos Exemplo 2.5 Verifique que L[sin(at)] = a s2 + a2 para s > 0. 10 Soluc¸a˜o: Pela definic¸a˜o, L[sin(at)] = ∫ ∞ 0 e−st sin(at)dt = lim B→∞ ∫ B 0 e−st sin(at)dt. Usando integrac¸a˜o por partes, ∫ B 0 e−st sin(at)dt = −ae−sB cos(aB) s2+ a2 − se −sB sin(aB) s2 + a2 + a s2 + a2 , de onde segue que lim B→∞ ∫ B 0 e−st sin(at)dt = lim B→∞ [−ae−sB cos(aB) s2 + a2 − se −sB sin(aB) s2 + a2 + a s2 + a2 ] = lim B→∞ [(−e−sB s2 + a2 ) (a cos(aB) + s sin(aB)) + a s2 + a2 ] = a s2 + a2 , s > 0. Portanto, L[sin(at)] = a s2 + a2 para s > 0. Exemplo 2.6 Verifique que L [cosh(at)] = s s2 − a2 para s > |a|. Soluc¸a˜o: Como cosh(at) = eat + e−at 2 , enta˜o L[cosh(at)] = L [ eat + e−at 2 ] = 1 2 L[eat] + 1 2 L[e−at]. lembrando que a L e´ um operador linear, conforme Teorema 2.2. Conforme ja´ verificamos, L[eat] = 1 s− a, s > a e L[e −at] = 1 s+ a , s > −a Enta˜o, para s > |a|, obtemos: L[cosh(at)] = 1 2 L[eat] + 1 2 L[e−at] = 1 2 1 (s− a) + 1 2 1 (s+ a) = s s2 − a2 . 11 Exemplo 2.7 Verifique que L[sinh(at)] = a s2 − a2 para s > |a|. Soluc¸a˜o: Exerc´ıcio. (Lembre-se que sinh(at) = e at−e−at 2 ) Exemplo 2.8 Verifique que L[tn] = n! sn+1 . Soluc¸a˜o: Usando a definic¸a˜o e integrac¸a˜o por partes, L[tn] = ∫ ∞ 0 e−sttndt = −e−st s tn ∣∣∣∣∞ 0 + n s ∫ ∞ 0 e−sttn−1dt = n s ∫ ∞ 0 e−sttn−1dt = n s L[tn−1], n = 1, 2, 3, · · · Logo, L[tn] = n s L[tn−1] = n(n− 1) s2 L[tn−2] = · · · = n(n− 1) · · · 1 sn L[1] = n! sn+1 . Exemplo 2.9 Verifique que L[f(t)] = e −sc s , s > 0, onde f(t) = 0, se t < c,1, se t ≥ c. Soluc¸a˜o: De fato, L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t)dt = ∫ ∞ c e−stdt = lim B→∞ ∫ B c e−stdt = lim B→∞ −e−st s ∣∣∣∣B c = lim B→∞ (−e−sB s + e−sc s ) = e−sc s , s > 0. 12 3 Propriedades da Transformada de Laplace Primeiramente, vamos relembrar algumas Transformadas de Laplace de func¸o˜es que obtemos anteriormente. L[1] = 1 s , s > 0. L[cos(at)] = s s2 + a2 , s > 0. L[sin(at)] = a s2 + a2 , s > 0. L[eat] = 1 s− a, s > a. L[tn] = n! sn+1 , s > 0, n ∈ N. Para ampliar e estruturar formas convenientes de resolver equac¸o˜es diferenciais, va- mos fornecer ferramentas que sa˜o indispensa´veis no uso da Transformada de Laplace. Iniciaremos com duas importantes fo´rmulas que envolvem transformadas de derivadas e integrais. 3.1 Propriedades Iniciais A seguir veremos a fo´rmula que exprime a Transformada de Laplace da derivada de uma func¸a˜o f qualquer. Este e´ um dos resultados que sera´ mais utilizado na resoluc¸a˜o das EDO’s e, por isso, e´ uma important´ıssima ferramenta da Tranformada de Laplace. Antes, pore´m, fac¸amos a seguinte observac¸a˜o: Observac¸a˜o 3.1 Se f e´ uma func¸a˜o cont´ınua em (0,∞) com derivada f ′ cont´ınua por partes e de ordem exponencial, enta˜o f tambe´m e´ de ordem exponencial e lim t→∞ e−stf(t) = 0, para s grande o suficiente. Com efeito, sendo f ′ de ordem exponencial temos que existem constantes α e C > 0 tais que |f ′(t)| ≤ Ceαt =⇒ −Ceαt ≤ f ′(t) ≤ Ceαt. 13 Integrando esta desigualdade tem-se −C α eαt ≤ f(t) ≤ C α eαt =⇒ |f(t)| ≤ C α eαt. Logo, f e´ de ordem exponecial. Ale´m disso, 0 ≤ |e−stf(t)| = e−st|f(t)| ≤ C α e−steαt = C α e−(s−α)t. Tomando s suficientemente grande (por exemplo s > α), enta˜o lim t→∞ Ce−(s−α)t = 0. Isto implica que lim t→∞ e−stf(t) = 0, s > α. Teorema 3.1 Seja f uma func¸a˜o cont´ınua em (0,∞) e suponhamos que f ′ e´ cont´ınua por partes e de ordem exponencial em [0,∞). Enta˜o, L[f ′(t)] = sL[f(t)]− f(0+) onde f(0+) = lim t→0+ f(t). (2) Prova: Por definic¸a˜o L[f ′(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf ′(t) dt = lim B→∞ ∫ B 0 e−stf ′(t) dt = lim B→∞ ( f(t)e−st|B0 − ∫ B 0 (−s)f(t)e−st dt ) = lim B→∞ ( f(t)e−st|B0 )− lim B→∞ ∫ B 0 (−s)f(t)e−st dt = lim B→∞ ( f(t)e−st|B0 ) + sL[f(t)]. Pela observac¸a˜o 3.1, f e´ de ordem exponencial e lim t→∞ e−stf(t) = 0 para s suficientemente grande. Levando em conta que f pode ter descontinuidade de salto na origem, temos: lim B→∞ ( f(t)e−st|B0 ) = lim B→∞ f(B)e−sB︸ ︷︷ ︸ =0 − lim B→0+ f(B)e−sB = −f(0+). Portanto, L[f ′(t)] = sL[f(t)]− f(0+). 14 Corola´rio 3.2 Se f, f ′, . . . , f (n−1) sa˜o cont´ınuas para todo t > 0 e f (n) e´ cont´ınua por partes e de ordem exponencial em [0,∞), enta˜o L[f (n)(t)] = snL[f(t)]− sn−1f(0+)− sn−2f ′(0+)− · · · − sf (n−2)(0+)− f (n−1)(0+). Prova: E´ consequeˆncia imediata da identidade (2), depois de aplicada repetidas vezes. Exemplo 3.1 Usando o Teorema 3.1, calcule L[sen(at)]. Soluc¸a˜o: Pondo f(t) = −cos(at) a , enta˜o f ′(t) = sen(at). Assim, usando (2) e que L[cos(at)] = s s2 + a2 , obtemos: L[sen(at)] = L[f ′(t)] = sL [ −cos(at) a ] − lim t→0+ (− cos(at) a ) = − s 2 (s2 + a2)a + 1 a , ou seja, L[sen(at)] = a s2 + a2 , s > 0. Exemplo 3.2 Usando o Teorema 3.1, verifique que L[tn] = n! sn+1 , s > 0, n ∈ N. Soluc¸a˜o: Observe que dn dtn (tn) = n!. Logo, L [ dn dtn (tn) ] = L[n!] = n!L[1] = n! s , s > 0. Por outro lado, usando o corola´rio acima, L [ dn dtn (tn) ] = snL[tn]− sn−1f(0+)− . . .− f (n−1)(0+) = snL[tn]. Desta forma, snL[tn] = n! s , ou seja, L[tn] = n! sn+1 , s > 0. 15 Exemplo 3.3 Usando o Teorema 3.1, verifique que: a) L[eattn] = n! (s− a)n+1 . b) L[eat sin(bt)] = b (s− a)2 + b2 e L[e at cos(bt)] = s− a (s− a)2 + b2 . Soluc¸a˜o: a) Note que (tneat) ′ = ntn−1eat + atneat. Logo, L[ntn−1eat + atneat] = L [( tneat )′] = sL[tneat]− lim t→0+ (tneat) = sL[tneat], de onde segue que sL[tneat] = nL[tn−1eat] + aL[tneat], ou ainda, L[tneat] = n (s− a)L[t n−1eat], n = 1, 2, 3 · · · . Deste modo, L[tneat] = n (s− a)L[t n−1eat] = n(n− 1) (s− a)2 L[t n−2eat] = · · · = n(n− 1) · · · 1 (s− a)n L[e at], e como L[eat] = 1 (s−a) , enta˜o L[tneat] = n! (s− a)n+1 . b) Tomando f(t) = sin(bt)eat e g(t) = cos(bt)eat, enta˜o f ′(t) = a sin(bt)eat + b cos(bt)eat e g′(t) = a cos(bt)eat − b sin(bt)eat. Logo, L[a sin(bt)eat + b cos(bt)eat] = L [( sin(bt)eat )′] = sL[sin(bt)eat]− lim t→0+ (sin(bt)eat) = sL[sin(bt)eat], 16 de onde segue que sL[sin(bt)eat] = aL[sin(bt)eat] + bL[cos(bt)eat], ou seja, L[sin(bt)eat] = b (s− a)L[cos(bt)e at]. (3) Por outro lado, L[a cos(bt)eat − b sin(bt)eat] = L [( cos(bt)eat )′] = sL[cos(bt)eat]− lim t→0+ (cos(bt)eat) = sL[cos(bt)eat]− 1, o que implica em sL[cos(bt)eat] = aL[cos(bt)eat]− bL[sin(bt)eat] + 1, ou ainda, L[cos(bt)eat] = −b (s− a)L[sin(bt)e at] + 1 s− a. (4) Combinando (3) e (4) segue que L[sin(bt)eat] = b (s− a)2 + b2 e L[e at cos(bt)] = s− a (s− a)2 + b2 , como desejado. Vejamos agora um primeiro exemplo onde aplicamos a Transformada de Laplace para resolver o Problema com Valor Inicial. Exemplo 3.4 Resolva o seguinte PVI, usando a Transforma de Laplace. d2y dt2 − y = 1, y(0) = 0, y′(0) = 1. 17 Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace em ambos lados da equac¸a˜o, L[y′′ − y] = L[1] ⇒ s2L[y]− s y(0+)︸ ︷︷ ︸ =0 − y′(0+)︸ ︷︷ ︸ =1 −L[y] = 1 s ⇒ (s2 − 1)L[y] = 1 s + 1 ⇒ L[y] = 1 s(s− 1) := ϕ(s). Para encontrar a soluc¸a˜o desejada, resta determinar a func¸a˜o y(t) cuja Transformada de Laplace e´ ϕ(s). Usando frac¸o˜es parciais, note que 1 s(s− 1) = 1 s− 1 − 1 s . Logo, L[y] = 1 s− 1 − 1 s ⇔ y(t) = L−1 [ 1 s− 1 − 1 s ] = L−1 [ 1 s− 1 ] − L−1 [ 1 s ] . Portanto, y(t) = et − 1. No que segue, veremos outro importante resultado, o qual estabelece uma relac¸a˜o para a Transformada de Laplace da integral de uma func¸a˜o. Isto sera´ conveniente para resolver Equac¸o˜es Integro-diferenciaisde Volterra. Teorema 3.3 Seja a ∈ R, a ≥ 0. Se f e´ uma func¸a˜o de ordem exponencial em [0,∞), enta˜o L [∫ t a f(x) dx ] = 1 s L[f(t)]− 1 s ∫ a 0 f(x) dx. (5) Prova: Em primeiro lugar, note que ∫ t a f(x) dx e´ de ordem exponencial e lim t→∞ e−st ∫ t a f(x)dx = 0, para s grande o suficiente. De fato, seja g(t) = ∫ t a f(x)dx. Pelo Teorema Fundamental do Ca´lculo g′(t) = f(t). Assim, pela Observac¸a˜o 3.1, segue diretamente que g(t) e´ de ordem exponencial e lim t→∞ e−stg(t) = 0. Logo, a Transformada de Laplace de ∫ t a f(x) dx existe. Assim sendo, temos: L [∫ t a f(x) dx ] = ∫ ∞ 0 ( e−st ∫ t a f(x) dx ) dt = lim B→∞ ∫ B 0 ( e−st ∫ t a f(x) dx ) dt. 18 Integrando por partes, tem-se L [∫ t a f(x) dx ] = lim B→∞ ( −1 s e−st ∫ t a f(x) dx|B0 + 1 s ∫ B 0 e−stf(t) dt ) . Como ∫ t a f(x) dx e´ de ordem exponencial, e−st ∫ t a f(x) dx → 0 quando t →∞, para s e´ suficientemente grande, enta˜o lim B→∞ ( −1 s e−st ∫ t a f(x) dx|B0 ) = lim B→∞ ( −1 s e−sB ∫ B a f(x) dx+ 1 s ∫ 0 a f(x) dx ) = −1 s ∫ a 0 f(x) dx. Assim, obtemos L [∫ t a f(x) dx ] = −1 s ∫ a 0 f(x) dx+ 1 s ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = 1 s L[f(t)]− 1 s ∫ a 0 f(x) dx. Corola´rio 3.4 Sob as condic¸o˜es do Teorema 3.3, temos: L ∫ t a ∫ t a · · · ∫ t a︸ ︷︷ ︸ n vezes f(x) dx · · · dx dx = 1snL[f ]− 1sn ∫ a 0 f(x) dx − 1 sn−1 ∫ a 0 ∫ t 0 f(x) dx− · · · − 1 s ∫ a 0 ∫ t a · · · ∫ t a︸ ︷︷ ︸ (n−1) vezes f(x) dx · · · dx. Prova: E´ consequeˆncia imediata do Teorema 3.3. Na pra´tica, as equac¸o˜es diferenciais surgem com termo integrando inicial a = 0. Sendo assim, podemos resumir os resultados acima como: Corola´rio 3.5 Sob as condic¸o˜es do Teorema 3.3 com a = 0, segue que L [∫ t 0 f(x) dx ] = 1 s L[f(s)]. (6) L ∫ t 0 ∫ t 0 · · · ∫ t 0︸ ︷︷ ︸ n vezes f(x) dx · · · dx dx = 1snL[f(s)]. (7) 19 Exemplo 3.5 Calcule L[tet]. Soluc¸a˜o: Inicialmente note que∫ t 0 xexdx = tet − et + 1. Usando (6) temos L[tet − et + 1] = 1 s L[tet]. Como o operador L e´ linear obtemos, L[tet]− L[et] + L[1] = 1 s L[tet]. Da´ı, ( 1− 1 s ) L[tet] = L[et]− L[1]. Portanto, L[tet] = 1 (s− 1)2 , s > 1. 3.2 Teoremas de Translac¸a˜o No que segue, veremos mais resultados que exprimem Transformadas de Laplace de certas func¸o˜es, as quais dara˜o suporte para resolver determinadas equac¸o˜es. O primeiro resultado nos mostra que, conhecido L[f(t)], podemos calcular L[eatf(t)]. Proposic¸a˜o 3.6 (Primeiro Teorema de Translac¸a˜o) Se L[f(t)] = ϕ(s), enta˜o L[eatf(t)] = ϕ(s− a). Prova: Por definic¸a˜o L[eatf(t)] = ∫ ∞ 0 e−steatf(t) dt = ∫ ∞ 0 e−(s−a)tf(t) dt = L[f(t)](s− a) = ϕ(s− a). Em termos de transformadas inversas, podemos reescrever o Primeiro Teorema de Translac¸a˜o como: L−1[ϕ(s− a)] = eatf(t) = eatL−1[ϕ(s)], (8) 20 ou ainda L−1[ϕ(s)] = eatL−1[ϕ(s+ a)]. (9) Exemplo 3.6 Sabendo que L[cos(3t)] = s s2 + 9 , calcule L[e−2t cos(3t)] Soluc¸a˜o: Pela proposic¸a˜o 3.6 obtemos L[e−2t cos(3t)] = s+ 2 (s+ 2)2 + 9 . Exemplo 3.7 Calcule L−1 [ 2s+ 3 s2 − 4s+ 20 ] . Soluc¸a˜o: Primeiro observe que 2s+ 3 s2 − 4s+ 20 = 2(s− 2) + 7 (s− 2)2 + 16 = 2 (s− 2) (s− 2)2 + 42 + 7 4 4 (s− 2)2 + 42 . Assim, L−1 [ 2s+ 3 s2 − 4s+ 20 ] = 2L−1 [ (s− 2) (s− 2)2 + 16 ] + 7 4 L−1 [ 4 (s− 2)2 + 16 ] = 2e2t cos(4t) + 7 4 e2tsen(4t). 21 Para estabelecer mais um resultado, introduziremos a func¸a˜o degrau unita´rio, dada por ua(t) = 0 se t ≤ a1 se t > a onde supomos que a ≥ 0. Veja o gra´fico de ua(t) abaixo. a 1 t u ta( ) Figura 2: Func¸a˜o degrau unita´rio A partir da func¸a˜o degrau unita´rio e de uma func¸a˜o g dada, podemos definir uma func¸a˜o f dada por f(t) = ua(t)g(t− a), ou seja, f(t) = 0 se t ≤ ag(t− a) se t > a Veja que f descreve a func¸a˜o obtida transladando g(t), a unidades para a` direita e depois anulando a parte a` esquerda de a. a t u (t) ( -a)a g t Figura 3: Gra´fico de ua(t)g(t− a) 22 Essas func¸o˜es aparecem em sistemas f´ısicos, como impulsos com retardamento no instante t = a > 0. O pro´ximo resultado expressa a fo´rmula para a Transformada de Laplace de tais func¸o˜es. Proposic¸a˜o 3.7 (Segundo Teorema de Translac¸a˜o) Seja f(t) = ua(t)g(t − a), a ≥ 0, uma func¸a˜o cont´ınua por partes e de ordem exponecial. Enta˜o L[f(t)] = e−asL[g(t)]. (10) Prova: Por definic¸a˜o tem-se L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ∫ ∞ 0 e−stua(t)g(t− a) dt = ∫ ∞ a e−stg(t− a) dt. Fazendo x = t− a na integral acima tem-se que t = x+ a e dt = dx. Assim, L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−s(x+a)g(x) dx = ∫ ∞ 0 e−sxe−sag(x) dx = e−as ∫ ∞ 0 e−sxg(x) dx = e−asL[g(t)]. Na f´ısica, o fator e−as que aparece na expressa˜o acima e´ chamado tambe´m de Fator de Retardamento. Em termos de transformadas inversas, podemos reescrever o Segundo Teorema de Translac¸a˜o como: L−1 [e−asL[g(t)]] = ua(t)g(t− a), (11) ou ainda, L−1[e−asϕ(s)] = ua(t)g(t− a), onde ϕ(s) = L[g(t)]. (12) Exemplo 3.8 Se f(t) = ua(t)sen(t), encontre L[f(t)]. 23 Soluc¸a˜o: Pela Proposic¸a˜o 3.7, L[ua(t)sen(t)] = L[ua(t)sen((t+ a)− a)] = e−asL[sen(t+ a)] = e−asL[sen(t) cos(a) + sen(a) cos(t)] = e−as{ cos(a)L[sen(t)] + sen(a)L[cos(t)]} = e−as cos(a) + sen(a)s s2 + 1 . Exemplo 3.9 Calcule L[f(t)], onde f = f1 + f2 + f3 e f1(t) = 1, ∀ t ≥ 0. f2(t) = 0 , t ≤ 11− t , t > 1 f3(t) = 0 , t ≤ 2−(2− t) , t > 2 Soluc¸a˜o: Pela linearidade da Transformada de Laplace, segue que: L[f(t)] = L[f1(t)] + L[f2(t)] + L[f3(t)] = 1 s + e−sL[−t] + e−2sL[t] = 1 s + L[t] (e−2s − e−s) = 1 s + e−2s − e−s s2 = s+ e−2s − e−s s2 . Exemplo 3.10 Determine L−1 [ e−3s s2 + 6s+ 10 ] . Soluc¸a˜o: Por (12) temos L−1 [ e−3s s2 + 6s+ 10 ] = u3(t)g(t− 3), 24 onde g(t) = L−1 [ 1 s2 + 6s+ 10 ] = L−1 [ 1 (s+ 3)2 + 1 ] = e−3tsen(t). Logo L−1 [ e−3s s2 + 6s+ 10 ] = u3(t)e −3(t−3)sen(t− 3). O pro´ximo resultado nos permite calcular a Transformada de Laplace de tnf(t), quando ja´ e´ conhecida L[f(t)]. Proposic¸a˜o 3.8 Se L[f(t)] = ϕ(s), enta˜o L[tnf(t)] = (−1)n d n dsn ϕ(s). (13) Prova: Por definic¸a˜o temos L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ϕ(s). Derivando em ambos lados e usando o Teorema de Leibniz, d ds ϕ(s) = d ds ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ∫ ∞ 0 ∂ ∂s (e−stf(t)) dt = ∫ ∞ 0 f(t)e−st(−t) dt. Da´ı d ds ϕ(s) = − ∫ ∞ 0 e−st(tf(t)) dt = −L[tf(t)]. Derivando novamente tem-se d2 ds2 ϕ(s) = − ∫ ∞ 0 ∂ ∂s (e−sttf(t)) dt = ∫ ∞ 0 e−st(t2f(t)) dt = L[t2f(t)]. Procedendo desta maneira ate´ a n-e´sima derivada de ϕ(s) chegamos a dn dsn ϕ(s) = (−1)nL[tnf(t)], ou seja, L[tnf(t)] = (−1)n d n dsn ϕ(s). A Transformada Inversa correspondente a (13) e´ L−1 [ dn dsn ϕ(s) ] = (−1)ntnL−1[ϕ(s)] (14) 25 Exemplo 3.11 Calcule L[tsen(t)]. Soluc¸a˜o: Usando a Proposic¸a˜o 3.8, L[tsen(t)] = − d ds L[sen(t)] = − d ds ( 1 s2 + 1 ) = 2s (s2 + 1)2 , s > 0. Exemplo 3.12 Usando a Proposic¸a˜o 3.8, calcule L[tn]. Soluc¸a˜o: Note que tn = 1tn, assim L[tn] = (−1)n d n dsn L[1] = (−1)n d n dsn ( 1 s ) = (−1)n(−1)n n! sn+1 = n! sn+1 , s > 0. A fim de estabelecer mais um resultado, vejamos o conceito de func¸o˜es perio´dicas. Definic¸a˜o 3.1 Uma func¸a˜o f : R → R e´ chamada perio´dica,com per´ıodo p > 0 (ou simplesmente p-perio´dica), se f(t+ p) = f(t) para todos t ∈ R. O seguinte resultado reduz o ca´lculo da Transformada de Laplace de uma func¸a˜o perio´dica a resoluc¸a˜o de uma integral num intervalo finito. Proposic¸a˜o 3.9 Seja f : [0,∞)→ R de ordem exponencial e p-perio´dica, enta˜o L[f(t)] = 1 1− e−sp ∫ p 0 e−stf(t) dt. (15) Prova: Por definic¸a˜o, L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ∫ p 0 e−stf(t) dt+ ∫ 2p p e−stf(t) dt+ · · ·+ ∫ (n+1)p np e−stf(t) dt+ · · · . Fazendo x+ np = t na (n+ 1)-e´sima integral da se´rie acima temos∫ (n+1)p np e−stf(t) dt = ∫ p 0 e−s(x+np)f(x+ np) dx = e−nsp ∫ p 0 e−sxf(x) dx. 26 Portanto, L[f(t)] = ∫ p 0 e−sxf(x) dx+ e−ps ∫ p 0 e−sxf(x) dx+ · · ·+ e−nps ∫ p 0 e−sxf(x) dx+ · · · = (1 + e−ps + e−2ps + . . .+ e−nps + . . .) ∫ p 0 e−sxf(x) dx = ( ∞∑ n=0 e−nps )∫ p 0 e−sxf(x) dx = 1 1− e−ps ∫ p 0 e−sxf(x) dx. Isto conclui (15). Exemplo 3.13 Encontre a Transformada de Laplace da func¸a˜o f cujo gra´fico e´ dado a seguir. 1 2 3 4 5 1 Figura 4: Gra´fico de f Soluc¸a˜o: Note que f e´ de ordem exponencial e e´ perio´dica, com per´ıodo p = 2. Assim, L[f(t)] = ∫ 2 0 e−stf(t) dt 1− e−2s = ∫ 1 0 e−st dt 1− e−2s = 1 s(1 + e−s) . 3.3 O Teorema de Convoluc¸a˜o O pro´ximo resultado estabelece uma importante propriedade da Transformada de Laplace, constituindo-se de uma ferramenta ideal para a construc¸a˜o de inversas para 27 operadores diferenciais lineares a coeficientes constantes. Tal resultado e´ conhecido como Fo´rmula de Convoluc¸a˜o. Teorema 3.10 Sejam f e g func¸o˜es cont´ınuas por partes e de ordem exponencial. Supo- nhamos que L[f(t)] = ϕ(s) e L[g(t)] = ψ(s). Enta˜o, L [∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξ ] = ϕ(s)ψ(s). (16) Prova: Usando a definic¸a˜o da transfomada de Laplace, obtemos L [∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξ ] = ∫ ∞ 0 e−st ∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξdt = ∫ ∞ 0 ∫ t 0 e−stf(t− ξ)g(ξ) dξdt, onde a integrac¸a˜o e´ feita sobre a regia˜o do plano tξ em 0 ≤ ξ ≤ t e 0 ≤ t <∞. Agora note que esta regia˜o e´ equivalentemente a` regia˜o determinada por ξ ≤ t < ∞ e 0 ≤ ξ <∞, conforme podemos observar na figura abaixo. x t= x t Figura 5: Regia˜o de integrac¸a˜o Logo,∫ ∞ 0 ∫ t 0 e−stf(t− ξ)g(ξ) dξdt = ∫ ∞ 0 ∫ ∞ ξ e−stf(t− ξ)g(ξ) dtdξ = ∫ ∞ 0 g(ξ) (∗)︷ ︸︸ ︷(∫ ∞ ξ e−stf(t− ξ) dt ) dξ. 28 A mudanc¸a de ordem de integrac¸a˜o e´ permiss´ıvel aqui, uma vez que o determinante do jacobiano da mudanc¸a de varia´veis e´ 1. Fazendo agora u = t− ξ em (*) obtem-se que∫ ∞ ξ e−stf(t− ξ) dt = ∫ ∞ 0 e−s(u+ξ)f(u) du. Portanto, L [∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξ ] = ∫ ∞ 0 g(ξ) (∫ ∞ 0 e−s(u+ξ)f(u) du ) dξ = ∫ ∞ 0 e−sξg(ξ) (∫ ∞ 0 e−suf(u) du ) dξ = (∫ ∞ 0 e−suf(u) du )(∫ ∞ 0 e−sξg(ξ) dξ ) = L[f(t)]L[g(t)], como queriamos demonstrar Em termos de Transformada Inversa a identidade (16) fica sob a forma L−1[ϕ(s)ψ(s)] = ∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξ. (17) Por (17) observamos que se conhecemos as Transformadas Inversas f e g das func¸o˜es ϕ e ψ, enta˜o podemos exprimir a Transformada Inversa do produto ϕ(s)ψ(s) como uma integral envolvendo f e g. Definindo a convoluc¸a˜o de f com g, por (f ∗ g)(t) = ∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξ, enta˜o podemos reescrever (17) como L−1[ϕ(s)ψ(s)] = (f ∗ g)(t) = L−1[ϕ(s)] ∗ L−1[ψ(s)]. (18) A fo´rmula de convoluc¸a˜o satisfaz as seguintes propriedades: (i) Comutatividade: f ∗ g = g ∗ f 29 (ii) Associatividade: (f ∗ g) ∗ h = f ∗ (g ∗ h) (iii) Distributividade: f ∗ (g + h) = f ∗ g + f ∗ h Essas treˆs propriedades sa˜o imediatas da definic¸a˜o da fo´rmula de convoluc¸a˜o. Com estas operac¸o˜es, podemos dizer que a fo´rmula de convoluc¸a˜o define uma multiplicac¸a˜o razoa´vel em E . 3.4 A func¸a˜o de Gama Vamos calcular a seguir a Transformada de Laplace de f(t) = 1/ √ t. Mais precisa- mente, vamos determinar que L [ 1/ √ t ] = √ pi s , s > 0. Para tal finalidade, devemos introduzir a func¸a˜o Gama, Γ(x). Verificaremos que esta u´ltima esta´ bem definida e, em seguida, determinaremos Γ(1/2). Por fim, encontraremos a Transformada de Laplace da func¸a˜o 1/ √ t. Definic¸a˜o 3.2 Considere a func¸a˜o Γ : (0,∞) −→ R definida pela equac¸a˜o Γ(x) = ∫ ∞ 0 e−ttx−1 dt, x > 0. (19) A func¸a˜o dada por (19) e´ chamada func¸a˜o Gama. Observac¸a˜o 3.2 A integral em (19) converge para todos os valores de x > 0. De fato, fac¸amos Γ(x) = ∫ 1 0 e−ttx−1 dt+ ∫ ∞ 1 e−ttx−1 dt. (i) Ca´lculo de ∫ 1 0 e−ttx−1 dt. 30 1◦) Se 0 < x < 1 . Neste caso, temos que a integral impro´pria ∫ 1 0 e−ttx−1 dt = ∫ 1 0 1 ett1−x dt ≤ ∫ 1 0 1 t1−x dt. E esta u´ltima integral converge pois 1− x < 1. Logo ∫ 1 0 e−ttx−1 dt converge pelo teste de comparac¸a˜o. 2◦) Se x > 1 . Aqui a integral ∫ 1 0 e−ttx−1 dt converge pois o integrando e´ cont´ınuo em [0, 1]. (ii) Ca´lculo de ∫ ∞ 1 e−ttx−1 dt. 1◦) Se 0 < x < 1 . Perceba que tx−1 = 1 t1−x ≤ 1 =⇒ t x−1 et ≤ 1 et . Da´ı, ∫ ∞ 1 e−ttx−1 dt ≤ ∫ ∞ 1 e−t dt = lim A→∞ ( − 1 eA + 1 e ) = 1 e . Novamente pelo teste de comparac¸a˜o, ∫∞ 1 e−ttx−1 dt converge. 2◦) Se x > 1 . Fac¸amos∫ ∞ 1 e−ttx−1 dt = ∫ a 1 e−ttx−1 dt+ ∫ ∞ a e−ttx−1 dt, onde a > 1. Mostremos que existe o nu´mero a > 1 de modo que as duas integrais acima convirjam. Por L’Hoˆpital, veja que lim t→∞ tx+1 et = 0, assim, existe um nu´mero a > 1 tal que tx+1 et ≤ 1, ∀ t > a. Agora observe que tx−1 et = tx+1 t2et ≤ 1 t2 , ∀ t > a. 31 E como ∫∞ a 1/t2 dt converge, temos pelo teste de comparac¸a˜o que ∫∞ 1 e−ttx−1 dt converge. Portanto, concluimos de (i) e (ii) que a integral que define a func¸a˜o Gama converge para todos valores x > 0. Exerc´ıcio: Mostre que Γ(1/2) = √ pi. Soluc¸a˜o: Note que Γ(1/2) = ∫ ∞ 0 e−tt−1/2 dt = 2 ∫ ∞ 0 e−u 2 du, onde na segunda igualdade usamos a mudanc¸a de varia´vel u = √ t. Enta˜o, [Γ(1/2)]2 = 4 (∫ ∞ 0 e−u 2 du )2 = 4 ∫ ∞ 0 ∫ ∞ 0 e−(u 2+v2) dudv. Usando coordenadas polares, u = r cos θ e v = rsenθ onde 0 ≤ θ ≤ pi/2 e 0 ≤ r < ∞, temos [Γ(1/2)]2 = 4 ∫ ∞ 0 ∫ pi/2 0 e−r 2 r dθdr = 2pi ∫ ∞ 0 e−r 2 r dr = 2pi lim A→∞ ∫ A 0 e−r 2 r dr = 2pi lim A→∞ ( 1 2 − 1 2eA2 ) = pi. Finalmente, vamos determinar a Transformada de Laplace da func¸a˜o f(t) = 1√ t . Por definic¸a˜o L[1/√t] = ∫ ∞ 0 e−st 1√ t dt. Fazendo x = st, s > 0, na integral acima tem-se L[1/√t] = 1√ s ∫ ∞ 0 e−x√ x dx = 1√ s Γ(1/2) = 1√ s √ pi. Potanto, L[1/√t] = √ pi s , s > 0. 32 4 Aplicac¸o˜es em Equac¸o˜es Diferenciais Nesta sec¸a˜o faremos uso das fo´rmulas obtidas a priori para resolver Problemas de Valor Inicicial (PVI). 4.1 Equac¸o˜es Lineares de Segunda Ordem Exemplo 4.1 Determine a soluc¸a˜o do seguinte PVI: y′′ + 2y′ + y = et,y(0) = y′(0) = 0. Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace, vem que L[y′′] + L[2y] + L[y] = L[et] ⇒ s2L[y]− sy(0+)− y′(0+) + 2(sL[y]− y(0+)) + L[y] = 1 s− 1 ⇒ (s2 + 2s+ 1)L[y] = 1 s− 1 . Logo, L[y] = 1 (s− 1)(s2 + 2s+ 1) , ou ainda, y = L−1 [ 1 (s− 1)(s2 + 2s+ 1) ] . Usando frac¸o˜es parciais, note que 1 (s− 1)(s2 + 2s+ 1) = 1 4 ( 1 s− 1 ) − 1 4 ( s+ 3 (s+ 1)2 ) = 1 4 ( 1 s− 1 ) − 1 4 ( s+ 1 (s+ 1)2 ) − 1 4 ( 2 (s+ 1)2 ) = 1 4 ( 1 s− 1 ) − 1 4 ( 1 s− (−1) ) − 1 2 ( 1 (s− (−1))2 ) . Logo, y = 1 4 L−1 [ 1 s− 1 ]− 1 4 L−1 [ 1 s− (−1) ] − 1 2 L−1 [ 1 (s− (−1))2 ] = 1 4 et − 1 4 e−t − 1 2 (te−t). 33 Portanto a soluc¸a˜o do Problema de Valor Inicial dado e´ y = 1 4 et − 1 4 e−t − 1 2 (te−t). Exemplo 4.2 Sendo h(t) uma func¸a˜o que admite Transformada de Laplace, determine a soluc¸a˜o do PVI y′′ + y′ − 6y = h(t),y(0) = y′(0) = 0. Soluc¸a˜o: Aplicando o operador L na equac¸a˜o diferencial tem-se (s2 + s− 6)L[y] = L[h(t)] ⇒ L[y] = L[h(t)] (s− 2)(s+ 3) . Logo, y(t) = L−1 [ L[h(t)] (s− 2)(s+ 3) ] = L−1 [ 1 (s− 2)(s+ 3) ] ∗ h(t) = ( L−1 [ 1 s− 2 ] ∗ L−1 [ 1 s+ 3 ]) ∗ h(t) = (∫ t 0 e(2t−5ξ) dξ ) ∗ h(t) = ( e2t 5 − e −3t 5 ) ∗ h(t) Portanto, y(t) = ∫ t 0 ( e2(t−ξ) 5 − e −3(t−ξ) 5 ) h(ξ) dξ. Finalmente, para determinar a soluc¸a˜o expl´ıcita, basta atribuir uma expressa˜o particular a` func¸a˜o h e resolver a integral, se poss´ıvel. Exemplo 4.3 Sendo h(t) = 1,∀ t > 0, determine a soluc¸a˜o do PVI y′′ + y′ − 6y = 1,y(0) = y′(0) = 0. 34 Soluc¸a˜o: Pelo exemplo anterior, segue que y(t) = ∫ t 0 ( e2(t−ξ) 5 − e −3(t−ξ) 5 ) dξ = e2t 10 + e−3t 15 − 1 6 . Exemplo 4.4 Determine a soluc¸a˜o do PVI y′′ + y′ − 6y = e6t,y(0) = y′(0) = 0. Soluc¸a˜o: Pelo exemplo anterior, segue que y(t) = ∫ t 0 ( e2(t−ξ) 5 − e −3(t−ξ) 5 ) e6ξ dξ = e6t 36 − e 2t 20 + e−3t 45 . Exemplo 4.5 Determine a soluc¸a˜o do PVI y′′ + 4y′ + 4y = u2(t)e−(t−2),y(0) = 1, y′(0) = −1, onde u2(t) = 0 se t ≤ 21 se t > 2 e´ a func¸a˜o degrau unita´rio. Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace e usando o segundo Teorema de Translac¸a˜o, L[y′′] + 4L[y′] + 4L[y] = e−2s 1 s+ 1 ⇒ s2L[y]− sy(0+)− y′(0+) + 4sL[y]− 4y(0+) + 4L[y] = e−2s 1 s+ 1 ⇒ (s2 + 4s+ 4)L[y] = e−2s 1 s+ 1 + s+ 3 ⇒ (s+ 2)2L[y] = e −2s + s2 + 4s+ 3 s+ 1 . 35 Logo, L[y] = e −2s + s2 + 4s+ 3 (s+ 1)(s+ 2)2 = e−2s 1 (s+ 1)(s+ 2)2 + (s+ 1)(s+ 3) (s+ 1)(s+ 2)2 = e−2s ( 1 s+ 1 − 1 s+ 2 − 1 (s+ 2)2 ) + 1 s+ 2 + 1 (s+ 2)2 = e−2s s+ 1 − e −2s s+ 2 − e −2s (s+ 2)2 + 1 s+ 2 + 1 (s+ 2)2 . Assim, y = L−1 [ e−2s s+ 1 − e −2s s+ 2 − e −2s (s+ 2)2 + 1 s+ 2 + 1 (s+ 2)2 ] = L−1 [ e−2s s+ 1 ] − L−1 [ e−2s s+ 2 ] − L−1 [ e−2s (s+ 2)2 ] +L−1 [ 1 s+ 2 ] + L−1 [ 1 (s+ 2)2 ] . Novamente pelo segundo Teorema de Translac¸a˜o (em termos de transformada inversa), a soluc¸a˜o e´ dada por y(t) = u2(t)e −(t−2) − u2(t)e−2(t−2) − u2(t)(t− 2)e−2(t−2) + e−2t(1 + t). Exemplo 4.6 Determine a soluc¸a˜o do PVI y′′ + 2y′ + y = u1(t)− 2u2(t) + u3(t),y(0) = y′(0) = 0, onde ua(t) = 0 se t ≤ a,1 se t > a. Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace e usando as condic¸o˜es iniciais, obtemos (s2 + 2s+ 1)︸ ︷︷ ︸ =(s+1)2 L[y] = e −t − 2e−2t + e−3t s , ou seja, L[y] = e −t − 2e−2t + e−3t s(s+ 1)2 = e−t s(s+ 1)2 − 2 e −2t s(s+ 1)2 + e−3t s(s+ 1)2 . 36 Agora, aplicando a transformada inversa e usando sua linearidade obtemos y = L−1 [ e−t s(s+ 1)2 ] − 2L−1 [ e−2t s(s+ 1)2 ] + L−1 [ e−3t s(s+ 1)2 ] . Usando frac¸o˜es parciais, note que 1 s(s+ 1)2 = 1 s − 1 s+ 1 − 1 (s+ 1)2 . Logo, pelo segundo Teorema de translac¸a˜o L−1 [ e−at s(s+ 1)2 ] = L−1 [ e−at s − e −at s+ 1 − e −at (s+ 1)2 ] = L−1 [ e−at s ] − L−1 [ e−at s+ 1 ] − L−1 [ e−at (s+ 1)2 ] = ua(t)− ua(t)e−(t−a) − ua(t)(t− a)e−(t−a). Tomando em particular a = 1, a = 2 e a = 3, obtemos y(t) = u1(t)− u1(t)e−(t−1) − u1(t)(t− 1)e−(t−1) − 2 (u2(t)− u2(t)e−(t−2) − u2(t)(t− 2)e−(t−2)) +u3(t)− u3(t)e−(t−3) − u3(t)(t− 3)e−(t−3). Reajustando os termos necessa´rios, concluimos que a soluc¸a˜o do problema e´ dada por y = u1(t)− 2u2(t) + u3(t)− 2e2(u2(t)− eu3(t))e−t − e(u1(t)− 2eu2(t) + e2u3(t))te−t. 4.2 Exerc´ıcios de Fixac¸a˜o Usando a Transformada de Laplace, encontre a soluc¸a˜o dos seguintes PVI’s: 1. y′ + 3y = t sin(2t), y(0) = 1. 2. y′′ + y′ − 6y = e−3t, y(0) = y′(0) = 0. 3. y′′ + y′ − 6y = cos(2t), y(0) = y′(0) = 0. 37 4. y′′ + y′ − 6y = t2, y(0) = y′(0) = 0. 5. y′′ + 6y′ + 8y = 16t+ 12, y(0) = 2, y′(0) = −6 6. y′′ + 6y′ + 9y = t2e3t, y(0) = 2, y′(0) = 6. 7. y′′ + 4y′ + 13y = 3e−2tcos(3t), y(0) = y′(0) = 0. 8. y′′ + 4y′ + 5y = e−3t cos (t) y(0) = 2, y′(0) = 1 9. y′′ − 2y′ + y = u3(t)− 3u2(t), y(0) = y′(0) = 0, ua(t) = 0 se t ≤ a,1 se t > a. 10. y′′ − 5y′ + 6y = u2(t) + u3(t), y(0) = y′(0) = 0. 11. y′′ + y′ + y = u2(t)e−(t−3), y(0) = 0, y′(0) = −1. 12. y′′ + 3y′ − 4y = upi 2 (t) cos(t), y(0) = 1, y′(0) = 0. 13. y′′ + 4y = f(t), y(0) = 1, y′(0) = 0, onde f(t) = 1 se 0 ≤ t < pi,0 se pi ≤ t <∞. 14. y′ + 2y + ∫ t 0 y(s)ds = f(t), y(0) = 1, onde f(t) = t se t < 1, 2− t se 1 ≤ t ≤ 2, 0 se t > 2. 4.3 Equac¸o˜es Lineares de Ordem Superior No que segue, vamos estabelecer um me´todo para resolver o seguinte PVI: y(n) + an−1y(n−1) + · · ·+ a1y′ + a0y = h,y(0) = y′(0) = · · · = y(n−1)(0) = 0, (20) onde a0, a1, . . . , an ∈ R e h e´ uma func¸a˜o dada, cuja Transformada de Laplace exista. Denotando por L o seguinte operador diferencial linear a coeficientes constantes L = Dn + an−1Dn−1 + . . .+ a1D + a0, 38 enta˜o podemos reescrever o PVI (20) como Ly = h,y(0) = y′(0) = . . . = y(n−1)(0) = 0. (21) Aplicando a Transformada de Laplace na equac¸a˜o diferencial em (21) em usando as condic¸o˜es iniciais, obtemos p(s)L[y] = h(s), onde h(s) = L[h] e p(s) = sn + an−1sn−1 + . . .+ a1s+ a0. Assim, L[y] = h(s) p(s) ⇐⇒ y = L−1 [ h(s) p(s) ] . =⇒ y = L−1 [ 1 p(s) h(s) ] = L−1 [ 1 p(s) ] ∗ h(t). Denotando por g(t) := L−1 [ 1 p(s) ] , temos pela fo´rmula de convoluc¸a˜o que y(t) = g(t) ∗ h(t) = ∫ t 0 g(t− ξ)h(ξ) dξ, (22) e´ a soluc¸a˜o do Problema de Valor Inicial (21) e, portanto, soluc¸a˜o de (20). Lema 4.1 A func¸a˜o g(t) = L−1 [ 1 p(s) ] satisfaz o seguinte PVI Ly = 0 em (0,∞)y(0) = y′(0) = . . . = y(n−2)(0) = 0, y(n−1)(0) = 1, (23) onde L = Dn + an−1Dn−1 + . . .+ a1D + a0 e p(s) = sn + an−1sn−1 + . . .+ a1s+ a0. Prova: Aplicando a Transformada de Laplace, obtemos −1 + p(s)L[y] = 0 =⇒ L[y] = 1 p(s) . 39 Logo, y = L−1 [ 1 p(s) ] ︸ ︷︷ ︸ g(t) e´ a soluc¸a˜o do PVI (23), sendo a u´nica soluc¸a˜o devido aos valores iniciais. Na teoria de existeˆncia e unicidade de soluc¸o˜es, o operador diferencial L se tornava biun´ıvoco diante de um conjunto de condic¸o˜es iniciais e, deste modo, possuia uma u´nica inversa G, ver Kreider [5]. Relembrando, temos que L : Cn(I) −→ C(I), assim podemos considerar a soluc¸a˜o y(t) dada em (22) como uma aplicac¸a˜o G : C[0,∞) −→ Cn[0,∞) e, enta˜o, temos uma inversa ”lateral” G para L, definida por G(h) = ∫ t 0 g(t− ξ)h(ξ) dξ. A func¸a˜o g(t − ξ) que aparece na integral e´ chamada func¸a˜o de Green para o operador diferencial L em problemas com valor inicial em t = 0. O pro´ximo resultado diz respeito a func¸a˜o de Green g(t − ξ), a partir da func¸a˜o g(t) e, o mesmo, decorre imediatamente da teoria sobre func¸o˜es de Green para operadores diferenciais, ver Kreider [5]. Teorema 4.2 Seja L = Dn + an−1Dn−1 + . . .+ a1D + a0 e p(s) = sn + an−1sn−1 + . . .+ a1s + a0 o polinoˆmio auxiliar de L. Se g(t) = L−1 [ 1 p(s) ] , enta˜o a func¸a˜o g(t − ξ) e´ a func¸a˜o de Green para L no intervalo (−∞,∞). Sob estas considerac¸o˜es, note que G(h) = ∫ t t0 g(t− ξ)h(ξ) dξ, t0 ∈ (−∞,∞), corresponde a inversa de L em PVI’s da forma Ly = h,y(t0)= y′(t0) = . . . = y(n−1)(t0) = 0. 40 Exemplo 4.7 Determine a soluc¸a˜o particular da EDO sujeita as condic¸o˜es iniciais 4y(4) − 4y(3) + 5y′′ − 4y′ + y = ln(t),y(1) = y′(1) = y′′(1) = y′′′(1) = 0. Soluc¸a˜o: Note que podemos reescrever o PVI como (D4 −D3 + 54D2 −D + 14)y = 14 ln(t),y(1) = y′(1) = y′′(1) = y′′′(1) = 0. Primeiro vamos determinar a func¸a˜o de Green para o operador normalizado L = D4 − D3 + 5 4 D2 −D + 1 4 , cujo polinoˆmio auxiliar e´ p(s) = s4 − s3 + 5 4 s2 − s+ 1 4 . Seja g(t) = L−1 [ 1 p(s) ] = L−1 [ 4 4s4 − 4s3 + 5s2 − 4s+ 1 ] . Usando frac¸o˜es parciais tem-se que g(t) = L−1 [ 16 5 (2s− 1)2 − 32 5 2s− 1 + 16s 25 s2 + 1 − 12 25 s2 + 1 ] . Assim, g(t) = 4 5 tet/2 − 16 25 et/2 + 16 25 cos(t)− 12 25 sen(t). Logo, a func¸a˜o de Green para o operador L e´ g(t− ξ) = 4 5 (t− ξ)e(t−ξ)/2 − 16 25 e(t−ξ)/2 + 16 25 cos(t− ξ)− 12 25 sen(t− ξ). Portanto, a soluc¸a˜o particular do PVI correspondente e´ y(t) = ∫ t 1 g(t− ξ) ln(ξ) 4 dξ. Exemplo 4.8 Determine uma func¸a˜o de Green para o operador L = D2− 2aD+a2+ b2. Soluc¸a˜o: O polinoˆmio auxiliar e´ p(s) = s2 − 2as+ a2 + b2. Assim, g(t) = L−1 [ 1 p(s) ] = L−1 [ 1 (s− a)2 + b2 ] = L−1 [ 1 b b (s− a)2 + b2 ] . 41 Logo, pelo primeiro Teorema de Translac¸a˜o, temos g(t) = 1 b eatsen(bt). Portanto, pelo Teorema 4.2 a func¸a˜o de Green para L e´ g(t− ξ) = 1 b ea(t−ξ)sen(b(t− ξ)). Exemplo 4.9 Resolva o seguinte PVI (D2 − 2aD + a2 + b2)y = h(t),y(pi) = 2, y′(pi) = −3. (24) Soluc¸a˜o: Sabemos que g(t−ξ) = 1 b ea(t−ξ)sen(b(t−ξ)) e´ a func¸a˜o de Green para o operador L = D2 − 2aD + a2 + b2. Com isto, uma soluc¸a˜o particular para o problema (24) e´ yp(t) = G(h) = 1 b ∫ t pi ea(t−ξ)sen(b(t− ξ))h(ξ) dξ. Resta encontrar a soluc¸a˜o geral yh do problema homogeˆneo associado (D2 − 2aD + a2 + b2)y = 0y(pi) = 2, y′(pi) = −3. (25) Usaremos a Transformada de Laplace para tal finalidade. Note que se a func¸a˜o Y (t) satisfaz o seguinte problema (D2 − 2aD + a2 + b2)Y = 0,Y (0) = 2, Y ′(0) = −3, (26) enta˜o yh(t) = Y (t − pi). Aplicando a Transformada de Laplace em (26)1 e usando as condic¸o˜es iniciais (26)2, L[Y ] = 2s− 3− 4a s2 − 2as+ a2 + b2 = 2(s− a)− 2a− 3 (s− a)2 + b2 = 2(s− a) (s− a)2 + b2 − ( 3 + 2a b )( b (s− a)2 + b2 ) . 42 Da´ı, Y (t) = 2eat cos(bt)− 3 + 2a b eatsen(bt) e´ uma soluc¸a˜o de (26). Portanto, a soluc¸a˜o geral de (25) e´ yh(t) = Y (t− pi) = ea(t−pi) ( a cos(b(t− pi))− 3 + 2a b sen(b(t− pi)) ) . Finalmente, a soluc¸a˜o geral de (24) e´ dada por y(t) = yh(t) + yp(t), ou seja, y(t) = ea(t−pi) ( a cos(b(t− pi))− 3 + 2a b sen(b(t− pi)) ) + 1 b ∫ t pi ea(t−ξ)sen(b(t− ξ))h(ξ) dξ. Exerc´ıcio. Seja L = Dn + an−1Dn−1 + . . . + a1D + a0. Mostre que yp(t) e´ uma soluc¸a˜o do problema Ly = h(t),y(t0) = c0, y′(t0) = c1, . . . , y(n−1)(t0) = cn−1, se, e somente se, yp(t) = Y (t− t0), onde Y (t) satisfaz o problema Ly = h(t+ t0),y(0) = c0, y′(0) = c1, . . . , y(n−1)(0) = cn−1. 43 5 Mais Aplicac¸o˜es em Equac¸o˜es Diferenciais Esta sec¸a˜o tem o objetivo de apresentar mais exemplos de aplicac¸o˜es de Transfor- madas de Laplace em EDO’s lineares que apresentam uma certas peculiaridades, como e´ o caso da ”func¸a˜o” Delta de Dirac agindo no sistema massa-mola, equac¸o˜es integrais de Volterra, equac¸o˜es de vigas, entre outros problemas relevantes. 5.1 O sistema massa-mola Considere uma mola ela´stica fixa em uma extremidade e livre para vibrar na outra extremidade na direc¸a˜o vertical como figura 6 abaixo. Coloquemos um peso de massa m preso a` mola na extremidade livre e suponhamos que o sistema fica em equil´ıbrio com o peso no ponto y = 0 que se encontra y0 unidades abaixo do comprimento original da mola. Pela lei de Hooke, o peso sofre uma forc¸a dirigida para cima de grandeza ky0, onde k e´ a constante da mola e depende do material da mesma. Ha´ tambe´m a forc¸a peso ω = mg, proveniente da gravidade que atua sobre a mola para baixo contrapondo a outra forc¸a. Como em y = 0 o sistema se encontra em equil´ıbrio, temos que estas forc¸as se anulam, isto e´, ky0 = mg em y = 0. Logo, ky0 −mg = 0 no ponto de equil´ıbrio y = 0. A partir do sistema em equil´ıbrio, queremos estudar o movimento da massa, quando esta e´ submetida a uma forc¸a vertical que varia com o tempo, no instante t com um deslocamento y(t) medido positivamente no sentido para baixo. De acordo com a segunda lei de Newton, a forc¸a resultante total F (t) agindo sobre o sistema satisfaz a seguinte equac¸a˜o F = ma = m d2y dt2 . (27) No que segue, dentres todas as poss´ıveis forc¸as atuando no sistema, consideramos as seguintes: Forc¸a peso: ω = mg, devido a gravidade. 44 Forc¸a de Restaurac¸a˜o: Fs(t) = −k(y0+y(t)), devido a capacidade de restaurac¸a˜o da mola ao seu formato original, conforme o material da mesma. Forc¸a de Amortecimento: Fd(t) = −γ d dt y(t), γ > 0 sendo a constante de amortecimento, devido a resisteˆncia da mola e/ou as condic¸o˜es as quais o sistema e´ submetido. Forc¸a externa: h(t), podendo ser uma fonte cont´ınua de energia que atua sobre o sistema, ou ainda, uma forc¸a que atua sobre um determinado per´ıodo de tempo, a qual alimenta o movimento da massa, etc... m y 0 y=0 t y(t) m Figura 6: Sistema massa-mola Substituindo essas forc¸as em (27), obtemos: m d2y dt2 = mg − k(y0 + y)− γ dy dt + h(t). Como no ponto de equil´ıbrio mg = ky0, enta˜o m d2y dt2 + γ dy dt + ky = h(t), (28) onde m, γ, k > 0. Neste caso, podemos dizer que (28) e´ uma equac¸a˜o aproximada para o deslocamento y(t) da mola no isntante t, fornecendo o movimento da massa fixada na mola. Ale´m disso, como o sistema se apresentava inicialmente em equil´ıbrio, enta˜o y(t) satisfaz y(0) = y′(0) = 0, (29) 45 isto e´, a posic¸a˜o e velocidade iniciais sa˜o nulos. No que segue, vamos utilizar a Trans- formada de Laplace para determinar soluc¸o˜es correspondente ao PVI (28)-(29) em dois casos. Exemplo 5.1 (Sistema massa-mola com amortecimento) Determine a soluc¸a˜o para o seguinte PVI: my′′ + γy′ + ky = h(t),y(0) = y′(0) = 0, (30) onde h(t) possui Transformada de Laplace e m, γ, k > 0 com γ2 4 ≤ mk. Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace em (30) e usando as condic¸o˜es inciais, mL[y′′] + γL[y′] + kL[y] = L[h(t)] ⇒ (ms2 + γs+ k)L[y] = L[h(t)] ⇒ L[y] = L[h(t)] ms2 + γs+ k . Assim, y(t) = L−1 [ 1 ms2 + γs+ k ] ∗ h(t) = 2√ 4mk − γ2 L −1 √4mk−γ22m( s+ γ 2m )2 + ( 4mk−γ2 4m2 ) ∗ h(t) = 2√ 4mk − γ2 e −γt/2m sin (√ 4mk − γ2 2m t ) ∗ h(t). Portanto, y(t) = 2√ 4mk − γ2 ∫ t 0 e−γ(t−ξ)/2m sin (√ 4mk − γ2 2m (t− ξ) ) h(ξ) dξ. Nota: Do ponto de vista f´ısico determinado anteriormente, a soluc¸a˜o acima fornece o deslocamento da massa fixada a` mola no caso amortecido e com forc¸a externa. 46 Exemplo 5.2 (Sistema massa-mola sem amortecimento) Determine a soluc¸a˜o para o seguinte PVI: my′′ + ky = h(t),y(0) = y′(0) = 0. (31) onde h(t) possui Transformada de Laplace e m, k > 0. Soluc¸a˜o: Como no exemplo anterior, aplicando a Transformada de Laplace em (31) e usando as condic¸o˜es inciais, obtemos L[y] = L[h(t)] ms2 + k , de onde vem que y(t) = L−1 [ 1 ms2 + k ] ∗ h(t) = 1√ mk L−1 √ k m (s2 + k m ) ∗ h(t) = 1√ mk sin (√ k m t ) ∗ h(t). Logo, y(t) = 1√ mk ∫ t 0 sin (√ k m (t− ξ) ) h(ξ) dξ (32) e´ a soluc¸a˜o do sistema (31) sem amortecimento e com forc¸a externa h. Admitindo que h(t) = A sin(ωt),onde A e ω sa˜o constantes positivas, a soluc¸a˜o (32) fica sob a forma y(t) = A√ mk ∫ t 0 sin (√ k m (t− ξ) ) sin(ωξ) dξ, e para determinar a soluc¸a˜o desejada, basta resolver esta integral. Veremos isto em dois casos: Caso 1: ω 6= √ k m . (Frequeˆncia natural diferente da frequeˆncia aplicada por h) Neste caso, temos y(t) = Aω k −mω2 ( sin(ωt) ω − √ m k sin (√ k m t )) . 47 Caso 2: ω = √ k m . (Frequeˆncia aplicada por h igual a` frequeˆncia natural) Neste caso, a soluc¸a˜o integral se reduz a seguinte soluc¸a˜o y(t) = A 2k sin (√ k m t ) − A 2 √ mk t cos (√ k m t ) . (33) Nota (O caos): Neste segundo caso o sistema sem amortecimento (31) sobre uma ac¸a˜o externa da forma h(t) = A sin( √ k/mt) e o movimento da massa fixada a` mola dada pela soluc¸a˜o (33) oscila cada vez mais conforme t → +∞. Do ponto de vista f´ısico, isto nos diz que a massa oscila oscila com maior amplitude conforme o tempo t aumenta. A figura a seguir nos da´ a ideia dessa oscilac¸a˜o em func¸a˜o do tempo. t y t( ) Figura 7: Oscilac¸a˜o de y(t) 5.2 Func¸o˜es Impulso: O Delta de Dirac Ao sistema massa-mola introduzido anteriormente, aplicaremos uma forc¸a externa h(t) atuando (na direc¸a˜o vertical) apenas por um determinado per´ıodo de tempo e com grande intensidade. Em tais casos, a Transformadade de Laplace se torna uma ferramenta eficaz na resoluc¸a˜o dos problemas, enquanto os me´todos tradicionais na˜o se aplicariam. Para a, τ > 0 com τ < a consideramos a seguinte func¸a˜o 48 hτ (t) = 0 se 0 ≤ t < a− τ, 1 2τ se a− τ ≤ t < a+ τ, 0 se a+ τ ≤ t. A ideia do gra´fico de hτ e´ dado a seguir. a+t 1 2t a-t a h( )t t Figura 8: Gra´fico de hτ (t) Note que para τ > 0 suficientemente pequeno, a func¸a˜o hτ (t) age em um curto per´ıodo de tempo com grande intensidade, o que representa um impulso. Ale´m disso, note que∫ ∞ 0 hτ (t) dt = ∫ a+τ a−τ 1 2τ dt = 1. Mediante a essas relac¸o˜es, a func¸a˜o hτ (t) e´ chamada de Impulso unita´rio. No que segue, sera´ interessante estudar equac¸o˜es diferenciais quando tomarmos o limite em hτ (t) quando τ → 0, mesmo que o valor de tal limite na˜o represente uma func¸a˜o real propriamente dita. Considere agora, a ”func¸a˜o” δ(t− a) definida por δ(t− a) = lim τ→0 hτ (t), e note que δ(t− a) e´ caracterizada pelas seguintes propriedades: i) δ(t) = 0 se t 6= a,+∞ se t = a. 49 ii) ∫ ∞ 0 δ(t− a) dt = 1. A expressa˜o δ(t− a) na˜o representa, de fato, uma func¸a˜o real definida a valores reais. Poderiamos dizer que a mesma representa uma Distribuic¸a˜o, cuja definic¸a˜o mais precisa e propriedades na˜o sa˜o objetivos deste texto. Contudo, a ”func¸a˜o” δ(t − a) pode ser estudada de EDO’s usando a Transformada de Laplace, como veremos abaixo, sendo conhecida como Func¸a˜o Delta de Dirac. Note ainda, que esta func¸a˜o representa um impulso unita´rio no instante t = a. O pro´ximo passo e´ introduzir a Transformada de Laplace para a expressa˜o δ(t− a), a qual definimos pela expressa˜o: L[δ(t− a)] := lim τ→0 L[hτ (t)]. (34) O pro´ximo resultado mostra que o limite em (34) e´ convergente e, por este motivo, a transformada L[δ(t− a)] esta´ bem definida. Teorema 5.1 Para todo a > 0 temos L[δ(t− a)] = e−as, s > 0. Ale´m disso, definindo L[δ(t)] := lim a→0+ L[δ(t− a)], enta˜o L[δ(t)] = 1. Prova: Note que hτ (t) = 1 2τ {ua−τ (t)− ua+τ (t)} . Assim, L[hτ (t)] = 1 2τ {L[ua−τ (t)]− L[ua+τ (t)]} = 1 2τ { e−(a−τ)s s − e −(a+τ)s s } = e−as s { eτs − e−τs 2τ } = e−as s { sinh(τs) τ } . 50 Por L’Hoˆpital, segue que lim τ→0 L[hτ (t)] = e −as s lim τ→0 { sinh(τs) τ } = e−as s lim τ→0 { s cosh(τs) 1 } = e−as. Exemplo 5.3 (Sistema massa-mola sem amortecimento) Determine a soluc¸a˜o para o seguinte PVI: my′′ + ky = δ(t− a),y(0) = y′(0) = 0. (35) onde a, m, k > 0. Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace em (35) e usando as condic¸o˜es inciais, obtemos L[y] = e −as ms2 + k . Assim, y(t) = L−1 [ e−as ms2 + k ] = ua(t)g(t− a), onde g(t) = L−1 [ 1 ms2+k ] = 1√ mk sin (√ k m t ) . Portanto, y(t) = 1√ mk ua(t) sin (√ k m (t− a) ) = 0 se t ≤ a,1√ mk sin (√ k m (t− a) ) se t > a. Exemplo 5.4 Determine a soluc¸a˜o para o seguinte PVI: my′′ + ky = Asen(ωt)− 2δ(t− 10),y(0) = y′(0) = 0, (36) onde Aω, m, k > 0 com ω 6= √ k m . 51 Soluc¸a˜o: De acordo com o exposto anteriormente, o PVI (36) corresponde ao movimento do sistema massa-mola sem amortecimento o qual e´ sujeito a uma forc¸a senoidal h(t) = Asen(ωt) no instante t = 0 e que no instante t = 10 sofre um golpe seco (impulso) para cima (sentido contra´rio do movimento positivo) fornecendo instantaneamente 2 unidades de quantidade de movimento. Feita a observac¸a˜o f´ısica, partimos (obrigatoriamente) para a soluc¸a˜o mediante a Transformada de Laplace. De fato, note que (ms2 + k)L[y] = Aω s2 + ω2 − 2e−10s. Logo, L[y] = Aω (s2 + ω2)(ms2 + k) − 2e −10s ms2 + k , de onde vem que y = L−1 [ Aω (s2 + ω2)(ms2 + k) ] − 2L−1 [ e−10s ms2 + k ] . Agora note que y1(t) := L−1 [ Aω (s2 + ω2)(ms2 + k) ] = Aω k −mω2 ( sin(ωt) ω − √ m k sin (√ k m t )) e y2(t) := 2L−1 [ e−10s ms2 + k ] = 2√ mk u10(t) sin (√ k m (t− 10) ) = 0 se t ≤ 10,2√ mk sin (√ k m (t− 10) ) se t > 10. Portanto, y(t) = y1(t)− y2(t). Com intuito de generalizar a discussa˜o apresentada acima, consideremos o seguinte exemplo. Exemplo 5.5 (Um PVI de ordem n) Determine a soluc¸a˜o para o seguinte PVI: Ly = δ(t− a),y(0) = y′(0) = . . . = y(n−1)(0) = 0. (37) onde L = Dn + an−1Dn−1 + . . .+ a1D + a0. 52 Soluc¸a˜o: Aplicando a Transformada de Laplace, obtemos p(s)L[y] = e−as, (38) onde p(s) = sn + an−1sn−1 + . . .+ a1s+ a0. Da´ı, y(t) = L−1 [ e−as p(s) ] = ua(t)g(t− a) = 0 se t ≤ a,g(t− a) se t > a, onde g(t) = L−1 [ 1 p(s) ] . 5.3 Equac¸a˜o Integro-Diferencial de Volterra Veremos por meio de um exemplo que a Transformada de Laplace e´, tambe´m, um bom instrumento para solucionar Equac¸o˜es Diferenciais cuja func¸a˜o desconhecida aparece sob o sinal de integrac¸a˜o. Vejamos: Exemplo 5.6 Determine a soluc¸a˜o para o seguinte PVI: y ′ + ∫ t 0 y(ξ) dξ = δ(t− pi/2), y(0) = 0. (39) Soluc¸a˜o: Em primeiro lugar, note que ∫ t 0 y(ξ) dξ = (1∗y)(t) e podemos reescrever a EDO (39) como y′ + 1 ∗ y = δ(t− pi/2). Aplicando a Transformada de Laplace, L[y′] + L[1 ∗ y] = L[δ(t− pi/2)] ⇒ sL[y]− y(0+) + L[1]L[y] = L[δ(t− pi/2)] ⇒ ( s+ 1 s ) L[y] = e−pis/2 ⇒ L[y] = e−pis/2 s s2 + 1 . 53 Logo, y(t) = L−1 [ e−pis/2 s s2 + 1 ] = upi/2(t)g(t− pi/2), onde g(t) = L−1 [ s s2+1 ] = cos(t). Portanto, y(t) = upi/2(t) cos(t− pi/2) = upi/2(t) sin(t). 5.4 Exerc´ıcios de Fixac¸a˜o Usando a Transformada de Laplace, encontre a soluc¸a˜o dos seguintes PVI’s: 1. y′′ + y = δ(t− 2pi), y(0) = 0, y′(0) = 1. 2. y′′ + y = δ(t− 2pi) + δ(t− 4pi), y(0) = 1, y′(0) = 0. 3. y′′ + 2y′ + y = δ(t− 1), y(0) = y′(0) = 0. 4. y′′ + 4y′ + 13y = δ(t− pi) + δ(t− 3pi), y(0) = 1, y′(0) = 0. 5. y′ + (δ(t) ∗ y) = upi(t) cos(t), y(0) = 1. 6. y′ + (et ∗ y) = et/2, y(0) = 0. 7. y′′ + (4t ∗ y) = δ(t− pi), y(0) = y′(0) = 0. 54 Tabela 1: Algumas Transformadas de Laplace Func¸a˜o Transformada Valor de s f(t) L[f(t)] = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt s ∈ R (integral convergente) 1 1/s s > 0 a a/s s > 0 eat 1/(s− a) s > a sin(at) a/(s2 + a2)s > 0 cos(at) s/(s2 + a2) s > 0 sinh(at) a/(s2 − a2) s > |a| cosh(at) s/(s2 − a2) s > |a| tn, n ∈ N n!/sn+1 s > 0 1/ √ t √ pi/s s > 0 eat sin(bt) b/[(s− a)2 + b2] s > a eat cos(bt) (s− a)/[(s− a)2 + b2] s > a eattn n!/(s− a)n+1 s > a ua(t), a ≥ 0 e−as/s s > 0 ua(t)f(t− a), a ≥ 0 e−asL[f(t)] eatf(t) ϕ(s− a), onde ϕ(s) = L[f(t)] tnf(t), n ∈ N (−1)nϕ(n)(s), onde ϕ(s) = L[f(t)] f(t) p-perio´dica ∫ p 0 e−stf(t) dt/(1− e−ps) (f ∗ g)(t) = ∫ t 0 f(t− ξ)g(ξ) dξ L[f(t)]L[g(t)] δ(t− a) (Delta de Dirac) e−as s > 0, a ≥ 0 δ(t) 1 s > 0 f (n)(t) snL[f(t)]− sn−1f(0+)− · · · − f (n−1)(0+)∫ t a f(x) dx, a ≥ 0 ( L[f(t)]− ∫ a 0 f(x) dx ) /s 55 6 Frac¸o˜es Parciais: Uma breve revisa˜o A utilizac¸a˜o de frac¸o˜es parciais para resolver determinadas integrais de func¸o˜es racio- nais e´ bastante u´til no ca´lculo diferencial e integral. Neste contexto, sua utilidade deve ser observada no ca´lculo de transformadas inversas, uma vez que o quociente de polinoˆmios surge com frequeˆncia na resoluc¸a˜o de EDO’s por Transformada de Laplace. O me´todo consiste em simplificar func¸o˜es racionais da seguinte forma f(x) = P (x) Q(x) , onde P (x) e Q(x) sa˜o polinoˆmios, em soma de frac¸o˜es mais simples, as quais sa˜o denomi- nadas frac¸o˜es parciais. Vale a pena lembrar que se o grau de P (x) e´ inferior ao grau de Q(x), enta˜o pela teoria geral da a´lgebra obtemos: P (x) Q(x) = ∑ Fi (soma finita), onde cada Fi assume uma das formas A (ax+ b)m ou Cx+D (ax2 + bx+ c)n , com m e n inteiros na˜o negativos e, tambe´m, sendo irredut´ıvel o termo ax2 + bx + c, ou seja, a expressa˜o quadra´tica na˜o tem ra´ızes reais (b2−4ac < 0). A soma das Fi e´ chamada decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais de P (x)/Q(x) e cada Fi e´ uma frac¸a˜o parcial. Os seguintes casos ocorre com frequeˆncia: Caso 1: Os fatores de Q(x) sa˜o todos lineares e nenhum e´ repetido, isto e´, Q(x) = (a1x+ b1)(a2x+ b2) · · · (anx+ bn) onde na˜o existem fatores ideˆnticos. Nesse caso, escreve-se P (x) Q(x) := A1 a1x+ b1 + A2 a2x+ b2 + · · ·+ An anx+ bn onde A1, A2, . . . An sa˜o constantes a serem determinadas. 56 Exemplo 6.1 Simplifique a expressa˜o 4x2 + 13x− 9 x3 + 2x2 − 3x, usando frac¸o˜s parciais. Soluc¸a˜o: Note inicialmente que 4x2 + 13x− 9 x3 + 2x2 − 3x = 4x2 + 13x− 9 x(x+ 3)(x− 1) . Neste caso, fazemos 4x2 + 13x− 9 x(x+ 3)(x− 1) := A x + B x+ 3 + C x− 1 . Desenvolvendo esta u´ltima expressa˜o e agrupando as poteˆncias semelhantes de x, enta˜o 4x2 + 13x− 9 := (A+B + C)x2 + (2A−B + 3C)x− 3A, de onde segue, pela igualdade de polinoˆmios, o seguinte sistema linear A + B + C = 4 2A − B + 3C = 13 −3A = −9, cuja soluc¸a˜o e´ A = 3, B = −1 e C = 2. Portanto, 4x2 + 13x− 9 x(x+ 3)(x− 1) = 3 x + −1 x+ 3 + 2 x− 1 . Caso 2: Os fatores de Q(x) sa˜o todos lineares e alguns deles sa˜o repetidos, por exemplo, Q(x) = (a1x+ b1) p1(a2x+ b2) p2 · · · (anx+ bn)pn , onde pj ≥ 1, j = 1, . . . , n. Supondo que o termo (aix + bi) seja um fator que se repete p vezes, enta˜o a esse fator havera´ de se impor a soma de p frac¸o˜es parciais da forma: A1 (aix+ bi)p + A2 (aix+ bi)p−1 + · · ·+ A(p−1) (aix+ bi)2 + Ap (aix+ bi) , onde A1, A2, ..., Ap sa˜o constantes a serem determinadas correspondentes a este fator. O pro´ximo exemplo ilustra este caso. Exemplo 6.2 Simplifique a expressa˜o x3 − 1 x2(x− 2)3 , usando frac¸o˜s parciais. 57 Soluc¸a˜o: De acordo com o exposto, devemos impor que x3 − 1 x2(x− 2)3 := A x2 + B x + C (x− 2)3 + D (x− 2)2 + E (x− 2) , de onde obtemos x3 − 1 := A(x− 2)3 +Bx(x− 2)3 + Cx2 +Dx2(x− 2) + Ex2(x− 2)2, ou ainda, x3 − 1 := (B + E)x4 + (A− 6B +D − 4E)x3 +(−6A+ 12B + C − 2D + 4E)x2 + (12A− 8B)x− 8A. Resolvendo o sistema linear proveniente, obtemos: A = 1 8 , B = 3 16 , C = 7 4 , D = 5 4 , E = − 3 16 . Logo, x3 − 1 x2(x− 2)3 = 1/8 x2 + 3/16 x + 7/4 (x− 2)3 + 5/4 (x− 2)2 − 3/16 (x− 2) . Caso 3: Os fatores de Q(x) sa˜o lineares e quadra´ticos, sendo que nenhum dos fatores quadra´ticos e´ redut´ıvel e repetido, ou seja, Q(x) = (a1x 2 + b1x+ c1) · · · (anx2 + bnx+ cn) m∏ j=1 (cjx+ dj) pj , onde pj ≥ 1, j = 1, . . . , n. Com respeito ao termos lineares, temos os casos abordados acima. Com relac¸a˜o a cada fator quadra´tico irredut´ıvel escrevemos uma frac¸a˜o parcial da forma Aix+Bi aix2 + bix+ ci , i = 1, . . . , n. O pro´ximo exemplo ajuda a entender melhor este caso. Exemplo 6.3 Simplifique a expressa˜o x2 − 2x− 3 (x2 + 2x+ 2)(x− 1) , usando frac¸o˜s parciais. 58 Soluc¸a˜o: Inicialmente consideramos x2 − 2x− 3 (x2 + 2x+ 2)(x− 1) := Ax+B x2 + 2x+ 2 + C x− 1 . Assim, x2 − 2x− 3 := (Ax+B)(x− 1) + C(x2 + 2x+ 2) = (A+ C)x2 + (−A+B + 2C)x−B + 2C. Isto implica que A = 9 5 , B = 7 5 , e C = −4 5 . Portanto, x2 − 2x− 3 (x2 + 2x+ 2)(x− 1) = 1 5 ( 9x+ 7 x2 + 2x+ 2 − 4 x− 1 ) . Caso 4: Os fatores de Q(x) sa˜o lineares e quadra´ticos irredut´ıveis e alguns dos fatores quadra´ticos sa˜o repetidos, isto e´, Q(x) = (a1x 2 + b1x+ c1) q1 · · · (anx2 + bnx+ cn)qn m∏ j=1 (cjx+ dj) pj , onde qi, pj ≥ 1, para i = 1, . . . ,m e j = 1, . . . , n. Supondo que o termo (aix2 + bix + ci) seja um fator que se repete q vezes, enta˜o a esse fator havera´ de se impor a soma de q frac¸o˜es parciais da forma: A1x+B1 (aix2 + bix+ ci)q + A2x+B2 (aix2 + bix+ ci)q−1 + · · ·+ Aqx+Bq aix2 + bix+ ci . Exemplo 6.4 Determine a decomposic¸a˜o de P (x) (x2 − 2x+ 2)3 em frac¸o˜s parciais. Soluc¸a˜o: De acordo com o exposto acima, devemos impor que P (x) (x2 − 2x+ 2)3 := Ax+B (x2 − 2x+ 2)3 + Cx+D (x2 − 2x+ 2)2 + Ex+ F x2 − 2x+ 2 . Exemplo 6.5 Determine a decomposic¸a˜o de P (x) (x2 − 2x+ 2)2(x− 1)2 em frac¸o˜s parciais. 59 Soluc¸a˜o: Neste caso, temos P (x) (x2 − 2x+ 2)3 := Ax+B (x2 − 2x+ 2)2 + Cx+D (x2 − 2x+ 2) + E (x− 1)2 + F (x− 1) . 60 Refereˆncias [1] W. Boyce & R. C. DiPrima, Elementary Differential Equations and Boundary Value Problems, Ninth Edition, John Wiley & Sons, Inc., New York, 2009. [2] E. A. Coddington & N. Levinson, Theory of Ordinary Differential Equations, McGraw- Hill Inc., New York, 1955. [3] M. R. Cullen & D. G. Zill, Differential Equations with Boundary-Value Problems, Brooks/Cole, Cengage Learning, Boston, 2005. [4] D. G. de Figueiredo & A. F. Neves, Equac¸o˜es Diferenciais Aplicadas, 2a edic¸a˜o, Ins- tituto Nacional de Matema´tica Pura e Aplicada - IMPA, Rio Janeiro, 2002. [5] D. L. Kreider, R. G. Kuller, & D. R. Ostberg, Elementary Differential Equations, Addison-Wesley Publishing Company, Reading, Mass., 1968. [6] D. L. Kreider, R. G. Kuller, D. R. Ostberg & F. W. 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