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Representantes existencialistas

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REPRESENTANTES DO EXISTENCIALISMO 
 
Eis, brevemente, os sete princípios básicos dos existencialistas como Störig (1974, vol. 2, p. 
293) os resumiu: 
 
(1) Por existência os existencialistas entendem a existência do ser humano. O ser humano é o 
centro, portanto, essa filosofia é “humanística”. 
(2) “Existência é sempre existência individual”. Nesse sentido a filosofia existencialista é subjetiva. 
(3) O ser humano não pode ser medido em categorias materiais. Ele é sua própria medida. Não 
possui, como por exemplo os objetos, características definidas, ele é que se faz. Aqui se torna 
evidente o princípio da auto-responsabilidade e da possibilidade da própria pessoa dar forma à 
sua existência. 
(4) Quanto ao método, os existencialistas são fenomenólogos. Diferentemente de Husserl, 
entretanto, eles não estão tão preocupados em encontrar “substâncias” pessoais e é a existência 
concreta que está em primeiro plano em suas observações. Conceitos como o estar consciente, 
o aqui-e-agora, a ênfase no “como” ao invés do “por que”, têm uma indiscutível importância. 
(5) “A filosofia existencialista é dinâmica”. A existência é compreendida não como ser imutável e 
sim como ser no tempo. 
(6) A existência humana é sempre um ser (estar)-no-mundo e é sempre um ser (estar)-com-os-
outros. Nesse sentido, a psicologia existencialista não é individualista. Essa afirmação não 
representa de modo algum contradição ao segundo fundamento, pois os existencialistas tomam 
a existência humana como unidade com dois pólos: “existência humana como existência 
individual” e “existência humana como ser-(estar)-no-mundo-com-os-outros. 
(7) O pensamento da psicologia existencialista reveste-se de um cunho muito pessoal e determinado 
pela vivência. O que é também característica da psicologia humanística. 
Sartre e Camus chamam constantemente a atenção sobre a auto-responsabilidade do ser 
humano. O ser humano é seu próprio Deus, seu próprio criador. Encontra-se condenado à liberdade. 
Depende dele próprio fazer algo dessa liberdade. Em especial a ênfase de Camus sobre as 
possibilidades do ser humano levar uma vida positiva cunhou a visão otimista dos psicólogos 
humanistas (vide Bühler/ Allen, 1974). 
O existencialismo é, em nossa opinião, um importante movimento contrário às filosofias que 
supervalorizavam a sujeição dos seres humanos a instâncias sobre as quais não poderiam exercer 
influência. Assim como do idealismo se desenvolveu sua antítese, o materialismo, encontrando no 
marxismo uma forma diferenciada, na qual idealismo e materialismo, segundo o duplo sentido de 
Hegel, estão eliminados, vemos o existencialismo como um projeto contrário. Por isso compartilha 
dos pontos fracos que acompanham tais tipos de projetos: 
• Seu mérito é o de ter aguçado a visão do ser humano para suas possibilidades de 
escolha e para a importância de sua existência individual concreta. 
• Sua falha consiste justamente na supervalorização dessas possibilidades de escolha e 
na inadequada reflexão das condições sociais como as oferecidas pelo marxismo. 
 
Para melhor compreensão da abordagem existencial passaremos a dar uma visão geral a 
respeito dos seus representantes de maior expressão. 
 
1- SOREN KIERKEGAARD (1813-1855) 
 
Toda obra de Kierkegaard é pura expressão de sua própria vida. A condição absoluta de sua 
filosofia, e até a única razão de seu viver, estava em relação estreita entre existir como pessoa e a 
consciência de seu existir. Na verdade foi o primeiro a se preocupar em compreender a existência. 
Defendia a idéia de que existe uma verdade subjetiva: “uma verdade que seja para mim 
encontrar uma idéia pela qual eu possa viver e morrer”. Esta concepção era contrária a sua religião 
(luterana). Tornou-se solitário por não se adaptar as idéias religiosas impostas, assim como pela 
angústia do pecado e da sensualidade que o invadiam na época. 
A filosofia se resumia na tomada de consciência das exigências absolutas feitas a qualquer 
pessoa que quisesse viver uma existência autêntica. 
Preocupou-se em construir um filosofar sobre a existência, opondo-se ao sistema racional. 
Para ele seria mais correto dizer sinto logo existo, portanto oposto ao racionalismo de Descartes. A 
verdade é a própria existência, basta compreender-se existindo ao invés de observar a experiência 
de fora. Não existe, portanto verdade absoluta. 
A escolha constitui uma das noções mais importantes de sua filosofia, sendo vista como 
“núcleo da existência humana”. A escolha é necessária, é livre; porém para existir o indivíduo é 
obrigado a fazer opções. 
Existir implica em angústia e desespero. A angústia é a fôrma que forma a consciência e o 
desespero é o termo a que ela conduz. 
O paradoxo e o absurdo, assim como o desespero e a angústia, o risco e o drama do 
indivíduo, a subjetividade em oposição a incerteza absoluta do objetivo são o arcabouço da filosofia 
de Kierkegaard. Usa a própria existência para o estudo do ser humano. 
 
2- MARTIN HEIDEGGER (1889-1976) 
 
É um filósofo existencial sistemático e inovador. Foi discípulo de Husserl e o primeiro a 
utilizar o método fenomenológico como elemento importante da sua análise existencial. É o ponto 
de ligação entre o existencialismo de Kierkegaard e a fenomenologia de Husserl. Ele criou o 
moderno existencialismo alemão. 
Sua preocupação foi a de elaborar uma análise da existência, ou seja, esclarecer o verdadeiro 
sentido do ser. Para tanto, parte da análise do ser concreto e único para chegar a teoria do ser em 
geral. Preocupa-se em discutir o ser através dos fenômenos tais como aparecem na natureza. 
Investiga o problema do ser, o próprio ser do sujeito a que chamou Dasein (ser aí ou ente). 
Chegou à conclusão de que para que a investigação ontológica possa ocorrer há uma fase que 
antecede, é a fase da análise do meu Dasein particular e concreto. 
Dasein quer dizer “ser aí”, que expressa o imediatismo, o inevitável, característica da 
condição existencial. O “aí” é a abertura para o mundo, iluminada e compreensiva. A característica 
básica do Dasein é a abertura para perceber e responder a tudo que está na sua presença. 
O estar no mundo é a determinação fundamental do Dasein. Somos lançados no mundo 
(facticidade), pois não podemos pensar em ser sem relacioná-lo ao seu mundo a sua realidade 
concreta. 
Existindo no mundo, mantém relação com os outros Dasein, o que o torna ser com, ou seja, 
ser em relação. Estar no mundo é viver no mundo em comum. 
O Dasein adquire sua essência através da temporalidade, pois somente existindo é que ele é. 
O tempo é a dimensão essencial do ser-aí. A essência do ser reside na verdade de sua própria 
existência. Preciso escolher a cada momento entre uma existência autêntica e inautêntica. 
O sentimento de abandono existe desde que o Dasein é lançado no mundo, e reaparece na 
luta que o homem trava em toda sua existência sobre a forma de angústia e medo. 
Outro conceito fundamental na análise de Heidegger é o conceito de morte. O Dasein é um 
ser para a morte. Essa é uma possibilidade para a qual o ser se dirige, mas apenas nela o ser se 
totaliza. Para ele a angústia é a angústia diante da morte que se repete a cada situação. 
Em linhas gerais essa é a filosofia de Heidegger. 
 
3- JEAN PAUL SARTRE (1905-1980) 
 
O existencialismo sartreano é proveniente de três formas de pensamento: 
• De Husserl extraiu o método fenomenológico. 
• De Heidegger o questionamento sobre o ser, precisamos analisar existencialmente a pessoa. 
• Materialismo dialético de Marx. Tal influência está na idéia da responsabilidade pela 
humanidade 
Sua afirmação “a existência precede essência”, implica que o ser existe antes de ser 
definido. Esse ser é ohomem que primeiro existe, descobre-se, surge no mundo e depois define-se. 
Sua essência surge como resultado de seus atos, daquilo que faz de si mesmo. 
O homem é antes de mais nada um ser de projeto, que vive subjetivamente. Quando o 
homem nasce ele é nada. Não existem idéias inatas a orientar a sua vida. As idéias são extraídas de 
suas experiências. 
Só o homem existe, pois ele é livre, a pedra é. A cada momento o homem tem que escolher 
o que será no momento seguinte. Ele nada mais é do que o seu projeto, só existe a partir do 
momento que o realiza através dos seus atos. 
Fala da liberdade como sendo o único fundamento do homem. Ela é capacidade do 
indivíduo decidir a sua vida, escolhendo-a, ele se responsabiliza por ela. 
O homem se angustia ante a liberdade de escolha e se dá conta da sua responsabilidade por 
seu destino. O homem está condenado a ser livre. Condenado ,porque tem que escolher, e livre, 
porque é responsável pelo o que fizer e esta é uma característica do ser humano. 
 
4- MERLEAU-PONTY (1908-1961) 
 
Manifestou com vigor as qualidades de um autêntico filósofo e ao mesmo tempo é o mais 
profundo e original discípulo de Husserl. Usou categorias do existencialismo sem fugir do método 
fenomenológico. 
Defendeu a tese de que todo projeto é sempre um projeto inacabado, porque deve recusar 
qualquer forma de cristalização num sistema de doutrina acabado e fechado. A sua leitura nos leva 
ao próprio processo de reaprendermos a ver o mundo. Para ele “filosofar é aprender que há coisas 
para se ver e para se dizer”. 
Em Merleau-Ponty, o acento maior é pela relação e não mais no pólo sujeito ou objeto. Para 
ele não existe a rigor sujeito ou objeto, mas a relação sujeito/objeto, objeto/sujeito. 
Sua obra foi interrompida inesperadamente por sua morte. 
 
5- MARTIN BUBER (1878-1965) 
 
Nasceu em Viena em 08 de fevereiro de 1878. 
Foi criado pelos avós, após o divórcio de seus pais. A convivência com seu avô Salomão 
Buber, marcou a sua mentalidade. 
A fim de aprofundar seu conhecimento acerca da cultura e do povo judáico, voltou-se para o 
estudo de textos e tradições do hassidismo (corrente mística judaica). Durante 5 anos estudou o 
hassidismo, o qual foi o alicerce para que descobrisse e reconhecesse a idéia de homem total. 
Buber lutou, pensou e escreveu para o indivíduo disposto a sair do seu egoísmo e engajar-se 
no diálogo. 
O pensamento de Buber norteia-se pela situação relacional total do homem, em termos de 
um engajamento da totalidade da sua existência. 
Buber como filósofo do diálogo ocupa-se exclusivamente com o que considera problemas 
reais e não com problemas ditos filosóficos. Os verdadeiros problemas filosóficos, só podem surgir 
quando o homem começa a refletir sobre problemas reais, sobre questões que comprometem a 
totalidade da pessoa e não apenas o intelecto. 
Para ele a tarefa do indivíduo consciente é alcançar a auto-realização autêntica mediante 
decisões firmes e responsáveis. 
Os filósofos que sabem vislumbrar problemas reais, vêem o todo onde todos vêem a ruptura. 
O pensamento de Buber contribui para a compreensão da questão: o que é o homem? Essa 
contribuição se dá com a descoberta do Tu, a consciência se dá na relação com o Tu. 
O elemento característico do pensamento de Buber é a exigência da disponibilidade mútua 
que existe só no diálogo. 
O relacionamento do homem implica na sua dupla atitude, a maneira básica de como se 
coloca diante da vida que são: 
• Eu-Tu: atitude de engajamento, implica em reciprocidade e unicidade. 
• Eu-Isso: atitude destacada, objetiva, implica em manipulação, unilateralidade, e coisificação. 
São modos possíveis de existência e refletem dois pólos da mesma humanidade. Ambas são 
essenciais ao homem. 
O mundo das coisas se coloca dentro do contexto espaço temporal. O mundo do Tu não é 
cronológico. É um tempo preenchido pela duração do próprio encontro. Considera a palavra 
relacionamento como chave e ela só é aplicável ao Eu-Tu, pois essa atitude é o relacionamento 
propriamente dito. 
Buber foi um estudioso multifacetado, tendo suas áreas de interesse sido a filosofia, história 
da arte, antropologia, sociologia e o judaísmo. Sua mente, portanto, esvaia-se por todos os terrenos 
das preocupações humanas, quase sempre sustentando-se perante a situação concreta e palpável da 
existencialidade. 
Buber faleceu em Jerusalém em 13 de junho de 1965. 
 
REFERÊNCIAS 
 
Erthal, T. C. (1989). Terapia vivencial: uma abordagem existencial em psicoterapia. Petropólis: 
Vozes. 
Gills, T. R. (1989). História do existencialismo e da fenomenologia. São Paulo: EPU.

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