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PUERPÉRIO Enfª. Ms. Carolina Guizardi Polido PUERPÉRIO Período do ciclo gravídico puerperal em que as modificações locais e sistêmicas provocadas pela gravidez e pelo parto no organismo da mulher retornam à situação do estado pré-gravídico. Inicia logo após a dequitação (no Período de Greenberg). Neste período, é normal que a mulher se sinta insegura frente às modificações que estão ocorrendo, e que sinta uma variedade de sentimentos contraditórios. CLASSIFICAÇÃO Não há consenso sobre sua duração. Para alguns, vai até os seis meses, para outros, até o fim da lactação. O maior consenso é sobre o retorno do estado da mulher à sua condição pré-gravídica. Divisão Clássica Puerpério Imediato: vai até o 10º dia Puerpério Tardio: vai do 11º ao 45º dia Puerpério Remoto: além do 46º dia ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS A puérpera apresenta um estado de exaustão e relaxamento, que se manifesta por sonolência, devido principalmente, ao longo período sem adequada hidratação, alimentação e esforço. Necessita de repouso e após despertar, alimentação adequada, sem restrições. Poderá deambular e cuidar de seu filho. Ligeira elevação da temperatura axilar nas primeiras 24 horas sem que corresponda a quadro infeccioso. Padrão respiratório é restabelecido. ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS O sistema cardiovascular, experimenta nas primeiras horas um aumento do volume circulante. A volta das vísceras abdominais à sua situação original, promovendo um melhor esvaziamento gástrico. Nas mulheres submetidas a cesárea deve-se observar íleo paralítico pela manipulação da cavidade abdominal . Pode haver queixa ou desconforto à micção por trauma uretral. Em geral há um aumento do volume urinário pela redistribuição dos líquidos corporais. ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS Leucócitos, plaquetas e fibrinogênio estão aumentadas nas primeiras semanas. Deve-se atentar para complicações tromboembólicas no caso de imobilizações prolongadas. Pele seca e queda de cabelos podem ocorrer. As estrias tendem a se tornar mais claras e a diminuírem de tamanho. O útero atinge a cicatriz umbilical após o parto, regridindo em torno de 1 cm ao dia ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS A recuperação do endométrio inicia em torno do 25° dia pós- parto. Logo após o parto o colo fica edemaciado e pode apresentar lacerações. Em torno do 10° dia estará fechado. A vagina apresenta-se edemaciada, congesta e atrófica, iniciando sua recuperação após o 25° dia. A vulva e o assoalho pélvico sofrem também modificações. Deve-se atentar para as alterações de humor, com labilidade emocional que podem sinalizar apatia ou psicose puerperal. Mulheres que tiveram óbito fetal ou malformados devem ter uma atenção especial. ÚTERO O fundo uterino, após a dequitação tangencia a cicatriz umbilical. O colo apresenta-se flácido, violáceo e, às vezes, lacerado. Em 6 semanas o colo apresenta características pré-gravídicas. A Altura uterina se reduz cerca de 1cm/dia até o 3° dia e depois 0,5cm até 12º dia. Esse fenômeno pode ser mais lento (hipoinvolução) ou mais rápido (hiperinvolução). Causas da hipoinvolução: gemelaridade, polidrâmnio, cesárea, não-lactantes, infecção (endometrite). Causas da hiperinvolução: grandes multíparas, lactantes, retorno precoce à atividade física. LÓQUIA É o produto de exudatos, transudatos, descamação e sangue que procedem da ferida placentária (principalmente), do colo e da vagina. Vermelho (lóquia rubra): persistem por 2-4 dias (sangue, restos de decídua, células epiteliais, muco). Escuros ou serosanguíneos (lóquia fusca): 3º a 4º dia até 10º dia. Resultam de alterações da hemoglobina, redução do nº de hemácias e aumento dos leucócitos. Amarelos (lóquia flava): após o 10º dia, progressivamente tornam-se serosos ou brancos (transparentes). VULVA E VAGINA O intróito vulvovaginal apresenta-se entreaberto em decorrência do afrouxamento transitório. Progressivamente declina a hiperemia local, passando a apresentar coloração róseo-pálida com aspecto liso e hipotrófico da mucosa vaginal. OVÁRIOS Nas lactantes (total) observa-se certo “repouso”, não se identificando, nas primeiras semanas, sinais de crescimento folicular. Nas não-lactantes o ciclo ovariano se restabelece em cerca de 6 semanas. PUERPÉRIO: MODIFICAÇÕES GERAIS Sistema Cardiovascular Volume Sanguíneo: após a expulsão fetal e a retração uterina, ocorre a invasão sanguínea na circulação de retorno, sobrecarregando a circulação pulmonar (risco de edema agudo de pulmão – cardiopatas e hipertensas). Normaliza-se em, aproximadamente, 6 semanas pp. Débito Cardíaco: ↑ de 10 a 20%. Normaliza-se nas primeiras semanas pp. Pressão Arterial Sistêmica declina-se no pós-parto imediato para se normalizar nos primeiros 5 dias. PUERPÉRIO: MODIFICAÇÕES GERAIS Sistema Digestivo: a descompressão abdominal corrige e normaliza a topografia gástrica, favorecendo esvaziamento gástrico mais rápido Sistema Urinário: a dilatação uretérica (alterações hormonais e compressão do corpo uterino) mantêm-se nos primeiros dias, contribuindo para a reagudização de infecção urinária anterior. Pode ocorrer bexigoma. Sistema Neuropsíquico: insegurança, choro fácil, crises nervosas, psicose puerperal / depressão. Sistema Tegumentar: a pele torna-se menos acetinada e se intensificam ou reaparecem as rugas faciais. As estrias passam de tonalidade violácea para amarelada / esbranquiçada. Queda de cabelos, sudorese, unhas quebradiças. ASSISTÊNCIA AO PUERPÉRIO Estimular a deambulação precoce. Estimular o banho de chuveiro. Não há necessidade de antissépticos na região perineal. Em casos de cesáreas pode-se molhar o curativo e renovar no primeiro dia devendo permanecer descoberto a partir do 2° dia. É recomendado o uso de sutiã. Atenção à involução uterina e à ferida cirúrgica. Inspecionar região perineal com atenção aos lóquios. Edema, equimoses e hematomas implica na necessidade de aplicação de frio no local. Pesquisar sinais de trombose venosa profunda. Nas puérperas que estão bem e não se detectam anormalidades, a alta pode ser consentida após as primeiras 24 horas e nas cesáreas, com 48 horas. Não se deve dar alta sem checar a tipagem sangüinea da mãe, sorologia para sífilis e HIV. A revisão puerperal deve ser marcada em torno do 7 ao 10° dia de puerpério em unidade de saúde mais próxima da residência da mulher. Nova avaliação deverá ser realizada entre 30° e o 42° dia pós-parto. Nestes momentos de pós-parto é fundamental o incentivo, o apoio, o acolhimento nas questões referentes ao aleitamento materno. Contracepção. PUERPÉRIO PATOLÓGICO INFECÇÃO PUERPERAL É a que se localiza nos órgãos genitais e que ocorre após o parto ou abortamento recentes. Entre outros sintomas, manifesta-se por: hipertermia de 38ºC ou mais; hipertermia que se manifesta 24 horas após o parto; hipertermia que ocorre em pelo menos 2 dias, dentre os primeiros 10 dias do pós-parto. Outras infecções devem ser excluídas como as infecções urinárias, pulmonar e mamária. É a segunda maior causa de mortes maternas. INFECÇÃO PUERPERAL – CAUSAS PREDISPONENTES tocurgia abdominal; rotura prematura das membranas; manipulações repetidas no canal de parto; tocurgia vaginal traumática; parto prolongado; hemorragia ante, intra e pós parto; placentação baixa; condições sócio-econômicas; atividade sexual; retenção de restos ovulares; circlagem (insuficiência do orifício da orifício interno) monitorizaçãointerna; idade materna; gemelaridade. INFECÇÃO PUERPERAL – FORMAS CLÍNICAS Localizadas vulvoperineal; vaginite; cervicite; endometrite; parede abdominal. Propagadas miofascites endomiometrite salpingite anexite parametrite pelvioperitonite tromboflebite pélvica. Generalizadas peritonite generalizada; septicopioemia; choque séptico. COMPLICAÇÕES URINÁRIAS Durante o trabalho de parto podem ocorrer traumas (compressões e distensões exageradas) das/nas vias urinárias, cujas conseqüências se manifestarão no puerpério imediato ou mediato. COMPLICAÇÕES URINÁRIAS Hematúria - provocado por trauma da uretra ou da mucosa vesical e pelo cateterismo vesical. Incapacidade vesical - superdistenção vesical é freqüente. Causas administração exagerada de líquido pela via venosa dificuldades obstrutivas (edema e traumas) lesões da inervação vesical (durante intervenções extrativas fetais via vaginal) COMPLICAÇÕES URINÁRIAS Manifestações dor localizada no baixo ventre retenção urinária com grande distensão vesical (através da palpação abdominal tumor tenso na região hipogástrica) Tratamento cateterismo vesical (alívio imediato) antibioticoterapia Urina I COMPLICAÇÕES URINÁRIAS Cistite Sintomas aumento da freqüência urinária; disúria; hipertermia. Tratamento grande ingestão de líquidos esvaziamento de bexiga (cateterismo vesical) antibioticoterapia COMPLICAÇÕES URINÁRIAS Pielonefrite (infecção do trato urinário superior) Sintomas hipertermia calafrios náuseas vômitos dor lombar Tratamento antibioticoterapia DEPRESSÃO PÓS-PARTO A depressão pós-parto, também conhecida como postpartum blues, pode se manifestar com intensidade variável . É um distúrbio emocional comum, podendo ser considerada uma reação esperada no período pós-parto imediato e que geralmente ocorre na primeira semana depois do nascimento da criança. Entre 50% a 80% de todas as mulheres apresentarão reações emocionais. Obs: primigestas e pacientes com histórias depressivas têm mais predisposição DEPRESSÃO PÓS-PARTO Sintomas: crises de choro, fadiga, humor deprimido, irritabilidade, ansiedade, confusão e lapsos curtos de memória. As reações emocionais não psicóticas se resolvem espontaneamente em até seis meses Na Psicose Puerperal, os sintomas aparecem nos três primeiros meses pós-parto e são mais intensos e duradouros, com episódios psicóticos, necessitando acompanhamento psicológico, internação hospitalar e separação mãe/filho. A Síndrome Depressiva Crônica é um episódio depressivo e não psicótico, com humor disfórico, distúrbio do sono, modificação do apetite, fadiga, culpa excessiva e pensamentos suicidas. O tratamento deve ser psicológico e medicamentoso, pois os sintomas podem persistir por até um ano. PSICOSE PUERPERAL São alterações do comportamento, de natureza mental, podem ocorrer nas diversas fases do ciclo grávido- puerperal e podem assumir características depressivas, confuso-delirantes e esquizofrênicas. Mais comum é ocorrerem manifestações depressivas que vão desde manifestação melancólica temporária (crises de choro, de pessimismo e de insegurança) até depressão incapacitante (raro). PSICOSE PUERPERAL As formas confuso-delirantes são precedidas das manifestações apáticas e depressivas e se caracterizam por estado confusional, seguido de delírio alucinatório (auditivo e visual). As formas equizofrênicas são raras. As manifestações depressivas e confuso-delirantes são temporárias e das crises de esquizofrênia está relacionada com essa psicopatia fora do estado puerperal. ASSISTÊNCIA Apoio afetivo da equipe e dos familiares psicoterapia uso de antidepressivos e nas manifestações esquizofrênicas - psiquiátrica, pois em geral se trata de psicopatia anterior à instalação da gestação. Observação e acompanhamento constante, pois a puérpera pode causar dano a si mesma ou ao filho; devem ser tomadas as providência necessárias para garantirem a segurança de ambos. HEMORRAGIAS PUERPERAIS São as perdas sangüíneas após as primeiras 24 horas do parto ou decorridos alguns dias que, por vezes, se tornam graves. São as perdas de mais de 500mL. Podem ocorrer por lacerações do trajeto do parto, rotura uterina, hipotonia ou atonia uterina, retenção ou acretismo placentário, restos ovulares, inversão uterina ou distúrbios de coagulação. HEMORRAGIAS PUERPERAIS Causas atonia uterina; retenção de restos placentários; pólipos placentários; sobredistensão uterina e subinvolução hematomas puerperais; miomas. HEMORRAGIAS PUERPERAIS Atonia Uterina Ausência da contração uterina, ou, se presente, intensidade insuficiente para promover as ligaduras vivas de Pinard e globo de segurança de Pinard . Tratamento: Infusão de ocitócitos Hidratação Massagem uterina Hemotransfusão HEMORRAGIAS PUERPERAIS Restos placentários Os restos da placenta e de membranas que podem permanecer após a dequitação, dificultando as contrações uterinas e a involução normal, tornando impossível a regeneração endometrial, daí as contínuas perdas sangüíneas, ora escassas, ora abundantes. Com o tempo podem se infectar complicando o quadro clínico. Tratamento: CTG HEMORRAGIAS PUERPERAIS Pólipos placentários (Restos Ovulares) Os tecidos placentários retidos sofrem gradual necrose e podem se transformar em pólipos, que interferem na involução uterina, mantendo o sangramento. Tratamento: CTG SOBREDISTENÇÃO UTERINA Decorrente de polidramnia e de prenhez múltiplas, torna mais demorada a involução normal do útero, causando perda sangüínea acentuada que persistem até vários dias após o parto. Tratamento: emprego de ocitócitos SUBINVOLUÇÃO UTERINA O útero conserva volume superior ao esperado e os lóquios se mantêm sangüíneos, com o canal cervical entreaberto. Tratamento: ocitócitos HEMATOMA PUERPERAL Pode ser vulvar, vaginal e subperitonial, decorrente de lesão vascular que surge durante o trabalho de parto normal ou operatório. Ocasionalmente, o hematoma pode- se infectar. Tratamento: depende do grau de hemorragia e de sua localização, os pequenos hematomas reabsorvem-se e os maiores devem ser esvaziados e o vaso sangrante ligado. MIOMAS Miomas Comportam-se como corpo estranho, dificultando o mecanismo hemostático do útero. Tratamento: curagem e CTG SÍNDROME DE SHEEHAN Conseqüência de intensa hemorragia intraparto ou pós-parto. Ocorre: o Falência de pituitária anterior o Amenorréia o Falência da lactação o Atrofia/hipotrofia mamária o Perda de pelos pubianos e axilares o Hipotiroidismo o Insuficiência adreno-cortical ACIDENTES TROMBOEMBÓLICOS São freqüentes após partos normais, principalmente os vaginais traumáticos. Estão associados ou não à infecções. São mais comuns os acidentes pulmonares e cerebrais. Embolia pulmonar - Sinais e sintomas: Hipertemia mal estar inquietação dispnéia súbita dor torácica taquipnéia taquicardia cianose ACIDENTES TROMBOEMBÓLICOS Embolia cerebral Pode ser confundida com eclâmpsia tardia, pois ocorre crise convulsiva sem as outras manifestações da eclâmpsia. Tratamento garantir e corrigir o estado geral combate à infecção heparinizar paciente COMPLICAÇÕES VASCULARES Hemorróidas Nos partos transvaginais, o esforço expulsivo, associado à compressão da rede venosa pelviana, promove a dilatação do plexo hemorradiárioe a exteriorização perianal de algumas veias (hemorróidas), mais freqüentes entre as que apresentavam a patologia antes do parto atual. Tratamento Supositórios (anestésicos e antinflamatório) banhos de assento aplicação local de gelo FLEBITES SUPERFICIAIS Localizadas nos MMII, manifestam-se, principalmente em multigestas portadoras de varizes preexistentes. Sinais e sintomas dor local edema rubor e calor Tratamento: aplicação de pomadas e uso de antinflamatório. PHLEGMASIA ALBA DOLENS É o aumento rápido dos diâmetros da coxa e da perna. O processo de trombose localiza-se no sistema venoso da região ileofemural, provocando obstrução da circulação de retorno. Sinais e Sintomas dor na panturrilha após forte flexão do pé o membro apresenta-se frio e pálido Tratamento repouso no leito, mantendo o membro afetado mais elevado. uso de analgésicos, antinflamatórios e heparina. LESÕES OSTEOARTICULARES Disjunção sinfisárea decorrentes de: a) partos com desproporção cefalopélvica; b) aplicações de fórcipe; c) levantamento abrupto e violento do tronco fetal, por ocasião do despreendimento biacromial de fetos macrossômicos. d) extrações pélvicas, quando a cabeça derradeira choca-se com violência sobre a articulação pubiana. e)iatrogênica - em casos de sinfisiotomias associadas à abdução forçada das coxas da parturiente. O afastamento das bordas articulares do pube pode resultar de simples hiperdistensão e de rotura da cartilagem e/ou ligamentos. LESÕES OSTEOARTICULARES Sintomas dor na articulação pubiana, podendo estender na sacroílaca com irradiaçã homolateral para a coxa. urinários (retenção, incontinência). inclinação da bacia para o lado oposto à articulação comprometida. Durante o parto, pode-se reconhecer se houve a disjunção da síntese, quando a dificuldade da expulsão cefálica, de súbito, se torna fácil e acompanhado de ruído ou estalido crepitante. LESÕES OSTEOARTICULARES Luxações Sacrocóccica No movimento da retropulsão do coccix pode ser excessivo e provocar a luxação da articulação sacrocóccica, com conseqüente dor local, que pode perdurar por muito tempo. Tratamento calor local infiltração articular de hidrocortisona em casos mais graves cirurgia
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