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COESÃO SEMÂNTICA E SINTÁTICA

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REGINA FIANDRA
 
 Doutora pela Universidade de São Paulo com a tese “Processo de Persuasão do Discurso”.
Disciplina Português Instrumental Jurídico-Unip
2018 
 
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COESÃO TEXTUAL
I-ARTICULAÇÃO SEMÂNTICA
Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico a que damos o nome de textualidade. O encadeamento semântico que produz a textualidade se chama coesão.
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1- Definição de Coesão : trata de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em A. 
Exemplo: A -Pegue três maçãs. 
 B - Coloque-as sobre
 a mesa.
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A maior parte das pessoas constrói razoavelmente a textualidade na língua oral, mas quanto se trata de escrever um texto, as únicas palavras para coesão são mesmo e referido, produzindo sequências do tipo:
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 (1) A- Pegue três maçãs. 
 B- Coloque as mesmas sobre a mesa.
(2) A- João Paulo II esteve, ontem, em
 Varsóvia. 
 B - Na referida cidade, o mesmo disse 
 que a Igreja continua a favor do 
 celibato.
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 É muito fácil evitar este desagradável procedimento, fazendo uso dos amplos recursos de que a língua dispõe para construir a textualidade. Trata-se, como veremos a seguir, dos mecanismos de coesão.
 
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2- Mecanismos de coesão 
 para construção da 
 textualidade.
 
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Coesão por referência
As palavras responsáveis por esse tipo de coesão são: pronomes pessoais (ele, ela, nós, o, a, lhe etc.); pronomes possessivos (meu, teu, seu etc.), demonstrativos (este, esse, aquele etc.), os advérbios de lugar e também os artigos definidos. 
 
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COESÃO POR REFERÊNCIA - EXEMPLO
(3)Pedi uma cerveja. A cerveja, entretanto, não veio gelada.
(4)*Pedi uma cerveja. Uma cerveja, entretanto, não veio gelada. 
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COESÃO POR REFERÊNCIA - EXEMPLO
A sequência (3) é bem formada. Tem textualidade, coesão. O mesmo não acontece com (4), onde a pura repetição do termo da sentença anterior, sem o uso do artigo definido, faz com que haja uma ruptura no plano semântico. 
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COESÃO POR ELIPSE
Uma outra alternativa para fazer a coesão da sequência (2) seria
(2b) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Lá,  disse que a Igreja continua a favor do celibato.
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COESÃO POR ELIPSE
Em (2b), João Paulo II se acha retomado na segunda sentença por ausência, ou seja o leitor, ao ler a segunda frase, se depara com o verbo disse e, para interpretar seu sujeito, tem que voltar à sentença anterior e descobrir que quem disse foi João Paulo II. Este processo de coesão tem o nome de elipse.
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COESÃO POR PALAVRAS SINÔNIMAS
Uma outra possibilidade seria utilizar palavras ou expressões sinônimas dos termos que deverão ser retomados em sentenças subsequentes. 
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COESÃO POR PALAVRAS SINÔNIMAS
No caso em questão, podemos usar a palavra papa, para retomar João Paulo II, e a expressão capital da Polônia, para retomar Varsóvia, o que produziria uma sequência como:
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COESÃO POR PALAVRAS SINÔNIMAS
(2c) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Na capital da Polônia, o papa disse que a Igreja continua a favor do celibato.
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As palavras mais utilizadas neste processo de coesão por sinônimos são os chamados sinônimos superordenados ou hiperônimos, ou seja, palavras que correspondem ao gênero do termo a ser retomado, em coesão. Como exemplos de sinônimos superordenados podemos ter séries como: 	
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 mesa móvel
faca talher
termômetro instrumento
computador equipamento
enceradeira eletrodoméstico
		
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Utilizando tais sinônimos, para obter a coesão textual, podemos trocar seqüências de gosto duvidoso como:
(5) Acabamos de receber trinta termômetros clínicos. Os mesmos deverão ser encaminhados ao departamento de pediatria.
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por sequências como:
(5a) Acabamos de receber trinta termômetros clínicos. Esses instrumentos deverão ser encaminhados ao departamento de pediatria.
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Coesão lexical
Esse tipo de coesão permite também àquele que escreve manifestar sua atitude apreciativa ou depreciativa, em relação aos termos que fazem parte do objeto da coesão. 
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Numa apreciação positiva, poderíamos dar a (2) uma versão como a seguinte: 
(2d) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Lá, Sua Santidade disse que a Igreja continua a favor do celibato.
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Numa apreciação negativa, poderíamos ter uma versão como 
(2e) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Lá, o mais recente aliado do capitalismo ocidental, disse que a Igreja continua a favor do celibato.
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Uma outra maneira de expressar a coesão lexical é a utilização da metonímia (parte pelo todo). Examinemos, a esse propósito, a seguinte sequência:
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(6) O presidente Reagan deverá reunir-se ainda nesta semana com o premier Gorbachev. Fontes bem informadas acreditam, entretanto, que não será ainda desta vez que Moscou cederá às pressões da Casa Branca.
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Nesse texto, estamos retomando o presidente Reagan, que representa o governo americano, por uma parte desse governo, o palácio do governo, a Casa Branca. Ao mesmo tempo, retomamos o governo russo, representado no texto pelo termo o premier Gorbachev, também por uma parte do governo russo, a capital do país: Moscou.
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Coesão por substituição
Este processo consiste em abreviar sentenças inteiras, utilizando predicados prontos como “fazer isso” em sequências como:
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(7) O presidente pretende anunciar as novas medidas que mudarão o imposto de renda, mas não deverá fazer isso nesta semana.
Em vez de uma seqüência como “mas não deverá anunciá-las nesta semana”, utilizamos, em (7), o processo por substituição.
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Resumindo, pois, o que dissemos sobre os processos de coesão, podemos dizer que são CINCO os principais mecanismos: referência, elipse, sinonímia. coesão lexical e substituição. A utilização desses mecanismos é que constrói aquilo que chamamos de textualidade.
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BIBLIOGRAFIA
[1] ABREU, A. S.	Curso de Redação. 5ª ed., São Paulo: Ática, 1996. pp. 12-19.
[2] CITELLI, A.	O texto argumentativo . São Paulo: Scipione, 1994. pp.31-44. 
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COESÃO TEXTUAL
II- ARTICULAÇÃO SINTÁTICA
Trataremos, neste conteúdo, da articulação sintática, dos mecanismos que ligam sintaticamente, as sentenças umas às outras. 
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3-USO DOS OPERADORES ARGUMENTATIVOS
DEFINIÇÃO DO TERMO
O termo operadores argumentativos designa certos elementos da gramática de uma língua que têm por função indicar (mostrar) a força argumentativa dos enunciados, a direção (sentido) para o qual apontam. Esse operadores ligam sintaticamente as sentenças umas às outras.
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A) Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias:
	mas, porém, todavia, contudo, entretanto,
 no entanto	
	embora, muito embora, ainda que, 
 conquanto, posto que, apesar de, a despeito
 de, não obstante	
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(1) A equipe da casa não jogou mal, mas o adversário foi melhor e mereceu ganhar o jogo.
 
R= A equipe da casa merecia ~R= A equipe da casa
 ganhar não merecia ganhar
 MAS
p: a equipe da casa não q: o adversário foi melhor
 jogou mal
	
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(2) Embora o candidato se tivesse esforçado para causar boa impressão, sua timidez e insegurança fizeram com que não fosse selecionado.
 
R= O candidato poderia ~R= O candidato não
 ser selecionado poderia ser sele-
 cionado
 
p: O candidato q: o candidato
 esforçou-se demonstrou
 para causar timidez e insegurança
 boa impressão
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O esquema de funcionamento do MAS e seus similares é o seguinte: o locutor introduz em seu discurso um argumento possível para uma conclusão
R; logo em seguida, opõe-lhe um argumento decisivo para a conclusão contrária não-R (~R). 
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Ilustra-se esse esquema argumentativo recorrendo à metáfora da balança: o locutor coloca no prato A um argumento (ou conjunto de argumentos) com o qual não se engaja, isto é, que pode ser atribuído ao interlocutor, a terceiros, a um determinado grupo social ou ao saber comum de determinada cultura;
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a seguir, coloca no prato B um argumento (ou conjunto de argumentos) contrário, ao qual adere, fazendo a balança inclinar-se nessa direção (ou seja, entrechocam-se no discurso "vozes" que falam de perspectivas, de pontos de vista diferentes - é o fenômeno da polifonia, que voltaremos a falar nas próximas lições).
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 A MAS B
 <
arg. p arg. q
argumento argumento
possível decisivo
para a conclusão a favor de 
R não-R (~R)
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 A MAS B
 <
arg. p arg. q
< = “ser um argumento menos forte”
 “ser um argumento a favor de”
 “ser contrário em relação a”
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 A MAS B
 <
arg. p arg. q
argumento argumento
possível decisivo
para a conclusão a favor de 
R não-R (~R)
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Do ponto de vista semântico, os operadores do grupo do MAS e os do grupo do EMBORA têm funcionamento semelhante, eles opõem argumentos enunciados de perspectivas diferentes, que orientam, portanto, para conclusões contrárias. 
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A diferença entre os dois grupos diz respeito à estratégia argumentativa utilizada pelo locutor: no caso do MAS, ele emprega a estratégia do suspense, isto é, faz com que venha à mente do interlocutor a conclusão R, para depois introduzir argumentos (ou conjunto de argumentos) que irá levar à conclusão ~R. 
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Ao empregar o embora, o locutor utiliza a estratégia de antecipação, ou seja, anuncia, de antemão, que o argumento introduzido pelo embora vai ser anulado, não vale. No entanto, esta concessiva não impede a realização do que vem expresso na oração principal.
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B) Operadores que assinalam o argumento mais forte de uma escala (com sentido positivo) orientada no sentido de determinada conclusão:
 
até (mesmo, até mesmo, inclusive).
-
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(3) A apresentação foi coroada de sucesso: estiveram presentes personalidades do mundo artístico, pessoas influentes nos meios políticos e até (mesmo, até mesmo, inclusive) o Presidente da República.
 
 
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 R= A apresentação foi coroada de sucesso
 		 
(arg.+forte)
 até mesmo p’’: esteve presente o presidente
 da República
	 p' - estiveram presentes pessoas 
 influentes nos meios políticos
	 p - estiveram presentes personali-
 dades do mundo artístico	
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C) Operadores que assinalam o argumento mais forte de uma escala (com sentido negativo) orientada no sentido de determinada conclusão: nem mesmo.
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(4) A apresentação não teve sucesso: o Presidente não compareceu, nem pessoas influentes nos meios políticos e nem mesmo personalidades do mundo artístico.
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R= A apresentação não teve sucesso
p''- não estiveram presentes personalidades
 do mundo artístico
p' - não estiveram presentes pessoas
 influentes nos meios políticos
p - não esteve presente o presidente da
 República
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Há também operadores que introduzem um dado argumento, deixando subentendida a existência de uma escala com outros argumentos mais fortes. São expressões como ao menos , pelo menos, no mínimo.
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5) O rapaz era dotado de grandes ambições. Pensava em ser no mínimo (pelo menos, ao menos) prefeito da cidade onde nascera.
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R= O rapaz era dotado de grandes ambições
 Pensava em ?
 ser :		 ?
 no mínimo	 prefeito da 
 cidade onde 
 nascera
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D) Operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão, isto é, argumentos que fazem parte de uma mesma classe argumentativa): e, também, ainda, nem(=e não), não só ... mas também, tanto...como, além de ..., além disso, a par de ..., etc. 
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(6) João é o melhor candidato: tanto tem boa formação em Economia, como experiência no cargo; além disso, não se envolve em negociatas.
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R= João é o melhor candidato
 tem boa formação experiência não se envolve
 em Economia, no cargo em negociatas.
 Arg. 1 Arg.2 Arg.3
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Existe mais um operador, que também soma um argumento adicional a um conjunto de argumentos já enunciados, mas o faz de maneira "sub-reptícia”.
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Ele é apresentado como se fosse desnecessário, como se tratasse de simples "lambuja", quando, na verdade, é por meio dele que se introduz um argumento decisivo, com o qual se dá o "golpe final", resumindo ou coroando todos os demais argumentos.
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Trata-se do aliás. Veja-se como poderia ficar o texto acima, com o acréscimo de mais um argumento através do aliás:
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(7) João é o melhor candidato.
 Aliás, é o único candidato que tem bons antecedentes.
 e não se envolve em negociatas.
 (, )tem experiência no cargo 
 Além de ter boa formação em Economia
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E) Operadores que introduzem uma conclusão a argumentos apresentados em enunciados anteriores: portanto, logo, por conseguinte, pois, em decorrência, consequentemente, etc.
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(8) O custo de vida continua subindo vertiginosamente; as condições de saúde do povo brasileiro são péssimas e a educação vai de mal a pior. Portanto (logo, por conseguinte ) não se pode dizer que o Brasil esteja prestes a se integrar no primeiro mundo.
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F) Articuladores que introduzem ideia de causa: 
conjunções e locuções conjuntivas: porque, pois, como, por isso que, já visto que, uma vez que;
preposições e locuções prepositivas:por, por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em consequência de, por motivo de, por razões de.
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A ideia de causa é expressa pela combinação de duas proposições, uma das quais encerra a causa que acarreta a conseqüência expressa na outra. Tal relação pode ser veiculada de diferentes maneiras:
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(9)
O riacho transbordou porque choveu demais.
 consequência causa
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BIBLIOGRAFIA
[1] ABREU, A. S. Curso de Redação. 5ª ed., São
 Paulo: Ática, 1996. p. 12-19.
[2] CITELLI, A.	O texto argumentativo . São 
 Paulo: Scipione, 1994. p.31-44.

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