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A regulação da avaria grossa

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O instituto da avaria grossa faz-se presente nos estudos marítimos desde os primórdios da navegação, sendo a sua aplicação prática, nos dias de hoje, ainda alvo de dúvidas e discussões. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo promover o debate acerca do instituto da avaria grossa por meio de sua análise histórica, prática, conceitual e legislativa, visando, ainda, a aclarar e nortear os profissionais maritimistas, a título de conhecimento e no cotidiano forense. Dessa forma, considerando a revitalização das normas aplicáveis, demonstra-se de grande relevância a realização e uma análise crítica sobre este instituto.
Este instituto tem como objetivo a reparação dos indivíduos prejudicados por conta dos fatos, tidos como incidente, durante o transporte marítimo, visando a não onerar exclusivamente apenas um dos componentes deste transporte. A sistemática, assim, envolve uma solidariedade entre aqueles que foram beneficiados por todo o esforço de salvaguarda do navio e das cargas, objetivando, ainda, a equidade entre todos, no sentido de que os sacrifícios individuais aproveitados por todos se tornem justos por meio do rateio do prejuízo dos sacrificados, a fim de indenizá-los de suas perdas em prol do bem comum.
A regulação da avaria grossa encontra-se disciplinada nos artigos 707 a 711 do CPC/15, e remete o intérprete aos artigos 761 a 771 do Código Comercial (Lei556/1850), especialmente o artigo 764, que contém exata definição do que pode ser considerada avaria grossa em uma embarcação. 
Mais precisamente, pelo art. 764 do Código Comercial, tem-se como avaria grossa: 
“Art. 764 - São avarias grossas:
1 - Tudo o que se dá ao inimigo, corsário ou pirata por composição ou a título de resgate do navio e fazendas, conjunta ou separadamente
2 - As coisas alijadas para salvação comum.
3 - Os cabos, mastros, velas e outros quaisquer aparelhos deliberadamente cortados, ou partidos por força de vela para salvação do navio e carga.
4 - As âncoras, amarras e quaisquer outras coisas abandonadas para salvamento ou benefício comum.
5 - Os danos causados pelo alijamento às fazendas restantes a bordo.
6 - Os danos feitos deliberantemente ao navio para facilitar a evacuação d'água e os danos acontecidos por esta ocasião à carga.
7 - O tratamento, curativo, sustento e indenizações da gente da tripulação ferida ou mutilada defendendo o navio.
8 - A indenização ou resgate da gente da tripulação mandada ao mar ou à terra em serviço do navio e da carga, e nessa ocasião aprisionada ou retida.
9 - As soldadas e sustento da tripulação durante arribada forçada.
10 - Os direitos de pilotagem, e outros de entrada e saída num porto de arribada forçada.
11 - Os aluguéis de armazéns em que se depositem, em, porto de arribada forçada, as fazendas que não puderem continuar a bordo durante o conserto do navio.
12 - As despesas da reclamação do navio e carga feitas conjuntamente pelo capitão numa só instância, e o sustento e soldadas da gente da tripulação durante a mesma reclamação, uma vez que o navio e carga sejam relaxados e restituídos.
13 - Os gastos de descarga, e salários para aliviar o navio e entrar numa barra ou porto, quando o navio é obrigado a fazê-lo por borrasca, ou perseguição de inimigo, e os danos acontecidos às fazendas pela descarga e recarga do navio em perigo.
14 - Os danos acontecidos ao corpo e quilha do navio, que premeditadamente se faz varar para prevenir perda total, ou presa do inimigo.
15 - As despesas feitas para pôr a nado o navio encalhado, e toda a recompensa por serviços extraordinários feitos para prevenir a sua perda total, ou presa.
16 - As perdas ou danos sobrevindos às fazendas carregadas em barcas ou lanchas, em conseqüência de perigo.
17 - As soldadas e sustento da tripulação, se o navio depois da viagem começada é obrigado a suspendê-la por ordem de potência estrangeira, ou por superveniência de guerra; e isto por todo o tempo que o navio e carga forem impedidos.
18 - O prêmio do empréstimo a risco, tomado para fazer face a despesas que devam entrar na regra de avaria grossa.
19 - O prêmio do seguro das despesas de avaria grossa, e as perdas sofridas na venda da parte da carga no porto de arribada forçada para fazer face às mesmas despesas.
20 - As custas judiciais para regular as avarias, e fazer a repartição das avarias grossas.
21 - As despesas de uma quarentena extraordinária.
E, em geral, os danos causados deliberadamente em caso de perigo ou desastre imprevisto, e sofridos como conseqüência imediata destes eventos, bem como as despesas feitas em iguais circunstâncias, depois de deliberações motivadas (artigo nº. 509), em bem e salvamento comum do navio e mercadorias, desde a sua carga e partida até o seu retorno e descarga.”
Há que se destacar a distinção entre avarias grossas e simples, estas previstas no artigo 766 do Código Comercial. Em verdade, pode-se afirmar que o rol de avarias grossas pode ser considerado relativamente exemplificativo, uma vez que muitos itens previstos no referido dispositivo podem ser ampliados segundo a cognição do juízo. Geralmente, as avarias grossas decorrem de situações extraordinárias que dificultam a travessia da embarcação a seu destino.
Tais situações ocorrem com frequência na prática marítima, e ensejam o pagamento de indenização do afretador da embarcação (aquele que adquire o serviço de frete para a mercadoria que deseja transportar pelo modal de transporte marítimo), ou da eventual seguradora do transporte marítimo.
Nesse sentido, o CPC/15 apresenta procedimento de regulação das avarias grossas de embarcações atracadas ou fundeadas em portos brasileiros, aplicável às hipóteses em que não haja regulador de avaria grossa designado pelas partes contratantes ou disponível no porto de destino da embarcação. O CPC procurou regular, mais precisamente na nomeação de regulador (arbitrador) das avarias, para que as respectivas responsabilidades decorrentes da sua ocorrência sejam devidamente repartidas entre quem de direito.
Assim, diz o art. 707 no sentido de que, diante da inexistência de consenso quanto à nomeação de um regulador de avarias, o juiz de Direito da comarca do primeiro porto onde o navio houver chegado (atracado ou fundeado) designará perito para exercer a função de avaliador da avara grossa, caso as partes não tenham previsto contratualmente a designação de perito, ou discordem quanto a eventual compromisso arbitral feito no momento da lesão.
O regulador da avaria grossa, perito nomeado pelo Poder Judiciário e considerado auxiliar da Justiça, deverá elaborar o laudo pericial (denominado "regulamento da avaria grossa") e acostá-lo aos autos processuais no prazo de 12 (doze) meses, conforme estabelece art. 710 e seus parágrafos:
“Art. 710.  O regulador apresentará o regulamento da avaria grossa no prazo de até 12 (doze) meses, contado da data da entrega dos documentos nos autos pelas partes, podendo o prazo ser estendido a critério do juiz.
§ 1o Oferecido o regulamento da avaria grossa, dele terão vista as partes pelo prazo comum de 15 (quinze) dias, e, não havendo impugnação, o regulamento será homologado por sentença.
§ 2o Havendo impugnação ao regulamento, o juiz decidirá no prazo de 10 (dez) dias, após a oitiva do regulador.”
 Caso a parte discordar do regulador quanto à declaração de avaria grossa, deverá ela justificar suas razões ao juízo, este que decidirá sobre a questão. Quanto a prestação de caução pelo consignatário para fins de liberação de carga, caso ele recusá-la, o regulador requererá ao magistrado a alienação judicial da carga na forma prescrita nos art. 879 a 903 do CPC. Neste caso , será permitido o levantamento, por alvará, das quantias necessárias ao pagamento das despesas da alienação, estas a serem arcadas pelo consignatário, mantendo-se o saldo remanescente em depósito judicial até o encerramento da regulação, conforme estabelece o §4ª do art. 708. 
A sentença que homologa o regulamento, também condena cada um dos interessados ao pagamento do respectivovalor contribuinte, começando a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação, não estando sujeita ao efeito suspensivo do recurso de apelação (art. 793 do CCom c/c art. 1.012, § 1º do CPC/2015). Neste sentido era expresso o artigo 768 do Código de Processo Civil de 1939.
Quanto a competência para o julgamento da ação de regulação de avaria grossa, deve-se destacar que o comércio marítimo se desenvolve em nível internacional, podendo as partes contratantes estipular em convenção especial, exarada na carta partida ou no conhecimento, que as avarias serão reguladas por normas internacionais (art. 762 do CCom). Neste caso, poderá haver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, afastando a competência internacional concorrente (art. 21, inc. III, e 25 do CPC/2015) do foro da comarca do primeiro porto onde a embarcação tiver chegado (art. 707 do CPC/2015). De qualquer forma, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento de que a cláusula de eleição de foro estrangeiro é válida exceto quando a lide envolver interesses públicos. Nestes casos, a demanda pode ser proposta no Brasil mesmo quando o contrato internacional contiver cláusula de eleição de foro estrangeiro, nas hipóteses de competência internacional concorrente (precedentes: REsp nº 1168547/RJ, 4ª Turma, Min. Luis Felipe Salomão, DJe 07/02/2011; REsp n 1177915/RJ, 3ª Turma, Min. Vasco Della Giustina, DJe 24/08/2010). 
Portanto, verifica-se que o CPC/15 tem contemplado procedimentos especiais típicos do Direito Processual Marítimo, com o fito de proporcionar maior segurança na execução e rescisão dos contratos de transporte marítimo, viabilizando o comércio exterior sem desrespeitar o caráter eminentemente privado da solução de controvérsias existentes no Direito do Comércio Internacional. 
GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Instituições de Direito Processual Civil. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2017.
Portal Jusbrasil. Disponível em <https://divoaugustocavadas.jusbrasil.com.br/
artigos/301967642/da-regulacao-de-avaria-grossa>. Acesso em 28 de maio de 2017.
Portal Jusbrasil. Disponível em <https://raphaelfunchalcarneiro.jusbrasil.com.br/
artigos/320506619/da-acao-de-regulacao-de-avaria-grossa>. Acesso em 28 de maio de 2017.

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