Buscar

A EXPERIÊNCIA NO TRATAMENTO PSICOLÓGICO COM PESSOAS SURDAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A EXPERIÊNCIA NO TRATAMENTO PSICOLÓGICO COM PESSOAS 
SURDAS: UM ESTUDO DE CASO 
 
Adriana Cattalini, Silvia Aparecida Fornazari. 
Centro Universitario Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO /Lins,SP. 
acattalini@bol.com.br, silfornazari@yahoo.com.br 
 
RESUMO 
 
Este trabalho é baseado na experiência do atendimento psicológico com uma 
paciente surda e tem como objetivo mostrar as dificuldades enfrentadas por uma 
profissional da psicologia perante uma situação inusitada, bem como a 
importância de se qualificar para atender a população em geral. O 
desenvolvimento desse trabalho levou a profissional, a se habilitar para o 
atendimento, fazendo um curso de LIBRAS. A possibilidade de comunicação 
proporcionou um contato próximo com a paciente surda, facilitando a reflexão 
sobre o contexto social no qual se insere: suas dificuldades, seus anseios e 
angústias. Os atendimentos também foram realizados com a família, propiciando 
um melhor relacionamento e maior facilidade no entender e compreender a filha, 
visto que as queixas mais freqüentes de familiares de surdos estão na dificuldade 
de comunicação e compreensão da situação vivida pelo surdo. 
 
Palavras chaves: Intervenção clínica. Surdez. Psicologia. Análise do 
Comportamento Aplicada. 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O intuito de realizar esse trabalho surgiu do fato de existirem pacientes 
surdos que necessitam de atendimento psicológico e, na maioria das vezes, os 
psicólogos se encontram totalmente despreparados para realizar esse tipo de 
atendimento. 
 A linguagem da criança, desde seu início, é essencialmente social, ela se 
desenvolve no plano das interações sociais, nas relações interpessoais. No 
decorrer do desenvolvimento da criança, seu discurso social subdivide-se em 
discurso comunicativo e discurso egocêntrico. Este último “emerge quando a 
criança transfere as formas sociais cooperativas de comportamento para a esfera 
das funções psíquicas pessoais internas” (VYGOTSKY, 1979, p. 33). Com o 
tempo, este se transforma em discurso interior, distingüindo-se tanto 
estruturalmente como funcionalmente da fala social. Sempre que nos 
comunicamos com alguém utilizamos dois tipos de linguagem: verbal e não 
verbal. A linguagem verbal compõe-se de palavras e frases. A linguagem não 
verbal é constituída pelos outros elementos envolvidos na comunicação, a saber: 
gestos, tom de voz, postura corporal, etc. Estes dois níveis de comunicação, o 
verbal e o não-verbal, podem se apresentar e atuar concomitantemente nas 
interações entre indivíduos, complementando-se ou contrapondo-se no discurso 
(CORRAZE, 1982; SANTAELLA, 1983). 
 A comunicação se efetua através da transferência de informação, sob duas 
condições principais. A primeira condição é a presença de dois sistemas: um 
emissor e um receptor; a segunda é a transmissão de mensagens (CORRAZE, 
1982). Santaella (1983) afirma que em todos os tempos, passado e presente, os 
 2 
grupos humanos constituídos recorreram e recorrem a modos de expressão 
verbais e não-verbais que contemplam uma enorme variedade de linguagens que 
se constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo. O 
reconhecimento da existência e da importância de um modo não-verbal expresso 
através do corpo e do movimento do ser humano, ao lado do verbal, é de capital 
importância para profissionais que interagem com pessoas no seu dia a dia, 
principalmente para aqueles cuja ação está mais diretamente relacionada ao 
corpo e ao movimento como os psicólogos, médicos e os profissionais de 
Educação Física. 
 Na área de Psicologia, autores e pesquisadores como Briganti (l987), 
Gaiarsa (1986) e Chace (citado por Silva Neto, 1977), discutem a necessidade 
dos profissionais compreenderem a comunicação do corpo em movimento, a fim 
de serem mais eficientes no desenvolvimento de suas atividades. Conhecimentos 
teóricos sobre a comunicação não-verbal, bem como a habilidade de emitir ou 
receber sinais não-verbais, podem estar intimamente relacionados à atuação 
profissional do indivíduo na sociedade. Estas habilidades associadas ao 
conhecimento de assuntos da área de comunicação não-verbal são importantes 
para o desenvolvimento da competência social dos indivíduos, quer na sua 
atuação profissional, quer na sua vida diária. 
 Em geral os deficientes com complicações na comunicação, na sua maioria 
os surdos, desenvolvem uma linguagem especial para se comunicar. 
 No Brasil 14,5% da população brasileira é portadora de, pelo menos, uma 
das seguintes condições: deficiência mental permanente; deficiência física; 
incapaz, com alguma grande dificuldade permanente de enxergar; incapaz, com 
alguma ou grande dificuldade permanente de ouvir; incapaz, com alguma ou 
grande dificuldade permanente de caminhar ou subir escadas (IBGE, 2000). 
 Pode-se imaginar, então, estas necessidades e os impedimentos que geram 
para a comunicação desses seres humanos. 
 Em 2002, o Decreto Lei nº. 10.436, de 24 de abril de 2002 oficializou a 
LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como língua utilizada pelos surdos no Brasil. 
 Segundo Brito (1995), a língua brasileira de sinais (LIBRAS) é a língua de 
sinais utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil onde existem 
comunidades surdas. 
 De acordo com a autora, as línguas de sinais são línguas naturais, como as 
línguas orais. Apareceram espontaneamente da interação entre pessoas. Servem 
para atingir todos os objetivos de forma rápida e eficiente na exposição de 
desejos, necessidades, sentimentos desde a mais tenra idade. A estrutura dessa 
língua permite a expressão de qualquer conceito dependendo da necessidade 
comunicativa e expressiva do ser humano, possibilitando assim a estrutura do 
pensamento e da cognição, realizando a interação social entre indivíduos numa 
sociedade. 
 Mediante as divergências de culturas e linguagens, o profissional deve 
habilitar-se para atender as necessidades que possam lhe ocorrer para atender 
seu paciente. Maluf (1994) aponta que o psicólogo deve ser um cientista do 
comportamento com uma formação teórica e metodológica que lhe permita 
compreender seu objeto de estudo. Não deve ser um profissional limitado a 
técnicas a serem aplicadas. Os cursos devem introduzi-lo na pesquisa e a 
formação deve desenvolver a capacidade de problematizar e buscar soluções. 
Duran (1994) acredita que deve haver a idéia de complementaridade como 
enfoque geral organizador, uma formação multidisciplinar, voltada para a 
 3 
pesquisa, com produção e socialização do conhecimento e para a intervenção, 
uma formação teórica e prática, formação ética e compromisso social. Assim, 
esse trabalho pretende mostrar a importância dessa reformulação e o quanto o 
aluno/estagiário pode fazer para contemplar essa falta enquanto estudante, 
vencendo barreiras e tornando-se um psicólogo capacitado para um atendimento 
diferenciado como, por exemplo, o atendimento com surdos. 
DESENVOLVIMENTO 
Objetivos: 
Objetivo Geral: Relatar as dificuldades e obstáculos encontrados no atendimento 
psicológico de pacientes com parcial ou total surdez e, a partir de tal relato, 
postular sobre a importância da qualificação do profissional. 
Objetivos Específicos: levantar a existência de atendimento clínico psicológico a 
pessoas surdas em Lins e região; mostrar recursos para o atendimento 
psicológico aos surdos; analisar a importância desse tipo de atendimento na 
Psicologia; e, evidenciar a problemática de desenvolvimento de linguagem dos 
sujeitos surdos e sua dificuldade de acesso à cultura majoritária. 
MÉTODO 
Participantes: Uma paciente surda atendida no Serviço-Escola de Psicologia do 
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, após assinatura do Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido pela mãe, tendo em vista que a paciente é 
menor. 
Local: Os atendimentos estão sendo realizados no Serviço-Escola de Psicologiado UNISALESIANO. 
Procedimentos: Os dados desta pesquisa estão sendo obtidos através das 
sessões realizadas uma vez por semana com a paciente e quando necessário 
com a mãe. As sessões são marcadas com antecedências, abordando questões 
sob a queixa inicial exposta pela paciente. Durante os atendimentos são utilizadas 
técnicas de atendimento com surdos, orientadas por professores de LIBRAS (um 
surdo e um intérprete), com a supervisão da professora responsável pelo 
atendimento na clínica e orientadora da pesquisa. 
RESULTADOS 
 A paciente apresentada neste trabalho não é oralista e tem como 
comunicação a língua de sinais, um complicador para o profissional despreparado 
para esse atendimento. No primeiro contato com o surdo fica evidente que, o 
relacionamento do surdo com o profissional fica extremamente comprometido, 
pois, eles não conseguem interagir, “criar um elo”, devido a dificuldade de 
comunicar-se, sendo uma relação difícil tanto para o surdo como para o 
profissional que, na maioria das vezes, não estão preparados para atender esta 
clientela. Essa dificuldade foi encontrada na primeira sessão realizada com a 
 4 
paciente surda desse trabalho e foi o maior obstáculo enfrentado. Esse 
atendimento foi visto como um desafio profissional para a primeira autora. 
 Aflição, angústia e impotência foram alguns dos sentimentos diante da 
paciente na primeira sessão. Porém a vontade de compreendê-la para ajudá-la 
reuniu forças para procurar um meio de comunicação. 
 Nas sessões seguintes foram utilizadas folhas sulfite e lápis, além de figuras 
ilustradas com ambientes, pessoas da família, animais e outros que serviram 
como meio de comunicação e início de aprendizagem da língua de sinais. Porém 
todos esses recursos não eram suficientes para trabalhar a queixa inicial trazida 
pela mãe, onde havia a necessidade de trabalhar com seus comportamentos 
encobertos e públicos, envolvendo seus comportamentos de sentir e pensar. 
Esses comportamentos precisavam ser acessados para que estratégias de 
análise funcional e modificação comportamental pudessem ser levantadas e 
implementadas. 
 Mediante a necessidade exposta, a autora iniciou aulas de LIBRAS com o 
objetivo de criar maior interação com a paciente e lidar com suas questões. As 
aulas possibilitaram maior comunicação e entendimento para ambas as partes. 
 Intercalados ao atendimento da paciente, a mãe foi ouvida e através de seus 
relatos fica evidente a necessidade da admissão por parte da mãe da língua de 
sinais, língua oficial da filha. Além de ser enfatizada essa necessidade, a mãe 
também recebeu orientações em relação a aceitação da surdez na família, visto 
que esses foram obstáculos encontrados na contingência específica presente no 
relacionamento entre mãe e filha. Após a mãe ter iniciado aulas de LIBRAS, 
relatou em uma das sessões que a comunicação com a filha melhorou muito. 
Pode-se assim, concretizar a importância de falar a mesma língua para 
possibilitar uma comunicação recíproca. A cada sessão realizada é redigido um 
relatório, constando como foi realizada a sessão, quais instrumentos foram 
usados e quais dificuldades foram encontradas. Ao final da pesquisa os dados 
serão analisados de acordo com categorias específicas a serem levantadas, e os 
objetivos gerais específicos apontados. 
CONCLUSÃO 
O trabalho está em andamento com previsão de término para novembro 
deste ano. Podemos concluir até o momento que a maior dificuldade no 
atendimento com surdos está na linguagem diferenciada, sendo necessário para 
o profissional adquirir esta habilidade para poder entender seu paciente. Para o 
profissional que pretende trabalhar com deficiência seja ela qual for deve 
ponderar que, ao ver o outro como um deficiente, a postura será a de 
assistencialismo ou a de subjugá-lo. No entanto, ao compreender a diferença do 
outro, é possível que se encontrem outras formas de comunicação, que não 
somente a oral. A comunicação partirá, assim, de uma atitude e não, 
necessariamente, da língua, seja ela o Português ou a Língua Brasileira de 
Sinais. Pode-se concluir ainda, que não há restrições na profissão desde que o 
profissional tenha como objetivo cumprir seu juramento e sentir-se realizado na 
sua profissão. 
 
 
 5 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Constituição (2002). Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – 
Libras e dá outras providências. Lei n° 10.436, 24 de abril de 2002, Brasília , DF. 
 
BRITO. F. L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo 
Brasileiro, 1995. 
 
CORRAZE, J. As comunicações não-verbais. Rio de Janeiro, Zahar, 1982. 
 
DURAN, A. P. Alguns dilemas na formação do psicólogo: buscando sugestões 
para superá-los. In: ACHCAR, R. (coord.) Psicólogo Brasileiro: Práticas 
Emergentes e Desafios para a Formação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. 
 
IBGE. Censo Demográfico 2000 - Resultados do universo. Disponível em: 
http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 11. set.2007. 
 
MALUF, M. R. Formação e atuação do psicólogo na educação: dinâmica de 
transformação. In: ACHCAR, R. (coord.) Psicólogo Brasileiro: Práticas Emergentes 
e Desafios para a Formação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. 
 
SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo, Brasiliense, 1983. 
 
SILVA NETO, N. A dança: uma arte a serviço da terapia. São Paulo, 1977. 102p. 
Dissertação (Mestrado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São 
Paulo. 
 
VYGOTSKY,L.S Pensamento e Linguagem. Lisboa: Antídoto, 1979

Outros materiais