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Terceiro Estado e Federalismo O momento histórico em que a burguesia suplanta a monarquia absolutista para implantar o “terceiro estado”, ou Estado burguês, de acordo com Marx, é ponto de investigação, porém o autor demonstra que o foco é a Revolução Francesa. A monarquia absoluta, surgida com o fim do feudalismo, não pôde deter o avanço da burguesia comercial. Buscando o poder político, a burguesia foi às armas e sob a ideia de Nação propagou a Revolução de 1789, contra as dinastias de direito divino e a aristocracia ociosa e protegida. Esse movimento que culminou na Revolução já vinha sendo baseado nos pensamentos de Montesquieu, Mirabeau, Rousseau e Voltaire, retratando uma mudança na sociedade, antes feudal, e então comercial e industrial. Movimento esse não percebido completamente pela monarquia, aristocracia e sacerdócio, mantidos com recurso estatal. A monarquia ainda buscou estimular a política mercantilista e a iniciativa industrial, intervindo na ordem econômica, tentando um controle sobre as mudanças de uma estrutura e instituições medievais para uma realidade em que o poder da riqueza migrara para a burguesia. Ao ponto em que a burguesia deteve o poder econômico, não mais lhe interessava subjugar-se à autoridade política do príncipe e a antiga ordem jurídica e social da monarquia absoluta, sendo esses um empecilho aos ensejos capitalistas. Era chegada a hora da tomada do poder, da instituição do Estado liberal- democrático, um poder moderado ante o poder absoluto. Sob a liderança militar e ditatorial de Napoleão Bonaparte, o Código Napoleônico propagou as ideias burguesas do capitalismo liberal e as estruturas política, social e jurídica das instituições individualistas. Mesmo após a queda de Napoleão e a tentativa frustrada da retomada de poder pela nobreza, que não mais voltaria a tentar recuperá-lo, era claro que a Revolução Francesa representou a vitória do “terceiro estado”. Nem todos os países europeus, entretanto, viveram essa mesma experiência de tomada de poder da monarquia absoluta como na França. A Alemanha e a Itália não tinham um governo monárquico, eram naquele momento formadas por diferentes reinos, principados e cidades livres, antes de uma unificação nacional. Na Inglaterra, a monarquia absoluta nunca conseguiu firmar-se, tendo a nobreza se oposto ao absolutismo e lentamente migrado para o terceiro estado, tornando-se também parte da burguesia ao enveredar-se no comércio e na indústria. Na Revolução Inglesa implantaram uma nova autoridade política, a monarquia parlamentar, limitada. A implantação do Estado burguês, liberal-democrático, significa a limitação do poder nos termos da Constituição e a garantia das liberdades formais e dos valores jurídicos. Isso serviu de base para a futura implantação e manutenção do federalismo. A Constituição propicia a existência da Federação, garantindo a autonomia constitucional dos Estados-membros e a participação destes na reforma da própria Constituição, além de definir os limites de competência da União e dos Estados. Ela garante também uma instância judiciária suprema, com poderes para resolver conflitos entre a Federação e seus Estados-membros. A Constituição, portanto, preserva cada esfera do federalismo. O federalismo surgiu nos EUA como movimento burguês de controle para que o Estado não se tornasse centralizador de todo o poder, como nas monarquias absolutas. Buscava-se uma sociedade livre, sendo o indivíduo o sujeito da ordem política e o Estado o objeto. O Estado seria o interventor da política econômica, intervencionismo esse necessário ao avanço do capitalismo. No Brasil, o federalismo foi grandemente impulsionado por Rui Barbosa, estudioso da doutrina americana. Propôs a dissolução do poder central e defendeu a Federação afirmando que “os Estados hão de viver na União, não podem subsistir fora dela. A União é o meio, a base, a condição absoluta da existência dos Estados”. O idealismo de Rui Barbosa trazia conceitos de ordem moral e cívica buscados ainda nos dias de hoje. Também aqui, observamos o papel intervencionista do Estado. De acordo com Afonso Arinos, o Estado passou a intervir em todos os setores da vida social, regulando o funcionamento das sociedades comerciais e dos serviços públicos, a organização da família e as relações de trabalho e produção econômica. O autor aponta que o intervencionismo em si não seria um problema, mas o devemos combater o desvirtuamento de prática intervencionista, a politização e o favorecimento ilícito a grupos privilegiados por esse intervencionismo. O regime federativo é corrompido se o Poder Executivo, na figura do Presidente, usurpa atribuições de outros Poderes. É preciso, portanto, combater tais desvios através de uma reforma constitucional, reforçando um novo federalismo e favorecendo o avanço social. Marcelo Lozovey, 2014
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