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Direito Processual Penal santo graal vitaminado

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: XXXXX. 
DIREITO PROCESSUAL PENAL
SUMÁRIO
1.a. Princípios no Processo Penal. Do processo em geral e o processo penal na dimensão dos direitos fundamentais. 2
1.b. Provas no Processo Penal: a prova documental e testemunhal. 4
1.c. Recursos no Processo Penal: Apelação. 6
2.a. Sistemas processuais. 8
2.b. Provas no Processo Penal: Reconhecimentos (pessoas e coisas). Acareação. Prova pericial. 9
2.c. Os reflexos do Pacto de São José da Costa Rica no processo penal brasileiro. 10
3.a. Princípios da Ação Penal 11
3.b. Indícios e Questões Probatórias. 12
3.c. Recursos no Processo Penal: Embargos de Declaração, Embargos Infringentes e de Nulidade e Embargos de Divergência. 13
4.a. Princípios e questões relativas  aos Inquéritos Policiais e Investigações Criminais. 14
4.b. Buscas e Apreensões. Interceptações dos meios de comunicação em geral. 15
4.c. Revisão criminal. 17
5.a. Ação Penal: espécies e requisitos. 18
5.b. O assistente no processo penal brasileiro. 20
5.c. Sigilos: bancário, fiscal e telefônico. 21
6.a. Hipóteses e requisitos para arquivamento de inquéritos e investigações criminais. 22
6.b. Atuação do defensor como forma de tutelar a ampla defesa. 24
6.c. O Ministério Público e o Juiz no processo penal brasileiro. 26
7.a. Efeitos civis da sentença penal condenatória. Reparação do dano. 28
7.b. Funcionários da Justiça. Peritos e Intérpretes. 30
7.c. Cartas: precatória, de ordem e rogatória. 31
8.a. Princípio da proporcionalidade e processo penal. 32
8.b. Prisões. Espécies, requisitos e cabimento. 33
8.c. Habeas Corpus e Mandado de Segurança em matéria penal. 35
9.a. Organização judiciária penal. 36
9.b. Liberdade provisória no CPP e em legislações especiais. 38
9.c. Execução das penas privativas de liberdade. Requisitos. Hipóteses. Cabimento. Atribuição. 39
10.a. Conflito de atribuições entre Membros do Ministério Público. Declínio de atribuição. 41
10.b. Perpetuatio jurisdictionis 42
10.c: Indulto, graça e anistia. 43
11.a. Jurisdição e Competência 45
11.b. Citações, notificações e intimações no CPP e em leis especiais. FALTANDO 46
11.c: Provas ilícitas 47
12.a. Execução penal. Atribuições e competência. Participação do Ministério Público no Conselho Penitenciário. 48
12. b. Sentenças. 49
12.c. Execução da pena de multa. Requisitos. Hipóteses. Cabimento. Atribuição. 50
13.a. Competência da Justiça Federal. 51
13.b.Transação Penal. 54
13c. Execução da pena restritiva de direitos. Hipóteses. Cabimento. Atribuições. 55
14.a. Questões prejudiciais. Exceções. Conflitos. 56
14.b. Recursos: princípios, pressupostos, requisitos e espécies em geral. 58
14.c. Juizados Especiais Criminais. 67
15.a. Medidas assecuratórias ou acautelatórias do CPP e de leis especiais. 69
15.b. Procedimentos relativos aos crimes de competência do Tribunal do Júri 71
15.c. Cooperação Internacional. Relações jurisdicionais com autoridade estrangeira 73
16.a. Proteção especial a vítimas e testemunhas. 74
16.b. Procedimentos Comum (ordinário, sumário e sumaríssimo) e Especiais. 76
16.c. Denúncia. Queixa. Legitimidade. Requisitos. Pressupostos em geral 79
17.a. Restituição de coisas apreendidas. Perdimento de bens. 82
17.b. Lei nº 9.034, de 03.05.1995. 83
17.c. Atos processuais: lugar, forma de realização, prazos e sanções. 85
18.a. Ação Penal originária. Competência, legitimidade e requisitos em geral. 86
18.b. Proteção e benefícios legais a réus ou investigados colaboradores 91
18.c. Recursos no Processo Penal: questões gerais. 93
19.a. Incidentes processuais: falsidade e insanidade mental. 95
19.b. Nulidades no Processo Penal. Princípios. 97
19.c. Procedimento relativo aos crimes de Responsabilidade (Lei n.º 1.079/50 e Decreto-Lei nº 201/67). 99
20.a. Prova no Processo Penal: princípios e disposições gerais. 102
20.b. Suspensão condicional do processo. 104
20.c: Recursos especial, extraordinário e ordinário. 107
21.a. Norma de direito processual penal no tempo. 109
21.b. Interrogatório do réu, confissão e perguntas. Procedimentos. Ordem da instrução processual. 110
21.c: Recurso em sentido estrito. Agravos. Correição parcial. 111
22.a. Incompatibilidades e Impedimentos no Processo Penal 112
22.b. Procedimentos especiais. Ritos. 114
22.c. Procedimento relativo aos crimes de tráfico ilícito e uso indevido de drogas que causam dependência física ou psíquica e de substâncias entorpecentes. 119
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1.a. Princípios no Processo Penal. Do processo em geral e o processo penal na dimensão dos direitos fundamentais.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2012. TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2009; LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 15ª Edição. Ed. Saraiva.
Legislação básica: CRFB, art. 5º, a partir do inc. XXXIX e art. 129, I; Código de Processo Penal.
Leituras complementares sugeridas: MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo, 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 33; ADI 3112 (proibição de proteção deficiente); HC nº 104.410/RS, (descriminalização do crime de porte de arma desmuniciada x Princípio da proibição de proteção insuficiente – pendente de julgamento).
Pacelli adota uma noção de Estado Democrático de Direito orientado pela necessidade de reconhecimento e de afirmação dos direitos fundamentais, não só como meta política, mas como critério de interpretação do Direito, e, de modo especial, do Direito Penal e do Direito Processual Penal. A partir desse marco, defende que a tutela penal deve ser dirigida à proteção dos direitos fundamentais no marco do Direito Penal de Intervenção Mínima, tendo como postulados de interpretação constitucional a máxima efetividade dos direitos fundamentais e a proibição de excesso (desdobramentos do princípio da proporcionalidade sistematizados pelo direito alemão). Para o autor, os postulados são abstrações deduzidas do sistema dos direitos fundamentais que configuram a base do nosso ordenamento, como métodos de interpretação e aplicação das normas jurídicas; já os princípios, tais como as regras, são normas jurídicas implícita ou explicitamente positivadas nos textos constitucionais ou legais, cuja correta interpretação só pode ser alcançada se em consonância com os postulados (2012, p. 31-33). Como o CPP é um Decreto-lei (3.689/41) que tem nítida inspiração fascista, imperioso proceder à sua ressignificação à luz dos princípios da CRFB/88. Natureza jurídica dos princípios: normas jurídicas (pós-positivismo/ neoconstitucionalismo). Para Pacelli, os princípios se apresentam como normas fundantes do sistema processual, sem os quais não se cumpriria a tarefa de proteção dos direitos fundamentais, visto que o Direito Processual Penal é essencialmente de fundo constitucional (2010, p. 37).
Princípio do devido processo legal (art. 5°, LIV, CRFB/88): a) procedimental ou formal: a pretensão punitiva deve perfazer-se dentro de um procedimento regular, perante autoridade competente, tendo como alicerce provas validamente colhidas, respeitando-se o princípio do contraditório e da ampla defesa; b) material: obediência à razoabilidade (STF, HC nº 45.232), se divide em duas vertentes: I) negativa (proibição do excesso): essa restrição é adequada a alcançar o fim desejado (adequação)? A restrição é menos gravosa (necessidade)?; o valor protegido é mais importante que o restringido (proporcionalidade em sentido estrito?; e II) positiva (dever de proteção ou “proibição de proteção insuficiência – STF: RE nº 418.376 e ADI 3112): a Constituição prevê, como forma de proteger os cidadãos, alguns mandados de criminalização; o Estado não é mais inimigo, mas antropologicamente um amigo. O Direito Penal é locus propício
de proteção aos Direitos Fundamentais. Conferir STF, HC nº 104.410/RS, (descriminalização do crime de porte de arma desmuniciada x Princípio da proibição de proteção insuficiente – pendente de julgamento).
Garantismo integral x Garantismo penal hiperbólico monocular: interesse particular e persecução penal por meio da proporcionalidade (Douglas Fischer).
Princípio acusatório: consiste a divisão das funções de acusar, defender e julgar entre diferentes órgãos. Opõe-se ao Princípio inquisitório, em que há a concentração de duas ou mais dessas funções nas mãos do mesmo órgão. No Brasil, há o predomínio do Princípio acusatório (art. 129, I e art. 5°, LIII, CRFB/88 – conferir ADI 1570/2004), porém com algumas mitigações. O art. 40, CPP, deve ser analisado sob a luz deste princípio e do da independência funcional do MP (art. 127, §1º, CRFB/88), no sentido de que o MP não está vinculado à análise do magistrado.
Princípio da igualdade ou da “paridade de armas”: corolário do devido processo legal, consiste na concessão de tratamento isonômico às partes no curso do processo. A igualdade deve ser analisada no aspecto material (“tratar os desiguais desigualmente, na medida de suas desigualdades”).
Princípio do juiz natural: Origem: direito anglo-saxão, ligado à proibição de criação de tribunal de exceção; já o direito norte-americano acrescentou a exigência de regra de competência previamente estabelecida ao fato. O Direito brasileiro adota o princípio em suas duas vertentes fundamentais: a) vedação ao tribunal de exceção (CRFB/88, art. 5º, XXXVII); e b) competência para julgamento atribuída pela Constituição (em razão da matéria e em razão da prerrogativa de função – ex.: art. 5º, XXXVIII, “d” e art. 52, I).
Juiz legal: conforme definido em lei. STF (HC nº 91.253): a criação de varas especializadas não fere o principio do juiz natural. STJ (HC nº 109.456 – mudança de entendimento) /STF (RE nº 597.133/RS, Repercussão Geral): o julgamento por Colegiado integrado, em sua maioria, por magistrados de primeiro grau convocados não viola o princípio do juiz natural nem o duplo grau de jurisdição. Também pode contemplar a obrigatoriedade do Juiz Imparcial. Identidade física do juiz no Processo Penal: presente no Júri e agora, como regra, para todos os processos criminais (art. 399, §2°, CPP c/c art. 132, CPC).
Princípio do promotor natural: significa a vedação à designação arbitrária de membros do MP, pela Chefia da Instituição, para patrocinar causas específicas. Tem havido uma oscilação jurisprudencial sobre a matéria. STJ: não é simétrico como o juiz natural, diz respeito a indicações manipuladoras feitas pelo Procurador-Geral (com viés político ou de forma oportunista). STF: há precedente contrário (RE nº 387.974), mas há vários outros em que reconhece a sua existência (leading case: HC nº 67.759). O princípio do promotor natural deve ser um reforço ao principio da inamovibilidade e independência funcional (MAZZILLI, p. 33).
Defensor Natural: A ideia de defensor natural consiste na vedação de nomeação de defensor diverso daquele defensor público que tem atribuição legal para atuar na causa. Vedam-se a nomeação de defensor dativo pelo juiz e designações arbitrárias do Defensor Público Geral (TÁVORA, p. 60-61).
Contraditório: Art. 5º, LV, CRFB/88. Garantia de participação informada (debater toda matéria decidida em juízo) = informação de qualquer fato contrário ao interesse da parte + possibilidade de participação ou reação + paridade de armas, ou que a oportunidade da resposta possa ser dada na mesma intensidade e extensão (aspecto substancial  Elio Fazzalari). Ex. Súmula STF nº 707.
Ampla defesa: Art. 5º, LV, CRFB/88. Consiste na garantia de utilização pela defesa de todos os meios admitidos em direito para provar suas alegações. Constitui-se em defesa técnica (efetuada por profissional) e autodefesa (realizada pelo próprio imputado – direito de ser ouvido em audiência e direito de presença aos atos), aspectos que se complementam (RE nº 602.543-RG-QO). Ex. súmulas STF nº 523, 705 e 707.
Não basta a possibilidade em abstrato de uso de todos os meios de defesa pelo acusado – a defesa tem que ser efetiva (ver observação sobre o aspecto substancial do contraditório).
Inocência presumida (“In dubio pro Reo” e “Favor Rei”): Tem três aspectos: a) quanto à prova: ônus da prova do fato e autoria é da acusação (Pacelli entende que as excludentes de ilicitude e culpabilidade devem ser provadas pelo réu); b) quanto ao tratamento: o réu, em nenhum momento do iter persecutório, pode sofrer restrições pessoais fundadas exclusivamente na possibilidade de condenação – parcimônia no manejo da prisão processual e do indiciamento do investigado – desconsideração de processo em que não haja condenação definitiva para fins civis; c) quanto à restrição da liberdade: não há prisão cautelar obrigatória – vedação de execução provisória da pena antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
Direito ao silêncio e não autoincriminação (“Nemo tenetur se detegere”): origem histórica no direito anglo-saxão. Permite que o acusado permaneça em silencio durante toda investigação e em juízo e impede que ele seja compelido a produzir ou contribuir com a prova contrária ao seu interesse (art. 5°, LXIII, CRFB/88).
Extensão e limites no direito brasileiro: o interrogatório como meio de defesa (STF: HC 94.016) – a mera recusa de manifestação por parte do paciente não pode ser interpretada em seu desfavor para fins de decretação de prisão preventiva (STF: HC nº 91.514); proteção contra o interrogatório sub-reptício; proteção contra a mentira em interrogatório – permite o réu selecionar as perguntas que vai responder; não protege contra elementos de prova real que se tenha tornado, por livre vontade do sujeito passivo, rei derelictae (ex.: é possível fazer DNA a partir de copo jogado no lixo). O STJ entende que é possível inclusive usar documento falso (HC 130.309/MS); para STF, há crime (HC nº 1.003.314/MS).
“Direito de mentir”: bastante polêmico. Há doutrinadores que defendem que, por conta do direito ao silêncio, o acusado teria direito de mentir em juízo; para outros doutrinadores, há apenas a inexigibilidade da verdade, pois, no Brasil, o perjúrio (mentira contada pelo acusado) não é tipificado – contudo, se a mentira do acusado incriminar terceiro inocente, deverá responder pelo crime denunciação caluniosa. OBS: a vedação à autoincriminação não pode ser oposta em relação à identificação do acusado, podendo responder ao crime de identidade falsa (STF, RE 640.139; STJ, HC 151.866).
Vedação de revisão pro societate: impede que alguém possa ser julgado mais de uma vez pelo mesmo fato do qual já tenha sido absolvido, por decisão passada em julgado. Consagrado no Pacto do São José da Costa Rica (art. 8.4). STF: não se aplica o princípio no caso de extinção de punibilidade baseada em certidão falsa de óbito, podendo ser retomado o processo (HC nº 84.525). Arquivamento (por atipicidade) proferido por juiz absolutamente incompetente faz coisa julgada material (HC nº 83.346).
Proibição de prova ilícita (art. 157, CPP): Prova ilícita: violação do direito material. Prova ilegítima: violação do direito processual. Fonte independente: a prova é ilícita por derivação, mas poder-se-ia chegar ao mesmo resultado por outra fonte de prova (STF: HC nº 83.921). Descoberta inevitável: por juízo de probabilidade, se demonstra que a prova seria descoberta independentemente da prática do ato ilícito/ilegítimo (não é considerada ilícita. STJ: HC nº 52.995).
STF: admite a utilização de provas ilícitas/ilegítimas no processo penal em caráter excepcional e exclusivamente em favor da defesa, após efetuada a ponderação de interesses com outros princípios constitucionais (ex.: dignidade da pessoa humana).
Princípio da demanda: Correlação entre acusação e sentença – impossibilidade de o juiz imputar ao réu, de ofício, fatos não descritos na peça acusatória. Fundamenta o instituto da mutatio libelli. O STF admite que o
MP pode re-denunciar um acusado por outros fatos ocorridos no mesmo contexto, ao argumento de que “a ofensa à coisa julgada exige a identidade de causa, caracterizada pela identidade do fato, sendo que esta não se verifica no caso de alteração de um dos elementos que o constitui (tempo, lugar, conduta imputada ao agente)” (HC nº 82.980).
Pontos prova oral: 5. Fale sobre os princípios do processo penal.
6. Fale sobre a ampla defesa, a atuação do defensor e a ausência de alegações finais pelo defensor constituído. Comente sobre o procedimento a ser adotado nesse caso, a natureza da nulidade e a posição do STF.
7. Fale sobre a imparcialidade do juiz quando atua na fase pré-processual. Qual a finalidade dessa atuação? Existe reserva de jurisdição?
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1.b. Provas no Processo Penal: a prova documental e testemunhal.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2012. TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2009; TÁVORA, Nestor e ROQUE, Fábio. Código de Processual Penal para concursos. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2012.
Legislação básica: Código de Processo Penal, arts. 231 a 238.
Prova Documental: Segundo Nucci, documento é toda base materialmente disposta a concentrar e expressar um pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade do ser humano, que sirva para expressar um fato juridicamente relevante. Segundo PACELLI, a sua característica principal é a originalidade – daí consideram-se prova documental não somente os escritos, mas também as provas fotográficas, cinematográficas e desenhos (p. 428-429).
Classificações de documentos:
a) quanto à origem: a.1. públicos ou oficiais; a.2. particulares ou privados.
b) quanto à forma: b.1. originais; b.2. cópias.
O parágrafo único do art. 232 do CPP assenta que à fotografia do documento devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do original. Nessa linha, o STF já decidiu que a fotocópia autenticada de cheque tem o valor de corpo de delito.
OBS: Depoimentos prestados em cartório por terceiros sobre um fato criminoso que tenha presenciado não são prova documental, e sim testemunhal!
OBS: Pareceres opinativos não se equiparam a documentos públicos, não havendo necessidade sequer de abertura de vista para a parte contrária (STF, RHC nº 94.350/SC).
A valoração dos documentos é feita quanto a dois aspectos: a) verdade ou veracidade dos fatos representados ou comunicados (em relação ao conteúdo); b) autenticidade (em relação à forma).
A produção do documento pode ser espontânea ou provocada (art. 234, CPP).
Momento da produção: em regra, a qualquer momento (princípio da liberdade probatória), inclusive por requisição do juiz da causa (art. 156, II, CPP).
Exceção: art. 479, CPP – proibição de utilização de documento em plenário do Júri que não tiver sido comunicado à parte contrária com antecedência, pelo menos, de 03 dias.
OBS: PACELLI reputa indispensável, a despeito do disposto no art. 236, CPP, a atuação do tradutor em relação aos documentos em língua estrangeira, mesmo que juiz da causa tenha conhecimentos sobre o respectivo idioma, até mesmo como forma de preservação da imparcialidade do julgador (p. 429). No mesmo sentido, TÁVORA (Código, p. 342).
Prova Testemunhal: Testemunha é todo indivíduo estranho ao feito (não é vítima nem o acusado) e equidistante das partes, chamado ao processo para falar sobre fatos perceptíveis a seus sentidos e relativos ao objeto do litígio.
Características:
(a) Judicialidade – em regra, deve ser produzida em juízo, durante a audiência de instrução e julgamento, logo após o depoimento do ofendido (art. 400, CPP).
Cuidado! Regras especiais de oitiva de testemunhas: (1) o depoimento da testemunha residente em outro foro será tomado por meio de carta precatória, rogatória ou de ordem; (2) as pessoas impossibilitadas de comparecerem por motivo de enfermidade ou doença serão ouvidas onde estiverem (art. 220, CPP); (3) a testemunha presa poderá ser interrogada por meio de videoconferência (art. 185, §8º, CPP c/c Lei nº 11.900/09); (4) as pessoas elencadas no art. 221, CPP, têm a prerrogativa de ajustarem previamente com o juiz dia, hora e local para a colheita do testemunho.
Súmula STF nº 155: “É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha.”
Súmula STJ nº 273: “Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.”
(b) Oralidade – em regra, deve ser colhida verbalmente em contato direto com o juiz e as partes (art. 204, CPP). Não se veda, entretanto, breve consulta a apontamentos. Quando a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, CPP).
Exceções: do mudo, do surdo e do surdo-mudo (art. 192, CPP); possibilidade de certas autoridades prestarem depoimento por escrito.
(c) Objetividade – o depoimento deve versar sobre os fatos, sem juízo valorativo. A testemunha não dá parecer ou opinião, somente expõe sua percepção sensorial.
(d) Retrospectividade – o objeto do testemunho são fatos passados.
(e) Imediação – a testemunha deve narrar aquilo que captou imediatamente por meio dos sentidos;
(f) Individualidade – cada testemunha presta seu depoimento isolada da outra.
Espécies de testemunhas: (1) Numerárias; (2) Extranumerárias (ouvidas por iniciativa do juiz (art. 209, CPP), referidas, informantes etc.); (3) Próprias; (4) Impróprias (instrumentais ou fedatárias); (5) Diretas (“de visu”); (6) Indiretas (“de auditu”); (7) Laudatórias ou de antecedentes; (8) Testemunha da coroa ou infiltração (agente infiltrado – Leis nº 9.034/95 e 11.343/06).
Quantidade de testemunhas (número fixado por fato delituoso):
- Procedimento comum ordinário: 08;
- Procedimento comum sumário: 05;
- Procedimento comum sumaríssimo (JECRIM): a Lei nº 9.099/95 é omissa; a doutrina sugere 03;
- Procedimento do Júri: na segunda fase, 05.
Em regra, todas as pessoas podem ser testemunhas (art. 202, CPP), inclusive menores, incapazes, crianças, silvícolas, policiais, juízes, promotores, etc.
Exceção: Estão proibidas de depor as pessoas que em razão de função (ocupação de natureza pública), ministério (encargo de natureza religiosa ou social), ofício (atividade manual) ou profissão (atividade predominantemente intelectual) devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada e não proibidas por regulamentação pertinente, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP).
OBS: Corréu não pode ser testemunha no mesmo processo em que foi processado! O (cor)réu fala no momento do interrogatório e goza da garantia da vedação à autoincriminação (art. 5°, LXIII, CRFB/88).
Situações especiais:
(I) Estão obrigadas a depor, mas não se lhes defere compromisso os “doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 anos” (art. 208, CPP).
(II) Não são impedidos de depor o ascendente, o descendente, o parente afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, e o irmão (art. 206, CPP) – insere-se ainda o companheiro, por equiparação ao cônjuge; mas têm o direito de se recusarem a fazê-lo, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias. Caso optem por prestar depoimento, farão sem compromisso, devendo ser ouvidas como simples informantes do juízo.
OBS: Em ambos os casos, por não precisarem prestar compromisso de dizer a verdade, chamam-se as pessoas dos artigos 206 (quando puderem se recusar) e 208 de dispensados.
Depoimentos prestados em cartório por terceiros sobre um fato criminoso que tenha presenciado são provas testemunhais; “Entretanto, presta-se unicamente a demonstrar o fato de ter alguém comparecido na presença de outro e ali afirmado o que consta no documento. Em nenhuma hipótese pode-se
extrair a veracidade do fato afirmado, mas tão somente de sua afirmação. É, inclusive, o que se contém nos arts. 364 e 368, parágrafo único, ambos do CPC, aplicáveis, se necessário, por analogia” (PACELLI, p. 429)!
Prova oral MPF: 13. O que é documento?
Retirado do material MPF: 14. Qual é a oportunidade em que se pode juntar documento aos autos?
15. A juntada de documento (extrato bancário) encaminhando pelo Ministério Público dos EUA, por meio do contato direto, sem tradução, causa nulidade ou anulabilidade?
16. Fale sobre a evolução do sistema probatório brasileiro no que tange à oitiva de testemunhas.
17. Fale sobre a oitiva do réu por precatória e por videoconferência.
18. Quem exerce o poder de polícia em audiência? Como é no procedimento do júri?
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1.c. Recursos no Processo Penal: Apelação.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2012. TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2009; TÁVORA, Nestor e ROQUE, Fábio. Código de Processual Penal para concursos. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2012.
Legislação básica: Código de Processo Penal.
Cabimento: Em regra, a apelação dirige-se apenas às sentenças (art. 593, I e III) e às decisões definitivas ou com força de definitiva, salvo se recorríveis por Recurso em Sentido Estrito (art. 593, II CPP – ex.: decisão que julga pedido de restituição de coisa apreendida; sequestro, pedido de especialização de hipoteca legal ou arresto, etc.).
Excepcionalmente, por força expressa de texto legal, caberá em relação a decisões de outra natureza, como a impronúncia e a absolvição sumária (art. 416 do CPP) e a que rejeita a denúncia ou a queixa no JECRIM (art. 82 da Lei nº 9.099/95).
Prazo: nos termos do CPP, 05 dias para interposição, em petição escrita ou termo nos autos, e apresentação das razões no prazo de 08 dias, podendo estas serem apresentadas diretamente na instância superior.
Apelação nos crimes de menor potencial ofensivo: interposição em 10 dias, já acompanhada de razões (art. 82 da Lei nº 9.099/95).
Pacelli sustenta que apenas a defesa poderá optar em arrazoar diretamente no 2º grau de jurisdição (art. 600, § 4º), na medida em que o órgão do MP de primeiro grau não tem capacidade postulatória para peticionar perante o juízo ad quem e o órgão de segundo grau deve ter sua independência funcional assegurada.
Súmula STF nº 448: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público”.
Efeitos: Como regra, efeito suspensivo (princípio de inocência) e efeito devolutivo amplo (“tantum devolutum quantum appellatum”). Pacelli sustenta que, como pode ser interposta até por termo nos autos, a simples manifestação de vontade de recorrer bastará para a completa devolução da matéria, restringindo-se o efeito devolutivo apenas quando o recorrente deseja impugnar parte do julgado, limitando-se àquela matéria impugnada.
Exceção ao efeito devolutivo amplo: Súmula STF nº 713 (“O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”).
Em razão do efeito suspensivo, além da exigência constitucional de toda prisão decorrer de ordem escrita e fundamentada de juiz competente, a regra é que o réu apele em liberdade, impondo-se ao juiz, no caso de condenação, fundamentar a necessidade de manutenção ou decretação de eventual cautela prisional impondo-lhe também a imediata soltura do réu, em caso de absolvição (STF, HC nº 88.420); o STF adotou este entendimento também em relação ao art. 59 da Lei de Drogas (HC nº 103.529-MC/SP). Pacelli vislumbra inconstitucionalidade de todas as disposições da legislação esparsa que vedam expressamente o réu apelar em liberdade (art. 9º Lei 9.034/95; Lei 8.072/90, 9.613/98), as quais padecem do mesmo vício do agora revogado art. 594 do CPP (condicionava o direito de apelar ao recolhimento à prisão).
Súmula STJ nº 347: “O conhecimento do recurso de apelação do réu independe de sua prisão”.
Exceção ao efeito suspensivo na apelação: sentença absolutória (art. 596, caput, CPP).
Há a vedação da reformatio in pejus na apelação exclusiva da defesa, como manifestação da ampla defesa, impedindo-se o agravamento da situação do réu (art. 617, CPP).
No rito do Júri, a soberania popular obstaculizará a vedação da reformatio in pejus, podendo validamente ser agravada a situação do réu em novo julgamento pela anulação do anterior (e não pelo Tribunal que julgar a apelação, uma vez que a apelação, caso procedente, apenas anulará o julgado), em decorrência do reconhecimento de circunstâncias agravantes, causas de aumento, qualificadoras, não apreciadas ou rejeitadas no primeiro julgamento. Todavia, caso a nova decisão seja igual à anterior em termos de definição do crime e suas circunstâncias, o juiz-presidente do Júri não poderá agravar a situação do réu exclusivamente por ocasião da dosimetria da pena. Há também a vedação da reformatio in pejus indireta, por meio da qual, no caso de anulação da sentença, por qualquer vício (exceção à incompetência absoluta, quando ela é incabível), a nova decisão não poderá superar a condenação imposta anteriormente – ressalvados, como visto, os casos do Tribunal do Júri.
Processamento: envolve a questão prévia relativa ao juízo de admissibilidade, devendo a apelação mostrar-se tempestiva e adequada (além de preencher os requisitos dos incisos I e III do art. 593, CPP, é preciso que não se trate de hipótese impugnável por Recurso em sentido estrito), sendo apresentada por quem tem legitimidade e interesse. Recebida a apelação pelo órgão de primeiro grau, serão atribuídos, em regra, os efeitos devolutivo e suspensivo (art. 597, CPP), ressalvada fundamentação na sentença em sentido contrário.
Encerrados os prazos para oferecimento de razões, os autos serão remetidos ao tribunal ad quem, com ou sem razões, no prazo de 05 dias (art. 601, CPP). Os tribunais superiores vinham se manifestando pela facultatividade da medida, alterando-se aparentemente a orientação em decisão recente do STJ – caso o apelado seja o acusado, a falta de apresentação de contrarrazões pelo defensor constituído, enseja intimação do réu para nova constituição; persistindo a inércia, haverá a designação de defensor público ou dativo para o ato, tido como essencial à ampla defesa.
Enunciado n. 23 da 2ª CCR do MPF: é dever funcional do membro do MPF apresentar, fundamentadamente, contrarrazões em recurso de apelação, por força do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.
Ao chegarem ao Tribunal, os autos serão distribuídos ao relator, havendo necessidade de um revisor caso de trate de delito com pena de reclusão. Na 2ª instância, o MP terá vista dos autos na condição de custos legis, para exarar parecer no prazo de cinco dias. Em relação à ordem de manifestação, Pacelli defende que a acusação deverá falar primeiro quando em recurso exclusivo do MP e em recurso de ambos (acusação/defesa), de sorte que, em recurso exclusivo da defesa, esta deverá falar antes da acusação, como exigência do contraditório, qualquer que seja o conceito de parte adotado.
Estando pronto o processo, o relator pedirá dia para julgamento, solicitando inclusão em pauta (art. 610, caput, CPP). Não há possibilidade de aplicação de mutatio libelli pelo órgão de 2ª instância (Súmula STF nº 453). Já a emendatio libelli (alteração da classificação do fato imputado) é perfeitamente possível (arts. 617 c/c 383, 386 e 387, CPP).
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2.a. Sistemas processuais.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de
Processo Penal e sua Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; Curso Alcance – MPF2012 – 1a e 2a fase – Processo Penal; Edilson Mougenot Bonfim, Curso de Processo Penal, 2012, 7ª Edição.
Legislação básica: Art. 5º, incisos LIV, LV E LVI, CR. Inúmeros dispositivos esparsos do CPP.
A caracterização de um sistema processual depende do exame dos seguintes pontos: a) quem exerce a jurisdição; b) se o juiz pode iniciar um processo de ofício; c) quem é legitimado a propor a ação penal e se ela é popular, privada ou pública; d) se as funções de julgar e acusar são atribuídas a órgãos distintos; e) se o réu é sujeito de direitos ou não; f) se o procedimento é escrito, oral, público ou secreto; g) se o contraditório é observado; h) como é feita a valoração das provas e i) se há recurso. Com base nestes pontos e na evolução histórica do processo penal, a doutrina distingue, basicamente, três sistemas processuais: inquisitório, acusatório e misto.
Confusão conceitual: “Na verdade, não existem dois sistemas nos quais se possa configurar o processo, um inquisitório e outro acusatório”, ensina Montero Aroca, “mas dois sistemas de atuação do Direito penal pelos tribunais, dos quais um é não processual, o inquisitório, e outro sim é processual, o acusatório”. A rigor, a denominação “processo inquisitório” somente tinha pertinência em um momento histórico — na época das monarquias absolutas — em que não havia uma bem demarcada distinção entre as funções administrativas e as jurisdicionais, confiando-se ambas as funções aos distintos órgãos a um só tempo, e os então impropriamente chamados “tribunais” aplicavam penas sem a realização de um processo4. Logo, eram “inquisitoriais”, mas não configuravam, obviamente, um sistema processual. Assim, a denominação “processo inquisitório” parece-nos incorreta, pois “não foi e não pode ser, obviamente, um verdadeiro processo (Edilson Mougenot Bonfim, Curso de Processo Penal)
Perguntas do oral do 26º: 3) Sistema acusatório e inquisitório. Natureza jurídica do arquivamento; 25) Quais os direitos relacionados no pacto de San José no que toca ao processo penal? Provas, provas ilícitas. O que são e pra que servem o reconhecimento e a acareação. O reconhecimento pode se feito por foto? A acareação viola o nemo tenetur? Quais os sistemas processuais? Quais as características do sistema inquisitório no CPP?
Sistema Acusatório: surge na antiguidade clássica (Grécia e Roma). Funções de acusar e julgar são exercidas por sujeitos processuais distintos. O processo é iniciado pelo exercício da ação penal, deduzida por órgão de acusação. O acusado é sujeito de direitos, não objeto de investigação probatória. A verdade é obtida pelo debate em contraditório, não pela pesquisa. Vigem os princípios da oralidade e publicidade (Pacelli fala que o processo verbal é característico do sistema inquisitório, p. 10, ed. 2012). A valoração das provas segue o sistema da persuasão racional, salvo no tribunal do júri (íntima convicção). Há forte conexão entre o sistema acusatório e o regime democrático. EUA e Inglaterra adotam um sistema acusatório puro ou de partes, no qual o juiz assume posição absolutamente inerte e imparcial1.De acordo com Pacelli, o sistema acusatório brasileiro “Por certo que não se trata de um modelo adversary, ou de partes, tal como é o modelo estadunidense, em que o juiz se afasta completamente de quaisquer funções probatórias, limitando-se ao controle de legalidade na instrução judicial. Já o dissemos aqui e repetimos: tal modelo parece-nos medieval, tomando como premissa legitimadora uma suposta igualdade de partes. Essa igualdade, ainda que abstratamente comprovada, não pode justificar uma decisão condenatória fundada em uma insuficiência da defesa. Igualdade processual, abstrata ou concreta, justifica um processo de partes exclusivamente em matéria não-penal, no bojo do qual se discute a titularidade de direitos subjetivos. Em processo penal, jamais” (p. 15). Segundo Pacelli, a CRFB, ao consagrar direitos fundamentais do réu, ao impor a fundamentação das decisões judiciais e ao erigir instituição autônoma e independente como titular da ação penal (MP), adotou o sistema acusatório. Porém, diz ele, nosso sistema não é o acusatório puro ou de partes, pois o juiz não é absolutamente inerte, possuindo iniciativa probatória subsidiária (sanação de dúvidas) e, também, em favor do réu (isonomia material). 2 A título de exemplo, vale lembrar que o STF já assentou, “por imperativo do princípio acusatório, a impossibilidade de o juiz determinar de ofício novas diligências de investigação no inquérito cujo arquivamento é requerido” (HC 82507/SE, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 10.12.2002). Delegado de polícia, no inquérito, pode representar ao juiz para uma prisão ou qualquer medida cautelar e o juiz deferir sem ouvir o MP? Não, pois as disposições infraconstitucionais devem ser interpretadas de acordo com a CF. As normas que autorizam o delegado a pedir essa medida cautelar sem a oitiva do MP são contrárias ao sistema acusatório, pois o MP é o titular da ação penal, então a ele cabe avaliar e, se for o caso, postular pelas medidas acessórias, instrumentais, que são as medidas cautelares, não podendo ser essas medidas deferidas sem a oitiva dele. O delegado não pode requerer diligências porque ele não é titular da ação penal, do contrário, os delegados estariam substituindo o MP. O delegado tampouco possui capacidade postulatória, tanto que ele não requer, ele representa, tanto é que, se a representação for negada, ele não pode recorrer. Essa é a posição da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MP. Processo : 1.00.001.000095/2010-86 Ementa : A restrição ao direito à intimidade do suspeito, quanto aos dados bancários, telefônicos ou tributários, também só podem ser requerida, pela mesma razão, pelo titular da ação penal, que tem legitimidade e capacidade postulatória e atribuição para verificar se a restrição de direito é necessária para a persecução penal ou se a prova já coligida é suficiente para embasar ação penal ou mesmo se há excludente de culpabilidade que impeça a persecução penal, tornando desnecessária a medida assecuratória. Decisão: Acolhido por unanimidade o voto da Relatora.
Sistema Inquisitório: surge no fim da Idade Média e se estabelece no Estado Absolutista. Como reflexo do poder absoluto do soberano, a figura do inquisidor reúne todas as funções processuais. As funções de acusar e julgar são exercidas pelo inquisidor. O processo é iniciado pelo próprio inquisidor, que também possui ampla iniciativa probatória. O acusado é mero objeto de prova, sem direito ao contraditório ou à ampla defesa. O processo é predominantemente escrito e sigiloso (para Pacelli, é verbal e em segredo, p. 10, ed. 2012). A valoração das provas segue o sistema de provas tarifadas, sendo a confissão a prova máxima, normalmente obtida mediante tortura. O nosso CPP, em sua redação original e antes de receber os influxos da CRFB, possuía forte perfil
inquisitório. Influenciado pelo processo penal fascista italiano, o CPP assentava-se na presunção de culpabilidade do réu – apregoada por Manzini –, na ampla iniciativa probatória do juiz, inclusive na fase investigativa, justificada pela busca da verdade real, e no interrogatório como simples meio de prova. Prova oral do 25o CPR: Dê exemplos de resquícios inquisitivos no processo penal brasileiro. Para Pacelli, o sistema inquisitório foi inteiramente superado. Entretanto, traz crítica ao art. 156, o qual faculta ao juiz, de ofício, ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, e o considera violação patente – e recente – do sistema acusatório (p. 11 e 12, ed. 2012).
Sistema Misto ou de Fases: surge no século XIX, tendo como marco o Código de Instrução Criminal da França, de 1808. O processo é dividido em fases: investigação, de caráter predominantemente inquisitivo, a cargo de um juízo de instrução, e julgamento,
na qual prevalecem os cânones do sistema acusatório. Pacelli adverte que nossa doutrina, levando em consideração a existência da fase investigativa inquisitiva (inquérito policial ou outras investigações administrativas), erroneamente classifica como misto o nosso sistema. Ora, diz ele, inquérito policial não é processo, logo não pode servir de critério de caracterização do sistema processual. Nosso sistema não é misto, mas acusatório.
Prova oral MPF: 1. Explique os sistemas processuais penais inquisitivo e acusatório.
2. Dê exemplos de resquícios inquisitivos no processo penal brasileiro.
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2.b. Provas no Processo Penal: Reconhecimentos (pessoas e coisas). Acareação. Prova pericial.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; Curso Alcance – MPF2012 – 1a e 2a fase – Processo Penal.
Legislação básica: Artigos 226 a 230 do CPP. Artigo 158 e seguintes também do CPP.
Perguntas do oral do 26º: 25) Quais os direitos relacionados no pacto de San José no que toca ao processo penal? Provas, provas ilícitas. O que são e pra que servem o reconhecimento e a acareação. O reconhecimento pode se feito por foto? A acareação viola o nemo tenetur? Quais os sistemas processuais? Quais as características do sistema inquisitório no CPP?
O reconhecimento de pessoas e coisas é o procedimento tendente à identificação de pessoas, de alguma maneira envolvidas no fato delituoso, e de coisas, cuja prova da existência e individualização seja relevante para a apuração das responsabilidades. A pessoa que vai fazer o reconhecimento deve descrever aquilo que será reconhecido, evitando-se os inexoráveis erros da precipitação (CPP, art. 226, I). Depois, o objeto do reconhecimento é colocado ao lado de outros parecidos para que a pessoa aponte o objeto de sua descrição (CPP, art. 226, II). Quando houver receio de que a pessoa chamada para o reconhecimento será influenciada pela presença da reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela (CPP, art. 226, III). Esse modo sigiloso de reconhecimento, porém, não pode ser feito em juízo (CPP, art. 226, parágrafo único), em obediência às exigências da ampla defesa (Pacelli, p. 427). Seguindo-se, todavia, a mesma ratio do artigo 185, § 2º, III combinado com o artigo 217 do CPP, a partir da inovação legislativa operada pela Lei 11.690/08, é possível admitir o reconhecimento da vítima sem a presença do réu, permitida a de seu patrono (o que afasta o sigilo), o que se mostra mais de acordo com o princípio da dignidade humana aplicado à vítima. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas (CPP, art. 228). STJ: 3. "A inobservância das formalidades do reconhecimento pessoal não configura nulidade, notadamente quando realizado com segurança em juízo, sob o crivo do contraditório, e a sentença vem amparada em outros elementos de prova." (HC 109048 / SP); “2. Ainda que não observado totalmente o disposto no artigo 226 do Código de Processo Penal, não há se falar em nulidade, haja vista não se ter demonstrado eventual prejuízo, o qual nem ao menos se pode presumir, diante da existência de outras provas da autoria, devidamente judicializadas.” (AgRg no REsp 1063031 / PR). De acordo com Pacelli e Fischer, “para o ato de reconhecimento, se o acusado, regularmente intimado, não comparecer, poderá ele ser conduzido coercitivamente, para que a testemunha ou testemunhas (e o ofendido) façam – ou não – a identificação de autoria do delito” (p. 433), inexistindo qualquer ofensa ao chamado direito ao silêncio. O art. 226 do CPP só descreve o reconhecimento ao vivo, não prevendo o fotográfico (reconhecimento indireto) – considerado prova inominada –, o qual, segundo Nucci, deve ser admitido com cautela, com a igual observância do disposto no art. 226, I, II e IV, do CPP (p. 505). Por outro lado, Pacelli e Fischer asseveram que “a diferença que pode haver entre o que ela (testemunha) presenciou e a fotografia que lhe é apresentada em juízo não pode ser aferida e nem controlada. Condições do tempo (clima), da máquina fotográfica, da pose fotografada, e, enfim, a diversidade entre o real, o passado da foto e o passado da memória da testemunha, recomendam a imprestabilidade de semelhante meio de prova” (p. 435). (STJ HC 168667 / SP). Retrato falado é meio de investigação, não de reconhecimento. O reconhecimento de imagens e vozes, segundo Nucci, “não ingressa no contexto do art. 226 do CPP, pois inexiste a previsão de quais as formalidades a observar. Por isso, havendo necessidade de ser realizado o reconhecimento de alguma imagem ou de voz, existirão duas possibilidades: a) prova pericial (o exame será feito por especialista e transformar-se-á em laudo); b) prova testemunhal (a testemunha fornece a sua impressão à autoridade competente)” (p. 505).
A acareação é meio de prova pelo qual se confrontam pessoas que prestaram depoimentos divergentes sobre fatos relevantes em suas declarações.Como bem observam Pacelli, e Fischer, “O procedimento de acareação insere-se com desdobramento da prova testemunhal e das declarações do ofendido. Não constitui meio autônomo de prova, mas mera diligência tendente ao esclarecimento de depoimentos em direções diferentes ou de distintas versões sobre o mesmo fato. De todo modo, não se pode antecipar, pela divergência, falos testemunho ou falsa perícia” (p. 437). A acareação pode se dar entre: acusados; acusado e testemunha; testemunhas; acusado ou testemunha e a pessoa ofendida; pessoas ofendidas. Pacelli critica a acareação dizendo que “é o típico procedimento de índole intimidatória. No mais das vezes, presta-se apenas a revelar um maior ou menor grau de temor de uma testemunha em relação à outra. Ademais, o réu não tem qualquer compromisso com a verdade, ao passo que a testemunha sim”. Quanto ao direito a não auto-incriminação (nemo tenetur se detegere), previsto no CIDH, o STF esclareceu recentemente que se restringe apenas à garantia de não ser coagido, moral ou fisicamente, a produzir provas contra si; A acareação pode ser feita imediatamente após os testemunhos. Consoante os termos da Lei 11.719/08, também a acareação é realizada na audiência una de instrução, em face da concentração dos atos processuais. No caso de acareação entre testemunhas ausentes, segue-se o disposto no artigo 230 do CPP. A doutrina chama a hipótese do artigo 230 do CPP de confronto.
Prova pericial é uma prova técnica, na medida em que pretende certificar a existência de fatos cuja certeza, segundo a lei, somente seria possível a partir de conhecimentos específicos. Perícia é o exame realizado em pessoa ou coisa para comprovação de fatos, por quem tem conhecimento técnico, científico ou artístico adequado, seja por falta destes conhecimentos pelo julgador, seja por exigência legal. A partir da Lei 11.690/2008, a perícia poderá ser realizada por apenas um perito oficial, portador de diploma de curso superior, salvo quando o objeto a ser periciado exigir o conhecimento técnico em mais de uma área de conhecimento específico. Na ausência de perito oficial na comarca, o exame será realizado por duas pessoas idôneas portadoras de diploma oficial.
Indicação de assistente de acusação: art. 159, §§ 3º e 4º. Tal dispositivo menciona “ofendido” e “assistente de acusação”, portanto, pode-se concluir que “o ofendido, mesmo que não habilitado como assistente, poderá requerer a admissão de assistentes técnicos” (questão 116 da prova obj. 25CPR) (Pacelli, p. 422). Corpo de delito é o conjunto de elementos sensíveis deixados pelo crime, isto é, todas aquelas alterações
perceptíveis no mundo fenomênico e derivadas da ocorrência do delito que, de alguma forma, comprovam a existência do fato. O exame de corpo de delito é a análise feita pelo perito nestes elementos e o laudo de exame de corpo de delito é a peça técnica em que ele descreve os vestígios e suas conclusões técnicas. Espécies: i) direto – é realizado pelo perito diretamente sobre o objeto material do crime (o corpo de delito); ii) indireto – é realizado por perito sobre dados ou vestígios paralelos (ex: ficha médica). 5. Segundo Pacelli, a regra do art. 167 do CPP não é espécie de exame de corpo de delito indireto, mas prova exclusivamente testemunhal (art. 167: “não sendo possível o exame de corpo de delito, pelo desaparecimento de vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.). A confissão não supre a ausência do exame de corpo de delito (CPP, art. 158). Em comentários ao art. 182 do CPP (“O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte”), Pacelli e Fischer esclarecem que “o juiz, por não se qualificar como expert, não pode arvorar-se em censor dos peritos e dos assistentes técnicos. No entanto, omissões, obscuridades, contradições e, enfim, quaisquer dúvidas sobre o acerto das conclusões lançadas no laudo oficial, podem e devem justificar a sua rejeição, no todo em parte. Mas, como o objeto da prova pericial demanda conhecimentos técnicos para a comprovação de fato ou de circunstância relevante para julgamento do caso penal, deverá o juiz determinar a complementação, o esclarecimento ou até mesmo a elaboração de novo laudo oficial, recorrendo, se necessário, a outros peritos ou profissionais com conhecimento na matéria” (p. 360).
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2.c. Os reflexos do Pacto de São José da Costa Rica no processo penal brasileiro.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; Curso Alcance – MPF2012 – 1a e 2a fase – Processo Penal; Edilson Mougenot Bonfim, Curso de Processo Penal, 2012, 7ª Edição.
Legislação básica: Pacto de São José e CPP.
Pergunta do oral do 26º: 25) Quais os direitos relacionados no pacto de San José no que toca ao processo penal? Provas, provas ilícitas. O que são e pra que servem o reconhecimento e a acareação. O reconhecimento pode se feito por foto? A acareação viola o nemo tenetur? Quais os sistemas processuais? Quais as características do sistema inquisitório no CPP?
A CIDH, conforme a orientação do STF posterior à EC 45, de 2004, possui status supralegal, porém abaixo da CRFB. Não obstante a natureza formal de norma supralegal, integra o bloco de constitucionalidade, visto que dispõe sobre direitos fundamentais:
“PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS. INTERPRETAÇÃO DA PARTE FINAL DO INCISO LXVII DO ART. 5O DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988. POSIÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. Assim ocorreu com o art. 1.287 do Código Civil de 1916 e com o Decreto-Lei n° 911/69, assim como em relação ao art. 652 do Novo Código Civil (Lei n° 10.406/2002). ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. DECRETO-LEI N° 911/69. EQUIPAÇÃO DO DEVEDOR-FIDUCIANTE AO DEPOSITÁRIO. PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR-FIDUCIANTE EM FACE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. A prisão civil do devedor-fiduciante no âmbito do contrato de alienação fiduciária em garantia viola o princípio da proporcionalidade, visto que: a) o ordenamento jurídico prevê outros meios processuais-executórios postos à disposição do credor-fiduciário para a garantia do crédito, de forma que a prisão civil, como medida extrema de coerção do devedor inadimplente, não passa no exame da proporcionalidade como proibição de excesso, em sua tríplice configuração: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito; e b) o Decreto-Lei n° 911/69, ao instituir uma ficção jurídica, equiparando o devedor-fiduciante ao depositário., para todos os efeitos previstos nas leis civis e penais, criou uma figura atípica de depósito, transbordando os limites do conteúdo semântico da expressão "depositário infiel" insculpida no art. 5º, inciso LXVII, da Constituição e, dessa forma, desfigurando o instituto do depósito em sua conformação constitucional, o que perfaz a violação ao princípio da reserva legal proporcional. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E NÃO PROVIDO” (RE 349703, Relator o Ministro CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2008, DJe-104 de 5.6.2009).
O pacto é fonte imediata de direitos aos acusados e investigados, haja vista a aplicabilidade imediata imposta pela CRFB no art. 5º, §1º. Com base nesse dispositivo, os operadores do direito devem aplicar as normas garantidoras de direitos fundamentais, como é o caso da CIDH, independentemente de lei mediadora.
Traz a CIDH várias garantias aos acusados que são repetidas pelo ordenamento interno, seja em nível constitucional, seja no próprio CPP. Com isso, o Brasil já implementa um dos deveres de direito internacional previsto pelo pacto, em seu art. 2º, que é o dever de adequar o ordenamento interno de modo a tornar efetivos os direitos previstos no instrumento internacional.
Assim, a CIDH traz, para o processo penal, garantias elencadas nos artigos 7º e 8º, como: a) devido processo legal; b) direito de petição de toda pessoa privada de liberdade a um órgão judicial; c) direito de audiência (“one day in court”); d) conhecimento da acusação pormenorizadamente e do seu acusador, bem como de tempo e meios para elaborar sua defesa; e) duração razoável do processo “ou de ser posta em liberdade”; f) direito a um julgador competente, independente e imparcial, anteriormente estabelecido por lei; g) presunção de inocência; h) assistência gratuita de tradutor ou intérprete, se necessário; i) defesa técnica, por defensor de sua escolha ou proporcionado pelo Estado, bem como direito de autodefesa; j) comunicação livre e em particular com seu defensor; k) direito a recurso (duplo grau de jurisdição); l) direito de inquirir as testemunhas presentes e de obter o comparecimento de testemunhas e peritos; m) direito a não auto-incriminação (nemo tenetur se detegere), que o STF esclareceu recentemente que se restringe apenas à garantia de não ser coagido, moral ou fisicamente, a produzir provas contra si; n) direito do absolvido a não ser processado novamente pelo mesmo fato; o) publicidade do processo penal.
Dentre essas garantias, é possível que exista um tratamento mais benéfico pela norma de direito doméstico. Ocorrendo isso, o artigo 29, item 2, do pacto de São José, determina a aplicação daquela mais benéfica ao acusado. A CIDH, por exemplo, não demanda que o acusado seja advogado, caso deseje se defender em juízo sem auxílio técnico. Entretanto, isto não afasta a norma de direito interno mais protetiva, que determina a irrenunciabilidade da defesa técnica no processo penal.
Por fim, importante ressaltar que o desrespeito a quaisquer dessas
garantias, por ato de quaisquer dos três poderes da República, pode levar, a depender da gravidade do ato, à responsabilização internacional do Brasil perante a Corte Interamericana.
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3.a. Princípios da Ação Penal
Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 7ª ed. Ed. Juspodivm, 2012; Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. Editora Atlas, 2012, Aury Lopes Jr. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Vol. I. 5ª ed. Editora Lumen Juris, 2010.
Legislação básica. Arts. 24, 28, 29, 31, 42, 48, 60 do CPP.
1. Ação Penal Pública
a) Obrigatoriedade (ou legalidade processual): Presentes os requisitos legais, o MP é obrigado a oferecer denúncia (art. 24, 1ª parte, CPP), não se reservando ao Parquet qualquer juízo de discricionariedade. O art. 28 do CPP implica controle jurisdicional do preceito em tela. A Lei nº 9.099/95 (art. 76) relativizou o princípio no ponto em que permite a transação penal, dando origem ao princípio da obrigatoriedade mitigada ou da discricionariedade regrada. No âmbito federal, quem faz o controle da obrigatoriedade, analisando as promoções de arquivamento, é a 2ª CCR, conforme seu enunciado nº 9 (entende-se institucionalmente que houve revogação do art. 28 do CPP pelo art. 62, IV, da LC 75/93). Questão importante e nada pacificada em Pacelli: estaria o órgão do MP compelido à propositura da ação penal, ainda quando entendesse presentes algumas das causas excludentes da ilicitude? Uns entendem que sim, tendo em vista a importância de as provas serem produzidas perante o juiz e não apenas no inquérito; outros entendem que tal obrigatoriedade viola a independência funcional do MP.
b) Indisponibilidade: Uma vez proposta a ação, o MP não pode dela dispor (art. 42, CPP). Como corolário, também não pode desistir do recurso (art. 576, CPP). A Lei nº 9.099/95 (art. 89) também mitigou o princípio ao prever o sursis processual. Ver Súmula 696 do STF. Para PACELLI (p. 124), a única diferença entre este princípio e o da obrigatoriedade é que, enquanto a obrigatoriedade é aplicável antes da ação penal, a indisponibilidade incide após a deflagração da persecução penal. Súmula 723, STF: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.”
c) Oficialidade: A persecução penal em juízo está a cargo de um órgão oficial, o MP.
d) Autoritariedade: O promotor de justiça (ou Procurador da República) é autoridade pública.
e) Oficiosidade: Aplicável apenas à ação pública incondicionada, em relação a qual não se exige qualquer autorização, devendo o MP atuar de ofício.
f) Divisibilidade: Em que pesem vozes em contrário, prevalece o entendimento de que o princípio da indivisibilidade não se aplica às ações penais públicas, as quais são pautadas pelo princípio da divisibilidade (PACELLI, p. 152). O Ministério Público pode, por exemplo, oferecer denúncia em relação aos acusados que estão presos e requerer o prosseguimento das investigações quanto aos acusados soltos. Foi o que aconteceu no Caso Maluf. Há precedentes no STF (HC 104356/RJ, RHC 95141/RJ, HC 96700/PE) e no STJ (APn 382/RR, AgRg no REsp 898302/PR, HC 160229/SP) no sentido de que o princípio da indivisibilidade não se aplica à ação penal pública, mas apenas à privada.
g) Intranscendência (ou pessoalidade): Mercê da natureza subjetiva da responsabilidade criminal, a ação não pode prejudicar terceiros que não tenham concorrido de alguma forma para o delito. Entretanto, o falecimento do autor do fato não afasta a obrigação dos herdeiros indenizarem a vítima, dentro das forças da herança. Arts. 29 do CP e 5º, XLV, CF.
2. Ação Penal Privada
a) Oportunidade (ou conveniência): É facultado à vítima ofertar ou não a ação. Como corolários do princípio: i) não exercitado o direito de ação, opera-se a decadência; ii) pode o querelante renunciar ao direito de ação, sendo a renúncia irretratável (art. 107, V, CP).
b) Disponibilidade: Uma vez oferecida a queixa, o querelante poderá desistir da ação penal, perdoando o acusado ou dando azo à perempção. PACELLI elenca a renúncia como corolário desse princípio e não menciona o sobredito princípio da oportunidade (p. 142). Ainda segundo PACELLI (p. 160), o princípio da disponibilidade não se aplica à ação privada subsidiária da pública, pois a titularidade da ação é pública, reservando-se ao particular apenas a iniciativa. Características do perdão: i) pode ser expresso ou tácito, processual ou extraprocessual; ii) bilateralidade (exigência de aceitação pelo querelado para surtir efeitos); iii) pode ser oferecido até o trânsito em julgado da sentença (art. 106, §2º, CP); iv) havendo corréus, o perdão oferecido a apenas um estende-se aos demais. A perempção vem disciplinada no art. 60 do CPP.
c) Indivisibilidade: É a impossibilidade de se fracionar a persecução penal. Caso opte por oferecer a ação penal, deve o querelante fazê-lo em face de todos os envolvidos. Na hipótese de ser oferecida denúncia apenas em face de algum(ns) do(s) réu(s), doutrina majoritária entende que o MP, enquanto custos legis, não poderá aditar a queixa para incluir os demais réus, devendo manifestar-se pela extinção da punibilidade se a omissão do querelante foi voluntária, por ter havido renúncia tácita em relação aos demais réus (art. 107, V, VP). PACELLI (p. 150) entende diferentemente, asseverando ser possível ao MP realizar o aditamento, pois lhe compete exercer controle final sobre a responsabilização penal subjetiva e por ser o interesse penal sempre público, além de ser o Parquet o órgão responsável pela defesa da ordem jurídica.
d) Intranscendência (ou pessoalidade): Aplica-se o quanto dito anteriormente em relação à ação pública.
Leitura Complementar:
- Arts. 76 e 89 da lei 9099/95.
- Súmulas 696 e 723 do STF.
- NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 11ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
- RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
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3.b. Indícios e Questões Probatórias.
Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 5ª ed. Ed. Juspodivm. Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. Editora Atlas. Aury Lopes Jr. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Vol. I. 5ª ed. Editora Lumen Juris. RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
Legislação básica: Art.239 do CPP.
O indício, segundo o art. 239 do CPP, é a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. Difere da presunção, que, consoante TÁVORA e ALENCAR (p. 442), “é o conhecimento daquilo que normalmente acontece, a ordem normal das coisas, que uma vez positivada em lei, estabelece como verídico determinado acontecimento”.
Para Paulo Rangel, indício significa indicar, apontar. É todo e qualquer fato, ou circunstância, certo e provado, que tenha conexão com o fato, mais ou menos incerto, que se procura provar. Presunção significaria opinião ou juízo baseado nas aparências, suposição ou suspeita.
É possível fazer o seguinte silogismo: premissa menor – é o indício, ou seja, a circunstância conhecida e provada; premissa maior – é o princípio de razão ou regra de experiência, utilizados na análise daquilo que normalmente acontece (presunção); conclusão – comparação entre as premissas, que nos permite chegar ao resultado, ao denominador (TÁVORA; ALENCAR, p. 442).
Sendo assim, exemplifica Paulo Rangel: o fato de Tício ter sido visto com uma arma na mão no local do crime, no dia e na hora em que o mesmo ocorreu, indica que Tício foi seu autor. A operação mental (processo de raciocínio lógico) que é realizada para concluir que Tício é autor do homicídio é a presunção (suposição, suspeita). Indício é o fato provado e conhecido
(Tício estava no local do crime no mesmo horário e dia em que foi praticado, com uma arma na mão); a presunção é a operação que liga esse fato a outro, qual seja: Tício é o autor do crime.
Para PACELLI (p. 430-431), o indício não é propriamente um meio de prova, mas a utilização de um raciocínio dedutivo, para, a partir da prova de um fato ou de uma circunstância, chegar-se à conclusão da existência de um outro ou de uma outra (verdadeira presunção feita pelo julgador). A prova indiciária, ou por indícios, terá sua eficácia probatória condicionada à natureza do fato ou circunstância que se pretende provar por meio dela (é prova indireta). Por exemplo, tratando-se de prova do dolo ou da culpa, ou dos demais elementos subjetivos do tipo, que se situam no mundo das ideias, a prova por indícios será de grande valia (não se pode provar por prova material o que não pode ser materializado). Contudo, quando se pretende demonstrar por indícios fatos e circunstâncias que podem ser normalmente provados por prova material (tal como a materialidade e a autoria), o valor probatório do indício vai ser reduzido.
Os indícios podem ser classificados em indício positivo (indica a presença do fato ou elemento que se quer provar; ratifica a tese sustentada) e indício negativo ou contra indício (alimenta a impossibilidade lógica do fato alegado e que se deseja provar; informa uma determinada tese; é o exemplo do álibi).
Nos HC’s 103118/SP e 101519/SP, ambos julgados em 20/03/2012 e relatados pelo Min. Luiz Fux, a Primeira Turma do STF assentou que os indícios têm aptidão para lastrear decreto condenatório, haja vista vigorar o sistema do livre convencimento motivado. Constou das ementas que “O princípio processual penal do favor rei não ilide a possibilidade de utilização de presunções hominis ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a procedência do ius puniendi, máxime porque o Código de Processo Penal prevê expressamente a prova indiciária (...) O julgador pode, através de um fato devidamente provado que não constitui elemento do tipo penal, mediante raciocínio engendrado com supedâneo nas suas experiências empíricas, concluir pela ocorrência de circunstância relevante para a qualificação penal da conduta.”
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3.c. Recursos no Processo Penal: Embargos de Declaração, Embargos Infringentes e de Nulidade e Embargos de Divergência.
Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 5ª ed. Ed. Juspodivm. Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. Editora Atlas. Aury Lopes Jr. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Vol. I. 5ª ed. Editora Lumen Juris.
Legislação básica: Arts. 382, 609, 619 e 620 do CPP. Art. 83, §§ 1º e 2º da Lei nº 9.099/95. Súmulas nº 286, 293 e 455 do STF e nº 158, 168, 207, 315, 316 e 390 do STJ.
1. Embargos de Declaração
Destinam-se a integrar decisão, sentença ou acórdão contra omissões, obscuridades, contradições e ambiguidades (no âmbito dos juizados, ao invés de ambiguidade, são opostos no caso de “dúvida”). A competência para exame é do próprio órgão prolator do julgado. A oposição dar-se-á mediante petição dirigida ao mesmo órgão que proferiu a decisão inquinada com aqueles vícios, com prazo de dois dias ou cinco dias (em caso de decisão em AP originária no STF ou no caso de oposto no âmbito de JECRIM). Quando interpostos em face de sentença, são também chamados de “embarguinhos” (art. 382 do CPP). Têm como efeito a interrupção do prazo para ambas as partes para a interposição de outros recursos, diversamente do que ocorre no JECRIM, onde, além de o prazo ser de 05 dias, opera-se a suspensão dos demais prazos recursais (art. 83, §§ 1º e 2º, 9.099/95). Em casos excepcionais, os declaratórios poderão conter efeito infringente (em casos de omissão ou contradição que alteram a substância da decisão), hipótese em que a parte adversa deverá ser intimada para apresentar contrarrazões, em homenagem ao princípio do contraditório. Sendo os embargos evidentemente protelatórios e declarados como tal, o prazo para a interposição de outro recurso não se interrompe ou suspende (RISTF, art. 339, § 2º). O STF admite a aplicação do princípio da fungibilidade para receber embargos de declaração como agravo regimental (AI 837155 ED/PR e HC 112444 ED/RS). Pacelli defende que é possível haver aumento de pena por meio de embargos de declaração, desde que o recurso tenha sido interposto pela acusação.
2. Embargos Infringentes e de Nulidade
Trata-se de recurso que objetiva o reexame de decisões não unânimes proferidas em sede de apelação e de recurso em sentido estrito quando o acusado for sucumbente na parte objeto de divergência. Embora o nome pareça indicar a existência de dois recursos, é um único recurso com dupla possibilidade de manejo, pois a matéria impugnável é ampla, incluindo questões de mérito (“infringentes”) e questões processuais (“de nulidade”). Não tem efeito suspensivo e será interposto no prazo de 10 dias, a contar da publicação do acórdão, por petição acompanhada de razões. O objeto do recurso é restrito à matéria da divergência. É privativo da defesa. Mas o MP tem legitimidade para interpô-lo, desde que o faça em favor da defesa. É apreciado no âmbito do próprio tribunal julgador. Prevalece na doutrina o entendimento segundo o qual são cabíveis embargos infringentes e de nulidade contra decisões proferidas em sede de agravo em execução, haja vista sua similitude com o recurso em sentido estrito. O julgamento dos embargos infringentes e de nulidade pode dar azo ao que a doutrina convencionou chamar de voto médio, que representa a adoção de um critério para a obtenção da vontade da maioria, quando os votos dos membros do órgão colegiado são discrepantes entre si. Como exemplo, há a divergência sobre o quantitativo de penas. O critério indicado pode variar conforme se adote a média aritmética das penas votadas pelos membros do tribunal, a pena que se situe em permeio às demais ou, ainda, a sanção que seja mais favorável ao acusado. Ver súmulas nº 293, 431 e 455 do STF; e súmulas nº 207 e 390 do STJ. Ver também art. 25, lei 12.016/2009.
3. Embargos de Divergência
Trata-se de recurso próprio das instâncias superiores (STF/STJ), que visa uniformizar a jurisprudência de órgãos fracionários do mesmo tribunal. Devem ser interpostos em petição escrita, já com razões, no prazo de 15 dias (art. 29 da Lei n° 8.038/90), serem dirigidos ao relator da causa, intimando-se em seguida o embargado para apresentar contrarrazões no mesmo prazo. Cabível contra decisão em sede de RE e REsp cujo teor seja divergente do julgamento de outra turma, seção, órgão especial ou pleno. Não são cabíveis em face de decisão monocrática de Ministro Relator (STJ, AgRg no EAREsp 10115/SP). “Em sede de embargos de divergência, os paradigmas devem, necessariamente, ser provenientes de julgados prolatados em recurso especial, não se prestando para demonstração do dissídio arestos provenientes de julgamento em habeas corpus, nem em conflito de competência" (STJ, AgRg nos EREsp 575.684/SP). A legitimidade e o interesse são visualizados sob a perspectiva da ideia de sucumbência. Ver Súmulas n° 286 do STF e n° 158, 168, 315 e 316 do STJ. O processamento é disciplinado pelo regimento interno do tribunal.
Leitura Complementar:
- NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 11ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
- RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
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4.a. Princípios e questões relativas  aos Inquéritos Policiais e Investigações Criminais.
Obras consultadas
Ficher e de Oliveira, Douglas e Eugênio Pacelli. Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência. 2ª Edição. Lumen Juris Editora, 2011.
Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. Ed. Atlas 2012.
Aulas da LFG, Renato Brasileiro, bem como atas do curso Ebeji.
Legislação básica. CF, arts. 5º, 144. Arts. 4 a 62 do CPP.
Inquérito Policial. Conceito: procedimento
administrativo inquisitório e preparatório, consistente em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela autoridade policial, a fim de fornecer elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. De uma forma mais simples, é um procedimento administrativo, formado por um conjunto de diligências, destinadas a investigar um crime. Natureza jurídica: procedimento administrativo e não ato de jurisdição; vale ressaltar que os vícios constantes do inquérito policial não afetam a ação penal a que deu origem. Finalidade: colher elementos de informação relativos à autoria e materialidade da infração penal; destina-se à formação da opinio delicto (positiva, em caso de denúncia ou queixa, ou negativa, em caso de arquivamento). Presidência: a cargo da autoridade policial. Polícia administrativa ou de segurança x polícia judiciária. A administrativa é preventiva, com caráter ostensivo, com a finalidade de impedir ocorrência de infrações. A polícia judiciária é repressiva, tem a missão primordial de elaboração do inquérito policial. Segundo o Professor Pacelli, “a denominação de polícia judiciária somente se explica em universo em que não há a direção da investigação pelo Ministério Público, como é o brasileiro”. Notitia criminis apócrifa: com base na cláusula constitucional de vedação do anonimato, o STF teve a oportunidade de ressaltar a impossibilidade de instauração de persecução criminal- leia-se inquérito policial ou procedimento investigatório, com base exclusivamente em notitia criminis apócrifa, salvo quando o documento em questão tiver sido produzido pelo acusado, ou constituir o próprio corpo de delito. (Inquérito 1.957/PR)
Inquéritos não criminais: Note-se que nos termos do parágrafo único do art. 4 do CPP, a competência da polícia judiciária não excluirá a atribuição de outras autoridades administrativas, a quem a lei confere funções tipicamente investigativas. Há os inquéritos parlamentares, patrocinados pelas CPIs (que remeterão seus relatórios ao MP); os inquéritos policiais militares; os inquéritos civis (ACP); inquéritos para apuração de crimes praticados por magistrados ou promotores (investigações presididas por órgãos de cúpula de cada carreira, conforme respectiva legislação orgânica: LC 35/79, art. 33, LC 75/93, art. 18 e Lei n. 8625, art. 41); investigações envolvendo autoridades com prerrogativa de foro (tramitam no Tribunal respectivo, ex: STF, Inq2411, Dj 25.4.2008). Há também investigações criminais administrativas realizadas por outros órgãos, como a Fazenda Pública, o Banco Central, e outros, devendo tais procedimentos ser encaminhados ao MP quando apurados ilícitos penais. Não há mais investigação judicial, da antiga lei de falências; hoje, a Lei 11.105/2005 não a prevê, aplicando-se as normas do CPP. Há, ainda, a possibilidade de investigação por conta do próprio Ministério Público. Em que pese divergência no âmbito do STF, decisões recentes são favoráveis à possibilidade (HC 91661). O STF aplica a Teoria dos Poderes Implícitos, para justificar o posicionamento. A CF/88, ao prever as funções institucionais do MP, no art. 129, prevê, além de exercer o controle externo da atividade policial - o que só pode se relacionar com os procedimentos investigatórios - (inciso VII), em que pese não haja hierarquia, presume-se, também lhe atribua a competência para suprir eventuais procedimentos não realizados ou realizados de forma insuficiente. Pode também o MP requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial (VIII); ora, se pode requisitar, teria também o poder de realizá-las. Ainda que não haja um procedimento legal previsto (assim como o inquérito no CPP), a CF prevê a possibilidade de exercício de "outras funções que lhe forem atribuídas" (inciso IX); assim, desde que com base em lei, sem usurpação das atribuições da autoridade policial (leia-se: no caso de haver inquérito em andamento, não caberia), pode sim o MP realizar investigação criminal. A LC 75/93, em seus arts. 7º, II, e 8º, prevê várias diligências investigatórias de atribuição do MPF. Além disso, a Lei nº 8625/93, lei orgânica nacional do MP, em seu art. 26, também explicita várias diligências investigatórias que podem ser por este realizadas. Nesse sentido STJ HC 190917; Súmula 234 do STJ. O STF admite a atividade investiga supletiva do parquet, desde que obedecidos “os limites e controles ínsitos a esta instituição”, não podendo ser “ampla e irrestrita, sem qualquer controle, sob pena agredir direitos fundamentais”. “O entendimento de que as investigações realizadas no seio daquela instituição devam ser, necessariamente, subsidiárias, ocorrendo, apenas, quando não for possível, ou recomendável, que se efetivem pela própria polícia.”.(HC 93930 / RJ, Min. Gilmar Mendes, segunda turma,DJE 03-02-2011).
Crimes contra a ordem tributária: a Lei 9.430/96 não institui a condição de procedibilidade da ação penal pública para a persecução dos crimes contra a ordem tributária, não se podendo falar em subordinação da atuação do Ministério Público ao julgamento da instância administrativa. Entretanto, o STF vem exigindo o encerramento do procedimento fiscal para a constituição ou não do crédito tributário, como condição objetiva de punibilidade, rejeitando as denúncias oferecidas antes da conclusão final administrativa à conta de ausência de justa causa.
Características do Inquérito Policial: 1- É uma peça escrita – artigo 9º, CPP. 2- É instrumental – o Estado pode se valer de outros meios para obter esses elementos, por isso é instrumento, em regra. 3 - É uma peça dispensável – o titular da ação penal pode dispensar o inquérito (art. 27, CPP). 4 - É uma peça sigilosa – artigo 20, CPP. Vale ressaltar que a Lei 12.681/2012 alterou o artigo 20 do CPP, passando a prever, expressamente, além do sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade, que a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes.
A quem não se opõe esse sigilo? Quem tem acesso ao inquérito mesmo ante o sigilo? Juiz e promotor. Quanto ao advogado – CF art. 5º, LXIII. Não é só o preso que tem direito a advogado, mas qualquer pessoa investigada. Se a CF assegura a assistência de um advogado, como se poderia ter essa assistência preservada se o advogado não tivesse acesso ao inquérito? O advogado tem acesso às informações já introduzidas nos autos do inquérito, e não em relação às diligências em andamento (artigo 7º, XIV, Lei 8.906/94 – Estatuto da OAB). A súmula vinculante n. 14 tem o seguinte teor: “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Observação: se, nos autos do inquérito, houve quebra de sigilo de dados, quanto a tais informações, só terá acesso o advogado com procuração nos autos (HC 82.354 e HC 90.232 STF). Pergunta de prova: delegado negou acesso aos autos a advogado com procuração, pode impetrar habeas corpus? Ou seria cabível mandado de segurança? O correto seria mandado de segurança, mas pode impetrar também habeas corpus. Para o STF, sempre que houver constrangimento à liberdade de locomoção, mesmo que potencial, será cabível o uso do habeas corpus. Exemplos: quebra ilegal de sigilo bancário (pode impugnar por HC) e negativa de acesso do advogado aos autos de inquérito (pode impugnar por HC). Contudo, o livre acesso aos autos do inquérito não pode ser autorizado pela autoridade investigante, pois os dados de outro investigado ou as diligências em curso são materiais sigilosos a terceiros (RMS 31.747-SP, 11/10/2011). 5- É uma peça inquisitiva – não há contraditório, tampouco ampla defesa. 6- É uma peça informativa – visa à colheita de elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar

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