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PRINCÍPIOS E FONTES FORMAIS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Conceito e autonomia 1. Ramo da ciência jurídica, constituído por um sistema de princípios, normas e instituições próprias, que tem por objeto promover a pacificação justa dos conflitos decorrentes das relações jurídicas tuteladas pelo direito material do trabalho e regular o funcionamento dos órgãos que compõem a justiça do trabalho – Carlos Henrique Bezerra Leite. 2. Com relação à autonomia do direito processual do trabalho surgem duas correntes: a. Monista � minoritária, defende que que o direito processual é unitário, formado por normas que não diferem ao ponto de justificar a divisão e a autonomia do processo civil, processo penal e processo do trabalho. b. Dualista � Majoritária, sustenta a autonomia do direito processual do trabalho perante o direito processual comum, uma vez que o processo do trabalho possui regulamentação própria na CLT, sendo dotado de princípios e peculiaridades que o afastam do processo comum. Eficácia da lei processual trabalhista no tempo e no espaço 1. Em regra, as disposições sobre processo do trabalho entram em vigor a partir da data de publicação da lei, com eficácia imediata, alcançando todos os processos em andamento. 2. Adota-se o sistema do isolamento dos atos processuais, ou seja, os atos já praticados sob a vigência da lei anterior permanecem imodificáveis, sendo os ainda não realizados regidos pela lei nova. 3. Vigora o princípio da irretroatividade da norma processual trabalhista. Entretanto, normas que disponham sobre jurisdição e competência terão aplicação imediata, regendo o processo e julgamento dos fatos anteriores à sua promulgação. 4. No Brasil, prevalece o princípio da territorialidade, segundo o qual, vigorando a lei trabalhista, ela será aplicável a todos os processos em território nacional, sendo aplicada tanto aos brasileiros como aos estrangeiros residentes no país. Princípios constitucionais aplicáveis ao processo do trabalho 1. Os princípios desempenham uma tríplice função: informativa, normativa e interpretativa. 2. Devido processo legal � art. 5, LIV, dispondo que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. É o princípio garantia mais importante do sistema processual, do qual decorrem todos os outros princípios. Trata-se do respeito às regras do jogo, no qual as partes e o Estado, e principalmente este, comprometem-se a não infringirem nos direitos das pessoas sem que haja a devida legitimação pelo processo. 3. Dignidade da pessoa humana � impõe ao julgador o dever de resguardar e promover a dignidade humana, sem a qual direito algum existe. 4. Contraditório � Passa a ser a efetiva garantia de participação das partes no desenvolvimento de todo o litígio, mediante a possibilidade de influenciarem no convencimento do magistrado 5. Ampla defesa � complementa o contraditório, é a oferta de defesa, que é efetivada pelo contraditório. É possibilitar a parte que utilize de todos os meios LXXVIII da CF. 6. Primazia da decisão de mérito � o CPC inova ao trazer que as partes tem direito à solução integral do mérito, determinando assim, que em qualquer juízo seja priorizada a decisão de mérito. 7. Princípio da Igualdade � todos são igual perante a lei e também no processo, de modo que devem ser garantidos às partes a paridade de armas. Didier ainda desdobra esse princípio em quatro aspectos: a) imparcialidade do juiz, b) igualdade no acesso à justiça, c) redução das desigualdades que dificultem o acesso à justiça, d) igualdade no acesso às informações necessárias ao exercício do contraditório. 8. Boa-fé processual � a boa-fé objetiva caracteriza-se pelo modo de agir de acordo com a ética e moral, analisam-se suas ações e não a sua intenção, diferentemente da boa-fé subjetiva que é a crença do sujeito que está agindo licitamente. A doutrina menciona quatro casos de aplicação do princípio: a) proibição de comportamento doloso, b) proibição da venire contra factum proprium, c) proibição do abuso de direito, d) supressio processual 9. Cooperação � propõe um diálogo entre as partes e o juiz, devendo a tramitação do processo ser conduzida por ambos com lealdade 10. Respeito ao autorregramento da vontade das partes � versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. 11. Juiz natural � ninguém será processado, senão pela autoridade competente, art. 5, LIII da CF e não haverá juízo ou tribunal de exceção, art. 5º, XXXVII. Logo, alguém só poderá ser julgado por juiz devidamente investido anteriormente ao fato. a. O STF considera inaplicável o princípio do promotor natural ao direito brasileiro, HC 90.277-DF 12. Motivação das decisões � art. 93, IX da CF, todas as decisões do Poder Judiciário serão públicas, motivadas e fundamentadas, sob pena de nulidade. a. Quanto à publicidade, resguardam-se apenas as causas que tenham o segredo de justiça, preservando a intimidade do interessado. 13. Duplo grau de jurisdição � implica a possibilidade do reexame de uma demanda pela instância superior, mediante a interposição de um recurso em face da decisão do órgão de instância inferior. a. A CF admitiu a existência de instância única, pela previsão do art. 102, I, b, onde não existe a possibilidade de julgamento por órgão superior, uma vez que as ações previstas são de competência originária do STF. b. No processo trabalhista há um exemplo de julgamento em única instância, trata-se dos dissídios de alçada, que são julgados em única instância pelas varas do trabalho, não sendo admitido qualquer recurso, salvo se envolver matéria constitucional 14. Inafastabilidade de jurisdição � a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça à direito. Princípios comuns ao processo civil e ao processo do trabalho 1. A previsão do art. 769 da CLT determina que, para aplicação do processo comum ao processo do trabalho é necessário a observância de dois requisitos: a) a omissão da CLT quanto ao tema, b) a compatibilidade da norma civil aos princípios gerais do processo do trabalho. 2. Concentração dos atos processuais � objetiva que a tutela jurisdicional seja prestada no menor tempo possível, concentrando os atos processuais em uma única audiência. 3. Oralidade � consubstancia-se na realização de atos processuais pelas partes e pelo próprio magistrado na audiência, de forma verbal, oral. Exemplos: a. Leitura da reclamação – art. 847 da CLT b. Defesa oral em 20 minutos c. 1ª e 2ª tentativa de conciliação d. Interrogatório das partes e. Oitiva das testemunhas 4. Irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias � as decisões interlocutórias não são recorríveis de imediato, somente permitindo a apreciação de seu merecimento em recurso da decisão definitiva. a. Súmula nº 214 do TST DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADE (nova redação) - Res. 127/2005, DJ 14, 15 e 16.03.2005 Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT. 5. Conciliação � Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciaçãoda justiça do trabalho serão sempre sujeitos à conciliação, art. 764 da CLT. a. No procedimento comum, a proposta de conciliação é feita em dois momentos: a) após a abertura da audiência, b) após as razões finais. b. Cabe ao juiz do trabalho, ao celebrar o acordo, verificar a observância das normas de proteção ao trabalhador, podendo o magistrado recusar a homologação do acordo quando o mesmo representar, em verdade, renúncia de direitos pelo empregado (súmula 418 do TST). c. O acordo homologado vale como decisão irrecorrível para as partes, salvo para a previdência social quanto às contribuições que lhe forem devidas (art. 876 da CLT). 6. Juspostulandi da parte � os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a justiça do trabalho e acompanhar as suas reclamações (art. 791 da CLT). a. Entretanto, esse direito é restrito à atuação apenas até os TRT´s, a atuação perante o TST não segue essa regra, ver súmula 425 do TST. b. O juspostulandi da parte é restrito às ações que envolvam relação de emprego. 7. Impugnação especificada � o reclamado deve manifestar-se precisa e especificamente sobre os fatos narrados na petição inicial, não se admitindo a defesa por negação geral. 8. Princípio da proteção � também é aplicável ao processo do trabalho, cabendo destacar os seguintes exemplos: a. Gratuidade de justiça b. Impulso oficial nas execuções trabalhistas 9. Verdade real � também denominado primazia da realidade, segundo o qual prevalece o mais provável do fato real ao invés daquilo trazido ao processo por meio formal. 10. Normatização coletiva � trata-se do Poder Normativo da justiça do trabalho, aplicado aos dissídios coletivos, mas que só pode ser exercido se ambas as partes concordarem com o ajuizamento do dissídio coletivo. 11. Extrapetição � permite que o juiz, nos casos expressamente previstos em lei, condene o réu em pedidos não contidos na petição inicial 12. Non reformatio in pejus � é vedado ao tribunal, no julgamento de um recurso, proferir decisão mais desfavorável ao recorrente, do que aquela recorrida. a. A parte da sentença que não foi recorrida transitará em julgado b. As questões de ordem pública poderão ser conhecidas de ofício pelo tribunal. 13. Perpetuatio jurisdicionis � a competência é definida no momento da distribuição ou do registro, salvo na hipótese de nova lei suprimir o órgão judicial ou alterar a competência absoluta. 14. Estabilidade da lide � possibilita que o autor, até a citação possa aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu.
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