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1 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Problema do Problema: Como ajudar Astolfo a compreender o problema de saúde pública, tendo em vista as doenças emergentes e reemergentes no país? Objetivos: Conceituar e diferenciar doenças emergentes e reemergentes; Conceituar e diferenciar reservatório, criadouro, vetor e agente etiológico; Descrever parâmetros epidemiológicos como prevalência e incidência, sazonalidade, surto, epidemia e endemia, casos suspeitos, confirmados e descartados, relacionados às doenças; Diferenciar e designar as funções dos tipos de Agentes de Saúde; Descrever os ciclos dos vetores das doenças: Febre Amarela, Dengue, Leishmaniose, Malária, Chagas, Zika, Chikungunya e Filariose; Explicar o ciclo de vida e a fisiopatologia das seguintes doenças: Malária, Leishmaniose, Chagas, Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela e Filariose; Elucidar as medidas de controle estatal e individual das doenças. CONCEITOS Doenças Emergentes: Doença emergente é o surgimento ou a identificação de um novo problema de saúde ou um novo agente infeccioso como, por exemplo, a febre hemorrágica pelo vírus Ebola, a AIDS, a hepatite C, a encefalite espongiforme (doença da vaca louca) ou microrganismos que só atingiam animais e que agora afetam também seres humanos como o vírus da Febre do Nilo Ocidental, o hantavírus e o vírus da influenza aviária (A/H5N1). Doenças Reemergentes: Doenças reemergentes indicam mudança no comportamento epidemiológico de doenças já conhecidas, que haviam sido controladas, mas que voltaram a representar ameaça à saúde humana. Inclui-se aí a introdução de agentes já conhecidos em novas populações de hospedeiros suscetíveis. Na história recente do Brasil, por exemplo, registra-se o retorno da dengue e do cólera e a expansão da leishmaniose visceral. Reservatório: São o homem, os animais, as plantas, o solo e qualquer matéria orgânica inanimada onde vive e se multiplica um agente infecioso, sendo vital para este a presença de tais reservatórios e sendo possível a transmissão para outros hospedeiros (OMS). O conceito de reservatório vivo, de alguns autores, é relacionado com a capacidade de manter a infecção, sendo esta pouco patogênica para o reservatório. 2 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Criadouro: Na zona urbana os principais criadouros (depósitos) são os recipientes artificiais descartados indiscriminadamente a céu aberto pela população e que servem como locais de acúmulo da água da chuva. Desta forma todo e qualquer depósito deve ser protegido a fim de garantir a não atração e proliferação do vetor. Os objetos e/ou materiais inservíveis devem ser eliminados, em primeiro lugar pelos moradores e posteriormente pelos Agentes de Controle de Vetor nas inspeções de rotina. Os criadouros são principalmente os pneus, latas, vidros, garrafas, vasos de flores, pratos de vasos, caixas de água, tonéis, latões, cisternas, piscinas, tampinhas de garrafas, bebedouros de animais, entre outros. Muitas vezes, os pneus são responsáveis por reinfestações à distância. Por esta razão recomenda-se sua guarda em local coberto e protegido da chuva. A redução de recipientes que possam servir como criadouros é ainda o melhor método para se prevenir a disseminação de mosquitos e, consequentemente, de doenças transmitidas por eles. Vetor: É um artrópode, molusco ou outro veículo que transmite o parasito entre dois hospedeiros. Vetor Biológico. É quando o parasito se multiplica ou se desenvolve no vetor. Exemplos: o T cruzi, no T infestam; o S. mansoni, no Biomphalaria glabrata. Vetor Mecânico. É quanto o parasito não se multiplica nem se desenvolve no vetor, este simplesmente serve de transporte. Ex.: Tunga penetram veiculando mecanicamente esporos de fungo. Agente Etiológico: É o agente causador ou responsável pela origem da doença. Pode ser um vírus, bactéria, fungo, protozoário, helminto... Prevalência: Termo geral utilizado para caracterizar o número total de casos de uma doença ou qualquer outra ocorrência numa população e tempo definidos (casos antigos somados aos casos novos). Ex.: no Brasil (população definida), a prevalência da esquistossomose foi de 8 milhões de pessoas em 1992. Incidência: É a frequência com que uma doença ou fato ocorre num período de tempo definido e com relação à população (casos novos, apenas). Exemplo: a incidência de piolho (Pediculus humanus) no Grupo Escolar X, em Belo Horizonte, no mês de dezembro, foi de 10%. (Dos 100 alunos com piolho, 10 adquiriram o parasito no mês de dezembro.) Sazonalidade: 3 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Sazonal é um adjetivo que se refere ao que é temporário, ou seja, que é típico de determinada estação ou época. A sazonalidade de um evento representa que este costuma ocorrer sempre num momento temporal específico. Epidemia ou Surto Epidêmico: É a ocorrência, numa coletividade ou região, de casos que ultrapassam nitidamente a incidência normalmente esperada de uma doença e derivada de uma fonte comum de infecção ou propagação. Quando do aparecimento de um único caso em área indene de uma doença transmissível (p. ex.: esquistossomose em Curitiba), podemos considerar como uma epidemia em potencial, da mesma forma que o aparecimento de um único caso onde havia muito tempo determinada doença não se registrava (p. ex.: varíola, em Belo Horizonte). Endemia: É a prevalência usual de determinada doença com relação a área. Normalmente, considera-se como endêmica a doença cuja incidência permanece constante por vários anos, dando uma ideia de equilíbrio entre a doença e a população, ou seja, é o número esperado de casos de um evento em determinada época. Exemplo: no início do inverno espera-se que, de cada 100 habitantes, 25 estejam gripados. Casos Suspeitos: O indivíduo que apresenta alguns sinais e sintomas sugestivos de um grupo de agravos que compartilha a mesma sintomatologia. Exemplo: pessoa que apresenta quadro agudo de infecção, independentemente da situação vacinal. Casos Prováveis: Um caso clinicamente compatível, sem identificação de vínculo epidemiológico ou confirmação laboratorial. Casos Confirmados: Um caso que é classificado como confirmado para os propósitos de notificação e segundo os seguintes critérios: Clínico: é o caso que apresenta somente os achados clínicos compatíveis com a doença, cujas medidas de controle foram efetuadas. Laboratorial: é o caso que apresentou teste laboratorial reativo para detecção de vírus, bactérias, fungos ou qualquer outro microrganismo. Vínculo epidemiológico: um caso no qual: a) o paciente tem tido contato com um ou mais pessoas que têm/tiveram a doença ou tem sido exposto a uma fonte pontual de infecção (i.e., uma única fonte de infecção, tal 4 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 como um evento que leva a um surto de toxinfecção alimentar, para a qual todos os casos confirmados foram expostos) e b) história de transmissão do agente pelos modos usuais é plausível. Um caso pode ser considerado vinculado epidemiologicamente a outro caso confirmado se pelo menos um caso na cadeia de transmissão é confirmado laboratorialmente. Casos Descartados: Aquele caso que não atende aos requisitos necessários à sua confirmação como uma determinada doença. ACE: Agente de Combatea Endemias. Tem com atribuição o exercício de atividades de vigilância, prevenção e controle de doenças, e promoção à saúde, desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob a supervisão do gestor local. Dentre as ações estão: vistoria de residências, depósitos, terrenos baldios e estabelecimentos comerciais para buscar focos endêmicos; inspeção de caixas d’agua, calhas, telhados; aplicação de larvicidas e inseticidas; orientação quanto a prevenção e tratamento de doenças infecciosas e recenciamento de animais (cães e leishmaniose, por exemplo). ACS: Agente Comunitário de Saúde. Tem como atribuição o exercício de atividades de prevenção de doenças e promoção de saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas. DOENÇAS Doença de Chagas: Descrita em 1909 por Carlos Chagas, que foi pesquisador e diretor do Instituto Oswaldo Cruz (que deu origem à atual Fiocruz), a doença de Chagas também é conhecida como tripanossomíase por Trypanosoma cruzi ou tripanossomíase americana (terminologia adotada pela Nomenclatura Internacional de Doenças, a NID). Diz-se tripanossomíase qualquer enfermidade causada por protozoários do gênero Trypanosoma, que parasitam o sangue e os tecidos de pessoas e animais. O Trypanosoma geralmente é transmitido de um hospedeiro a outro por insetos – no caso humano, o principal vetor é um percevejo popularmente conhecido como barbeiro ou chupão (insetos das espécies Triatoma infestans, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus). O Trypanosoma cruzi é transmitido no ato de alimentação do vetor (transmissão vetorial clássica). Assim que o barbeiro termina de se alimentar, ele defeca, eliminando os protozoários 5 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 e colocando-os em contato com a ferida e a pele da vítima. A doença de Chagas também pode ser transmitida por transfusão de sangue ou durante a gravidez (entre o terceiro e quinto mês), da mãe contaminada para o filho. Outro modo de transmissão é pela ingestão de alimentos contaminados com vetores triturados ou com seus dejetos. Em ambientes desmatados ou alterados também pode haver transmissão vetorial. Estima-se que existam aproximadamente 12 milhões de portadores da doença crônica nas Américas, cerca de 2 a 3 milhões no Brasil. Ainda não existe vacina contra a doença de Chagas e a melhor maneira de enfrentá-la é com prevenção e controle, combatendo sistematicamente os vetores, mediante o emprego de inseticidas eficazes, construção ou melhoria das habitações de maneira a torná-las inadequadas à proliferação dos vetores, eliminação dos animais domésticos infectados, uso de cortinados nas casas infestadas pelos vetores, controle e descarte do sangue contaminado pelo parasita e seus derivados. Ciclo dentro do vetor Ao ser ingerido pelo vetor, o T.cruzi passa por uma sequência irreversível de transformações ao longo do tubo digestivo do inseto. Desse modo, as formas sanguíneas ingeridas transformam-se formas arredondadas e em epimastigotas; passando ao intestino médio processa-se a multiplicação dos epimastigotas, que em geral se perpetua por toda existência do vetor; finalmente, os epimastigotas atingem o reto, onde se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos, que são eliminados com as dejeções do inseto. Ao atingirem o reto, epimastigotas e tripomastigotas ficam frouxamente aderidos ao epitélio da glândula retal, sendo expulso junto com as fezes e a urina durante ou após o repasto sanguíneo. Essa eliminação dos estágios evolutivos do T.cruzi faz-se pelo fluxo da fase líquida do sangue ingerido pelo inseto, que, participaria também do processo de diferenciação de epimastigotas e tripomastigotas. (Dias, 1997) Qualquer que seja o mecanismo de transmissão do T.cruzi no hospedeiro vertebrado, o tripomastigota tem necessariamente de penetrar uma célula a fim de cumprir o ciclo evolutivo. Tem tropismo por: musculatura lisa e estriada, macrófagos, células epiteliais, fibroblastos. Após a penetração na célula hospedeira, o tripomastigota se diferencia em amastigota, que, após um período de latência de 20 a 30 horas, inicia o seu processo de divisão binária intracelular, a qual ocorre a cada 12 horas. O número de mastigotas intracelular varia entre limites de 50 a 500, dependendo do tamanho da célula hospedeira, das características das cepas do T.cruzi e do número de tripomastigotas que concomitantemente se interioriza na célula. A célula parasitada rompe-se e libera os tripomastigotas que infectam células vizinhas ou caem na corrente circulatória, disseminando-se para penetrar nas células de diferentes órgãos e tecido, repetindo o ciclo acima descrito. Sintomas / Diagnóstico Normalmente a fase aguda é assintomática e inaparente. Quando aparente, o quadro clínico da infecção surge de 5 a 14 dias após a transmissão pelo vetor e 30 a 40 dias para as infecções por transfusão sanguínea, mas as manifestações crônicas da doença de Chagas aparecem mais tarde, na vida adulta, 20 a 40 anos depois da infecção original. O quadro grave é caracterizado por febre de intensidade variável, mal-estar, inflamação dos gânglios linfáticos e inchaço do fígado e do baço. Pode ocorrer e persistir durante até oito semanas uma reação inflamatória no local da penetração do parasito (inchação, edema), conhecida como chagoma. O edema inflamatório unilateral das pálpebras (sinal de Romaña) ocorre em 10% a 20% dos casos quando a contaminação ocorre na mucosa ocular. Em alguns casos há manifestações fatais, ou que podem constituir uma ameaça à vida, incluindo inflamação do coração e inflamações que comprometem a meninge e o cérebro. A fase crônica sintomática decorre com maior frequência de lesões cardíacas, com aumento do volume do coração, alterações do ritmo de contração, e comprometimento do tubo digestivo, com inchação do esôfago e do estômago. 6 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Na fase aguda e nas formas crônicas da doença de Chagas o diagnóstico do agente causador poderá ser realizado pela detecção do parasito por meio de métodos laboratoriais de visualização do parasito direta ou indiretamente e pela presença de anticorpos no soro, por meio de testes específicos, conhecidos como imunofluorescência indireta (IFI), hemaglutinação indireta (HAI) e enzimas (Elisa). Testes de maiores complexidades como o teste molecular, utilizando reação em cadeia da polimerase (PCR) acoplado à hibridização com sondas moleculares, e o western blot (WB) têm apresentado resultados promissores e podem ser utilizados como teste confirmatório em qualquer fase da doença. A doença crônica é majoritariamente benigna, não trazendo maiores problemas para 7 em cada 10 portadores. Nos outros 3 podem ocorrer problemas cardíacos, digestivos ou neurológicos, nessa ordem de frequência. No Brasil a cardiopatia da doença de Chagas é uma importante causa de morte entre adultos de 30 a 60 anos e uma grande causa de implante de marca-passo cardíaco e de transplante de coração. Fase Aguda Após a contaminação, os tripomastigotas invadem células preferencialmente do sistema macrofágico-mononuclear. Ai realizam os primeiros ciclos intracelulares, num período de incubação de 5 a 7 dias, a partir do qual grande quantidade de tripomastigotas cai na corrente sanguínea e linfática, então se disseminando por todo o organismo com preferência ao miocárdio (miocardite difusa). No tubo digestivo destaca-se a miosite focal e comprometimento dos plexos nervosos. No sistema nervoso, além dos sistemas autônomos já referidos, nos casos mais graves a invasão do espaço meníngeo, sobrevindo uma meningoencefalite multifocal de células mononucleadas. Muitosoutros órgãos e sistemas podem ser acometidos na fase aguda, porem com baixa ou nenhuma repercussão clínica. As manifestações gerais são de febre (pouco elevada), mal-estar geral, cefaleia, astenia, hiporexia, edema, hipertrofia de linfonodos. Frequentemente ocorre hepatoesplenomegalia. Quando existe porta de entrada aparente, ela pode ser ocular (Sinal de Romaña) ou cutânea (Chagoma de Inoculação). O Sinal de Romaña, é um edema bipalpebral (que, às vezes, se expande à face), elástico indolor, de início geralmente brusco, coloração róseo violáceo das pálpebras, congestão conjuntival, enfartamento dos linfonodos satélites (pré-auriculares, parotídeos ou submaxilares), e com menos frequência secreção conjuntival e dacrioadenite. O Chagoma de Inoculação é uma formação cutânea ligeiramente saliente, arredondada, eritematosa, dura, incolor, quente e circundada por edema elástico, assemelhando-se a um furúnculo que não supura, mas que às vezes pode exulcerar. Fase Crônica Indeterminada Após a fase aguda, a maioria dos pacientes evolui durante uma ou duas décadas nesta forma indeterminada, na qual, embora exista a infecção ativa, praticamente não há lesões clinicamente demonstráveis e os órgãos e sistemas se encontram preservados em sua anatomia e sua reserva funcional. Via de regra, após longo período, uma parte desses pacientes evolui para uma forma cardíaca ou digestiva. Forma Cardíaca: As principais lesões são ao nível do miocárdio, com importante destruição de miocélulas e do sistema excitomotor, o que origina as síndromes básicas, respectivamente, de insuficiência cardíaca e arritmias. Via de regra, depois de instalada, a cardiopatia chagásica crônica tem caráter progressivo e tende agravar-se pela reiterada 7 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 superposição da inflamação, da destruição celular e da fibrose; fenômeno de estase e microembolias na microcirculação potenciam a deterioração funcional, coadjuvados por uma verdadeira subversão na arquitetura miocelular. Hipertrofia e dilatação exagerada das miocélulas remanescentes, em caráter compensatório, acabam por acentuar a perda funcional, caminhando o paciente para um quadro de cardiomiopatia dilatada, agravada pela fibrose. Forma Digestiva: Acometendo todo o tubo digestivo, as lesões predominantes no esôfago e colón terminal, exatamente aqueles segmentos que trabalham com conteúdos mais sólidos, levando as alterações motoras, anatômicas de absorção e secretórias. O segmento pode apresentar-se absolutamente normal (estágios iniciais, ocorrendo somente disfunção motora) ou progressivamente dilatado (megaesôfago, megacólon, megaestômago) e alongado (dolico-megaesôfago). Hipertonia e disfunção motora do esfíncter inferior do estomago estão presentes já no início da disfunção motora. No colón a complicação frequente e grave nos casos mais avançados é uma torção obstrutiva da alça, mais comum na sigmoide (vólvulo). As alterações do esôfago são sempre precedentes as do colón, achando-se ambas frequentemente associadas nos pacientes mais idosos. Alterações no Sistema Nervoso: Foram reconhecidas lesões em células nervosas, na fase aguda da infecção, que afetaram intensamente quase todo o sistema nervoso central (SNC), incluindo o cérebro, o bulbo e a medula espinhal. No que diz respeito ao sistema nervoso autônomo (SNA), é estabelecido uma relação entre a desenervação dos órgãos do sistema digestório e das vias urinarias. A destruição neuronal e de fibras nervosas, observada em distintas fases da doença de Chagas, explica em grande parte o déficit de controle do SNA sobre os órgãos afetados. Prevenção Uma das formas de prevenção da doença de Chagas é evitar que o inseto “barbeiro” forme colônias dentro das residências. Vedação de frestas nos telhados e de buracos nas paredes são boas estratégias. Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, pode-se usar mosquiteiros ou telas metálicas. Recomenda-se usar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc.) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata. Para a prevenção da transmissão oral é importante seguir todas as recomendações de boas práticas de higiene e manipulação de alimentos, em especial aqueles consumidos in natura. Tratamento Existem dois medicamentos que são utilizados para tratar a infecção por Trypanosoma cruzi, o nifurtimox e o benzonidazol, porém, só um deles é usado no Brasil, o benzonidazol. O tratamento tem duração não menor que 30 dias e idealmente de 60 dias. O tratamento sintomático (clinico ou cirúrgico) objetiva reduzir as lesões e a morbimortalidade, especialmente ao nível da cardiopatia e das formas digestivas (principalmente nas fases crônicas). Via de regra, a imensa maioria dos chagásicos pode e deve ser tratada ambulatorialmente, ao nível da rede básica de saúde e em estabelecimento de nível secundário, reservando-se ao especialista os casos mais graves e os casos de solução cirúrgica. A revisão medica do chagásico, deve ser, inicialmente diária e depois semanal na fase aguda, anual na fase 8 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 crônica indeterminada, semestral na forma crônica cardíaca ou digestivas leves, e progressivamente amiúde nas formas graves, especialmente da cardiopatia. Leishmanioses: Leishmanioses representam um conjunto de enfermidades diferentes entre si, que podem comprometer pele, mucosas e vísceras, dependendo da espécie do parasito e da resposta imune do hospedeiro. São produzidas por diferentes espécies de protozoário pertencente ao gênero Leishmania, parasitas com ciclo de vida heteroxênico, vivendo alternadamente em hospedeiros vertebrados (mamíferos) e insetos vetores (flebotomíneos). Nos hospedeiros mamíferos, os parasitas assumem a forma amastigota (aflageladas), arredondada e imóvel (3-6 µm), que se multiplicam obrigatoriamente dentro de células do sistema monocítico fagocitário (especialmente macrófagos). À medida que as formas amastigotas vão se multiplicando, os macrófagos se rompem liberando parasitas que são fagocitados por outros macrófagos. Quanto aos insetos vetores são dípteros da subfamília Phlebotominae, pertencentes aos gêneros Lutzomyia – no Novo Mundo, e Phlebotomus – no Velho Mundo. Todas as espécies do gênero Leishmania são transmitidas pela picada de fêmeas infectadas. Nos flebotomíneos as formas promastigotas (15-23 µm) vivem no meio extracelular, na luz do trato digestivo. Ali, as formas amastigotas, ingeridas durante o repasto sanguíneo, se diferenciam em formas promastigotas (flageladas) que são posteriormente inoculadas na pele dos mamíferos durante a picada. Leishmaniose Tegumentar Americana Leishmaniose Tegumentar Americana é um grupo de enfermidades de evolução crônica, que acomete a pele, mucosas e estruturas cartilaginosas da nasofaringe, de forma localizada ou difusa, provocada pela infecção das células do sistema fagocítico mononuclear parasitado por amastigotas. Transmissores: Leishmania (Viannia) braziliensis: é a espécie mais prevalente no homem e pode causar lesões cutâneas e mucosas. É encontrada em todas as zonas endêmicas do País, desde o norte até o sul, tanto em áreas de colonizações antigas ou recentes, estando geralmente associada à presença de animais domésticos. Leishmania (V.) guyanensis: causa sobretudo lesões cutâneas. Ocorre na margem norte do Rio Amazonas em áreas de colonização recente, estando associada com desdentados e marsupiais como reservatórios primários. Leishmania (V.) naiffi: ocorre na Amazônia, nos Estados do Pará e Amazonas, tendoo tatu como reservatório natural. O parasita causa LTA de evolução benigna. Leishmania (V.) shawi: responsável por casos esporádicos no Amazonas e Pará tem como reservatórios vários animais silvestres como macacos, preguiças e procionídeos. 9 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Leishmania (V.) lainsoni: registrada apenas na Amazônia, tem a paca como animal suspeito de ser o reservatório natural. Leishmania (Leishmania) amazonensis: agente etiológico de LTA, incluindo a forma anérgica ou leishmaniose cutânea difusa. Seus reservatórios são principalmente roedores e marsupiais Com raras exceções, as leishmanioses constituem zoonoses de animais silvestres, incluindo marsupiais, desdentados, carnívoros e mesmo primatas e mais raramente animais domésticos. O homem representa hospedeiro acidental e parece não ter um papel importante na manutenção dos parasitas na natureza. Como a transmissão da LTA tem aumentado no ambiente doméstico e há registros de altas taxas de infecção em cães, cresce a suspeita de que esses animais possam atuar como reservatórios de Leishmania sp. Esta ocorrência simultânea em humanos e caninos indicam a necessidade de estudos adicionais para esclarecer o papel do cão no ciclo de transmissão do parasito. Ciclos Epidemiológicos: Silvestre – transmissão ocorre em área de vegetação primária. É fundamentalmente uma zoonose de animais silvestres, que pode acometer o ser humano quando este entra em contato com o ambiente silvestre, onde esteja ocorrendo epizootia. Ocupacional e Lazer – transmissão associada à exploração desordenada da floresta e derrubada de matas para construção de estradas, usinas hidrelétricas, instalação de povoados, extração de madeira, desenvolvimento de atividades agropecuárias, de treinamentos militares e ecoturismo. Rural e periurbano em áreas de colonização – relacionado ao processo migratório, ocupação de encostas e aglomerados em centros urbanos associados a matas secundárias ou residuais. Sintomas e Diagnóstico: A Leishmaniose Cutânea (LC) é definida pela presença de lesões exclusivamente na pele, que se iniciam no ponto de inoculação das promastigotas infectantes, através da picada do vetor, para qualquer das espécies de Leishmania causadoras da doença. A lesão primária é geralmente única, embora eventualmente múltiplas picadas do flebotomíneo ou a disseminação local possam gerar um número elevado de lesões. Surge após um período de incubação variável de 10 dias a três meses, como uma pápula eritematosa que progride lentamente para nódulo. Com a evolução, ganha destaque o notável polimorfismo das lesões sendo possível encontrar formas impetigóide, liquenóide, tuberculosa ou lupóide, nodular, vegetante e ectimatóide. São frequentes as ulcerações com bordas elevadas, enduradas e fundo com tecido de granulação grosseira, configurando a clássica lesão com borda em moldura. Classicamente as lesões de LTA possuem formas ulceradas, indolores, normalmente localizadas em áreas expostas da pele; com formato arredondado ou ovalado; base eritematosa; infiltrada e de consistência firme; bordas bem-delimitadas e elevadas; fundo avermelhado e com granulações grosseiras. Infecções bacterianas ou fúngicas secundárias podem estar presentes, cursando com dor e exsudato seropurulento. Na presença de lesões típicas de LTA o diagnóstico clínico e epidemiológico pode ser realizado, especialmente se o paciente procede de áreas endêmicas ou esteve presente em lugares onde há casos de leishmaniose. Porém, exames laboratoriais são fundamentais para atribuir o diagnóstico definitivo, pois muitas lesões fúngicas, ectimas e carcinomas podem apresentar lesões similares. 10 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Também são realizados exames parasitológicos, imunológicos, sorológicos e moleculares. Tratamento: A droga de primeira escolha no Brasil e no Mundo para o tratamento humano é o antimonial pentavalente, na forma de antimoniato de N-metilglucamina. Este antimonial é indicado para tratamento de todas as formas de leishmaniose tegumentar, embora as formas mucosas exijam maior cuidado, podendo apresentar respostas mais lentas e maior possibilidade de recidivas. Prevenção: O controle da LTA deve ser abordado, de maneira abrangente, sob os aspectos da vigilância epidemiológica, medidas de atuação na cadeia de transmissão, medidas educativas e medidas administrativas. As medidas de atuação na cadeia de transmissão, em virtude de suas peculiaridades, devem ser flexíveis e distintas, baseadas nas características epidemiológicas em particular. Nas áreas de maior incidência, as equipes do Programa Saúde da Família podem ter importante papel na busca ativa de casos e na adoção de atividades educacionais junto à comunidade. Nas áreas de perfil periurbano ou de colonização antiga deve-se buscar a redução do contato vetorial através de inseticidas de uso residual, do uso de medidas de proteção individual como mosquiteiros, telas finas nas janelas e portas (quando possível), repelentes e roupas que protejam as áreas expostas, e de distanciamento mínimo de 200 a 300 metros das moradias em relação à mata. Outra estratégia de controle seria a abordagem dos focos de transmissão peridomiciliar, implementando as condições de saneamento evitando o acúmulo de lixo (matéria orgânica) e de detritos que possam atrair roedores e pequenos mamíferos, somadas as melhorias das condições habitacionais. Aliadas a estas medidas deveriam ser valorizadas as atividades de capacitação continuada dos profissionais de saúde em todos os seus níveis. Leishmaniose Visceral Leishmaniose Visceral, ou Calazar (Kala-azar) é uma doença sistêmica grave que atinge as células do sistema mononuclear fagocitário do homem e animais, sendo os órgãos mais afetados o baço, fígado, linfonodos, medula óssea e pele. Transmissores: Os agentes causadores da Leishmaniose Visceral são protozoários tripanosomatídeos do gênero Leishmania, do subgênero Leishmania, com três espécies principais: Leishmania (Leishmania) donovani, presente no continente asiático, Leishmania (Leishmania) infantum, presente na Europa e África e Leishmania (Leishmania) chagasi nas Américas. A L.(L.) chagasi responsabilizada pela doença nas Américas é considerada por alguns autores espécie semelhante a L.(L.) infantum. Conforme as características de transmissão ela pode ser considerada como: - Leishmaniose Zoonótica com transmissão animal - vetor - homem, ocorre em regiões da L.chagasi/infantum. - Leishmaniose Antroponótica onde a transmissão é homem - vetor - homem, encontrada nas áreas L. donovani. 11 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Ciclo Epidemiológico: Até os anos 50 o padrão de transmissão era predominado pelas características de ambientes rurais e periurbanas. Nas últimas décadas a enfermidade tem apresentado mudanças importantes apresentando casos autócnes em centros urbanos como Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG), Palmas (TO), Fortaleza (CE), Mossoró (RN), Salvador (BA), Araçatuba (SP), Bauru (SP), Teresina (PI) e em outras cidades de pequeno, médio e grande porte de todas as regiões do Brasil, tornando-se endêmicas nestas regiões. Devido a sua incidência, a expansão geográfica para áreas livres da doença, a urbanização, re- emergência em focos endêmicos antigos e alta letalidade em humanos, principalmente em indivíduos não tratados ou com tratamentos tardios e em crianças desnutridas é uma das principais doenças de importância em saúde pública da atualidade. Sintomas: O período de incubaçãoé bem variável tanto no homem como no cão. No homem é de 10 a 24 meses com um período médio de 2 a 6 meses. No cão varia de 3 meses a vários anos, com média de 3 a 7 meses. No homem a doença se desenvolve progressivamente e conforme a fase de evolução, pode ser divida em: Período inicial: também chamada de fase “aguda” caracterizada pelo inicio do aparecimento dos sintomas que pode variar de paciente para paciente, mas na maioria dos casos inclui febre com duração inferior a quatro semanas, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. Período de estado: Caracteriza-se por febre irregular, geralmente associada a emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Apresenta um quadro clínico arrastado geralmente com mais de dois meses de evolução, na maioria das vezes associado ao comprometimento do estado geral. Período final: Caso não seja feito o diagnóstico e tratamento adequado, a doença evolui progressivamente, com febre contínua e comprometimento mais intenso do estado geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca), edema dos membros inferiores que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nestes pacientes o óbito é determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos. Diagnóstico e Tratamento: O diagnóstico é baseado nos achados clínico-epidemiológicos e laboratoriais. No homem a suspeita clínica se deve quando o paciente apresentar: febre e esplenomegalia associado ou não à hepatomegalia. Os medicamentos são os mesmos da LTA. Prevenção: O Programa Nacional de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral implementado pelo Ministério da Saúde tem por objetivo a redução da morbi-mortalidade e a letalidade da LV através das seguintes estratégias de ação: -Diagnóstico e tratamento precoce dos casos humanos. 12 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 -Atividades de educação em saúde inseridas em todos os serviços que desenvolvem as ações de controle da LV, requerendo o envolvimento efetivo de equipes multiprofissionais e multiinstitucionais com vistas ao trabalho articulado nas diferentes unidades de prestação de serviços. -Controle vetorial recomendado no âmbito da proteção coletiva, por meio da utilização de inseticidas de ação residual, dirigida apenas para o inseto adulto e do saneamento ambiental com limpeza e retirada de materiais orgânicos em decomposição. -Controle dos reservatórios, diagnóstico e eliminação de cães infectados e medidas para evitar a contaminação de cães sadios. A prática da eutanásia canina é recomendada a todos os animais sororreagentes e/ou parasitológico positivo. Para a realização da eutanásia, deve-se ter como base a Resolução n.º 714, de 20 de junho de 2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária, que dispõe sobre os procedimentos e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências. Filariose A filariose linfática (FL), doença parasitária crônica, é causada pelo verme nematóide Wuchereria bancrofti, sendo também conhecida como bancroftose. Sua transmissão se dá pela picada da fêmea do mosquito Culex quinquefasciatus infectado com larvas do parasito. Os vermes adultos causam lesões nos vasos linfáticos onde se desenvolvem e as lesões provocadas pela presença dos parasitos serão responsáveis pelo quadro clínico que se apresentará. Ciclo biológico: No mosquito: 1. Mosquito pica pessoa contaminada; 2. Após poucas horas, perdem a bainha de revestimento, atravessam a parede do estômago, caem na cavidade geral, alojam-se nos músculos torácicos e transformam-se em larva salsichóide ou L1; 3. Seis a 10 dias após o repasto infectante, ocorre a segunda muda originando a larva L2; 4. 10-15 dias depois, sofre a terceira muda transformando-se em larva infectante L3, medindo aproximadamente 2mm, que migra pelo inseto até alcançar a tromba ou probóscida; No homem: 1. Mosquito pica homem; 2. Inocula larva L3, essas migram para os vasos linfáticos e, sete a nove meses depois, tornam-se vermes adultos, com as fêmeas grávidas produzindo as primeiras microfilárias que vão para o sangue periférico do hospedeiro humano. Manifestações clínicas: Geralmente assintomática. O movimento dos vermes adultos vivos de W. bancrofti, localizados no sistema linfático, sinal da “dança das filárias”, pode ser visualizado em pacientes com ou sem microfilaremia, por meio do exame ultra-sonográfico. Essa visualização é mais freqüente em bolsa escrotal, constituindo achado de imagem ocasional em mamas e membros inferiores. Manifestações Agudas: 13 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Linfangiectasia subclínica (dilatação dos vasos linfáticos): presente Nos indivíduos portadores de vermes adultos vivos. Linfangite filarial aguda (LFA): a LFA produz um cordão subcutâneo visível, podendo ou não, ser acompanhado de sinais gerais como febre, cefaléia, fraqueza e dor muscular. A reação localizada é caracterizada pelo aumento do linfonodo ou pelo aparecimento de nódulo no trajeto do vaso linfático, associando-se ocasionalmente a sinais inflamatórios. Linfadenopatia: causada pelo enfartamento dos gânglios linfáticos comprometidos, os quais formam uma massa palpável compacta de superfície irregular, na qual não se identificam os gânglios isoladamente. Essa massa geralmente é indolor e localiza-se preferencialmente nas regiões inguinal, epitroclear e axilar. Síndromes de disfunção linfática: hidrocele e linfedema agudos resultam de uma obstrução parcial e temporária do vaso linfático, causada pela reação inflamatória desencadeada pela desintegração dos vermes adultos. Linfedema crônico: principalmente membros inferiores. Pode causar elefantíase. Quilúria: resulta da ruptura de vasos linfáticos dilatados e do extravasamento da linfa para o interior de qualquer porção excretora do trato urinário; a urina adquire então uma coloração leitosa. Eosinofilia pulmonar tropical (EPT): síndrome causada pela migração de microfilárias de W. bancrofti para o pulmão. Hematúria (presença de sangue na urina) Diagnóstico: Técnica de exame fresco. Técnica da gota espessa (mais usado). Técnica de concentração de Knott. Técnica de filtração em membrana de policarbonato. Esta técnica é considerada como o “padrão ouro” para investigação e quantificação da microfilaremia, antes, durante e após tratamento. Pesquisa de anticorpo (IgG4) Pesquisa de antígeno circulante filarial (Elisa) Técnica de imagem. Imunofluorescência indireta. Tratamento: Dietilcarbamazina mata e esteriliza os vermes adultos. Pode também ser utilizado o antiparasitário Ivermectina. Malária: A malária é uma doença infecciosa potencialmente grave causada por protozoários do gênero Plasmodium, que é transmitida de uma pessoa a outra pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles. Este mosquito tem como criadouro grandes porções de água (doce, para o Anopheles darlingi, e salobra, para o Anopheles aquasalis), por isso, no Brasil, a maior incidência da doença ocorre na região amazônica. Eles também têm maior atividade durante a noite, geralmente picando no interior das habitações. 14 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Ciclo: Tudo começa com a picada do mosquito fêmea (o macho não vive tempo suficiente para que se complete o ciclo). Este, antes de sugar o sangue, injeta a sua saliva que contéma forma infectante que se chama esporozoíto. Estes esporozoítos desaparecem rapidamente da corrente sanguínea (cerca de 1h) e vão para os hepatócitos (células do fígado) onde ocorre o ciclo de reprodução. Os esporozoítos dividem-se e formam uma célula gigante multinucleada que se divide em várias células – merozoítos – e acaba por romper e lesar o hepatócito. Depois estes merozoítos voltam a entrar em novos hepatócitos e o processo se repete. Isto corresponde a uma fase de incubação (2 a 4 semanas em média) em que o doente não apresenta sintomas e que varia de espécie para espécie: 7 a 10 dias para o P. falciparum e 10 a 17 dias para o P. ovale e P. vivax. Alguns destes merozoítos, em vez de de entrarem para os hepatócitos, vão para a corrente sanguínea e parasitam os eritrócitos. Passamos a ter trofozoítos (forma infectante) em forma de anel de sinete. Este trofozoíto inicial vai amadurecer e vai sofrer processo de reprodução semelhante ao que ocorreu nos hepatócitos. Passamos a ter então uma célula gigante multinucleada que se divide nos tais merozoítos e que acabam por romper e lesar os eritrócitos. Estes merozoítos vão entrar em novos eritrócitos e o ciclo se repete. Alguns dos trofozoítos não entram para os eritrócitos e sofrem diferenciação em gametócitos. O mosquito quando pica alguém infectado com malária aspira sangue contendo gametócitos. Ao nível do seu intestino vai se realizar a fusão entre o macro-gameta (masculino) e o micro-gameta (feminino) e vai-se iniciar o ciclo sexuado do parasita no interior do mosquito, ou seja, o mosquito é o hospedeiro definitivo e o humano é apenas um hospedeiro intermediário. É da lise dos eritrócitos que provem a maioria dos sintomas da malária e que corresponde às fases de crise desta: febre, arrepios, tremores, mialgias intensas, mal-estar geral que dura entre 15 minutos a 1 hora. Malária falciparum Ao contrário de outras formas de malária, P. falciparum causa obstrução microvascular porque os eritrócitos infectados aderem às células vasculares endoteliais. Isquemia se desenvolve, resultando em hipoxia de tecido, em particular no cérebro, nos rins, nos pulmões e no trato GI. Hipoglicemia e acidose láctica são outras complicações potenciais. Sinais e sintomas Febre e rigidez – o paroxismo malárico, Anemia, Icterícia, Esplenomegalia, Hepatomegalia. O paroxismo malárico coincide com a liberação de merozoítas dos eritrócitos rompidos. O paroxismo clássico inicia-se com mal-estar, calafrios abruptos e febre subindo de 39 para 41°C, pulso rápido e filiforme, poliúria, cefaleia, mialgia e náuseas. Após 2 a 6 h, a febre diminui e ocorre sudorese profusa durante 2 a 3 h, seguida por fadiga extrema. A febre é frequentemente irregular no início da infecção. Em infecções estabelecidas, paroxismos típicos de malária ocorrem a cada 2 a 3 dias, dependendo da espécie; intervalos não são rígidos. Esplenomegalia em geral torna-se palpável ao final da primeira semana de doença clínica, mas pode não ocorrer com P. falciparum. O baço aumentado apresenta consistência frágil e propensão à ruptura traumática. P. falciparum provoca a doença mais grave por causa de seus efeitos microvasculares. É a única espécie com probabilidade de provocar doença fatal se não for tratada; pacientes não imunes podem morrer dentro de dias após o início dos sintomas. Pacientes com malária cerebral podem desenvolver sintomas que variam de irritabilidade a convulsões e coma. Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), diarreia, icterícia, sensibilidade epigástrica, hemorragias retinianas, malária álgida (uma síndrome semelhante a 15 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 choque) e trombocitopenia grave também podem ocorrer. Insuficiência renal pode ser o resultado de depleção de volume, obstrução vascular por eritrócitos parasitados ou deposição de imunocomplexos. P. vivax, P. ovale e P. malariae em geral não comprometem órgãos vitais. Mortalidade é rara e principalmente decorrente de ruptura esplênica ou de hiperparasitemia descontrolada em pacientes com asplenia. A evolução clínica com P. ovale é semelhante à de P. vivax. Em infecções estabelecidas, picos de temperatura ocorrem em intervalos de 48 h. Infecções de P. malariae na maioria das vezes não causam qualquer sintoma agudo, mas parasitemia de nível baixo pode persistir durante décadas e conduzir à nefrite mediada por imunocomplexos ou nefrose ou esplenomegalia tropical; quando sintomática, a febre tende a ocorrer em intervalos de 72 h. Diagnóstico Viajantes que apresentam febre e calafrios (em particular, acessos recorrentes) ao retornarem de uma região endêmica devem ser imediatamente avaliados com relação à malária. A maioria dos casos ocorre durante os primeiros 6 meses, mas o início pode levar até 2 anos ou, raramente, mais tempo. A malária é tipicamente diagnosticada com a identificação de parasitas em exame microscópico de amostras de sangue em esfregaços espessos ou finos. As espécies infectantes (que determinam a terapia e o prognóstico) são identificadas por meio de aspectos característicos nas amostras. Amostras de sangue devem ser repetidas em intervalos de 4 a 6 h, caso o esfregaço inicial seja negativo. Esfregaços finos de sangue corados com coloração de Giemsa permitem a avaliação da morfologia do parasita no interior dos eritrócitos e a determinação do percentual de parasitemia. A gota espessa é mais sensível, porém, mais difícil de preparar e interpretar à medida que os eritrócitos são lisados antes da coloração. Tratamento A decisão de como tratar o paciente com malária deve ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos: a) espécie de plasmódio infectante, pela especificidade dos esquemas terapêuticos a serem utilizados; b) idade do paciente, pela maior toxicidade para crianças e idosos; c) história de exposição anterior à infecção uma vez que indivíduos primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doença; d) condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde; e) gravidade da doença, pela necessidade de hospitalização e de tratamento com esquemas especiais de antimaláricos. Antimaláricos escolhidos pelos padrões conhecidos de resistência das cepas na área de aquisição. Malária é particularmente perigosa em crianças com < 5 anos de idade (a mortalidade é maior naquelas com < 2 anos), mulheres grávidas e visitantes não expostos previamente a áreas endêmicas. No caso de uma doença febril durante uma viagem, em uma região endêmica, é essencial que uma avaliação médica seja feita prontamente; quando isto não for possível, pode- se realizar automedicação com atovaquona-proguanil até a avaliação. 16 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Caso se suspeite de P. falciparum, a terapia deve ser iniciada imediatamente, até mesmo se a amostra inicial for negativa. P. falciparum e, mais recentemente, P. vivax tornaram-se progressivamente resistentes a drogas antimaláricas. Tratamento do ataque agudo Cloroquina é a droga de escolha contra P. malariae, P. ovale e P. falciparum e P. vivax sensíveis à cloroquina. A resistência à cloroquina é comum entre cepas de P. falciparum ao longo de áreas endêmicas. A resistência à cloroquina não é sempre completa, mas esta droga somente deve ser usada nos casos de malária adquirida em áreas onde a sensibilidade de Plasmodium sp. é conhecida. Dengue: Doença infecciosa febril aguda, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma como se apresente. Agente etiológico - O vírusda Dengue (RNA). Arbovírus do gênero Flavivirus, pertencente à família Flaviviridae, com quatro sorotipos conhecidos: DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4. Vetores hospedeiros. Os vetores são mosquitos do gênero Aedes. Nas Américas, o vírus da Dengue persiste na natureza, mediante o ciclo de transmissão homem → Aedes aegypti → homem. A primeira manifestação do Dengue é a febre, geralmente alta (39oC a 40oC), de início abrupto, associada à cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias, dor retro orbitária, com presença ou não de exantema e/ou prurido. Anorexia, náuseas, vômitos e diarreia podem ser observados por 2 a 6 dias. As manifestações hemorrágicas, como epistaxe, petéquias, gengivorragia, metrorragia, hematêmese, melena, hematúria e outras, bem como a plaquetopenia, podem ser observadas em todas as apresentações clínicas de Dengue. Alguns pacientes podem evoluir para formas graves da doença e passam a apresentar sinais de alarme da Dengue, principalmente quando a febre cede, precedendo manifestações hemorrágicas mais graves. É importante ressaltar que o fator determinante nos casos graves de Dengue é o extravasamento plasmático, que pode ser expresso por meio da hemoconcentração, hipoalbuminemia e/ou derrames cavitários. As manifestações clínicas iniciais da Dengue grave denominada de Dengue hemorrágica são as mesmas descritas nas formas clássicas da doença. Entre o terceiro e o sétimo dia do seu início, quando, da defervescência da febre, surgem sinais e sintomas como vômitos importantes, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, letargia, derrames cavitários (pleural, pericárdico, ascite), que indicam a possibilidade de evolução do paciente para formas hemorrágicas severas. Em geral, esses sinais de alarme precedem as manifestações hemorrágicas espontâneas ou provocadas (prova do laço positiva) e os sinais de insuficiência circulatória, que podem existir na FHD. A Dengue na criança, na maioria das vezes, apresenta- se como uma síndrome febril com sinais e sintomas inespecíficos: apatia, sonolência, recusa da alimentação, vômitos, diarreia ou fezes amolecidas. Transmissão - picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, no ciclo homem → Ae. aegypti → homem. Período de incubação - De 3 a 15 dias; em média, de 5 a 6 dias. Período de transmissibilidade - O homem infecta o mosquito durante o período de viremia, que começa um dia antes da febre e perdura até o sexto dia da doença. 17 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Complicações - O paciente pode evoluir para instabilidade hemodinâmica, com hipotensão arterial, taquisfigmia e choque. Diagnóstico - É necessária uma boa anamnese, com realização da prova do laço, exame clínico e confirmação laboratorial específica. A confirmação laboratorial é orientada de acordo com a situação epidemiológica: em períodos não epidêmicos, solicitar o exame de todos os casos suspeitos; em períodos epidêmicos, solicitar o exame em todo paciente grave ou com dúvidas no diagnóstico. Diagnóstico laboratorial: Específico - Virológico: tem por objetivo identificar o patógeno e monitorar o sorotipo viral circulante. Para realização da técnica de isolamento viral e reação em cadeia da polimerase (PCR), a coleta do sangue deve ser realizada até o quinto dia do início dos sintomas. Sorológico: a sorologia é utilizada para detecção de anticorpos anti-dengue e deve ser solicitada a partir do sexto dia do início dos sintomas. Inespecífico - Hemograma completo: recomendado para todos os pacientes com Dengue, em especial para aqueles que se enquadrem nas seguintes situações: o lactentes (menores de 2 anos), gestantes, adultos com idade acima de 65 anos, com hipertensão arterial ou outras doenças cardiovasculares graves, diabetes mellitus, DPOC, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, doença acidopéptica e doenças auto-imunes; coleta no mesmo dia e resultado em até 24 horas. Tratamento - é sintomático (com analgésicos e antipiréticos), sendo indicada hidratação oral ou parenteral, dependendo da caracterização do paciente Medidas de controle: se restringem ao vetor Aedes aegypti, uma vez que não há vacina ou drogas antivirais específicas. O combate ao vetor envolve ações continuadas de inspeções domiciliares, eliminação e tratamento de criadouros, associadas a atividades de educação em saúde e mobilização social. Chikungunya: Agente etiológico: vírus Chikungunya. Transmissão: picada Aedes aegypti. Quadro clínico: Dor de cabeça moderada Febre alta (> 38,5 oC) Dor articular moderada e intensa – artralgia Dor muscular intensa – mialgia Coceira leve Diagnóstico: PCR, PRNT (presença de anticorpos neutralizantes), teste sorológico, isolamento viral e hemograma (exame inespecífico). Alterações laboratoriais: Leucopenia com linfopenia, trombocitopenia, aumento de creatinina e CPK. 18 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Tratamento: Dipirona e paracetamol (alívio dor e febre) Cloridato de tramadol (dores moderadas e intensas) Hidratação Repouso Medidas preventivas: Eliminação de criadouros de larvas (água parada), repelentes e colocar telas em janelas e portas. Zika: Agente etiológico: vírus ZIKV Transmissão: picada da fêmea do Aedes aegypti Quadro clínico: Conjuntivite Pirexia (febre intermitente) Mialgia Artralgia Cefaléia Exantema maculopapular pruriginoso Adquirir este vírus durante a gestação pode acarretar diversas consequências como morte fetal, insuficiência placentária, restrições no crescimento fetal e lesões no sistema nervoso central. Estas lesões ocasionarão a microcefalia, por conta da apoptose dos neurônios pós-migratrórios. Diagnóstico: PCR (reação em cadeia da polimerase): permite identificar, de forma exata, a presença do DNA do agente causador da doença em amostras de sangue do paciente. Ela funciona fazendo com que um fragmento específico da molécula de DNA seja amplificado milhares de vezes em apenas algumas horas. Pode ser coletado sangue, urina, outros fluidos corporais, cabelo e fragmentos teciduais. Testes sorológicos: detectam de forma especifica antígenos ou anticorpos presentes na amostra do paciente. Eles agem capturando o antígeno ou anticorpo através de um substrato fixo (anticorpo ou antígeno correspondente) e marcando-os para reconhecimento, seja por fluorescência, absorbância ou outros métodos. Anticorpos IgM são sintetizados logo no início da resposta imunológica e sofrem um decréscimo com o tempo, até desaparecerem. Sendo o IgM, o principal marcador da infecção aguda. Os anticorpos IgG, por sua vez, levam mais tempo para iniciar sua produção, mas permanecem no organismo, geralmente de forma vitalícia, sendo um ótimo marcador de infecção passada. A análise dos titulos de IgG também pode determinar a ocorrência de uma reinfecção. Tratamento: Analgésicos e antipiréticos - não utilizar corticoesteróides Banhos frios para aliviar o prurido 19 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Hidratação da pele Medidas preventivas: Eliminação de criadouros de larvas (água parada), repelentes e colocar telas em janelas e portas. Febre Amarela: Ciclos de transmissão: O vírus da febre amarela (Flavivírus) mantém-se em dois ciclos básicos: um ciclo urbano simples do tipo homem-mosquito onde o Aedes aegypti responsabiliza-sepela disseminação da doença e outro silvestre complexo, onde várias espécies de mosquitos responsáveis pela transmissão diferem: na África, os mosquitos Aedes e na América os mosquitos Haemagogus e Sabethes. Ciclo urbano: neste ciclo, a transmissão pelo Aedes aegypti é feita diretamente ao homem sem necessitar da presença de hospedeiros amplificadores, ou melhor, o próprio homem infectado e em fase virêmica atua como amplificador e disseminador do vírus na população. Em geral, também é o homem que introduz o vírus numa área urbana. Uma vez introduzido o vírus no ambiente urbano, o paciente infectado desenvolverá viremia, pode expressar a doença e servir de fonte de infecção a novos mosquitos (Aedes aegypti). Assim, o ciclo se perpetua, até que se esgotem os suscetíveis ou se realize vacinação em massa da população para bloquear a transmissão. É importante lembra que o ciclo urbano é considerado erradicado, o último caso ocorreu no Acre em 1942. Fisiopatologia: Após a inoculação do vírus através da picada do mosquito infectado, este se replica, num primeiro momento, em linfonodos locais, células dendríticas, musculares estriadas, musculares lisas e fibroblastos. A multiplicação viral nos órgãos linfáticos produz a viremia, provocando a disseminação do vírus pelo organismo. Dessa forma, as lesões fisiopatológicas da febre amarela podem ser encontradas no fígado, rins, coração, baço e linfonodos, sendo o fígado o órgão mais afetado. O fígado → encontra-se pouco aumentado de volume e com tamanho normal, geralmente com consistência amolecida. Tipicamente são encontrados focos hemorrágicos subcapsulares e no parênquima hepático, além de degeneração gordurosa e necrose por coagulação dos hepatócitos em zona média do lóbulo hepático. Quando o vírus atinge o fígado, ele se replica rapidamente causando danos significativos às células hepáticas. No processo, as citocinas inflamatórias - proteínas segregadas pelas células especialmente do sistema imunológico - são liberadas em quantidades maciças, que logo ganham acesso à corrente sanguínea. As alterações renais → englobam lesões gordurosas com necrose tubular e síndrome nefrítica com acúmulo de material proteico nos túbulos contorcidos proximais. Ocorre também → infiltração gordurosa no miocárdio, envolvendo fibras musculares e até mesmo o nó sinoatrial e o feixe de Hiss. Nos casos mais graves de febre amarela → as alterações culminam em eventos que incluem o choque circulatório e a falência de múltiplos órgãos. As citocinas são as mais prováveis responsáveis pelos danos aos órgãos distantes, sugerem os achados da equipe de pesquisa. 20 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 Durante a fase aguda, o paciente tem febre e mialgia - não exatamente sintomas específicos da doença. Estes sintomas duram cerca de 48 horas. Enquanto a maioria das pessoas é capaz de resolvê-los, alguns entram em remissão em que a febre desaparece por cerca de 24 horas apenas para ser seguido pela fase tóxica, em que as cargas virais aumentam muito. Amarelamento da pele e dos brancos dos olhos. Quadro clínico: Nas áreas endêmicas as manifestações são leves e moderadas, confundindo com leptospirose, malária, hepatites virais, febre tifoide, mononucleose infecciosa, septicemias, púrpura trombocitopênica e acidentes por animais peçonhentos. Em aproximadamente 90% dos casos, o quadro clínico é assintomático ou oligossintomático. A febre amarela pode ser assintomática, leve, moderada, grave e maligna, com letalidade entre 5% a 10%, podendo atingir 50% nos casos graves, com manifestações icterohemorrágica e hepatorrenal. Forma leve: O quadro clínico é autolimitado com febre e cefaleia com duração de dois dias. Geralmente, não há direcionamento para o diagnóstico de febre amarela, exceto em inquéritos epidemiológicos, surtos e epidemias. Forma moderada: O paciente apresenta, por dois a quatro dias, sinais e sintomas de febre, cefaleia, mialgia e artralgia, congestão conjuntival, náuseas, astenia e alguns fenômenos hemorrágicos como epistaxe. Pode haver subicterícia. Essa forma, assim como a leve, involui sem complicações ou sequelas. Forma grave: Após 5 a 6 dias de período de incubação, o início dos sintomas é abrupto e perdura por 4-5 dias com febre alta, acompanhada do sinal de Faget (diminuição da pulsação), cefaleia intensa, mialgia acentuada, icterícia, epistaxe, dor epigástrica e hematêmese e melena. Na forma maligna: Ocorre toxemia abrupta, náuseas, icterícia, hemorragias diversas e encefalopatia. Em torno de 5 a 7 dias instala-se insuficiência hepatorrenal e coagulação intravascular disseminada. A letalidade é alta, em torno de 50%; entretanto, o paciente pode involuir dos sintomas em uma semana. Complicações: A doença pode involuir completamente ainda que possa ocorrer persistência de mialgia e astenia por semanas. Tardiamente podem ocorrer óbitos por lesões cardíacas tardias. Diagnóstico: O diagnóstico sorológico é realizado por ELISA de captura de anticorpo para detecção de IgM. Vale ressaltar que um aumento de quatro vezes ou mais nos títulos de anticorpos específicos entre as fases aguda e de convalescência é considerado diagnóstico. Mas deve-se lembrar também que, outros flavovírus podem apresentar reações cruzadas com o vírus da febre amarela, o que dificultaria um pouco esse diagnóstico sorológico. Além disso, são úteis os métodos diagnósticos não específicos, que servem tanto para acompanhar a evolução clínica quanto a gravidade e o prognóstico da enfermidade. O leucograma apresenta leucopenia já na primeira semana, neutropenia relativa e linfocitose. A contagem de plaquetas revela plaquetopenia. O coagulograma mostra prolongamento do tempo de coagulação, do tempo de sangramento e do tempo de protrombina. Dentre as provas de atividade inflamatória, a velocidade de hemossedimentação é a mais utilizada e mostra-se aumentada na segunda semana. Ocorre também diminuição do colesterol, proteínas, globulinas, fibrinogênio e protrombina. Conforme já dito anteriormente, há elevação de 21 Isabela Castello Lemos. T XIX. DRAMA - Problema 02 bilirrubina total, com predomínio de bilirrubina direta, das aminotransferases, fosfatase alcalina, ureia e creatinina. Achados do exame de urina rotina incluem colúria, proteinúria e cilindrúria. Tratamento: Não existem medicamentos específicos contra o vírus da febre amarela. Não devem ser utilizados anti-inflamatórios e ácido acetilsalicílico (AAS), como Aspirina e Melhoral, pois estes diminuem a agregação plaquetária e aumentam assim as chances de hemorragias. Se o caso for grave, deve ser tratado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para hidratação endovenosa e reposição do sangue perdido nas hemorragias. Pode ser necessário diálise quando houver insuficiência renal. Além do tratamento sintomático, com o uso de antipiréticos por exemplo. Nos casos de oligúria é ideal o uso de diuréticos e para vômitos a prescrição de anti-eméticos junto a bloqueadores de H2 para proteção da mucosa gástrica. Notificação: Compulsória imediata
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