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Seguro Dano X Negativa de Cobertura da Seguradora

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SEGURO DE DANO X NEGATIVIDADE DE COBERTURA DA SEGURADORA
SÃO PAULO
2017
SEGURO DE DANO X NEGATIVIDADE DE COBERTURA DA SEGURADORA
SÃO PAULO
2017
RESUMO
Neste trabalho abordaremos o fato ocorrido com um segurado que contratou um seguro para seu veículo para prevenir de danos decorrentes de furto, roubo, colisão e incêndio, porém após ter ficado desempregado começou a usar seu veículo como Uber e não informou à seguradora.
Neste histórico, apresentaremos o que o Código Civil e os tribunais brasileiros dizem a esse respeito; bem como questões semelhantes a esse caso.
Abordaremos ainda qual a melhor solução a ser adotada pelo advogado do segurado.
Palavras-Chave: Contratos de Seguro Veicular, Negativa de Cobertura, Jurisprudência, Código Civil.
ABSTRACT
In this work we will cover the event with an insured who has insured his vehicle to prevent damages due to theft, theft, collision and fire, but after being unemployed began using his vehicle as Uber and did not inform the insurer.
In this history, we will present what the Civil Code and the Brazilian courts say in this regard; As well as issues similar to this case.
We will also consider the best solution to be adopted by the insured's lawyer.
Keywords: Vehicle Insurance Contracts, Negative Coverage, Jurisprudence, Civil Code.
SUMÁRIO
1	INTRODUÇÃO	6
2	BREVE HISTÓRIA DO SEGURO	7
3	CONTRATO DE SEGURO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL	11
4	EMBASAMENTO LEGAL PARA NEGATIVA DA SEGURADORA	13
4.1	Jurisprudências favoráveis à negativa da seguradora	14
5	DIREITO A INDENIZAÇÃO	16
5.1	Defesa	16
CONSIDERAÇÕES FINAIS	21
REFERÊNCIAS	23
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa abordar o caso onde um contrato bilateral foi firmado entre o segurado Marco Antônio e a seguradora Felicidade total, referente ao seguro veicular, no acordo firmado fica estipulado o pagamento integral do prêmio em caso de roubo, furto, colisão e incêndio, no decorrer do período o segurado optou por utilizar o veículo para provimento de renda em busca de melhorar sua atual condição financeira devido a sua recente dispensa trabalhista, criando vínculo com a empresa de serviços de transportes de passageiros Uber. Após algumas semanas de trabalho Marco Antônio fatalmente se envolveu em um acidente, ocasionando à perda total do veículo. Ao abrir sinistro junto à seguradora foi notificado que não receberia o valor total do bem pois não alterou sua apólice de seguro, que não descrevia a utilização do veiculo para trabalho.
Discorreremos a sustentação da Defesa elaborada pelo grupo indicando as razões pela qual o pagamento deverá ser efetuado a Marco Antônio, buscamos com base nos artigos do Código Civil e jurisprudências de casos julgados favoráveis à causa do segurado.
BREVE HISTÓRIA DO SEGURO
Desde que o homem é homem que ele sabe: viver é correr riscos.
Mas bem que gostaríamos de evitar os riscos, porém reconhecemos que é preciso muitas vezes enfrentá-los, por isso tentamos nos prevenir, distribuir os riscos com outras pessoas e até transferir os riscos.
O problema é que para transferir os riscos é preciso que alguém aceite correr este risco por você. 
Desde o início da existência do homem a história mudou muito, mas os riscos continuaram.
Na era das grandes navegações muitos comerciantes investiam tudo que tinham no carregamento de uma embarcação, porém quando a maré não estava em condições favoráveis de navegação, a embarcação acabava por afundar, fazendo com que o comerciante viesse a perder todas as suas economias investidas naquela viagem.
O único jeito de evitar este risco seria não navegar, porém eles preferiram enfrentar o problema, e embora utilizassem toda a técnica da época, ou seja, os instrumentos e mapas, eles não conseguiam eliminar, com certeza, os eventuais naufrágios.
Era preciso fazer mais. Foi então que tiveram a ideia de se agrupar e distribuir entre si os riscos para minimizar as perdas.
É o conceito do mutualismo, ou seja, “uma associação que visa suportar coletivamente as perdas de eventos individuais em vez de deixar o indivíduo sozinho, sofrendo todas as consequências isoladamente”, é, portanto, o ato de solidariedade. O reconhecimento de que juntos podemos suportar mais.
Pensando assim os barqueiros se uniram e decidiram dividir mutuamente os eventuais prejuízos. Mas surgiu uma dúvida: como calcular estes possíveis prejuízos? Para isto entra em cena outro conceito importante, a probabilidade, assim por meio da observação estatística, analisando um grande número de episódios similares era possível estabelecer a frequência que um fenômeno ocorria. 
Desta forma os participantes conseguiram chegar ao valor que representasse a frequência com que ocorriam os naufrágios em uma região. 
Depois de muito pensar chegaram a uma equação simples: cada um pagaria o valor do barco, somado ao valor da carga, multiplicada pelo número de naufrágios e dividido pelo número de participantes, sendo este o preço do seguro contra naufrágios, que em termos técnicos chama-se prêmio estatístico.
Se a cada 100 navios um afundasse o preço pago por todos os 100, ajudaria a repor as perdas do que naufragou, e assim nasce o seguro.
Desta forma a definição de seguro é “a reposição das perdas. A compensação dos efeitos do acaso pela mutualidade, organizada segundo as leis da estatística, isto é, conforme as probabilidades”.
Essa definição, criada em 1884 por Chaufton, traduz com clareza o que os marinheiros, navegadores e comerciantes criaram, ou seja, uma forma segura de cobrir, em caso de naufrágio, o prejuízo de muitos integrantes do grupo.
Porém, observou-se que o seguro não acaba com o risco, os naufrágios continuam acontecendo, mas o seguro ajuda a repor a perda eventual, sendo assim, a melhor maneira de distribuir os riscos e minimizá-los.
O seguro é, portanto a melhor maneira de preparar uma pessoa para perdas eventuais, porém acreditando sempre que elas não ocorram.
Com o tempo os navegadores observaram que o sistema adotado estava ficando extremamente complexo, pois, às vezes, afundavam mais navios que o esperado, tendo ainda outra complicação no que se referia a como analisar barcos diferentes com cargas diversas, pois além de realizar todos os cálculos, ver onde guardar e aplicar o dinheiro arrecadado, selecionar os barqueiros, avaliar os barcos e as cargas, era preciso vistoriar e analisar cada naufrágio, calcular e repor todos os prejuízos e atrair mais participantes, isto é, comercializar o seguro. Além disso, eles tinham também que navegar, pois afinal eles eram marinheiros, e estavam se “afogando” em números.
Em virtude do aumento da complexidade, os participantes decidiram contratar alguém que tivesse maior experiência, alguém que se dedicasse exclusivamente á gestão do processo. Desse modo entrou na história a figura da seguradora, o corretor e todos os profissionais que atuam neste mercado, pois assim se garantiria um maior profissionalismo e maior eficiência ao processo.
O seguro passou a ser aplicado aos mais diferentes empreendimentos, surgindo um mercado multidisciplinar, haja vista muitos outros profissionais (atuário, advogado, engenheiro, contador, matemático, estatístico, etc...) que são necessários para analisar probabilidades de cada evento, gerenciar os recursos acumulados e trabalhar, enfim, nas mais diferentes áreas do mercado segurador. Mercado esse que no Brasil cresce mais que a economia.
O seguro tornou-se algo fundamental na vida do ser humano, pois desde a pré-história, a vida não é fácil, envolve riscos e cada êxito conquistado com muito suor deve ser preservado, protegido, para que a humanidade tenha sempre novas conquistas ainda mais surpreendentes, pois afinal o seguro é:
Universal: é da natureza de cada homem, da constituição de cada país
vontade de preservar suas conquistas;
Comunitário: envolve os esforços de todos para minimizar as perdas de cada um;
Democrático: porque se estende a todos e busca cada vez mais novos participantes para minimizar os riscos e reduzir as perdas;
Economicamente Eficaz: porque tem um modelo que se sustenta ao longo da história e tem comprovado êxito contra as mais diferentes adversidades;
Desenvolvimento: porque representa o reinvestimento de maior parte do capital acumulado.
Por tudo isso, o seguro acaba sendo um incentivo a paz social.
Com o seguro podemos enfrentar as incertezas, realizar grandes empreendimentos e longas travessias, com a confiança e a necessidade de que necessitamos.
No Brasil, tivemos a nossa primeira empresa de Seguros em 1808, sendo esta a “companhia de Seguros BOA-FÉ”, criada em 24 de Janeiro de 1808, que iniciou seus serviços com operação no ramo de seguro marítimo. 
Tal criação se deu em virtude da abertura dos portos ao comércio internacional, porém somente em 1916 é que tivemos uma Lei realmente dedicada ao Processo de Seguro, sendo essa sancionada em 1º de janeiro de 1916, com a Lei de nº 3.071, que promulgou o “Código Civil Brasileiro”, tendo nesse um capítulo especifico para “contrato de seguro”.
Com a criação de várias empresas de seguros em diversos ramos, fez-se necessária a fiscalização e o controle das mesmas com referência aos seus contratos, pois o fiscal irá supervisionar o cumprimento das leis, surgindo assim a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, com sede no Rio de Janeiro, sendo essa uma autarquia da Administração Pública Indireta Federal, vinculada ao Ministério da Fazenda.
A mesma tem como objetivo regulamentar as ofertas de seguros, protegendo o cidadão e fazendo com que a empresa de seguro mostre respeito e responsabilidade para com seus segurados.
CONTRATO DE SEGURO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL
Sob a Luz do artigo 757 do código Civil, entende-se que pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Ou seja, seguro é um contrato bilateral gerando obrigações para ambas as partes, sendo norteados pelos princípios da probidade e boa fé nos termos do art. 422 do Código Civil. 
Conforme conceito de Cavalieri Filho:
[...] Em apertada síntese, seguro é contrato pelo qual o segurador, mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de pagar-lhe uma determina indenização, prevista no contrato, caso o risco a que está sujeito se materialize em um sinistro. Segurador e segurado negociam as consequências econômicas do risco, mediante a obrigação do segurador de repará-las. Frise-se que em se tratando de contrato de seguro, o segurador só poderá se exonerar de sua obrigação se ficar comprovado o dolo ou a má-fé do segurado. Da mesma forma, o agravamento do risco pode servir de preceito ao não pagamento do sinistro, haja vista o desequilíbrio da relação contratual, onde o segurador receberá um prêmio inferior ao risco que estará cobrindo, em desconformidade com o avençado (2008, p. 419).
No Código Civil de 1916, a doutrina clássica defendia que o contrato de seguro estava inserido na categoria de contrato aleatório, onde as prestações, de uma ou de ambas as partes, eram incertas, assumindo um caráter eminentemente indenizatório. Já no código Civil vigente, o contrato de seguro passa a ter como característica a garantia de interesses conforme o já mencionado no artigo 757 do código Civil de 2002.
A concepção Doutrinaria classifica, em uma visão mais moderna, o contrato de seguro como sendo eminentemente comutativo, ou seja, no momento em que é celebrado o contrato de seguro, o consumidor busca tranquilidade e segurança, pagando o prémio à seguradora, mediante a transferência do risco que a mesma passa a assumir, gerando assim o vínculo obrigacional entre segurado e segurador.
Abordando o caso concreto, Marco Antônio João celebrou o contrato formal com a seguradora Felicidade Total, conforme determina o artigo 758 do Código Civil ao mencionar que “o contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio”. Gerando assim obrigações tanto da parte de Marco, que consiste em prestação de informações corretas para que seja formulado o valor do prêmio do seguro, o pagamento das parcelas e a comunicação à seguradora da eventual ocorrência de sinistro, que deve ser tempestiva. E para a seguradora Felicidade Total, a prestação de informações ao segurado sobre as condições do seguro, de forma completa e antes do contrato ser firmado, já na contratação o fornecimento de cópia de documento que demonstre os termos da apólice, e a correta, integral e célere indenização ou cobertura quando da ocorrência do sinistro.
Observa-se que Marco cometeu uma falha em não ter atualizado a seguradora de sua atual condição: estar desempregado, e sem oportunidade de se recolocar no mercado de trabalho, a única solução que encontrou para garantir o sustento de sua família foi utilizar seu carro próprio como UBER. Vale ressaltar que o papel do corretor de seguro, responsável pela relação entre segurado e segurador era o de garantir o cumprimento das obrigações estabelecidas na apólice por ambos os contratantes, sendo assim ambas as partes tinham o dever uma para com a outra, ambas foram negligentes em suas obrigações.
Sobre essa avaliação Cavalieri Filho (2007) afirma que:
Somente o fato exclusivo do segurado pode ser invocado como excludente de responsabilidade do segurador, mesmo assim quando se tratar de dolo ou má-fé. Para alguns, a culpa grave do segurado também excluiria a responsabilidade do segurador, mas, em nosso entender, sem razão. A culpa, qualquer que seja a sua gravidade, caracteriza-se pela involuntariedade, incerteza, produzindo sempre resultado não desejado. Ademais, é um dos principais riscos cobertos pela apólice. Quem faz seguro, normalmente, quer também se prevenir contra os seus próprios descuidos eventuais. E, ao dar cobertura à culpa do segurado, não seria possível introduzir distinção entre os diversos graus ou modalidades de culpa. Além da dificuldade para se avaliar a gravidade da culpa, a limitação acabaria excluindo a maior parte dos riscos que o segurado deseja ver cobertos, tornando o seguro desinteressante. Entendo, assim, que a culpa do segurado, qualquer que seja o seu grau, não exonerando de responsabilidade o segurador (2008, p. 437).
EMBASAMENTO LEGAL PARA NEGATIVA DA SEGURADORA
 
Devido ao contrato de seguro ser bilateral, todo motorista deve ficar atento a suas obrigações e cláusulas contratuais que permitem que a seguradora se negue a pagar a indenização do sinistro.
As principais condições que são excluídas do pagamento do seguro são: 
Mudança de perfil,
Alteração do perfil não informada, 
Acidente causado por culpa grave ou dolo por parte do segurado, 
Acidente agravado intencionalmente pelo segurado,
Sinistro causado com objetivo de obter vantagem,
Veículo usado para fins diversos ao exposto no contrato, 
Veículo que circula por local diverso do respondido no questionário,
Veículo em más condições de manutenção e conservação, motoristas inabilitados e com documentação do veículo irregular, motorista embriagado ou drogado e atitudes que intencionalmente agravam o risco de acidentes - como participar de racha, rali ou corrida. 
Se o segurado permitir que menores de idade ou pessoas não habilitadas conduzam o carro, 
Fornecer informações falsas no momento da contratação do seguro.
Qualquer alteração, quer seja a mudança da finalidade do carro de passeio para Uber, entre outras, sem comunicar a seguradora, tira da mesma a obrigação de pagar a indenização em caso de sinistro, pois, essa é uma informação que deve, necessariamente, ser repassada para as seguradoras. 
Uma informação falsa
caracteriza fraude e o segurado perde seus direitos. A negativa de ressarcimento do segurado para quem omitiu ou mentiu uma informação está prevista em grande parte dos contratos de seguro de veículos. Nas propostas constam dois artigos do Código Civil: o 765 e o 766, que preveem, respectivamente, a boa fé e veracidade das declarações e a perda do direito ao prêmio em caso de constatação de fraude:
Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.
Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.
Jurisprudências favoráveis à negativa da seguradora
Como trata de um tema recente ainda não existe jurisprudência especifica sobre Uber, porém, conforme abaixo, a omissão de informações configura a negativa da seguradora:
RECURSO INOMINADO. SEGURO DE AUTOMÓVEL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. NEGATIVA DE COBERTURA. PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO ERRADA NO PREENCHIMENTO DO PERFIL DO CONDUTOR. PRINCIPAL CONDUTORA QUE SEQUER POSSUI CARTEIRA DE HABILITAÇÃO. PERDA DO DIREITO DE COBERTURA DO SEGURO. 
A parte autora pretende o ressarcimento pela seguradora ré dos danos materiais que acometeram seu veículo após um acidente de trânsito. Entretanto, depreende-se do conjunto probatório dos autos que a demandante não respeitou a boa-fé contratual e o dever de informar com lealdade na ocasião da contratação, pois se intitulou como principal condutora do automóvel (fl. 32), quando, em realidade, sequer possuía carteira de habilitação, o que é confirmado por ela no depoimento em juízo (fl. 23). Ainda, após o sinistro, houve a tentativa de correção das informações prestadas, como se vê pela proposta de endosso de fl. 72. Ocorre que na contratação do seguro de veículo o risco de cada segurado e, consequentemente, o valor do prêmio é apurado de acordo com as informações cadastradas no perfil do usuário, estando expressamente referido nas Condições Gerais da Apólice a possibilidade de perda do direito à indenização “se o segurado não fizer declarações verdadeiras e completas ou omitir circunstâncias de seu conhecimento capazes de influir na aceitação da proposta ou no valor do prêmio” (fl. 95, item d.1). Impõe-se, por tais razões, a manutenção da sentença de improcedência. 
SENTENÇA MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO.
TJ-RS - Recurso Cível : 71005030234 RS 
SEGURO DE VEÍCULO - CLÁUSULA DE PERFIL -NEGATIVA DE COBERTURA - INFORMAÇÕES INVERÍDICAS PRESTADAS PELA SEGURADA QUANDO DA ASSINATURA DA PROPOSTA – SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO.
Mostra-se legítima a recusa da seguradora ao pagamento da indenização se a segurada atuou de forma insincera e desleal para se beneficiar de condições contratuais mais vantajosas.
TJ-SP - Apelação: APL 01571107320118260100 SP 0157110-73.2011.8.26.0100
Vale ressaltar que a mudança do seguro do carro de passeio para Uber configura um acréscimo de 50% do valor do seguro, o que ocasiona também a resistência de muitos motoristas em informar essa mudança à seguradora.
Como cada seguradora tem sua política interna, toda a situação de sinistro é analisada com cuidado e a omissão de detalhes na hora de contratar, renovar ou atualizar o seguro veicular acaba configurando prejuízo para o segurado.
 
DIREITO A INDENIZAÇÃO
Defesa
Excelentíssimo Sr. Juiz, primeiramente convém informar que a negativa de cobertura, pelo simples fato do segurado não estar em acordo com o preenchimento de seu perfil junto à seguradora, deverá ser avaliada com cuidado.
Pois a seguradora poderá além de ter que indenizar pelo sinistro ao qual o Sr. Marco Antônio tem direito, poderá ainda tem que pagar danos morais, se não o fizer dentro de um prazo razoável.
Em análise ao nosso Código Civil, podemos verificar que o mesmo traz um capítulo dedicado somente a este assunto, sendo este o “Capitulo 15 – Do Seguro”.
Lei 10.406/2002
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.
Afora isso, poderá ser visto ainda que o Código Civil nos traz situações bem definidas, onde o contrato poderá ser nulo ou o segurado não terá direito à indenização, sendo estes:
Lei 10.406/2002
Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.
Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.
Verificando o caso de Sr. Marco Antônio, pode-se observar que o processo em questão trata de Sinistro e que este mantinha seu pagamento de seguro em dia, desta forma os artigos acima não se aplicam a ele.
Não obstante, a informação acima, o artigo 764, vem amparar a solicitação de pagamento do sinistro, pois mostra devotamente que mesmo esse não informando que começou utilizar seu veículo de forma diferente ao informado em seu perfil, não é passível de punição com a nulidade do pagamento do sinistro. 
Senão, vejamos:
Lei 10.406/2002 
Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio.
Para complementar a veracidade na informação, temos o Art. 766, o qual informa que o segurado somente perderia a garantia do seguro se houvesse a má-fé nas informações no momento da aceitação da proposta ou na taxa do prémio, o que se pode comprovar que não houve, pois o Marco Antônio somente começou a utilizar seu veículo com função diferente da informada à seguradora, após ter perdido seu emprego, ou seja, no momento do contrato de sua apólice, todas as informações eram verídicas.
Senão, vejamos:
Lei 10.406/2002
Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.
Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.
Nosso código Civil em seu Art. 768, ainda prevê, que o segurado perderá o direito se comprovado sua intencionalidade no descumprimento das normas do contrato.	
Lei 10.406/2002
Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.
Como já mencionado anteriormente, o Sr. Marco Antônio não tinha o interesse direto em causar o acidente e provocar a seguradora, pois necessitava de seu veículo para o sustento da família.
Desta forma podemos afirmar que o Sr. Marco Antônio demonstrou lisura em sua conduta e boa-fé ao negociar, pois é de conhecimento notório que as companhias de seguros em nosso País, procuram retardar ao máximo a resolução do processo, pois essas, na maioria, estão em parcerias com as instituições financeiras, procurando, assim, arrastar um processo por pelo menos 5 (cinco) anos, tempo esse em poderão aplicar o valor em uma aplicação financeira, o que lhe renderá juros que serão suficientes para assim terminar o processo e ressarcir o segurado.
O possível inadimplemento da seguradora com o segurado Sr. Marco Antônio, poderá acarretar um problema socioeconômico a ele, visto que dependia diretamente do seu veículo para o sustento da família, conforme já informado nesta petição.
Ademais, o veículo do segurado não se encontrava em situação
alguma estipulada no contrato, que desobrigasse a seguradora a pagar o sinistro, pois o Código Civil, em seus artigos 757 a 802, é bastante claro ao informar que a culpa, e em alguns casos, nem mesmo o dolo, eximem a seguradora de indenizar o sinistro.
Importante ressaltar que o fato da seguradora se negar a ressarcir o segurado, pode este pedir ainda “danos morais”, pois ter de ficar sem a possibilidade de trabalhar e trazer sustento a sua família causa-lhe a dor da humilhação e da impotência de fazer algo neste momento, pois a sua dignidade como pai, como marido, como o chefe de família, o qual deve trazer os proventos para dentro de sua casa fica estritamente abalado.
Poderá ainda o Sr. Marco Antônio, solicitar tutela antecipada, visto a necessidade socioeconômica que vem passando, ficando à mercê da solidariedade de terceiros, até que seu processo seja julgado.
Tal solicitação, poderá ser embasada no Código de Defesa do Consumidor – CDC.
Senão Vejamos:
Lei 8.078/1990
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1°...
§ 2°...
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.
Ou seja, negar ao Sr. Marco Antônio a indenização, alegando que não houvera atualizado o seu perfil, é uma afronta aos direitos de um cidadão que sempre pagou seu seguro em dia e que no momento de necessitar do retorno da empresa a qual mantém sua fidelidade, não lhe deu a devida atenção e respeito. 
Diante do exposto o que se requer através do presente, é solicitar à seguradora que reconsidere o posicionamento adotado e que, consequentemente, o indenize pelo sinistro do veículo, devendo essa abater desta indenização o valor da diferença do valor do prêmio que seria devido pelo segurado Sr. Marco Antônio.
Aqui se prova que mesmo que o segurado não tenha modificado seu perfil declarado na proposta de adesão (utilização do veículo como Uber) com relação à declaração feita quando da contratação da apólice, não se pode perder de mira que em momento algum houve a intenção de má-fé.
Citamos aqui situação a qual demonstra explicitamente, conforme análise da 4ª turma do STJ, que o fato do perfil conter inexatidão nas informações, não lhe tira o direito do segurado a indenização.
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. CONTRATO DE SEGURO. QUESTIONÁRIO DE RISCO. DECLARAÇÕES INEXATAS OU OMISSAS FEITAS PELO SEGURADO. NEGATIVA DE COBERTURA SECURITÁRIA. DESCABIMENTO. INEXISTÊNCIA, NO CASO CONCRETO, DE AGRAVAMENTO DO RISCO E DE MÁ-FÉ DO SEGURADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7. EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA LIMITATIVA COM DUPLO SENTIDO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 5.
1. Vigora, no direito processual pátrio, o sistema de persuasão racional, adotado pelo Código de Processo Civil nos arts. 130 e 131, não cabendo compelir o magistrado a acolher com primazia determinada prova, em detrimento de outras pretendidas pelas partes, se pela análise das provas em comunhão estiver convencido da verdade dos fatos.
2. As declarações inexatas ou omissões no questionário de risco em contrato de seguro de veículo automotor não autorizam, automaticamente, a perda da indenização securitária. É preciso que tais inexatidões ou omissões tenham acarretado concretamente o agravamento do risco contratado e decorram de ato intencional do segurado. Interpretação sistemática dos arts. 766, 768 e 769 do CC/02.
3. "No contrato de seguro, o juiz deve proceder com equilíbrio, atentando às circunstâncias reais, e não a probabilidades infundadas, quanto à agravação dos riscos" (Enunciado n. 374 da IV Jornada de Direito Civil do STJ).
4. No caso concreto, a circunstância de a segurada não possuir carteira de habilitação ou de ter idade avançada - ao contrário do seu neto, o verdadeiro condutor - não poderia mesmo, por si, justificar a negativa da seguradora. É sabido, por exemplo, que o valor do prêmio de seguro de veículo automotor é mais elevado na primeira faixa etária (18 a 24 anos), mas volta a crescer para contratantes de idade avançada. Por outro lado, o roubo do veículo segurado - que, no caso, ocorreu com o neto da segurada no interior do automóvel - não guarda relação lógica com o fato de o condutor ter ou não carteira de habilitação. Ou seja, não ter carteira de habilitação ordinariamente não agrava o risco de roubo de veículo. Ademais, no caso de roubo, a experiência demonstra que, ao invés de reduzi-lo, a idade avançada do condutor pode até agravar o risco de sinistro - o que ocorreria se a condutora fosse a segurada, de mais de 70 anos de idade -, porque haveria, em tese, uma vítima mais frágil a investidas criminosas.
5. Não tendo o acórdão recorrido reconhecido agravamento do risco com o preenchimento inexato do formulário, tampouco que tenha sido em razão de má-fé da contratante, incide a Súmula 7.
6. Soma-se a isso o fato de ter o acórdão recorrido entendido que eventual equívoco no preenchimento do questionário de risco ter decorrido também de dubiedade da cláusula limitativa. Assim, aplica-se a milenar regra de direito romano interpretatio contra stipulatorem, acolhida expressamente no art. 423 do Código Civil de 2002: ‘Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente’.
7. Recurso especial não provido.
STJ – 4ªT., REsp nº 1.210.205/RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após análise do caso concreto, do Código Civil e da Jurisprudência a respeito do tema apresentado, considerou-se, como solicitado no enunciado, duas vertentes de defesa, uma para o Sr. Marco Antônio João, proprietário do veiculo sinistrado após grave acidente e outra em defesa da Seguradora Felicidade Total, que se negou a efetuar o pagamento da indenização, alegando divergência nas informações prestadas por parte do segurado, que não informou a mudança de utilização do veículo de passeio para UBER.
A primeira posição apresentada é em defesa da Seguradora Felicidade Total, demonstrando que a falta de informações, por parte do segurado à seguradora, vai de encontro às normas presentes nos artigos 765 e 766 do Código Civil Brasileiro, que trata da obrigação do segurado em agir com boa-fé contratual e prestar informações verídicas junto à seguradora, podendo perder o direito a garantia, caso não as faça na forma e prazo corretos.
Verificou-se, também, indício de má-fé por parte do Sr. Marco Antônio João, considerando que a alteração da utilidade do veiculo, se informada à seguradora como deveria, poderia configurar um acréscimo considerável no valor do premio, em torno de 50%, pois acarretaria uma mudança de perfil para um de maior risco, no caso, não se tratando mais de um carro de passeio e sim com fins comerciais (UBER).
            Sintetizando, a Seguradora Felicidade Total, poderá se recusar a cumprir sua obrigação de indenizar, considerando que o Sr. Marco Antônio não cumpriu o seu dever de prestar as informações necessárias à seguradora, para atualização e manutenção do contrato e possível alteração no valor do prêmio, ferindo a Boa-fé Contratual.
A segunda linha de defesa se encontra em favor do Sr. Marco Antônio, citando os artigos 757 a 768 do Código Civil, que entre outras coisas, tratam da prestação de informações à seguradora, que se não ocorrerem por conta de má-fé ou dolo do segurado, não poderão resultar em negativa de pagamento por parte da seguradora. Para embasar tais alegações, considerou-se a situação socioeconômica do Sr. Marco Antônio, que passou a utilizar seu veiculo como UBER apenas por estar desempregado e sem outra alternativa para sustentar sua família. Diante de tal afirmação, não há o que se falar em má-fé ou até mesmo fraude, considerando que ele não poderia ficar sem seu
veiculo por nenhum dia sequer.
A defesa apresentada, dá ensejo a não apenas a cobertura do dano do veiculo, que teve perda total, mas também uma possível indenização com caráter de Dano Moral, pois a recusa por parte da seguradora, não só gerou prejuízo financeiro como também agrediu o caráter de um pai de família que se encontra em situação financeira desfavorável e busca os meios lícitos e que lhe são possíveis para prover o sustento da família, sendo observado o caráter puramente alimentar da atividade desempenhada com seu veiculo.
Por fim, considera-se, que o tema abordado é bastante amplo e cabível de análise em diversas direções usando do Código Civil, bem como a Doutrina e Jurisprudência, sendo possível apresentar defesas para ambas as partes apresentando argumentos e contra-argumentos, quando necessário.
 Porém, não se pode, de forma alguma, por mais que haja conteúdo para desenvolver a tese que se desejar (pois nosso rol legislativo é muito amplo), deixar de observar o caso concreto e os reais motivos que resultaram a lide estabelecida no enunciado para que assim, como operadores do Direito, não cometamos injustiças com indivíduos que busquem nossos serviços.
REFERÊNCIAS
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CAVALIEIR FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed. rev. e ampl. São Paulo. Editora Atlas. 2008.
BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso em: 03 abr. 2017
BRASIL. Código Civil, Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm> Acesso em: 11 abr. 2017
ÂMBITO JURÍDICO. Contratos de seguro e suas principais espécies. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?artigo_id=10754&n_link=revista_artigos_leitura> Acesso em: 08 abr. 2017
GOLIZIA, João Carlos. O contrato de seguro no Novo Código Civil – Uma Breve Abordagem. Disponível em: <http://www.oabsp.org.br/comissoes2010/direito-securitario/artigos/Artigo%2001.pdf/> Acesso em: 21 abr. 2017
SCHWEIKART, Larissa. Contrato de Seguro. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/9321/Contrato-de-seguro> Acesso em: 22 abr. 2017
NORMAS LEGAIS. Contrato de Seguro. Disponível em: < http://www.normaslegais.com.br/guia/contrato-de-seguro.htm> Acesso em: 23 abr. 2017
CUNHA, José Sebastião Fagundes. Contratos de seguro estabelecem relação de consumo. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-mar-31/contratos-seguro-estabelecem-relacao-consumo-sao-regidos-cdc> Acesso em: 23 abr. 2017
ESTADÃO. Seguradora pode negar pagamento de sinistro. Disponível em: < http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,seguradora-pode-negar-pagamento-de-sinistro,20010220p11165> Acesso em: 21 abr. 2017

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