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10 Correlações clínicas Berne Funções superiores do sistema nervoso

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Funções superiores do sistema nervoso
Correlações clínicas
Berne
	 As funções dos diferentes lobos do córtex cerebral têm sido definidas a partir dos efeitos de lesões produzidas por doenças ou intervenções cirúrgicas para tratar doenças no homem e por experimentos em animais. Em uma outra abordagem, as manifestações físicas de crises epilépticas foram correlacionadas com as localizações cerebrais que dão origem às crises (focos epilépticos). Por exemplo, focos epilépticos no córtex motor causam movimentos contra-laterais; os movimentos exatos se relacionam com a localização somatotópica do foco epiléptico. As crises que se originam no córtex somato-sensorial causam uma aura epiléptica, na qual se experimenta uma sensação. Da mesma forma, crises que se iniciam no córtex visual causam uma aura visual (cintilações, cores), as do córtex auditivo causam uma aura auditiva (zumbido, zunido, tilintar) e as do córtex vestibular causam uma sensação de girar. Comportamentos complexos decorrem de crises que se originam do lobo temporal; ademais, uma aura com odor fétido pode ser percebida se o córtex olfatório estiver envolvida (crise uncinada).
	 Os potenciais evocados são usados clinicamente para avaliar a integridade de uma via sensorial, pelo menos no nível da área receptora sensorial primária. Esses potenciais podem ser registrados em indivíduos comatosos, bem como em lactentes jovens demais para permitir um exame clínico de sensibilidade. As partes iniciais do potencial evocado auditivo realmente refletem atividade no tronco encefálico; portanto, esse potencial evocado pode ser usado para avaliar a função de estruturas do tronco encefálico.
	 A finalidade do sono ainda não está clara. No entanto, ele deve ter um alto valor biológico porque grande parte da vida é passada dormindo e porque a falta de sono pode ser debilitante. Distúrbios clinicamente importantes de ciclo sono-vigília incluem insônia, enurese, sonambulismo, apneia do sono e narcolepsia.
	 O EEG torna-se anormal sob várias circunstâncias patológicas. Por exemplo, durante o coma, o EEG é dominado por atividade delta. A morte cerebral é definida por um EEG iso-elétrico mantido.
	 A epilepsia comumente causa anormalidades do EEG. Há várias formas de epilepsia, e as crises epilépticas podem ser parciais ou generalizadas.
	 Uma forma de crise parcial se origina no córtex motor e resulta em contrações localizadas dos músculos contra-laterais. As contrações depois podem propagar-se para outros músculos; a propagação segue a sequência somatotópica do córtex motor. Crises parciais complexas (que podem ocorrer na epilepsia psicomotora) originam-se no lobo límbico e resultam em ilusões e atividade motora semi-intensional. Durante e entre as crises focais, os registros eletroencefalográficos podem revelar espículas no EEG.
	 Crises generalizadas envolvem amplas áreas do cérebro e perda da consciência. Dois tipos mais importantes de crises são o pequeno mal e o grande mal. Na epilepsia do tipo pequeno mal, a consciência é perdida transitoriamente, e o EEG exibe atividade de espículas e ondas. Nas crises do tipo grande mal, a consciência é perdida por um período mais longo, e o indivíduo pode cair ao chão se estiver em pé quando a crise começar. Ela começa com um aumento generalizado do tônus muscular (fase tônica), seguida por uma série de abalos musculares (fase clônica). O intestino e a bexiga podem ser evacuados. O EEG mostra atividade epiléptica amplamente distribuída.
	 As espículas do EEG que ocorrem entre crises completas são chamadas espículas interictais. Eventos semelhantes podem ser estudados experimentalmente. Essas espículas se originam de despolarizações abruptas e de longa duração, chamadas mudanças de despolarização, as quais desencadeiam potenciais de ação repetitivos nos neurônios corticais. Essas mudanças de despolarização podem refletir várias alterações nos focos epilépticos. Tais alterações incluem potenciais de ação dendríticos regenerativos mediados por Ca2+ nos neurônios corticais e uma redução das interações inibitórias nos circuitos corticais. Os potenciais de campo e a liberação de K+ e de aminoácidos excitatórios por neurônios hiperativos também podem contribuir para o aumento da excitabilidade cortical.
	 Várias áreas do hemisfério esquerdo estão envolvidas com a linguagem. A área de Wernicke é uma grande área centralizada na parte posterior do giro temporal superior, perto do córtex auditivo. Outra área de linguagem importante é a área de Broca, que está na parte posterior do giro frontal inferior, perto da representação da face do córtex motor. Dano à área de Wernicke resulta numa afasia sensorial, na qual a pessoa tem dificuldade de compreender a linguagem falada e escrita; entretanto, a produção da fala continua fluente. Inversamente, uma lesão da área de Broca causa afasia motora. Os indivíduos com afasia motora têm dificuldade para falar e para escrever, embora possam compreender relativamente bem a linguagem.
	 Uma pessoa com afasia sensorial pode não ter comprometimento auditivo ou visual, e uma pessoa com afasia motora pode ter controle motor normal dos músculos responsáveis pela fala ou escrita. Desse modo, a afasia não depende de uma alteração da sensibilidade ou do sistema motor; na realidade, é um déficit de recepção ou planejamento da expressão da linguagem. No entanto, lesões no hemisfério dominante podem ser grandes o suficiente para resultar em formas mistas de afasia, bem como em alterações sensoriais ou paralisia de alguns dos músculos usados para a expressão da linguagem falada.
	 Um experimento semelhante foi feito em pacientes humanos que tinham passado por uma transecção cirúrgica do corpo caloso para impedir a propagação inter-hemisférica de epilepsia. O quiasma óptico permaneceu intacto. Foi possível direcionar a informação para um ou outro hemisfério pedindo ao paciente para fixar a visão num ponto de uma tela. Projetava-se então a figura de um objeto para um dos lados do ponto de fixação para que a informação visual sobre a figura chegasse ao hemisfério contra-lateral. Uma abertura abaixo da tela permitia ao paciente manipular objetos que não podia ver. Os objetos incluíam aqueles mostrados nas figuras projetadas. Os indivíduos normais seriam capazes de localizar o objeto correto com qualquer das duas mãos. No entanto, os paciente com uma transecção do corpo caloso conseguiam localizar o objeto correto somente com a mão ipsi-lateral à imagem projetada (contra-lateralmente ao hemisfério que recebeu as informações visuais). A informação visual precisaria ter tido acesso ás áreas somato-sensoriais e motoras do córtex para a mão explorar e reconhecer o objeto correto. Com o corpo caloso cortado, as áreas visual e motora são inter-conectadas somente no mesmo lado do cérebro.
	 Outro teste era pedir ao paciente para identificar verbalmente qual objeto era visto na figura. O paciente daria uma resposta verbal correta a uma figura que fosse projetada à direta do ponto de fixação, de modo que a informação visual chegasse somente ao hemisfério esquerdo (dominante para a linguagem). No entanto, o paciente não conseguia identificar verbalmente uma figura que fosse apresentada ao hemicampo visual esquerdo, uma vez que a informação visual foi projetada para o hemisfério direito.
	 Observações semelhantes podem ser feitas em pacientes com um corpo caloso transeccionado quando diferentes formas de estímulo são usadas. Por exemplo, quando tais pacientes recebem um comando verbal para levantarem o membro superior direito, poderão fazê-lo sem dificuldade. Os centros da linguagem no hemisfério esquerdo enviam sinais para as áreas motoras no mesmo lado, e esses sinais produzem o movimento do membro superior direito. No entanto, os mesmos pacientes não conseguem responder a um comando de elevar o membro superior esquerdo. As áreas da linguagem no lado esquerdo não conseguem influenciar as áreas motoras no lado direito, a menos que o corpo caloso estejaintacto. O resultado é um tipo de apraxia (incapacidade de controlar movimento voluntário).
	 Estímulos somato-sensoriais aplicados no lado direito do corpo podem ser descritos por pacientes com um corpo caloso transeccionado. No entanto, esses pacientes não podem descrever os mesmos estímulos aplicados ao lado esquerdo do corpo. Informações que chegam às áreas somato-sensoriais direitas do córtex não conseguem chegar aos centros de linguagem se o corpo caloso tiver sido cortado.
	 As capacidades funcionais dos dois hemisférios podem ser comparadas pela exploração do desempenho de indivíduos com transecção do corpo caloso. Tais pacientes resolvem quebra-cabeças tridimensionais melhor com o hemisfério direito do que com o esquerdo, sugerindo que o hemisfério direito se especializa em funções espaciais. Outras funções que parecem estar mais associadas ao hemisfério direito que ao esquerdo são a expressão facial, a linguagem corporal e as entonações da fala. O corpo caloso promove coordenação entre os dois hemisférios. Os pacientes com um corpo caloso transeccionado não possuem coordenação entre atos motores. Quando estão se vestindo, por exemplo, uma das mãos pode abotoar uma camisa, enquanto a outra tenta desabotoá-la.
	 Uma conclusão admirável dos experimentos nesses pacientes é que os dois hemisférios podem operar de forma independente quando já não estão interconectados. No entanto, um dos hemisférios pode se expressar com linguagem, enquanto o outro se comunica apenas de maneira não-verbal. 
	 Uma consequência da privação visual durante o desenvolvimento das vias visuais pode ser a ambliopia do olho privado. A ambliopia é a capacidade visual reduzida e pode ocorrer, por exemplo, em crianças com estrabismo devido a uma fraqueza relativa de um dos músculos extra-oculares. Efeitos semelhantes podem ser produzidos por uma catarata ou por miopia não corrigida.

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