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Fundação CECIERJ/ UFF Graduação em Letras Disciplina: Teoria da Literatura II Coordenadora: Profa. Diana Klinger GABARITO - AP2- 2º semestre de 2017 1- A partir do texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, explique de que forma afeta a tecnologia o mundo das artes. Explique, por exemplo, a ideia de “perda da aura” da obra de arte que aconteceria na modernidade. Segundo Benjamin, a reprodutibilidade da arte produziu o “declino da aura”. Por “aura”, Benjamin entende o “aqui e agora da obra”, sua autenticidade, sua unicidade, isto é, aquilo que faz da obra uma peça única, que foi produzida num momento histórico e num local específico. A aura estava relacionada também com o que ligava a arte a um momento de culto, um culto mágico (Benjamin dá o exemplo das pinturas nas cavernas), depois um culto religioso, e mais adiante um culto laico, na modernidade. A era da reprodutibilidade técnica, em que a imagem pode ser reproduzida mecanicamente e não apenas manualmente (como era o caso da litografia e da xilogravura), leva ao fim da aura e da sacralização do original, pois temos contato permanente com as imagens das obras, mesmo sem nunca ter acesso ao original. Isso implica uma relação diferente das massas com a arte, muito mais próxima, muito mais cotidiana. O cinema, que é uma arte que parte justamente do princípio da reprodução, pois ela é feita para ser exibida em muitas ocasiões e lugares diferentes, permite uma recepção coletiva da obra, que não era possível no caso da pintura. Essa nova relação do público com a obra leva a uma atitude diferente, já não de recolhimento, contemplativa, mas o que Benjamin chama de “recepção tátil”, isto é, uma “recepção através da distração”. Ao mesmo tempo, a massa participa muito mais e o cinema participa de um “sonho coletivo”. Ademais, a destruição da aura permite um aniquilamento da distância entre autor e receptor, como ocorre no caso do Dadaísmo. Este movimento procura uma forma de arte que não possa ser simplesmente contemplada, mas que cause um efeito de escândalo ou de “choque”, que Benjamin compara com o choque na percepção provocado pela montagem no cinema. 2- Aponte as principais diferenças entre o modo de representação judaico-cristão e grego a partir da leitura do primeiro capítulo de Mimesis. Segundo Auerbach, no estilo homérico, não há segundo plano, tudo fica no primeiro plano: tudo fica explicitado, os personagens não tem interioridade, eles têm motivações para suas ações e as expressam. As personagens põem em manifesto idéias e sentimentos, e as histórias estão localizadas temporal e espacialmente. Tudo está no presente e quando o narrador retrocede é para explicar algum fato de importância para os acontecimentos presentes. Pelo contrário, no modelo de representação judaico-cristão, não há detalhes sobre a localização e o tempo das histórias, não se descrevem minuciosamente os lugares e Deus aparece representado como uma voz, sem figura, que não se sabe de onde fala. Há algo que sempre fica sem expressar, desconhecemos a interioridade dos personagens e as motivações de Deus. Por isso, os poemas homéricos não podem ser interpretados, eles não têm nenhum sentido oculto. Já o relato bíblico exige ser interpretado, pois alberga um sentido oculto. Seus relatos são muito mais contraditórios e confusos, à diferença dos lendários relatos homéricos, mais simples e unitários. Ao mesmo tempo, a tentativa do relato bíblico é de construir uma narrativa histórica universalmente válida. Por outro lado, ainda que em Homero o sublime se conjugue com o cotidiano–realista, na Biblia, isso acontece de maneira muito mais forte, uma vez que o elevado, o trágico e problemático se plasmam no cotidiano. A intervenção sublime de Deus se realiza no cotidiano, na vida diária. Resumindo: temos por um lado uma descrição minuciosa, uma ligação direta e sem lacunas entre os acontecimentos, univocidade e exteriorização da interioridade dos personagens; por outro lado, escurecimento de algumas partes da história, assim como das motivações e das conexões, que exige interpretação e pretende uma universalidade histórica da narrativa. Ambos os textos acabam refletindo a sociedade da qual fazem parte. No poema grego, há uma clara relação dos personagens homéricos com a aristocracia feudal e a inserção do cotidiano no sublime e no trágico; diferente dos relatos bíblicos, onde o sublime, o trágico e o problemático estão imbricados no espaço caseiro e cotidiano. Além disso, “o Velho Testamento, enquanto se ocupa do acontecer humano, domina todos os três âmbitos: lenda, relato histórico e teologia histórica exegética” (p. 18). Porém, as narrativas distanciam-se pelo percurso feito: temos, de um lado, a permanência no lendário dos poemas homéricos, e do outro, a proximidade dos relatos bíblicos cada vez mais do histórico, à medida que a narrativa avança. Esses dois estilos de narrar exerceram influência sobre a cultura europeia, uma vez que encarnam, segundo o autor, como tipos básicos, o ponto de partida para novos ensaios sobre a representação literária da realidade.
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